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Maputo, a cidade dividida: fragmentação e (re)qualificação

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Maputo – capital moçambicana – expandiu-se de forma vertiginosa em meio ao processo de independência tardia (1975). Sua população multiplicou cerca de doze vezes durante as décadas de 1950 à 2020, atingindo mais de 1,1 milhão de habitantes. Centro político, comercial e financeiro do país, o tecido urbano da capital é palco de complexos processos de crescimento econômico e segregação espacial desencadeados nas últimas décadas. A região central, nomeada localmente de “cidade de cimento”, concentra infraestruturas modernas e amplamente diversificadas. Praças e parques, condomínios de luxo cercados de modernos escritórios, hotéis de padrão internacional, shoppings e um conjunto de obras faraônicas – erguidas a cifras bilionárias – dão o tom paisagístico de um progresso induzido e concentrado em favor de uma pequena elite. Todavia, para além deste “reduto”, cerca de 92% da população habita a parcela periférica de Maputo, popularmente designada como “cidade de caniço”. Estes, por sua vez, encontram-se alocados em habitações muito precarizadas, produzidas de maneira informal pelos próprios moradores e, em muito, submetidos à ausência completa de infraestruturas e serviços públicos. Questões que contribuem diretamente para que Moçambique possua o nono pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Desta forma, o presente artigo – elaborado a partir de trabalhos de campo, discussões interdisciplinares e diálogos empreendidos no âmbito de projeto científico internacional entre universidades do Brasil e de Moçambique – busca apresentar e interpretar o conjunto de nexos urbanos que fazem de Maputo uma cidade fragmentada e complexa, repleta de contínuas transformações socioterritoriais em que emergem múltiplos embates vinculados à segregação, gentrificação, especulação imobiliária, dentre outros.
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DOI: 10.14393/SN-v35-2023-65951
Recebido: 09 Junho, 2022 |Aceito: 24 Agosto, 2022 | Publicado: 29 Novembro, 2022
1
1 Universidade Federal de Goiás - UFG, Goiânia, GO, Brasil. joaostacciarini@ufg.br
2 Universidade Federal de Goiás - UFG, Goiânia, GO, Brasil. eguimar@ufg.br
3 Universidade Eduardo Mondlane UEM, Maputo, Moçambique. helsio.azevedo@hotmail.com
Soc. Nat. | Uberlândia, MG | v.35 | e65951 | 2023 | ISSN 1982-4513
Artigos
Maputo, a cidade dividida: fragmentação e
(re)qualificação
Maputo, the divided city: fragmentation and (re)qualification
João Henrique Santana Stacciarini1
Eguimar Felício Chaveiro2
Helsio Amiro Motany de Albuquerque Azevedo3
Palavras-chave:
Urbano
Crescimento
Segregação
Moçambique
Resumo
Maputo capital moçambicana expandiu-se de forma vertiginosa em meio ao processo
de independência tardia (1975). Sua população multiplicou cerca de doze vezes durante
as décadas de 1950 à 2020, atingindo mais de 1,1 milhão de habitantes. Centro político,
comercial e financeiro do país, o tecido urbano da capital é palco de complexos processos
de crescimento econômico e segregação espacial desencadeados nas últimas décadas. A
região central, nomeada localmente de “cidade de cimento”, concentra infraestruturas
modernas e amplamente diversificadas. Praças e parques, condomínios de luxo cercados
de modernos escritórios, hotéis de padrão internacional, shoppings e um conjunto de
obras faraônicas erguidas a cifras bilionárias dão o tom paisagístico de um progresso
induzido e concentrado em favor de uma pequena elite. Todavia, para além deste “reduto”,
cerca de 92% da população habita a parcela periférica de Maputo, popularmente
designada como “cidade de caniço”. Estes, por sua vez, encontram-se alocados em
habitações muito precarizadas, produzidas de maneira informal pelos próprios moradores
e, em muito, submetidos à ausência completa de infraestruturas e serviços públicos.
Questões que contribuem diretamente para que Moçambique possua o nono pior Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Desta forma, o presente artigo
elaborado a partir de trabalhos de campo, discussões interdisciplinares e diálogos
empreendidos no âmbito de projeto científico internacional entre universidades do Brasil
e de Moçambique busca apresentar e interpretar o conjunto de nexos urbanos que fazem
de Maputo uma cidade fragmentada e complexa, repleta de contínuas transformações
socioterritoriais em que emergem múltiplos embates vinculados à segregação,
gentrificação, especulação imobiliária, dentre outros.
Keywords
Urban
Growth
Segregation
Mozambique
Abstract
Maputo - the Mozambican capital - has expanded itself vertiginously in the midst of the
late independence process (1975). Its population has been multiplied about twelve times
during the decades from 1950 to 2020, reaching more than 1.1 million inhabitants. The
political, commercial, and financial center of the country, the urban fabric of the capital
is the stage for complex processes of economic growth and spatial segregation triggered
in recent decades. The central region, known locally as the "cement city", concentrates
on modern and widely diversified infrastructures. Squares and parks, luxury condos
surrounded by modern offices, international standard hotels, shopping, and a set of
pharaonic constructions - built at a cost of billions - set the landscape tone of progress
induced and concentrated in favor of a small elite. However, beyond this "stronghold",
around 92% of the population lives in the peripheral part of Maputo, popularly known
as the "reed city". These, however, are located in very precarious housing, produced
informally by the residents themselves, and subjected to the complete absence of
infrastructure and public services. These issues contribute directly to the fact that
Mozambique has the ninth-worst Human Development Index (HDI) on the planet. In
this way, the present article - elaborated from fieldwork, interdisciplinary discussions
and dialogues undertaken within the scope of an international scientific project between
universities in Brazil and Mozambique - seeks to present and interpret the set of urban
connections that make Maputo a fragmented and complex city, full of continuous socio-
territorial transformations in which multiple clashes emerge linked to segregation,
gentrification, real estate speculation, among others.
STACCIARINI; CHAVEIRO Maputo, a cidade dividida
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INTRODUÇÃO
Moçambique é considerado um dos países mais
pobres do mundo. Possui o nono pior Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) na lista global
que avalia 189 nações (PNUD, 2020).
Aproximadamente metade dos seus 31 milhões
de habitantes vive abaixo da linha da pobreza
extrema. Ao nascer, a população enfrenta uma
esperança de vida de apenas 60 anos, tendo
como média geral de escolaridade, menos de dez
(PGM, 2022).
O território moçambicano é permeado por
ambiguidades estruturais. Relações capitalistas
rudimentares vão se entrelaçando com grandes
projetos geopolíticos. Empreendimentos
multinacionais de uso e apropriação do território
minerais, agrícolas e industriais conflitam
com a grande dificuldade de reprodução das
necessidades primárias dos habitantes locais
(FREI, 2017; MACARINGUE, 2018;
MUACUVEIA, 2019).
Assim, pensar a capital moçambicana
(Maputo) a partir de uma perspectiva de cidade
dividida implica abordar a complexidade das
temáticas que envolveram o crescimento desta
metrópole (JENKINS, 2000; ANDERSEN et al.,
2015; MALOA; NASCIMENTO JÚNIOR, 2019).
Diferentes fenômenos culturais, sociais,
econômicos, políticos e ambientais
contribuíram e materializam-se na morfologia
de espaço urbano que hoje “dá vida” às múltiplas
paisagens e interrelações que nela se
desenvolvem.
Figura 1 Localização de Maputo, Moçambique e África
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Historicamente, as cidades moçambicanas
surgiram e cresceram em meio à matriz colonial
portuguesa (MELO, 2013). O território foi sendo
organizado para viabilizar o fluxo de exploração
e exportação de recursos naturais. Os espaços
urbanos buscavam atender aos anseios dos
colonos que controlavam a administração
estatal, enquanto colonizados escravos, negros
e assimilados orbitavam este núcleo vivendo
em moradias precárias nas regiões periféricas.
Para o pesquisador moçambicano Joaquim
Miranda Maloa Professor de Geociências da
Universidade Rovuma data daqui a gênese de
longos processos de segregação e exclusão
socioespacial, mais tarde reconhecido
popularmente pelo binômio “cidade do cimento”
versus “cidade do caniço” (MALOA, 2019).
As transformações políticas, normativas e
institucionais relacionadas ao processo de
“colonialismo tardio” (1930/70) contribuíram
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para grande ampliação do processo de
urbanização em Moçambique sobretudo de sua
capital, Maputo. Em um curto intervalo, entre
as décadas 1950/70, a população multiplica por
quarto, passando de 93 mil à 378 mil habitantes
(INE, 2017).
No período pós-independência (1975),
Moçambique conhece significativa
desestruturação do setor político-
organizacional. Com a saída dos colonizadores e
“dirigentes” portugueses, o país passa por breve
experiência socialista a socialização de
habitações, terrenos urbanos e infraestruturas
que a partir de então são propriedades do Estado
a serviço da população.
Todavia, a precarização de técnicas em
conjunto com problemáticas históricas de
produção agrícola, tornavam o meio rural
extremamente repulsivo, contribuindo para que
grande contingente de “miseráveis” chegasse a
Maputo em busca de novas oportunidades. O
resultado é um verdadeiro frenesi na capital que,
sob forte ritmo de crescimento, passa a abrigar
1,1 milhão de habitantes no ano de 2017 cerca
de doze vezes o montante ali instalado na década
de 1950 (INE, 2017).
Atualmente, Maputo não é apenas capital e
maior cidade de Moçambique, mas também o
principal centro político, financeiro, corporativo
e mercantil do país; responsável por parcela
expressiva do PIB nacional. Maputo hospeda
infraestruturas essenciais à organização e
gerenciamento das demandas nacionais, como o
porto de Maputo segundo maior do continente
africano e o aeroporto internacional, que
atende aproximadamente 900 mil passageiros
anualmente (AMZ, 2022).
Todavia, essa diversificação econômica e
importância política convive intimamente com a
expansão e densificação das periferias.
Segregadas socio-espacialmente, estas vão se
(re)desenhando em uma dinâmica própria de
autoprodução e se estabelecendo, em sua
maioria, longe dos olhos do poder público. Em
contradição aos luxuosos prédios comerciais e
aos condomínios residenciais do centro de
Maputo, as periferias são tomadas por
habitações muito precárias, relegadas à
completa ausência de serviços básicos
revelando-se como verdadeiras manchas de
(re)produção da miséria.
Estas desigualdades históricas são
reforçadas e ampliadas ainda mais no contexto
neoliberal, tendo como resultado a
materialização de emblemáticas paisagens em
uma Maputo dicotômica uma verdadeira
“cidade dividida”, fragmentada e desigual.
A “CIDADE DE CIMENTO”: organização,
infraestrutura e centralidade econômica
A região central de Maputo concentra grande
parte das atividades econômicas do circuito
superior (SANTOS, 2008). Muito distante da
realidade nacional país com um dos menores
IDH do planeta deslocar-se por esta porção do
território urbano maputense traz inúmeras
referências de paisagens encontradas em outras
cidades de países economicamente mais
afortunados.
Fruto de um projeto de urbanização colonial
e morada destes até poucas décadas, a porção
central da cidade continua em constante
processo de estruturação e qualificação (figura
2). Esta fração do espaço é dotada de vasta oferta
de infraestrutura. Ruas asfaltadas e
geometricamente distribuídas, rede elétrica,
água encanada, modernas redes de
telecomunicações, ampla diversificação
comercial, centros de serviços bem
desenvolvidos (saúde, educação e cultura) e uma
rica arborização que se estende das ruas aos
parques e praças de primorosa beleza estão
entre os atributos que despertam atenção e
ofertam conforto aos que por ali transitam.
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Figura 2 Organização e infraestrutura da “cidade de cimento”
Fonte: Rodrigues (2020) e MMFF (2019). Elaborado pelos autores (2022).
Popularmente designada como “cidade de
cimento”, este fragmento ocupa
aproximadamente 8% do território municipal de
Maputo (JORGE; MELO, 2014). Para além dos
parques e praças, emergem-se hospitais, escolas,
shopping centers, redes de fast-food globalmente
conhecidas, modernos centros esportivos,
cinemas e clubes, dentre inúmeras outras opções
disponíveis à pequena parcela da população que
por estas podem pagar. Jorge e Melo (2014)
indicam que tal diversidade paisagística e
cultural, em muito, se inspiram e remetem ao
padrão “ocidentalizado” do viver.
Parte expressiva da verticalização na região
central abrigo à escritórios, bancos e
corporações de setores estratégicos ao
desenvolvimento do capitalismo moçambicano.
Áreas residenciais circunvizinhas
verticalizadas ou não são destinadas (ainda
que não formalmente) aos habitantes de maior
poder aquisitivo. Geralmente empresários,
servidores públicos do alto escalão, bancários ou
outros cargos vinculados à organização das
engrenagens econômicas e burocráticas do país.
Os condomínios horizontais de localização e
estrutura privilegiada contam com
estacionamentos, piscinas, academias,
mobiliários nobres e diferenciados padrões de
acabamento (figura 3). Em um cenário de
desigualdade, emerge elementos paisagísticos
voltados à proteção. Muros, cercas, guaritas e
seguranças contribuem como “barreiras físicas”,
enquanto outros elementos mais subjetivos
como os ideais de meritocracia; presentes não só
aqui, mas em grande parte da sociedade
mundial contemporânea garantem a
manutenção do “status quo” pró-normalização
da situação de desigualdade.
Figura 3 Condomínios residenciais de alto padrão e hotéis de luxo
localizados na região privilegiada de Maputo
Fonte: Real Estate Imobiliária (2021) e Rodrigues (2020). Elaborado pelos autores (2022).
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Hotéis de luxo com infraestruturas e vistas
exuberantes recebem estrangeiros que visitam
Maputo um público que vai desde executivos a
negócios até turistas em busca de passeios e
diversão. Enquanto a desvalorização cambial
favorece o turismo internacional, a
desregulamentação trabalhista e baixa
remuneração da mão-de-obra moçambicana
atraem empresários (STACCIARINI;
STACCIARINI, 2020). Elementos que
contribuem para que investimentos em ramos
voltados à exportação ou ainda atividades que
trabalhem com o público internacional, como o
turismo tenham alta liquidez e retorno
financeiro.
Pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional
do Turismo (INATUR) e apresentadas por
Teixeira (2017) apontam que Moçambique vem
expandindo sucessivamente o volume de
turistas recebidos ao longo das últimas décadas
atingindo o ápice de 1,6 milhões no último
levantamento anual (2017). Dados obtidos no
relatório governamental “Estatísticas do
Turismo Moçambicano 2016/18” (ETM, 2018)
revelam que a capital acolhe 41% de todos os
viajantes nacionais e 69,1% dos internacionais.
Desta forma, o setor hoteleiro ocupa posição
importante dentro do “projeto de
desenvolvimento econômico” induzido em
parceria entre governo e multinacionais no país.
O relatório “The Top 100 Companies in
Mozambique”, por exemplo, revela que as três
maiores multinacionais do ramo hoteleiro
atuantes em Moçambique VIP Actividades
Hoteleiras; Hotéis Polana S.A e Turvisa
Empreendimentos Turísticos Lda. obtiveram
ganhos líquidos superiores a US$ 60 milhões
com empreendimentos no país durante o ano de
2015, data em que o último relatório (TTCM,
2015) foi publicado.
Outro cenário simbólico que desperta
curiosidade é ascensão de “obras públicas
faraônicas” na capital (figura 4). Localizadas
e/ou voltadas ao atendimento de demandas da
população que habita a porção da “cidade de
cimento”, as obras custeadas pelo governo
através de expressivo aporte financeiro
internacional estabelecem grande contraste
paisagístico com as regiões periféricas, bem
como com o estilo de vida da maioria dos
moçambicanos.
O Estádio Nacional, o Aeroporto
Internacional de Maputo, o novo prédio do Banco
Central de Moçambique e a Ponte Maputo-
Katembe são exemplos importantes. As quatro
obras custaram, respectivamente, 70; 75; 231 e
785 milhões de dólares (BDM, 2022).
Figura 4 Obras públicas “faraônicas” em Maputo
Fonte: Rodrigues (2020). Elaborado pelos autores (2022).
Embora bastante imponentes, a execução
destes projetos foi permeada por contradições
envolvendo protestos vinculados à viabilidade,
funcionalidade, endividamento e corrupção. O
aeroporto internacional foi ampliado no intuito
de receber seleções que disputariam a “Copa do
Mundo de Futebol” no país vizinho (África do
Sul, em 2010), situação que não se concretizou.
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O estádio nacional edificado para receber os
“Jogos Pan-Africanos de 2011” e com capacidade
para acolher 42 mil expectadores é utilizado
com pouquíssima frequência.
O megacomplexo do Banco Central erguido
no “coração” de Maputo teve 90% do material
importado. Para além da dificuldade de
reposição e pouca movimentação da indústria e
economia interna, o edifício agora consome
energia equivalente à 100 mil habitantes
moçambicanos (BDM, 2022).
A ligação proporcionada pela “Ponte Maputo-
Katembe” trouxe mais facilidade ao processo de
travessia tradicionalmente exercida por balsas
(ferry-boats). Todavia, o status de uma das obras
mais caras da história do país, além da imensa
dívida (com juros) a ser paga durante 20 anos ao
governo chinês, trazem sérios questionamentos
sobre sua real eficácia. Complementam os
questionamentos o fato de a travessia ser
pedagiada. As taxas são atualmente descritas
como “sufocantes e proibitivas” por muitos
moçambicanos, fator que contribui para que o
movimento de veículos seja menor que o
anteriormente pensando pelo Fundo Nacional
de Estradas (CARTAMZ, 2021).
A “CIDADE DE CANIÇO”: segregação,
desemprego e miséria
Embora Maputo seja a cidade mais rica e
importante do país, o “satisfatório” nível de
qualidade de vida ofertado pelo conjunto de
infraestruturas da “cidade de cimento” está
restrito apenas ao desfrute de uma parcela
muito pequena da população. Para os demais
habitantes, as condições de existência se fazem
muito mais precarizadas, como apresentamos a
seguir.
Este processo de dualidade urbana tem
fortes raízes no período do “colonialismo tardio”
(1930 - 1970), se intensificando no pós-
independência nacional (1975) e tornando-se
ainda mais emblemático com o avanço da
ideologia neoliberal advinda do processo de
abertura à economia de mercado e da
liberalização econômica dos anos 1980/90
(MALOA, 2019). Como resultado, nota-se uma
ampliação sistêmica da segregação urbana e da
degradação da qualidade de vida que se
materializam, progressivamente, do centro para
a periferia (VIANA; SOUSA, 2013).
A densa massa periférica que circunda o
centro da capital moçambicana é popularmente
designada como “cidade de caniço”, local que
abriga moradia de classes trabalhadoras pobres,
desempregados e excluídos de toda ordem. A
precariedade (ou até mesmo, completa ausência)
de muitas infraestruturas e serviços públicos
sistemas de transporte, saúde, educação e
segurança; oferta de água, eletrificação,
pavimentação, saneamento básico, iluminação e
coleta de lixo caracterizam esta porção do
território municipal e revelam a difícil realidade
que agoniza a vida de grande parcela dos
maputenses.
Roque, et al. (2020) indicam que, embora essa
porção do território urbano tenha se
(re)produzido de maneira informal pelos
próprios moradores o governo municipal
insiste em vê-la como uma expressão de um
urbano incompleto (ou inadequado). Por trás
desta concepção, têm-se raízes históricas da
realidade colonial, período em que a “cidade de
caniço” era considerada “reserva de terras” para
futuras expansões da “cidade de cimento”. As
edificações poderiam se viabilizar mediante
utilização de materiais temporários que
facilitassem eventuais remoções/deslocamentos
como o caniço, planta da qual se retira uma
fibra semelhante à palha.
A hegemonia de habitações produzidas a
partir de material precário de baixo custo
madeira, latão, caniço e palhoças dão o tom à
paisagem dos grandes bairros horizontalizados
de constituição informal (auto-organizados)
(figura 5). Em meio a geometria desordenada,
preocupações ambientais, como o esgotamento
sanitário, são praticamente inexistentes.
Nas regiões mais precarizadas, a população
consome água de poços e combustível lenhoso
como fonte de energia. A maioria das residências
não possui banheiros em seu interior. Fossas”
(buracos escavados no chão) acomodam os
excrementos humanos, tornando elevados os
índices de contaminação dos solos e das águas no
entorno das residências.
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Figura 5 Paisagens cotidianas da “cidade de caniço”
Fonte: Trabalho de campo dos autores (2018), NRV (2020) e ZUG (2020). Elaborado pelos autores
(2022).
A aleatoriedade da ocupação periférica em
conjunto com o descaso do poder público
dificulta substancialmente a mobilidade na
“cidade de caniço”. Muitas vias de acesso ao
centro não são articuladas, prejudicando o fluxo
de veículos. Para piorar, os ônibus ainda são
muito escassos. Circulam em horários e rotas
limitadas e percorrem poucos bairros
periféricos, não conseguindo atender parcela
considerável da população.
As “chapas” – designação moçambicana para
vans particulares de transporte coletivo são o
principal elemento do sistema de deslocamento
em Maputo, abrangendo mais regiões e público
que os ônibus. Contudo, grande parte destas
encontram-se em precário estado de
conservação, convivendo com irregularidades
sistêmicas e informalidade (STACCIARINI;
SILVA, 2018b)
Os horários e itinerários são frequentemente
desrespeitados, dando origem a longas filas. A
superlotação é visível e constrangedora (figura
6). É comum constatar-se chapas com
capacidade para quinze pessoas, transportando
quase o dobro. Passageiros são amontoados no
colo um dos outros; viajam deitados ou ainda
com partes do corpo para fora, em janelas e
portas. A acessibilidade, como se pode imaginar,
é inexistente.
Figura 6 Precariedade do “sistema de transporte na periferia de Maputo
Fonte: Chares (2020). Elaborado pelos autores (2022).
A paisagem da “cidade de caniço” é moldada
essencialmente pela informalidade. A história
moçambicana revela que seguidos episódios
internos contribuíram para o colapso da, já
fragilizada, estrutura organizacional e
econômica do país. Em um intervalo de apenas
três décadas (1970/80/90), Moçambique
enfrentou crises de escassez interna, queda da
produção agrícola e industrial, guerra civil, luta
de independência, curta experiência com o
regime socialista, liberalização da economia,
introdução e intervenção de programas do
Fundo Monetário Internacional (FMI) e do
Banco Mundial (BM), dentre outros (SILVA et
al., 2002).
Mediante a carência de postos formais de
trabalho, parcela significativa da população tem
se vinculado às atividades do mercado informal
saída encontrada na tentativa de escapar da
pressão social que empurra indivíduos para
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miséria generalizada (STACCIARINI; SILVA,
2018a). Para Silva, o crescimento destas
atividades materializa-se como reação aos
agravos desencadeados por uma economia
neoliberal, que produziu o aumento do
desemprego, da exclusão e da vulnerabilidade e,
ao mesmo tempo, a procura de uma resposta
para preencher o vazio criado pela ausência de
políticas sociais públicas (SILVA, 2002, p. 86).
Deste modo, em um breve caminhar pelas
ruas da periferia de Maputo é possível observar
centenas de pedestres “empreendedores”
informais e consumidores do comércio de rua
surgindo em todas as esquinas e seguindo nas
mais diferentes direções (figura 7). O entrelaçar
de automóveis, pessoas e cargas, que se
misturam em meio ao confuso trânsito
maputense, suscitam paisagens emblemáticas e
visivelmente intrigantes aos olhos de quem não
é dali. Ruas e avenidas tornam-se verdadeiros
shoppings (precarizados) a céu aberto”,
mercados lineares que acolhem incontável
variedade de produtos e serviços (VIANA;
SOUSA, 2013).
Figura 7 - O trabalho informal ocupa lugar de destaque nas
paisagens da periferia de Maputo
Fonte: Trabalho de campo autores (2018), Chares (2020) e Rodrigues (2020). Elaborado pelos autores
(2022).
Legitimando a situação apresentada nas
ruas da capital, o próprio governo moçambicano
em seu portal institucional reconhece sua
fragilidade frente ao estímulo e regularização do
setor informal. No ano de 2017, este era
responsável pela ocupação de 80% dos
moçambicanos e pela movimentação de
aproximadamente 60% do Produto Interno
Bruto (PIB) (PGM, 2022). Todavia, apesar da
representatividade na economia nacional, a
informalidade já não é vista como saída eficiente
para romper com os altos níveis de
miserabilidade que assola parcela expressiva da
população.
Para ampliar o quadro de problemáticas
estruturais, dados disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE, 2017) e
pelo Folheto Estatístico da Cidade de Maputo
(FECM, 2019) revelam que no ano de 2018;
135,7 mil habitantes (12,6% da população)
viviam com a Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida (SIDA/AIDS) na capital. Surtos de
doenças tropicais, como a malária, também são
recorrentes e atingiram 50,3% da população no
intervalo dos últimos quatro anos com dados
disponibilizados (2015/16/17/18). A taxa de
mortalidade infantil está entre as mais elevadas
no contexto mundial e atentava contra a vida de
46,4 a cada mil crianças em 2018 (FECM, 2019).
PROJETOS DE (RE)QUALIFICAÇÃO,
ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E O
URBANO INCOMPLETO
O território urbano de Maputo também está em
constante transformações relativas a
qualificações, gentrificações e ao “jogo
especulativo” do capitalismo imobiliário. Em
Moçambique, o estado é detentor das terras. O
cidadão não possui direito de venda, apenas de
utilização resguardado a propriedade sobre
benfeitorias nela empreendidas. Porém, revisões
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constitucionais das últimas décadas,
transformaram possibilidades de políticas
públicas em benefícios para uma elite político-
econômica hegemônica. Utilizando-se da
premissa de “desenvolvimento da economia
nacional” (preâmbulo da Lei de Terras) e do
“conhecimento, a inventariação e a valorização”
(artigo 102º da Constituição da República),
agentes governamentais têm subvencionado
interesses do povo em prol de investidores
nacionais e estrangeiros (JORGE, 2016).
A concepção de um “urbano incompleto” – de
moradias temporárias edificadas em materiais
instáveis por vezes, tem sido aplicada numa
perspectiva “higienista”. Narrativas de
desordem, ilegalidade e poluição são
empreendidas para legitimar ações de despejo
ou remanejamentos que possibilitem a
efetivação destes de novos projetos (ROQUE et
al., 2020).
Intervenções para (re)qualificação” de
espaços próximos ao centro como o bairro
Polana Caniço (figuras 8 e 9) exemplificam
este processo. Aliciados, coagidos ou
simplesmente expulsos de suas residências;
terrenos que antes abrigavam habitações
precárias, agora dão lugar a largas avenidas,
sistemas de drenagens modernos e luxuosos
condomínios (horizontais e verticais) destinados
ao atendimento de demandas das classes mais
favorecidas revelando processos de
gentrificação (ATKINSON; BRIDGE, 2005) e a
natureza perversa da pressão imobiliária /
estatal sobre os mais pobres.
Figura 8 - As margens da avenida “Julius Nyerere”, o bairro “Polana Caniço” tem dado lugar a
inúmeros projetos de (re)qualificação
Fonte: Google-Earth-Pro (2022). Elaborado pelos autores (2022).
Em algumas porções do espaço urbano, tal
processo passa a ser marcado pela coexistência
de habitações novas e modernas com edificações
rudimentares. Progressivamente, a valorização
e a especulação imobiliária vão substituindo
antigas ocupações e “empurrando” as famílias
mais pobres para regiões ainda mais distantes
do centro.
Paralelamente ao processo de qualificação e
expansão da “cidade de cimento”, ganha força
um “mercado” de terras em Maputo.
Negligenciado e até fomentando pelo Estado, a
mercantilização da terra é impulsionada pela
liberalização da economia moçambicana que
confronta ampliação da produção de riquezas
(PIB) com pauperização de parcelas expressivas
da sociedade.
Pautados na possibilidade de transferência
do “Direito do Uso e Aproveitamento de Terra”
(DUAT) que permite a comercialização de
benfeitorias o é incomum ver-se anúncios de
“terrenos à venda”. Mandamule (2017) revela
que este “mercado de benfeitorias” embute no
preço final inúmeras variáveis, como
localização e dimensão do terreno, presença ou
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não de um título de cadastro e ainda atividades
a serem realizadas no espaço.
Embora essa movimentação fundiária
muitas vezes executada por intermédio de
funcionários do estado e investidores tenha
maior frequência em áreas de interesse
estratégico, ela também se replica de maneira
ainda mais “informalizada” (oralmente, por
exemplo) em regiões afastadas, nas bordas da
periferia urbana.
Para viabilizar e impulsionar vendas,
valorização e especulação no setor imobiliário,
novas formas de “Crédito Habitacional” têm sido
empreendidas por governo e agentes privados. O
acesso ao financiamento ainda continua restrito
a parcelas privilegiadas da sociedade, sobretudo
vinculadas ao crescimento do setor terciário
empresas multinacionais, serviços bancários,
consultorias, turismo, dentre outros (SILVA,
2011). Todavia, funciona como importante
estímulo ao crescente mercado imobiliário e ao
avanço do capitalismo financeiro em
Moçambique.
Enquanto as (re)qualificações vão alterando
o espaço e transformando a paisagem
introduzindo novas formas habitacionais,
infraestruturas e serviços parte expressiva da
população continua alheia às melhorias e
segregada. Residências modernas (figura 9)
edificadas com materiais importados
(precificados a custos longínquos da imensa
maioria da população moçambicana) contrastam
com a ausência de uma política habitacional e de
planejamento urbano de interesse social e
comunitário.
Figura 9 - Requalificação da avenida “Julius Nyerere” e novos
complexos de escritórios
Fonte: NRV (2020). Elaborado pelos autores (2022).
Em meio a esta conjuntura difusa, inúmeros
agentes encontram-se envolvidos nesta
complexa “construção” do território
moçambicano. Muitas (re)qualificações e
empreendimentos são executados por
multinacionais em parceria com o estado.
Instituições internacionais, como o Banco
Mundial, Organizações não Governamentais
(ONGs), ou até mesmo entidades religiosas,
possuem forte influência no governo e também
estão envolvidas no processo. Como resultado,
diversas partes do território apresentam estar
mais vinculadas às lógicas e interesses externos,
que a própria realidade local e a legislação
nacional.
Para ampliar o desafio interpretativo do
complexo espaço urbano de Maputo, milhares de
habitações nas regiões mais afastadas do centro
possuem quintais destinados à produção
agrícola e criação de animais de pequeno porte
dando vida a uma “mancha urbana” que se
espalha por dezenas de quilômetros e dificulta a
diferenciação espacial entre urbano-rural.
Tal característica advém de um processo
descrito como “ruralidade no urbano” (ARAÚJO,
2003). Como a urbanização moçambicana ainda
se encontra pouco desenvolvido e o país vive
grandes problemáticas socioeconômicas, uma
parcela expressiva da população “baixa renda”
que migra dos espaços rurais para o urbano
acaba carregando com si hábitos agropastoris
como forma de driblar as difíceis condições de
vida durante o processo adaptativo.
Muitas vezes vivendo em “palhotas”
moradias edificadas com material de origem
predominantemente vegetal; como caniço,
capim, palha, palmeira e bambu estas famílias
têm suas vivências regidas por lógicas muito
vinculadas às tradicionais formas de viver dos
espaços rurais moçambicanos. A agricultura de
subsistência, em conjunto com o comércio de
pequenos excedentes no mercado informal
urbano, constitui-se como atividade central de
(re)produção do trabalho e existência para
maioria dos habitantes destas regiões.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entender Maputo enquanto uma metrópole
dual, complexa, fragmentada e repleta de
contínuas transformações, exigiu-nos grande
esforço. Viu-se que seu passado colonial que se
findou apenas em junho de 1975 tem
profundas relações com a gênese de um longo
processo de segregação socioespacial. As
cicatrizes de uma sangrenta luta pró-
independência juntaram-se a breve imersão na
experiência socialista e, posteriormente, a novos
nexos de uma economia de mercado,
desencadeando amplo processo de liberalização.
O conjunto de transformações políticas
incrementado pelo crescimento demográfico e
intenso processo de êxodo rural contribuíram
para expressiva urbanização da capital
moçambicana, que multiplica sua população
cerca de doze vezes durante as décadas de 1950
à 2020. Por seu turno, o crescimento econômico
experimentado nas últimas décadas não
conseguiu mudar a dura realidade
moçambicana, que permanece entre os países de
menor Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) do mundo.
É verdade que a produção de riquezas
encontra-se visivelmente materializada no
centro da Metrópole, conhecida popularmente
como “Cidade de Cimento”. Contudo, ainda na
porção central, barreiras físicas muros, cercas
e guaritas denunciam uma desigualdade que
se torna progressivamente mais inquietante na
medida em que se desloca rumo à periferia
urbana.
Popularmente designada como “Cidade de
Caniço”, somos tomados por imenso conflito
paisagístico revelado a partir de um “mar sem
fim” de habitações muito precarizadas
(re)produzidas de maneira informal pelos
próprios moradores e, por vezes, submetidas à
ausência de muitas infraestruturas e serviços
públicos.
Concepções históricas de um urbano
incompleto (ou inadequado) forjam uma falsa
sensação de progresso futuro. Aos olhos do
Estado e de agentes privados, a fragilidade das
habitações produzidas de madeira, latão, caniço
e palhoças dão fácil acesso a
remoções/deslocamentos.
Neste contexto de extrema vulnerabilidade
social e econômica, viu-se que falar em
mobilidade urbana é praticamente impossível.
Padrões sanitários e preocupações ambientais
também não tem vez. Com uma economia
interna muito fragilizada e restrita, imensos
mercados informais espalham-se por grande
parte da periferia. Avenidas tronam-se
mercados lineares a céu aberto, acolhendo um
verdadeiro “empreendedorismo informal” que
surge como tentativa de fuga da miséria
generalizada que pressiona grande parte da
população.
Neste conflito paisagístico e notável
dualidade urbana, ganham força inúmeros
projetos de (re)qualificações sobretudo nas
áreas pericentrais (circunvizinhas à cidade de
cimento). A possibilidade de lucro no “jogo
especulativo” do capitalismo imobiliário tem
levado agentes governamentais a subvencionar
interesses do povo em prol de investidores
nacionais e estrangeiros. Desapropriações,
seguidas de (re)qualificação e ascensão de
projetos urbanísticos modernos loteamentos,
prédios, condomínios e estabelecimentos
comerciais têm desencadeado fortes críticas
com relação ao caráter “higienista” e
“gentrificador” resultante da exclusão de
moradores locais.
É em meio a este conjunto de variáveis que
Maputo, a cidade dividida, vai se (re)produzindo.
O histórico estatal de desarticulação normativa,
política e institucional (agravadas por longínquo
período colonial), as elevadíssimas taxas de
vulnerabilidade econômica e social enfrentadas
pela população e ainda a adição da busca por
lucro de agentes diversos (nacionais e
internacionais) contribuem para que o cenário
de produção do tecido urbano da capital torne-se
ainda mais tenso e desafiador.
As fragmentações do presente escancaram os
desafios e a necessidade de um
macroplanejamento que rompa com a dicotomia
centro-periferia (Cidade de Cimento versus
Cidade de Caniço) e permita que moradores dos
subúrbios de Maputo possam desfrutar de um
futuro mais equitativo lhes permitindo gozar
de plenas condições de dignidade para
reprodução de suas existências.
FINANCIAMENTO
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) Bolsa de doutorado
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) Bolsa de
Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2
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CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:
Todas as etapas do texto leituras, pesquisa,
coletas e processamento de dados, trabalhos de
campo, confecção de mapas, escrita e revisões
foram elaboradas em conjunto entre orientando
(Doutorando João Henrique Santana
Stacciarini) e orientador (Professor Dr. Eguimar
Felício Chaveiro). O Professor Helsio Amiro
Motany de Albuquerque Azevedo colaborou com
pesquisas, trabalhos de campo e reflexões sobre
Moçambique.
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos da Licença de Atribuição Creative Commons, que permite o uso
irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o trabalho original seja devidamente citado.
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Article
Full-text available
The paper discusses Maputo municipality’s plans for the modernisation of the Mercado do Museu, an iconic informal market located in the high-end Polana neighbourhood, which has long been a place for fervent social encounter among people from different social and economic origins. The Mercado’s upgrading plans emerge within the context of Maputo’s intensely urban transformation that has led gentrification effects, especially in the city’s wealthiest areas. This stems partly from private real estate investment, and also from large infrastructure and housing projects promoted by the Mozambican state. Modernist planning ideals and their ordering impulses shape the way municipal authorities view the city and its spaces of informality, contradicting the urban form produced and lived by the majority of Maputo’s inhabitants. While Mercado do Museu has enabled the production of urban social life and the foundations for urban inclusion and citizenship, the modernisation project brings forward “conflicting rationalities” (Watson Planning Theory and Practice, 4(4), 395–407, 2003). However as modernist views of cities are broadly shared across Mozambique’s urban society, the “conflicting rationalities” being played out are not only situated around urban material form; but rather between material expressions of urbanity and personhood; between urban form and urban citizenship.
Conference Paper
Full-text available
Quando se percorre as praças, ruas, avenidas e estradas de Maputo ganha-se consciência do desdobramento de usos e apropriações que se desenrolam através da ação quotidiana dos citadinos. A gramática fundadora da matriz morfológica de muitos dos espaços de circulação, coletores, de transição, mediadores de sociabilidades, revela-se "desajustada" face aos propósitos indexados pelos transeuntes. Os diversos tipos de "pressão" que sofrem: físico; de sobreocupação; de prolongamento das dinâmicas domésticas internas - próprias das habitações (ou na frente do lote, ou na respetiva parte posterior); de falta de manutenção; de atividades comerciais "informais"; traduzem processos relacionais de adaptação dos espaços urbanos às carências sentidas pelos habitantes da capital moçambicana. Regista-se um paradoxo: a cidade não apresenta os mais oportunos níveis de infraestruturação e disponibilização de serviços urbanos e sociais, mas nela decorrem relevantes processos de "humanização" dos espaços que importa ter em consideração e analisar. A relevância que assumem determinados elementos, como por exemplo: um fontanário ou um poço; uma árvore ou um arbusto; uma sombra; um canal/vala de saneamento ou a parte inferior de um viaduto; uma cadeira aparentemente "perdida" em plena Av. 24 de Julho; entre outros - expressam, com vigor desconcertante, que, não obstante a pluralidade das dinâmicas e vivências operadas nos espaços públicos urbanos, estes encontram-se fragilizados nas suas dimensões estruturais e de organização. A partir da multiplicidade de modos de apropriação, produção, distribuição e consumo, e das distintas e, por vezes, contraditórias razões que conformam o comportamento dos citadinos, os espaços públicos urbanos constituem o receptáculo de contextos contrastantes designados de «informais».
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Trabalho enviado em 14 de outubro de 2016. Aceito em 21 de outubro de 2016. DOI: 10.12957/rdc.2016.26032 Resumo No atual contexto neoliberal, a renovacao de espacos pericentrais autoproduzidos, assente na tabula rasa do tecido existente e na periferizacao dos grupos de menores recursos, representa uma das principais estrategias de intervencao ditadas pela mercantilizacao e financeirizacao do espaco urbano em curso na Africa Austral. Num estreito dialogo entre a teoria e a pratica, pretendemos contribuir para o conhecimento das formas e processos de producao e transformacao destes espacos, a luz da legislacao urbana vigente, tomando como caso de estudo, a nivel macro, a cidade de Maputo e, a nivel micro, os bairros de Maxaquene A e Polana Canico A, paradigmaticos pela intensidade das transformacoes de que tem sido alvo. Questionamos a ideia de seguranca de ocupacao tantas vezes associada ao contexto mocambicano, enumerando as varias contradicoes e ambiguidades que encerram o atual quadro legal, sobretudo quando estao em causa espacos estrategicos do ponto de vista de mercado, ocupados por grupos de menores recursos. Palavras-chave: Maputo, bairros pericentrais autoproduzidos, legislacao urbana, contexto neoliberal, (in)seguranca de ocupacao. Abstract In the current neoliberal context, the renewal of pericentral self-produced spaces, based on the tabula rasa of the existing urban tissue and on the peripheralisation of groups with less resources, represents one of the main intervention strategies driven by the ongoing commodification and financialisation of urban spaces in Southern Africa. In a close dialogue between theory and practice, we aim to contribute to the knowledge of forms and processes of production and transformation of these spaces, in the light of the current urban legislation, taking as a case study, at a macro level, the city of Maputo and, at a micro level, the neighbourhoods of Maxaquene A and Polana Canico A, which are paradigmatic due to the intense transformation that has been taking place. We question the idea of land occupation security, so often associated with the Mozambican context, enumerating the various contradictions and ambiguities that enclose the current legal framework, particularly when concerning strategic spaces from the point of view of the market, occupied by groups with less resources. Keywords: Maputo, pericentral self-produced neighbourhoods, urban legislation, neoliberal context, occupation (in)security.
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In the current neoliberal context, the socio-spatial inequalities between the urbanized centre and the peri-urban area, that characterize Maputo city since its genesis, are reshaped. In this article are analysed the current processes and dynamics of intervention in the peri-urban space object of greater transformations, namely the areas closest and farthest to the centre. Through the characterization and analysis of representative case studies, it aims to understand how the different types of ongoing intervention relate to the socio-spatial phenomena of segregation and exclusion. These phenomena reveal themselves complex and multifaceted, subject to different levels of understanding and intensity, depending on the specificity of the territories, the processes that transform them and the aspirations and perceptions of the actors involved.
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Gentrification, a process of class neighbourhood upgrading, is being identified in a broader range of urban contexts throughout the world. This book throws new light and evidence to bear on a subject that deeply divides commentators on its worth and social costs given its ability to physically improve areas but also to displace indigenous inhabitants. Gentrification in a Global Perspective brings together the most recent theoretical and empirical research on gentrification at a global scale. Each author gives an overview of gentrification in their country so that each chapter retains a unique approach but tackles a common theme within a shared framework. The main feature of the book is a critical and well-written set of chapters on a process that is currently undergoing a resurgence of interest and one that shows no sign of abating. © 2005 Rowland Atkinson and Gary Bridge, selection and editorial material; individual chapters, the contributors. All rights reserved.
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The present dissertation analyzes the logics and practices of the informal operators in Mozambique, specifically the micro-importers commonly known as mukheristas. The study is supported by two theoretical frameworks, namely: rationality diverse, proposed by Hugon [1999, 2000] and the theory of reasoned action, presented by Fishbein & Ajzen [2010]. The main core question of this works is: which perceptions of wealth and poverty can be found on those who perform mukhero? To answer this problem we use not only the results from a survey held for this purpose but also bibliography about the subject.
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This paper is based on the analysis of the results of a research project about social solidarities carried out in the peri-urban areas of the city of Maputo. Starting from a case study on informal markets in the context of a society where the State is eroded/weak and unable to offset the consequences of neoliberal policies and to shape the social policy models imposed by multilateral institutions such as the World Bank and the IMF, the text analyzes the global and local determinants that lead to the emergence and/or development of social solidarities. At the same time, it evaluates the constraints on their capacity to respond to the production of well-being, as a possible alternative to the State’s incapacity to provide basic social services to citizens.
Who plans the African city? A case study of Maputo: part 1 -the structural context. International Development Planning Review
  • J E Andersen
  • P Jenkins
  • M Nielsen
ANDERSEN, J. E.; JENKINS, P.; NIELSEN, M. Who plans the African city? A case study of Maputo: part 1 -the structural context. International Development Planning Review, [S.L.], v. 37, n. 3, p. 329-350, aug. 2015. Liverpool University Press. http://dx.doi.org/10.3828/idpr.2015.20
Os Espaços Urbanos em Moçambique
  • M G M Araújo
  • De
ARAÚJO, M. G. M. de. Os Espaços Urbanos em Moçambique. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), v. 7, n. 2, p. 165-182, 2003. https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2003.123846
Ka Tembe e distrito de Maracuene. Blog de Notícias "A Verdade
  • E Chares
  • Transportes De Passageiros Da Cidade De Maputo
CHARES, E. Transportes de passageiros da cidade de Maputo, Ka Tembe e distrito de Maracuene. Blog de Notícias "A Verdade". Moçambique. 2020. Disponível em: http://www.verdade.co.mz/. Acesso em: Dezembro 18, 2021.