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Acta Ambiental Catarinense Schmitt & Favretto
DOI 10.24021/raac.v18i1.5550 Vol. 18, N. 01 (2021)
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REGISTRO DE FRUGIVORIA EM FURÃO-PEQUENO (GALICTIS CUJA)
NO BRASIL
Artur Schmitt
1
Mario Arthur Favretto
2
Resumo
O furão-pequeno (Galictis cuja) é um mamífero de pequeno porte nativo da América do Sul, é
considerado uma espécie carnívora, alimentando-se principalmente de pequenos vertebrados. No
presente estudo é realizado um registro de frugivoria realizada por G. cuja em Arabutã, no oeste de
Santa Catarina, sul do Brasil. Galictis cuja foi registrado em filmagem de armadilha fotográfica
alimentando-se de abacates (Persea americana). Os únicos registros de frugivoria nesta espécie que
encontramos datam das décadas de 1950 e 1980 no Chile. Este registro indica o quão oportunista é
esse mamífero e reforçam a importância de observações in situ para registros de alimentação de
mamíferos.
Palavras-chave: Comportamento Alimentar; Forrageio; Mustelidae.
Abstract
The Lesser Grison (Galictis cuja) is a small mammal native of South America, is considered a
carnivorous species, feeding mainly on small vertebrates. In the present study we recorded of
frugivory behavior in Lesser Grison in a municipality in the west of Santa Catarina state, southern
Brazil. Lesser Grison was recorded in a camera-trap feeding on avocados (Persea americana). The
only records of frugivory in this species that we found date from the 1950s and 1980s in Chile. This
record indicates how opportunistic this mammal is and reinforces the importance of in situ
observations for mammals feeding records.
Keywords: feeding behavior; foraging behavior; Mustelidae.
1
Pesquisador independente. Linha Unidos, Arabutã, SC, Brasil.
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Rua Delfino Conti, Bairro Trindade, Florianópolis, SC, Brasil. E-mail:
marioarthur.favretto@hotmail.com
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1. INTRODUÇÃO
Galictis cuja (Molina, 1782),
popularmente conhecido como furão-
pequeno, é uma espécie de mamífero de
pequeno porte da família Mustelidae, com o
comprimento da cabeça e do corpo somados
variando de 40 a 45 cm e o comprimento da
cauda de 15 a 19 cm (CHEIDA et al., 2011).
Essa espécie ocorre nas regiões nordeste,
sudeste e sul do Brasil. Também no Peru,
Bolívia, Paraguai, Chile e Argentina
(CHEIDA et al., 2011; POO-MUÑOZ et al.,
2014). Galictis cuja é considerada uma
espécie tipicamente carnívora e oportunista,
tendo sua dieta baseada em pequenos
vertebrados, tais como mamíferos, répteis,
anfíbios e aves (CHEIDA et al., 2011).
Existem poucos registros de consumo de itens
vegetais para esta espécie (EBENSPERGER
et al., 1991; PIRES, 2018; PASA et al., 2019).
Dessa forma, no presente trabalho é feito um
novo registro de frugivoria para G. cuja.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O presente registro foi realizado no
município de Arabutã (c. 27° 10′ S, 52° 07′
O), oeste de Santa Catarina, sul do Brasil. A
vegetação do município se caracteriza por
fitofisionomias de Floresta Ombrófila Mista
(Floresta de Araucária) e Floresta Estacional
Decidual (Floresta Subtropical do Rio
Uruguai), ambas parte do Bioma Mata
Atlântica (VIBRANS et al., 2012).
Atualmente a vegetação do município se
encontra fortemente descaracterizada para
usos agropecuários.
A mastofauna foi monitorada
semanalmente de março a junho de 2020 na
área rural do município por meio de uma
armadilha fotográfica (SunTek HC-300A) e
com uso de iscas para sua atração e registro,
consistindo de frutas como: mamão, banana,
laranja e abacate.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No dia 24/05/2020, às 14:55h, foi
registrado em vídeo na armadilha fotográfica,
dois exemplares de furão-pequeno (Galictis
cuja) se alimentando de abacates (Persea
americana: Lauraceae) que haviam sido
colocados em frente ao equipamento para
atração de mamíferos (Figuras 1).
Ao ser realizada uma busca em artigos
científicos e em livros sobre esse
comportamento encontramos poucos registros
de consumo de vegetais por Galictis cuja
(Tabela 1). Essa busca foi realizada no Google
Scholar e na Biodiversity Heritage Library,
usando os termos: Galictis cuja + frugivoria;
Galictis cuja + frugivory; Galictis cuja +
fruits; Galictis cuja + frutas; Galictis cuja +
alimentação; Galictis cuja + alimentación;
Galictis cuja + feeding; Galictis cuja + dieta;
Galictis cuja + diet.
Todos os estudos que encontramos
sobre a alimentação de Galictis cuja
registraram o consumo de mamíferos e de
aves, outros itens tiveram registro variável,
como consumo de répteis, anfíbios e
invertebrados. Há apenas algumas
informações que se referem ao encontro de
matéria vegetal não identificada ou sementes
em seus estômagos ou fezes
(EBENSPERGER et al., 1991; PIRES, 2018;
PASA et al., 2019).
Encontramos um registro de frugivoria
de Cryptocaria alba (Lauraceae) por Galictis
cuja no Chile, onde de um total 21 fezes
analisadas os autores encontraram uma
contendo sementes dessa planta
(EBENSPERGER et al., 1991). Há ainda uma
menção genérica antiga, também no Chile, de
que em cativeiro esse mamífero pode
consumir frutas (HOUSSE, 1953 apud
ARMESTO et al., 1987). Já no Brasil, em um
estudo que analisou o conteúdo estomacal de
11 indivíduos atropelados de G. cuja, também
apenas um possuía matéria vegetal em seu
interior, no caso sementes de arroz (Oryza sp.)
(PIRES, 2018). Tais dados demostram que a
frugivoria é de fato um comportamento
oportunista em relação à G. cuja.
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Figura 1. Registro de furão-pequeno (Galictis cuja) realizando frugivoria. Foto: Artur Schmitt
(2020).
Tabela 1. Lista de estudos sobre alimentação de furão-pequeno (Galictis cuja) verificados no
presente estudo e respectivos itens alimentares registrados.
Legenda: * - registro de alimentação realizado em cativeiro; N.I. – matéria vegetal não identificada.
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Em hipótese, os poucos registros de
frugivoria para Galictis cuja ocorrem devido
às análises de conteúdo estomacal e de fezes,
e não em observações in situ da espécie. Desta
forma, a análise de conteúdo estomacal e de
fezes, dificilmente permitirá o
reconhecimento de certos frutos na
alimentação, devido a sua fácil digestão, a
exemplo do consumo de abacate (P.
americana) aqui registrado, cuja polpa é de
consistência cremosa e não há a ingestão
concomitante da semente. Porém, uma
confirmação dessa hipótese de causa da
raridade dos registros de frugivoria em
Galictis cuja demandaria maiores esforços
amostrais para sua confirmação ou testes com
estes animais em cativeiro para confirmar se o
consumo de frutas realmente não deixaria
indícios presentes em suas fezes.
O presente registro demonstra que
apesar de diversos estudos sobre a
alimentação de Galictis cuja já terem sido
publicados, há ainda aspectos sobre a ecologia
trófica dessa espécie que não estão
completamente esclarecidos. Futuros estudos
com a alimentação dessa espécie devem focar
em melhores detalhamentos sobre a consumo
de vegetais por essa espécie, a fim de entender
se este comportamento é apenas de fato
oportunismo ou uma característica em si da
espécie.
4. REFERÊNCIAS
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