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Abstract and Figures

The University of São Paulo (USP) is acknowledged for its scientific and cultural significance. This article investigates the extent of USP’s influence on the shaping of Brazil’s governing elites. The study is founded on a quantitative analysis of the academic background of individuals occupying top positions in the federal public administration (Presidents of the Republic, Presidents of the Central Bank, Ministers of State, leaders of the Legislative, Judiciary, and the Public Prosecutor Service) from the 1930's to the present day. The data reveals that USP has made a significant contribution to the education of high-ranking federal members across various spheres, with its influence being predominant. The participation of USP alumni varies over time and between different political regimes, being more pronounced during democratic periods. Moreover, other higher education institutions have also played crucial roles in the formation of governing elites. The diversity of institutions attended by government members reflects the complexity and dynamics of the formation of Brazilian elites, influenced by political and social changes over time.
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Fábrica de líderes
A inuência da usp na formação da elite dirigente nacional
Maria Rita Loureiro*
https://orcid.org/0000-0003-3129-4956
Adriano Codato**
http://orcid.org/0000-0002-5015-4273
Rafael Rodrigues Viegas***
https://orcid.org/0000-0002-8304-2390
Rodrigo Silva**
https://orcid.org/0000-0001-7051-9391
Introdução
Ao completar nove décadas de existência, a Universidade de São Paulo () tornou-
-se a mais importante e prestigiosa universidade do país, posicionada entre as cem
melhores do mundo e como a melhor da América Latina1. Suas contribuições para
as mais diversas áreas das ciências e da cultura são inegáveis. O debate que sua criação
nos anos 1930 ofereceu à rearmação dos valores republicanos de escola pública e
da laicidade do ensino no Brasil também merece ser destacado.
O projeto da  visava a criar uma instituição de ensino de excelência. Almejava
também um objetivo político, explicitamente formulado por seus idealizadores: a
formação de novas elites dirigentes para o país saído da Revolução de 1930 e em
processo de profundas transformações sociais e econômicas2.
* Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
** Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil.
*** Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, Brasil.
1. Conforme avaliação de 1.499 universidades feita pela instituição inglesa  World University Ranking,
para o ano de 2022.
2. Se a pretensão dos mentores da  inspira-se no positivismo que, como sabemos, teve grande inuên-
cia nos meios intelectuais e políticos brasileiros e, em particular, nos defensores da República, é plausível
supor que o grupo idealizador da  também tenha se inspirado no exemplo de universidades euro-
peias, como Oxford e Cambridge, na Inglaterra que constituíram o espaço acadêmico por excelência de
recrutamento das elites dirigentes daquele país (Williams e Filippakou, 2010).
24 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
Este artigo se propõe a investigar se esse objetivo foi concretizado. Entendendo
a noção de “elites políticas” como os segmentos politicamente ativos das classes so-
ciais (Codato e Perissinotto, 2011) e de “elites dirigentes” como a parcela das elites
políticas que ocupam a alta direção do Estado, buscamos vericar se a , além de
ser um centro de destaque na produção cientíca e intelectual, tem também um peso
considerável no recrutamento dos altos dirigentes do Estado brasileiro.
O estudo parte de uma crítica à pretensão elitista dos mentores da  de que o
Estado de São Paulo seria portador de uma posição histórica excepcional frente ao
restante da federação brasileira, cabendo, portanto, a seus líderes comandarem os
rumos do país. Questiona, ainda, a visão positivista implícita no projeto de que a
formação intelectual, em particular, a técnico-cientica, se tornaria a grande alavanca
de novas carreiras políticas no Brasil.
Ao contrário, supomos aqui que as oligarquias historicamente dominantes na
política brasileira continuam prevalecendo, não só nas formas tradicionais, mas
também em novas versões, representadas por grupos econômicos e nanceiros
internacionalizados. Tais grupos oligárquicos, dispersos na federação brasileira, pa-
recem constituir as fontes de recrutamento dos dirigentes nas três esferas do poder
administrativo (Executivo, Legislativo e Judiciário), seja entre os partidos e clientelas
de poder estaduais que controlam sobretudo as casas legislativas, seja entre os dife-
rentes centros universitários do país e do exterior, em que se formam os ocupantes
de cargos da alta burocracia econômica do Executivo federal.
O trabalho analisa um banco de dados que vai dos anos 1930 a 2023, contendo
informações relativas às instituições em que se formaram no ensino superior todos
os ocupantes de cargos de presidente da República, ministros de Estado das cinco
pastas principais que existiram durante o período analisado (Ministério da Fazenda,
Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Educação
e Ministério da Saúde), dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Depu-
tados e ainda dos ministros do Supremo Tribunal Federal () e comandantes do
Ministério Público Federal (). Além dessas, foram levantadas também infor-
mações referentes aos dirigentes de agências burocráticas encarregadas das políticas
de desenvolvimento econômico que, como ampla literatura tem indicado, tiveram
papel decisivo na direção do Estado Brasileiro após 1930. São elas: a Assessoria
Econômica de Vargas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (),
o Banco Central e a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), órgão do
Banco do Brasil embrião do Banco Central3.
3. A importância destes órgãos estatais no processo de planejamento econômico e de desenvolvimento
do país foi constatada por vários trabalhos. Ver a respeito Le (1970), Ianni (1971), Martins (1976),
D`Araújo (1982), Sola (1988), Loureiro (1997), Codato (1997).
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Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
O texto a seguir está assim organizado: além desta introdução e de uma breve
retomada da literatura sobre o tema, são detalhados os aspectos metodológicos do
trabalho e esclarecidas as decisões tomadas. Em seguida, os dados são apresentados
e os resultados discutidos. Ao nal, apontamos algumas conclusões.
A usp e a formação das elites dirigentes: breve retomada da literatura
O projeto de criação da  partia do diagnóstico de que a crise política que se
congurou no Brasil após a Proclamação da República decorria do divórcio entre
sua elite intelectual e a “política militante”, ou seja, os políticos prossionais. Seus
formuladores consideravam que a criação de uma universidade seria uma tarefa
necessária e urgente para formar elites intelectuais desinteressadas, capazes de rege-
nerar a política e superar a crise nacional expressa no sistema partidário-eleitoral da
República Velha e no domínio de suas oligarquias.
Embora discutido desde a década de 1920, o projeto só foi posto em prática em
1934, como reação política à derrota militar sofrida por São Paulo na insurreição de
1932 contra o Brasil e após o acordo com o governo Vargas que permitiu a nomeação,
como interventor no estado, de Armando de Salles Oliveira, político do Partido De-
mocrático ligado ao grupo dos idealizadores da universidade. Além disso, tal decisão
foi tomada com a pretensão explícita de recuperar a hegemonia política de São Paulo,
como armou Júlio de Mesquita Filho: “Vencidos pelas armas, sabíamos que só pela
ciência e pela perseverança no esforço voltaríamos a exercer a hegemonia que durante
longas décadas desfrutáramos no seio da federação” (Mesquita Filho, 1969, p. 198)4.
A ideia de formar uma elite intelectual, por meio da criação de um “instituto de
alta cultura” onde se cultivariam “as verdadeiras forças criadoras da civilização”, nas
palavras de Fernando de Azevedo (1937), foi atendida, pelo menos formalmente,
no decreto que instituiu a  e no qual se criou, ao mesmo tempo, a Faculdade de
Filosoa, Ciências e Letras (), pensada como o núcleo central da universidade.
Completando esta ideia, houve ainda a iniciativa, bastante enfatizada na história da
, de trazer professores europeus para formar seu primeiro corpo docente.
A crença de inspiração positivista em um saber “desinteressado” de elites inte-
lectuais que seriam destinadas a conduzir o país, porque portadoras de um “Bem
Comum, não encontrou respaldo na realidade. Além disso, os idealizadores da 
também esbarraram em outros obstáculos.
4. O grupo de Júlio de Mesquita Filho era composto de políticos e intelectuais ligados ao jornal O Estado
de S. Paulo. Cabe destacar a participação do educador Fernando Azevedo que, depois, se tornará tam-
bém professor de renome na . Para análise aprofundada do tema, ver Cardoso (1982) e Limongi
(1989). Para uma história detalhada da política desse período, ver Codato (2010).
26 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
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Cardoso (1982) indica que a chegada dos professores franceses produziu um
clima de hostilidade por parte de intelectuais católicos e de integralistas que os
consideravam de esquerda. Os dirigentes das escolas tradicionais, como as Facul-
dades de Direito, de Medicina, a Escola Politécnica e outras, reunidas para criar a
 e compondo o grupo político mais forte dentro da nova instituição, rejeitaram
frontalmente o projeto de integração de todas as cadeiras de conteúdo não prossio-
nalizante da universidade dentro da 5. Segundo Hey e Catani (2016), as escolas
prossionalizantes fundamentavam sua rejeição à  e aos professores estrangei-
ros, argumentando que o Brasil não precisava de humanistas e sim de técnicos para
contribuir com seu progresso econômico. Os autores apontam ainda que no nal da
década de 1930 já era nítida a impossibilidade de realização do modelo proposto6.
Além da hostilidade política e ideológica ao projeto de um instituto central de
estudos cientícos e humanísticos, somou-se uma grande diculdade por parte da
 para recrutar e manter alunos em seus cursos. Limongi (1989) mostra que di-
ferentemente das expectativas dos mentores da , as elites paulistas continuaram
enviando seus lhos para as escolas tradicionais. A faculdade acabou sendo procurada
por grupos sociais com perl bastante distinto do esperado, ou seja, foram recrutados
segmentos médios ou em ascensão social, em grande parte lhos de imigrantes, pro-
fessores primários no regime comissionado e um elevado contingente de mulheres.
Em suma, por razões político-ideológicas, mas também devido às transforma-
ções econômicas e sociais em curso no período em São Paulo, ocorreu o que Miceli
denominou de “colisão entre o projeto ‘iluminista’ das elites locais e a irresistível
prossionalização de setores médios em ascensão social” (Miceli, 1981, pp. 84-85).
Na verdade, o confronto entre o projeto da  e seus resultados concretos
precisa levar em conta seu conteúdo, eivado de discursos míticos (Cardoso, 1982).
Primeiramente, a apologia ao bandeirantismo e à visão elitista da excepcionalidade
de São Paulo frente ao restante da federação brasileira. Autointitulando-se como
“Comunhão Paulista Ilustrada”, os mentores da universidade argumentavam não só
5. Como salienta Carlotto (2022, p. 76), Florestan Fernandes foi pioneiro em identicar a  como uma
instituição dividida em dois polos: um caracterizado por domínio político e econômico, composto
pelas faculdades prossionais tradicionais pré-universitárias, e outro destacando-se pelo domínio aca-
dêmico, mas sujeito à subordinação política e econômica, constituído pela então .
6. Também, Witter (1984) mostra que a rejeição à  como “célula-mãe” da  expressava-se no fato
de que ela não tinha nem onde se instalar, nas suas primeiras décadas, ocupando espaços emprestados
nas salas e laboratórios da Faculdade de Medicina e da Escola Politécnica. Os conitos gerados por tal
situação desdobraram-se em manifestações públicas de repúdio que levaram à expulsão dos membros da
 destes espaços e seu deslocamento por diferentes endereços na cidade de São Paulo. Tal situação só
será alterada nos anos 1950, quando ela se instala de forma mais estável na rua Maria Antônia, momento
que também coincide com seu apogeu (1984, pp. 151-160).
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razões históricas, mas o valor excepcional de seus homens para justicar a excepcio-
nalidade de São Paulo7. Alimentada pela grande expansão, desde o nal do século
, da economia e da burguesia cafeeira em São Paulo, tal visão é reiterada por
inúmeros intelectuais, inclusive Fernando Azevedo, que vê a “situação à parte” de São
Paulo também no plano educacional, o que lhe daria direito a encarar o problema
universitário e dar-lhe a solução que ele exige (Cardoso, 1982, pp. 31-32).
Mais eloquente ainda é o mito relativo ao caráter liberal que os mentores da 
atribuíram a si próprios. Cardoso (1982) relembra que eles invocavam um espírito
de liberdade, ao mesmo tempo que escamoteavam o contexto ditatorial em que a
universidade fora criada, através do compromisso do interventor de São Paulo com
Vargas, visando a afastar possíveis ameaças de articulações revolucionárias então
em curso no país e ainda a ocultar o empenho anticomunista de seus fundadores8.
A construção de uma autoimagem liberal, praticando e acobertando condutas
autoritárias e repressivas, se repetirá durante a ditadura militar. A atitude que carac-
terizou a direção de  ao longo desse período foi de adesão ao governo ditatorial
e de conivência frente aos atos de repressão e violência perpetrados inclusive contra
vários de seus professores9.
Na verdade, como ampla análise crítica já mostrou, os autoproclamados liberais
brasileiros sempre compartilharam o discurso de defesa das liberdades com práticas
autoritárias, violentas e repressivas, desde a convivência contraditória com o escra-
vismo na Monarquia (Adorno, 1988; Nogueira, 2010) até a adesão, sem peias, a
governos ditatoriais nos tempos mais recentes.
Em suma, se não foi concretizado o modelo de universidade projetado pelos
mentores da , composto de um núcleo básico cientíco e humanístico, destinado
7. Mesquita Filho arma ainda: “Paulistas até a medula, herdáramos de nossa ascendência bandeirante o
gosto pelos planos arrojados e a paciência necessária à execução dos grandes empreendimentos. Ora, que
maior monumento poderíamos erguer aos que haviam consentido no sacrifício supremo para preservar
contra o vandalismo que acabava de aviltar a obra de nosso maiores, das bandeiras à independência e da
Regência à República, do que a Universidade” (Mesquita Filho, 1969, p. 192).
8. Vale relembrar que em 1969, no auge da ditadura militar por ele apoiada, Mesquita Filho continuava a
repetir: “Éramos irredutivelmente liberais. Tão convictamente liberais que nos julgávamos na obriga-
ção de tudo fazer para que o espírito em que se inspirasse a organização da Universidade se mantivesse
exacerbadamente liberal” (Mesquita Filho, 1969, p. 192).
9. Uma publicação da Associação dos Docentes da  (Adusp) relata o controle ideológico ocorrido na
 durante a ditadura: “A reconstituição dos fatos ocorridos na Universidade de São Paulo após 1964,
que culminaram em demissões e aposentadorias forçadas, é tarefa necessária para análise do processo
que institucionalizou o controle ideológico. A amplitude, o caráter insidioso e os efeitos deletérios de
todo este processo não são de conhecimento público. Concretizaram-se através de uma innidade de
atos de arbítrio, de pressões abertas ou veladas, de ilegalidades, mais ou menos ocultas, das quais cada
um tem apenas um conhecimento parcial. Ver a respeito Adusp, 1978. A publicação menciona ainda
denúncias anônimas por parte de alguns professores contra colegas perseguidos pelos militares.
28 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
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a renovar as elites políticas do país, não se podem negar a importância da Faculdade
de Filosoa, Ciências e Letras e o papel que ela desempenhou na formação de um
grande número de professores e pesquisadores em vários ramos da cultura e do
desenvolvimento cientíco do país, alguns mesmo notáveis em suas áreas, como
Mario Schenberg, na Física e Matemática, Florestan Fernandes, Fernando Henrique
Cardoso e Antonio Candido nas Ciências Sociais e Literatura, para car apenas
nestes poucos exemplos.
Se a qualicação intelectual de Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fer-
nandes teve inuência na ascensão que ambos tiveram a cargos de grande destaque
político no Brasil, anos depois do afastamento da  pelas aposentadorias forçadas,
é preciso ressaltar, porém, que isso se deve ao peso de suas ligações aos dois partidos
mais importantes de país após a redemocratização,  e , respectivamente.
Como reforço do argumento, cita-se o exemplo oposto, de outro cientista político
de renome, Bolivar Lamounier, também professor da / e membro da Co-
missão responsável pelo anteprojeto da Constituição Federal que seria aprovada em
1988. Ele se candidatou a deputado federal, em 1986, para compor a Assembleia
Constituinte, pelo , partido menos expressivo eleitoralmente, mas não conseguiu
se eleger nem seguir carreira política. Faltaram-lhe, muito provavelmente, apoio e
força partidária para alavancá-la, mesmo porque, como se sabe, nas democracias
contemporâneas e a despeito da crescente inuência das redes sociais, os partidos
são instituições necessárias para a ascensão ao poder.
Com relação às escolas prossionalizantes da , elas tampouco se tornaram
espaço privilegiado de recrutamento de novas elites dirigentes. Referindo-se a essa
temática, Schwartzman (1979) chega mesmo a falar de marginalidade política
do Estado de São Paulo em relação ao poder nacional, ao constatar que o centro
econômico e social mais importante do país estava alijado de núcleo do poder. Se-
gundo ele, a explicação para este aparente paradoxo pode ser encontrada no fato de
o sistema político brasileiro ser, historicamente, dominado pela simbiose entre um
Estado central de características patrimonial-burocráticas e elites regionais oriundas
de setores deprimidos da economia nacional e dependentes do apoio político do
Estado nacional. Fato que daria, em consequência, mais força política para tais Es-
tados em comparação a São Paulo. Outros autores também têm apontado na mesma
direção, constatando que as classes dominantes de estados, cujo baixo dinamismo
econômico diculta sua reprodução social via mercado, empenham-se em garantir,
como alternativa, espaços para seus lhos na política e na alta burocracia pública
(Miceli, 1981; Canedo, 2016).
Pode-se aventar, ainda, que a própria transformação de São Paulo no mais im-
portante centro urbano-industrial do país constituiu fator de atração dos egressos
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da  para cargos de direção nas empresas do setor industrial e de serviços urbanos
paulistas, desobrigando-os, assim, de empenho na disputa por postos no nível federal
de governo. Estes dois processos, em conjunto, podem ajudar a interpretar os dados
a serem apresentados na próxima seção.
Escrevendo no nal dos anos 1970, Schwartzman armava nas conclusões de
seu texto haver indícios de que a situação da marginalidade política de São Paulo
em relação ao centro de poder nacional estava se alterando. Certamente, observava
a emergência de lideranças paulistas, como Franco Montoro e Mario Covas, na cena
política nacional. Além disso, ocorria, na época, uma então inédita ascensão a cargos
de ministros de Estado, de economistas originários da Faculdade de Economia da
, como Delm Netto, nos governos militares e de João Sayad, na redemocrati-
zação. Isto pode ter sido a base para a hipótese do autor. Vejamos então o que os
dados recolhidos nos informam.
Materiais e métodos
A pesquisa concentra-se na análise das elites dirigentes que ocuparam cargos no alto
escalão do Estado brasileiro entre 1930 e 2023. Foi considerada a segmentação por
“Poder” ou ramo do aparelho do Estado e por tipo de agência dentro de cada ramo.
Há quatro grupos principais:
Poder Executivo: composto de 287 ocupantes de posições de destaque, como
presidentes da República, ministros de Estado das pastas indicadas e presidentes
do Banco Central do Brasil;
Poder Judiciário: composto de cem cargos, ocupados pelos ministros do Supremo
Tribunal Federal () que serviram entre 1934 e 2023;
Poder Legislativo: composto de 85 ocupantes das presidências da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal;
Ministério Público: composto de trinta Procuradores-Gerais da República ()
que serviram desde 1931, sendo que o último procurador considerado tomou
posse em 2019 e deixou o cargo em 2023.
Para a construção do banco, as fontes utilizadas foram a Biblioteca da Presidência
da República, o Dicionário Histórico-Biográco Brasileiro, publicado pelo Centro de
Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil () e, quando
escassa a informação, os principais jornais e portais de notícia brasileiros (Folha de
S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1,  etc.).
30 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
A Tabela 1 resume essas informações e mostra que mais da metade (57%) dos
casos analisados são do Poder Executivo.
 1
Número de casos por Poder ou ramo do aparelho do Estado brasileiro (1930 a 2023)
 %  
Executivo 287 57,2
Legislativo 85 16,9
Judiciário 100 19,9
Ministério Público 30 6
To t a l 502 100
Fonte: Elaboração própria.
A Tabela 2 é um resumo bem mais detalhado das posições pesquisadas no alto
escalão. Ela mostra a distribuição de 502 casos de acordo com o tipo de agência
considerada. As contagens e percentuais reetem a frequência desses casos. Esta
abordagem quantitativa permitiu examinar as elites dirigentes do Estado brasileiro em
várias dimensões, abrangendo mudanças ao longo do tempo e em diferentes setores.
 2
Frequência de casos por tipo de agência do aparelho do Estado brasileiro (1930-2023)
   %  502
Executivo
Presidentes* Banco Central 27 5,4
Ministros de Estado
Educação 47 9,4
Educação e Saúde 8 1,6
Fazenda 48 9,6
Justiça 66 13,1
Relações Exteriores 45 9
Saúde 46 9,2
Legislativo Presidentes Câmara dos Deputados 41 8,2
Senado Federal 44 8,8
Judiciário Ministros  100 19,9
Ministério Público
Federal Procurador-Geral Procuradoria Geral da
República 30 6
Total Geral 502 100
*Somente a partir de 1965.
Fonte: Elaboração própria.
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Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
No Poder Executivo, as posições foram categorizadas por ministérios e pelo Banco
Central (que somente foi criado em dezembro de 1964). A seleção dos ministérios foi
baseada em sua importância ao longo da história republicana brasileira, considerando
seu impacto sobre as políticas públicas, governança e representatividade política.
Para não segmentar demasiadamente os dados apresentados na seção seguinte, os
egressos das instituições que posteriormente compuseram a  foram computados
como “, mesmo para o período em que esta instituição ainda não havia sido
constituída (isto é, antes de 1934). Assim, todas as informações relativas aos egressos
da Faculdade de Direito de São Paulo (antiga Academia de Direito, localizada no
largo de São Francisco) foram computadas na rubrica “. O mesmo ocorreu com
as Faculdades ou Escolas de ensino superior do Rio de Janeiro e da antiga Universi-
dade do Brasil, cujos egressos foram computados como “. Tal procedimento foi
adotado para as demais instituições de ensino superior, sempre conferindo as datas
relativas à constituição das atuais universidades e as instituições anteriores que as
formaram. Isso permite uma visão mais sintética dos dados.
Resultados e discussão
A Tabela 3 diferencia os egressos e não egressos da  no período analisado
por ramo do aparelho do Estado. Os dados mostram que, no global, a  tem uma
presença muito importante. Ela foi responsável, sozinha, por formar nada menos
de 25% (ou 126 membros) da elite dirigente brasileira.
Todas as outras instituições reunidas caram responsáveis por 74% dos integran-
tes da elite (370) e há 6 casos omissos (1%): quatro sem curso superior10 e dois que
seguiram cursos técnicos11.
Todavia, a presença de indivíduos que se formaram na “” (ou nas instituições
de ensino superior que a precederam) varia signicativamente entre os Poderes. No
Executivo, cerca de 31% dos membros da elite dirigente estudaram na , enquan-
to no Ministério Público apenas 3% são egressos dessa instituição, ou seja, a quase
totalidade dos membros do  veio de outras instituições de ensino superior. No
Executivo, o ministério mais uspiano foi o da Fazenda, com 42% dos ministros egres-
sos dessa universidade (20 casos em 48 titulares da pasta). A lista aqui compreende
Bresser Pereira, Delm Netto, Fernando Henrique Cardoso, Zélia Cardoso de
Mello, Antonio Palocci, Guido Mantega, Fernando Haddad, entre outros. Outras
10. Artur de Sousa Costa (ministro da Fazenda), Pedro Luis Correia e Castro (ministro da Fazenda),
Severino Cavalcanti e Joao Paulo Cunha (presidentes da Câmara dos Deputados).
11. Carlos Brandao e Elmo Camões (presidentes do Banco Central do Brasil).
32 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
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duas pastas em que a  deteve mais de um terço dos formados foram a da Justiça
(36%) e a de Relações Exteriores (também 36%).
Esses dados sugerem que a formação na  é mais prevalente em alguns ramos
do Estado do que em outros, o que pode ser relevante para entender oportuni-
dades e opções abertas às elites dirigentes do país. No Judiciário a proporção é
praticamente a mesma do Legislativo: aproximadamente 80% não estudaram na
, e 20% sim.
Merece destaque o papel representado pela Faculdade de Direito dentro da .
A Tabela 4 mostra que “” signica basicamente “Direito. Nada menos de 75%
dos casos analisados (95 em 126) se formaram na Faculdade do Largo de São Fran-
cisco12. Os demais cursos relevantes são Economia (11 casos ou 9%) e Engenharias
(8 casos ou 6% do total).
12. Realizou-se um teste de Qui-Quadrado de Pearson, obtendo-se uma estatística de 505,719 e um valo-
r-p < 0,001, sugerindo associação signicativa entre cursar a  e cursar na área de Direito. Devido
a contagens esperadas baixas, aplicou-se o Teste Exato de Fisher-Freeman-Halton, que conrmou a
associação com valor -p < 0,001. O V de Cramer foi de 0,71, indicando uma associação moderada a
forte, com signicância estatística conrmada (p < 0,001).
 3
Número total de egressos da  (ou das instituições que a antecederam em São Paulo) e de outras
instituições por Poder ou ramo do Estado brasileiro (1930-2023)*
       
Executivo
N 88 195 4 287
% 30,7% 67,9% 1,4% 100%
Legislativo
N 16 67 2 85
% 18,8% 78,8% 2,4% 100%
Judiciário
N 21 79 100
% 21% 79% 100%
Ministério Público
Federal
N 1 29 30
% 3,3% 96,7% 100%
Total Geral
N 126 370 6 502
% 25,1% 73,7% 1,2% 100%
*Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas na  ou nas
diversas universidades federais do país.
Fonte: Elaboração própria.
33
Jan.-Apr. 2024
Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
 4
Associação entre o tipo de curso superior (Direito e outras carreiras) e ter cursado ou não a “
(em %)*
     
 75,4 24,6 100
  66,2 33,8 100
 100 100
To t a l 67,7 31,1 1,2 100
*Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas nas universi-
dades mencionadas.
Fonte: Elaboração própria.
No grande contingente de “não , três instituições universitárias são mais
importantes: a “, ou melhor, todas aquelas instituições que reunimos arbitraria-
mente nessa rubrica (tais como a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do
Brasil, Escola Livre de Engenharia, Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro etc.) contribuíram com 90 indivíduos
(18% do total); a “” com 43 casos (9% do total); e a “” com 26 (5%). Nas
análises seguintes compararemos a “” com essas quatro universidades.
Ao enfatizar os diferentes momentos da história política brasileira ou regimes
políticos pelos quais passou o país ao longo de todo o período considerado, os dados
revelam tendências interessantes, conforme se pode observar na Tabela 5.
 5
Universidades de origem dos dirigentes do Estado por regime político*
  “” “” “” “” 
I 
Democracia de 1934 8,7 17,4 52,2 21,7 100
Ditadura Estado Novo 16,1 9,7 35,5 19,4 19,4 100
Democracia de 1946 11,2 4,7 25,2 35,5 23,4 100
Ditadura Militar 8,2 7,3 28,2 13,6 42,7 100
Democracia de 1988 6,5 4,3 7,4 23,8 58,0 100
Total Geral 8,6 5,2 17,9 25,1 43,2 100
*Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas nessas insti-
tuições com a federalização
Fonte: Elaboração própria.
34 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
Durante a democracia de 1934, 52% dos ocupantes dos cargos da elite dirigente
vieram da “” e apenas 17% da “, ou melhor, de instituições de ensino superior
que posteriormente compuseram a  e a . Se nesse período democrático há
uma forte presença dos formados em São Paulo entre as elites dirigentes, durante a
ditadura do Estado Novo a participação dos egressos do Rio de Janeiro, capital da
República, duplica em relação ao período anterior, passando para 35,5%, enquanto
os de São Paulo caem para 19%. Tal mudança pode ser associada à centralização do
poder ocorrida no primeiro governo de Vargas e à marginalização dos antes pode-
rosos partidos estaduais paulistas ( e ), processo esse que foi traço marcante
da história política brasileira naquele momento.
Essa constatação é reforçada quando se observa que, com a instauração da de-
mocracia em 1946 e beneciando-se dos ventos liberais de então, a “” retoma
sua posição de maior fornecedora de quadros para o Estado brasileiro, mesmo que
em patamar mais baixo que o anterior (35,5%), enquanto os egressos da capital
federal caem para 25% do total, reetindo muito provavelmente um momento de
descentralização política na federação brasileira. Os formados em outras instituições
representam apenas 23%.
Durante a ditadura iniciada em 1964, embora a frequência dos casos se distribua
entre mais instituições no país (43% em outras universidades), por efeito de mudan-
ças nas políticas de ensino superior e de transformações mais amplas ocorridas na
sociedade brasileira, há uma inversão de posições: a “” passa a ter participação
mais elevada, com 28%, e a “” tem a sua reduzida para menos de 14%, o menor
valor da série. Com o retorno à democracia em 1988, a participação da  volta
a crescer, repetindo o movimento ocorrido na democratização de 1946, mas com
percentuais menores (cerca de 24%), pois a expansão das instituições de ensino su-
perior no restante do país continuou a se intensicar, com crescimento elevado de
egressos provenientes de outros centros de formação das elites. A categoria “outras
universidades” apresenta o maior valor, com 58%.
Para se ter uma visão mais clara destas oscilações, o Gráco 1 permite mostrar a
maior participação da  na democracia e sua redução na ditadura, congurando
uma associação signicativa entre o tipo de regime político e a fonte preferencial de
recrutamento de elites dirigentes13.
13. Os resultados do teste qui-quadrado de Pearson indicaram uma associação signicativa entre as va-
riáveis testadas, χ2 (8, N = 502) =24.911, p = .002. Devido ao fato de que 5 células (33,3%) tinham
uma contagem esperada menor que 5, foi realizado um teste exato de Fisher, que também mostrou
uma associação signicativa (p = .005). Além disso, o teste exato de Fisher-Freeman-Halton reforçou
essa associação signicativa (p < .001).
35
Jan.-Apr. 2024
Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
Tais oscilações podem ser visualizadas também por décadas, comparando os
números da  com os das quatro principais universidades em que se formaram as
elites dirigentes do país (Tabela 6).
TABELA 6
Universidades mais equentes na formação das elites dirigentes do Brasil por décadas (em %)*
écadas “” “” “” “”  
1930 12,8 6,4 25,5 38,3 17 100
1940 12,1 3 39,4 21,2 24,2 100
1950 18,4 2 22,4 44,9 12,2 100
1960 7,5 10 23,8 23,8 35 100
1970 2,3 7 34,9 4,7 51,2 100
1980 8,8 2,9 11,8 23,5 52,9 100
1990 11,1 5,6 7,4 24,1 51,9 100
2000 2 6 6 30 56 100
2010 3 3 7,6 19,7 66,7 100
2020 16,7 8,3 75 100
Total Geral 8,6 5,2 17,9 25,1 43,2 100
* Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas nessas insti-
tuições com a federalização.
Fonte: Elaboração própria.
 1
Frequência de formados pela “” em comparação com todas as outras universidades por regime político
Fonte: Elaboração própria.
36 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
A Tabela 6 mostra que na década de 1930 as instituições de ensino superior de
São Paulo tiveram a frequência mais alta, com quase 40% (38,3%), seguidas pelas
instituições do Rio de Janeiro com 25,5%. Os dois estados, juntos, responderam pela
grande maioria do recrutamento de elites nessa década (64%). Nos anos 1940, há uma
inversão entre essas instituições, sendo que a  se destaca como a mais frequente,
com praticamente 40% do total, enquanto a  cai praticamente para a metade
da década anterior (21,2%). Na década seguinte, a  volta a ser a instituição com
maior número de egressos na alta direção do Estado brasileiro, com impressionan-
tes 45%. Todavia, nos anos 1970, a diversicação das instituições formadoras das
elites dirigentes se intensica: 51,2% estão na categoria “outras universidades”, 
com 35%, e  representando apenas 4,7% dos egressos. Nas décadas seguintes a
diversidade institucional continua aumentando, com destaque para a , por
exemplo, que já aparece com 11% nos anos 1980, congurando um quadro em que
a maioria das elites dirigentes do Estado brasileiro é formada em outras instituições
que não a  e a .
Mesmo assim, olhando o total,  e  continuam sendo o viveiro principal
de formação das elites dirigentes do país, com 25,1% e 18,3%, respectivamente.
No caso da , embora seja a instituição que mais oferece quadros para o Estado
brasileiro (com um quarto do total), na década de 2020, essa participação diminuiu
de forma sensível, caindo para apenas 8,3%. O Gráco 2 organiza os dados por
presidente da República
No primeiro governo Vargas (Estado Novo), as instituições de ensino sediadas
em São Paulo que posteriormente formarão a  tiveram a maior frequência, com
34,5% do total. As do Rio de Janeiro vieram em seguida, com 27,3%. No governo
de Eurico Gaspar Dutra, a  se destacou como a mais frequente, com 33,3%. A
 também teve presença considerável, com 16,7%. No segundo governo Vargas
e no governo , a  retomou sua posição como a universidade que mais forneceu
quadros para o Estado Nacional com respectivamente 50,0% e 44%, e a  vai de
novo para o segundo lugar nesses dois governos, com 28,6% e 20% respectivamente.
Alguns destaques devem ser feitos por governo. Durante a presidência de Ernesto
Geisel, a  teve uma queda abrupta de participação e a  passa a ter a maior
frequência, com 47,4% No caso dos dois governos de , embora esse presidente
seja politicamente originário de São Paulo e egresso da própria , seus governos
apresentam baixos percentuais de participação da universidade paulista. Se esse fato,
à primeira vista, surpreende, ele pode ser explicado, por outro lado, tanto pela neces-
sidade do governo de garantir sua coalizão com partidos que têm mais representação
em outros estados da federação, quanto pelo fato de  ter recrutado os mentores
do Plano Real e futuros dirigentes da área econômica de seu governo entre egressos
37
Jan.-Apr. 2024
Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
de centros universitários fora de São Paulo, com destaque para nomes como Pedro
Malan, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Lara Resende etc.
Em contrapartida, no primeiro governo de Lula, embora tenha aumentado a
diversicação de instituições onde ele recrutou seus quadros, a  tem a maior
frequência, com 24%. Nos governos de Dilma Rousse, a diversicação foi mais
signicativa ainda, com predominância de outras instituições de ensino superior.
No governo de Jair Bolsonaro, os percentuais de egressos da  caem considera-
velmente, sendo o mais baixo após a redemocratização.
Olhando para o recrutamento pelo crivo dos Poderes do Estado (Tabela 7),
repete-se um padrão já observado: no Executivo, a  é a instituição mais proe-
minente, com 88 membros (31%), vindo em segundo lugar a , com cerca de
15% (42 casos do total de 287 indivíduos). De maneira geral, as quatro principais
universidades frequentadas pelos membros do Executivo compreendem 55% das
formações acadêmicas nesse Poder.
Já no Judiciário, as instituições do Rio de Janeiro têm a maior frequência, repre-
sentando 26% do total, cando a  em segundo lugar, com 21%. Em conjunto,
essas duas instituições somam nada menos que 47% das formações acadêmicas dos
Ministros do .
No Legislativo, a  continua sendo a primeira fonte de recrutamento, mas
em um patamar bem mais baixo do que no Executivo, com cerca de 19% dos casos.
 2
Egressos da ” e não  por presidentes ao longo do tempo (1930-2023) (em %)
Obs.: Para este gráco foram desprezados 6 casos (1,2% de 502 onde a categorização não se aplica).
Fonte: Elaboração própria.
38 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
A diversidade de universidades é bem maior no Poder Legislativo, com 55% dos
membros graduados em outras instituições (47 de 85 casos). Esses dados, obvia-
mente, não surpreendem, tratando-se de um Poder que representa o conjunto da
federação brasileira. Por m, no Ministério Público, a formação acadêmica é mais
distribuída entre a  (40% ou 12 casos) e outras instituições (30% ou 9 casos). A
 é francamente minoritária (apenas 1 caso entre 30). Essa é uma constatação que
exigirá mais pesquisas para ser explicada. Em síntese, se a formação acadêmica das
elites dirigentes varia conforme a esfera de Poder,  e  são consistentemente
as instituições mais frequentadas. A Tabela 8 calcula esses percentuais para cada
agência ou órgão em separado.
Com relação às agências do Poder Executivo,  e  continuam predominan-
do (Tabela 8), exceto no Ministério da Justiça em que a  é a segunda colocada
com quase 11% dos indicados. No cargo de Presidente do Banco Central, 37% dos
membros têm formação naquelas duas instituições. No Ministério da Educação, a
 sobressai com 30% dos ministros, mas há uma variedade maior de instituições
de formação dos quadros desta área (quase 50% dos casos são de formados em ou-
tras universidades). No Ministério da Fazenda, o padrão geral se reproduz: a 
é novamente a universidade mais frequente, com quase 42% dos ministros (20 de
48), seguida pela  com 23% (11 casos).
Na pasta da Justiça, a  se destaca novamente com 36% (24 casos de um total de
66 ministros que serviram nesse período), seguida por outras instituições com 44%
(29 ministros), sugerindo que a formação dos membros da Justiça é mais diversi-
cada. Nas Relações Exteriores há maior distribuição entre  e outras instituições
(38% ou 17 de 45 chanceleres), indicando diversidade também na formação de
 7
Universidades mais equentes por ramo do aparelho do Estado bra sileiro entre 1930 e 2023 (em %)*
 “” “” “” “” 
 
Executivo 5,6 4,5 14,6 30,7 44,6 100
Judiciário 15 5 26 21 33 100
Legislativo 7,1 7,1 11,8 18,8 55,3 100
Ministério Público Federal 20 6,7 40 3,3 30 100
Total Geral 8,6 5,2 17,9 25,1 43,2 100
* Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas nessas insti-
tuições com a federalização
Fonte: Elaboração própria.
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Jan.-Apr. 2024
Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
membros nesse ramo. O Ministério da Saúde, por sua vez, apresenta situação ímpar:
a maioria (54% dos casos, ou seja, 25 ministros dentre 46) formou-se em instituições
outras que não essas quatro ressaltadas. Tem-se, aqui, outro fato a ser desvendado
em futuras pesquisas.
Com relação ao Judiciário, a  se destaca como a primeira instituição fornece-
dora de membros para o Supremo Tribunal Federal com 26%, seguida pela  com
21% de um total de 100 casos. Essas duas instituições desempenham novamente papel
relevante na formação dos membros do , como o zeram nas demais áreas já men-
cionadas com 47% dos ministros. Com relação ao Poder Legislativo, sendo São Paulo
o Estado com maior número de deputados federais, a  também é a mais frequente.
No caso do Senado, onde a representação é igual para todos os Estados da federação, a
distribuição é mais equilibrada, com maior diversidade de formação no ensino superior.
 8
Universidades mais equentes na formação da elite por Poder e agências do Estado brasileiro entre
1930 e 2023 (em %)*
  “” “” “” “” 
 
Executivo
Banco Central 18,5 18,5 63 100
Educação 2,1 8,5 10,6 29,8 48,9 100
Educação e
Saúde 12,5 37,5 12,5 37,5 100
Fazenda 6,3 22,9 41,7 29,2 100
Justiça 10,6 6,1 3,0 36,4 43,9 100
Relações
Exteriores 4,4 4,4 17,8 35,6 37,8 100
Saúde 4,3 6,5 17,4 17,4 54,3 100
Legislativo
Câmara 9,8 9,8 9,8 26,8 43,9 100
Senado 4,5 4,5 13,6 11,4 65,9 100
Judiciário  15 5 26 21 33 100
Ministério Público
Federal  20 6,7 40 3,3 30 100
Total Geral 8,6 5,2 17,9 25,1 43,2 100
* Compreende as instituições de ensino que antecederam as universidades e que depois foram agrupadas nessas insti-
tuições com a federalização.
Fonte: Elaboração própria.
40 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
Em suma, a  e a  emergem como as instituições mais frequentes, com
25% e 18%, respectivamente. Mesmo havendo diversidade de origens educacionais
por parte dos ocupantes dos cargos nos altos escalões do Estado brasileiro, estes dois
centros universitários se destacam, de forma expressiva e ao longo de décadas, como
o núcleo principal de formação das elites dirigentes do país.
Todavia, há uma particularidade quando se examinam as principais agências de
política econômica do Brasil: a  não foi a principal instituição de formação de
seus dirigentes. No , do total dos 38 presidentes da instituição, entre 1950 e
2023, menos de um quarto vieram da , havendo um recrutamento preferencial
em outras instituições de ensino, particularmente do Rio de Janeiro (14 casos). Na
Assessoria Econômica de Vargas, órgão semiocial que funcionou no próprio Palá-
cio do Catete, durante o segundo governo Vargas (1951-1954), sendo responsável
pela formulação de importantes projetos de desenvolvimento econômico do país,
todos os seus membros vinham do Nordeste (Rômulo Almeida, Jesus Soares Pereira,
Cleanto Paiva Leite e Ignacio Rangel) (D’Araújo, 1982; Lima, 2013). Na Sumoc, o
denominado embrião do Banco Central, dos 12 dirigentes com informações dispo-
níveis (no total de 18 membros), apenas 2 eram formados na .
Em outras palavras, mesmo sendo uma instituição de renome, a  não pre-
dominou na formação de dirigentes de agências de política econômica no Brasil.
Essa tendência, vista ao longo de várias décadas, reete uma diversidade nas origens
educacionais e nas inuências na formulação de políticas econômicas no país, além
de mostrar como as dinâmicas políticas e econômicas mudaram ao longo do tempo
sem a inuência direta dos “uspianos”.
Se a importância da  na formação das elites dirigentes do país é inquestio-
nável, a presente análise revela também uma dinâmica mais complexa, inuenciada
por mudanças ao longo do tempo e por diferentes contextos políticos. Este estudo
reitera ainda a necessidade de compreender que a formação das elites dirigentes exige
uma visão mais ampla e que se considere a diversidade de instituições e de trajetórias
educacionais aí envolvidas (Miceli, 1981; Canedo, 2016).
Estamos cientes dos limites da abordagem aqui adotada. Entre eles, indica-se a
diculdade de estabelecer quando a , como uma nova universidade, começa a ter
impactos efetivos no recrutamento de dirigentes do Estado brasileiro no nível federal
de governo. Ademais, o fato de um dirigente ter obtido seu diploma em uma determi-
nada instituição de ensino superior não signica que ele tenha ocupado os cargos da
alta direção do Estado pelo impacto direto da formação acadêmica nessa instituição.
Como exemplo, pode-se evocar o caso de Raul Fernandes, um carioca graduado na
Faculdade de Direito de São Paulo no nal do século , mas que desenvolveu toda
sua carreira política no Rio de Janeiro, desde vereador em Vassouras, sua cidade natal,
41
Jan.-Apr. 2024
Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Rodrigues Viegas e Rodrigo Silva
até os vários mandatos de deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro, além de se
tornar diplomata e relator da Constituição de 1934, credenciais que certamente foram
importantes para alavancar seu acesso a futuras posições de Ministro das Relações
Exteriores do governo Dutra e de Café Filho14. Em suma, se os dados levantados não
nos permitem fazer uma avaliação mais consistente do projeto dos mentores da ,
eles apresentam pistas instigantes para futuros desdobramentos analíticos.
Considerações nais
O artigo investiga o impacto signicativo da Universidade de São Paulo na geração
de lideranças para o Estado brasileiro, salientando sua importância histórica ao
longo de quase um século. Os dados revelam que, especialmente durante períodos
democráticos, a  foi preponderante, tendo, porém, sua inuência diminuída du-
rante os regimes ditatoriais. Essa oscilação no recrutamento dos quadros dirigentes
reete, por sua vez, a própria oscilação da interação entre o poder econômico e o
poder político de São Paulo, desde que perdeu sua hegemonia em 1932, conforme
analisado por Schwartzman (1975).
A  não foi a única, mas é a principal instituição formadora das lideranças
estatais no Brasil. Sozinha, reiteramos, ela foi responsável por formar nada menos
do que 25% da elite dirigente do país no período estudado. De fato, ela dividiu essa
função com as instituições de ensino superior do Rio de Janeiro e, com elas, tem
representado o núcleo central de recrutamento de quadros para os altos escalões da
esfera federal do governo.
Assim, é possível concluir que a  teve papel expressivo, mas não exclusivo, na
tentativa de recuperar a liderança política de São Paulo. Diversos fatores limitaram
esse objetivo, como as políticas centralizadoras de Vargas e dos governos militares
e mudanças sociais e econômicas mais amplas por que passou o país no período.
Ademais, a expansão do sistema universitário brasileiro no século  permitiu que
outras instituições, como as de Minas Gerais e Pernambuco, também contribuíssem,
embora em menor grau, para a formação de lideranças. Esses fatores, em conjunto,
impediram a realização completa dos objetivos propostos pelos fundadores da .
14. A trajetória de Raul Fernandes pode ser mais bem compreendida se considerarmos que a Academia
de Direito de São Paulo, juntamente com a Academia de Direito de Olinda, foram as duas primeiras
escolas jurídicas fundadas no Brasil, em 1827, após a Independência e se tonaram as mais importantes
na formação de quadros da burocracia do então recém-criado Estado Nacional, não só na Monarquia,
mas também na República Velha (Adorno, 1988). Este fato explica a razão pela qual grande parte das
elites políticas do período, mesmo as oriundas de outras províncias/estados, tenham sido formados
nestas instituições.
42 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 36, n. 1
Fábrica de líderes, pp. 23-44
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Resumo
Fábrica de líderes: a inuência da usp na formação da elite dirigente nacional
A Universidade de São Paulo () é reconhecida por sua importância cientíca e cultural. O
artigo investiga o grau de inuência da  na formação das elites dirigentes do Brasil. O estudo
se baseia em uma análise quantitativa da formação acadêmica dos ocupantes do alto escalão da
administração pública federal (Presidentes da República, Presidentes do Banco Central, Ministros
de Estado, líderes do Legislativo, Judiciário e do Ministério Público) desde os anos 1930 até a
atualidade. Os dados revelam que a  contribuiu signicativamente para a formação de mem-
bros do alto escalão federal em diferentes esferas e sua inuência é dominante. A participação de
egressos da  varia ao longo do tempo e entre diferentes regimes políticos, sendo mais acentuada
em períodos democráticos. Além disso, outras instituições de ensino superior também tiveram
papéis importantes na formação de elites dirigentes. A diversidade de instituições frequentadas
pelos membros do governo reete a complexidade e a dinâmica da formação das elites brasileiras,
inuenciada por mudanças políticas e sociais ao longo do tempo.
Palavras-chave: Universidade de São Paulo; Formação acadêmica; Elite dirigente; Política brasi-
leira; Estatística descritiva.
Abstract
Factory of leaders: the inuence of usp in the formation of the national ruling elite
e University of São Paulo () is acknowledged for its scientic and cultural signicance. is
article investigates the extent of ’s inuence on the shaping of Brazil’s governing elites. e
study is founded on a quantitative analysis of the academic background of individuals occupying
top positions in the federal public administration (Presidents of the Republic, Presidents of the
Central Bank, Ministers of State, leaders of the Legislative, Judiciary, and the Public Prosecu-
tor Service) from the 1930s to the present day. e data reveals that  has made a signicant
contribution to the education of high-ranking federal members across various spheres, with its
inuence being predominant. e participation of  alumni varies over time and between
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dierent political regimes, being more pronounced during democratic periods. Moreover, other
higher education institutions have also played crucial roles in the formation of governing elites.
e diversity of institutions attended by government members reects the complexity and dy-
namics of the formation of Brazilian elites, inuenced by political and social changes over time.
Keywords: University of São Paulo; Academic education; Ruling elite; Brazilian politics; Des-
criptive statistics.
Texto recebido em 29/12/2023 e aprovado em 12/01/2024.
: 10.11606/0103-2070.ts.2024.220846.
M R L é socióloga, professora titular aposentada da / e da /
e membro da Diretoria do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec). E-mail:
marita.loureiro@gmail.com.
A C é cientista político, professor associado do Departamento de Ciência Polí-
tica da . Editor-chefe da Revista de Sociologia e Política e coordena o  Representação
e Legitimidade Democrática (ReDem). E-mail: adrianocodato@gmail.com.
R R V é cientista político e pesquisador do Centro de Estudos em Ad-
ministração Pública e Governo da - (). Presidente do Observatório do Controle.
E-mail: viegas.r.r@gmail.com.
R S é cientista político e historiador. Doutorando e mestre em Ciência Política pela
. Editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. E-mail: rodrigodasilva010@gmail.com.
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O presente artigo pretende analisar, sociologicamente, a historiografia sobre a Universidade de São Paulo, destacando os padrões de escrita e publicação das diferentes “histórias da USP” e mostrando como cada um deles corresponde a uma posição social distinta no interior da instituição. Contrapõe-se particularmente a história oficial, escrita desde posições privilegiadas de poder e marcada pela primazia do relato pessoal e finalista, à história dos vencidos, de cunho filosófico, marcada pela defesa do projeto “original” da USP, ancorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Por fim, mostramos como a história estrutural, que permite realizar a operação analítica central do artigo, também corresponde a uma tradição historiográfica própria, ligada às ciências sociais, em especial à sociologia, que também tem um lugar próprio na instituição.
Os aprendizes do poder. O bacharelismo liberal na política brasileira
  • Sérgio Adorno
Adorno, Sérgio. (1988), Os aprendizes do poder. O bacharelismo liberal na política brasileira. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
O livro negro da usp
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Adusp. (1978), O livro negro da usp. O controle ideológico na Universidade. São Paulo, Associação de Docentes da Universidade de São Paulo.
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A universidade da Comunhão Paulista
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História do Estado de São Paulo: a formação da unidade paulista. São Paulo, Editora Unesp; Imprensa Oficial
  • Adriano Codato
Codato, Adriano. (2010), "A elite destituída: a classe política paulista nos anos trinta". In: Caldeira, João Ricardo de Castro & Odalia, Nilo (orgs.). História do Estado de São Paulo: a formação da unidade paulista. São Paulo, Editora Unesp; Imprensa Oficial; Arquivo Público do Estado, vol. 2, pp. 275-305.
Sistema estatal e política econômica no Brasil pós-64
  • Adriano Codato
Codato, Adriano. (1997), Sistema estatal e política econômica no Brasil pós-64. São Paulo, Hucitec.