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Tuberculose animal: diagnóstico, epidemiologia, investigação e controlo

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Abstract

A tuberculose animal é uma doença infeciosa crónica de progressão lenta que afeta bovinos e outras espécies de mamíferos, podendo também afetar o Homem. Na Península Ibérica, a doença é mantida num sistema multi-hospedeiro, no qual os agentes etiológicos, Mycobacterium bovis e M. caprae, circulam de forma endémica em populações de ungulados selvagens e domésticos. Portugal tem registado progressos expressivos no controlo da doença desde a implementação à escala nacional do programa de erradicação, no entanto, subsistem vários aspetos por investigar na interface bovinos-fauna silvestre e são necessárias medidas de intervenção adaptadas a cada cenário epidemiológico.
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luir para um quadro agudo, altamente con-
tagioso, pela eliminação de micobactérias
viáveis através de excreções e secreções.
O quadro clínico é caracterizado pelo de-
senvolvimento de lesões granulomatosas
purulentas, caseosas e/ou caseocalcárias,
onde ocorre infiltração linfocitária e, tipi-
camente, circunscrição do agente etioló-
gico. Estas lesões situam-se, sobretudo, na
cadeia linfática, com afinidade para linfo-
nodos e/ou órgãos específicos consoante a
espécie. Quando as lesões se localizam no
aparelho respiratório, o contágio ocorre por
via oronasal, entre animais que contactem
entre si, no entanto, a bactéria pode tam-
bém ser excretada pelo sistema digestivo/
/excretor através de fezes e urina que po-
dem contaminar o solo, vegetação ou água,
favorecendo a transmissão indireta via am-
biente, nomeadamente pontos de alimen-
tação ou de abeberamento e pastagens. No
caso dos animais selvagens ou dos animais
criados em regime extensivo, o contacto
pode intensificar-se na época de estiagem
devido à redução dos pontos de água, con-
duzindo a maior agregação animal e maior
probabilidade de transmissão.
Implicações da tuberculose bovina
na saúde animal, segurança
alimentar e socioeconomia
A tuberculose em bovinos raramente apre-
senta sinais clínicos específicos, apesar de
se poder registar uma deterioração pro-
gressiva da condição corporal e emaciação
do animal afetado. Face à inespecificidade
de sinais, o controlo da doença consiste na
deteção precoce e remoção atempada dos
animais infetados para minimizar a trans-
missão do agente aos restantes.
Esta é uma doença de notificação obriga-
tória, que constitui risco para a saúde pú-
blica, e cujo agente pode ser transmitido ao
Homem através da ingestão de alimentos
de origem animal contaminados, nomeada-
mente leite não pasteurizado e carne pouco
cozinhada, ou pelo contacto direto com ani-
mais infetados. Neste âmbito, os produtores
Figura 1 – Principais marcos na investigação e controlo de tuberculose animal em Portugal
Tuberculose animal: diagnóstico,
epidemiologia, investigação e controlo
A tuberculose animal é uma doença infeciosa crónica de progressão lenta que afeta
bovinos e outras espécies de mamíferos, podendo também afetar o Homem. Na Península
Ibérica, a doença é mantida num sistema multi-hospedeiro, no qual os agentes etiológicos,
Mycobacterium bovis
e
M. caprae
, circulam de forma endémica em populações de ungulados
selvagens e domésticos.
Portugal tem registado progressos expressivos no controlo da doença desde a implementação
à escala nacional do programa de erradicação, no entanto, subsistem vários aspetos por
investigar na interface bovinos-fauna silvestre e são necessárias medidas de intervenção
adaptadas a cada cenário epidemiológico.
Mónica V. Cunha, Ana C. Reis, André C. Pereira,
Beatriz Ramos, Teresa Albuquerque e Ana Botelho
INIAV, I.P.
Nuno Santos . CIBIO-UP
Tuberculose animal
A tuberculose animal (TB) é uma doença in-
feciosa causada por
Mycobacterium bovis
e,
menos frequentemente, por
Mycobacterium
caprae
, que tipicamente afeta bovinos. Esta
bactéria pode infetar várias outras espécies
de ungulados domésticos e também selva-
gens, carnívoros ou marsupiais, com pre-
valências que variam consoante a região
geográfica, a composição da comunidade de
vertebrados e o maneio. Esta doença de pro-
gressão lenta pode apresentar longos perío-
dos de latência, no entanto, em condições de
imunossupressão do hospedeiro, pode evo-
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SANIDADE ANIMAL
pecuários, agricultores, profissionais de
matadouro e caçadores estão entre os gru-
pos com maior risco de contrair a infeção.
Apesar das diversas medidas em curso que
visam a erradicação da tuberculose bovina,
do melhoramento das condições de maneio
pecuário e da pasteurização do leite, que
contribuíram para diminuir a transmissão
ao Homem, todos os anos são reportados ca-
sos de tuberculose humana de origem zoo-
nótica em países da União Europeia.
A tuberculose animal representa elevado
impacto económico, devido às elevadas
perdas de produção pecuária e de rejeição
de carcaças em matadouro. Este problema
é transversal a diferentes explorações de
bovinos, independentemente da sua aptidão
(leite, carne ou reprodução). Impacta tam-
bém, com menor expressão, as explorações
de caprinos e ovinos, suscetíveis à infeção
por
Mycobacterium caprae
. A TB causa ain-
da a perda de mercados internos e externos
da União Europeia, por restrição do comér-
cio de animais e produtos derivados e pelo
custo direto do controlo da doença para os
orçamentos de alguns Estados-Membros,
incluindo Portugal, onde existe um plano
de erradicação em curso.
Programa de controlo
de tuberculose nos bovinos
Portugal tem um programa de erradica-
ção de tuberculose nos bovinos desde 1987
(Fig.1), baseado no teste e abate dos efeti-
vos, cuja responsabilidade de implementa-
ção e acompanhamento é da Direção-Geral
de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Este programa assenta: (1) na deteção em
vida de animais infetados nas explorações
através da prova de intradermotuberculini-
zação dupla comparada (IDTC) ou o teste
do interferão-gama; (2) no abate sanitário
compulsivo dos animais suspeitos com res-
petiva indemnização aos produtores; e (3)
no diagnóstico laboratorial subsequente.
Existem outras medidas adicionais, como
os testes de pré-movimentação, a vigilância
sanitária em matadouro e a classificação
sanitária obrigatória dos efetivos e regiões.
Portugal tem registado progressos expres-
sivos no controlo da doença desde a imple-
mentação à escala nacional do programa de
erradicação aprovado pela União Europeia
em 1992 (Decisão do Conselho 92/299/CE)
(Fig. 2). Os valores de prevalência têm per-
manecido baixos na última década, eviden-
ciando-se algumas diferenças regionais en-
tre a região Norte, com valores percentuais
de prevalência mais baixos, em comparação
com as regiões Centro e Alentejo (dados de
2017, DGAV). A região do Algarve é a única
reconhecida, desde 2012, como região ofi-
cialmente indemne de tuberculose (Deci-
são 2012/204/EU), sendo aplicado um plano
de vigilância específico para a manutenção
deste estatuto.
Com a diminuição progressiva dos níveis
de prevalência ao longo dos anos, alcançada
através do programa de erradicação, a vigi-
lância ativa da tuberculose bovina é atual-
mente ajustada à realidade epidemiológica
das diferentes regiões, bem como ao históri-
co e aptidão das explorações. Para um con-
trolo eficiente da doença, o rigor de aplica-
ção e interpretação da prova de IDTC é de
importância crucial para a deteção precoce
e efetiva dos animais infetados e implemen-
tação das medidas de controlo necessárias,
evitando assim a propagação do agente infe-
cioso e protegendo a saúde pública.
Tuberculose no mundo
O progressivo controlo da tuberculose ani-
mal, através de rigorosas campanhas de tes-
te e abate dos bovinos infetados, permitiu
tornar vários países oficialmente indemnes
(e.g. Alemanha e França), circunscrevê-
-la a algumas regiões (e.g. Itália) ou baixar
os níveis de prevalência para valores resi-
duais (e.g. Bulgária ou Roménia). Contudo,
quando a infeção se instala em populações
silvestres, como o texugo (
Meles meles
) no
Reino Unido e Irlanda, javali (
Sus scrofa
) e
veado (
Cervus elaphus
) na Península Ibé-
rica, o marsupial opossum (
Trichosurus
vulpecula
) na Nova Zelândia, o búfalo-
-africano na África do Sul (
Syncerus caffer
)
e o veado-de-cauda-branca (
Odocoileus
virginianus
) nos Estados Unidos da Améri-
ca, a sua eliminação torna-se mais comple-
xa e desafiante, conduzindo à necessidade
de combinar diferentes estratégias de inter-
venção, desde o reforço da biossegurança
à eliminação massiva de animais em áreas
infetadas, ou à vacinação em zonas-piloto.
Os estudos publicados sugerem que a vaci-
nação diminui os níveis de excreção, mas
não evita o estabelecimento da infeção. A
vacinação de bovinos é proibida na União
Europeia, uma vez que interfere com os
métodos de diagnóstico, nomeadamente o
teste de IDTC usado em vida. A administra-
ção da vacina na fauna silvestre é também
Figura 2 – Evolução dos indicadores epidemiológicos relativos à tuberculose em bovinos, em Portugal continental (2005 e 2017)
[Adaptado do Relatório Técnic o de Sanidade Animal, DGAV (2017)]
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SANIDADE ANIMAL
atualmente interdita na União Europeia,
apesar de terem sido autorizados alguns
estudos-piloto, que implicam validar um
sistema de administração e distribuição da
vacina, bem como a avaliação do seu impac-
to ambiental.
Tuberculose em caça maior
em Portugal
A TB é uma doença emergente nos ungula-
dos silvestres em Portugal, sendo a expan-
são a partir do núcleo de alta prevalência
no centro-sudoeste da Península Ibéri-
ca alimentado pelas elevadas densidades
destas espécies, as quais são promovidas
pelo maneio intensivo para fins económi-
cos associados ao turismo cinegético e co-
mercialização de carne de caça. Este tipo
de maneio inclui remoção de predadores,
confinamento (cercados), translocação, ali-
mentação e abeberamento artificiais, que
sustentam a transmissão animal a animal.
Para além das implicações óbvias em saú-
de animal, saúde pública e biodiversidade,
a manutenção da tuberculose em espécies
cinegéticas causa também avultados danos
no turismo cinegético, no comércio da car-
ne de caça e põe em causa o valor cultural,
recreativo e económico das montarias e dos
outros processos de caça dirigidos aos un-
gulados cinegéticos.
A vigilância irregular e não uniforme no
país, contudo continuada nalgumas re-
giões, nomeadamente no Alentejo e Beira
Interior, particularmente no concelho de
Idanha-a-Nova, evidenciou uma incidência
crescente de lesões suspeitas, confirmadas
laboratorialmente, em caça maior (veados
e javalis). Esta evidência, associada à ele-
vada densidade e expansão geográfica das
populações de ungulados silvestres, levou
a que a DGAV estabelecesse em 2011 uma
área epidemiológica de risco, através da
publicação do Edital n.º 1/2011. A zona de
risco inicialmente estabelecida compreen-
de concelhos das unidades territoriais do
Centro e Alentejo, estendendo-se ao longo
da região raiana. A aplicação do Edital obri-
ga a medidas específicas, nomeadamente o
exame inicial dos animais de caça maior
abatidos em ato venatório por um médico
veterinário designado, para identificação
de lesões sugestivas de tuberculose, reco-
lha de amostras dos animais suspeitos (com
lesões macroscópicas) para diagnóstico la-
boratorial e encaminhamento e eliminação
adequados de subprodutos e das peças de
caça suspeitas. Este exame inicial tem co-
mo principal objetivo detetar sinais que
possam indicar que o consumo ou manu-
seamento do animal constitui um risco sa-
nitário. O animal com lesões suspeitas deve
ser eliminado para salvaguarda da seguran-
ça alimentar e saúde pública. O exame ini-
cial não substitui a inspeção sanitária. As-
sim, a colocação no mercado para consumo
humano de espécimes de caça maior aba-
tidos em ato venatório obriga ao seu enca-
minhamento para um estabelecimento de
preparação de caça aprovado ou matadouro
licenciado para esse efeito, onde se efetuará
uma inspeção sanitária por médico veteri-
nário oficial.
O diagnóstico laboratorial
A execução analítica dos planos oficiais de
controlo de TB em bovinos e caça maior
(veado e javali) na área epidemiológica de
risco é realizada pelo INIAV, IP, Laborató-
rio Nacional de Referência de Saúde Ani-
mal, que tem a seu cargo a confirmação
laboratorial dos casos suspeitos, baseada
em testes histopatológicos, bacteriológicos,
moleculares e/ou imunológicos (Fig. 3).
Para um diagnóstico definitivo de tubercu-
lose, a Organização Mundial de Saúde Ani-
mal (OIE) exige a confirmação laboratorial
oficial através do isolamento da bactéria em
cultura e/ou deteção da bactéria em micro-
granulomas através do exame microscópi-
co de lesões características nos tecidos. O
isolamento em cultura do agente, realizado
em condições de biossegurança elevadas, é
um processo demorado (que pode exceder
três meses) devido ao crescimento muito
lento do microrganismo, com implicações
evidentes no sequestro sanitário das car-
caças e explorações suspeitas. Assim, o
desenvolvimento e validação de métodos
de diagnóstico mais rápidos, sensíveis e fiá-
veis, que permitam agilizar o algoritmo de
diagnóstico, a comunicação dos resultados
e, subsequentemente, reduzir o sequestro
sanitário das explorações, têm elevada rele-
vância e prioridade.
Investigação nesta temática
em Portugal
A par do apoio laboratorial à execução dos
planos de controlo, o INIAV e outras equi-
pas têm realizado estudos científicos que
permitiram confirmar a circulação endémi-
ca de
M. bovis
em caça maior. A modelação
espacial do risco de infeção com base em
métodos sorológicos, usando o javali como
espécie-modelo, e estudos não publicados
em carnívoros mediterrânicos evidenciam
a tendência de expansão geográfica da TB
para além dos limites estabelecidos na área
epidemiológica de risco.
Apesar da deteção ocasional do agente nou-
tras espécies, nomeadamente carnívoros e
aves necrófagas, os estudos realizados per-
mitiram confirmar os bovinos, o javali e o
veado como os hospedeiros de grande rele-
vância epidemiológica.
Os estudos liderados pelo INIAV em par-
ceria com a DGAV permitiram sustentar a
investigação epidemiológica de surtos em
explorações e casos de reinfeção após va-
zio sanitário associados a movimentação
animal. Têm ainda salientado a elevada di-
versidade genotípica de
M. bovis
nas espé-
cies de ungulados do território nacional e
mostrado a existência de genótipos comuns
com os de surtos ocorridos em Espanha. O
INIAV tem ainda colaborado com várias
entidades no estudo da dinâmica de movi-
mentos de bovinos de explorações positivas
Figura 3 – Fluxograma para análise molecular dos processos epidemiológicos subjacentes a tuberculose animal: Receção de amostras
com suspeitas de infeção tuberculosa, que são processadas para cultura em meio seletivo tendo em vista o crescimento preferencial
de micobactérias. As colónias de micobactérias são processadas para extração de ADN, que posteriormente é utilizado em técnicas de
biologia molecular para identificação da espécie (
M. bovis
ou
M. caprae
). Os isolados identificados são genotipados por técnicas clássicas
(
spoligotyping
e MIRU-VNTR), baseadas em zonas específicas do genoma, e analisados por métodos baseados em filogenética e análise
probabilística para determinar a relação evolutiva dos isolados e a sua relação espacio-temporal
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SANIDADE ANIMAL
e a sua relação com parâmetros de análise
genética e de distância (Fig. 4).
Outros estudos recentes também realizados
em Portugal, nomeadamente pelo ICVS/
Universidade do Minho e pelo CIBIO, e em
Espanha sugerem que a contaminação e re-
siliência ambientais de
M. bovis
possam ter
um papel importante na transmissão indire-
ta, no entanto, a ausência de técnicas sensí-
veis e escaláveis tem impedido o isolamento
de
M. bovis
de matrizes ambientais, bem
como limitado a deteção da assinatura mo-
lecular das estirpes que circulam nessa in-
terface. Também foi demonstrada a existên-
cia de javalis e veados superexcretores, que
libertam no ambiente grandes quantidades
de micobactérias por via oral, fecal e uriná-
ria, e que exercem um papel epidemiológico
de enorme relevância, amplificando os pro-
cessos de transmissão direta e indireta.
Os estudos científicos levados a cabo têm
sido importantes para se conhecer e caracte-
rizar a situação da TB no terreno e para que
se possam adequar medidas de controlo sa-
nitário às zonas onde comprovadamente
M.
bovis
circula. Apesar da mitigação de alguns
fatores de risco ao nível das explorações pelo
maneio e reforço de medidas de biosseguran-
ça, a existência de reservatórios silvestres e
as densidades elevadas de algumas popula-
ções geridas artificialmente para fins cine-
géticos limitam grandemente o controlo de
TB em Portugal e noutros países europeus.
Evidências fornecidas por estudos
de epidemiologia molecular
em
M. bovis
O INIAV foi pioneiro na caracterização mo-
lecular dos isolados nacionais de
M. bovis
por
spoligotyping
e MIRU-VNTR, duas
técnicas de referência internacionalmen-
te aceites para a genotipagem de micobac-
térias (Fig. 3 e 4). Tem, desde 2008, e com
regularidade, determinado o perfil genotí-
pico de isolados oriundos de várias espécies
animais do território continental e dos Aço-
res, confirmando a predominância do clone
Europeu 2 e identificando vários genótipos
e
clades
não anteriormente descritos. A ca-
racterização molecular de
M. bovis
de di-
ferentes cenários epidemiológicos e contex-
tos espaciotemporais suporta a ocorrência
de episódios de transmissão intra e interes-
pecífica, quer à escala da exploração, quer à
escala da zona de caça. Estas evidências são
sugeridas pela sobreposição de perfis mo-
leculares e a relação genética próxima en-
tre isolados de diferentes hospedeiros, que
partilham o mesmo contexto epidemiológi-
co. Têm ainda sido identificadas algumas
situações de infeções mistas ou detetada a
ocorrência de fenómenos de evolução intra-
-hospedeiro durante o processo de infeção
(Fig. 4).
A análise Bayesiana de cerca de centenas de
isolados baseada em perfis de MIRU-VNTR
sugere a presença de cinco populações an-
cestrais de
M. bovis
, denominadas de M1 a
M5, que apresentam evidências de especifi-
cidade geográfica e algum tropismo por es-
pécies de hospedeiros específicos (Fig. 4).
A população M2 encontra-se significativa-
mente associada à região de Castelo Bran-
co, a M3 com Portalegre e a M5 com Beja,
enquanto ao nível dos hospedeiros apenas
se regista uma associação com significân-
cia estatística da população ancestral M4
com bovinos. Os isolados de
M. bovis
que
circulam em regiões distintas apresentam
uma maior diversidade genética, em relação
à diversidade observada nos isolados de di-
ferentes hospedeiros, o que reforça a ocor-
rência de transmissão interespecífica numa
mesma região.
No entanto, para clarificação de assinaturas
moleculares específicas de cada região geo-
gráfica e de cada espécie hospedeira, recor-
reu-se à sequenciação total de genomas, que
possibilita uma elevada resolução na defini-
ção destas assinaturas e um esclarecimento
inequívoco à escala individual do contex-
to epidemiológico. A aplicação de sequen-
ciação total de genomas a um grupo de 42
isolados permitiu reconstruir parcialmente
cadeias de transmissão, com sugestão de
eventos recentes de disseminação (Fig. 5).
Mycobacterium caprae
: um agente
patogénico que merece atenção
Mycobacterium caprae
é também agente
etiológico de tuberculose, com especial in-
Figura 4 – Ilustração esquemática dos diferentes níveis de complexidade epidemiológica à escala individual, populacional e regional.
Os hospedeiros estão ide ntificados pelas cores das popu lações ancestrais, com exceção do caso de infeç ão mista.
CB – Castelo Branco; PG – Portalegre
Figura 5 – Árvore de transmissão: reconstrução de cadeias de transmissão entre bovinos, veados e javalis, tendo como informação de
base o ano de isolamento, espécie hospedeira e região geográfica de animais positivos à TB nos distritos de Beja (BJ), Castelo Branco (CB)
e Portalegre (PG). As ligações estabelecidas têm por base o número de diferenças nucleotídicas (números indicados sobre as ligações)
detetados nos genomas dos isolados
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SANIDADE ANIMAL
cidência em caprinos. Os ovinos, bovinos (e
ungulados silvestres) são também suscetí-
veis à infeção, no entanto, para estes não es-
previsto um programa de controlo. Ape-
sar da menor incidência, a circulação de
M.
caprae
, que também pode infetar bovinos,
causa limitações à erradicação.
A tuberculose causada por
M. caprae
ape-
nas se encontra reportada em países euro-
peus, sendo Portugal, Espanha, Reino Uni-
do, Croácia, Áustria, Alemanha, Irlanda e
Itália os países com surtos identificados.
Esta particularidade epidemiológica em
Portugal constitui um potencial nicho de
investigação num agente patogénico que
não pode ser negligenciado e cujo escasso
conhecimento contrasta com o nível de in-
formação disponível para
M. bovis
.
No período temporal entre 2003 e 2014, fo-
ram notificados, em Portugal continental e
Açores, 55 casos de infeção por
M. caprae
em quatro espécies hospedeiras, nomea-
damente caprinos, bovinos, ovinos e java-
li, sendo a maioria dos casos detetados em
caprinos. A análise de similaridade genéti-
ca, realizada após a aplicação das técnicas
de genotipagem clássicas, agrupou os iso-
lados em três complexos clonais (CC1-3)
distintos, com uma distribuição geográfica
díspar, encontrando-se o CC1 significa-
tivamente associado ao Alentejo, o CC2 à
região Norte e o CC3 ao Alentejo e Açores
(Fig. 6).
Próximos desafios da investigação
O Projeto COLOSSUS –
ControlO de tu-
bercuLOSe na interface bovinoS-faUna Sil-
vestre com recurso a soluções inovadoras
inspiradas na natureza
(POCI-01-0145-FE-
DER-029783), com financiamento do FE-
DER e Orçamento de Estado, é liderado
pelo INIAV em colaboração com a FCUL
(BioISI) (PT), CIBIO (PT) e Universida-
de da Geórgia (EUA). Tem como objetivos
reconstruir a história demográfica de
M.
bovis
, inferir as cadeias de transmissão
em ungulados domésticos e selvagens, hie-
rarquizar o risco de infeção e identificar
espécie(s) e área(s) de intervenção priori-
tárias consoante o cenário epidemiológico,
reunindo informação relevante que infor-
me políticas públicas e suporte à deci-
são de autoridades oficiais, proprietários e
entidades gestoras.
No âmbito deste projeto, está em curso a
sequenciação completa dos genomas de
centenas de isolados de
M. bovis
obtidos
em Portugal de diferentes contextos epi-
demiológicos ao longo dos últimos anos.
Estão também a ser desenvolvidas ferra-
mentas quantitativas que permitam ajustar
os recursos ao risco, nomeadamente uma
aplicação computacional assente em mo-
delos de transmissão multiescala, capaz
de prever a eficácia de diferentes interven-
ções (por ex. remoção seletiva de animais,
medidas de biossegurança, vacinação, al-
teração de maneio, etc.). Estes modelos se-
rão baseados em simulações de surtos em
bovinos, surtos em populações silvestres,
e surtos nas diferentes interfaces, com in-
corporação de metadados e filodinâmica.
A análise comparativa de genomas tam-
bém permitirá elucidar aspetos da varia-
ção antigénica de
M. bovis
, o que poderá
ter implicações no diagnóstico em vida e
contribuir para o desenvolvimento de uma
estratégia eficaz que proteja os animais da
infeção. No âmbito do projeto COLOSSUS,
está ainda a decorrer o desenvolvimento
de uma nova abordagem que integra cito-
metria de fluxo, hibridação
in situ
e ampli-
ficação de genomas completos, tendo em
vista a quantificação da viabilidade celu-
lar e caracterização molecular de
M. bovis
ambiental, através da análise de matrizes
ambientais (solo, água, lama, etc.) recolhi-
das em áreas onde comprovadamente este
agente circula. A visão mecanística desta
componente indireta da infeção, em para-
lelo com a componente clínica, será valiosa
para entender o seu peso na manutenção
de
M. bovis
no ecossistema e para decidir
sobre as melhores opções de controlo con-
soante o cenário epidemiológico de cada
área afetada.
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Santos, N.; Santos, C.; Valente, T.; Gor tázar, C.; Alme ida,
V.; Correia-Neves, M. (2015). Widespread Envi ronmen-
tal Contamination with
Mycobacterium tuberculosis
Complex Revealed by a Molec ular Detection Protocol.
PLoS One
, 10(11): e0142079.
Figura 6 – Distribuição dos isolados de
M. caprae
, agrupados
por complexo clonal e por região geográfica. A escala de cinzentos
representa a intensidade de amostragem; as zonas a branco não
foram amo stradas
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We investigated the spatial epidemiology of bovine tuberculosis (TB) in wildlife in a multihost system. We surveyed bovine TB in Portugal by serologic analysis of elutes of dried blood spots obtained from hunted wild boar. We modeled spatial disease risk by using areal generalized linear mixed models with conditional autoregressive priors. Antibodies against Mycobaterium bovis were detected in 2.4% (95% CI 1.5%–3.8%) of 678 wild boar in 2 geographic clusters, and the predicted risk fits well with independent reports of M. bovis culture. Results show that elutes are an almost perfect substitute for serum (Cohen unweighted κ = 0.818), indicating that serologic tests coupled with dried blood spots are an effective strategy for large-scale bovine TB surveys, using wild boar as sentinel species. Results also show that bovine TB is an emerging wildlife disease and stress the need to prevent further geographic spread and prevalence increase.
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Anthropogenic activities have cumulatively led to the dramatic decline of world populations of vultures that currently face serious survival challenges in several regions of the world. In Portugal, the three resident species qualify as endangered and are under conservation efforts, mainly in the central east and south-east regions, where habitat protection and artificial feeding stations were implemented. Concurrently, the areas under protection are highly affected by tuberculosis (TB) in cattle and wild ungulates, whose potentially infected carcasses may naturally or artificially be used as feed by local vultures. In this work, we opportunistically surveyed populations of Eurasian griffon (Gyps fulvus) and Eurasian black vulture (Aegypius monachus) for the presence of Mycobacterium bovis. Nine pathogenic mycobacteria, including one M. bovis isolate, were cultured from the oropharynx of nine of the surveyed vultures (n = 55), sampled in recovery centres or in artificial feeding stations. Genotyping of the M. bovis strain indicated spoligotype SB0121, the most frequent type in Portugal, and a unique MIRU–VNTR profile that differed in two loci from the profiles of SB0121 bovine and deer strains from the same geographical area. The M. bovis-positive griffon exhibited poor clinical condition when admitted to the recovery centre; however, clinical evidence of TB was not present. Although the significance of M. bovis isolation in this vulture specimen could not be ascertained and despite the accepted notion that vultures are naturally resistant to microbial pathogens, the sanitary follow-up of Accipitridae vulture populations in TB-hotspot areas is essential to safeguard ongoing conservation efforts and also to evaluate the suitability of standing legislation on deliberate supplementary feeding schemes for menaced birds of prey.
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Environmental contamination with Mycobacterium tuberculosis complex (MTC) has been considered crucial for bovine tuberculosis persistence in multi-host-pathogen systems. However, MTC contamination has been difficult to detect due to methodological issues. In an attempt to overcome this limitation we developed an improved protocol for the detection of MTC DNA. MTC DNA concentration was estimated by the Most Probable Number (MPN) method. Making use of this protocol we showed that MTC contamination is widespread in different types of environmental samples from the Iberian Peninsula, which supports indirect transmission as a contributing mechanism for the maintenance of bovine tuberculosis in this multi-host-pathogen system. The proportion of MTC DNA positive samples was higher in the bovine tuberculosis-infected than in presumed negative area (0.32 and 0.18, respectively). Detection varied with the type of environmental sample and was more frequent in sediment from dams and less frequent in water also from dams (0.22 and 0.05, respectively). The proportion of MTC-positive samples was significantly higher in spring (p<0.001), but MTC DNA concentration per sample was higher in autumn and lower in summer. The average MTC DNA concentration in positive samples was 0.82 MPN/g (CI95 0.70–0.98 MPN/g). We were further able to amplify a DNA sequence specific of Mycobacterium bovis/caprae in 4 environmental samples from the bTB-infected area.
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Wild boar (Sus scrofa) and red deer (Cervus elaphus) are the main maintenance hosts for bovine tuberculosis (bTB) in continental Europe. Understanding Mycobacterium tuberculosis complex (MTC) excretion routes is crucial to define strategies to control bTB in free‑ranging populations, nevertheless available information is scarce. Aiming at filling this gap, four different MTC excretion routes (oronasal, bronchial‑alveolar, fecal and urinary) were investigated by molecular methods in naturally infected hunter‑harvested wild boar and red deer. In addition MTC concentrations were estimated by the Most Probable Number method. MTC DNA was amplified in all types of excretion routes. MTC DNA was amplified in at least one excretion route from 83.0% (CI 95 70.8–90.8) of wild ungulates with bTB‑like lesions. Oronasal or bronchial‑alveolar shedding were detected with higher frequency than fecal shedding (p < 0.001). The majority of shedders yielded MTC concentrations <10 3 CFU/g or mL. However, from those ungulates from which oronasal, bronchial‑alveolar and fecal samples were available, 28.2% of wild boar (CI 95 16.6–43.8) and 35.7% of red deer (CI 95 16.3–61.2) yielded MTC concentrations >10 3 CFU/g or mL (referred here as super‑shedders). Red deer have a significantly higher risk of being super‑shedders compared to wild boar (OR = 11.8, CI 95 2.3–60.2). The existence of super‑shedders among the naturally infected population of wild boar and red deer is thus reported here for the first time and MTC DNA concentrations greater than the minimum infective doses were estimated in excretion samples from both species.
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Complex and dynamic interactions involving domestic animals, wildlife, and humans create environments favorable to the emergence of new diseases, or reemergence of diseases in new host species. Today, reservoirs of Mycobacterium bovis, the causative agent of tuberculosis in animals, and sometimes humans, exist in a range of countries and wild animal populations. Free-ranging populations of white-tailed deer in the US, brushtail possum in New Zealand, badger in the Republic of Ireland and the United Kingdom, and wild boar in Spain exemplify established reservoirs of M. bovis. Establishment of these reservoirs is the result of factors such as spillover from livestock, translocation of wildlife, supplemental feeding of wildlife, and wildlife population densities beyond normal habitat carrying capacities. As many countries attempt to eradicate M. bovis from livestock, efforts are impeded by spillback from wildlife reservoirs. It will not be possible to eradicate this important zoonosis from livestock unless transmission between wildlife and domestic animals is halted. Such an endeavor will require a collaborative effort between agricultural, wildlife, environmental, and political interests.
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This paper describes the current situation of animal tuberculosis in Portugal, reviewing the accomplishments and constraints of the 2001-2009 period. Notwithstanding the substantial progress achieved with the implementation of a comprehensive test and cull scheme, notification, postmortem inspection and surveillance at slaughterhouses, herd and animal prevalence have unexpectedly increased in 2009. In parallel, the recent awareness of tuberculosis in local free-ranging wildlife species causes concern regarding the final steps towards eradication, demanding new approaches to the existing disease control policies.
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Mycobacterium bovis and, more rarely, Mycobacterium caprae, may cause zoonotic bovine tuberculosis (bTB) in an extensive range of animal species. In Portugal, during 2009, a remarkable raise of bTB incidence was registered in cattle along with an increase of new cases in wildlife. In this work, we reassess and update the molecular epidemiology of bTB in wild ungulates by including 83 new M. bovis and M. caprae isolates from wild boar and red deer obtained during 2008-2009. Spoligotyping identified 27 patterns in wild ungulates, including 11 patterns exclusive from deer and five from wild boar. The genetic relatedness of wildlife and livestock isolates is confirmed. However, the relative prevalence of the predominant genotypes is different between the two groups. Contrasting with the disease in livestock, which is widespread in the territory, the isolation of bTB in wildlife is, apparently, geographically localized and genotypic similarities of strains are observed at the Iberian level.
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Mycobacterium bovis isolates from the Iberian Peninsula are dominated by strains with spoligotype patterns deleted for spacer 21. Whole-genome sequencing of three Spanish strains with spacer 21 missing in their spoligotype pattern revealed a series of SNPs and subsequent screening of a selection of these SNPs identified one in gene guaA that is specific to these strains. This group of strains from the Iberian Peninsula missing spoligotype spacer 21 represents a new clonal complex of M. bovis, defined by the SNP profile with a distinct spoligotype signature. We have named this clonal complex European 2 (Eu2) and found that it was present at low frequency in both France and Italy and absent from the British Isles.
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The genetic diversity of 283 Mycobacterium bovis (M. bovis) and 10 Mycobacterium caprae (M. caprae) strains, isolated between 2002 and 2007 from cattle, goat, red deer and wild boar from six different geographical regions of Portugal was investigated by spoligotyping. The technique showed a good discriminatory power (Hunter-Gaston Index, h=0.9) for the strains, revealing 29 different patterns. One pattern (SB0121) was clearly predominant, accounting for 26.3% of the isolates; ten patterns, representing 20.7% of the isolates, had never been reported previously. Multiple spoligotypes were detected in thirteen cattle and one goat herd, most of which were found in beef cattle and extensive management regions, suggesting different infection sources. With the exception of two spoligotypes, those in wildlife species were also found in domestic species.