ArticlePDF Available

As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de uma governamentalidade neoliberal conservadora

Authors:

Abstract

Esta reflexão de investigação sustenta o argumento de que vivemos, no contexto brasileiro atual, uma reconfiguração da inclusão como imperativo de Estado. A partir da instauração de uma governamentalidade neoliberal conservadora, a inclusão parece não se constituir mais como a rega máxima do neoliberalismo e a exclusão reaparece como uma das estratégias de governamento da população. O texto apresenta uma breve análise documental sobre o PL 3261/2015, projeto de lei em tramite no Brasil, que autoriza o ensino domiciliar na educação básica. Os argumentosapresentados sustentam que a exclusão é transformada num direito —o direito das famílias de optarem ou não pela educação domiciliar. Diante desse quadro, o princípio político do comum épensado como uma estratégia de resistência ao neoliberalismo, possibilitando formas outras deser e viver no mundo.
67
As reconfigurações do
imperativo da inclusão
no contexto de uma
governamentalidade
neoliberal conservadora
Fecha de recepción: 17 de octubre de 2019
Fecha de aprobación: 20 de noviembre de 2019
Para citar este artículo:
Lockmann, K. (2020). As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de uma governamentalidade neoliberal
conservadora. Pedagogía y Saberes, 52, 67–75. : https://doi.org/10.17227/pys.num52-11023
* Profesora de la Universidade Federal do Rio Grande, . Doctora en educación e investigadora del grupo de Estudos
e Pesquisa em Inclusão–Unisinosy del Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo e Pós-modernidade
- da .
Correo electrónico: kamila.furg@gmail.com
Código : http://orcid.org/0000-0002-1993
Pedagogía y Saberes n.º 52
Universidad Pedagógica Nacional
Facultad de Educación. 2020. pp. 67–75
Las reconguraciones del imperativo
de la inclusión en el contexto de una
gubernamentalidad neoliberal conservadora
The Recongurations of the Imperative of
Inclusion in the Context of a Conservative
Neoliberal Governmentality
Kamila Lockmann*
Artículo de investigación
68
Resumen
En este artículo de investigación se sustenta el argumento de que vivimos, en el contexto brasi-
leño actual, una reconfiguración de la inclusión como imperativo de Estado. A partir de la instau-
ración de una gubernamentalidad neoliberal conservadora, la inclusión parece no constituirse
más como regla máxima del neoliberalismo, y la exclusión reaparece como una de las estrategias
del gobernamiento de la población. El texto presenta un breve análisis de documentos sobre el
proyecto de ley, en trámite en Brasil, que autoriza la enseñanza en casa para la educación básica.
Los argumentos usados presentan la exclusión transformada en un derecho: el de las familias de
optar o no por la educación en casa. Frente a este cuadro, se argumenta que el principio político
de lo común puede configurarse en una estrategia de resistencia al neoliberalismo posibilitando
otras formas de ser y vivir en el mundo.
Palabras clave
educación; exclusión; gubernamentalidad; principio político de lo común
Resumo
Este artigo de investigação sustenta o argumento de que vivemos, no contexto brasileiro atual,
uma reconfiguração da inclusão como imperativo de Estado. A partir da instauração de uma gover-
namentalidade neoliberal conservadora, a inclusão parece não se constituir mais como a rega
máxima do neoliberalismo e a exclusão reaparece como uma das estratégias de governamento
da população. O texto apresenta uma breve análise documental sobre o PL 3261/2015, projeto
de lei em tramite no Brasil, que autoriza o ensino domiciliar na educação básica. Os argumentos
apresentados sustentam que a exclusão é transformada num direito: o direito das famílias de
optarem ou não pela educação domiciliar. Diante desse quadro, o princípio político do comum é
pensado como uma estratégia de resistência ao neoliberalismo, possibilitando formas outras de
ser e viver no mundo.
Palavras-chave
educação; exclusão; governamentalidade; princípio político do comum
Abstract
The text supports the argument that we are living, in the current Brazilian
context, a reconfiguration of inclusion as a state imperative. Since the esta-
blishment of a conservative neoliberal governmentality, inclusion no longer
seems to constitute the ultimate rule of neoliberalism, and exclusion reap-
pears as one of the strategies of the population’s governorship. The text
presents a brief discussion on the bill, in process in Brazil, that authorizes
home schooling for basic education. The arguments used present the exclu-
sion transformed into a right: the right of families to choose or not to choose
education at home. Faced with this situation, it is argued that the political
principle of the common can be configured in a strategy of resistance to neo-
liberalism, enabling other forms of being and living in the world.
Keywords
education; exclusion; governmentality; common
69
As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de
uma governamentalidade neoliberal conservadora
Kamila Lockmann
Artículo de investigación
Introdução
Este texto constitui-se num ensaio derivado de
uma pesquisa1 que tem por objetivo atualizar
algumas discussões acerca do que, nos últimos
anos, temos denominado “imperativo da inclusão. A
produção se ancora nas discussões desenvolvidas por
dois grupos de pesquisa localizados no sul do Brasil,
quais sejam: Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão,
2 e Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e
In/Exclusão, 3 Estes grupos, ao longo da última
década, têm afirmado que, considerando o contexto
brasileiro, a inclusão se constituiu em um imperativo
de Estado.
As autoras Lopes, Lockmann e Hattge (2013, p.
42) afirmavam, em artigo publicado em 2013, que “a
inclusão, ao ser entendida como estratégia e transfor-
mada em imperativo do estado brasileiro, tem produ-
zido mudanças substantivas nas formas e condições
de vida da população brasileira”. Em artigo posterior,
também reafirmo essa ideia quando destaco que:
A inclusão tem se constituído como um imperativo
do nosso tempo! Isso significa dizer que a inclusão
se constitui como algo inquestionável, como uma
verdade que se impõe a cada um de nós, produzindo
efeitos em nossas formas de ser e agir no presente.
A inclusão torna-se, assim, um princípio regula-
dor que incide em nossas vidas, pautando nossas
maneiras de nos conduzirmos e de conduzirmos
aos outros. (Lockmann, 2016, p. 19)
Essa produção, estava ancorada em pelos menos
dois pressupostos: o primeiro, referia-se à com-
preensão das práticas de inclusão —e também de
exclusão— como práticas de governamento. Ao
longo da história do Ocidente, inclusão e exclusão
foram estratégias encontradas para agir sobre os
sujeitos, conduzindo suas condutas e gerenciando
os riscos que tais sujeitos poderiam produzir para
a vida social e coletiva.4 Tal compreensão entende a
1 A referida pesquisa intitula-se “A inclusão escolar e os proces-
sos de individualização: problematizações e reflexões sobre
as práticas pedagógicas”, conta com financiamento do Edital
Universal 28/2018 do CNPq e é coordenada pela professora
Dra. Kamila Lockmann.
2 O  é um grupo de pesquisa cadastrado no , localizado
na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e coordenado pela
professora Dra. Maura Corcini Lopes.
3 O  é um grupo de pesquisa cadastrado no , locali-
zado na Universidade Federal do Rio Grande e coordenado
pela professora Dra. Kamila Lockmann.
4 Os riscos produzidos por determinados grupos da popula-
ção estão relacionados a sua suposta improdutividade e/ou
impossibilidade de gerenciar a sua própria vida. Recorren-
inclusão como estratégia de governamento que age
sobre a conduta dos sujeitos gerando determinados
modos de ser e de agir socialmente. Daqui deriva-se
um primeiro pressuposto que sustenta as análises
das pesquisas desenvolvidas: a inclusão é uma estra-
tégia de governamento.
O segundo pressuposto deriva dos estudos refe-
re-se à dimensão múltipla da inclusão. Isso significa
compreender historicamente que ela vem assu-
mindo diferentes ênfases e funcionando a partir de
um modus operandi que difere segundo os grupos
sociais e os momentos históricos. Assim, na atua-
lidade, podemos argumentar que ela opera de um
modo específico e como expressão da racionalidade
própria das formas de vida atuais. Assim, o segundo
pressuposto pode-se formular da seguinte forma: a
inclusão não é um conceito unívoco, mas polissêmico,
pois apresenta aplicabilidades muito heterogêneas e
articula-se às formações políticas que se organizam
ao redor de uma racionalidade5 que orienta as condu-
tas dos indivíduos e suas relações sociais e políticas.
Esses dois pressupostos, apresentados naquele
texto publicado em 2016, ainda me parecem válidos
para pensar a inclusão na atualidade. Porém, naquele
mesmo texto, eu dizia ainda que, na Contempora-
neidade, é possível visualizar o aparecimento de
estratégias de governamento que não operavam tanto
por meio da exclusão dos sujeitos, ou por meio da sua
reclusão em instituições de confinamento, mas pela
sua inclusão e circulação em diferentes instâncias
do tecido social. Assim, sustentava o entendimento
de que a inclusão se constituía em um imperativo
contemporâneo, mas não somente isso. Para além
disso, afirmava que o imperativo contemporâneo
não era simplesmente a inclusão, mas o que chamei
de “inclusão por circulação”. Ou seja, uma estratégia
de governamento onde a inclusão e a circulação das
temente referem-se aos sujeitos pobres, em vulnerabilidade
social, pessoas com deficiência, desempregados, precariza-
dos, estigmatizados socialmente. Trata-se de transformar
um fenômeno social em uma situação individual, centrando
no sujeito a culpa por sua condição de vida. Voltaremos a esta
discussão neste artigo.
5 O conceito de racionalidade como assinala Marín-Díaz (2013),
seguindo a perspectiva arqueogenealógica de Foucault, “supõe
a existência de certa lógica que age tanto nas instituições
quanto na conduta dos indivíduos e nas suas relações sociais e
políticas. A racionalidade age como um programa que orienta
o conjunto da conduta humana, e é por isso que ate nas for-
mas mais violentas da conduta, é possível reconhecer uma
racionalidade que orienta sua ação. Nas palavras de Foucault
(2003), é preciso reconhecer que justamente aquilo que há
de mais perigoso na violência é sua racionalidade e não a sua
ausência nela” [tradução minha].
70
Número 52 / Universidad Pedagógica Nacional / Facultad de Educación / 2020 / Páginas 67–75
pessoas haviam se constituído como regra máxima
que mobilizava o jogo econômico e social de um
Estado neoliberal.
Tal argumento encontrava sustentação nas dis-
cussões desenvolvidas por Foucault, no Curso Nas-
cimento da Biopolítica, ministrado, em 1979. Neste
curso, o autor francês destacava que a regra máxima
do neoliberalismo era a regra da não exclusão. Nas
palavras de Foucault (2008, pp. 277-278):
[...] a sociedade inteira deve ser permeada por esse
jogo econômico e o Estado tem por função essencial
definir as regras econômicas do jogo e garantir que
sejam efetivamente bem aplicadas. [...] cabe à regra
do jogo imposta pelo Estado fazer que ninguém seja
excluído desse jogo” [grifos meus].
Assegurar a participação de todos. Garantir o
acesso de todos. Não permitir que ninguém e nenhum
grupo seja excluído. Esses princípios tornaram-se
os mobilizadores de uma racionalidade neoliberal
que fazia da inclusão a estratégia fundamental para
conduzir a vida dos sujeitos. Isso significa dizer que a
inclusão não opera apenas na ordem do acolhimento
e da benevolência ao outro, assim como também não
se constitui somente como resultado de lutas e movi-
mentos em prol da garantia de direitos sociais, educa-
cionais, de saúde, de assistência e de empregabilidade
dos diferentes sujeitos. Além disso, ou junto a isso,
tais políticas de inclusão pretendem governar todas
os grupos da população e no caso da sociedade bra-
sileira, incluí-las nas redes de consumo, garantindo
espaços de participação no mercado, para que pos-
sam contribuir minimamente para o funcionamento
do jogo econômico. Assim, afastando-se da atmosfera
benevolente que ronda o campo da inclusão, pode-se
compreender que estar incluído era condição sine qua
non para tornar-se alvo das estratégias de condução
da população.
Por essa vertente, entende-se que garantir o
direito à inclusão de todos os sujeitos, seja na escola,
no mercado de trabalho, no mundo do esporte, da
moda e do consumo, é garantir a possibilidade de
que todos se tornem alvo do governo. A constituição
do sujeito de direito é justamente o que permite ao
Estado torná-lo governável. “O cidadão do Estado
democrático é o cidadão governável. Somos consti-
tuídos como cidadãos para que possamos ser gover-
nados” (Gallo, 2017b, p. 1506). Nessa lógica, estar
fora da escola, da assistência social ou do mercado de
trabalho torna-se perigoso, pois mantém os sujeitos
fora do alcance das ações do Estado. Estar incluído,
portanto, é estar numa condição passível de ação
governamental. “Somos constituídos cidadãos para
termos acessos a tais políticas e benefícios sociais;
sermos governados pelo Estado é o preço que paga-
mos” (Gallo, 2017a, p. 1506).
A construção de tais entendimentos somente
foi possível, a partir da análise de um período his-
tórico ancorado numa razão política, que Silvio
Gallo (2017a), denominou de governamentalidade
democrática. Ou seja, travava-se, segundo ele, de
um período histórico “centrado na afirmação e na
promoção da cidadania, evidenciando uma gover-
namentalidade democrática como maquinaria posta
em curso no Brasil desde meados dos anos 80, azei-
tada pela constituição de cidadãos” (Gallo, 2017a, p.
89). O autor afirma ainda que “Na chave de leitura
que estamos utilizando, pode-se dizer: é preciso
constituir a todos como cidadãos para que possam
ser governados. Fora da cidadania não há governo
democrático possível; por essa razão, as pedras de
toque são duas: cidadania e inclusão. Todos devem
ser cidadãos, todos precisam estar incluídos” (Gallo,
2017b, p. 1508). A partir da noção de governamen-
talidade, proveniente dos estudos foucaultianos,
Gallo (2017a, 2017b) demonstra como, num dado
momento histórico, temos uma racionalidade, ou seja,
uma forma de ser do pensamento político, econômico
e social que toma a noção de democracia e, portanto,
a noção de sujeito de direito, como o fundamento da
ação governamental.
Tal análise sempre foi desenvolvida considerando
uma postura analítica e não valorativa, no sentido de
colocar-se contra ou a favor de tais práticas; ou ainda
de compreender esta ou aquela racionalidade como
positivas ou negativas, melhores ou piores. Com-
preendíamos que há produtividade nessas ações de
inclusão, mas também há perversidades. Se por um
lado partia-se do pressuposto de que todos deveriam
estar incluídos, por outro lado, nunca, dentro de uma
racionalidade neoliberal, a igualdade foi uma meta.
Estar incluído nesses jogos significa ocupar espaços
de participação muito distintos, mantendo e refor-
çando as desigualdades.
Foucault (2008, p. 163), afirmava que o neolibe-
ralismo se constitui num “jogo formal entre desigual-
dades”. Segundo ele, essa racionalidade só pode atuar
mediante oscilações, diferenciações e não a partir da
igualdade ou da equivalência. O filósofo assinalava
que é preciso haver pessoas que trabalhem e outras
que não trabalhem, que os salários sejam altos e bai-
xos, que os preços subam e caiam, para que, assim, a
regulação atue. São as desigualdades que permitem
que a concorrência seja produzida e ela é o motor
central da racionalidade neoliberal. Segundo Gadelha
(2009, p. 9), “a desigualdade que implica todo um
71
As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de
uma governamentalidade neoliberal conservadora
Kamila Lockmann
Artículo de investigación
jogo de diferenciações, está na base da concorrência
econômica, isto é, ela é própria desse mecanismo
normalizador da vida social”.
Foi compreendendo que a inclusão, nesse jogo
formal de desigualdades do neoliberalismo, não
garante condições de igualdade entre os sujeitos, que
os grupos de pesquisa, anteriormente mencionados,
trabalham com a noção de in/exclusão, utilizando
uma palavra para definir duas faces de um mesmo
movimento. Ou seja, nas análises desenvolvidas,
não dissociamos esses dois termos —inclusão e
exclusão—, pois compreendemos que vivemos num
tempo onde a inclusão se sustenta como um impera-
tivo contemporâneo inquestionável e que, por isso,
é por dentro dela que os processos de exclusão são
produzidos. Há, nessa visão, cada vez menos a possi-
bilidade de viver uma condição de exclusão completa
ou permanente, uma vez que o Estado efetivado pela
racionalidade neoliberal, precisa governar a todos e,
por isso, cria uma variedade de políticas e programas
que se direcionam para os mais variados grupos.
Por outro lado, todas essas políticas não garantem o
inverso da exclusão, ou seja, não garantem uma inclu-
são permanente desses sujeitos, como se tivéssemos
cruzado a linha de chegada do verdadeiro projeto
inclusivo. Assim,
[...] torna-se difícil utilizar, em nossas análises, a
caracterização de incluído e de excluído de forma
separada, pois qualquer sujeito, dentro do seu nível
de participação poderá, a todo momento, estar
incluído ou ser excluído de determinadas práticas,
ações, espaços e políticas. (Lopes, Lockmann, Hat-
tge e Klaus, 2010, pp. 5-6)
A in/exclusão define os diferentes níveis de par-
ticipação e gradientes de inclusão que materializam
a condição nômade e movediça que constitui a todos
os sujeitos, nesses tempos incertos. Entretanto, é
justamente por vivenciarmos esses tempos incertos,
que é necessário pensar sobre as novas facetas que
esse imperativo da inclusão e esse movimento da in/
exclusão podem estar assumindo hoje, e especial-
mente, ler as formas particulares que ele tomou no
contexto brasileiro.
Diante desse quadro teórico, talvez possamos
dizer que desde meados dos anos 80 até pelo menos
2016, tínhamos em funcionamento no Brasil, uma
governamentalidade neoliberal democrática que se
ancorou na inclusão como imperativo de Estado,
garantindo direitos aos cidadãos, mas ao mesmo
tempo produzindo desigualdades e, portanto, posi-
cionando os sujeitos em processos de in/exclusão.
Contudo, atualmente, ao que parece, não é mais
possível sustentar o funcionamento de uma gover-
namentalidade neoliberal democrática, que parta da
noção de cidadania e da garantia da inclusão como
direito de todos os sujeitos. Nas inúmeras publicações
de nossos grupos de pesquisa sustentamos a ideia
da inclusão como imperativo do Estado brasileiro,
contudo parece-me que hoje estamos diante uma
transformação que questiona a operação dessa regra
máxima do neoliberalismo, no atual contexto bra-
sileiro. Com todas as críticas que nesses trabalhos
fazíamos a essa regra como um princípio econômico
de manutenção da atividade do sujeito nesses jogos,
ainda assim ela nos parecia importante quando, por
dentro dessa racionalidade, conseguíamos atribuir
outros significados a experiência ao viver juntos e
ao compartilhar formas de vida em comum. Mas as
transformações discursivas nas políticas públicas
atuais, assinalam uma mudança em curso nesse prin-
cípio, e evidenciam que tal regra não mais se mantém
em plena atividade.
Não se trata de dizer, com isso, que a inclusão
simplesmente desapareça do contexto atual brasileiro,
mas de afirmar que ela sofre um amplo processo de
transformação ou metamorfose, para usar a expres-
são de Ulrich Beck (2018). Se por um lado, princípios
neoliberais continuam extremamente presentes em
nossos dias, como por exemplo, a produção de sujei-
tos empresários de si, como um tipo de subjetividade
alinhada ao neoliberalismo; outros princípios parecem
perder a sua centralidade diante desse novo contexto
que articula neoliberalismo e neoconservadorismo. Se
o neoliberalismo tinha como regra máxima a inclusão,
ou seja, a regra da não exclusão, a estratégia movimen-
tada pela aliança neoliberalismo-neoconservadorismo
parece não governar para todos.
Vastas parcelas da população brasileira parecem
não se constituírem em foco privilegiado das ações e
políticas de governo. A governamentalidade neolibe-
ral conservadora, como podemos nomear essa nova
face do neoliberalismo brasileiro, mantém como prin-
cípio a inclusão de certos grupos da população, mas
não de todos. A intolerância religiosa, a imposição
de um modelo de família, a exclusão das discussões
de gênero e sexualidade e até mesmo, projetos de lei
como educação domiciliar demonstram essa nova
face da exclusão, que reaparece e se reconfigura no
cenário contemporâneo, como uma estratégia de
governamento direcionada a determinados grupos.
Diante disso, vale questionar: Será que a inclusão
ainda se constitui em um imperativo de Estado? Ela
72
Número 52 / Universidad Pedagógica Nacional / Facultad de Educación / 2020 / Páginas 67–75
se mantém como a regra máxima que sustenta essa
racionalidade política, ainda neoliberal, mas agora
de face conservadora?
É verdade que nunca sustentamos em nossas pes-
quisas que a inclusão tenha se constituindo em um
imperativo categórico tal como abordara Kant (1980)
em “Fundamentação da metafísica dos costumes”.
Para o filósofo, o imperativo categórico constitui-se
numa lei prática de caráter universal: uma obriga-
ção incondicional. É um mandamento absoluto que
representava uma ação necessária por si mesma, sem
relação com qualquer outra finalidade. Nunca afirma-
mos que esse era o caso da inclusão. No lugar disso,
pensamos a inclusão como imperativo histórico, que
como tal, pode assumir facetas distintas em cada
época, fortalecer-se ou esmaecer-se, dependendo da
racionalidade, das estratégias e das táticas organiza-
das e privilegiadas em cada período e grupo social.
Então, podemos pensar que: Se por um lado, a
governamentalidade neoliberal democrática con-
verteu a inclusão na regra máxima de condução das
condutas, pois todos precisavam estar incluídos para
tornarem-se cidadãos e, portanto, alvo das ações de
governamento, por outro lado, a governamentali-
dade neoliberal conservadora não faz desaparecer
a inclusão, mas junto com ela, aciona também a
exclusão como fundamento de algumas das práticas
de governo, que amparam-se, ainda, no preceito do
direito.
Essa exclusão não se refere as formas de fazer
morrer empreendidas na Idade Média e estudadas
por Foucault, em especial no Curso Em Defesa da
Sociedade. É preciso pensar, contemporaneamente,
como essas práticas de exclusão são desenvolvidas
no interior de uma racionalidade que tem como
premissa “fazer viver”. É por dentro desse biopoder,
ou seja, de um poder que tem como objeto e objetivo
a vida da população, que tais práticas são produzi-
das. Talvez esteja, justamente aqui, a necessidade
de atualizarmos as discussões acerca do biopoder
e, por consequência, das suas formas de exercer o
Racismo de Estado. É importante lembrar que para
Foucault (1999, p. 306) o Racismo era “a condição
da aceitabilidade de tirar a vida numa sociedade de
normalização”. E ele é ainda mais preciso:
[...] por tirar a vida não entendo simplesmente o
assassínio direto, mas também tudo o que pode
ser assassínio indireto: o fato de expor à morte, de
multiplicar para alguns o risco de morte ou, pura
e simplesmente, a morte política, a expulsão, a
rejeição, etc. (Foucault, 1999, p. 306)
Dessa perspectiva teórica, pode entender-se a
existência de uma sorte de racismo de estado contem-
porâneo, aqui materializado pelas práticas de exclu-
são, que não simplesmente faz morrer ou produz
a morte diretamente, mas expõe, constantemente,
determinadas parcelas da população à morte: retira
direitos, minimiza benefícios, corta investimentos
educacionais e sociais, não garante condições míni-
mas de participação, deixa o sujeito a sua própria
sorte, dependendo exclusivamente do seu autoem-
presariamento e vivendo as mazelas da precarização,
cada vez mais acentuada, da sua própria existência.
Assim, a exclusão volta a se apresentar como estra-
tégia de governo diante de alguns grupos que devem
desaparecer socialmente, ou pelo menos, terem suas
participações limitadas e ajustadas ao modelo insti-
tuído de vida e de ordem. Negar suas formas de ser e
de viver, subjugar sua existência e produzir seu desa-
parecimento social, são práticas contemporâneas de
exclusão que colocam em xeque a manutenção do
imperativo de inclusão como forma privilegiada do
governamento atual.
Ao questionar-se a permanência da inclusão como
imperativo de Estado, não se afirma uma inversão, ou
seja, a transformação da exclusão num novo impera-
tivo contemporâneo. Trata-se apenas de reconhecer
uma transformação em curso, uma espécie reconfi-
guração do imperativo da inclusão no contexto de
uma governamentalidade neoliberal cuja ênfase não
é mais a sua face democrática (ainda que a ideia de
direitos se mantenha presente e forte), mas seu viés
conservador.
Então, nessa governamentalidade, não se trata do
desaparecimento da noção de direito, mas talvez da
sua privatização, centrando no sujeito a responsa-
bilidade pelas suas condições de vida. Isso se torna
evidente a partir das discussões desenvolvidas por
Dardot e Laval (2016) em seu livro A Nova Razão
do Mundo. Para os autores franceses, a partir do
neoliberalismo, os direitos universais à vida, isto é,
à saúde, à educação, à integração social e à participa-
ção política, são transformados no resultado de um
cálculo que provém de escolhas individuais erradas.
Ou seja, tornam-se responsabilidade do sujeito. Os
autores destacam que “o obeso, o delinquente ou o
mau aluno são responsáveis por sua sorte. A doença,
o desemprego, a pobreza, o fracasso escolar e a
exclusão são vistas como consequência de cálculos
errados” (Dardot e Laval, 2016, p. 230): trata-se da
“privatização da conduta”. Nessa lógica, “a cidadania
não é mais entendida como a participação ativa
na definição de um bem comum próprio de uma
73
As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de
uma governamentalidade neoliberal conservadora
Kamila Lockmann
Artículo de investigación
comunidade política, mas como uma mobilização
permanente dos sujeitos” (Dardot e Laval, 2016, p.
239), os quais passam a serem responsabilizados
pela precarização de sua existência.
Assim, a exclusão de determinados grupos da
população passa a ser uma das estratégias mobili-
zadas nessa governamentalidade neoliberal conser-
vadora, não para fazer morrer alguns sujeitos, mas
tampouco para faze-los viver. Não se trata de produzir
a morte, tampouco de cuidar da vida. Ao maximizar
a responsabilidade individual de cada um consigo
mesmo, essa forma de governamento, simplesmente,
deixa-os viver, fazendo-os assumir, por eles mesmos,
os riscos da sua existência, que nada mais são do
que resultado de escolhas individuais. Ao fim e ao
cabo, as práticas de exclusão, que vemos aparecer
nesse contexto contemporâneo, nada mais são do
que a materialização da extrema individualização
dos sujeitos.
Práticas muito concretas podem nos mostrar a
extensão dessa governamentalidade que, como disse
Foucault (2008), não se trata apenas de uma doutrina
econômica, mas estende-se aos mais distintos âmbi-
tos da vida. Um exemplo para pensar uma forma de
materialização dessas práticas de exclusão é a pro-
posta de lei, ainda não aprovada, sobre a Educação
Domiciliar.6 Tal projeto de lei pauta-se no discurso de
que as famílias terão o direito de oferecer educação
domiciliar para as crianças, mediante a construção de
um plano individual proposto pelos pais ou respon-
sáveis. Em entrevista à Radio Gaúcha a Ministra da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares
Alves diz que:
Os pais das crianças com deficiência, pais de crianças
com autismo, esse é um grupo muito grande que tem
conversado com esse Ministério, eles gostariam de
educar os filhos em casa. Muitos deles entendem que
os filhos não estão se adaptando na escola, tem criança
com autismo que sofre mais indo para escola do que
ficando em casa, então (a proposta) também vem
para atender essa parcela significativa da população.
(Gaúcha, 2019)
6 No Brasil, está em tramite no Congresso Nacional o projeto de
lei PL 3261/2015 que autoriza o ensino domiciliar na educa-
ção básica e altera Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as dire-
trizes e bases da educação nacional.
Tal discurso levanta uma série de problematizações:
a perda do caráter comum e público da educação esco-
lar, ao privar as crianças da frequência à escola e do que
somente ali pode acontecer; a primazia dos processos
de individualização, ao atender exclusivamente interes-
ses privados das famílias e individualizar fenômenos
coletivos; e a desautorização do saber docente e a sua
desprofissionalização, ao permitir que pais e responsá-
veis possam construir um plano pedagógico individual.
Porém, diante de tudo isso há algo peculiar que precisa
ser considerado; trata-se da face excludente dessa pro-
posta, ao permitir que alguns sujeitos não participem
dos processos de escolarização.
Como dito anteriormente, não se trata, simples-
mente, do desaparecimento da noção de direito, mas
de sua transformação: a educação escolar, antes direito
universal, agora transmuta-se no resultado da escolha
individual dos pais ou responsáveis. Com isso, dois
movimentos são perceptíveis: o primeiro é a transfor-
mação da exclusão num direito —o direito das famí-
lias de optarem ou não pela educação domiciliar—; o
segundo é transformar o próprio direito no resultado
de uma escolha individual e, como tal, essa escolha
responsabiliza os sujeitos por seu sucesso ou fra-
casso. Talvez aí resida o maior perigo das práticas de
exclusão contemporâneas. Elas não negam o direito,
mas transformam a exclusão num direito e o direito
numa escolha individual.
Com isso, tal proposta constitui-se num processo de
exclusão de tais sujeitos ao processo de escolarização,
antes considerado um direito universal. Ou seja, corre-
mos o risco de perder o caráter público da educação
escolar. E por público não me refiro a forma como a
escola é dirigida ou financiada. Com autores como
Masschelein e Simons (2013) aprendemos que no
âmago do conceito “escola” encontra-se à democra-
tização do tempo livre caraterístico do pensamento
grego. Para eles “a escola fornecia tempo livre, isto
é, tempo não produtivo, para aqueles que por seu
nascimento e seu lugar na sociedade (sua posição)
não tinham direito legítimo de reivindicá-lo” (Mass-
chelein e Simons, 2013, p. 26). Ou seja, tratava-se
da democratização de um tempo e um espaço para
o estudo e a prática oferecido às pessoas que não
tinham nenhum direito a ele de acordo com a ordem
arcaica vigente na época grega. Parece que essa
ordem volta como sombra nessa governamentali-
dade neoliberal conservadora, ao constituir um novo
direito: o direito à exclusão, o direito a não mais
74
Número 52 / Universidad Pedagógica Nacional / Facultad de Educación / 2020 / Páginas 67–75
compartilhar um tempo e espaço comum, o direito
de viver, da forma mais maximizada possível, a sua
individualização.
Como resistir a essa forma de governamentalidade
neoliberal conservadora que produz formas de vida
pautadas por práticas de exclusão, individualização e
responsabilização dos sujeitos? De acordo com Dar-
dot e Laval (2017), uma alternativa diante dessa nova
razão-mundo pode residir no que os autores deno-
minam princípio político do comum. A compreensão
desse conceito sustenta-se em quatro aspectos fun-
damentais: o primeiro, diz respeito a compreender o
“comum” como princípio. Para os autores, princípio é
um começo, é o que vem primeiro e fundamenta todo
o resto. Não pode ser apagado ou substituído com o
que vem depois.
É um verdadeiro começo, um “começo sempre a
começar”, isto é, um começo que rege e domina
tudo o que vem depois. O grego arché tem o sentido
duplo de começo e comando: arché é a fonte da qual
deriva todo o resto. O comum é um princípio polí-
tico no sentido de ordenar, comandar e reger toda
a atividade política. (Dardot e Laval, 2017, p. 10)
Além disso, comum não é apenas um princípio,
mas um princípio político, que tem relação com
fazer algo junto, compartilhado. Esse seria o segundo
aspecto destacado pelos autores: o comum como
princípio político. Para os autores a política é “a
atividade de deliberação pela qual os homens se
esforçam para determinar juntos o que é justo, bem
como a decisão e a ação decorrentes dessa atividade
coletiva” (Dardot e Laval, 2017, p. 10).
O terceiro aspecto enfatiza no caráter do múnus
que compõe o conceito do comum. O múnus refere-se,
ao mesmo tempo, a obrigação e a atividade, ou seja,
compreende que a participação numa mesma ativi-
dade é uma obrigação política. Esse terceiro aspecto
parece mostrar a importância da escola, como algo
que não pode ser substituído por um processo indi-
vidualizante que atenderá a interesses privados. Os
autores salientam que nenhum tipo de
[...] pertencimento —etnia, nação, humanidade
etc.— pode ser em si o fundamento da obrigação
política. Disso resulta também que essa obrigação
não tem nenhum caráter sagrado ou religioso, o que
implica que qualquer fonte transcendente, qualquer
autoridade exterior à atividade deve ser rejeitada.
(Dardot e Laval, 2017, p. 10. Grifos do autor)
Um último aspecto se refere a “inapropriabili-
dade” do comum, ou seja, a forma como o comum
não pode ser apropriada por alguém, como uma coisa
ou um objeto. Segundo Dardot e Laval (2017, p. 13)
“inapropriável não é aquilo do qual ninguém pode se
apropriar, isto é, aquilo cuja apropriação é impossível,
mas aquilo do qual ninguém deve se apropriar, isto é,
aquilo cuja apropriação não é permitida porque deve
ser reservado ao uso comum”.
Ao utilizar o conceito de comum para pensar a
educação parece ser possível sustentar o argumento
de que a escola é esse espaço inapropriável! A escola
é um espaço público e comum, que não deve ser
apropriado. Então a escola mesma é inapropriá-
vel, os processos que ali acontecem não podem ser
reproduzidos em outros lugares, como em casa ou
pela instituição familiar, simplesmente porque eles
se dão num espaço aberto de criação e invenção,
o qual só pode ser produzido quando diferentes
vozes, diferentes sujeitos, diferentes gerações, dife-
rentes etnias, diferentes crenças e formas de vida,
se encontram. Nesse encontro, compreende-se que
a participação na atividade coletiva é uma obrigação
política e como tal é capaz de produzir a escola, senão
como único, mas talvez o mais potente espaço-tempo
capaz de sustentar o comum como princípio político.
Segundo Dardot e Laval (2016, p. 9) “o princípio
político do comum remete a um sistema de práticas
diretamente contrárias à racionalidade neoliberal
e capazes de revolucionar o conjunto das relações
sociais”. Assim, talvez seja justamente por meio desse
princípio político que possamos encontrar forças
capazes de resistir às imposições excludentes dessa
racionalidade de governo neoliberal, que na sua face
conservadora tem enfatizado formas de vida indivi-
dualizadas, onde projetos comuns são cada vez mais
difíceis e menos possíveis.
O princípio político do comum não é, nem pode se
constituir num megaprojeto que vá substituir a racio-
nalidade neoliberal, porém ele pode movimentar e
produzir um conjunto de práticas que possibilitem
outras formas de existência. Formas essas que recha-
cem a individualização, o preconceito, a indiferença
e a exclusão. Que se coloquem como resistência ou
que criem formas outras de re-existência. “Resistir
é re-existir, existir de novo, afirmar as potências da
vida. Re-existir é recusar as subjetivações impostas
e criar novas formas de subjetividade” (Gallo, 2017a,
p. 91). No contexto de discussão que este texto mobi-
lizou, resistir é existir de um modo distinto daquele
preconizado por essa governamentalidade neoliberal
conservadora. Trata-se de criar formas outras de
existência que tomem o princípio político do comum,
como um modo de vida, que nos convoque a viver
junto com o outro, colocando o agir comum como
mobilizador das nossas formas de ser, estar, viver e
existir no e com o mundo.
75
As reconfigurações do imperativo da inclusão no contexto de
uma governamentalidade neoliberal conservadora
Kamila Lockmann
Artículo de investigación
Referências
Beck, U. (2018). A metamorphose do mundo: novos conceitos
para uma nova realidade. Rio de Janeiro: Zahar.
Dardot, P. e Laval, C. (2016). A nova Razão do Mundo: ensaio
sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo.
Dardot, P. e Laval, C. (2017). O Comum é a revolução, dizem
Dardot e Laval. IHU on line. Unisinos: São Leopoldo, 26
out. 2017. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.
br/78-noticias/573045-o-comum-e-a-revolucao-di-
zem-dardot-e-laval.
Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade: curso no
Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins
Fontes.
Foucault, M. (2003). Microfísica do Poder. Rio de Janeiro:
Graal.
Foucault, M. (2008). Nascimento da biopolítica: curso no
Collège de France: 1978- 1979. São Paulo: Martins
Fontes.
Gadelha, S. (2009). Biopolítica, Governamentalidade e edu-
cação: introdução e conexões a partir de Michel Foucault.
Belo Horizonte: Autêntica.
Gallo, S. (2017a). Biopolítica e subjetividade: resistência?
Educar em Revista, 66, 77-94.
Gallo, S. (2017b). Políticas da diferença e políticas públicas
em educação no Brasil. Revista Educação e Filosofia,
31(63), 1497-1523.
Gaúcha, ZH. (2019). “Pais de crianças com deficiência e
autismo gostariam de educar filhos em casa”, diz Damares
ao defender ensino domiciliar. Reportagem da Gaúcha
ZH. Disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/
educacao-e-emprego/noticia/2019/04/pais-de-crian-
cas-com-deficiencia-e-autismo-gostariam-de-educar-
-filhos-em-casa-diz-damares-ao-defender-ensino-do-
miciliar-cjue5f6d301oc01o1546wenuv.html
Kant, I. (1980). Fundamentação da metafísica dos costu-
mes. Em Textos selecionados. São Paulo: Abril Cultural.
(Coleção Os Pensadores).
Lockmann, K. (2016). As práticas de inclusão por circula-
ção: formas de governar a população no espaço aberto.
Revista Cadernos de Educação - , Dossiê, 1(55),
19-36.
Lopes, M., Lockmann, K. e Hattge, M. (2013). Políticas de
estado e Inclusão. Pedagogía y Saberes, 38, 41-50.
Lopes, M., Lockmann, K., Hattge, M. e Klaus, V. (2010).
Inclusão e Biopolítica. Cadernos IHU Ideias, 144, 1-30.
Marín-Díaz, D. (2013). Em búsqueda de la felicidade y el
éxito: vidas ejercitantes y educación. Revista Colom-
biana de Educación, 65, 177-198.
Masschelein, J. e Simons, M. (2013). Em defesa da escola:
uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica.
Autor: Guillermo Quintero - Título: Florero de amor - Dimensiones: 80 x 60 cm - Técnica: Óleo sobre lienzo
... Por su parte, el segundo postulado, esto es, la idea de no univocidad del concepto de inclusión implica la comprensión histórica de que la inclusión asume énfasis diferentes y funciona de maneras siempre diversas, dependiendo de los grupos sociales y los momentos históricos en los que se hable de ella. Así, parece evidente que la inclusión es un concepto polisémico, es decir, que puede entenderse de diversas maneras dependiendo de la intencionalidad que anime a su uso y puede llegar a articularse a diversas formas de racionalidad que orientan la conducta de los individuos y sus relaciones sociales y políticas (Lockmann, 2020). ...
... 4 Paradójicamente, en tanto que, como afirma Foucault, "el neoliberalismo se constituye en un juego formal entre desigualdades" (2008: 163), la lógica de la inclusión dentro de ese juego no buscaría necesariamente garantizar condiciones de igualdad entre los sujetos. Se puede hablar entonces de in/exclusión para definir las dos caras de un mismo movimiento (Lockmann, 2020); es decir, para expresar que aún al interior de ese imperativo incuestionable de la inclusión continúan gestándose procesos de exclusión y que las políticas y programas que persiguen la inclusión no garantizan la reversión de la exclusión, en la medida en que no garantizan una inclusión permanente de los sujetos. ...
... Se trata de la formación de un capital humano flexible a través de nuevas figuras de la subjetividad, que no necesariamente están preparadas para el empleo y sí para la empleabilidad, que es su responsabilidad mantener mediante prácticas y habilidades de aprendizaje para toda la vida. Claramente, la finalidad es gobernar a todos los grupos de la población e incluirlos en las redes de consumo, garantizando espacios de participación en el mercado, de manera que puedan contribuir, aunque sea mínimamente, al funcionamiento del juego económico (Lockmann, 2020). ...
Article
Full-text available
This article argues that the relationship between technology and access is paradoxical, and that although technology is often associated with access and integration, it can also isolate people, creating unique forms of social exclusion. For this, it starts from the problematization of the very idea of inclusion. Thus, the purpose of the article is to demonstrate that the paradigm of assistive technology as a facilitator of the social inclusion of persons with disabilities, would work under the logic of productive inclusion that manifests itself in two ways: in the inseparability of the logic of exclusion and inclusion, which is expressed in the digital divide generated by the technological revolution and its incidence in the field of visual impairment; and through the discourse of employability that would fundamentally have a purpose of productive insertion in the economic game.
... Estudiosos sobre o tema em uma perspectiva pós-estruturalista (Veiga-Neto; Lopes, 2007;Garbini, 2012;Rech, 2013;Casta;Hillesheim, 2014;Lockmann, 2020) demonstram que a inclusão educacional vem operando como uma estratégia de governamento na racionalidade neoliberal que legitima a sua implementação na sociedade. Nessa perspectiva, o discurso da educação inclusiva desde a década de 80 passou a ser a regra máxima no jogo econômico e social de um Estado neoliberal (LOCKMANN, 2020). ...
... O governo em consonância com os ideais neoliberais, anunciou por meio do Censo Escolar o aumento expressivo no número de matrículas de estudantes com deficiência na rede regular de ensino a partir de 2010, fato que envolve a população por meio de estratégias que levam o docente a se sentir cada vez mais responsável por atingir tal ideal e agir de determinados modos. (RECH, 2013;LOCKMANN;MACHADO;FREITAS, 2017). ...
Article
Full-text available
O presente artigo objetiva analisar as produções realizadas no campo do Ensino e Educação em Química e a Inclusão de estudantes com deficiência visual, deste modo, optamos por investigar tal relação em dois eventos nacionais, um da área de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) e outro da área de Ensino de Química (ENEQ), bem como as pesquisas disponibilizadas no Banco de Teses e Dissertações da Capes e da Biblioteca Digital Nacional que aborda a temática na última década. Utilizamos o referencial teórico-metodológico baseado em Michel Foucault para tecer problematizações a respeito do tema investigado e da metodologia de Análise do Discurso para examinar os ditos dos professores e/ou pesquisadores, os quais na posição de poder ocupada expressam os saberes que os constituem, definem, assujeitam e /ou subjetivam. Após a identificação dos trabalhos notou-se que ainda existe a necessidade de ampliar os discursos sobre a inclusão de estudantes com deficiência visual nessa área de conhecimento, há uma necessária e urgente discussão a ser feita na formação inicial de professores que parte da análise de nossos assujeitamentos e chega a um reconhecimento da pedagogia da diferença como força possível de inclusão.
... Authors 7,8 maintain that democratic governmentality is rooted in neoliberal rationality. While social rights are guaranteed for the population, the price paid for this guarantee lies in the need to be governed in a democratic regime. ...
... In Brazil, it is argued that a new political reason has been adopted as of 2016. The democratic neoliberal governmentality seems to have given way to a conservative neoliberal rationality 7,8 , in which investing in social policies is reduced to the extreme, directly affecting SUS and its services. In this context, Health Promotion practices tend to be weakened in all settings in which they have a leading role, including PHC. ...
Article
Full-text available
This article aims to understand and analyze the effects and limitations of Health Promotion in Primary Health Care (PHC). We conducted genealogical, qualitative research with 23 PHC workers. The analysis originated the following datasets: effects of Health Promotion practices performed in PHC and difficulties and limitations in conducting the practices. The results show that the main impact of Health Promotion is reducing medicalization and adopting Expanded Clinic elements in the care provided. The main difficulties arise from the poor public policies due to the fiscal austerity measures adopted in recent years. Strengthening the collective nature of health demands and their responses is a possibility of resisting in the face of the authoritarian neoliberal rationality currently prevailing in the Brazilian State.
... En esta dirección es que proponemos como hipótesis que en el marco de las actuales sociedades de empresa (Foucault, 2007) o de gerenciamiento (Grinberg, 2006(Grinberg, , 2008 el sujeto docente es afectados por una multiplicidad de dispositivos de gobierno 3 (Agamben, 2014;Deleuze, 1990;Foucault, 2006;Lemke, 2021) que lo conducen a la self-accountability (autoresponsabilización) operando en su configuración ética. En estos procesos de subjetivación, es decir de la producción del docente como sujeto y por lo tanto capturado por los dispositivos, es donde la inclusión educativa se presenta como un imperativo regulatorio de las conductas (Corcini Lockmann, 2020) para configurar prácticas de gobierno de lo social (Corcini Lopes y Hattge, 2009;Lockmann, 2016;Lockmann y Henning, 2010). Se trata de "algo que se impone a cada uno de nosotros, una verdad que nos subjetiva y nos hace ejercer, sobre los otros y sobre nosotros mismos, determinadas acciones que conducen nuestras conductas"(Rubio-Gaviria y Lockmann, 2018, p. 167). ...
Conference Paper
Full-text available
En este trabajo proponemos discutir públicamente algunos resultados producidos en el marco de una investigación recientemente finalizada1 emprendida por un equipo de investigación2 de un ISFD. En dicha investigación nos ocupamos de caracterizar y describir la gestión del hacer docencia para la inclusión educativa en escuelas secundarias estatales en contexto de pobreza urbana del conurbano bonaerense a partir de la emergencia del COVID-19. Específicamente, presentaremos conclusiones vinculadas a las múltiples facetas y dimensiones en las que se des-pliega cotidianamente el trabajo docente con miras a producir la inclusión socioeducativa de las/os estudiantes en el nivel secundario. En términos teóricos, nos posicionamos en los estudios de gubernamentalidad (Dean, 2010; Foucault, 2006; Grinberg, 2007; Lemke, 2012; Rose et al., 2012) y su devenir filosófico y sociológico en el campo educativo para caracterizar el devenir docente manager como el correlato contemporáneo de los efectos (en tanto afecciones) que producen las lógicas y dinámicas de las sociedades posdisciplinares (Deleuze, 1991) caracterizadas el managerialismo (Alonso y Fernández Rodríguez, 2013; Grinberg, 2006, 2008; Sisto Campos, 2019) y el rendimiento (Han, 2012). Acudir a la grilla analítica de la gubernamentalidad (Castro-Gómez, 2010; Foucault, 2007) brinda la oportunidad de indagar cómo en la actualidad las/os sujetos docentes son constituidos como tales en la medida que son el resultado de esos engarces que se producen entre la racionalidad neoliberal de gobierno (Carlos, 2018; De Marinis, 1999; Méndez, 2017) y la producción de subjetividades en educación (Jódar y Sánchez, 2007). Nótese que referimos a la idea de gobierno no en su acepción que la vincula con la administración política del aparato burocrático estatal, sino en un sentido diferente, más amplio y complejo que lo entiende como el ejercicio de la conducción de las propias conductas y a su vez, de la conductas de las/os otras/os (Foucault, 2006). En términos aún más foucaultianos supone el gobierno de uno mismo/a y también el gobierno de terceros (Foucault, 2009), actividad que se juega y produce centralmente en los procesos de subjetivación donde los sujetos se constituyen como tales en relación con ciertos regímenes de veridicción (Foucault, 2010). En esta dirección es que proponemos como hipótesis que en el marco de las actuales sociedades de empresa (Foucault, 2007) o de gerenciamiento (Grinberg, 2006, 2008) el sujeto docente es afectados por una multiplicidad de dispositivos de gobierno3 (Agamben, 2014; Deleuze, 1990; Foucault, 2006; Lemke, 2021) que lo conducen a la self-accountability (autoresponsabilización) operando en su configuración ética. En estos procesos de subjetivación, es decir de la producción del docente como sujeto y por lo tanto capturado por los dispositivos, es donde la inclusión educativa se presenta como un imperativo regulatorio de las conductas (Corcini Lopes, 2009; Lockmann, 2020) para configurar prácticas de gobierno de lo social (Corcini Lopes y Hattge, 2009; Lockmann, 2016; Lockmann y Henning, 2010). Se trata de “algo que se impone a cada uno de nosotros, una verdad que nos subjetiva y nos hace ejercer, sobre los otros y sobre nosotros mismos, determinadas acciones que conducen nuestras conductas”(Rubio-Gaviria y Lockmann, 2018, p. 167). Pero también se trata de un imperativo que “estructura la propia razón de Estado y [se dispone] como estrategia de gobernanza de las personas y de la población” (Corcini Lopes & Dal’Igna, 2012, p. 856, traducción propia). De modo que en este trabajo, caracterizaremos algunas de esas conductas que asumen las/os docentes en el marco de los efectos continuados del acontecimiento COVID 19 (Esperón, 2021) y de los procesos de subjetivación donde son afectados por los dispositivos manageriales y del rendimiento. En otras palabras, implica considerar los efectos performativos que el imperativo de la inclusión educativa produce en términos de afecciones (Deleuze, 2004, 2008; Spinoza, 1980). En términos metodológicos, acudimos a la noción de práctica tanto en su condición discursiva (Foucault, 1979, 1984) como afectiva (Wetherell, 2012, 2013a, 2013b) “cierta manera de hablar” (Foucault, 1979, p. 326), “de obrar y de pensar, que dan la clave de inteligibilidad para la constitución correlativa del sujeto y del objeto” (Foucault, 1984, p. 367). En tanto maneras diversas de pensar, actuar y decir “ayudan a definir no los pensamientos, las representaciones, las imágenes, los temas, las obsesiones que se ocultan o se manifiestan en los discursos, sino esos mismos discursos, esos discursos en tanto que prácticas que obedecen a reglas” (Foucault, 1979, p. 233). Se caracterizan por no ser engañosas, no ocultar detrás de sí aspectos no revelados, ni cuestiones reprimidas, puesto que “el mundo es siempre, y en cada momento, lo que es y no otra cosa: aquello que se dice tal como se dice y aquello que se hace tal como se hace” (Castro Gómez, 2010, p. 28). Pero además, en acuerdo con Wetherell (2012, 2013a, 2013b) también son afectivas y no son extradiscursivas (Massumi, 2000) puesto que son afectadas y afectan a otros/as poniendo en “primer plano la dimensión performativa de los afectos donde estos son entendidos como acciones y no como padecimientos” (Lemus, 2020, pp. 114-115). Para el estudio de dichas prácticas, esta investigación asumió una metodología cualitativa de corte descriptiva para indagar más densamente (Geertz, 2003) tanto en las regularidades de la vida escolarbarrial en las que se inscriben las prácticas afectivo-discursivas de las/os docentes, como también capturarlas y registrarlas desde las perspectivas de los propios sujetos. En términos de métodos nos hemos valido de los aportes y experiencias centralmente de la etnografía educativa (Rockwell et al.,1997) y de los dispositivos (Sisto y Bernasconi, 2015; Sisto y Zelaya, 2014), que han ejercido un fuerte influjo sobre las estrategias metodológicas de esta investigación, reconociendo su pertinencia respecto de sus objetivos y las propuestas de trabajo en el terreno. Así como señalan Hammersley y Atkinson (1994), en este tipo de método “se debe decidir dónde y cuándo observar, con quién conversar, así como qué información registrar y cómo hacerlo. En este proceso no sólo estamos decidiendo lo que es o no relevante para la investigación, también estamos extrayendo varias muestras de la información disponible” (p. 59). Respecto de la estrategia de producción de información, esta consistió en primer lugar, en el diseño y desarrollo de entrevistas semiestructuradas “para captar las experiencias y los significados vividos del mundo cotidiano de los sujetos [a la vez que les permite a estos] expresar a otros su situación desde su propia perspectiva y en sus propias palabras” (Kvale, 2011, p. 34). Pese a que las entrevistas semiestructuradas demandan la confección previa de una guía con temas a tratar, quien lleva adelante las dinámicas cuenta con la ventaja de poseer la libertad necesaria “para ordenar y formular las preguntas a lo largo del encuentro de entrevista” (Valles, 1999, p. 181) al tiempo que fue posible construir y ‘poner a jugar otras’ preguntas emergentes en aras de continuar ajustando el instrumento a los propósitos de la investigación. Asimismo y en función de la factibilidad vinculada con la ocasión y oportunidad de realizar estas entrevistas y/o mantener diálogos informales con los/as sujetos docentes mientras se desarrollaban las jornadas escolares, se adoptó la decisión de construir una segunda herramienta de producción de información: el registro de observación mediante la elaboración. Sin ánimo de extendernos en debates que antaño vienen produciéndose en el vasto campo de las ciencias sociales y humanas, sobre todo en la antropología y sociología, nos referimos a la noción de observación asociada con propósitos científicos (Marradi et al., 2007). Al respecto vale también decir que acordamos con Guber (2004) a propósito de la relación entre observación y participación cuando afirma que “es cierto que la observación no es del todo neutral, pues incide en los sujetos observados, y es cierto también que la participación nunca es total, excepto cuando el investigador adopta, como sistemática de notas de campo. En ellas y siguiendo la propuesta de Hernández Sampieri y Mendoza Torres (2018) se incluyeron principalmente, anotaciones de la observación directa, esto es, “descripciones de lo que estás viendo, escuchando, olfateando y palpando del contexto y de los casos o participantes observados” (p. 407). Pero además de anotaciones interpretativas (comentarios interpretativos del investigador/a sobre lo registrado), temáticas (preguntas, hipótesis, categorías, entre otras realizadas por el/la investigador/a), personales (aprendizajes, sentimientos y sensaciones del/la investigador/a) y de la reactividad de los sujetos estudiados (problemas en el campo, situaciones inesperadas, cambios en las conductas de las/os otras/os inducidos por el/ investigador/a). Para tal propósito se confeccionó una serie de pautas de observación que fungieron de guía/orientación para las/os investigadoras/es en el campo cuya finalidad fue registrar lo más densamente posible la cotidianeidad de la vida escolar con eje en las prácticas afectivo-discursivas de las/os docentes. Pero, como lo advierten Ruiz Olabuénaga y Ispizua (1989), la observación “puede transformarse en una poderosa herramienta de investigación social y en técnica científica de recogida de información” (p. 79), siempre y cuando se la oriente y enfoque a un objetivo plausible de la investigación, desarrollado previamente; se la planifique sistemáticamente en momentos, fases, aspectos, personas y lugares; se ejerza un control y una relación con proposiciones y teorías sustentadas, “sometiéndola a controles de veracidad, de objetividad, de fiabilidad y de precisión" (p. 80). De modo que el trabajo de campo asumió características etnográficas para el estudio de dichas prácticas que implicó la definición de una serie de criterios intencionados intencionados de selección (Goetz y LECoMPTE, 1984) sobre las escuelas donde estos desempeñan sus funciones y en las que se focalizó el trabajo de campo.
... No Brasil, sustenta-se que, a partir de 2016, uma nova razão política passou a ser adotada. A governamentalidade neoliberal democrática parece ter dado lugar a uma racionalidade neoliberal conservadora 7,8 . Nesta, os investimentos em políticas sociais são reduzidos ao extremo. ...
Article
Full-text available
Resumo Este artigo busca conhecer e analisar os efeitos e as limitações da Promoção da Saúde na Atenção Primária em Saúde (APS). Realizamos uma pesquisa qualitativa, de inspiração genealógica, com 23 trabalhadores da APS. A análise originou os seguintes conjuntos de dados: efeitos das práticas de Promoção da Saúde realizadas na APS e dificuldades e limitações para a realização das práticas. Os resultados apontam que o principal efeito das práticas de Promoção da Saúde está na diminuição da medicalização e na adoção de elementos da Clínica Ampliada no cuidado realizado. As principais dificuldades decorrem da precarização das políticas públicas, oriundas das medidas de austeridade fiscal adotadas nos últimos anos. Fortalecer o caráter coletivo das demandas em saúde e das respostas para elas parece ser uma possibilidade de resistência diante da racionalidade neoliberal autoritária que impera no Estado brasileiro atualmente.
... Um dos imperativos contemporâneos que atravessam essas áreas é o da inclusão (LOPES, 2009;LOCKMANN, 2020a), buscando trazer para a escola -essa potente "máquina de governamentalização" (VEIGA-NETO, 2011, p. 109)populações socialmente vulnerabilizadas, tal como as compreendidas pela Educação Especial e pela Educação do Campo. ...
Article
Full-text available
Este texto objetiva tensionar, no contexto da governamentalidade neoliberal, os processos de in/exclusão nas interfaces da Educação Especial e da Educação do/no Campo, particularmente quanto à oferta de escolarização e de atendimento educacional especializado (AEE) às populações camponesas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa, com revisão documental e bibliográfica, bem como de levantamento de microdados do Censo Escolar da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, nos recortes de 2008, 2014 e 2020.
Article
Full-text available
Com base em aportes pós-estruturalistas, bem como dos estudos de gênero e nos estudos foucaultianos, este artigo investiga como se deu o reordenamento de uma governamentalidade neoliberal e seu entrelaçamento com a governamentalidade neoconservadora, assim como seus efeitos no campo da educação, principalmente na educação dos gêneros e sexualidades. Os materiais empíricos cartografados, que incluem posts, artigos publicados no jornal Gazeta do Povo, entre outros, são discutidos frente à problematização de uma certa viabilidade moral-econômica forjada na desfeita parceria entre Estado e movimentos LGBTIA+ vivida entre 2003 e 2015, além do agenciamento entre neoconservadorismo e neoliberalismo, que se alinha a um projeto mais radical, implicado menos com o governamento da vida e com o gerenciamento de riscos e mais com a promoção da precariedade e da morte.
Thesis
Full-text available
Esta dissertação foi produzida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria, na Linha de Pesquisa em Educação Especial, Inclusão e Diferença, na qual problematizei minha docência afetada pelo problema: como o professor pode funcionar na função-educador com a presença do surdo na escola comum? Busquei compreender como a função-educador pode se constituir e operar no contexto da educação de surdos em uma escola comum como potencializadora para pensar relações e experiências outras, de vida e de aprendizados. Abracei a noção de trajetividade cunhada por Virilio enquanto movimento teórico-metodológico, elegendo como materialidade de pesquisa um conjunto de experiências-marcas de minha docência na escola comum Fernandes Vieira, de Lajeado/RS. Operei, na analítica, com ferramentas-conceituais desenvolvidas pelos filósofos franceses Foucault, Deleuze e Guattari, junto a outros autores intercessores de seus pensamentos, a partir de uma perspectiva pósestruturalista. Busquei o entendimento e a problematiz(ação) da produção discursiva em que se assenta o cenário da educação colonizada-escolarizada de surdos pelos efeitos da racionalidade neoliberal e de documentos normativos que orientam a educação de surdos. Explorando minhas experiências-marcas, analisei efeitos dessa produção discursiva em minha docência pela posição-professor na dinâmica arborescente da educação maior. Operei com a emergência da função-educador e de uma educação menor na analítica das experiências-marcas pela trajetividade com a presença-vida surda por meio de práticas e experiências singulares vividas enquanto outros-juntos. Fazendo travessias da minha existência-docência, anunciei que, em meio a uma educação maior, dos planos, ações e políticas públicas de Estado, o professor pode libertar-se da posição-professor e funcionar na função-educador a partir de uma trajetividade ética e estética de vida com o outro. No escopo analítico produzido, os movimentos-conceitos de educação maior e menor não foram entendidos como contrários, e sim como cofuncionantes, assim como a posiçãoprofessor e a função-educador. A função-educador e suas experimentações minoritárias foram anunciadas como potencializadoras para pensar uma política vitalista na escola e um devir possível de uma educação outra com surdos como dispositivo de resistência e re-existência. As operações que se deram pelo meu viverpesquisar corroboram a insurgência de modos outros de docência e de educação e, consequentemente, produções outras de existências e relações com a presença-vida surda na escola comum, transgredindo as relações sujeitantes de saber-poderverdade. Ocupei-me da escrita ensaística enquanto Letícia-professora-pesquisadoratrajetiva, para fazer travessias de vida e de aprendizados, e sigo trajetiva a novas travessias pelos devires com outros-juntos.
Article
El objetivo del artículo es mostrar que el marco legal y normativo de la Educación inclusiva colombiana opera como una estrategia de gobierno bajo la lógica de una inclusión productiva. Mediante la revisión documental de la normatividad más representativa en lo que se refiere a los intentos del Estado colombiano por lograr una educación inclusiva, se encontró que dicha estrategia se manifiesta fundamentalmente de dos maneras: mediante la coexistencia de formas de inclusión y de exclusión en la forma de concebir a los diferentes; y, a través del discurso de la diversidad como un discurso que reconoce las diferencias desde un lugar de hegemonía y con una finalidad de inserción productiva. O objetivo do artigo é mostrar que o marco legal e normativo da Educação Inclusiva colombiana opera como uma estratégia de governamento sob a lógica da inclusão produtiva. Através da revisão documental dos regulamentos mais representativos sobre as tentativas do Estado colombiano de alcançar uma educação inclusiva, constatou-se que essa estratégia se manifesta fundamentalmente de duas maneiras: pela coexistência de formas de inclusão e exclusão na forma de conceber o diferente; e, pelo discurso da diversidade como discurso que reconhece as diferenças a partir de um lugar de hegemonia e com propósito de inserção produtiva.
Article
Full-text available
Neste artigo objetivamos problematizar o campo de forças que compõe as práticas psicológicas e as normativas das políticas públicas no âmbito da Assistência Social. Para tanto, tomamos o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) como analisador de tal política, com o objetivo de propor algumas provocações à Psicologia e à própria Assistência Social. Trata-se de uma pesquisa documental que utiliza, como grade analítica, o conceito foucaultiano de governamentalidade, tomando como materialidade de análise o documento “Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família” volume I (2012) e os impasses gerados pelos recentes cortes orçamentários, que, em parte, inviabilizam o Sistema Único de Assistência Social. Diante disto, as provocações apontam para o que pode emergir do encontro entre a Psicologia e o SUAS, dos desafios às possibilidades engendradas entre esses campos, que se constroem imbricados à racionalidade neoliberal e aos processos de in/exclusão brasileiros.
Article
Full-text available
RESUMO O texto parte da hipótese de que está em curso no Brasil, nas últimas décadas, uma “governamentalidade democrática”, isto é, a produção de ações de governo que consistem em constituir os sujeitos como cidadãos para que eles possam ser governados. Na maquinaria do biopoder, tal como pensada por Michel Foucault, o que acompanhamos são movimentos de construção de ações políticas que se exercem sobre as populações, como, por exemplo, as políticas públicas. Neste texto, percorremos transversalmente alguns documentos de políticas públicas brasileiras no campo da educação, desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, até a Base Nacional Comum Curricular, de 2017. O objetivo é o de mapear, nestas produções biopolíticas, os elementos que implicam na produção de um sujeito cidadão, como alvo das ações de governo. Ao final, são discutidas táticas de resistência a esta produção biopolítica, como recusa daquilo que somos, para a busca de novas produções subjetivas.
Article
Full-text available
Entendendo a inclusão como um imperativo dos Estados Modernos, este texto, organizado a partir do resultado de duas pesquisas, analisa algumas políticas de inclusão social e educacional problematizando os efeitos que elas produzem sobre a vida da população brasileira. A primeira pesquisa apresentada aponta que as políticas de assistência social no Brasil se constituem tanto em estratégias biopolíticas quanto em estratégias de investimento em capital humano. A segunda pesquisa mostra as maneiras pelas quais a inclusão escolar, como estratégia biopolítica, constitui sujeitos empreendedores e empresários de si mesmos.
Article
Full-text available
El texto presenta los principales resultados de la investigacion titulada “Auto-auyuda y educacion: una genealogia de las antropotecnicas contemporaneas” presentada como tesis para optar por el titulo de Doctora en Educacion. En ella se usaron nociones y conceptos metodologicos propuestos y desarrollados por Nietzsche, Foucault y Sloterdijk para describir la procedencia de algunos ejercicios y tecnicas de conduccion de si que son actualizadas y utilizadas para producir cierta ‘interioridad del sujeto’ y asi construir y naturalizar su identidad y su existencia. En el estudio se analiza como esa estrategia de fijacion de un ‘yo’ se complementa con ejercicios y tecnicas de auto-transformacion que convierten al individuo el unico responsable de su felicidad y exito personal. En ese sentido, se describe como ciertas practicas pedagogicas promovidas por los discursos de autoayuda se sustentan en conceptos como interes, aprendizaje, educacion permanente, competencia y capital humano, estableciendose una articulacion con practicas asceticas propias de formas de gobierno (conduccion) de si y de los otros que acompanan y alimentan la racionalidad neoliberal contemporanea, naturalizando ciertos modos de practicar la vida hoy.
Article
Defensora incansavel e intransigente do ensino publico, gratuito, universal e leigo atuei vigorosamente na rede oficial do Estado de Sao Paulo, desempenhando praticamente todas as funcoes inerentes aos cargos de carreira do magisterio, a maioria dos quais ingressei por concurso, tendo iniciado minha carreira como professora primaria, em uma escola multisseriada da zona rural de Elias Fausto, municipio onde nasci e me criei. Nomeada pela Prefeitura Municipal, fazia o percurso de Elias Fausto ao Bairro do Urussanga a cavalo, para "ensinar as primeiras letras" aos filhos de lavradores da regiao.
Pais de crianças com deficiência e autismo gostariam de educar filhos em casa”, diz Damares ao defender ensino domiciliar. Reportagem da Gaúcha ZH
  • Z H Gaúcha
Gaúcha, ZH. (2019). "Pais de crianças com deficiência e autismo gostariam de educar filhos em casa", diz Damares ao defender ensino domiciliar. Reportagem da Gaúcha ZH. Disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/ educacao-e-emprego/noticia/2019/04/pais-de-criancas-com-deficiencia-e-autismo-gostariam-de-educar--filhos-em-casa-diz-damares-ao-defender-ensino-domiciliar-cjue5f6d301oc01o1546wenuv.html
Fundamentação da metafísica dos costumes
  • I Kant
Kant, I. (1980). Fundamentação da metafísica dos costumes. Em Textos selecionados. São Paulo: Abril Cultural. (Coleção Os Pensadores).
As práticas de inclusão por circula-ção: formas de governar a população no espaço aberto
  • K Lockmann
Lockmann, K. (2016). As práticas de inclusão por circulação: formas de governar a população no espaço aberto. Revista Cadernos de Educação -ufpel, Dossiê, 1(55), 19-36.