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Fitoquímica e Atividade Biológica
PLANTAS DA RESTINGA
Leandro Machado Rocha
Bettina Monika Ruppelt
Marcelo Guerra Santos
(Organizadores)
Rio de Janeiro
2023
Fitoquímica e Atividade Biológica
PLANTAS DA RESTINGA
Leandro Machado Rocha
Bettina Monika Ruppelt
Marcelo Guerra Santos
(Organizadores)
1ª edição
Plantas da Restinga:
Fitoquímica e Atividade Biológica
( 1ª edição )
Todos os Direitos: Leandro Machado Rocha, Bettina Monika Ruppelt e
Marcelo Guerra Santos
SERVIÇOS EDITORIAIS
Editora Projeto Cultural
www.editoraprojetocultural.com.br
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AVISO IMPORTANTE
Os organizadores e os autores deste livro envidaram seus melhores esforços no sen-
tido de referenciar todas as fontes bibliográficas e virtuais consultadas durante a
preparação do texto e, antecipadamente, pedem desculpas por eventuais omissões,
comprometendo-se, desde já, a sanar quaisquer falhas em uma próxima edição desta
obra. Os textos e/ou imagens assinadas pelos colaboradores são de inteira respon-
sabilidade dos mesmos.
REPRODUÇÃO
Proibida a reprodução, total ou parcial desta obra, sem a autorização dos organiza-
dores.
CRÉDITOS
Ilustração da Capa: Linamar Esposito - Eugenia astringens Cambess.
Ilustração da Quarta Capa: Linamar Esposito – Cupania emarginata Cambess.
Revisor Científico: José Luiz Pinto Ferreira
METADADOS
1. Metabólitos secundários; 2. Plantas medicinais; 3. Flora da restinga; 4. Plantas in-
seticidas; 5. Ecologia de saberes; 6. Conhecimento tradicional; 7. Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba; 8. Conservação; 9. Biodiversidade; 10. Etnobotânica.
PREFÁCIO
- 5 -
“Olhe profundamente a natureza e então você entenderá tudo melhor.”
Albert Einstein
É com grande satisfação que escrevo o prefácio deste livro de grande importância
para o conhecimento da biodiversidade da restinga de Jurubatiba, a qual abrange os
municípios de Carapebus, Macaé e Quissamã, no norte do estado do Rio de Janeiro.
Nossos agradecimentos àqueles que lutaram pela criação do Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba, em 29 de abril de 1998, cobrindo aproximadamente 15.000
hectares em 44 Km de costa.
A escrita deste prefácio trouxe a lembrança da minha iniciação científica na Uni-
versidade Federal Fluminense, quando por mais de dois anos contribuí com as pesqui-
sas para detecção de heterosídeos cianogenéticos e taninos nas plantas da Restinga
de Maricá, na Área de Proteção Ambiental de Maricá, Rio de Janeiro.
Os Professores Doutores Leandro Machado Rocha, Bettina Monika Ruppelt e
Marcelo Guerra Santos, coordenadores da edição deste livro, são pesquisadores de
excelência e apaixonados pela ciência, os quais vêm envidando esforços no estudo
e preservação da biodiversidade deste imprescindível ecossis tema brasileiro. Assim,
a contribuição de todos os pesquisadores autores deste livro é incomensurável, me-
recendo nosso reconhecimento e aplausos.
O ecossistema restinga é bastante recente do ponto de vista geológico, possuindo
flora altamente adaptada ao solo arenoso, com alta salinidade, pobre em nutrientes
e água. Além desses desafios, as plantas ainda enfrentam o calor, o vento, as ma-
rés e as ondas do mar. Todavia, o maior desafio deste bioma em áreas protegidas e,
principalmente, áreas não protegidas, é o homem.
Este livro descreve com detalhes os aspectos etnobotânicos, etnofarmacológicos,
químicos, biológicos, farmacológicos e taxológicos, bem como a dis tribuição geográ-
fica e a importância econômica de 25 espécies vegetais. Destacam-se a riqueza e a
qualidade das fotos das plantas, bem como dos pesquis adores em trabalho no campo.
O mundo está passando por mudanças climáticas com risco de aumento do vo-
lume dos oceanos, o que põe em risco as restingas, além dos desafios já enfrentados
por este ecossistema. Portanto, recomendo fortemente a leitura deste livro, o que
certamente convencerá mentes e corações a se juntarem ao time de pesquisadores
das restingas brasileiras.
Jairo Kenupp Bastos
Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
5
9
33
35
39
43
50
58
69
75
81
87
90
95
100
105
111
116
121
127
133
140
144
150
158
166
176
183
189
Prefácio ............................................................................................................
Os medicamentos que brotam da areia ..........................................................
Monografias das plantas da restinga: Fitoquímica e atividade biológica ......
Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze .............................................................
Annona acutiflora Mart. ...................................................................................
Baccharis reticularia DC. ...................................................................................
Clusia fluminensis Planch. & Triana .................................................................
Clusia hilariana Schltdl. .....................................................................................
Eremanthus crotonoides (DC.) Sch.Bip. ...........................................................
Erythroxylum ovalifolium Peyr. ........................................................................
Erythroxylum subsessile (Mart.) O.E.Schulz ....................................................
Eugenia astringens Cambess. ...........................................................................
Eugenia pruniformis Cambess. .........................................................................
Eugenia sulcata Spring ex. Mart. .....................................................................
Mandevilla fragrans (Stadelm.) Woodson ......................................................
Mandevilla guanabarica Casar. ex. M.F.Sales, Kin.-Gouv. & A.O.Simões ....
Mandevilla moricandiana (A.DC.) Woodson ..................................................
Manilkara subsericea (Mart.) Dubard .............................................................
Myrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O. Berg ............................................
Myrsine rubra M.F.Freitas & Kin.-Gouv. ..........................................................
Neomitranthes obscura (DC.) N. Silveira .........................................................
Ocotea indecora (Schott) Mez .........................................................................
Ocotea notata (Nees & Mart.) Mez .................................................................
Pilocarpus spicatus A.St.-Hil. ............................................................................
Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn. ..................................
Varronia curassavica Jacq. ................................................................................
Xylopia ochrantha Mart. ...................................................................................
Zanthoxylum caribaeum Lam. ..........................................................................
Sobre os autores ..............................................................................................
Praia
(Bernardino da Costa Lopes 1)
“Pitangueiras, arriando carregados
- Esmeralda e rubim que a luz feria
Cintilavam, em pleno meio-dia,
Na argêntea praia de um fulgor de espadas.
Sob o largo frondal eram risadas
Toda uma festa, um chalro, a vozeria
De um rancho alegre e simples que colhia:
Moças - frutas; e moços - namorados.
Em cima outra aluvião, por todo o mangue
De sanhaços, saís e tiés-sangue,
Policromia musical da mata.
E através da folhagem miúda e cheia
Bordava o sol, ao pino, sobre a areia,
Um crivo de oiro num cendal de prata!”
1 Poeta negro (1859-1916), de Boa Esperança, município de Rio Bonito, estado do Rio de Ja-
neiro. Foi o precursor do Simbolismo no Brasil.
- 9 -
Leandro Rocha, Bettina Monika Ruppelt,
Jorge Inácio Barcelos e Marcelo Guerra Santos
OS MEDICAMENTOS QUE BROTAM DA AREIA
- 9 -
Dia e noite, na restinga,
Os perfumes de todas
As vidas, flores e frutas
E bichos,
Misturados
Aos cheiros da terra,
Das lagoas, dos rios,
E da maresia,
Se juntam, forram os ninhos,
Ocupam cada recanto,
E voam
Junto com os passarinhos
(Os Perfumes da Casa, Bia Hetzel & Roseana Murray)1
1 Poema do livro “A casa de todos os ninhos”, de Bia Hetzel e Roseana Murray, com ilus tra-
ções de Mariana Massarani. Instituto Coral Vivo, Santa Cruz Cabrália, 2023.
- 11 -
Mata periodicamente inundada (Fonte: M.G.Santos).
Neste livro, chamaremos de restinga o mosaico de comunidades vegetais encon-
tradas em planícies arenosas costeiras de origem do Período Quaternário. As varia-
ções ao nível dos oceanos ocorridas na Época do Holoceno ocasionaram a formação,
ao longo da costa, de vastas planícies sedimentares arenosas particularmente bem
desenvolvidas nos litorais oriental e meridional do Brasil. Esses depósitos arenosos
são em geral cobertos por comunidades vegetais características e também muito
diversas. Como são ambientes que tiveram uma formação recente, cada trecho geo-
gráfico pode ser colonizado por plantas e animais do bioma adjacente à zona costei-
ra. Na Região Norte do Brasil, pela biota da Amazônia; Cerrado e Caatinga, na Região
Nordeste e; Mata Atlântica, em parte da Região Nordeste, toda a região Sudeste e
em parte da Região Sul (Araujo & Lacerda, 1987; Lacerda et al., 1984; Restinga.Net,
2023). Na restinga podemos encontrar vegetações de formações herbáceas, arbusti-
vas fechadas e abertas, matas periodicamente e permanentemente inundadas, for-
mações brejosas e aquáticas (Araujo, 2000). Segundo o Conama (2009), a vegetação
de restinga no domínio da Mata Atlântica é definida como:
(...) o conjunto de comunidades vegetais, distribuídas em
mosaico, associado aos depósitos arenosos costeiros qua-
ternários e aos ambientes rochosos litorâneos – também
consideradas comunidades edáficas – por dependerem mais
da natureza do solo do que do clima, encontradas nos am-
bientes de praias, cordões arenosos, dunas, depressões e
transições para ambientes adjacentes, podendo apresentar,
de acordo com a fitofisionomia predominante, estrato her-
báceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado.
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Formações herbácea e arbustiva fechada (Fonte: M.G.Santos).
Mata permanentemente inundada (Fonte: M.G.Santos).
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Formações herbácea e brejosa (Fonte: M.G.Santos).
Formação arbustiva aberta (Fonte: M.G.Santos).
- 14 -
A localização privilegiada da restinga, ou seja, próxima ao litoral, torna esse ecos-
sistema frágil e constantemente ameaçado pela pressão humana (Araujo & Lacerda,
1987). Rocha et al. (2007) identificaram 14 causas de degradação dos remanescen-
tes de restinga no Brasil, sendo os mais importantes a remoção da vegetação pelo
setor imobiliário, o estabelecimento de espécies vegetais exóticas, a alteração do
substrato original e a coleta seletiva de espécies vegetais de interesse paisagístico.
Esses autores alertam ainda para a necessidade de ações imediatas para a proteção
desses remanescentes.
A restinga possui diversos fatores limitantes ao estabelecimento das espécies
vegetais. As formações abertas são caracteristicamente pobres em nutrientes, inca-
pazes de reter água nas camadas mais superficiais do solo arenoso, estão expostas
a altas temperaturas do ar e da superfície do solo, submetidas eventualmente à alta
salinidade, além da alta radiação luminosa (Mattos et al., 2004; Scarano et al., 2001).
As matas inundáveis estão sujeitas a períodos de falta de oxigênio no solo em decor-
rência de inundação prolongada (Scarano et al., 2004). Todos esses fatores podem
gerar estresse nas plantas e interferir na sua produção de metabólitos secundários
(Gershenzon, 1983). Desse modo, as plantas das restingas são promissoras na busca
de novas moléculas e de substâncias com atividade biológica.
Ainda não temos à disposição uma lista de plantas que ocorrem na restinga ao
longo do litoral brasileiro. No entanto, apenas para o es tado do Rio de Janeiro já foram
listadas 1.592 espécies (Restinga.Net, 2023). Quimicamente, o conhecimento dessa
flora ainda está no começo e vem se mostrando promissor. O índice de singularida-
de taxonômica aplicado para quantificar a diversificação de substâncias na Restinga
de Maricá, localizada dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental de Maricá
(Rio de Janeiro), apresentou um valor de 88,4%, ou seja, maior que certas áreas do
Cerrado e da Amazônia (Gottlieb et al., 1996).
Com o desejo de ampliar o conhecimento fitoquímico das plantas nativas dos
biomas brasileiros, o Laboratório de Tecnologia de Produtos Naturais (LTPN) da Uni-
versidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Laboratório de Biodiversidade
(LaBio) da Faculdade de Formação de Professores (FFP), da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), vem desenvolvendo, desde 1994, pesquisas no Parque Nacional
da Restinga de Jurubatiba visando caracterizar a fitoquímica e a atividade biológica
de suas plantas. Durante esse período, foram estudadas 22 espécies pertencentes
a 16 gêneros e 10 famílias botânicas, que resultaram em 18 dissertações, 13 teses e
1 pós-doutorado. Boa parte desses resultados encontra-se publicado na forma de
trabalhos científicos em congressos e em cerca de 70 artigos em periódicos nacionais
e internacionais (veja a Tabela 1 para mais detalhes). Além disso, foram depositadas
oito patentes, sendo uma delas já concedida.
Visando um maior intercâmbio, a troca de experiências e a congregação de todos
os que realizam pesquisa sobre restingas, além da divulgação dos estudos fitoquí-
micos e de bioatividade desenvolvidos com as plantas das restingas, os dois labo-
ratórios (LTPN e LaBio) vêm promovendo, bianualmente, desde 2011, o “Simpósio
Flora das Restingas Fluminenses”. Desde então, já foram realizadas sete edições do
evento (veja as memórias de todas as edições em https://simposiorestingas.wixsite.
com/simposiorestingas). Em 2023, ele foi renomeado e reconfigurado para ter maior
amplitude, passando a ser denominado “Simpósio Brasileiro de Restinga”.
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Tab ela 1. Sinopse das plantas da Restinga de Carapebus (Parque Nacional da Res-
tinga de Jurubatiba, RJ) estudadas ou em estudo pelo Laboratório de Tecnologia de
Produtos Naturais da Faculdade de Farmácia da UFF, em parceria com o Laboratório
de Biodiversidade da FFP-UERJ.
Família Espécie Referência
Annonaceae Annona acutiflora Mart. Duarte et al., 2022; Folly et al., 2021
Xylopia ochrantha Mart. Araújo et al., 2019; Viana et al., 2023
Asteraceae
Baccharis reticularia DC. Botas et al., 2017; Lima et al., 2021
Eremanthus crotonoides (DC.) Sch.
Bip. Lobo et al., 2012
Bonnetiaceae
Bonnetia stricta (Nees) Nees &
Mart. Car valho et al., 2013
Clusiaceae Clusia hilariana Schltdl.
Fernandes et al., 2016; Kelecom et
al., 2002
Erythroxylaceae
Erythroxylum ovalifolium Pey r. Cruz et al., 2018; Oliveira et al., 2016
Erythroxylum subsessile (M ar t.)
O.E.Schulz
Cruz et al., 2016; 2018; Oliveira et al.,
2016
Lauraceae
Ocotea indecora (Schott) Mez
Figueiredo et al., 2018; Machado et al.,
2023; Nascimento et al., 2020; Pinto
et al., 2023
Ocotea notata (Nees & Ma rt.) Mez
De Souza et al., 2023; Garrett et al.,
2007; 2010; 2012; Moussavou et al.,
2019
Ocotea pulchella (Nees & Mart.)
Mez
De Souza et al., 2023; Passos et al.,
2020.
Myrtaceae
Eugenia astringens Cambess. Presente publicação
Eugenia pruniformis Cambess. Albuquerque et al., 2012; 2016; 2020
Eugenia sulcata Spring ex. Mart.
Faria et al., 2017; Feder et al., 2019;
Gonzales et al., 2014; Lima et al., 2 012;
Magalhães et al., 2022; Oliveira et al.,
2012; Santos et al., 2013, 2014; 2019
Myrciaria floribunda (H.We st ex
Willd.) O. Berg
Duarte et al., 2022a; Fe der et al., 2019;
Machado et al., 2023; Tietbohl et al.,
2012; 2014; 2017; 2019; 2020
Neomitranthes obscura ( DC .) N.
Silveira
Amaral et al., 2013; 2014; Faria et al.,
2017; Rangel et al. 2023
Primulaceae
Myrsine parvifolia A.DC.Corrêa et al., 2017
Myrsine rubra M.F.Freitas & Kin.-
-Gouv. Corrêa et al., 2017; França et al., 2011
Rutaceae
Pilocarpus spicatus A.St.-Hil.
Apolinário et al., 2020; Feder et al.,
2019; Mello et al., 2007; Nogueira et
al., 2020; Oliveira et al., 2010
Zanthoxylum caribaeum Lam.
Feder et al., 2019; Nogueira et al.,
2014a; 2014b; Pacheco et al. 2020
Sapotaceae
Manilkara subsericea (Mart.) Du-
bard
Almeida et al ., 2015; De Oliveir a et al.,
2014; Faria et al., 2018; Feder et al.,
2019; Fernandes et al., 2011; 2012;
2013a, b; 2014; 2015
Sideroxylon obtusifolium (Ro em. &
Schult.) T.D.Penn.
Duarte et al., 2022b; Oliveira et al.,
2012; 2013; Rangel et al., 2022
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Lagoa de Jurubatiba, situada no limite entre Macaé e Carapebus, no Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba (Fonte: Rômulo Campos).
Restinga de Carapebus, local de encontro e diálogo de saberes botânicos
A Restinga de Carapebus, localizada em município de mesmo nome, integra, jun-
tamente com áreas de restinga dos municípios de Macaé e Quissamã, o Parque Na-
cional da Restinga de Jurubatiba, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro. É uma
das unidades de conservação da natureza (UC) mais importantes para o estudo e a
conservação da restinga e das lagoas costeiras associadas ao bioma Mata Atlântica.
Localizaç ão do Parque Nacional da Res tinga de Jurubatiba e de sua zo na de amortecimento
(Fonte: Conceição et al., 2016).
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Placa de sinalização localizada nos limites do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.
Barbara Lima (Fonte: A. Lima Júnior).
A paixão pela Restinga de Carapebus e seus encantos uniu os autores deste capí-
tulo, e outros que foram pioneiros em seus estudos e que já não estão mais presen-
tes fisicamente entre nós. Entre eles, o nosso querido e saudoso amigo, o botânico
Paulo César Ayres Fevereiro. Este trabalho colaborativo teve seu começo no ano de
1994, reunindo alunos, técnicos, professores, botânicos, químicos e fitoquímicos da
Universidade Federal Fluminense e a comunidade local da Restinga de Carapebus.
Foi desenvolvido o conceito de “pesquisas colaborativas” de Sano (2022), em que a
produção de conhecimentos é realizada não somente em conjunto com os nossos
colegas acadêmicos, mas também, e, sobretudo, com os especialistas das comuni-
dades locais.
Desse modo, foi estabelecido um diálogo de saberes botânicos entre os conhe-
cimentos tradicionais sobre o uso das plantas da Restinga de Carapebus e os conhe-
cimentos científicos, na busca de plantas/substâncias com atividades biológicas, na
perspectiva de uma “ecologia dos saberes”, como definido por Santos (2007), em
que os diferentes saberes e sistemas de conhecimento são igualmente válidos, sig-
nificativos e simétricos entre si (Santos, 2007; Sano et al., 2022).
Todos esses anos de encontros e diálogos nos possibilitaram ter uma ampla vi-
são da diversidade da flora da Restinga de Carapebus, não somente pela riqueza e
- 18 -
Saboreando os frutos da Restinga de Carapebus (Fonte: B.Ruppelt). Marcelo Guerra (es-
querda) e Jorge Inácio (direita).
abundância de suas espécies vegetais, mas também pela variedade de uso dessas
plantas, assim como sua riqueza química e de atividades biológicas. Os nomes uti-
lizados localmente e os científicos ecoavam na restinga, hora o botânico era quem
falava o nome popular, na tentativa de memorizá-lo, e hora o especialista local
articulava o nome científico de uma e outra planta. Em prazerosas conversas “ho-
rizontais” ao lado de uma planta, na margem do Canal Macaé-Campos ou mesmo
durante uma saborosa refeição, os termos se “misturavam” numa boa e saudável
fusão de conhecimentos.
Uma parcela do registro desse conhecimento tradicional sobre o uso das plan-
tas da Restinga de Carapebus pode ser encontrada em Santos et al. (2009a), em que
há uma lista com as espécies e suas respectivas indicações de uso, e Santos et al.
(2009b), um manual para a identificação das principais espécies dessa restinga. Os
usos são bem diversificados e podem ser alimentar, lenha, construção, ritualístico,
medicinal, ornamental, têxtil, aromatizante, higiênico, utensílio, corante e bebida al-
coólica (Santos et al. 20 09a). Esse registro documental é de suma importância, já que
todo esse conhecimento era, e continua sendo transmitido oralmente na Restinga
de Carapebus. Mas o livro “Plantas da Restinga: potencial econômico” (Santos et al.,
2009a), produzido em conjunto com os especialistas locais e os professores da UFF e
UERJ, passou a ser uma referência, principalmente para a população de Carapebus.
- 19 -
Na beira da Lago a de Carapebus, pos ando com a quixabeira- preta (Sideroxylon obtusifolium)
ao fundo (Fonte: M.G.Santos). Da esquerda para a direita. Primeiro Plano: Ricardo Albu-
querque, Bet tina Ruppelt, Marcelo Gue rra. Segundo plano: Gab riel Caldas e Leandro Rocha.
As plantas da restinga de Carapebus são verdadeiras “indústrias químicas”, uma
“farmácia viva” que precisa ser estudada e conservada. Nós, pesquisadores das univer-
sidades, especialistas locais, juntamente com os alunos, temos a oportunidade de estu-
dar essas plantas, revelando seus componentes químicos e suas atividades biológicas,
farmacológicas e tóxicas, contribuindo para o conhecimento científico e o desenvolvi-
mento de futuros produtos farmacêuticos para uso humano, veterinário ou agrícola.
O presente livro apresenta parte dos resultados das pesquisas fitoquímicas e de
atividades biológicas realizadas com 25 plantas que ocorrem na restinga. Desse total,
19 espécies foram estudadas pelo Laboratório de Tecnologia de Produtos Naturais da
UFF, em conjunto com Laboratório de Química Bio-orgânica da UFF e o Laboratório
de Biodiversidade da FFP-UERJ. Cinco foram analisadas pelo Laboratório de Cultura
de Tecidos Vegetais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio),
e uma pelo Laboratório de Botânica Estrutural e Funcional da UFF.
Para cada espécie são indicados os nomes populares, os principais sinônimos de cada
espécie , a distribuição geográf ica, informações etnobotânicas ou de botânic a econômi-
ca, a sua composição química, ações farmacológicas, atividades biológicas e toxicologia.
Esses são os primeiros passos para descortinar os segredos fitoquímicos da nos-
sa amada restinga!
Pessoas, plantas e paisagens. Memórias da Restinga de Carapebus...
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Nas moitas da restinga, ao lado de uma maçaranduba (Myrcia ovata) (Fonte: M.G.Santos).
Da esquerda pa ra a direita: Bettina Ruppelt, Jorge Ináci o, Cristina Franco e Leandro Rocha.
Navegando no Canal Macaé-Campos em busca das plantas (Fonte: M.G.Santos). Da esquerda
para a direita: Jorge Inácio, Paula Duarte, Bettina Ruppelt e Linamar Esposito.
- 21 -
Gravando par a o programa Globo Repór ter com a equipe da TV Glo bo (Fonte: M.G.Santos).
Descanso na areia fresca e sombra da moita de restinga (Fonte: R.Garrett). Da esquerda para
a direita: Jonathas Lobo, Caio Fernandes, Marcelo Guerra, Leandro Rocha e Adriana Oliveira.
- 22 -
Contemplando a paisagem após coleta do guando-do-mato (Zanthoxylum caribaeum) (Fonte:
M.G.Santos). Primeiro plano: Jeane Nogueira e Jorge Inácio. Segundo plano: Luis Tietbohl.
Atravessando a Lagoa de Carapebus em busca das quixabeiras (Sideroxylon obtusifolium)
(Fonte: L.Esposito).
- 23 -
Entardecer de um dia de coleta na Restinga de Carapebus (Fonte: L.Tietbohl). Da esquer-
da para a direita: Ricardo Albuquerque, Leandro Rocha, Marcelo Guerra e Luis Tietbohl.
A felicidade ao encontrar o arbusto de quixaba (Erythroxylum ovalifolium) entre as moitas de
vegetação (Fonte: M.G.Santos). Da esquerda para a direita: Leandro Rocha, Arthur Corrêa e
Jonathas Lobo.
- 24 -
Equilibrando o podão para coletar a ca-
nela-seda branca (Persea venosa) (Fonte:
M.G.Santos). Ricardo Esteves.
Fazendo um “click” com o pé de camboim (Myrciaria floribunda) (Fonte: Amauri Lima Júnior).
Da esquerda para a direita: Marcelo Guerra, Luis Tietbohl, Barbara Lima, Jorge Inácio e Lean-
dro Rocha.
- 25 -
“A foto clássica”. Ao lado do carro oficial do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conserva-
ção da Biodiversidade) na margem da Lagoa de Carapebus (Fonte: L.Esposito). Da esquer-
da para a direita: Marcelo Guerra, Caio Fernandes, Adriana Oliveira, Jonathas Lobo, Rafael
Garrett, Leandro Rocha e Jorge Inácio.
“Enchendo o saco” de canela-
seda branca (Persea venosa)
(Fonte: L.Machado). Silvia de
Souza e Marcelo Guerra.
- 26 -
A satisfação de estar coletando na areia es-
caldante das moitas de vegetação (Fonte:
M.G.Santos). Da esquerda para a direita: Ka-
rolina Santos, Ricardo Albuquerque e Luis
Tietbohl.
O papo desco ntraído e as risadas entre a co leta das plantas (Fonte: M.G.Santo s). Da esquer-
da para a direita: Bettina Ruppelt, Leandro Rocha e Marçal Pires.
- 27 -
Referências
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Fitoquímica e atividade biológica
MONOGRAFIAS DAS PLANTAS DA RESTINGA:
Eremanthus crotonoides (DC.) Sch.Bip.
Ilustração: Linamar Esposito
- 33 -
- 35 -
Figura 1. Allagoptera arenaria, hábito.
Anna Carina Antunes e Defaveri
Luisa dos Reis Forain
Alice Sato
Allagoptera arenaria
(Gomes) Kuntze
Família
Arecaceae
Principais sinônimos
Allagoptera littorale (Mart.) Kuntze, Allagoptera pumila Ness, Cocos arenaria
Gomes, Diplothemium arenarium (Gomes) Vasc. & Franco, D. littorale Mart., D.
maritimum Mart.
Nomes populares
Buri-de-praia, buriri, caxandó, coco-de-praia, coquinho-guriri, coquinho-da-
restinga, guriri, gury, imbury, pissandó, purunã (Bondar, 1936; 1964; Carvalho et al.,
2018; Henderson et al., 1995; Lorenzi et al., 1996; 2010; Poland, 1945; Santos et al. 200 9).
- 36 -
Figura 2. Morfologia de Allagoptera arenaria. A) Detalhe das pinas e de sua inserção na
raque. B) Inflorescência e alguns polinizadores. C) Detalhe da inflorescência. D e E) Infru-
tescência jovem. F) Infrutescência próxima da maturidade. G) Infrutescência madura, com
os frutos de coloração ala ranjada sendo liberados no solo. H) Det alhe dos frutos imaturos.
I) Detalhe do fruto maduro aberto, permitindo visualizar o endosperma e o embrião (seta
preta). J) Detalhe do interior do endocarpo, com destaque para o local de emergência da
plântula (seta branca). K) Detalhe da amêndoa, permitindo visualizar os três poros germi-
nativos. Fotos: Alice Sato, Anna Defaveri, Jefferson Ferrão e Sandra Zorat.
Distribuição geográfica
Allagoptera arenaria é uma espécie restrita ao domínio da Mata Atlântica, en-
dêmica das restingas da costa leste do Brasil e com ocorrência registrada desde o
estado de Pernambuco até o Paraná (Poland, 1945; Henderson et al., 1995; Lorenzi
et al., 1996; Moraes, 1996; Reis, 2006; Lorenzi et al., 2010; Leitman et al., 2014).
A
D
H I
J
K
B C
EF G
- 37 -
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
A principal utilização etnobotânica da espécie A. arenaria constitui o consumo
dos frutos, os quais são comestíveis ao natural, além de serem utilizados no preparo
de cocadas e biscoitos (Carvalho et al., 2018; Lorenzi et al., 1996; Santos et al., 2009).
Segundo Fonseca-Kruel & Peixoto (200 4), os frutos também são bastante apreciados
pelos pescadores da Reserva Extrativista de Arraial do Cabo (RJ), sendo consumidos
quando maduros durante as caminhadas para pescar ou após maceração no pilão,
juntamente com farinha de mandioca. Surfistas também relataram o consumo do
fruto imaturo, cujo endosperma ainda se encontra na fase líquida, em busca justa-
mente da bebida hidratante. Kneip (2009) mencionou ainda o consumo dos frutos
por pescadores, coletores e caçadores pré-históricos do estado do Rio de Janeiro.
Composição química
Assim como muitas espécies pertencentes à Arecaceae, A. arenaria possui uma
espessa camada de ceras epicuticulares recobrindo suas folhas. A composição da
fração de hidrocarbonetos que compõem a cera de A. arenaria, e também a das
espécies A. brevicalyx, A. campestris e A. leucocalix, foi determinada por Rodrigues
& Salatino (2006). Os autores observaram a presença majoritária de n-alcanos, es-
pecialmente os homólogos de número ímpar de átomos de carbono. No caso de A.
arenaria e de A. campestris, os n-alcanos C
31
, C
30
e C
29
foram os mais abundantes,
sendo o primeiro o majoritário. Em A. brevicalyx e A. leucocalyx, C29 e C30 também
foram os n-alcanos mais abundantes, sendo C
29
, no entanto, o majoritário. Além des-
ses alcanos, também foram detectados C18-C33 e o alceno C28.
Defaveri (2015) estudou a histoquímica foliar de A. arenaria. Essa análise reve-
lou a presença abundante de polifenóis e flavonoides na epiderme, hipoderme e
no clorênquima das pinas que constituem as folhas. Substâncias lipofílicas, lipídios
ácidos e neutros foram ainda detectados na cutícula foliar.
A pesquisa de Ferrão (2007) corrobora com os resultados descritos acerca da
histoquímica. O mencionado autor quantificou sazonalmente o teor de polifenóis
de sete espécies de restinga, dentre elas A. arenaria, e observou um elevado teor
desses metabólitos. Em pesquisa realizada posteriormente, o mesmo autor avaliou a
atividade antioxidante do extrato etanólico foliar das mesmas espécies cujo teor de
polifenóis havia sido determinado (dados não publicados). Das sete espécies avalia-
das, A. arenaria apresentou o menor valor de concentração inibitória (11,1µg mL-1),
valor este próximo ao calculado para o padrão (5,6µg mL-1), o antioxidante comercial
BHT (butil-hidroxitolueno).
A mesma análise histoquímica realizada com as folhas de A. arenaria também foi
realizada com endosperma do fruto, resultando na detecção de uma grande quan-
tidade de substâncias lipofílicas (Defaveri, 2014).
Embora tenham sido encontradas pesquisas sobre a ecologia de A. arenaria, os
estudos fitoquímicos da espécie são ainda incipientes. Considerando a importância
econômica de diversas espécies pertencentes à Arecaceae, ilustrada pelos inúmeros
produtos em cuja formulação estão presentes extratos dessas espécies, e a possibili-
dade de diversificação em termos de fontes de ceras e óleos, o potencial de aplicação
- 38 -
de A. arenaria é enorme. O elevado teor de polifenóis e a elevada atividade antioxi-
dante do extrato etanólico foliar de A. arenaria suscitam ainda à realização premen-
te de uma avaliação fitoquímica mais profunda da espécie, nativa e endêmica, de
ecossistemas altamente degradados e ameaçados. Além disso, vale ressaltar que a
espécie consta na listagem de espécies da flora brasileira com deficiência de dados.
Referências
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- 39 -
Figura 1. Annona acutiflora, fruto (Fonte: B.M.Ruppelt).
Diogo Folly Gomes Andrade
Annona acutiflora
Mart.
Família
Annonaceae
Principais sinônimos
Não há.
- 40 -
Figura 2. Annona acutiflora, flor (Fonte: M.G.
Santos).
Nomes Populares
Araticum, guiné, guiné-caboclo, pau-de-guiné, raiz-de-guiné (Mendes-Silva et al.
2020; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
Annona acutiflora é uma espécie endêmica da costa litorânea brasileira, com
ocorrência confirmada nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Ela
habita o domínio fitogeográfico da Mata Atlântica, mais especificamente nos ti-
pos de vegetação de floresta ombrófila (floresta pluvial) e restinga, encontrada na
formação vegetal arbustiva aberta de Clusia e mata permanentemente inundada
(Mendes-Silva et al., 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
A população da Res tinga de Carapebus (RJ) utiliza a Annona acutiflora como plan-
ta medicinal, através do conhecimento adquirido de forma hereditária, para o trata-
mento de inflamação e/ou dor no estômago. Ela também tem aplicação ritualística
para a retirada de energia negativa das pessoas. O banho de “descarrego” é feito do
pescoço para baixo com o chá esfriado de suas folhas. A madeira também é utilizada
para a fabricação de cabos de ferramentas (Ferreira et al., 2015; Santos et al., 2009).
- 41 -
Figura 3. Estruturas químicas de sesquiterpenos presentes no óleo essencial das folhas
de Annona acutiflora.
Composição química
A obtenção do óleo essencial das folhas de Annona acutiflora por Folly et al.
(2021) através do processo de hidrodestilação em aparato de Clevenger modificado,
teve como resultado um óleo com aspecto transparente e levemente amarelado. Um
rendimento em relação peso por peso de 0,17%, permanecendo na faixa do gênero
de 0,10% a 0,15%. A análise química em cromatografia gasosa desse óleo permitiu a
identificação de 30 subst âncias, compreendendo um total de 89,2% da sua composição.
Ele apresentou uma prevalência para os sesquiterpenos (88,9%), como a classe
química predominante, e como substâncias constituintes majoritárias o α-santaleno
(15, 5%), o bici clogerm acren o (12,5%), o α-zingib er eno (8,7%), o (E)- β-far nesen o (8,2 %),
o α-trans-bergamoteno (6%) e o germacreno D (5,7%).
O gênero Annona já foi descrito contendo algumas dessas substâncias para o
óleo essencial de folhas de diferentes espécies, como no caso da Annona glabra,
Annona muricata e a Annona reticulata, que apresentaram o germacreno D; a Annona
squamosa, a Annona foetida e a Annona pickelli contendo biciclogermacreno (Garg
& Gupta, 2005; Thang et al., 2013).
Essas descrições anteriores corroboram com o óleo de A. acutiflora para o gênero
Annona, mesmo que apresente diferenças qualitativas e quantitativas entre eles. Além
disso, é a primeira vez que é descrito o α-santaleno e o α-zingibereno como consti-
tuintes majoritários no óleo essencial de folhas no gênero Annona (Folly et al., 2021).
Atividades biológicas
O óleo essencial das folhas da Annona acutiflora apresenta um potencial larvici-
da contra as larvas de Aedes aegypti no 3º instar. Esse óleo foi formulado como na-
noemulsão e obteve uma CL50 e uma CL90 em 48 horas equivalente a 21,2 e 37 ppm,
α-zingibereno
α-santaleno
α-trans-bergamoteno
Biciclogermacreno
Germacreno D
(E)-β-farneseno
- 42 -
respectivamente (Folly et al., 2021). Produtos naturais com ação lar vicida podem ser
considerados promissores quando a mortalidade em 48 horas segue o padrão de:
>75% (promissor), >50% e <75% (parcialmente promissor), >25% e <50% (fracamente
promissor) e <25% (inativo) (Montenegro et al., 2006).
Nesse contexto, os resultados demonstrados pela Annona acutiflora são anima-
dores como um produto, pois em 48 horas na concentração de 50 ppm ele atinge
100% de mortalidade.
Estudo realizado por Duarte et al. (2022) demonstrou que os ex tratos de folhas de
Annona acutiflora possuem atividade inibitória contra o fungo Thielaviopis ethacetica.
Referências
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- 43 -
Figura 1. Baccharis reticularia, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Gisele da Silva Botas Cruz
Baccharis reticularia
DC.
Família
Asteraceae
Principais sinônimos
Baccharis vauthieri DC.; Baccharis micropoda Baker; Baccharis arc tostaphyloides
Baker; Baccharis bahiensis Baker.
- 44 -
Figura 2. Baccharis reticularia, inflorescências (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Alecrim-da-areia, alecrim, alecrim-da-praia (Heiden, 2022; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
Segundo Heiden (2009), B. reticularia é uma espécie endêmica do Brasil e distri-
buída pelas Regiões Nordeste (Bahia), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato
Grosso do Sul), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul
(Paraná e Santa Catarina). Ocorre nos domínios fitogeográficos da Caatinga, Cerrado
e Mata Atlântica, nas vegetações de Campo de Altitude, Campo Rupestre, Floresta
Ombrófila Mista, Restinga e Vegetação Sobre Afloramentos Rochosos. Cresce em
locais ensolarados, solos rasos ou arenosos, formando populações densas ou espar-
sas. Floresce e frutifica ao longo do ano (Heiden, 2009; 2023; Esteves & Gonçalves-
Esteves, 2001; Santos et al., 2009).
- 45 -
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
Na Restinga de Carapebus é usada como planta aromática, para preparação de
banhos (Santos et al., 2009).
Composição química
O óleo essencial obtido de Baccharis reticularia coletada na restinga de Juru-
batiba (Botas, et al., 2017) apresentou 16 constituintes químicos (tabela 1), sendo
majoritariamente formado por mono e sesquiterpenos, principalmente d-limoneno
(25,7%) e β-cariofileno (24,6%). Como relatado em estudos sobre outras espécies de
Baccharis, foi identificado o diterpeno caureno no óleo essencial de B. reticularia, o
que, em geral, não é muito comum em óleos essenciais.
Tab ela 1. Constituintes químicos identificados no óleo essencial de B. reticularia.
IRcalc bIRtab cSubstâncias identificadas %
1937 939 α-Pineno 7,3
2976 975 Sabineno 0,9
3 981 979 β-Pineno 8,4
4991 990 β-Mirceno 8,5
51026 1026 p-Cimeno 0,5
61034 1029 d-Limoneno 25,7
71177 1177 Terpinen-4-ol 0,5
81389 1390 β –Elemeno 1,2
91418 1419 β –Cariofileno 24,6
10 1481 1480 D-Germacreno 1,7
11 1494 1500 Biciclogermacreno 11,3
12 1518 1513 γ-Cadineno 1,1
13 1580 1576 Espatulenol 3,2
14 1588 1590 Globulol 0,8
15 1596 1592 Viridiflorol 0,8
16 2047 2043 Caureno 0,7
Total de monoterpenos 51,8
Total de sesquiterpenos 44,7
Total de diterpenos 0,7
Total de substâncias identificadas 97, 2
- 46 -
Figura 3. Estruturas químicas dos terpenoides encontrados em B. reticularia.
Outros terpenoides foram isolados e identificados em extratos lipofílicos de B.
reticularia coletada na Restinga de Jurubatiba (RJ) por Botas (2010): três triterpenoides
(ácido oleanólico, fridelina, fridelanol), um diterpenoide (caurenol), cujas estruturas
químicas estão representadas na figura 3.
Botas (2010) isolou sete flavonoides (Figura 4), sendo quatro flavonas (apigenina,
nepetina, hispidulina e diosmetina), duas flavanonas (eriodictiol e naringenina) e um
flavonol (patuletina), corroborando com os dados quimiotaxonômicos descritos para
o gênero (Figura 4). Os flavonoides das espécies de Baccharis normalmente se apre-
sentam como agliconas livres e muito raramente na forma glicosilada, o que é uma
característica da família Asteraceae (Verdi et al., 2005). Uma estimativa de 2016 in-
dicou que de uma amostra de 57 flavonoides identificados em Baccharis nos últimos
anos, 91% estava na forma livre (Campos et al., 2016).
Ácido oleanólico Caurenol
Friedelina Epifriedelanol
- 47 -
Figura 4. Estruturas químicas dos flavonoides encontrados em B. reticularia.
Segundo Verdi et al. (2005), até 2004, haviam sido identificados 298 flavonoides
do gênero Baccharis, compondo 109 substâncias diferentes, sendo 24 formados por
unidade flavanônica e 85 por flavônica, das quais 48% apresentam-se oxigenadas
em C-3. O padrão de oxigenação mais frequente ocorre em C-5 e C-7 do anel A e C-4’
do anel B. O grupo metoxila aparece com maior frequência em C-7 e C-6 do anel A e
C-4’do anel B (Verdi et al., 2005).
Naringenina
Hispidulina Diosmetina
Apigenina
Patuletina
Eriodictiol
Nepetina
- 48 -
Atividades biológicas
A atividade repelente de nanoemulsões contendo o óleo ess encial de B. reticularia
e alguns de seus constituintes monoterpênicos (limoneno, α-pineno e β-pineno)
contra Tribolium castaneum (Herbst) foi recentemente estudada (Lima et al.,
2021). Todas as nanoemulsões apresentaram tamanhos médios de gotas abaixo
de 200 nm e permaneceram estáveis, no mínimo, por 28 dias (limoneno), 90 dias
-pin en o) ou 15 0 dias (ól eo esse ncial e α-p in eno). Todas as na noemu ls ões exibiram
atividade repelente contra T. castaneum a 8,8 μg /cm2. Limon eno e α-p in eno foram
as nanoemulsões mais ativas, apresentando ação repelente significativa em 1,1 μg/
cm
2
, o que indica que esses compostos contribuem para a ação repelente do óleo
essencial de B. reticularia.
Em outro estudo (Botas et al., 2017), o óleo essencial de B. reticularia mostrou-se
capaz de inibir a enzima acetilcolinesterase, um dos principais alvos dos inseticidas.
Nanoemulsões contendo o óleo essencial e o seu principal constituinte químico,
d-limoneno, tiveram sua ação larvicida avaliada contra o Aedes aegypti. Após 48 horas
de tratamento, os valores es timados de LC
50
foram 118,94 μg mL
−1
e 81,19 μg mL
−1
para
óleo essencial de B. reticularia e nanoemulsões de d-limoneno, respectivamente,
indicando um potencial uso como matéria-prima para novos agentes inseticidas
para esses nanoprodutos.
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- 50 -
Figura 1. Clusia fluminensis, ramo com flores (Fonte: M.G. de Moraes).
Maria Carolina Anholeti
Selma Ribeiro de Paiva
Clusia fluminensis
Planch. & Triana
Família
Clusiaceae
Principais sinônimos
Não há.
- 51 -
Figura 2. Clusia fluminensis, flor estaminada (Fonte: M.G. de Moraes).
Nomes populares
Abaneiro, manga-da-praia (Carvalho et al., 2018; Lorenzi, 2009; Zamith & S carano,
2004).
Distribuição geográfica
Clusia fluminensis é uma espécie nativa e endêmica do litoral brasileiro, encon-
trada em regiões de elevada intensidade luminosa e restrição hídrica. Ocorre nos
estados da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, no domínio da Mata Atlântica, em
vegetação de Floresta Ombrófila, Vegetação Sobre Afloramentos Rochosos e Res-
tinga (Lorenzi, 2009; Bittrich, 2009; Nascimento & Alencar, 2023).
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
C. fluminensis é uma planta muito utilizada para fins ornamentais, sem mais
informações etnobotânicas descritas na literatura. Apenas o levantamento etno
-
botânico publicado por Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) cita as folhas da espécie C.
fluminensis como sendo utilizadas para fins medicinais pelos pescadores da reser-
va extrativista Marinha de Arraial do Cabo, no entanto, a especificidade de seu uso
não foi indicada no trabalho. Carvalho et al. (2018) indicam que a sua madeira era
utilizada como lenha e carvão.
- 52 -
Figura 3. Clusia fluminensis, frutos (Fon-
te: M.C. Anholeti).
Composição química
Em termos de investigação química e biológica a espécie Clusia fluminensis foi
pouco estudada até o momento. Nagem et al. (1993) isolaram a partir das folhas de
C. fluminensis o hidrocarboneto tricosano, e os terpenoides lupenona, friedelina, α
e β-friedelinol e amirina, além do sitosterol e do álcool n-octacosanol.
Porto et al. (2000) identificaram e quantificaram, através de cromatografia líquida
de alta eficiência, as benzofenonas weddellianona A, lanceolatona, clusianona e
spiritona nas resinas das flores estaminadas de C. fluminensis. No entanto, na ocasião,
as substâncias em questão não chegaram a ser isoladas a partir dessa espécie. Neste
trabalho, a substância clusianona foi descrita como sendo o componente majoritário
das resinas florais de C. fluminensis, representando 37% da composição da resina.
Clusianona é uma benzofenona poli-isoprenilada, com esqueleto do tipo bici-
clo[3.3.1]-nonano-2,4,9-triona. Essa substância foi isolada a partir de outras espécies
do gênero Clusia, como C. congestiflora Cuatrec. (McCandlish e t al., 1976), C. sandiensis
Engl. (Delle Monache et al., 1991), C. spiritu-sanctensis G. Mariz & B. Weinberg (Oli-
veira et al., 1996). Em 2012, essa substância foi isolada pela primeira vez a partir das
resinas florais de C. fluminensis, utilizando a técnica de cromatografia contracorrente
com bom rendimento e elevado grau de pureza (Silva et al., 2012).
Nogueira et al. (2001) investigaram a composição química dos óleos essenciais
das pétalas de 16 espécies de Clusia, incluindo C. fluminensis, cujo óleo essencial
mostrou-se composto principalmente por sesquiterpenos, destacando-se aristoleno,
β-gurjuneno, γ-muuroleno, ledeno, β-selineno, δ-cadineno, α-cedrol, epi-α-muurolol
e α-cadinol como substâncias mais abundantes.
O triterpeno lanosterol foi isolado por cromatografia em coluna a partir do extrato
hexânico dos frutos de C. fluminensis (Oliveira et al., 2014), sendo o componente majo-
ritário do referido extrato. Esta substância também foi identificada no extrato hexânico
das flores esta minadas de C. fluminensis (Anholeti et al., 2015; Duprat et al., 2017). Outros
metabólitos identificados nos frutos incluem ácidos fenólicos, carotenoides, ácidos gra-
xos, terpenoides, benzenoides e ácido ascórbico (Camara et al., 2018; Faria et al., 2023).
A análise das ceras epicuticulares das folhas de C. fluminensis por cromatografia
com fase gasosa associada à espectrometria de massas revelou a presença de deri-
vados fenólicos, esteroides (sitosterol e estigmasterol), triterpenos (α- e β-amirina,
lupenona, friedelina e epifriedelinol) (Anholeti et al., 2017).
- 53 -
Figura 4. Estruturas de substâncias isoladas a partir de C. fluminensis.
sitosterol
clusianona
friedelina
lanosterol
amirina
α-amirina: R
1
= CH
3
; R
2
= H
β-amirina: R
1
= H ; R
2
= CH
3
friedelinol
α-f riede lino l: R = αOH
β-fr iede lino l: R = βOH
lupenona
- 54 -
Ações farmacológicas/Atividade biológica
A benzofenona clusianona isolada de Clusia fluminensis (Silva et al., 2012) já havia
sido também isolada a partir dos frutos de C. torresii Standl., e demonstrou atividade
inibidora da infecç ão pelo vírus HIV-1 ao ser capaz de impedir a interação gp120-sCD4
em baixa concentração (Piccinelli et al., 2005). Outras atividades biológicas foram
descritas para outras benzofenonas poli-isopreniladas isoladas de várias espécies,
dentre as quais destacam-se: atividade antimicrobiana (Almeida et al., 2008), anti-HIV
(Gustafson et al., 1992), citotóxica (Matsumoto et al., 2003), leishmanicida (Pereira
et al., 2010), tripanocida (Alves et al., 1999) e anticolinesterásica (Lenta et al., 2007).
A atividade inseticida de extratos obtidos a partir de diferentes órgãos de Clusia
fluminensis e diferentes solventes, bem como de substâncias isoladas foi avaliada.
O extrato hexânico de flores e a benzofenona clusianona mostraram efeitos sobre a
sobrevivência e/ou o desenvolvimento de larvas de Ae. aegypti. O extrato das flores
resultou em atrasos significativos no desenvolvimento de larvas a pupas e de pupas
a adultos, entretanto, não afetou as taxas de sobrevivência dos insetos. Clusianona,
por sua vez, resultou em atraso do desenvolvimento e afetou as taxas de sobrevi-
vência das larvas do mosquito (Anholeti et al. 2015).
Extratos e subs tâncias isoladas a partir de C. fluminensis também foram avaliados
quanto à atividade inseticida sobre ninfas dos hemípteros Dysdercus peruvianus e
Oncopeltus fasciatus. O extrato hexânico das flores provocou redução nas taxas de
sobrevivência para ambos. Resultados semelhantes foram observados para o extrato
hexânico dos frutos na sobrevivência de O. fasciatus, porém em menor proporção
para D. peruvianus. O triterpeno lanosterol resultou em queda semelhantes nas ta-
xas de sobrevivência para ambos os hemípteros, enquanto clusianona demonstrou
efeito mais pronunciado na sobrevivência de D. peruvianus (Duprat et al., 2017).
O extrato hexânico das flores de C. fluminensis apresentou atividade antimicro-
biana sobre Staphylococcus aureus ATCC 25923 em ensaio de bioautografia. Essa
amostra também demonstrou atividade antimicrobiana sobre S. aureus em ensaio
de macrodiluição e mostrou ser mais ativa que seu componente majoritário isolado,
a benzofenona clusianona, cuja concentração inibitória mínima foi superior à do ex-
trato bruto, indicando que a atividade antimicrobiana do extrato pode ser resultado
de uma possível atividade sinérgica de seus componentes (Silva, 2011).
Os extratos de C. fluminensis tamb ém foram avaliados quanto à sua capacidade de
inibir os efeitos provocados pelo veneno da serpente Bothrops jararaca. Os extratos
de folhas (hexânico e metanólico), caules (hexânico, metanólico, acetônico), frutos
(hexânico, metanólico, acetônico) e flores (hexânico e diclorometânico) foram capazes
de inibir a proteólise provocada pelo veneno. Esses extratos também demonstraram
atividade anti-hemolítica. Os extratos acetônico e metanólico de caules, e hexânico
de flores foram capazes ainda de inibir a coagulação provocada pelo veneno. Os ex-
tratos hexânico e acetônico dos frutos tiveram ação anti-hemorrágica. Dentre todos
os extratos avaliados, apenas os extratos acetônico e metanólico dos caules foram
capazes de prevenir a letalidade do veneno in vivo. A benzofenona clusianona, isolada
a partir das flores de C. fluminensis, demonstrou atividade proteolítica, enquanto o
triterpeno lanosterol, isolado a partir dos frutos da espécie, demonstrou atividade
- 55 -
anti-hemolítica (da Silva et al., 2019; Oliveira et al., 2014). Extratos aquosos de folhas,
caules e frutos de Clusia fluminensis foram capazes de neutralizar efeitos tóxicos in-
duzidos pelos venenos de B. jararaca e B. jararacuçu, além disso, um gel elaborado
a partir do extrato aquoso dos frutos da espécie inibiu a hemorragia induzida pelo
veneno (da Silva et al., 2019).
As plantas de res tinga, de um modo geral, estão sujeitas à alta incidência luminosa.
Apesar de essencial para o process o fotossintético, a radiação ultravioleta pode c ausar
danos às estruturas celulares, prejudicando processos metabólicos importantes
para os vegetais. Nesse cenário, alguns produtos do metabolismo especial, como os
flavonoides, desempenham um papel fundamental na proteção dos tecidos vegetais
através de suas propriedades antioxidantes, principalmente como neutralizadores de
radicais livres (Larson, 1988). Um estudo realizado por Silva & Paiva (2012) avaliou a
atividade antioxidante de diferentes extratos de C. fluminensis através de método
espectrofotométrico baseado no sequestro do radical livre DPPH (2,2-difenil-1-
picrilhidrazila), usando a substância comercial BHT (butil-hidroxitolueno) como
controle positivo. Além disso, no mesmo estudo foram determinados os teores de
flavonas e flavonóis presentes nos extratos. Os resultados obtidos demonstraram qu e
o extrato com melhor atividade antioxidante foi o extrato acetônico dos frutos, que
apresentou também o maior percentual de flavonoides dos tipos flavona e flavonol
(Silva & Paiva, 2012).
Extratos e substâncias isoladas de C. fluminensis tiveram suas propriedades an-
tivirais avaliadas in vitro contra a replicação do vírus HSV-1 (herpes simples tipo 1) e
contra a atividade da enzima HIV-1-RT. Os extratos metanólicos das folhas e dos frutos
e os extratos hexânicos dos frutos e das flores de C. fluminensis demonstraram efei-
to inibitório sobre a replicação do vírus HSV-1, com atividades próximas ao controle
aciclovir. Com exceção do extrato hexânico das flores, os demais extratos mencio-
nados apresentaram ainda menor citotoxidez quando comparados à substância de
referência. As substâncias isoladas lanosterol e clusianona também demonstraram
atividade antiviral comparável ao aciclovir, porém foram mais citotóxicas que este.
A inibição da atividade da enzima HIV-1-RT foi identificada para os extratos metanó-
licos de folhas e de caules e para as substâncias lanosterol e clusianona, entretanto,
foram menos ativos que a substância de referência, efavirenz (Meneses et al., 2015;
Faria et al., 2023).
Toxicologia
Diferentes extratos de C. fluminensis e as substâncias isoladas clusianona e
lanosterol foram avaliados quanto à citotoxidez in vitro utilizando 3-(4,5-dimetiltiazol-
2-il)2,5-difenil brometo de tetrazolium (MTT). De um modo geral, as amostras
apresentaram baixos níveis de citotoxidez (Meneses et al., 2015).
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- 58 -
Figura 1. Clusia hilariana, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Alphonse Kelecom
Clusia hilariana
Schltdl.
Família
Clusiaceae
Principais sinônimos
Clusia hilariana Schltdl. subsp. hilariana.
- 59 -
Figura 2. Clusia hilariana, fruto em deiscência (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Abaneiro, abaneiro-da-praia, gameleira (Carvalho et al., 2018; da Silveira et al.,
2008; Rocha et al., 2008; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
Clusia hilariana é uma espécie endêmica do Brasil, encontrada em regiões de
forte luminosidade, solo arenoso pobre e com restrição hídrica. Ocorre na Região
Nordeste (Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe) e
Região Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro), no domínio da Mata Atlântica, nas
vegetações de Flores ta Ombrófila, Restinga e Vegetação Sobre Afloramentos Rocho-
sos (Lüttge, 2007; Nascimento & Alencar, 2023).
- 60 -
Figura 3. Clusia hilariana,
flor estaminada (Fonte:
M.G.Santos).
Figura 4. Clusia hilariana, flor pistilada (Fonte: M.G.Santos).
- 61 -
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
Embora o uso de C. hilariana como planta ornamental seja frequentemente ci-
tado, só há uma referência específica a usos como fonte de madeira, de alimento ou
ainda como planta medicinal (Lorenzi, 2009), mas nenhuma informação adicional é
dada. Na Restinga de Carapebus há o registro do uso de sua madeira na construção
e como lenha (Santos et al., 2009).
Comparativamente, muitos usos etnobotânicos e etnofarmacológicos são relata-
dos para diversas espécies do gênero Clusia. O caule é usado para lenha e fabricação
de móveis (Usher, 1984); a resina da casca e a seiva servem na captura de pássaros
(Usher, 1984); a goma do caule é usada na produção de incenso (Usher, 1984) e a
casca do caule é amplamente empregada nos curtumes em razão do seu alto teor
em taninos (até 16%) (Mendes, 1995).
Os usos medicinais do gênero Clusia são múltiplos: a resina é germicida (Vilalobos-
Salazar & Hasbun, 1986), purgante (Vilalobos-Salazar & Hasbun, 1986), cicatrizante
de feridas (Usher, 1984) e do umbigo de recém-nascido (Salama, 1986a); a resina
ainda é usada no tratamento de fraturas (Vilalobos-Salazar & Hasbun, 1986), contra
a dor de cabeça e a lepra (Salama, 1986b). O fruto é tido como emético e diurético,
e seu látex serve para aliviar infecções da pele (Mendes, 1995). Já a goma do caule
tem uso em medicina veterinária e serve para fazer bandagens elásticas para atar
hérnias em crianças (Usher, 1984).
Composição química
Existem poucos estudos fitoquímicos de C. hilariana. Em geral, as pesquisas ti-
veram uma abordagem comparativa com outras espécies do gênero. Assim, Câmara
& Marsaioli (2001) mostraram que a composição química dos látex de 12 espécies
de Clusia, entre elas C. hilariana, foi semelhante para todas as espécies: 30% dos
sólidos em suspensão no látex são polissacarídeos constituídos por arabinose (de
29,8 a 59,2%), galactose (de 26,3 a 44,2%), manose (de 7,4 a 12,7%), ramnose (de 4,8
a 9,8%) e ácido glicurônico (de 2,1 a 4,2%). Análise por RMN de 13C revelou que a ca-
deia principal é constituída de β-galactose (1-3), com ramificações de β-galactose
(1-6). Sesquiterpenos, triterpenos e derivados fenólicos foram os principais consti-
tuintes da fração solúvel em metanol. Análises por cromatografia gasosa acoplada
à espectrometria de massa (CG/EM) e RMN de 13C foram usadas para identificar os
componentes das misturas de triterpenos (eufano [1], lanostano [2] e β-amirina [3])
presentes no látex. Alguns metabólitos foram isolados e caracterizados como ácido
olean-12-eno-3-oxo-28-óico e três derivados do tocoferol (Camara, 2001).
- 62 -
Figura 5. Estruturas químicas de triterpenos encontrados em Clusia hilariana.
O óleo de estame de flores macho de C. hilariana fornece uma série de ácidos
identificados, por CG/EM dos seus derivados metilados, aos ácidos benzoico, mi-
rístico, palmítico, 16-metil-heptadecanoico, eicosanoico, oleico e esteárico, sendo
esses dois últimos os principais componentes (Porto et al., 2000). A análise por CG/
EM da composição da resina floral mostrou também a presença de ácidos graxos
(Oliveira et al., 1999).
Os óleos essenciais de pétalas de 16 espécies de Clusia foram obtidos por micro
hidrodestilação e sua composição analisada por CG/EM (Nogueira et al., 2001). Fo-
ram encontrados em C. hilariana hidrocarbonetos e sesquiterpenos representando
respectivamente 5,6% e 76,7% da fração de voláteis. Onze hidrocarbonetos de cadeia
longa saturada, de 14 a 24 carbonos, eventualmente monoinsaturada, foram identi-
ficados, sendo o mais abundante o 1-eicoseno (1% dos voláteis). Trinta e sete sesqui-
terpenos oxigenados (33,3% da fração de voláteis) ou não oxigenados (43,4%) foram
identificados. Os mais abundantes são o allo-aromadendreno (13,9% da fração), e os
β-cadineno (9%), cubenol (8,4%), 1-epi-cubenol (6,8%), β-cariofileno (3,9%) e trans-
β-farneseno (3,6%). Na ausência de isolamento, apenas as configurações relativas
desses sesquiterpenos foram relatadas. Análise de similaridade da composição dos
hidrocarbonetos das 16 espécies de Clusia aproximou C. hilariana de C. lanceolata;
já a composição dos sesquiterpenos indicou semelhança de C. hilariana com as es-
pécies C. fluminensis e C. pernambucensis (Nogueira et al., 2001).
4 ácido oleanólico
1 eufano 2 lanostano
3 -amirina
- 63 -
Figura 6. Estruturas de benzofenonas polipreniladas de Clusia hilariana.
Kelecom et al. (2002a) estudaram os extratos hexânicos dos frutos e da re-
sina das flores macho e fêmea de C. hilariana. Não houve diferença de compo-
sição entre os extratos de flores macho e fêmea. Os três extratos forneceram o
triterpeno ácido oleanólico [4] presente em muito maior quantidade nos frutos
do que nas flores.
Incontestavelmente, os metabólitos característicos da família Clusiaceae são as
benzofenonas poliisopreniladas. Porto et al. (2000) descreveram a presença na resina
de flores macho de C. hilariana de três benzofenonas: a inédita hilariona [5] (sem a
determinação da configuração em C-3), e as nemorosona [6] e nemorosona II [7], do
tipo biciclo[3.3.1]nona-2,4,6-triona, já descritas para a resina floral de C. grandiflora
e C. rosea (Oliveira et al., 1996; 1999). Traços de benzofenonas poliisopreniladas não
identificadas foram detectados no látex de C. hilariana (Camara, 2001). É a segunda
ocorrência de benzofenonas no látex de uma Clusia (Lokvam et al., 2000). Embora
Oliveira et al. (1999) afirmem que as benzofenonas presentes nas resinas das flores
são certamente menos oxidadas que aquelas isoladas dos frutos e folhas, Kelecom
et al. (2002a) isolaram a mistura tautomérica de nemorosonas [6a,b] dos extratos
hexânicos de frutos e das resinas das flores macho e fêmea. Esses mesmos extratos
ainda forneceram uma série de benzofenonas minoritárias, entre elas as hilarionas
A [8] e B [9] (Maciel & Kelecom, 1997; Kelecom et al., 1998).
5 hilariona
tautômeros da nemorosona
8 hilariona A
6a R = H
7 nemoroso na II
6b R = H
9 hilariona B
- 64 -
Ações farmacológicas
As atividades farmacológicas de extratos brutos e de benzofenonas de Clusiaceae
foram intensamente estudadas. O gênero Clusia apresenta ações antimicrobiana
(Delle Monache et al., 1987), antisséptica, antimicótica, bacteriostática, adstringente,
espasmolítica e anestésica (Tomás-Baberán et al., 1993), além de apresentar ações
citotóxica (Delle Monache et al., 1987) e anti-HIV (Gustavson et al., 1992) e de inibir
a MAO (Suzuki et al., 1980). Apresentam atividade hipotensora em cães (Barrios et
al., 1991; Vilalobos-Salazar & Hasbun, 1986) e são usados para tratar úlceras no ga-
do (Mendes, 1995). Benzofenonas possuem ainda efeitos anti-inflamatório, antioxi-
dante e antitumoral (Acuña et al.; 2009, Ferraz, 2011). São ativas contra Plasmodium
falciparum, agente causador da malária (Marti et al., 2010), e apresentam ativida-
de inibitória contra o mosquito da dengue, Aedes aegypti (Dhanya & Benny, 2014).
Testes bioautográficos com o látex de 12 espécies de Clusia, entre elas C.
hilariana, revelaram, principalmente nas frações polares, atividades bactericidas em
Escherichia coli, Bacillus subtilis, Rhodococcus equi, Staphylococcus aureus, Micrococus
luteus, Salmonella typhymurium, e fungicida em Aspergillus fumigatus; Aspergillus
niger; Fusarium oxysporum, Rhizopus oryzae, Alternaria alternata, Cladosporium
cladosporioides e Candida albicans (Camara, 2001).
A nemorosona [6], principal benzofenona de C. hilariana apresenta atividades
antibacteriana moderada contra S. aureus (CI50 ± DP 16,1 ± 0,1 µM), mas não em E.
coli (> 64,0), T. rubrum (> 64,0) e nem contra o fungo C. albicans (> 64,0) (Monzote et
al., 2011). Sua ação anti-protozoária foi descrita, sendo particularmente ativa con-
tra o plasmódio da malária P. falciparum (CI50 ± DP 0,4 ± 0,2 µM), e menos contra os
tripanosomas da doença de Chagas Trypanosoma cruzi (12,5 ± 1,7), Trypanosoma
brucei (17,5 ± 1,9), ou da leishmaniose Leishmania infantum (32,9 ± 5,4) e Leishmania
amazonensis (11,2 ± 0,6), sendo a nemorosona [6] ligeiramente menos ativa contra
Chagas e leishmaniose do que a guttiferona A , cuja atividade é da ordem de 1 a 5 µM
(Fromentin et al., 2013). Nemorosona [6] possui ainda ação anti-inflamatória (Farias
et al., 2012; Melo et al., 2014) e citotóxica contra os carcinomas do epitélio (HeLa) e
da epiderme (Hep-2), contra o câncer da próstata (PC-3) e o câncer do sistema ner-
voso central (U251). Exibe ainda ação antioxidante. Seu derivado metilado é menos
ativo que o composto natural (Cuesta-Rubioa et al., 2002). Tais atividades são bas-
tante atraentes, mas Terrazas et al. (2013) apontam para o caráter genotóxico da
gutiferona A. O potencial farmacológico das benzofenonas foi recentemente objeto
de revisões (CuestaRubio et al., 2005; Acuña, 2011).
A mistura de tautômeros de nemorosona [6a,b] apresentou na concentração
de 100 μg/ml ligeira inibição (30%) da transcriptase reversa do vírus HIV-1 (Pereira
et al., 1998a; 1998b). Finalmente, testes de toxicidade e anti-ecdise de nemorosona
nas concentrações de 1 e 10 µg/mL no inseto hematófago Rhodnius prolixus, vetor
da doença de Chagas, mostraram que [6a,b] é praticamente não tóxica e apresenta
uma atividade antiecdise dose-dependente (Kelecom et al., 2000; 2002b).
Ácido oleanólico isolado dos frutos de C hilariana quando testado nas mesmas
condições que nemorosona, apresenta em R. prolixus toxicidade dose-dependente
nas concentrações de 1, 10 e 100 μg/ml e drástica inibição da muda, nas mesmas
- 65 -
concentrações. A mortalidade atinge 90% após 4 semanas, na dose mais alta. Já nas
concentrações de 1 e 10 μg/ml, a toxicidade cai para aproximadamente 40%. A ati-
vidade antiecdise é de 100% nas doses de 10 e 100 μg/mL e continua muito alta na
menor concentração (Kelecom et al., 2002b).
Atividades biológicas sensu ecológicas
Do mesmo modo que as demais Clusiaceae, Clusia hilariana possui látex em qua-
se todos seus tecidos, em quantidade e de cor variáveis. A análise da composição
química não permite emitir nenhuma conclusão quanto ao seu papel ecológico, mas
aceita-se atualmente que o látex exerce um papel na defesa da planta contra herbí-
voros e micro-organismos (Farrell et al., 1991).
As resinas florais desempenham o papel de recompensa floral para os insetos
polinizadores. Flores de C. hilariana são visitadas para coleta de pólen e resina por
abelhas das famílias Apidae, Halictidae e Megachilidae que utilizam a resina na cons-
trução e proteção dos seus ninhos, sendo as abelhas as principais polinizadoras de C.
hilariana (Cesário, 2007). As abelhas são o único grupo de visitantes a realizar a coleta
de resina (Cesário, 2007). Não surpreendentemente, a presença de benzofenonas foi
relatada na própolis de abelhas na Venezuela (Tomás-Baberán et al., 1993), podendo
ser em parte responsáveis pelas propriedades biológicas da própolis.
A química das interações ecológicas de Clusia e seus polinizadores foi abordada
por Marsaioli et al. (1998). Observou-se que o material do ninho de abelhas sociais
do gênero Trigo na é composto, entre outros, de benzofenonas. Entretanto, a cole-
ta constante de resina pelas abelhas, mesmo após a construção do ninho, poderia
indicar que as mesmas desempenhariam um outro papel relevante na vida destas
abelhas. Como essas substâncias são capazes de inibir o desenvolvimento de alguns
micro-organismos, como o fungo Candida albicans e as bactérias Bacillus subtilis e
Staphylococcus aureus, conclui-se que as resinas florais são utilizadas tanto como
material de construção dos ninhos, servindo como polímero protetor contra a umi-
dade, como também na proteção das larvas contra o ataque de micro-organismos
(Porto, 1997; Marsaioli et al., 1998). Essas evidências parecem indicar que esse possa
ser um dos papéis ecológicos da nemorosana coletada nas flores de Clusia hilariana
por abelhas polinizadoras.
Toxicologia
Não há nenhuma informação sobre a espécie C. hilariana ou sobre seus meta-
bólitos, mas a genotoxicidade da benzofenona guttiferona A, isolada de Clusiaceae
do gênero Garcinia (Gustavson et al., 1992), indica a necessidade de tomar cuidados
no uso de benzofenonas em humanos (Terrazas et al., 2013).
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Figura 1. Eremanthus crotonoides, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Elizabeth Valverde Macedo
Jonathas Felipe Revoredo Lobo
Eremanthus crotonoides
(D C .) S c h .Bip.
Família
Asteraceae
Principais sinônimos
Albertinia bardanoides Mart. ex DC.; Albertinia crotonoides DC.; Albertinia
verbascifolia Mart. ex DC. ; Cacalia crotonoides (DC.) Kuntze.; Eremanthus verbascifolius
(Mart. ex DC.) Sch.Bip. ; Vernonia crotonoides (DC.) Sch.Bip.; Vernonia iodopappa Sch.Bip.
- 70 -
Figura 2. Eremanthus crotonoides, inflorescências (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Papel-sanitário-das-índias (Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
A espécie é endêmica do Brasil, com distribuição nos estados da Bahia, Espírito
Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ocorre nos domínios fitogeográficos do Cerrado
e Mata Atlântica, nas vegetações de Campo Rupestre, Cerrado (lato sensu), Floresta
Ciliar ou Galeria, Floresta Estacional Semidecidual, Restinga e Vegetação Sobre Aflo-
ramentos Rochosos (Alves et al., 2007; Loeuille et al., 2012; 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Na Restinga de Carapebus, as folhas de Eremanthus crotonoides são usadas co-
mo papel sanitário e absorvente (Santos et al., 2009). Outras espécies do gênero
Eremanthus são bem exploradas, sendo seus caules utilizados como mourões nas
construções de cercas (Macleish, 1987). As partes aéreas dessas plantas também
são utilizadas para obtenção de óleo essencial, em razão da presença de lactonas
sesquiterpênicas que possuem atividades antitumorais, antimicrobianas, anti-infla-
matórias e antifúngicas (Velten et al., 2007).
- 71 -
Composição química
Do ponto de vista químico, espécies da família Asteraceae biossintetizam polia-
cetilenos, flavonoides e terpenoides. No entanto, as lactonas sesquiterpênicas são
os metabólitos secundários mais estudados na família, sendo estes terpenoides seus
marcadores quimiotaxonômicos (Costa et al., 2005).
Investigações fitoquímicas realizadas nes ta subtribo têm indicado a predominân-
cia de flavonoides e lactonas sesquiterpênicas da classe furanoeliangolidos, dentre
as demais eremantolidos, guaianolidos, germacranolidos e eudesmanolidos (Keles
et al., 2010).
Os dois tipos de furanoeliangolidos mais comuns nas espécies do gênero
Eremanthus são goyazensolido e eremantolido (Keles et al., 2010).
A primeira investigação fitoquímica do E. crotonoides foi realizada a partir da
planta coletada no cerrado. Nela, foram descritas as lactonas sesquiterpênicas
15deoxigoyazensolido (estrutura I), a 2’3’-dihidro-15deoxigoyazensolido (estrutura II), a
8α-tiglinoiloxigoyazensolido (estrutura III), a lychnofolido (estrutura IV), a 5β-hidroxi4,5-
dihidro-15-deoxigoyazensolido (estrutura V), a 5β-hidroxi-4,5,2’,3’-tetrahidro-15-
deoxigoyazensolido (estrutura VI), a eremantolido C (estrutura VII), a eremantolido
A (estrutura VIII) e a 16α-(1-metilprop-1Z-enil) eremantolido (estrutura IX), vistas na
figura 3 (Bohlmann et al., 1982).
No entanto, em espécies coletadas em áreas de restingas, o fator ambiental p ode
ter influenciado no conteúdo de metabólitos secundários (Gobbo-Neto et al., 2007),
visto que foram identificadas as lactonas sesquiterpênicas centraterina e goyazen-
solido, ausentes nas plantas coletadas no cerrado (Lobo et al., 2012). A centraterina
(estrutura X) é a lactona sesquiterpênica majoritária no extrato diclorometano, e o
goyazensolido (estrutura XI) apareceu somente em pequenas quantidades, vistas
na figura 3.
- 72 -
Figura 3. Lactonas sesquiterpênicas isoladas de Eremanthus crotonoides.
Estrutura I Estrutura II Estrutura III
Estrutura IV Estrutura V Estrutura VI
Estrutura VII Estrutura VIII Estrutura IX
Estrutura X Estrutura XI
- 73 -
Ações farmacológicas
Muitas atividades biológicas têm sido associadas às lactonas sesquiterpênicas,
apresentando frequentemente atividades anti-inflamatórias, antimicrobianas, cito-
tóxicas e antitumoral (Zhang et al., 2005).
Lobo et al. (2012) testaram o extrato bruto etanólico obtido a partir das folhas
de E. crototonoides e o extrato em diclorometano obtido por partição deste, frente
a duas linhagens de células de glioblastoma multiforme para avaliação da atividade
citotóxica. A fração em diclorometano, que continha majoritariamente a centrateri-
na, foi a mais ativa frente a ambas as linhagens de glioma. A atividade da centrate-
rina isolada foi avaliada frente às linhagens U87-MG e U251, apresentando valores
de IC50 de 3,57 e 8,06, respectivamente, valores estes comparáveis com aqueles
obtidos para o fármaco anticâncer doxorubicina. Como conclusão, foi descoberto o
potencial antitumoral da espécie Eremanthus crotonoides, sendo a centraterina uma
das substâncias responsáveis por essa atividade.
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Rodrigo Alves Soares Cruz
Erythroxylum ovalifolium
Pe y r.
Família
Erythroxylaceae
Principais sinônimos
Não há.
- 76 -
Figura 2. Erythroxylum ovalifolium, detalhe dos frutos (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Cafezinho, cocão-de-folha-redonda, fruto-de-sabiá, fruta-de-pombo, quixaba
(Cavalho et al., 2018; Machado & Senna-Valle, 2010; Oliveira Filho et al., 2008; San-
tos et al., 2009).
Distribuição geográfica
E. ovalifolium é endêmico do Brasil, ocorrendo nos estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro, no domínio da Mata Atlântica, na Floresta Pluvial e Restinga (Amaral
& Mendonça, 2001; Erythroxylaceae, 2023).
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
A população da Restinga de Carapebus usa as cascas da quixaba (E. ovalifolium)
para preparar um chá útil para tratar “dor na coluna” (Santos et al., 2009).
- 77 -
Figura 3. Estruturas de flavonoides isola-
dos de Erythroxylum ovalifolium.
Composição química
As plantas do gênero Erythroxylum contêm alcaloides, flavonoides, terpenoides
e outros metabólitos com diversas atividades biológicas e farmacológicas. Os flavo-
noides quercetina e kaempferol são considerados marcadores quimiotaxonômicos
do gênero Erythroxylum, assim como seus derivados 3-O-glicosídeos.
Substâncias de diversos tipos já foram identificadas em extratos de E. ovalifolium.
A análise fitoquímica das frações de média e alta polaridades dos extratos etanóli-
cos das folhas e caules de E. ovalifolium demonstrou a presença de flavonoides na
forma livre (quercetina) e glicosilada (rutina) (Figura 3) (Oliveira et al., 2016). Além
disso, esses flavonoides são do tipo flavonol com padrão de glicosilação na posição
3 do anel C. Tais características estão de acordo com a quimiotaxonomia do gênero
Erythroxylum. O estudo da composição flavonoídica é de grande importância para
a correta classificação das espécies do gênero, pois é essa classe de metabólitos,
e não mais os alcaloides, que é considerada atualmente a sua marcadora química.
Dentre os metabólitos secundários vegetais, os terpenoides, substâncias cuja
origem biossintética deriva de unidades do isopreno, constituem o maior grupo.
Esteroides possuem a mesma origem biossintética que os terpenoides e possuem
também grande relevância fitoquímica. Do extrato hexânico das folhas e caules
foi isolado o lupeol, um triterpeno pentacíclico cuja ocorrência já foi descrita em
Erythroxylum leal costae Plowman, Erythroxylum passerinum Mart. e Erythroxylum
nummularia Peyr. (Chávez, et al., 1996; Barreiros et al., 2002; 2005). Além disso, foi
isolado o β-sitosterol, um fitoesterol comum em outras espécies de Erythroxylum
(Oliveira et al., 2016) (Figura 4).
Quercetina:. R1 = H
Rutina: R1 = rutinose
- 78 -
Figura 4. Estruturas de esteroides isolados de Erythroxylum ovalifolium.
(Continua) ...
Apesar de a maioria dos estudos fitoquímicos com espécies de Erythroxylum se
concentrar nas substâncias não voláteis, óleos essenciais são um importante tipo de
extrato vegetal, contribuindo para o conhecimento fitoquímico das espécies.
A análise por cromatografia em fase gasosa do óleo essencial das folhas de
E. ovalifolium revelou um total de 20 constituintes, correspondendo a 91,3% da
composição relativa total desse óleo (Cruz et al., 2018). (2E)-hexenal (24,1%) e (E)-
ocimeno (23,2%) foram os compostos majoritários do óleo essencial. Todas as
substâncias identificadas e sua porcentagem relativa são apresentadas na Tabela
1. Considerando que apenas salicilato de metila e 2E-hexenal haviam sido descritos
anteriormente para E. coca Lam., o presente estudo apresenta 18 substâncias pela
primeira vez no óleo essencial de Erythroxylum spp.
Tab ela 1. Constituintes químicos do óleo essencial de E. ovalifolium.
Substância IA Proporção (%)
2E-Hexenal 846 24,1
3Z-Acetato de hexenila 1004 1,2
Z-Ocimeno 1037 0,8
E-Ocimeno 1048 23,2
3Z-Butanoato de hexenila 1186 2,6
Salicilato de metila 1190 2,0
Tetrahidrolinalol 1099 1,6
beta-Sitosterol Lupeol
- 79 -
Substância IA Proporção (%)
2-metilbutanoato de 3Z-hexenila 1232 1,6
E-Damascenona 1376 1,2
β-Cubebeno 1383 4,4
1,1,6-Trimetil-1,2-dihidronaftaleno 1386 1,0
Italiceno 1406 0,9
E-Cariofilleno 1414 0,9
trans-Bergamoteno 1430 0,7
E,E-Farneseno 1502 3,7
3Z-Benzoato de hexenila 1568 1,3
Z-Dihidroapofarnesol 1572 1,0
6E,10Z-Pseudofitol 2018 8,1
Nonacosano 2904 8,2
Untriacontano 3102 2,8
Total identificado 91,3
O Índice Aritmético (AI) foi calculado por interpolação para os tempos de reten-
ção de uma mistura de hidrocarbonetos alifáticos (C8–C30) em uma coluna DB-5 (i.d.
= 0,25 mm, comprimento 30 m, espessura do filme = 0,25 μm).
Referências
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Rio de Janeiro.
(Continuação) ...
- 80 -
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- 81 -
Figura 1. Erythroxylum subsessile, ramo com flores (Fonte: M.G.Santos).
Rodrigo Alves Soares Cruz
Erythroxylum subsessile
(M a r t.) O.E.S c h ul z
Família
Erythroxylaceae
Principais sinônimos
Erythroxylum kunthianum var. subsessile Mart.
Nomes Populares
Quixaba e arco-de-pipa (Machado & Senna-Valle, 2010; Santos et al., 2009).
- 82 -
Figura 2. Erythroxylum subsessile, ramo com frutos (Fonte: M.G.Santos).
Distribuição Geográfica
E. subsessile é uma espécie endêmica do Brasil. Ocorre nos estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, no domínio fitogeográfico da Mata Atlântica,
na Floresta Pluvial e Restinga (Amaral & Mendonça, 2001; Machado & Senna-Valle,
2010; Erythroxylaceae, 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
A população da Res tinga de Carapebus (RJ) usa as cascas da quixaba (E. subsessile)
para preparar um chá útil para tratar “dor na coluna” (Santos et al., 2009).
- 83 -
21
3
Figura 3. Alcaloides isolados de E. subsessile. 1: 6β,7β-dibenzoiloxitropan-3α-ol; 2:
3α-benzoiloxinortropan-6β-ol; 3: 3α,6β-dibenzoiloxitropano.
Composição química
Pela sua importância dentro da famí lia Erythroxylaceae, os estudos fitoquímicos
desta famí lia são quase exclusivamente referentes às esp écies do gênero Erythroxylum.
Este gênero é reconhecido como grande fonte de alcaloides tropânicos e diterpenos
diversos e que tem nos flavonoides seus marcadores quimiotaxonômicos (Bohm et
al., 1988; Johnson et al., 1997; 1998; 2002; 2003; Johnson & Schmidt, 1999; Johnson
& Schmidt, 2004).
Os alcaloide s encontrados em espécies d o gênero Erythroxylum possuem geralmente
grupos hidroxila e(ou) ésteres aromáticos e(ou) alifáticos ligados ao anel tropânico
central. Enquanto o anel tropânico em si auxilia muito pouco a quimiotaxonomia do
gênero, os substituintes podem representar aspectos marcantes de determinadas
espécies. Como a grande variedade estrutural dos al caloides tropânicos se deve quase
exclusivamente aos grupos substituintes, estes devem ser os principais responsáveis
pelas diferenças de atividades biológicas apresentadas por alcaloides dessa classe.
Três alcaloides foram isolados da fração alcaloídica de E. subsessile por cromatografia
contracorrente com refinamento por zona de pH: 6β,7β-dibenzoiloxitropan-3α-
ol (1, até então inédito na literatura), 3α-benzoiloxinortropan-6β-ol (2) e 3α,6β-
dibenzoiloxitropano (3) (Cruz et al., 2016).
- 84 -
Figura 4. Flavonoides, esterol e triterpeno isolados de Erythroxylum subsessile. 4: querci-
trina, 5: kaempferol-3-O-rhamnosídeo; 6: β-sitosterol, 7: friedelina.
O fracionamento da fração não alcaloídica de E. subsessile por cromatografia em
coluna permitiu o iso lamento de dois flavonóis glicosilados (quercitrina 4 e ka empferol-
3-O-rhamnosídeo 5), um esterol (β-sitosterol, 6) e um triterpeno (friedelina, 7) (Cruz,
2016).
A análise por cromatografia em fase gasosa do óleo essencial das folhas de E.
subsessile revelou um total de 22 constituintes, correspondendo a 98,7% da com-
posição relativa total desse óleo (Cruz et al., 2018). (2E)-hexenal (41,0%) e α-pineno
(20,0%) foram os compostos majoritários do óleo essencial. Todas as substâncias
identificadas e sua porcentagem relativa são apresentadas na Tabela 1.
6
7
4. R1 = rhamnose; R2 = OH
5. R1 = rhamnose.; R 2 = H
- 85 -
Tab ela 1. Constituintes químicos do óleo essencial de E. subsessile.
Substância IA Proporç ão (%)
2E-Hexenal 846 41,0
2-Hexenol 854 3,2
n-Hexanol 865 2,9
α-Pineno 936 20,0
β-Pineno 980 5,1
Mirceno 989 0,5
3Z-Acetato de hexenila 1004 0,3
α-Terpineno 1018 0,4
o-Cimeno 1026 0,8
Limoneno 1031 0,8
Z-β-Ocimeno 1037 0,4
E-β-Ocimeno 1048 8,1
Terpinoleno 1085 1,3
Salicilato de metila 1190 4,4
Linalol 1099 1,2
E-cariofilleno 1414 4,0
β-Selineno 1483 1,5
δ-Selineno 1492 1,3
E,E-α-Farneseno 1502 0,5
δ-Amorfeno 1513 0,1
trans-Calameneno 1 516 0,4
epi-Cubenol 1621 0,5
Total identificado 98,7
O Índice Aritmético (AI) foi calculado por interpolação para os tempos de reten-
ção de uma mistura de hidrocarbonetos alifáticos (C8–C30) em uma coluna DB-5 (i.d.
= 0,25 mm, comprimento 30 m, espessura do filme = 0,25 μm).
- 86 -
Referências
Amaral Jr., A. & Mendo nça, J.O. 2001. Erythrox ylaceae. In: Costa, A.F. & Dias, I.C.A . (Orgs.) Flora
do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e arredores, Rio de Janeiro, Brasil: listagem,
florística e fitogeografia. Museu Nacional. Série Livros, n.8, Rio de Janeiro.
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Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Química de Produtos Naturais, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
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Machado, A.F.P. & Senna-Valle, L. 2010. Flórula do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba
(PNRJ), Rio de Janeiro, Br asil: Erythroxyl aceae. Arquivos do Museu Naciona l 68(3-4): 231-23 4.
Santos, M.G.; Fevereiro, P.C.A.; Reis, G.L. & Barcelos, J.I. 2009. Recursos vegetais da Restinga
de Carapebus, Rio de Janeiro, Brasil. Revista de Biologia Neotropical 6(1): 35-5 4.
- 87 -
Figura 1. Eugenia astringens, ramo com frutos (Fonte: M.G.Santos).
Caio Pinho Fernandes
Fernanda Borges de Almeida
Eugenia astringens
Cambess.
Família
Myrtaceae
Principais sinônimos
Eugenia apiocarpa O.Berg; Eugenia cassinoides O.Berg; Eugenia cyclophylla
O.Berg;
Eugenia rotundifolia Casar.; Eugenia umbelliflora O.Berg.
- 88 -
Nomes populares
Araponga, baguaçu, guapê, guamirin (Kuskoski et al., 2003; Machado et al., 20 05;
Magina et al., 2009; Santos et al. 2009).
Distribuição geográfica
É endêmica da Mata Atlântica, ocorrendo nas vegetações de Floresta Ombrófila
e Restinga nos estados da Bahia, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná e Santa Catarina e Ilhas Oceânicas (Fernando de Noronha) (Eugenia, 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Os frutos e chá das folhas de Eugenia umbelliflora são utilizados em casos de
diarreia (Santos et al., 2009). Essa espécie também é utilizada popularmente para
tratamento de sintomas relacionados à depressão e como tônico (Colla et al., 2012).
Composição química
Delfinidina 3-O-β-glicopyranosideo, cianidina 3-O- β -glicopyranosideo, petunidina
3-O-glucopyranosideo, pelargonidina 3-O- β -glucopyranosideo, peonidina
3-O- β -glucopyranosideo, and malvidina-3-O glucopyranosideo (Kuskoski et al.,
2003), α-tujeno, α-pineno, β-pineno, mirceno, α-felandreno, 3-careno, α-terpineno,
o-cimeno, limoneno, β-felandreno, β-(E)-ocimeno, γ-terpineno, terpinoleno, terpin-
4-ol, α-terpineol, α-cubebeno, isoledeno, α-gurjuneno, β-cariofileno, βgurjuneno,
aromadendreno, α-neo-cloveno, α-humuleno, alloaromadendreno, γ-muuroleno,
β-cis-guaieno, valenceno, biciclogermacreno, β-trans-guaieno, γ-cadineno, Δ-cadineno,
cadina-1,4-dieno (Magina et al. 2009), taraxerol, alfa-amirina, beta-amirina, betulina,
ácido betulínico (Meyre-Silva et al., 2009).
Ações farmacológicas
O extrato hidroalcoólico de folhas de Eugenia umbelliflora exerceu uma atividade
antidepressiva significante em camundongos, com perfil comportamental similar
à fluoxetina (Colla et al., 2012). O extrato bruto metanólico de folhas de Eugenia
umbelliflora preveniu a formação de úlceras em camundongos, apresentando efeito
gastroprotetor (Meyre-Silva et al., 2009).
Atividade biológica
Extratos e frações de folhas e frutos de Eugenia umbelliflora apresentaram efeito
antimicrobiano comparável a alguns antibióticos, especialmente frente a bactérias
Gram-positivo (Machado et al., 2005). O extrato hexânico de frutos dessa espécie
apresentou atividade frente a promastigotos de Leishmania amazonensis e Leishmania
brasiliensis (Cechinel Filho, 2013).
- 89 -
Referências
Cechinel Filho, V.; Meyre-Silva, C.; Niero, R.; Mariano, L.N.B.; Nascimento, F.G.; Farias, I.V.;
Gazoni, V.F.; Silva, B.S.; Gimén ez, A.; Gutierrez-Yapu, D.; Salamanca, E. & Malheir os, A. 2013.
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Meyre-Silva, C.; Petry, C.M.; Berté, T.E.; Becker, R.G.; Zanatta, F.; Delle-Monache, F.; Cechinel-
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Santos, M.G; Fevereiro, P.C.A.; Reis, G.L. & Barcelos, J.I. 2009. Recursos Vegetais da Restinga
de Carapebus. Revista de Biología Neotropical 6(1): 35-54.
- 90 -
Figura 1. Eugenia pruniformis, ramo com inflorescências (Fonte: M.G.Santos).
Ricardo Diego Duarte Galhardo de Albuquerque
Eugenia pruniformis
Cambess.
Família
Myrtaceae
Principais sinônimos
Eugenia mikaniana (O.Berg), Eugenia olivacea O.Berg; Myrtus quadrisperma Vell.
Nomes populares
Azeitoninha-da-praia (Jorge Inácio Barcelos, comunicação pessoal).
- 91 -
Figura 2. Eugenia pruniformis, fruto (Fonte: M.G.Santos).
Distribuição geográfica
Endêmica do Brasil, com distribuição nos estados da Bahia, Mato Grosso, Espí-
rito Santo e Rio de Janeiro. Domínios fitogeográficos: Mata Atlântica, Cerrado, nas
vegetações de Floresta Ombrófila e Restinga (Eugenia, 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Os frutos são comestíveis (Jorge Inácio Barcelos, comunicação pessoal).
Composição química
Em estudo realizado com os óleos essenciais de folhas e frutos de Eugenia
pruniformis, foi constatado que o sesquiterpeno β-cariofileno é o componente
majoritário de ambos os óleos (46,9% nas folhas e 27,8% nos frutos). No óleo de
- 92 -
QUERCETINA
CANFEROL
HIPEROSÍDEO
Figura 3. Estruturas químicas de flavonoides encontrados em Eugenia pruniformis.
folhas, o biciclogermacreno (14,9%) também é um importante constituinte, enquanto
no óleo de frutos, o germacreno D (14,2%), δ-cadineno (12,4%) e α-copaeno (11,4%)
aparecem como outros terpenoides relevantes de sua composição (Albuquerque
et al., 2012). O óleo essencial de flores também apresentou o β-cariofileno como
principal constituinte (32,29%), e, ainda, globulol (8,97%) e biciclogermacreno (5,84%)
entre as substâncias majoritárias.
Como alguns dos principais componentes do extrato foliar, foram identificados
os flavonoides quercetina, canferol e hiperosídeo, comumente encontrados em ou-
tras espécies do gênero Eugenia (Maridass & Ramesh, 2010).
- 93 -
Figura 4. Estrutura de β-cariofileno, substância encontrada no óleo essencial das flores
de Eugenia pruniformis.
Atividade biológica
O óleo essencial das folhas de Eugenia pruniformis apresentou atividades antico-
linesterásica e antioxidante, enquanto a partição foliar em acetato de etila foi capaz
de melhorar o processo de cicatrizaç ão em ratos Wistar, além de apresentar atividade
citotóxica em macrófagos e ação inibitória sobre Streptococcus mutans. Além disso,
o extrato terpenoídico de folhas apresentou atividade anti- Leishmania (Albuquerque
et al., 2016; 2020; Gomes, 2020; Marques-Santos et al., 2023).
Referências
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- 95 -
Figura 1. Eugenia sulcata, frutos (Fonte: M.G.Santos).
Barbara Gomes Lima
Eugenia sulcata
Spring ex. Mart.
Família
Myrtaceae
Principais sinônimos
Stenocalyx sulcatus (Spring ex Mart) O. Berg.; Eugenia sulcata var. latifolia Kiaersk.;
Eugenia sulcata var. pubescens Mattos; Eugenia sulcata va r. stricta (O.Berg) Mattos.
Nomes populares
Murtinha, murta-preta, pitanguinha, pitangueira-selvagem (Cruz & Kaplan, 2004;
Legrand & Klein, 1969; Santos et al., 2009).
- 96 -
Figura 2. Eugenia sulcata, frutos imaturos (Fonte: M.G.Santos).
Distribuição geográfica
E. sulcata é uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo desde o estado do Rio
de Janeiro até Santa Catarina, no domínio da Mata Atlântica, nas vegetações de Flo-
resta Ombrófila e Restinga (Legrand & Klein, 1969, Eugenia, 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Muitas das espécie s do gênero Eugenia são frequentemente utilizadas na medicina
popular como antirreumático, adstringente, diurético, hipoglicemiante, cicatrizante,
antipirético, entre outros. São também fornecedoras de frutos comestíveis. No caso
da Eugenia sulcata, suas folhas são utilizadas para a febre a diarreias (Cruz &Kaplan,
2004). Na Restinga de Carapebus, os seus frutos são consumidos ao natural ou uti-
lizados para a fabricação de geleias e sucos (Santos et al., 2009).
- 97 -
Figura 3. Eugenia sulcata, flores (Fonte: M.G.Santos).
Composição química
Na espécie E. sulcata podem ser encontrados facilmente e com relativa abun-
dância, os ácidos triterpênicos ursólico e sumaresinólico (Lima, 2012).
Segundo Lima (2012), o óleo essencial de folhas desta espécie é rico em sesqui-
terpenos, sendo o β-cariofileno seu principal constituinte, chegando a representar
mais de 20% da composição total do óleo. Em seguida, encontram-se os monoterpe -
nos α e β –pinenos que juntos correspondem de 20 a 30% da composição. Ainda po-
dem ser encontrados em pequenas proporções: Limoneno, 1,8 – Cineol, α- Copaeno,
α- Terpineol, α-Humuleno, γ-Cadineno, trans-Calameneno, trans-Cadina-1,4-dieno,
Spatulenol, entre outros. Em um outro trabalho, De Ramos et al. (2010) determinaram
o α-pineno como principal constituinte e a fração do β-cariofileno correspondeu a
apenas 5,5%. As variações na composição de óleos essenciais são comuns e podem
ser explicadas por diversos fatores, como as condições ambientais de nutrientes no
solo, intensidade de luz e umidade, idade e estágio de desenvolvimento do vegetal,
que podem influenciar na totalidade e proporção de metabólitos produzidos pela
espécie (Gobbo-Neto & Lopes, 2007).
- 98 -
Figura 4. Estrutura de ácidos triterpênicos encontrados em Eugenia sulcata.
Atividades biológicas
Os óleos essenciais, por serem misturas complexas de compostos geralmente
utilizados para a defesa do próprio vegetal, já foram descritos inúmeras vezes por
apresentarem diferentes tipos de atividades biológicas.
O óleo essencial de folhas de E. sulcata possui atividade antimicrobiana, sendo
capaz de inibir cepas de Staphylococcus aureus e também antiviral com inibição dos
herpes-vírus HSV-1 e HSV-2 (Lima, 2012).
Também é eficaz como agente inseticida frente aos insetos Oncopeltus fasciatus
e Dysdercus peruvianus e ao barbeiro Rhodnius prolixus, em que não apenas causa
mortalidade dos insetos, mas atrasa seu desenvolvimento (Lima, 2012; Gonzalez et
al., 2014).
A atividade inibidora da enzima acetilcolinesterase também foi relatada para o
óleo essencial de folhas de E. sulcata. (Lima et al., 2012).
Ácido Sumaresinólico
Ácido Ursólico
- 99 -
Foi descrito, também, o efeito do óleo essencial em parâmetros hemodinâmicos
através da redução da pressão sistólica e diastólica e da frequência cardíaca, demons
-
trando uma atividade hipotensora (Santos et al., 2013).
Referências
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- 100 -
Figura 1. Mandevilla fragrans, ramo com flores (Fonte: S.Z.Cordeiro).
Sandra Zorat Cordeiro
Alice Sato
Mandevilla fragrans
(Stadelm.) Woodson
Família
Apocynaceae s.l. (Subfamília Apocynoideae)
Principais sinônimos
Echites fragrans Stadelm.; Dipladenia riedelii Müll. Arg.; Micradenia riedelii (Müll.
Arg.) Miers; Dipladenia fragrans (Stadelm.) A.DC.; Micradenia fragrans (Stadelm.)
Miers. (Koch et al., 2022).
- 101 -
Nomes populares
Alamanda-cheirosa (Azambuja, 1947), em referência direta ao odor que exala das
flores; “Brazilian-jasmine” ou “Jasmin du Brésil” (Garden Breizh, 2022; Wiersema &
Léon, 1999); Chifre-de-veado (Santos et al., 2009), uma referência direta ao formato
dos seus frutos, tipo folículo; Dipladênia (Sales, 1993), referência a um dos antigos
nomes do gênero Mandevilla; Rosa-do-campo (Liber Herbarium Minor, 2022), “white
Brazilian-jasmine” (Amazon, 2022).
Distribuição geográfica
M. fragrans é uma liana latescente endêmica da Mata Atlântica, com distribuição
restrita à Floresta Ombrófila e à Restinga do Estado do Rio de Janeiro e São Paulo
(Mandevilla, 2023). Alves & Oliveira (1992) relatam a escassa representatividade de
M. fragrans nas coleções de herbários nacionais, sendo ausentes registros de frutos
e sementes até 2002 (Moreira, 2002). De acordo com Alves & Oliveira (1992), esta
espécie foi classificada como "em perigo" pela escassez de suas populações, encon-
tradas apenas nas restingas da Barra de Maricá (Maricá-RJ), na Restinga de Cara-
pebus (Carapebus-RJ), pertencente ao Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba,
localizado na região norte fluminense, e na Restinga da Marambaia, no litoral sul do
estado do Rio de Janeiro. Por esta escassez, M. fragrans figura na lista de espécies
com risco de extinção no município do Rio de Janeiro (Santos, 2000) e na lista das
espécies presumivelmente extintas no estado de São Paulo (Secretaria do Meio Am-
biente de São Paulo, 2016).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
O nome do gênero, Mandevilla, é uma homenagem a Henry John Mandeville
(1773-1861), diplomata inglês, embaixador na Argentina e colecionador de plantas.
De acordo com Sales (1993), o epíteto "fragrans" foi atribuído pelo naturalista e bo-
tânico alemão Ernst Stadelmeyer, em 1841, em clara referência ao odor leve e ado-
cicado que exala de suas flores. No Brasil, M. fragrans é frequentemente utilizada
na ornamentação de jardins de moradias na região da Restinga de Carapebus, onde
ocorre espontaneamente (Santos et al., 2009), mesmo assim, é pouco explorada,
apesar do seu alto potencial no paisagismo de ambientes (Godinho, 1995). Apesar
de pouco conhecido no Brasil, o gênero Mandevilla possui uso paisagístico/ornamen
-
tal economicamente reconhecido e bastante explorado no exterior. Sua utilização
ocorre através do cultivo e produção de variedades, visando o incremento do seu
caráter ornamental, tanto na diversidade de tons e cores, como no formato das pé-
talas e corola (Cordeiro, 2012; European Patent Office, 2022). Em 2011, M. fragrans,
juntamente com M. guanabarica Casar. ex. M.F.Sales, Kin.-Gouv. & A.O.Simões e M.
splendens (Hook.f.) Woodson, estiveram entre as 15 plantas ornamentais mais ven-
didas pela maior empresa varejista eletrônica do mundo, a Amazon.com (Cordeiro,
2012); sua floração abundante e duradoura fez dela uma espécie facilmente encon-
trada na ornamentação de vias e pontos turísticos tanto nos Estados Unidos como
na Europa. A beleza e popularidade de M. fragrans, assim como outras espécies do
mesmo gênero, fazem com que sua imagem ilustre dezenas de itens como bottons,
- 102 -
bolsas, camisas, calendários, canecas etc., à venda em lojas eletrônicas de suvenires
(Cordeiro, 2012; Zazzle, 2022).
Na medicina popular, as flores de M. fragrans são utilizadas com finalidade an-
tiespasmódica (Azambuja, 1947), contra icterícia e constipação (Liber Herbarium
Minor, 2022), mas não há evidências científicas comprobatórias.
Em relação ao gênero, maiores informações sobre a sua vasta etnobotânica po-
dem ser consultadas em Cordeiro (2012) e Schultes (1979).
Composição química
Há poucos estudos fitoquímicos realizados com M. fragrans. Estudos anatômicos
realizados com suas folhas revelaram a presença de idioblastos oleíferos, drusífe-
ros e laticíferos (Alves & Oliveira, 1992). Estudos histoquímicos foliares revelaram
intensa reação para alcaloides e compostos fenólicos, em conjunto com análises de
extratos hidroalcoólicos foliares por cromatografia em camada delgada, revelaram
fenilpropanoides, flavonoides e terpenos (Cordeiro, 2012). Estudos mais recentes
realizados por Carvalho et al. (2017) e Sampaio et al. (2021) revelaram, em extratos
aquosos e hidroalcoólicos, a presença de ácidos fenólicos, antraquinonas, cumarinas,
saponinas, cardiotônicos, taninos, flavonoides e alcaloides.
Ações farmacológicas
Apesar dos poucos relatos de ações farmacológicas para M. fragrans até o mo-
mento, o grande interesse despertado pelo gênero envolve as propriedades farma-
cológicas antiofídicas e anti-inflamatórias, difundidas pela medicina tradicional e
comprovadas cientificamente para outras espécies do gênero: M. velutina (Mart. ex
Stadelm.) Woodson e M. illustris (Vell.) Woodson, espécies endêmicas do Cerrado
brasileiro (Calixto et al., 1986; Maraschin et al., 2000). Além disso, o gênero apresenta
propriedades farmacológicas cardiotônicas, comprovadas cientificamente devido à
presença de esteroides cardiotônicos como a digitoxigenina em M. coccinea (Hook.
& Arn.) Woodson (Linares et al., 1998) e oleandrigenina em M. pentlandiana (A.DC.)
Woodson (Cabrera et al., 1993).
Especificamente para M. fragrans, há relatos acerca das propriedades cicatrizan-
tes dos seus extratos aquoso e hidroalcoólico (Oliveira, 2017) e da sua comprovada
ação anticâncer, principalmente nos extratos hidroalcoólicos, necessitando de estu-
dos mais aprofundados sobre tal propriedade (Carvalho et al., 2017).
Atividade biológica
Na tradicional medicina indígena existem notas etnobotânicas sobre espécies do
gênero Mandevilla e sua potencial atividade biológica. M. platydactyla Woodson é
utilizada como repelente de insetos na Colômbia, M. vanheurckii Markgr. é conhe-
cida no combate a infecções fúngicas no México (Schultes, 1979) e M. veraguaiensis
Hemsl. possui propriedades antimicrobianas comprovadas devido à presença dos
flavonoides 4´-O-metil-kaempferol e quercetina (Abad-Reyes et al., 2006).
- 103 -
Na literatura, apenas um trabalho sobre atividade biológica de M. fragrans foi
encontrado. Extratos das suas folhas demonstraram capacidade de utilização como
inibidor corrosivo ambientalmente amigável, já que apresentaram alta eficiência an-
ticorrosiva em aço macio. O mecanismo de inibiç ão corrosiva é baseado na formação
de uma camada compos ta por moléculas orgânicas do ex trato que adere à superfície
do aço por adsorç ão, protegendo-a e impedindo sua corrosão (Sampaio et al., 2021).
Toxicologia
Não há estudos de toxicologia para M. f ragrans até o momento, no entanto, Azam-
buja (1947) relatou que M. fragrans é venenosa para o gado. Em relação ao gênero,
há relatos acerca da toxicidade de M. cuneifolia Woodson, M. subcarnosa (Benth.)
Woodson e M. vanheurckii Markgr. por povos indígenas colombianos (Schultes, 1979).
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- 105 -
Figura 1. Mandevilla guanabarica, hábito e flores (Fonte: S.Z.Cordeiro).
Sandra Zorat Cordeiro
Alice Sato
Mandevilla guanabarica
Casar. ex. M.F.Sales, Kin.-Gouv. & A.O.Simões
Família
Apocynaceae s.l. (Subfamília Apocynoideae)
Principais sinônimos
M. guanabarica é uma espécie frequentemente confundida com Mandevilla
funiformis (Vell.) K.Schum. devido à semelhança morfológica; enquanto a primeira
- 106 -
Figura 2. Mandevilla guanabarica, ramo com flor (Fonte: S.Z.Cordeiro).
ocorre em regiões de restinga do sudeste brasileiro, a segunda tem ocorrência re-
gistrada para regiões mais ao sul do país. A partir das observações de Sales (1993),
verificou-se que quase todas as exsicatas oriundas das restingas do Rio de Janeiro
registradas como M. funiformis eram M. guanabarica e, assim, foram atualizados os
nomes das espécies. Em um levantamento florístico realizado para o município do
Rio de Janeiro (Santos, 2000), M. funiformis foi apontada como uma espécie amea-
çada de extinção neste estado, restando a dúvida se o material vegetal analisado se
tratava de M. funiformis ou M. guanabarica (Moreira, 2002). Mediante o exposto aci-
ma, é necessário que especialistas em Apocynaceae realizem revisões periódicas das
espécies de Mandevilla nos herbários, a fim de corrigir determinações equivocadas.
De acordo com a Lista de Espécies da Flora do Brasil (Koch et al., 2022), M.
guanabarica não possui sinônimos válidos, tendo sido descrita por Sales et al. apenas
em 2006.
- 107 -
Figura 3. Mandevilla guanabarica,
fruto em deiscência e sementes
(Fonte: S. Z.Cordeiro).
Nomes populares
"Brazilian-jasmine" ou "Jasmin du Brésil" (Garden Breizh, 2022; Wiersema & Léon,
1999); Chifre-de-veado (Santos et al., 2009), uma referência direta ao formato dos
seus frutos, tipo folículo; Dipladênia (Sales, 1993), referência direta a um dos antigos
nomes do gênero Mandevilla.
Distribuição geográfica
M. guanabarica é uma espécie de liana latescente, com base lenhosa, longos e
delgados ramos herbáceos, endêmica da Mata Atlântica, com distribuição restrita
aos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, ocorrendo comumente em bordas
de moitas em formações arbustivas de restinga e raramente nos bordos da floresta
atlântica (Sales et al., 2006). De acordo com Moreira (2002), M. guanabarica pode
ser considerada como uma espécie em perigo de extinção, pois, embora não esteja
oficialmente classificada em nenhuma categoria de risco, esta espécie ocorre apenas
em restingas, ecossistemas que vêm sofrendo um impacto antrópico muito grande
por conta da especulação imobiliária.
- 108 -
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
A literatura científica aponta M. guanabarica como uma espécie ornamental,
constituindo, juntamente com M. fragrans (Stadelm.) Woodson e M. moricandiana
(A.DC.) Woodson, um recurso vegetal na Restinga de Carapebus (Parque Nacional
da Restinga de Jurubatiba, RJ) para ornamentação de jardins (Santos et al., 2009).
Seu potencial ornamental é bastante explorado nos Estados Unidos e Europa: além
de ser usada como imagem decorativa na confecção de souvenires, como canecas,
bottons e camisas (Zazzle, 2022), esta espécie já foi destaque de vendas na maior
empresa varejista eletrônica do mundo, a Amazon.com (Cordeiro, 2012). Até o mo-
mento, não há informações etnobotânicas além das que a indicam como ornamental;
neste sentido, apenas alguns estudos foram realizados envolvendo características
da sua morfologia, biologia floral e fenologia, abordando aspectos de autoincom-
patibilidade, polinização, pilhagem e drenagem de látex por insetos (Almeida, 2021;
Koschnitzke, 2011; Lourenço et al., 2013).
Além do potencial ornamental, o gênero Mandevilla vem despertando interesse
por conta das suas propriedades medicinais, bastante utilizadas na medicina tradi-
cional. Os detalhes acerca do potencial etnobotânico do gênero foram relatados no
capítulo anterior, referente à Mandevilla fragrans.
Apesar de não terem sido encontradas utilizações para M. guanabarica na me-
dicina tradicional (Cordeiro, 2012), alguns estudos foram desenvolvidos abordando
características quimiossistemáticas (Cordeiro et al., 2011; 2012) e suas potencialida-
des biotecnológicas através da aplicação de técnicas de cultura de tecidos visando
à produção de mudas (Cordeiro et al., 2014).
Composição química
É bastante comum que espécies vegetais com ausência de notas etnobotânicas
e de aplicações na medicina tradicional apresentem poucos ou, até mesmo nenhum
estudo acerca da sua composição química. Apesar de M. guanabarica se enquadrar
neste exemplo, alguns estudos de quimiossistemática foram realizados com esta es-
pécie envolvendo extração e caracterização de suas ceras epicuticulares e de seus
compostos voláteis foliares a partir de amostras de diferentes restingas (Cordeiro,
2012; Cordeiro et al., 2011; 2012).
Nas ceras epicuticulares de M. guanabarica foram encontrados os hidrocarbone-
tos de cadeia longa nonacosano (C29), hentriacontano (C31), tritriacontano (C33) e os
triterpenos α- e β- amirinas acetiladas e não acetiladas, lupeol e acetato de lupeol.
A quantificação das substâncias revelou o caráter terpenoídico das ceras epicuticu-
lares de M. guanabarica, além de evidenciar sua aplicabilidade como um eficiente
marcador quimiotaxonômico, uma vez que apresentaram constância independente
da localidade coletada (Cordeiro, 2012; Cordeiro et al., 2011).
Por sua vez, os perf is químicos dos componentes voláteis foliares d e M. guanabarica
nas três restingas amostradas (coletada na mesma época do ano e com mesmas
condições de temperatura e precipitação) foram qualitativa e quantitativamente
distintos. Componentes comuns às três áreas amostradas foram apenas 3-hexenol,
- 109 -
β-cariofileno e germacreno D. Os demais constituintes encontrados foram:
α-cubebeno, α-copaeno e cubebeno nas amostras da Restinga de Grumari; β-ocimeno,
α-cariofileno e germacreno B nas amostras da Restinga de Jurubatiba; e β-elemeno
e aloaromadendreno nas amostras da Restinga de Maricá. A distinta composição
química dos voláteis indica que outros fatores não climáticos, como condições
fisiológicas e ambientais, podem atuar em M. guanabarica, afetando a produção
de voláteis e, consequentemente, o papel desta planta na ecologia do seu habitat
(Cordeiro, 2012; Cordeiro et al., 2012).
Estudos histoquímicos preliminares e cromatografia em camada delgada de
extratos hidroalcoólicos foliares e caulinares de M. guanabarica revelaram ainda a
presença de fenilpropanoides, flavonoides e terpenos (Cordeiro, 2012).
Ações farmacológicas
Não foram encontra dos relatos de ações farmacológicas para M. guanabarica até
o momento; as ações farmacológicas do gênero podem ser encontradas no capítulo
anterior, referente à M. fragrans.
Atividade biológica
Em relação aos compostos voláteis encontrados em M. guanabarica, com exce-
ção do cubebeno, aloaromadendreno e germacreno B, todos os outros compostos
voláteis anteriormente descritos desempenham o papel de semioquímico para vá-
rios animais, na maioria insetos. Semioquímicos são substâncias que atuam como
sinalizadores químicos, detectadas pelos organismos de um ambiente e que podem
induzir alterações na sua fisiologia e/ou comportamento, mais especificamente,
interações inseto-planta, como herbivoria, predação, polinização, ovoposição etc.
(Cordeiro, 2012; Cordeiro et al., 2012; Pherobase, 2022).
Toxicologia
Não foram encontrados estudos de toxicologia para M. guanabarica até o mo-
mento. Maiores informações sobre a toxicologia do gênero foram descritas no capí-
tulo anterior, referente à M. fragrans.
Referências
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- 111 -
Figura 1. Mandevilla moricandiana, flor (Fonte: S.Z.Cordeiro).
Sandra Zorat Cordeiro
Alice Sato
Mandevilla moricandiana
(A.DC.) Woodson
Família
Apocynaceae s.l. (Subfamília Apocynoideae)
Principais sinônimos
Dipladenia moricandiana A.DC.; Micradenia moricandiana (A.DC.) Miers (Koch
et al., 2022).
- 112 -
Nomes populares
Chifre-de-veado (Santos et al., 2009), uma referência direta ao formato dos
seus frutos, tipo folículo; Dipladênia (Sales, 1993) referência direta a um dos an-
tigos nomes do gênero Mandevilla; “Brazilian-jasmine” (Wiersema & León, 1999),
referência ao nome popular na Europa e Estados Unidos, onde é comercializada
com fins ornamentais.
Distribuição geográfica
M. moricandiana é uma liana latescente e endêmica do território brasileiro;
apresenta distribuição nos estados de Alagoas, Bahia, Cea rá, Paraíba, Pernambuco, Rio
Grande do Nor te, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Nos d omínios fitogeográficos
da Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, nas vegetações de Caatinga (stricto sensu),
Campo Rupestre, Carrasco, Restinga e Vegetação Sobre Afloramentos Rochosos
(Moreira, 2002; Mandevilla, 2023). Apesar de ser encontrada preferencialmente em
dunas de restinga, a espécie ocorre mais para o interior do país: na região serrana
do estado do Ceará, na região dos tabuleiros de Pernambuco, e na Bahia, onde
possui distribuição disjunta, com ocorrência no litoral e nos campos rupestres da
Chapada Diamantina (Sales, 1993). Características climáticas e edáficas semelhantes
entre zonas litorâneas e campos rupestres, como forte insolação e solos arenosos
pobres em nutrientes, além da hipótese de dispersão por saltos, podem explicar
a ocorrência disjunta de M. moricandiana nestas regiões (Sales, 1993; Martins &
Alves, 2008; Rapini et al., 2019).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Mandevilla moricandiana figura como uma espécie ornamental, utilizada co-
mumente para decorar jardins em moradias na região da Restinga de Carapebus e
Restinga de Massambaba, ambas no estado do Rio de Janeiro (Carvalho et al., 2018;
Santos et al., 2009).
Não foram encontradas aplicações de M. moricandiana na medicina tradicio-
nal (Cordeiro, 2012), no entanto, uma vez que outras espécies do gênero, como M.
velutina (Mart. ex Stadelm.) Woodson e M. illustris (Vell.) Woodson, endêmicas do
Cerrado brasileiro, apresentaram substâncias com ação terapêutica já comprovada
(Biondo, 2003; Biondo et al., 2004; Calixto et al., 1986), alguns estudos biotecno-
lógicos foram desenvolvidos, como a caracterização quimiossistemática das suas
ceras epicuticulares (Cordeiro et al., 2011) e aplicação de técnicas de cultura de
tecidos in vitro para estabelecimento de protocolo de micropropagação (Cordeiro
et al., 2012) e conservação de germoplasma (Cordeiro et al., 2014), todos visando a
criação de bases referenciais para futuros estudos com outras espécies do gênero,
raras ou ameaçadas.
A partir daí, vários trabalhos começaram a ser realizados com M. moricandiana,
buscando investigar a presença de classes de metabólitos com ação farmacológica
promissora: larvicida (Andrade et al., 2021), antioxidante (Ferreira et al., 2021) e va-
sodilatadora (Ferreira et al., 2017; 2021; Gomes et al., 2012).
- 113 -
Composição química
Em relação à composição das ceras epicuticulares de M. moricandiana, visando
a sua caracterização quimiossistemática, foram encontrados os hidrocarbonetos
de cadeia longa nonacosano (C29), hentriacontano (C31), tritriacontano (C33) e os tri-
terpenos α- e β- amirinas acetiladas e não acetiladas, lupeol e acetato de lupeol. A
quantificação das substâncias revelou o caráter graxo das ceras epicuticulares de M.
moricandiana (Cordeiro et al., 2011).
Estudos histoquímicos foliares preliminares revelaram intensa reação para alca-
loides e flavonoides, enquanto análises por cromatografia em camada delgada de
extratos hidroalcoólicos foliares e caulinares revelaram fenilpropanoides, flavonoides
e terpenos (Cordeiro, 2012). Extratos hidroalcoólicos foliares analisados por croma-
tografia líquida de alta performance apresentaram flavonoides característicos das
subclasses das flavonas, flavonóis e chalconas (Gomes et al., 2012).
Em extratos da planta inteira foram evidenciados metabólitos secundários da
classe de ácidos graxos, cardenolídeos e esteroides, sendo estes últimos possivel-
mente relacionados à ação larvicida detectada (Andrade et al., 2021).
Na análise de extratos hidroalcoólicos de folhas de M. moricandiana, Ferreira et
al. (2017) identificaram os glicosídeos de luteolina e quercetina, responsáveis possí-
veis pela sua ação vasodilatadora.
Na análise da fração de acetato de etila de extratos foliares de M. moricandiana,
Ferreira et al. (2021) identificaram agliconas de quercetina e kaempferol e seus glico-
sídeos correspondentes, derivados do ácido cafeoilquínico, trímero de procianidina
tipo A, ácidos triterpenoides ursólico e oleanólico, atuantes na ação antioxidante e
vasodilatadora da fração.
Ações farmacológicas
Apesar de outras espécies de Mandevilla apresentarem nos extratos alcoólicos
do seu xilopódio, triterpenos com ação anti-inflamatória comprovada (Biondo, 2003;
Biondo et al., 2004; Calixto et al., 1986), estudos têm mostrado que M. moricandiana
possui outras propriedades, ainda não relatadas para o gênero.
Em ensaios in vivo e in vitro, extratos hidroalcoólicos brutos foliares apresenta-
ram elevada ação anti-hipertensiva e anti-inflamatória, relacionadas à presença de
flavonoides (Gomes et al., 2012). Foi demonstrado ainda, em ensaios in vitro, que
partições do extrato apresentam alta atividade antioxidante. Em ensaios in vivo, par-
tições de extratos hidroalcoólicos foliares de M. moricandiana produziram intensa
vasodilatação, indicando potencial farmacológico em condições de disfunção vas-
cular (Ferreira et al., 2017; 2021).
Atividade biológica
A única atividade biológica descrita até o momento para M. moricandiana foi o
significativo potencial larvicida do extrato de seu sistema subterrâneo. Andrade et
al. (2021) demonstraram alta eficiência do extrato contra larvas do mosquito Aedes
- 114 -
aegypti, em que partições mais apolares do extrato apresentaram aumento da sua
atividade biológica. Análises do extrato detectaram terpenoides e esteroides como
constituintes majoritários.
Toxicologia
Não foram encontrados estudos de toxicologia para M. moricandiana até o mo-
mento. Detalhes sobre toxicologia de outras espécies do gênero podem ser encon-
trados no capítulo de M. fragrans.
Referências
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Figura 1. Manilkara subsericea, ramo com frutos (Fonte: M.G.Santos).
Caio Pinho Fernandes
Fernanda Borges de Almeida
Manilkara subsericea
(Mart.) Dubard
Família
Sapotaceae
Principais sinônimos
Kaukenia floribunda (Mart.) Kuntze; Kaukenia subsericea (Mart.) Kuntze; Manilkara
floribunda (Mart.) Dubard; Mimusops floribunda Mart.; Mimusops subsericea Mart.;
- 117 -
Figura 2. Manilkara subsericea, hábito (Fon-
te: C.P.Fernandes).
Mimusops subsericea var. acmanthera Miq.; Mimusops subsericea var. acuminata
Pierre; Mimusops subsericea va r. massaranduba Pierre; Synarrhena floribunda (Mar t.)
Fisch. & C. A. Mey.; Synarrhena subsericea (Mart.) Fisch. & C. A. Mey.
Nomes populares
Fruta-de-leite, guracica, maçaranduba-pequena, maçaranduba-vermelha, maça-
randubinha, massaranduba-da-praia e paraju (Carvalho et al., 2018; Lorenzi, 2009;
Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
Manilkara subsericea é uma espécie endêmica do Brasil e que ocorre nos esta-
dos do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. No domí-
nio fitogeográfico da Mata Atlântica, na Floresta Estacional Semidecidual, Floresta
Ombrófila e Restinga (Alves-Araújo & Almeida Jr., 2023).
- 118 -
Figura 3. Estruturas de
triterpenos encontrados
em Manilkara subsericea.
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Os frutos de Manilkara subsericea são consumidos in natura. Há relatos de uti-
lização de sua madeira para construções de casas, mourões, embarcações e como
lenha (Carvalho et al., 2018; Santos et al., 2009).
Composição química
Estudos realizados com frutos de Manilkara subsericea indicaram a presença
de diversos triterpenos pentacíclicos, incluindo acetato de beta-amirina (1), acetato
de alfa-amirina (2), caproato de beta-amirina (3), caproato de alfa-amirina (4), ca-
prilato de beta-amirina (5) e caproato de alfa-amirina (6), ácido oleanólico (7), ácido
ursólico (8) (Fernandes et al. 2011; 2013a). Estudos recentes realizados com folhas
indicaram a presença de betaocimeno, óxido de linalol, linalol, betadamascenona,
betadamascona, betacariofileno, farneseno, óxido de cariofileno, terpineol, safranal,
betaciclocitral, geraniol, fitol, esqualeno, miricetina (9), quercetina (10), kaempferol
(11), miricetrina (12), quercetrina (13) e ácido pomólico (14) (Almeida et al., 2015).
9 R1=R2=R3=R4=OH
10 R1=R2=R4=OH, R3=H
11 R1=R3=H, R2=R4=OH
12 R1=R2=R3=OH, R4=ORha
13 R1=R2=OH, R3=H, R4=ORha
R1
14
1 R1=CH3, R2=H, R3=AcO, R4=H
2 R1=H, R2=CH3, R3=AcO, R4=H
3 R1=CH3, R2=H, R3=CH3(CH2)4COO, R4= H
4 R1=H, R2=CH3, R3=CH3(CH2)4COO, R4= H
5 R1=CH3, R2=H, R3=CH3(CH2)6COO, R4=H
6 R1=H, R2=CH3, R3=CH3(CH2)6COO, R4=H
7 R1=CH3, R2=H, R3=OH, R4=COOH
8 R1=H, R2=CH3, R3=OH, R4=COOH
- 119 -
Atividade biológica
O fracionamento de uma fração hexânica de frutos de Manilkara subsericea
permitiu a obtenção de uma mistura contendo os acetatos de beta-amirina (76,3%)
e alfa-amirina (23,7%) que foi capaz de inibir a enzima acetilcolinesterase (Fernandes
et al., 2011). A fração resultante da partição hexânica de frutos e os extratos brutos
de folhas e caules de Manilkara subsericea inibiram o crescimento in vitro de
Staphylococcus aureus (ATCC 25923) (Fernandes et al., 2013a). Extratos de fru tos, folhas
e uma mistura dos acetatos de beta-amirina e alfa-amirina apresentaram atividade
inseticida, induzindo mortalidade, atraso no desenvolvimento e inibição da muda
em Dysdercus peruvianus e Oncopeltus fasciatus (Fernan des et al., 2013b). Extratos e
frações de folhas e caules de Manilkara subsericea apresentaram efeitos inibitórios
sobre as atividades induzidas pelo veneno de Lachesis muta (Coriolano et al., 2014).
Extrato de folhas e substâncias isoladas de Manilkara subsericea foram avaliadas
em relação à sua atividade moluscicida e cosideradas ativas frente à Biomphalaria
glabrata (Faria et al., 2018).
Toxicologia
Extratos de frutos, folhas e caules de Manilkara subsericea não exerceram ati-
vidade citotóxica considerável frente a células Vero de mamífero (Fernandes et al.,
2013a). Não foi observada nenhuma mudança comportamental e variação no peso,
consumo de alimento e água em camundongos tratados com a fração hexânica re-
sultante da partição do extrato de frutos (Fernandes et al., 2014).
Referências
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- 121 -
Figura 1. Myrciaria floribunda, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Luis Armando Candido Tietbohl
Myrciaria floribunda
(H.West ex Willd.) O. Berg
Família
Myrtaceae
Principais sinônimos
Eugenia floribunda H.West ex Willd.; Calycorectes cubensis Gr iseb.; Calyptranthes
floribunda (H.West ex Willd.) Blume; Eugenia ciliolata Cambess.; Eugenia leucophloea
(O.Berg) Kiaersk.; Eugenia leucophloea var. warmingiana Kiaersk.; Eugenia maranhensis
(O.Berg) Kiaersk.; Eugenia polyneura Urb.; Eugenia salzmannii Benth.; Marlierea
brachymischa Kiaersk.; Marlierea cubensis (Griseb.) Krug & Urb.; Myrciaria amazonica
O.Berg; Myrciaria arborea D.Legrand; Myrciaria arborea var. rostrata Mattos; Myrciaria
- 122 -
Figura 2. Myrciaria floribunda, fruto (Fonte: M.G.Santos).
axillaris O.Berg; Myrciaria chartacea O.Berg; Myrciaria ciliolata (Cambess.) O.Berg;
Myrciaria ciliolata va r. warmingiana (Kiaersk.) Mattos; Myrciaria leucophloea O.Berg;
Myrciaria leucophloea var. conferta O.Berg; Myrciaria leucophloea var. laxa O.Berg;
Myrciaria leucophloea v ar. warmingiana (Kiaersk.) Mattos; Myrciaria longipes O.Berg;
Myrciaria longipes va r. opaca O.Berg; Myrciaria longipes var. pellucida O.Berg; Myrciaria
maragnanensis O.Berg; Myrciaria maranhensis O.Berg; Myrciaria maximiliana (DC.)
O.Berg; Myrciaria prasina O.Berg; Myrciaria protracta (Steud.) O.Berg; Myrciaria
salzmannii (Benth.) O.Berg; Myrciaria schuchiana O.Berg; Myrciaria schüchiana O.Berg;
Myrciaria schuchiana var. latifolia O.Berg; Myrciaria schuechiana O.Berg; Myrciaria
schuechiana va r. deflexa O.Berg; Myrciaria schuechiana v ar. latifolia O.Berg; Myrciaria
sellowiana O.Be rg; Myrciaria splendens O.Ber g; Myrciaria tenuiramis O.Ber g; Myrciaria
tolypantha O.Berg; Myrciaria tolypantha va r. angustifolia O.Berg; Myrciaria tolypantha
va r. latifolia O.Berg; Myrciaria uliginosa O.Ber g; Myrciaria verticillata O. Berg; Myrtus
floribunda (H.West ex Willd.) Spreng.; Myrtus micrantha Nees & Mart.; Myrtus
verticillata Salzm. ex O.Berg; Paramyrciaria ciliolata (Cambess.) Rotman; Siphoneugena
cantareirae Mattos; Siphoneugena micrantha Kausel.
Nomes populares
Camboim, cambuí (Carvalho et al., 2018).
- 123 -
Figura 3. Myrciaria floribunda, ramo com flores (Fonte: M.G.Santos).
Distribuição geográfica
No Brasil, a espécie ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Ro-
raima, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espí-
rito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, San-
ta Catarina. Nos domínios Fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata
Atlântica, nas vegetações de Campo Rupestre, Cerrado (lato sensu), Floresta Ciliar
ou Galeria, Floresta de Terra Firme, Floresta de Várzea, Floresta Estacional Decidual,
Floresta Estacional Perenifólia, Floresta Es tacional Semidecidual, Floresta Ombrófila,
Floresta Ombrófila Mista e Restinga (Stadnik et al., 2023).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
É um dos frutos mais apreciados da Restinga, consumidos in natura ou para aro-
matizar cachaça. Nesse último caso, os frutos são colocados em infusão dentro da
garrafa (Carvalho et al., 2018; Jorge Inácio Barcelos, comunicação pessoal).
- 124 -
Ácido Betulínico
2324
29
Miricetina-3-O-β-galactosídeo
OH
Figura 4. Frutos de camboim - Myrciaria floribunda (Fonte: M.G.Santos).
Composição química
Esta espécie vegetal possui diversos flavonoides e triterpenos dos quais foram
isolados e identificados nas folhas de Myrciaria floribunda, as seguintes substâncias
químicas:
Figura 5. Estruturas de flavonoide e triterpeno encontrados em Myrciaria floribunda.
- 125 -
Figura 6. Myrciaria floribunda, galhas foliares (Fonte: M.G.Santos).
Em estudo realizado com os óleos essenciais de folhas, caules e flores de Myrciaria
floribunda, Tietbohl et al. (2012) verificaram que o monoterpeno 1,8 cineol apresenta-
se como componente majoritário nos óleos de folhas (38,4%) e flores (22,8%). No óleo
de caules a substância majoritária foi o acetato de farnesila (19,9%). Já, Ramos et al.
(2010) verificaram que os principais monoterpenos encontrados no óleo essencial
das folhas foram o α-terpineol (4,4%), limoneno (4,7%) e 1,8-cineol (6,8%).
Atividade biológica
Os óleos essenciais de Myrciaria floribunda apresentaram as seguintes atividades
biológicas: antitumoral, antimicrobiana, anti-inflamatória, inibidor da enzima acetil-
colinesterase, inseticida, cercaricida e moluscicida. (Machado et al., 2023; Tietbohl
et al., 2012; 2014; 2017; 2020).
Referências
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- 127 -
Figura 1. Myrsine rubra, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Hildegardo Seibert França
Arthur Luiz Corrêa
Myrsine rubra
M.F.Freitas & Kin.-Gouv.
Família
Primulaceae
Principais sinônimos
Não há.
- 128 -
Figura 2. Myrsine rubra, ramo com
frutos jovens (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Espécies pertencentes ao gênero são conhecidas como “capororoca” e “pororo-
ca”, que está relacionada ao seu uso mais comum, que é o da madeira. “Pororoca”
significa quebrar com ruído e “Caá”: planta, árvore (Freitas, 2003).
Distribuição geográfica
É uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo nos estados do Espírito Santo, Rio
de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. No domínio fitogeográfico da Mata
Atlântica, na Floresta Ombrófila e Restinga (Freitas, 2023).
Composição química
Das frações de acetato de etila, butanólic a e aquosa, foram isolados e identifi cados
os flavonóis miricetina-3- O-α-L-ramnopiranosídeo (miricetrina), quercetina-3-O- α-L-
ramnopiranosídeo (quercitrina) e kaempferol-3-O-D-(6''-galoil)-glicopiranosídeo,
além da flavona luteolina-3'-α-L-ramnopiranosídeo e um flavan-3-ol, (±)-epicatequina
(Figura 3) (França et al., 2011).
- 129 -
Figura 3. Estrutura de substâncias isoladas das folhas e caule de Myrsine rubra.
O óleo essencial obtido por hidrodestilação é composto por sesquiterpenos,
sendo as substâncias majoritárias β-Cariofileno (17,18%), gama-muuroleno (11,06%)
e germacreno B (10%). As substâncias podem ser observadas na Figura 4 e Tabela
1 (França, 2010).
quercitrina
kaempferol-3-O-β-D-(6’’-galoil)-glicopiranosídeo
miricetrina
luteolina-3’-α-L-ramnopiranosídeo
Epicatequina
- 130 -
Figura 4. Estruturas de substâncias presentes no óleo essencial de M. rubra.
γ-Cadineno
α–Muuroleno
α – Selineno
β -Cario fileno
β -Elemeno
Aromadendreno
Germacreno B
Óxido de cariofileno
Selina - 3,4(11) - dieno
δ-Cadineno
β - Selineno
γ-Muuroleno
α –Humulen o
- 131 -
Figura 5. Myrsine rubra, caule
cortado exibindo resina verme-
lha (Fonte: M.G.Santos).
Tab ela 1. Composição química do óleo essencial de M. rubra.
Substâncias identificadas TR (min) IRcal IRtab %
1 β –Cariofileno 22,83 1414 1418 17,1 8
2 β –Elemeno 23,35 1427 1433 3,22
3 Aromadendreno 23,64 14,34 14,39 2,15
4 α –Humuleno 24,34 14,51 1029 6,28
5 γ-Muuroleno 25,24 14,72 14,77 11,06
6 β-Selineno 25,77 1484 1485 6,43
7 α – Selineno 26,09 1491 1494 5,32
8 α – Muuroleno 26,26 1495 1499 1,21
9 γ-Cadineno 26,82 1509 1513 3,38
10 δ-Cadineno 27, 0 4 1515 1524 3,98
11 Selina-3,7(11)-dieno 27,9 4 1538 1542 2,97
12 Germacreno B 28,59 1554 1556 10
13 Óxido de cariofileno 29,60 1579 1581 8,51
Total 81,69
TR = Tempo de retenção IR = Índice de retenção
- 132 -
Atividade biológicas
Extratos brutos obtidos das folhas e dos caules, assim como as suas frações he-
xânica, diclorometânica e acetato de etila, apresentaram atividade antibacteriana
frente a Sthaphylococcus aureus com halos de inibição variando de 11,0 a 14,7 mm
de diâmetro. Para a bactéria Gram-negativa (Escherichia coli ATCC 25922), os extra-
tos e suas frações não apresentaram atividade pelo método de difusão em discos
(França, 2010). Na determinação da concentração mínima inibitória (CMI), a fração
hexânica mostrou uma CMI de 47,3 μg/mL para S. aureus ATCC 29213 (França, 2010).
Referências
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- 133 -
Figura 1. Neomitranthes obscura, ramo com frutos (Fonte: M.G.Santos).
Jorge Andres Duarte Duarte
Neomitranthes obscura
(DC.) N. Silveira
Família
Myrtaceae
Principais sinônimos
Calyptranthes obscura DC.; Calyptranthes axillaris O.Berg; Calyptranthes
maschalantha O.Berg; Calyptranthes maschalantha var. rotundifolia O.Berg;
Calyptranthes obscura var. fluminensis O.Berg; Calyptranthes tuberculata O.Berg;
Chytraculia axillaris (O.Berg) Kuntze; Chytraculia cephalantha (O.Berg) Kuntze;
- 134 -
Figura 2. Neomitranthes o bscura, frutos
(Fonte: M.G.Santos).
Chytraculia maschalantha (O.Berg) Kuntze; Chytraculia obscura (DC.) Kuntze; Chytraculia
tuberculata (O.Berg) Kuntze; Mitra nthes obscura (DC.) D.Legrand; Myrciaria perforata
O.Berg; Myrciaria tolypantha va r. pubescens O.Berg; Neomitranthes nitida Mattos;
Neomitranthes wilsoniana Mattos.
Nomes populares
Aperta-cu, cambuí-de- cachorro, camboim-de-cachorro, cambuí-preto e pitanga-
da-restinga (Amaral et al., 2013; Carvalho et al., 2018; CNCFlora, 2012; Ramos et al.,
2010; Santos et al., 2010; Souza & Morim, 2008).
Distribuição geográfica
Neomitranthes obscura é uma planta endêmica da Mata Atlântica do Brasil,
ocorrendo nos estados da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio
de Janeiro, São Paulo e Paraná, na Floresta Ombrófila e Restinga (Souza & Proença,
2023). Esta espécie arbustivo-arbórea é restrita da floresta ombrófila em restingas,
com ocorrência na Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Espírito Santo, São Paulo e
Paraná (Sobral, et al., 2015; Souza & Proença, 2020). O habitat de N. obscura tem es-
tado sujeito a pressões antropogênicas como urbanização, e, portanto, a espécie foi
catalogada como v ulnerável de acordo com a Lista Vermelha do Brasil (CNCFlora, 2012).
- 135 -
Figura 3. Neomitranthes obscura, galhas (Fonte: M.G.Santos).
Informação etnobotânica ou de botânica econômica
Os frutos (muito adstringentes) são consumidos in natura e, assim como as folhas,
utilizados para combater diarreia (Carvalho et al., 2018; Santos et al., 2009). Biavatti
et al. (2007) destacaram que a casca da árvore apresenta ação adstringente com
potencial na indústria cosmética.
Composição química
A literatura científica descreve a predominância de sesquiterpenos em óleos
essenciais de N. obscura (Amaral et al., 2013, 2014; Ramos et al., 2010; Victório et al.,
2018). Porém, a composição qualitativa e quantitativa dos óleos essenciais pode ser
influenciada por fatores ambientais e ecológicos de cada local. A Tabe la 1 compila
a versatilidade química dos derivados voláteis obtidos por hidrodestilação de N.
obscura reportada em diferentes estudos realizados no estado do Rio de Janeiro. O
óleo essencial das folhas de N. obscura coletadas no Parque Nacional da Restinga
de Jurubatiba no ano 2000 presentou em sua composição 87% de sesquiterpenos,
destacando-se α-cadineno (23,4%), cis-nerolidol (1W9,3%), trans-nerolidol (17,1%)
α-selina-3,7(11)-dieno (13,9%), β-bisaboleno (11,7%), β-selineno (8,5%) e o α-selineno
(5,5%) como os componentes majoritários.
- 136 -
Tab ela 1. Aspectos de obtenção de óleos essenciais extraídos de N. obscura.
Localidade
de coleta
Parte
vegetal
Rendimento
de extração
Substância
majoritária Referência
Restinga de
Carapebus,
Macaé, RJ
Folhas 0,12% (p/v)
H
H
α-cadineno
(Ramos et
al., 2010)
Parque Nacio-
nal da Restinga
de Jurubatiba,
Carapebus, RJ
Folhas
de frutos
pretos
0,50% (p/p)
Germacreno B
(Amaral et
al., 2013)
Folhas
de frutos
amarelos
0,37% (p/p)
H
Selina-3,7,(11)dieno
Frutos
pretos 0,02% (p/p) CH3
CH
2
CH3
β-pineno
Frutos
amarelos 0,07% (p/p) O
H2C
CH3
CH3
CH3
H
H
óxido de cariofileno
Parque Nacio-
nal da Restinga
de Jurubatiba,
Carapebus, RJ
Folhas 1,16% (p/p) OH
CH3
CH3CH3
CH3
CH2
cis-nerolidol
(Amaral et
al., 2014)
Restinga de
Marambaia, RJ Folhas 0,5% (p/v)
(E)-Cariofileno
(Victório et
al., 2018)
Restinga de Ja-
coné, Maricá/
Saquarema, RJ
Folhas 0,4% (p/v)
H
H
γ-muuroleno
Restinga de
Maricá, RJ Folhas 0,3% (p/v)
Restinga de
Massambaba,
Araruama, RJ
Folhas 0,3% (p/v)
O
H
cis-7-hidroxicalameno
- 137 -
Primeiramente, Souza & Morim (2008) descreveram que os frutos do cambuí-
preto se caracterizam por terem um epicarpo preto. Entretanto, Amaral et al. (2013)
observaram espécimes com frutos pretos e amarelos no Parque Nacional da Restinga
de Jurubatiba (RJ). Este estudo apontou os sesquiterpenos como o grupo mais repre -
sentativo na composição química dos óleos essenciais obtidos de folhas de espéci-
mes com ambos os tipos de frutos. O hidrocarboneto sesquiterpeno selina-3,7, (11)
dieno foi identificado como o principal constituinte do óleo de folhas de espécimes
com frutos amarelos, enquanto germacreno B foi o sesquiterpeno mais represen-
tativo no óleo de material foliar de espécimes com frutos pretos. Em contrapartida,
os óleos essenciais dos frutos (amarelos e pretos) de N. obscura apresentaram um
padrão químico diferente. A composição relativa do óleo de N. obscura extraído de
frutos pretos foi determinada com 50,5% de monoterpenos e 10,5% de sesquiter-
penos, com β-pineno (13,5%) sendo identificado como o principal composto desta
planta derivada. Por enquanto, o óleo essencial de frutos amarelos foi constituído
por 39,9% de sesquiterpenos e 16,1% de monoterpenos, sendo o óxido de cariofileno
(12,6%) o composto principal, com 12,6% da composição relativa do óleo analisado.
O composto mais destacado foi o cariofileno, que representou 12,6% da composição
relativa do óleo analisado (Amaral et al., 2013).
Por outro lado, o material foliar de N. obscura coletado e caracterizado no mesmo
período do ano em diferentes restingas do estado do Rio de Janeiro demonstrou que
o rendimento e a composiç ão dos óleos essenciais podem variar para cada localidade,
sendo fortemente influenciados por níveis de temperatura e precipitações de cada
localidade. Os autores identificaram que o principal componente do óleo essencial
de folhas de N. obscura variou para cada localidade na mesma época do ano (junho
de 2013): (E)-cariofileno foi identificado em diferentes concentrações (12% e 39,7%,
respectivamente) no óleo essencial de folhas de restinga de Marambaia e Jaconé;
γ-muuroleno (11,4%) foi representativo no derivado extraído da restinga de Maricá;
enquanto o cis-7-hidroxicalameno (6,7%) foi o principal componente no óleo extraído
da restinga de Massambaba. Os componentes α-copaeno, (E)-cariofileno e óxido de
cariofileno foram o denominador químico comum dos óleos essenciais de N. obscura
nas quatro restingas estudadas (Victório et al., 2018).
Paralelamente, Victório et al. (2018) corroboraram diferenças no perfil químico
do óleo essencial de N. obscura dependendo do período de coleta do material
vegetal, bem como do método de extração utilizado. Os óleos essenciais extraídos
por hidrodestilação das folhas coletadas na restinga de Marambaia durante os meses
de março, junho e agosto de 2013, o germacreno B (23,4%), α-cadineno (12,3%)
e (E)-cariofileno (55,5%) foram caracterizados como os principais constituintes.
Comparando a caracterização química do óleo essencial extraído por hidrodestilação
com o método destilação-extração simultânea do material vegetal do mesmo mês
no mesmo local de coleta, foi possível identificar selina-3,7 (11) dieno e o γ-selineno,
sesquiterpenos não identificados nos óleos obtidos pelo primeiro método, como
os principais constituintes do derivado vegetal de N. obscura (Victório et al., 2018).
Além disso, Gouvêa et al. (2015) identificaram e quantificaram em cascas dos
frutos maduros de N. obscura altos teores de antocianinas, utilizando cromatografia
líquida acoplada a detector por arranjo de diodos e a espectrometria de massas (LC/
- 138 -
DAD/MS) e cromatografia líquida de alta eficiência com detector de feixe de diodos
(CLAE-DAD), respectivamente. O estudo conclui que esta planta é uma excelente
fonte bioativa de compostos com alto potencial farmacológico ao identificar
peonidina-3-O-glicosídeo, cianidina-3-O-xilosídeo, cianidina-3-O-arabinosídeo,
cianidina-3-O-galactosídeo, cianidina-3-O-glicosídeo, petunidina-3-O-glicosídeo,
pelargonidina-3-O-glicosídeo, peonidina-3-O-galactosídeo, e delfinidina-3-O-
galactosídeo.
Ações farmacológica e atividade biológica
Amaral et al. (2014) relataram que o óleo essencial de N. obscura coletado no
Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba tem o potencial de inibir a enzima acetil-
colinesterase, um importante alvo no tratamento de doenças neurodegenerativas.
Os autores identificaram uma CI50 de 75,93 µg/mL nesta planta derivada, e este re-
sultado foi considerado promissor em comparação com estudos de outras espécies
de plantas da mesma família no mesmo ecossistema de estudo. Por outro lado, Car-
neiro et al. (2021) identificaram que o extrato em metanol de folhas da planta em
estudo com uma CL
50
de 25 ppm foi capaz de induzir a mortalidade de 46% das larvas
de Aedes aegypti após 48 horas, um vetor associado de arbovirose.
Toxicologia
Não foram identificados estudos que abordassem o perfil toxicológico dos deri-
vados vegetais desta planta endêmica.
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- 140 -
Figura 1. Ocotea indecora, inflorescência (Fonte: M.G.Santos).
Francisco Paiva Machado
Ocotea indecora
(Schot t) Mez
Família
Lauraceae
Principais sinônimos
Persea indecora Schott; Mespilodaphne indecora (Schott) Meisn.; Mespilodaphne
indecora var. canella Meisn.; Mespilodaphne indecora var. leucophaea Meisn.;
- 141 -
Figura 2. Ocotea indecora, fruto (Fonte: M.G.Santos).
Mespilodaphne indecora va r. minor Meisn.; Ocotea elegans Mez; Oreodaphne indecora
(Schott) Nees.
Nomes populares
Canela-sassafrás (Figueiredo et al. 2018; Jorge Inácio Barcelos, comunicação
pessoal).
Distribuição geográfica
Ocotea indecora é uma espécie endêmica do Brasil, que ocorre nos estados da
Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catari-
na e Rio Grande do Sul, nos domínios fitogeográficos da Mata Atlântica e Pampa, na
Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila
e Restinga (Lauraceae, 2023).
- 142 -
Figura 3. Substância majoritária identificada no óleo essencial de Ocotea indecora.
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
Não há relatos.
Composição química
Análises de cromatografia gasosa e ressonância magnética nuclear realizadas
por Figueiredo et al. (2018) e Nascimento et al. (2020) com o óleo essencial de fo-
lhas de Ocotea indecora coletadas no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba
corroboraram apresentando um perfil químico com a presença do furanoterpenoi-
de sesquirosefurano (Figura 3) como substância majoritária, exibindo 92,2 % e 92%,
respectivamente. Outros constituintes minoritários encontrados foram β-farneseno
e biciclogermacreno.
Atividade biológica
Figueiredo et al. (2018) descreveram a ação acaricida do óleo essencial de fo-
lhas de Ocotea indecora na espécie Rhipicephalus (Boophilus) microplus. No teste de
imersão de adultos ingurgitados, o óleo essencial interferiu na ovoposição e eclosão,
resultando em 100% de eficácia em concentrações entre 100-50 mg/mL e 63,9% em
6,2 mg/mL. Estes resultados sugerem uma promissora redução na f unção reprodutiva
de carrapatos ingurgitados. A CL50 e CL90 foram 4,96 e 17,37 mg/mL, respectivamen-
te. Entretanto, não demonstrou boa ação larvicida. A mortalidade das larvas foi de
34,5% e 76% na concentração de 100 mg/mL após 24 e 48 horas, respectivamente. A
CL50 foi 59,68 mg/mL após 48 horas. Por outro lado, o óleo essencial apresentou ação
repelente média de 98,5% em larvas, com dose efetiva (DE50) de 0,04 a 1,24 mg/mL.
Em outro estudo realizado por Nascimento et al. (2020) foi avaliada a ação inse-
ticida do óleo essencial de folhas de Ocotea indecora e sua nanoemulsão em perce-
vejos do algodão Dysdercus peruvianus. Após aplicação tópica no abdômen de per-
cevejos no 4° instar, o óleo essencial apresentou mortalidade dos insetos de forma
dose-dependente. O óleo essencial puro exibiu DL50 de 169,2 µg/inseto em 24 horas,
diminuindo a dose significativamente após 23 dias para 94,9 µg/inseto. Os resultados
deste estudo indicam que mesmo nos percevejos que alcançarem o 5° instar (fase
sesquirosefurano
- 143 -
adulta) a presença de deformações morfológicas afetariam a sobrevivência dos in-
divíduos no meio ambiente.
Por outro lado, a nanoemulsão com concentrações de 0,06 µg/inseto de óleo
essencial de Ocotea indecora apresentou sobrevivência de 10% após 20 dias, en-
quanto o óleo puro apresentou sobrevivência de 76,67% no mesmo tempo. Esta
redução significativa na sobrevivência de ninfas de Dysdercus peruvianus pode ser
atribuída ao tamanho de gotícula em escala nanométrica (91,92 ± 1,2 nm) presente
na nanoemulsão. O tamanho de gotícula reduzido pode aumentar a permeabilidade
e absorção dos constituintes ativos presentes no óleo essencial de Ocotea indecora,
desta forma aumentando a eficácia e reduzindo a sobrevida dos insetos.
Em adição, Pinto et al. (2023) descreveram a inibição fungistática do óleo essen-
cial em cepas do gênero Aspergillus. A nanoemulsão do óleo essencial por sua vez
potencializou o efeito fungistático em 10x em Aspergillus westerdjikiae. Por fim,
Machado et al. (2023) descreveu efeito larvicida da nanoemulsão em Aedes aegypti
apresentando alterações morfológicas e CL50 de 61,4 µg/mL após 48h de exposição.
Ações farmacológicas
Um dos mecanismos de ação mais comuns associados a inseticidas é a inibição
da enzima acetilcolinesterase, que pode levar a uma síndrome colinérgica. No estu-
do de Nascimento et al. (2020), foi realizada a inibição da enzima acetilcolinesterase
de cérebro de ratos com o óleo essencial de folhas de Ocotea indecora. Entretanto,
apresentou atividade reduzida (CI
50
=1,37 mg/mL) e perfil de inibição mista. Além dis-
so, a deformação em insetos sobreviventes sugere ação reguladora de crescimento,
que pode ser associada ao sesquirosefurano, metabólito amplamente majoritário
presente no óleo essencial de Ocotea indecora.
Referências
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- 144 -
Figura 1. Ocotea notata, ramo com inflorescências (Fonte: M.G.Santos).
Ulrich Privat Akendengué Moussavou
Bettina Monika Ruppelt
Ocotea notata
(Nees & Mart.) Mez
Família
Lauraceae
Principais sinônimos
Ocotea glaucina (Meisn.) Mez; Ocotea gardneri (Meisn.) Mez, Jahrb; Mespilodaphne
notata (Nees & Mart) Mez; Mespilodaphne petiolaris Meisn; Oreodaphne notata Nees
& Mart. (Quinet et al, 2015; The Plant List, 2015; Santos & Alves, 2013).
- 145 -
Figura 2. Ocotea notata, frutos (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Canela-branca, louro, louro-pipoca, louro-babão, louro-canela, louro-branco,
canela-tapinhoan (Santos & Alves, 2013; Coutinho et al., 2006; Corrêa, 1952).
Distribuição geográfica
Ocotea notata é uma espécie nativa e endêmica do Brasil e pode ser encontra-
da nos estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Sergipe) e do Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) (Quinet
et al., 2015; Monteiro et al., 2014; Santos & Alves, 2013). Domínio fitogeográfico:
Mata Atlântica. Tipo de Vegetação: Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial), Restinga
(Quinet et al., 2015).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
O caule é empregado popularmente na construção e também como lenha pelos
pescadores da vila de Itaúnas, Conceição da Barra (ES) (Lopes & Lobão, 2013) e pelos
moradores da região do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (RJ) (Santos et al.,
2009). Os frutos servem de alimento para os animais silvestres como o cachorro-do-
mato (Cerdocyon thous) e o mão-pelada (Procyon cancrivorus) (Gatti et al., 2006).
- 146 -
Figura 3. Monoterpenos e sesquiterpenos majoritários do óleo essencial de folhas e ga
-
lhos de Ocotea notata.
Composição química
Estudos comparativos dos óleos essenciais das folhas e galhos de Ocotea notata
revelaram que a composição química é muito semelhante e que a porcentagem das
substâncias identificadas é a principal diferença. A análise dos componentes do
óleo essencial das folhas de Ocotea notata coletada no Parque Nacional da Restinga
de Jurubatiba indicou a presença de 34 substâncias, representando 95% do total
de componentes presentes no óleo. O total de monoterpenos e sesquiterpenos
encontrados nas folhas foi de 20,96% e 74,89%, respectivamente. Enquanto a análise
do óleo essencial do mesmo exemplar botânico indicou a presença de 33 substâncias,
representando 90,08% do total de componentes presentes no óleo. O total de
monoterpenos e sesquiterpenos encontrados nos galhos foi de 11,48% e 78,60%,
respectivamente. Os monoterpenos majoritários para ambos os óleos foram o
α-pineno (1) (6,52% nas folhas e 2,4% nos galhos) e o β-pineno (2) (3,91% nas folhas e
15,7% nos galhos), e os sesquiterpenos foram o germacreno D (3) (16,94% nas folhas
e 18,29% nos galhos) e o β-cariofileno (4) (19,27% nas folhas e 13,89% nos galhos)
(Garrett, 2010; Garrett et al., 2012).
De uma fração flavonoidica de extratos de acetato de etila das folhas de Ocotea
notata, obtido através de processo extrativos, foram identificados seis flavonoides
majoritários, uma proantocianidina trimera tipo A ((epi)catequina-A-(epi)catequina-
(epi)catequina) (5), isoquercitrina (6), reinoutrina (7), miquelianina (8), quercitrina (9)
e afzelina (10) e os quatro componentes minoritários catequina (11), epicatequina
(12) quercetina (13) e canferol (14) (Garrett et al, 2012; Costa et al., 2014).
(3)
(1) (4)(2)
- 147 -
11 R1=OH; R2=H
12 R1=H; R2=OH
6 R1=glicose; R2=OH
7 R1=xilose; R2=OH
8 R1=ácido glicurônico; R2=OH
9 R1=ramnose; R2=OH
10 R1=ramnose; R2=H
13 R1=H; R2=OH
14 R1=H; R2=H
(5)
Figura 4. Flavonoides majoritários isolados de folhas de Ocotea notata.
O estudo de triagem da composição nutricional dos frutos de Ocotea notata co-
letada no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba indicou as seguintes caracte-
rísticas: água (26,3% da massa fresca da polpa), açúcar (6,78% da massa seca da pol-
pa), lipídios (21,20 da massa seca da polpa), proteínas (5,42 da massa seca da polpa),
índice de abundância (99), massa da polpa seca por fruto (0,04 g), energia por fruto
(0,46 kJ) (Gomes et al., 2010).
- 148 -
Atividade biológica
A fração flavonoidica obtida a partir do extrato de acetato de etila de folhas de
Ocotea notata foi capaz de inibir o herpes-vírus tipo 1 (HSV1) e herpes-vírus tipo 2
(HSV2), sendo mais ativa sobre o HSV2 (Garrett, 2010). O mecanismo de ação anti-
viral da fração rica em flavonoides contra HSV1 e HSV2 foi avaliado e a inibição de
diferentes etapas do ciclo de replicação do vírus foi observada. As percentagens de
inibição obtidas para o HSV-2 foram maiores do que 90% em todos os experimentos
realizados. Diferentemente, para o HSV-1, a fração rica em flavonoides não apresen-
tou efeito no pré-tratamento das células e mostrou uma inibição de 50% no ensaio
viruscida. Na literatura são relatadas as propriedades antivirais para todos os com-
postos identificados na fração flavonoidica. Embora o acyclovir seja o fármaco de
primeira escolha no tratamento de infecções causadas por HSV, novos agentes que
apresentem mecanismos de ação diferentes são necessários. A fração flavonoidica,
que tem a maioria de seus compostos identific ados, mostrou diferentes mecanismos
de inibição viral e baixa toxicidade para células Vero cultivadas em monocamada.
Assim, a fração poderia ser usada como tratamento complementar para as infecções
causadas por HSV-1e HSV-2 (Garrett et al., 2012).
O óleo essencial das folhas de Ocotea notata coletadas no Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba foi submetido ao bioensaio de toxicidade sobre Artemia salina
(TAS). A Concentração Letal 50% (CL50) foi de 2,37 μg/mL, classificando este óleo co-
mo de grande atividade, o que levou à realização do teste antibacteriano de difusão
em disco. Os resultados mostraram uma boa correlação devido à confirmação da
atividade antibacteriana, medida por meio de formação de halos de inibição frente
a quatro das cinco cepas testadas de bactérias ATCC (Staphylococcus aureus 25923,
Staphylococcus aureus 9213, Staphylococcus epidermidis 12223, Enterococcus faecalis
29212 e Escherichia coli 25922) (Garrett et al.¸2007; Garrett et al., 2010).
O extrato bruto etanólico de folhas de Ocotea notata na concentração de 20 µg/
mL inibiu o crescimento de Micobacterium bovis BCG e apresentou baixa citotoxici-
dade frente aos macrófagos RAW 264,7. Na concentração de 100 µg/mL, ocorreu a
inibição do crescimento, mas a citotoxicidade foi alta. A capacidade de inibição do
extrato foi comparada à rifampicina, droga tes te em diferentes concentrações e usa-
da como controle positivo. A fração hexânica do extrato bruto apresentou a melhor
performance de inibição do crescimento de Micobacterium bovis, ativa mesmo nas
concentrações de 0,8 e 4,0 µg/mL e somente apresentou citotoxicidade na concen-
tração de 100 µg/mL. Estes dados sugerem que há uma seletividade antimicrobiana
sem apresentar toxicidade para os macróf agos. A fração acetato de etila foi a segunda
mais ativa, no entanto, a citotoxicidade na concentração de 100 µg/mL foi menor do
que a da fração hexânica. O mesmo resultado ocorreu para a fração butanólica. Os
constituintes químicos identificados na fração acetato de etila foram: afzelina (10) e
isoquercitrina (6). Entretanto, isoquercitrina e afzelin são flavonoides glicosilados com
considerável hidrofilicidade, fato este que dificulta a permeabilidade destas subs-
tâncias através da parede lipofílica da micobactéria. Estes compostos foram capazes
de suprimir a produção de óxido nítrico (NO) estimulada pelo lipopolissacarídeo em
macrófagos RAW 264.7 (Costa, 2014).
- 149 -
Referências
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- 150 -
Figura 1. Pilocarpus spicatus, ramo
com frutos (Fonte: M.G.Santos).
Paola de Souza Sanches
Gabriel Rocha Caldas
Pilocarpus spicatus
A.St.-Hil.
Família
Rutaceae
Principais sinônimos
Pilocarpus spicatus va r. spicatus, Pilocarpus spicatus subsp. spicatus, Pilocarpus
lealii Machado, Pilocarpus peruvianus (J.F. Macbr.) Kaastra, Pilocarpus spicatus A.
St.-Hil., Pilocarpus lisboanus Badini, Pilocarpus parviflorus Nees & Mart., Pilocarpus
spicatus v ar. subcoriaceus Engl. ex Duval, Pilocarpus spicatus subsp. longeracemosus
(Mart. ex Engl.) Kaastra, Pilocarpus spicatus va r. lealii (Machado) Kaastra, Pilocarpus
spicatus subsp. aracatensis Kaastra (Pirani, 2020; Tropicos, 2022; The Plant List, 2022).
- 151 -
Figura 2. Pilocarpus spicatus, flores (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Jaborandi, jaborandi da restinga (Mello et al. 2007), arengueiro, catinga-de -porco,
jaborandi pimentinha (Pirani, 2020).
Distribuição geográfica
P. spicatus é uma espécie nativa e endêmica do Brasil, com distribuição geo-
gráfica que abrange estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pa-
raíba, Pernambuco, Sergipe), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo) e Sul (Paraná) do país (Pirani, 2020; Silva et al., 2014; Pinheiro, 1997).
Domínios fitogeográficos: Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Tipo de vegetação:
Carrasco, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial) e
Restinga (Pirani, 2020).
- 152 -
Informações etnobotânicas ou de botânica econômica
Esta planta é usada na medicina tradicional para tratar a febre geral, bem como
para o tratamento de várias doenças, como estomatite, bronquite e psoríase (No-
gueira et al., 2020).
Composição química
O estudo fitoquímico dos extratos hexânico e metanólico de folhas e raízes de P.
spicatus, realizado por Silva et al. (2014) resultou na identific ação de nove substâncias:
2-tridecanona, 2-heptadecanona, espatulenol, aromadendreno, β-cariofileno, ácido
3α-hidroxitirucala-7,24-dien-21-óico, (+)-isoangenomalina, episesamina e sesamina.
Estudos anteriores demonstraram a presença de cumarina chalepina, além de
vários terpenos, tais como: α e β-pineno, canfeno, Z,Z-farnesol, E-nerolidol, allo-
aromadendreno, 3β-acetoxi-24-metil-25-etil-20,24- epoxidamarano e 3-oxo-24-metil-
25-etil-20,24- epoxidamarano (Andrade-Neto et al., 1994; 2002; Pavão et al., 2002;
Santos & Moreno, 2004).
Uma pesquisa realizada por Santos et al. (1997) identificou três constituintes
no óleo essencial das folhas frescas de P. spicatus obtido por destilação a vapor,
são eles: 2-undecanona (68,3%), 2-tridecanona (14,8%) e α-pineno (6,4%). Análise
semelhante realizada por Andrade-Neto et al. (2002) utilizando o óleo essencial de
diversas partes da planta identificou a 2-tridecanona e a 2-pentadecanona como
constituintes majoritários das amostras de cascas de raiz, enquanto 2-undecanona,
β-eudesmol e sabineno foram os principais componentes dos óleos foliares. Além
destes, α-pineno, β-cariofileno, γ-cadineno, espatulenol, guaiol e bulnesol foram
encontrados em altas concentrações nas amostras.
Em estudo mais recente, realizado por Feder et al. (2019), o óleo essencial das fo-
lhas de P. s pi cat us apresentou 58,03% de monoterpenos e 38,54% de sequiterpenos.
Foram identificados 38 constituintes do óleo neste estudo, sendo os majoritários:
limoneno (14,7%), sabineno (10,8%), γ-muuroleno (7%), biciclogermacreno (6,2%),
α-pineno (5,1%), trans-muurol-4(14),5-dieno (4,4%), trans-cadina-1,4-dieno (4,2%),
δ-cadinene (3,7%), β-cariofileno (3,3%), α-copaeno (3,2%) e terpinen-4-ol (3%). A
análise por cromatografia gasosa-espectrometria de massas (CG/EM) realizada por
Nogueira et al. (2020) identificou 27 componentes químicos no óleo essencial de P.
spicatus, com predominância de β-cariofileno (4,70%), γ-biciclogermacreno (5,85%),
muuroleno (10,52%) e limoneno (46,80%).
A pilocarpina, comumente encontrada em outras espécies do gênero, foi investi-
gada em trabalho realizado por Sawaya et al. (2011) por cromatografia líquida de alto
desempenho compatível com espectrometria de massas em tandem de ionização
por eletrospray (HPLC-ESI-MS) usando o modo de íons extraídos. No entanto, este
alcaloide se encontra em concentração muito baixa em P. spicatus para ser quanti-
ficada (menos de 1% de alcaloides totais).
- 153 -
Figura 3. Principais constituintes químicos identificados na espécie Pilocarpus spicatus.
(Continua) ...
β-pineno α-pineno canfeno
biciclogermacreno
guaiol muuroleno
trans-cadina-1,4-dieno trans-muurola-4(14),5-dieno
β-eudesmol
Aromadendreno Espatulenol δ-cadineno
β-cariofileno
chalepina
terpinen-4-ol Sabineno limoneno Z,Z-farnesol
CH3
- 154 -
Figura 3. Principais constituintes químicos identificados na espécie Pilocarpus spicatus.
(Continuação) ...
E-nerolidol isoangenomalina
3-oxo-24-metil-25-etil-20,24-epoxidammarano ácido 3α-hidroxitirucala-7,24- dien-21-óico
episesamina sesamina
3β-acetoxi-24-metil-25- etil-20,24-epoxidammarano
α-copaeno
bulnesol γ-cadineno
2-undecanona (n=7)
2-tridecanona (n=9)
2-pe ntade canon a (n=11)
2-heptadecanona (n=13)
- 155 -
Ações farmacológicas
Estudos sugerem que extratos em acetato de etila e clorofórmio de folhas de
Pilocarpus spicatus apresentam boa atividade imunomodulatória em ensaios in vitro
com cultura de células de esplenócitos murinos (Costa et al., 2010).
Um estudo realizado p or Silva e Rao (1992) sugere que o óleo essencial de Pilocarpus
spicatus atua aumentando o edema em um local de inflamação por ativação de
receptor de serotonina.
Atividade biológica
O óleo essencial de Pilocarpus spicatus apresentou uma boa atividade antibac-
teriana frente a cepas de Pseudomonas aeruginosa, porém, baixa atividade frente
a Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis, quando comparado a antibiótico padrão
ampicilina (Santos et al., 1997). Além disso, o óleo dessa espécie apresenta excelen-
te atividade contra ninfas de Rhodnius prolixus, inseto conhecido por ser o vetor da
doença de Chagas. O óleo foi capaz de levar a mortalidade, paralisia e dificuldade
de desenvolvimento dessas ninfas (Mello et al., 2007).
Formas epimastigotas de Trypanosoma cruzi foram submetidas a ensaios
para avaliar a atividade tripanomicida do extrato hexânico de folhas de
Pilocarpus spicatus, assim como extrato metanólico das folhas e das raízes. Os
três apresentaram bons resultados, sendo o melhor encontrado para o extrato
hexânico de folhas (Silva et al., 2014). Mafezoli et al. (2000) também encontraram
uma excelente atividade tripanomicida dos extratos hexânicos e em diclorometano
dessa espécie vegetal.
Um estudo realizado por Oliveira et al. (2010) apresentou bons resultados do
óleo essencial de P. spicatus contra cepas de bactérias Staphylococcus aureus e
Escherichia coli.
Nogueira et al. (2020) sugerem que o óleo essencial de P. spic atus, assim como
nanoemulsão a 5% desse óleo, possui boa atividade repelente frente à larva de
Rhipicephalus microplus, sendo assim, capaz de interromper o ciclo de vida desse
carrapato.
A atividade inseticida desse óleo também foi estudada por Apolinário et al. (2020),
com boas atividades frente aos insetos Dysdercus peruvianus e Oncopeltus fasciatus,
mesmo em concentrações diluídas.
Toxicologia
O óleo essencial de P. s picat us apresentou uma toxicidade (CL
50
= 3.98 μg/mL)
frente à Artemia salina L (Oliveira et al., 2010).
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- 158 -
Figura 1. Sideroxylon obtusifolium, hábito (Fonte: M.G.Santos).
Adriana Passos Oliveira
Sideroxylon obtusifolium
(Roem. & Schult.) T.D.Penn.
Família
Sapotaceae
Principais sinônimos
Bumelia excelsa A.DC.; Bumelia obtusifolia Humb. ex Roem. & Schult.; Bumelia
obtusifolia var. buxifolia Roem. & Schult.; Bumelia obtusifolia subsp. typica Cronquist;
Bumelia rhamnoides C a sar., Bumelia sartorum Mart.; Lyciodes obtusifolium (Roem.
& Schult.) Kuntze.
- 159 -
Figura 2. Sideroxylon obtusifolium, ramo com flores (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Quixaba, quixaba-preta, sapotiaba, saputiquiaba (Carvalho et al., 2018; Lorenzi
& Matos, 2002; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
Não é uma espécie endêmica do Brasil. Ocorre nos estados de Tocantins, Ala-
goas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte,
Sergipe, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Nos domínios fitogeográficos Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, na ve-
getação de Caatinga (stricto sensu), Carrasco, Cerrado (lato sensu), Restinga, Savana
Amazônica (Alves-Araújo, 2023).
- 160 -
Figura 3. Sideroxylon obtusifolium, frutos (Fonte: M.G.Santos).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Na medicina popular brasileira, as folhas e as cascas de S. obtusifolium são usa-
das principalmente como anti-inflamatórias e cicatrizantes (Araújo et al., 2008; Al-
buquerque, 2006; Albuquerque & Oliveira, 2007; Soares-Júnior et al., 2011). Além de
serem amplamente conhecidas e utilizadas pelas comunidades locais, as folhas e as
cascas de S. obtusifolium são vendidas em feiras livres no nordeste do Brasil (Albu-
querque et al., 2007; Melo et al., 2009; Monteiro et al., 2011). As formas de preparo
mais utilizadas são tintura, decocto ou maceração. A tintura ou decocto das cascas
é utilizada externamente como cicatrizante (Albuquerque, 2006). O uso interno do
decocto ou maceração da planta inteira foi descrito por A gra et al. (2007) para o tra-
tamento de inflamações ovarianas, enquanto a fruta fresca é usada como alimento
e contém alto valor nutricional (Nascimento et al., 2011). Na Restinga de Carapebus,
a espécie S. obtusifolium é utilizada popularmente na forma de chá das folhas ou
cascas para dor na coluna (Santos et al., 2009). Na Restinga de Massambaba, há re-
latos do uso de sua madeira para a construção de casas, reparo de canoas e como
lenha (Carvalho et al., 2018).
S. obtusifolium é considerada uma das espécies nativas mais importantes de
acordo com seus valores de uso das indicações terapêuticas locais (Albuquerque
& Oliveira, 2007; Lucena et al., 2007) e a única espécie do gênero de ocorrência no
Brasil (Carneiro et al., 2014). A coleta não sustentável e a localização no litoral, área
de grande valorização imobiliária, tem tornado seu habitat dizimado e também a es-
pécie vulnerável. Assim, faz-se necessário que a espécie seja alvo para conservação
e manejo sustentável (Albuquerque & Oliveira, 2007).
- 161 -
Composição química
Oliveira et al. (2012) isolaram a partir da fração solúvel em butanol do extrato
etanólico das folhas de S. obtusifolium, um total de quatro saponinas (1-4) e dez fla-
vonoides glicosídeos (5-14), através de uma combinação de métodos cromatográfi-
cos e as estruturas estabelecidas por hidrólise ácida e métodos espectroscópicos.
Além disso, a catequina (15) e um glicerogalactolipídeo, o gingerglicolipídeo A (16),
foram isolados a partir da fração solúvel em acetato de etila. As saponinas 1-4 e o
gingerglicolipídeo A também foram identificados na análise do extrato em hidroe-
tanólico do caule S. obtusifolium. As estruturas químicas das substâncias estão re-
presentadas na Figura 4.
Outros constituintes químicos, como dois ésteres de ácidos alifáticos (17-18), e
um triterpeno, o lupeol (19), foram isolados da fração solúvel em hexano das folhas
de S. obtusifolium (Oliveira et al., 2013). Outros dois triterpenos, a betulina (20) e o
ácido ursólico (21), foram obtidos da fração solúvel em diclorometano das folhas de
S. obtusifolium (Oliveira et al., 2013), ilustrados na Figura 4.
O óleo essencial de S. obtusifolium foi analisado, por cromatografia com fase
gasosa acoplada à espectrometria de massas, e três sesquiterpenos foram identifi-
cados (22-24) (Oliveira, 2011).
Ações farmacológicas
Do ponto de vista científico, pouco se sabe sobre as atividades farmacológicas de
S. obtusifolium, alguns estudos foram realizados apenas com a casca. Desmarchelier
& Barros (2003) descreveram o efeito protetor in vivo do extrato em metanol da cas-
ca de S. obtusifolium através da avaliação da peroxidação lipídica no fígado de ratos.
Os extratos em água e em etanol da entrecasca de S. obtusifolium apresentaram
atividades antiedematogênica, antinociceptiva e anti-inflamatória em testes expe-
rimentais em ratos, suportando seu uso popular no tratamento de edema, dor e de
doenças inflamatórias (Bispo et al., 2000; Araújo-Neto et al., 2010).
Atividades biológicas
A atividade antioxidante e a capacidade de sequestradora de radical livre foram
avaliadas para os extratos em água e em etanol da casca de S. obtusifolium que foram
ativos nos diferentes ensaios realizados, podendo estar correlacionada com a ativida-
de anti-inflamatória atribuída para esta espécie vegetal (Desmarchelier et al., 1999).
Na avaliação da atividade anticolinesterásica, o extrato em diclorometano apre-
sentou maior percentual de inibição da enzima em relação aos outros extratos. Das
substâncias isoladas deste extrato, o ácido ursólico apresentou CI50 de 34,4 µM. No
ensaio bioautográfico, os triterpenos isolados apresentaram-se como responsáveis
pela inibição enzimática (Oliveira et al., 2013).
No isolamento bioguiado das substâncias antibacterianas, foi identificado o lu-
peol como substância responsável pelo potencial antibacteriano do extrato em he-
xano das folhas. O extrato em acetato de etila das folhas apresentou CMI na faixa
- 162 -
de 32,0-64,0 (µg/mL) para quatro diferentes cepas de Staphylococcus aureus MRSA
(Oliveira, 2011). Outro estudo realizado por Ruela et al. (2011) descreve a atividade
antibacteriana para o extrato em acetato de etila das cascas de Bumelia sartorum
(Ruela et al., 2011).
Neves et al. (2018) determinaram o teor de 10% de hiperosídeo no extrato se-
co butanólico das folhas da S. obtusifolium e desenvolveram uma nanoemulsão
contendo 5% desse extrato, cujo potencial antioxidante foi avaliado pelo método
de DPPH e apresentou CE50 de 17,6 ± 0,002 μg/mL, valor comparável ao BHT (con-
trole positivo) (Neves, 2014; Neves et al, 2018). Enquanto pelo método de ORAC, a
nanoemulsão apresentou TE de 1,475 mmTE/g, sendo superior ao Trolox® (padrão).
Na avaliação antitumoral, o extrato de S. obtusifolium impediu a viabilidade celular
de células tumorais (K562) e células não tumorais (MA104) quando tratadas com o
extrato butanólico e com a nanoemulsão contendo o extrato. Nas células tumorais,
a menor concentração (25 µg/mL) apresentou um indicativo de que o nanosistema
potencializa o efeito. Entretanto, as células tumorais foram mais sensíveis que as
células não tumorais (Neves, 2014; Neves et al., 2018).
O estudo de Rangel et al. (2022) avaliou o potencial de S. obtusifolium para com-
bater o crescimento populacional de Biomphalaria glabrata e a transmissão da es-
quistossomose. Para tal, a atividade no controle da população adulta de B. glabrata
do extrato butanólico da S. obtusifolium (Extrato-SOB) e a nanoemulsão contendo 5%
desse extrato (Nano-SOB) apresentaram o LC50 de 125,4 mg/L e LC90 de 178,1 mg/L e
o LC50 de 75,2 mg/L e o LC90 de 97 mg/L, respectivamente. A Nano-SOB apresentou
maior potência contra B. glabrata jovem, com CL90 de 72,1 mg/L e CL50 de 58,3 mg/L.
A atividade relevante contra cercárias de Schistosoma mansoni foi eliminada em 4
horas (CL90: 34,6 mg/L). O Nano-SOB reduziu a desova viável em aproximadamente
30% a 178,1 e 97 mg/L. De acordo com as análises in silico das substâncias majoritá-
rias desse extrato, a quercetina-3-ramnosil-(1-6)-galactosídeo e o hiperosídeo podem
causar baixa toxicidade ambiental e toxicidade humana.
- 163 -
Figura 4. Estruturas químicas das substâncias 1-24 isoladas e identificadas nas folhas de S.
obtusifolium por Oliveira et al. (2011, 2012, 2013).
R1 R2 R3 R4
5 OH α-Ram H α-Ram
6 OH α-L-Ram β-D-GIu H
7 H α-Ram H α-Ram
8 H α-L-Ram β-D-GIu H
10 OH α-Ram H H
12 OH H H α-L-Ram
13 H H H H
14 OH H H H
R1 R2 R3
1 β-D-Api I β-D-Api II H
2 β-Api I α-Ram II H
3 H α-Ram II H
4 H α-Ram II β-Xil
R1 R2
9 H β-GIu
11 OH H
15
16
17
18
R1
19 CH3
20 OH
21
22 23
24
- 164 -
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- 166 -
Figura 1. Varronia curassavica, ramo com inflorescência (Fonte: M.G.Santos).
Aline Vieira Santos
Alice Sato
Varronia curassavica
Jacq.
Família
Cordiaceae
Principais sinônimos
Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult.; Cordia salicina DC.; Cordia verbenacea
DC.; Cordia intonsa I.M.Johnst.; Varronia intonsa (I.M.Johnst.) J.S.Mill.
- 167 -
Figura 2. Varronia curassavica,
frutos (Fonte: A.V.Santos).
Nomes populares
Caimbê, caimbê-preto, camaradinha, catinga–de-barão, cordia, maria-milagro-
sa, erva-baleeira (Carvalho et al., 2018; Lorenzi & Matos, 2002; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
V. curassavica ocorre na América Central e do Sul. No Brasil, está distribuída nos
estados do Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, Tocantins, Alagoas, Bahia, Ceará, Mara-
nhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina. Ocorre nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Cerra-
do, Mata Atlântica e Pampa, onde é encontrada em vegetação de Caatinga (stricto
sensu), Cerrado (lato sensu), Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila,
Restinga e áreas antrópicas (Smith, 1970; Montanari, 2000; Olivetti, 2005; Stapf et
al., 2023).
- 168 -
Informações etnobotânicas
A parte aérea da erva-baleeira é usada na medicina popular na forma de ex-
tratos alcoólicos, decocções e infusões por sua baixa toxicidade e suas proprie-
dades analgésicas, antimicrobiana, antiúlcera, antirreumática e anti-inflamatória
por aplicação tópica (Passos et al., 2007; Gilbert & Favoreto, 2012). As folhas po-
dem também ser maceradas e depositadas diretamente sobre cor tes e contusões
(Olivetti, 2005).
O uso das folhas de V. curassavica em forma de infuso, como compressa ou po-
mada está descrito no Formulário Nacional de Fitoterápico da Farmacopeia Brasi-
leira (Anvisa, 2011).
Na Restinga de Carapebus (RJ) as folhas são utilizadas como anti-inflamatório, e
na Restinga de Massambaba (RJ) para o tratamento de dores musculares e da coluna
(Carvalho et al., 2018; Santos et al., 2009).
Composição química
Inúmeras substâncias bioativas foram detectadas nas folhas e raízes de V.
curassavica. Substâncias fenólicas foram isoladas de extratos etanólicos e metanólicos
de folhas, nos primeiros estudos identificaram-se os flavonoides, quercetina,
artemetina e hidroxiartemetina (Sertié et al., 1990), posteriormente ácido rosmarínico
(Hage-Melim, 2009; Ticli et al., 2005) e duas isoflavonas (7,4’-diidroxi-5’-carboximetóxi
isoflavona e 7,4’-diidroxi-5’-metil isoflavona, Lameira et al. 2009). Também foram
identificadas quatro naftoquinonas (cordiaquinonas A, B, J e K) isoladas do extrato
diclorometânico de raízes (Ioset et al., 2000).
Triterpenos, como a cordialina A e B, foram também identificados nesta espécie
(Velde et al., 1982; Michielin et al., 2009).
Entre as substâncias ativas encontradas nesta espécie merece destaque o óleo
essencial, cujo rendimento varia de 0,2 – 0,9% p/p base na massa fresca (Carvalho
Jr. et al., 2004; Quispe-Condori et al., 2007 Michielin et al., 2009).
Os componentes prin cipais do óleo essencial da espéc ie são mono- e sesquiterpen os,
como o α-pineno, α-humuleno, aloaromadendreno, biciclogermacreno, espatulenol,
epóxicariofileno, acetato de citronelol, trans-cariofileno, β-felandreno, β-elemeno,
βgurjuneno, δ-cadineno (Carvalho Jr. et al., 2004). Santos et al. (2006) identificaram
como principais componentes do OE de V. curassavica c rescida no Ceará o α-pin eno
(20,5%), βpineno (13,1%), (E)-cariofileno (12,4%) e biciclogermacreno (13,8%). No
estudo de Hernandez et al. (2007), o óleo essencial de V. curassavica proveniente do
México foi composto principalmente de sesquiterpenos: 4-metil,4-etenil-3-(1-metil
etenil)-1-(1-metil metanol) ciclohexano (37,34%), β-eudesmol (19,21%), espatulenol
(11,25%) e cadina 4(5), 10(14) dieno (7,93%).
Investigando o método de obtenção de material vegetal; os óleos essenciais de
plantas propagadas in vitro e aclimatadas foram extraídos por hidrodestilação e ana-
lisados por cromatografia gasosa. O óleo essencial de plantas aclimatadas ap resentou
perfil semelhante ao de plantas ex vitro, porém com maior concentração do compos to
anti-inflamatório alfa-humuleno (Santos et al., 2013). O aumento da concentração
- 169 -
Figura 3. Estruturas químic as das principais substâncias voláteis identificadas em Varronia
curassavica.
Ações farmacológicas
A parte aérea da erva-baleeira é usada na medicina popular na forma de extra-
tos alcoólicos, decocções e infusões por sua baixa toxicidade e suas propriedades
analgésicas, antimicrobiana, antiúlcera, antirreumática e anti-inflamatória por apli-
cação tópica (Passos et al., 2007; Gilbert & Favoreto, 2012). As folhas podem tam-
bém ser maceradas e depositadas diretamente sobre cortes e contusões (Olivetti,
2005). O uso das folhas de V. curassavica em forma de infuso, como compressa ou
pomada está descrito no Formulário Nacional de Fitoterápico da Farmacopeia Bra-
sileira (Anvisa, 2011).
Atividade biológica
Inúmeras propriedades terapêuticas foram relatadas para os extratos e subs-
tâncias isoladas da erva-baleeira (Quadro 1), com destaque para a ação anti-infla-
matória em uso tópico.
Os sesquiterpenos α-humuleno e trans-cariofileno (50 mg/kg, via oral, 1 h) tam-
bém comprovaram atividade anti-inflamatória em outro modelo de experimentação,
reduzindo a formação de edema induzida por carragenina em ratos e em camun-
dongos por PAF (fator ativador de plaquetas), e por bradicinina. Entretanto, apenas
de alfa-humuleno após a propagação in vitro é importante porque esse sesquiter-
peno é responsável pela atividade antiinflamatória do óleo essencial de V. curassa-
vica utilizado na fabricação de fitoterápicos comercializados no Brasil (Santos, 2014).
Alfa-pineno
Alfa-humuleno
Alfa-santaleno
Limoneno
Tran s-alfa-trans-bergamotol
Beta-elemeno
Tran s-alfa-santalol
- 170 -
o alfa-humuleno reduziu o edema da pata do rato induzido por histamina (Fernan-
des et al., 2007). Nesse trabalho, observou-se que o alfa-humuleno ocasionava uma
redução da produção do fator de necrose de tumor TNFα, da interleucina IL-1β, da
prostaglandina PGE2, do óxido nítrico sintase iNOS e da ciclooxigenase COX-2. Além
disso, α-humuleno e trans-cariofileno também apresentaram efeito em modelos de
inflamação aguda. Ambos inibiram a ativação de NF-κB (fator nuclear κB) e a migra-
ção de neutrófilos induzidas por lipopolissacarídeo. O alfa-humuleno possibilitou
ainda a prevenção da produção de citocinas pró-inflamatórias: fator de necrose de
tumor TNF-α e interleucina IL-1β, bem como a suprarregulação in vivo de receptores
cinina B1 (Medeiros et al., 2007).
O alfa-humuleno apresentou também efeito anti-inflamatório no estudo de in-
flamação alérgica das vias respiratórias (Rogerio et al., 2009); em que este sesqui-
terpeno possui efeito preventivo (1,0 mg.mL-1 por aerossol por 22 dias) e terapêutico
(50 mg/kg por via oral diariamente), visto que reduziu significativamente o recruta-
mento de eosinófilos para o pulmão. Esta ação foi relacionada com a diminuição da
produção de muco, dos níveis de interleucina 5 (IL-5), CCL11 (eotaxina) e leucotrieno
B4 (LTB4) (mediadores da asma) e expressão de P-selectina, provavelmente através
da inibição da ativação dos fatores de transcrição, fator nuclear κB (NF-κB) e proteí-
na ativadora 1 (AP-1).
Extratos foliares obtidos por diversos métodos (Soxlet, extração simples
por solventes, hidrodestilação e extração supercrítica) apresentaram atividade
antibacteriana contra as bactérias Gram-positivas, Staphylococcus aureus e Bacillus
cereus (Michielin et al., 2009). O estudo de Hernandez et al. (2007) relatou que o
óleo essencial de V. curassavica proveniente do México apresenta atividade contra
bactérias Gram-positivas e Gram-negativas além de cinco cepas de fungos (Fusarium
sporotrichum ATCC NRLL 3299, Aspergillus niger, Trichophyton mentagrophytes,
Fusarium moniliforme e Rhyzoctonia solani).
O óleo essencial desta espécie também se mostrou ativo contra linhagens de bac-
térias resistentes, E. coli EC27 (com concentração inibitória mínima de 128 µg.mL-1) e
Staphylococcus aureus AS-ATCC25923 (com concentração inibitória mínima de 256
µg.mL1) (Matias et al. 2010a).
As cordiaquinonas (naftoquinonas) A, B, J e K isoladas do extrato diclorometâni-
co das raízes de Cordia curassavica apresentaram atividade antifúngica contra Cla-
dosporium cucumerinum, Candida albicans e propriedades tóxicas contra a larva do
mosquito Aedes aegypti (Ioset et al., 2000).
- 171 -
Quadro 1. Principais atividades biológicas relatadas para erva-baleeira (V. curassa-
vica Jacq.).
Atividade Substância/
Extrato Método Referência
Anti-inflamatória Alfa-humuleno e
Tran s-cariofileno
Edema da pata do rato Passos et
al., 2007
Edema induzido por carragenina Fernandes
et al., 2007
Inflamação aguda Medeiros
et al., 2007
Inflamação alérgica das vias respiratórias Rogerio et
al., 2009
Antifúngica Extrato etanólico Candida albicans e C. krusei Oliveira et
al., 2010
Antimicrobiana Óleo essencial
Bactérias Gram-positivas e Gram-
negativas e os fungos Fusarium
sporotrichum, Aspergillus niger,
Trichophyton mentagrophytes, Fusarium
moniliforme e Rhyzoctonia solani
Hernandez
et al., 2007
Antibacteriana Óleo essencial E. coli EC27 e Staphylococcus aureus Matias et
al., 2010
Antifúngica Cordiaquinonas
A, B, J e K
Cladosporium cucumerinum
e Candida albicans
Ioset et
al., 2000
Larvicida Óleo essencial Larvas do mosquito da
dengue (Aedes aegypti)
Santos et
al., 2006
Antialérgico Extrato etanólico Redução da secreção de histamina
induzida por ionóforo A23187
Oliveira,
2011
Antiulcerogênica Extrato etanólico Lesões gástricas induzidas por etanol
absoluto e etanol/ácido clorídrico
Roldão et
al., 2008
Anti-inflamatório
e antimiotóxico Ácido rosmarínico Contraveneno de cobra
(Bothrops jararacussu)
Ticli et
al., 2005
Antitumoral Óleo essencial e
extrato supercrítico
Células de pulmão, ovário, próstata,
da mama e melanoma
Quispe-
Condori,
2007
Antitumoral Extrato supercrítico
e etanólico
Tumor de mama (MCF-7) e células
de tumor ascítico de Ehrlich
Parisoto et
al., 2012
Antioxidante
Extratos de
folhas por Soxlet,
extração simples
por solventes,
hidrodestilação
e extração
supercrítica
Métodos DPPH, ABTS* e
radical ânion superóxido
Michielin
et al., 2011
* ABTS= ácido 2,2'–(3–etil benzotiazolin–6–sulfônico).
- 172 -
O efeito larvicida do óleo essencial de V. curassavica contra larvas do mosquito
da dengue (Aedes aegypti) foi relatado em dois trabalhos. No primeiro, foi obser-
vado 100% de mortalidade na presença de 500 e 250 ppm deste óleo, com concen-
tração letal para 50 % (CL50) das larvas de 97,7 ppm (Santos et al., 2006). A segunda
referência apresenta CL
50
de 87,7 ppm para óleo essencial, rico em cis-isolongifolano
(30 %) (Aciole, 2009).
O extrato etanólico das folhas de V. curassavica (30 µg/mL) apresentou efeito
antialérgico por reduzir a secreção in vitro de histamina de mastócitos de rato (visto
que a secreção de mastócitos e liberação de histamina caracteriza o início do proces-
so alérgico) induzidas por ionóforo A23187 (redução de 22%), concanavalina A (24%)
e uma substância 48/80 (21%). Este extrato também inibiu a secreção de histamina
de mastócitos de cobaia e hamster. Em ratos, o tratamento oral com o extrato (300
mg/kg) reduziu em cerca de 36% a secreção de histamina induzida por ionóforo
A23187 (Oliveira et al., 2011).
Sertié et al. (1991) mostraram que o extrato etanólico 70% das folhas de Cordia
verbenacea, liofilizado ao nível de 1,24 mg/kg via oral em ratos, possuía um impor-
tante efeito de proteção à mucosa gástrica, reduzindo em 34% o número de lesões
gástricas produzidas por estresse. O uso tradicional desta espécie como protetora
gástrica foi comprovado também pelo estudo de Roldão et al. (2008), os quais de-
monstraram que o extrato etanólico foi ativo (125 mg/kg) contra lesões gástricas
induzidas por etanol absoluto e etanol/ácido clorídrico em camundongos.
Ticli et al. (2005) observaram efeito anti-inflamatório e antimiotóxico contra-
veneno de cobra (Bothrops jararacussu), do ácido rosmarínico, isolado de extrato
metanólico de erva-baleeira.
Extrato supercrítico e óleo essencial obtido por hidrodestilação (concentrações
maiores que 0,25 µg /mL) apresentaram-se citostáticos para células de câncer de pul-
mão, ovário, próstata, da mama e melanoma. Efeito citolítico também foi observado,
para concentração de 250 µg/mL de extrato e óleo essencial, exceto para células de
câncer de próstata (Quispe-Condori, 2007). Parisoto et al. (2012) também analisaram
a atividade antitumoral de extratos etanólico e supercrítico (CO2 a 300 bar e 50°C)
utilizando células de tumor de mama (MCF-7) e células de tumor ascítico de Ehrlich.
Ambos os extratos apresentaram elevado potencial para reduzir o crescimento de
tumor em ratos (150 mg/kg para extrato etanólico), mostraram citotoxicidade (150
mg/kg para extrato supercrítico) e foram capazes de induzir apoptose em células de
tumor, sendo o efeito mais pronunciado no extrato supercrítico para todos os ensaios
realizados. Este resultado foi correlacionado com os altos teores de alfa-humuleno
e trans-cariofileno presentes no extrato supercrítico. Sugeriu-se também que me-
canismo de ação da ação antitumoral observada foi apoptótico através da inibição
dos níveis de ciclooxigenase-2, que resultaria em inibição da sobrevivência celular
e indução de apoptose.
Michielin et al. (2011) avaliaram o potencial antioxidante de extratos de folhas de
erva-baleeira obtidos por diferentes métodos (Soxlet, extração simples por solven-
tes, hidrodestilação e extração supercrítica). No ensaio com DPPH, 95% de ativida-
de antioxidante foi observada em extrato acetato de etila obtido por Soxhlet (IC50 =
9,2 µg/mL), resultado comparável ao da rutina (flavonoide padrão). Contudo, o óleo
- 173 -
essencial apresentou a menor atividade antioxidante (6,9%) neste teste. Utilizando
o método ABTS, a maior atividade antioxidante foi apresentada pelo extrato aquoso
e extrato 25% etanol/água por Soxhlet. Com o método do radical ânion superóxido,
os extratos com 25% e 50% de mistura aquosa (por Soxhlet) apresentaram atividade
superior à da quercetina, com IC
50
de 373 e 286 µg/mL, respec tivamente, comparado
ao de 429 µg/mL do padrão.
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- 176 -
Figura 1. Xylopia ochrantha, flores (Fonte: M.G.Santos).
Valéria Costa Rocha Viana
Ricardo dos Santos Esteves
Xylopia ochrantha
Mart.
Família
Annonaceae
Principais sinônimos
Não há.
- 177 -
Figura 2. Xylopia ochrantha, fru-
tos em deiscência (Fonte: M.G.
Santos).
Nomes populares
Coração, imbiú-prego; pindaíba (Pontes Pires & J ohnson, 2020; Santos et al., 2009).
Distribuição geográfica
É uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo no domínio fitogeográfico na Ma-
ta Atlântica em vegetação da Floresta Ombrófila e Restinga. Possui distribuição nos
estados da Bahia, Pernambuco (possivelmente), Distrito Federal, Espírito Santo e Rio
de Janeiro (Pontes Pires & Johnson, 2023; Santos et al., 2009).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Na Restinga de Carapebus (RJ) há relatos do uso de sua madeira para a fabrica-
ção de cabos de ferramentas (Santos et al., 2009).
- 178 -
Figura 3. Estrutura química das substâncias majoritárias do óleo essencial das folhas (A) e
frutos (B) de Xylopia ochrantha.
Composição química
Albuquerque (2013) obteve os óleos essenciais das folhas e frutos através de ex-
tração por hidrodestilaç ão, revelando 36 substâncias ao todo, das quais germacreno
D (20,36%), bicicl og ermac re no (17,54%) e si lv est re no (10,54%) nas folhas, α-felan dreno
(26,1%), β-felandreno (13,06%) e sabineno (12,28%) nos frutos, foram os principais
componentes identificados.
Araújo et al. (2019) obtiveram o óleo essencial das folhas frescas via extração
por hidrodestilação em aparato tipo Clevenger modificado e teve 27 substâncias
identificadas com predominância de sesquiterpenos (68,55%). As substâncias ma-
joritárias encontradas foram biciclogermacreno (25,18%) e D germacreno (20,90%).
Outras substâncias como β-pineno (8,07%), silvestreno (6,50%) e E-cariofileno (6,23%),
também foram relevantes. Esses dados corroboram com o do estudo anterior, mos-
trando o efeito da sazonalidade, visto que os dois autores fizeram coleta da espécie
no mesmo ambiente.
beta-felandreno
Germacreno D
Silvestreno
(A)
Sabineno
Biciclogermacreno
alfa-felandreno
(B)
- 179 -
Figura 4. Estrutura química das substâncias majoritárias do óleo essencial das folhas da
Xylopia ochrantha.
Já Viana et al. (2023) obtiveram o óleo essencial extraído das folhas secas pelo
método de hidrodestilação, com 90,3% de sua composição química identificada
e 24 substâncias reveladas. Na amostra analisada também houve predominância
de sesquiterpenos (69,8%). Os componentes majoritários foram o germacreno D
(17,8%), biciclogermacreno (17,4%) e δ-elemeno (13,9%). Ouras substâncias como
β-cariofileno (6,9%), β-felandreno (5,3%), sabineno (4,6%) e β-pineno (4,5%) tam-
bém foram significativas na amostra. Os resultados estão em consonância com os
dois estudos anteriores e revelam que a espécie é rica em substâncias da classe
dos sesquiterpenos.
No extrato hexânico foliar, os fitosteróis campesterol, estigmasterol e gama-
sitosterol, além dos flavonoides majoritários quercitrina e luteolina-7-O-rutinosídeo,
encontrados no extrato de acetato de etila foliar, foram identificados através de
análises cromatográficas. Foram realizadas análises de cromatografia em camada
delgada, que demonstraram a presença de terpenos, alcaloides e cumarinas, sendo
estas classes de substâncias representativas da espécie (Albuquerque, 2013).
Silvestreno
Germacreno D
Biciclogermacreno
E-cariofileno
beta-pineno
- 180 -
Figura 6. Estrutura química de flavonoides do extrato em acetato de etila das folhas de
Xylopia ochrantha.
Ações farmacológicas
O óleo essencial e extrato hexânico das folhas de Xylopia ochrantha apresenta-
ram atividade contra Staphylococcus aureus ATCC 29213, com uma Concentração
Inibitória Mínima (CIM) de 250 µg/mL para ambos. Os extratos em etanol, dicloro-
metano, acetato de etila e butanol não apresentaram atividade contra esta cepa.
O óleo essencial também mostrou atividade contra Staphylococcus epidermidis,
Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus haemolyticus. O
extrato em diclorometano mostrou atividade contra Staphylococcus aureus resis-
tente à oxicilina (ORSA) presente no sangue com CIM de 128 µg/mL. O extrato em
acetato de etila demonstrou atividade contra duas cepas de ORSA sanguíneo, ORSA
lavado broncoalveolar, ORSA articular, Staphylococcus epidermidis, Escherichia coli,
Staphylococcus capitis, Staphylococcus hominis e Enterococcus faecalis com CIM de
512 µg/ mL. O extrato em etanol demonstrou atividade citotóxica contra células
de tumor hipofisário (AtT20), sendo possível observar uma diminuição significativa
Figur a 5. Estrutura quími ca de fitosteróis do ex trato hexânico das folhas d e Xylopia ochrantha.
Luteolina-7-O-rutinosídeoQuercitrina
HO
H3C
OH
OH OH
OH
OH
OH
O
O
O
HO
HO
HO
HO
OH
OH
OH
OH
OH
O O
O
O
O
O
CH3
Estigmasterol Gama-sitosterolCampesterol
HO
CH3
CH3
CH3
H
H
CH3
CH3
CH3
H
H
HO
CH3
CH3
CH3
H
H
CH3
CH3
CH3
H
H
HO
CH3
CH3
CH3
H
H
CH3
CH3
CH3
H
H
- 181 -
da proliferação e viabilidade celular, quando foi capaz de diminuir a viabilidade das
mesmas em cerca de 30%, após 24 horas de incubação, na concentração de 50 µg/
mL, e em cerca de 25%, na concentração de 100 µg/mL. O óleo essencial e extratos
das folhas de X. ochrantha demonstraram um interessante potencial antioxidante,
apresentando valores acima de 0,40 mmol TE/g (Albuquerque, 2013).
Atividades biológicas
A nanoemulsão do óleo essencial de X. ochrantha mostrou atividade frente a
caramujos adultos (tamanho 10-12 mm) da espécie Biomphalaria glabrata, apresen-
tando Concentração Letal CL
50
de 50,91 ppm e CL
90
de 85,46 ppm em 24 horas. Em 48
horas, a CL50 foi de 47,41 ppm e a CL90 foi de 78,48 ppm. No mesmo ensaio, moluscos
juvenis (tamanho 3-5 mm) foram testados e observou-se mortalidade de 96,7 e 100%
na concentração de 78 ppm (CL50/48h) e 47 ppm (CL90/48h), respectivamente, em 24
horas. Na espécie B. straminea, a nanoemulsão causou mortalidade de 100 e 90%
em 24 horas em moluscos juvenis (3-5 mm), nas concentrações de 78 e 32 ppm, res-
pectivamente. Em 48 horas, a mortalidade a 32 ppm aumentou para 93,3%. Adultos
(6-7mm) desta espécie apresentaram mortalidade de 100% a 47 ppm e 93,3% a 32
ppm em 24 horas. Já para a espécie B. tenagophila, adultos (6-7 mm) e juvenis (3-5
mm) exibiram mortalidade de 100% na concentração de 47 ppm em 24 horas. Adul-
tos maiores (8-10 mm) exibiram menores taxas de mortalidade, sendo 3,3%, 26,7% e
46,7% para as espécies B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea, respectivamente.
Foi observado 100% de inibição na oviposição das três espécies em caramujos com
2 dias de idade nas concentrações de 47 ppm. Para os adultos com 5 dias de idade,
a taxa de 100% manteve-se para as espécies B. glabrata e B. straminea e de 70,4%
para B. tenagophila em 48 horas (Araújo et al., 2019).
Viana et al. (2023) também testaram a nanoemulsão feita a partir do óleo es-
sencial das folhas de X. ochrantha frente a larvas L3 de Ae. aegypti. A Concentração
Letal CL
50
encontrada foi de 192,5 μg/mL (192,5 ppm) em 48h. Para verificar o efeito
tóxico em organismo aquático não-alvo, 200 μg/mL foram aplicados oralmente no
modelo Danio rerio. Como resultado, não ocorreram mortes, nem nenhum sinal clí-
nico (equilíbrio, natação, função ventilatória, pigmentação da pele ou anormalidade
visível) ou mudança de peso após 48 h de experimentação. Esse estudo possibilita a
prospecção para outros organismos além dos aquáticos e indica que possivelmente
não há toxicidade em mamíferos com um resultado concreto.
Referências
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Xylopia ochranta (Mart.). Dissertaçã o de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em Ciên cias
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Carapebus, Rio de Janeiro, Brasil. Rev Biol Neotrop. 6(1): 35-54.
Viana, V.C.R.; F.P. Machado, F.P.; Esteves, R.; Duarte, J.A.D.; Enríquez, J.J.S.; Campaz, M.L.M.;
Oliveira, E.E.; Santos, M.G.; Ricci-Junior, E.; Ruppelt, B.M. & Rocha, L. 2023. Green
Nanobioinsecticide of a Brazilian endemic plant for the Aedes aegypti control. Sustainable
Chemistry and Pharmacy 32: 100992.
- 183 -
Figura 1. Zanthoxylum caribaeum, ramos exibindo os espinhos (Fonte: M.G.Santos).
Jeane Nogueira
Zanthoxylum caribaeum
Lam.
Família
Rutaceae
Principais sinônimos
Fagara caribaea (Lam.) Krug & Urb.; Fagara elephantiasis (Macfad.) Krug & Urb.;
Zanthoxylum elephantiasis Macfad.
- 184 -
Figura 2. Zanthoxylum caribaeum, frutos (Fonte: M.G.Santos).
Nomes populares
Arruda-brava, casca-preciosa, guando-do-mato, laranjeira-do-mato, limão-b ravo,
limãozinho, mamica-de-porca, mamiqueira, mamiqueira-fedorenta (Da Silva et al.,
2008; Jorge Inácio Barcelos, comunicação pessoal; Nogueira, 2014, Pirani, 2002).
Distribuição geográfica
Espécie amplamente distribuída na região neotropical. No Brasil, ocorre em
todos os estados, nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Cerrado e
Mata Atlântica. É encontrada nas vegetações de Cerrado (lato sensu), Floresta Ciliar
ou Galeria, Floresta de Terra Firme, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional
Semidecidual, Floresta Ombróf ila, Floresta Ombrófila Mista e Restinga (Pirani, 2002;
Pirani & Gropo, 2023).
- 185 -
Figura 3. Zanthoxylum caribaeum, folha exibindo as glândulas de óleos (pontuações translú-
cidas) (Fonte: M.G. Santos).
Informações etnobotânicas ou botânica econômica
Não há relatos.
Composição química
O primeiro estudo fitoquímico desta espécie foi relatado por Antonaccio &
Gottlieb (1959), de espécime coletada na restinga da Barra da Tijuca, Rio de Janei-
ro. Neste trabalho, Detoni et al. (2009) descreveram a presença das substâncias
triterpeno lupeol (1) e lignana sesamina (2). Nos estudos de Nogueira (2014), es-
pécimes coletados no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba apresentaram
como principais constituintes silvestreno (3), muurola-4,5-trans-dieno (4), isodau-
ceno (5) e α-pineno (6).
- 186 -
Figura 4. Estruturas de substâncias encontradas em Zanthoxylum caribaeum.
Atividade biológica
Estudo realizado p or Nogueira (2014), o óleo essencial desta espécie apresentou
atividade inseticida frente a ninfas de quinto estágio de Rhodnius prolixus, inseto vetor
da doença de Chagas, causando mortalidade, malformação e paralisia dos insetos.
Foi também avaliada a atividade inseticida frente aos insetos pragas de lavoura
Oncopeltus fasciatus e Dysdercus peruvianus, mostrando que ninfas de 4º e 5º instar
do inseto praga de lavoura do algodão Dysdercus peruvianus, com a aplicação tópica
do óleo puro e em diferentes concentrações, resultou em perturbações no processo
de metamorfose, no período intermuda, causando deformações e alta t axa de morta-
lidade. Enquanto nos insetos Oncopeltus fasciatus houve 100% de mortalidade com a
aplicação do óleo puro e nas concentrações de 500, 250, 125mg /mL de óleo essencial.
(1)
(3)
(5)
(2)
(4)
(6)
- 187 -
Este mesmo estudo mostra também que óleo essencial apresenta atividade
carrapaticida. Nos b ioensaios com óleo essencial das folhas de Zanthoxylum caribaeum,
realizados para avaliar a toxicidade frente às teleóginas e ovos de Rhipicephalus
(B) microplus utilizando o Teste de Imersão de Adultos, observou-se mortalidade
das fêmeas ingurgitadas (teleóginas), bem como a inibição da ovipostura e da sua
eclodibilidade.
Outro estudo para verificar a atividade biológica desta espécie foi realizado por
Detoni et al. (2009). Foi mostrado que o óleo essencial desta espécie possui atividade
frente às bactérias e fungos, tais como Staphylococcus aureus, Micrococcus luteus,
Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Salmonella cholerea-suis, Trichophytom
mentagrophytes e Aspergillus niger.
Referências
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Zanthoxylum caribaeum Lam.
Ilustração: Linamar Esposito
- 189 -
SOBRE OS AUTORES
- 189 -
ADRIANA PASSOS OLIVEIRA
Professora Adjunta, Departamento de Fármacos e Medicamentos, Faculdade de Far-
mácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (passosoliv@hotmail.com).
ALICE SATO
Professora Associada, Departamento de Botânica, Laboratório de Cultura de Tecidos
Vegetais, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (alicesato@unirio.br).
ALINE VIEIRA SANTOS
Doutora em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos pelo Programa de Pós-graduação em
Biotecnologia Vegetal, Universidade Federal do Rio de Janeiro (avs.ufs@gmail.com).
ALPHONSE KELECOM
Professor Titular, Laboratório de Química Bio-orgânica, Setor de Radiobiologia /
GETA – Grupo de Estudos em Temas Ambientais, Departamento de Biologia Geral,
Universidade Federal Fluminense (lararapls@hotmail.com).
ANNA CARINA ANTUNES DEFAVERI
Centro de Responsabilidade Socioambiental (CRS), Instituto de Pesquisa Jardim Bo-
tânico do Rio de Janeiro (anna.defaveri@gmail.com).
ARTHUR LUIZ CORRÊA
Professor da Universidade Estácio de Sá (arthur_farm@yahoo.com.br).
BARBARA GOMES LIMA
Instrutora na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, Doutora em Biotecnologia
Vegetal e Bioprocessos pelo Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Vegetal,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (bglimafarm@gmail.com).
BETTINA MONIKA RUPPELT
Professora Associada, Laboratório de Tecnologia em Produtos Naturais, Faculdade
de Farmácia, Universidade Federal Fluminense (bettinaruppelt@id.uff.br).
- 190 -
CAIO PINHO FERNANDES
Professor Adjunto, Laboratório de Nanobiotecnologia Fitofarmacêutica, Departa-
mento de Ciências Biológicas e da Saúde, Colegiado de Ciências Farmacêuticas, Uni-
versidade Federal do Amapá (caio_pfernandes@yahoo.com.br).
DIOGO FOLLY GOMES ANDRADE
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Vegetal e Bioproces-
sos, Universidade Federal do Rio de Janeiro (diogofolly@hotmail.com).
ELIZABETH VALVERDE MACEDO
Professora Associada do Depar tamento de Tecnologia Farmacêutica da Universidade
Federal Fluminense (bethvalverde1@gmail.com).
FERNANDA BORGES DE ALMEIDA
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Unesp -
Campus de Araraquara e docente temporária do curso de graduação em Farmácia
da Unesp - Câmpus de Araraquara (borgesdealmeida.f@gmail.com).
FRANCISCO PAIVA MACHADO
Doutor em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos pelo Programa de Pós-graduação
em Biotecnologia Vegetal, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor Substi-
tuto da Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Fluminense, Pós-doutorando
do Laboratório de Tecnologia em Produtos Naturais da Faculdade de Farmácia, Uni-
versidade Federal Fluminense (fmachado@id.uff.br).
GABRIEL ROCHA CALDAS
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Universida-
de de São Paulo, USP, Brasil (gabrielcaldas@usp.br).
GISELE DA SILVA BOTAS CRUZ
Doutora em Ciências pelo Instituto de Pesquisa de Produtos Naturais (IPPN) da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Professora do Instituto Macapaense de
Melhor Ensino Superior (giselebotas@gmail.com).
HILDEGARDO SEIBERT FRANÇA
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo
(IFES), Campus Vila Velha (hildegardo.franca@ifes.edu.br).
JEANE NOGUEIRA
Doutora em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos pelo Programa de Pós-graduação
em Biotecnologia Vegetal, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professora Ad-
junta do Centro Universitário Serra dos Órgãos (jeanogueira@hotmail.com).++++++
- 191 -
JONATHAS FELIPE REVOREDO LOBO
Mestre em Química pelo programa de Pós-graduação em Química da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Técnico químico do laboratório de Ressonância Magnética
Nuclear do Cenpes-Petrobras (jonnyuff@gmail.com).
JORGE ANDRES DUARTE DUARTE
Doutorando no Programa de Ciências e Biotecnologia, Universidade Federal Flumi-
nense (andres_duarte@id.uff.br).
LEANDRO MACHADO ROCHA
Professor Titular, Laboratório de Tecnologia em Produtos Naturais, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil (leandromr@id.uff.br).
LUIS ARMANDO CANDIDO TIETBOHL
Doutor pelo Programa de Pós graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para S-
de da Universidade Federal Fluminense (luiscandidot@yahoo.com.br).
LUISA DOS REIS FORAIN
Mestranda no programa de Mestrado Profissional em Biodiversidade em Unidades
de Conservação da Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio
de Janeiro, Bióloga da Empresa Biovert, Horto Carlos Toledo Rizzini, Bosque da Bar-
ra, RJ (forainluisa@gmail.com).
MARCELO GUERRA SANTOS
Professor Associado, Laboratório de Biodiversidade FFP-UERJ, Faculdade de Forma-
ção de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (marceloguerrasan
tos@gmail.com).
MARIA CAROLINA ANHOLETI
Professora Adjunta, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Fluminense (ca
rolanholeti@gmail.com).
PAOLA DE SOUZA SANCHES
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Vegetal e Bioproces-
sos, Universidade Federal do Rio de Janeiro (paolasanches@id.uff.br).
RICARDO DIEGO DUARTE GALHARDO DE ALBUQUERQUE
Doutor pelo Programa de Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos da Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro, Professor da Universidade de Vassouras (ricardo-diego-cf@
hotmail.com).
- 192 -
Zanthoxylum caribaeum Lam.
Ilustração: Linamar Esposito
RICARDO DOS SANTOS ESTEVES
Doutor pelo Programa de Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos da Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (ricardoesteves@ufrj.br).
RODRIGO ALVES SOARES CRUZ
Professor do curso de farmácia e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Far-
macêuticas (PPGCF e em Inovação Farmacêutica (PPGIF) da Universidade Federal do
Amapá (r.a.s.cruz@gmail.com).
SANDRA ZORAT CORDEIRO
Departamento de Botânica, Herbário Prof. Jorge Pedro Pereira Carauta (HUNI), Uni-
versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (sandrazorat@hotmail.com).
SELMA RIBEIRO PAIVA
Professora Titular, Departamento de Biologia Geral, Instituto de Biologia, Universi-
dade Federal Fluminense (selmapaiva@id.uff.br).
ULRICH PRIVAT AKENDENGUÉ MOUSSAVOU
Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para a Saú
-
de, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Fluminense (privanova@yahoo.fr).
VALÉRIA COSTA ROCHA VIANA
Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para a
Saúde, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Fluminense, Professora Subs-
tituta da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (valeria
viana@id.uff.br).
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