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Rev ABTPé. 2017;11(1):59-62.
RELATO DE CASO
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RESUMO
O osteocondroma é o tumor ósseo benigno mais comum. Nor-
malmente são assintomáticos e diagnosticados incidentalmente.
Ra ramente acometem o tornozelo ou o pé, exceto nos casos de
Exos toses Múltiplas Hereditárias. O estudo descreve as característi cas
clínicas e radiográcas de um osteocondroma solitário no maléolo
medial, o tratamento cirúrgico realizado e a evolução do paciente
após o procedimento. Paciente do sexo masculino, 13 anos, com
queixa de dor e aumento de volume na região medial do tornozelo
direito há 1 ano. No exame físico, a tumoração era palpável sobre o
maléolo medial, dolorosa mas sem comprometimento da mobilidade
articular. Nos exames de imagem foi visualizado o acometimento
da maior parte do maléolo medial. O tratamento realizado foi a
ressecção total do tumor, com reconstrução ligamentar medial e
envio da peça para conrmação diagnóstica pelo estudo histológi-
co. No seguimento pós-operatório de 3 anos e 6 meses não foram
evidenciados sinais de recidiva do tumor, dor residual ou instabilidade
articular remanescente.
Descritores:
Neoplasias ósseas; Maléolo medial; Osteocondroma
1 Chefe do Grupo de Pé e Tornozelo do Hospital do Servidor Público Municipal de
São Paulo (HSPM), São Paulo, SP, Brasil.
2 Assistente do Grupo de Pé e Tornozelo do Hospital do Servidor Público Munici-
pal de São Paulo (HSPM), São Paulo, SP, Brasil.
3 Residente do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo (HSPM), São
Paulo, SP, Brasil.
ABSTRACT
Osteochondroma is the most common benign bone tumor. It is
normally asymptomatic, and diagnosed incidentally. It rarely aects
the ankle or foot, except in cases of Multiple Hereditary Exostoses.
This study describes the clinical and radiographic characteristics
of a solitary osteochondroma in the medial malleolus, the surgical
treatment carried out, and the patient’s evolution after the procedure.
A male patient, 13 years of age, with complaint of pain and increased
volume in the medial region of the right ankle for one year. In the
physical examination, the tumor was palpable over the medial
malleolus, painful, but without aecting joint mobility. In the imaging
exams, compromise of most of the medial malleolus was visualized.
The treatment conducted was complete resection of the tumor,
with reconstruction of the medal ligament. The sample was sent for
diagnostic conrmation by histological study. At the three-and-a-half
year postoperative follow-up visit, there were no signs of recurrence
of the tumor, residual pain, or residual joint instability.
Keywords:
Bone Neoplasms; Medial Malleolus; Osteochondroma
Correspondência:
Danilo Ryuko Cândido Nishikawa
Rua Castro Alves, 60 – 4º andar – Liberdade
CEP: 01532-900 – São Paulo (SP), Brasil
E-mail: dryuko@gmail.com
Conflito de interesse:
não há.
Fonte de financiamento:
não há.
Data de recebimento:
21/02/2017
Data der aceite:
15/05/2017
Osteocondroma do maléolo medial: relato de caso
Osteochondroma of the medial malleolus: a case report
Danilo Ryuko Cândido Nishikawa1, Fernando Aires Duarte2, Fábio Corrêa Paiva Fonseca2,
Augusto César Monteiro2, Regina Yumi Saito2, Murillo Oliveira Dalmásio3
INTRODUÇÃO
Os osteocondromas (OC) são os tumores ósseos benig-
nos mais comuns e abrangem cerca de 15% dos tumores
ósseos e 50% dos tumores ósseos benignos(1). Consistem
em exostoses osteocartilaginosas, normalmente detecta-
das na infância e na adolescência(2). A maioria ocorre em
torno do joelho e apenas 10% podem surgir no pé ou tor-
nozelo(1,3). Sua etiologia é desconhecida, possivelmente
deriva da alteração na direção do crescimento da placa
episária, que começa a produzir osso esponjoso histolo-
gicamente desordenado coberto por camada cartilaginosa
e, em sua base, por periósteo contíguo(1). Os OC solitários
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Nishikawa DR, Duarte FA, Fonseca FC, Monteiro AC, Saito RY, Dalmásio MO
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têm risco de malignização <1%(1). A espessura da camada
de cartilagem tem relação com a malignidade, que pode
ocorrer quando é maior que 1 a 3cm(2,4).
Os OC costumam ser assintomáticos e diagnosticados in-
cidentalmente no exame radiográco(3). Pode surgir dor no
local após um trauma direto ou compressão de estruturas
adjacentes como bursas, músculos, tendões ou nervos(3,5,6).
Este artigo tem como objetivo descrever as característi-
cas clínicas e radiográcas de um caso de osteocondroma
solitário localizado no maléolo medial, o tratamento reali-
zado e a evolução do paciente após 3 anos e 6 meses do
procedimento.
RELATO DO CASO
Paciente masculino, de 13 anos, veio em primeira con-
sulta em 2012 com a queixa de dor e aumento de volume
medial no tornozelo direito há um ano, e história pregres-
sa de dois episódios de entorse. No primeiro episódio, foi
tratado com anti-inamatório não hormonal (AINH) e tala
gessada suropodálica por cinco dias, com alívio parcial da
dor. Poucos meses depois sofreu novo entorse, com piora
da dor que dicultava deambulação em curtas distâncias.
Ao realizar exame físico do tornozelo, apresentou au-
mento de volume do maléolo medial doloroso (Figura 1).
Manifestou dor tanto à palpação quando à mobilização da
tibiotalar, sem limitação à exoextensão e pés levemente
assimétricos, com discreto valgo do retropé direito.
Inicialmente foram realizadas as incidências radiográ-
cas para tornozelo, em Anteroposterior (AP) e Perl (P), e
foi observado uma tumoração que comprometeu a maior
parte do maléolo medial (Figura 2). Em seguida, solicitou-
-se a Tomograa Computadorizada (TC) e a Ressonância
Magnética (RM) para melhor entendimento do tumor. Foi
possível constatar o comprometimento osteocartilagino-
so, com irregularidades na superfície articular maleolar e
a presença de osteóto dorsomedial no colo do tálus, pos-
sivelmente resultado do impacto ósseo com a tumoração
(Figura 3 e 4).
Figura 1 | Aspecto clínico do tornozelo direito. A e B: vistas an-
terior e posterior, respectivamente, com aumento de volume na
região do maléolo medial.
A B
Figura 2 | Exames Radiográcos. (A) Radiograas em an-
teroposterior e em (B) perl dos pés e tornozelos, que
evidenciam a tumoração óssea no maléolo medial direito.
A
B
Figura 3 | Cortes tomográcos do tornozelo direito.
(A) Coronal (B) Axial e (C) Sagital.
A B
C
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Osteocondroma do maléolo medial: relato de caso
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Em maio de 2013, foi realizada a ressecção marginal do
tumor. A via de acesso de escolha foi a anteromedial, que
permite adequada visualização da porção medial da articu-
lação tibiotalar (Figura 5). A incisão é oblíqua adjacente à
borda medial do tendão tibial anterior, centrada na porção
medial da articulação.
DISCUSSÃO
A decisão pelo tratamento cirúrgico levou à reexão de
alguns aspectos importantes, tanto relacionados às carac-
terísticas do tumor quanto à anatomia e estabilidade do
tornozelo.
Em relação às características do tumor, não foi encon-
trado na literatura nenhum caso semelhante que acome-
tesse a região episária ou o maléolo medial, em diferentes
fontes de pesquisa (Cochrane, Medline, Scielo, Embase). Há
A B C
Figura 4 | Ressonância Magnética. (A) Coronal (B) Sagital T2 e (C)
Sagital T1.
Figura 5 | Intraoperatório. (A) via de acesso (B) aspecto intraope-
ratório da ressecção tumoral, que evidencia macroscopicamente
o tumor osteocartilaginoso.
A B
No intraoperatório, foi observada uma lesão de consis-
tência endurecida com margens bem delimitadas, sendo
possível a ressecção total (Figura 5). Em seguida, foram uti-
lizadas para reconstrução ligamentar medial as partes mo-
les remanescentes com xação por meio de duas âncoras
2,0mm e dois pontos intraosseos. Tanto no intra quanto no
pós-operatório imediato, não houve qualquer instabilidade
articular. O anatomopatológico conrmou o diagnóstico de
OC, sem evidências de malignização (Figura 6).
Após 3 anos e 6 meses de acompanhamento ambulato-
rial não há sinais de recidiva e o paciente está assintomá-
tico, sem limitações funcionais ou instabilidade articular
(Figura 7).
B
A
Figura 6 | Fotos micrográcas do Osteocondroma
demonstram proliferação da cartilagem.
A B
Figura 7 | 3 anos e 6 meses de pós-operatório. (A) Aspecto clíni-
co: mantém o alinhamento do pré-operatório (B) Aspecto radio-
gráco: mantém alinhamento do pé e amplitude de movimentos
simétricos.
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Nishikawa DR, Duarte FA, Fonseca FC, Monteiro AC, Saito RY, Dalmásio MO
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alguns relatos de osteocondromas no pé e tornozelo, mas
que acometem a região metasária da tíbia distal, a fíbula
distal, o calcâneo e o tálus(1,3,5,7). O acometimento da tíbia
distal é incomum, correspondendo a aproximadamente
4%, segundo estudo com 1937 lesões ressecadas(7,8).
Os OC são tumores benignos ósseos que requerem
tratamento cirúrgico apenas quando há sintomas: com-
pressão vascular e/ou nervosa, bloqueio ou degeneração
articular, interferência no crescimento da extremidade
(deformidades com mudanças mecânicas e funcionais) e
malignização, que é caracterizada por uma cobertura carti-
laginosa de espessura maior que 2 cm e erosão óssea(6,8). O
tratamento cirúrgico consiste na ressecção total do tumor
e na remoção completa da cobertura cartilaginosa para
prevenir a recidiva(8).
Nesse caso, o paciente queixou-se de dor supercial
e articular no tornozelo, com aumento de volume local,
sem bloqueio articular. Devido à persistência da dor e
aumento da lesão durante o seu acompanhamento am-
bulatorial por um período médio de 6 meses, decidiu-se
pelo tratamento cirúrgico. Apesar desse aumento, não se
evidenciou sinais de malignização do tumor no anatomo-
patológico (Figura 6).
Com a decisão do tratamento cirúrgico denida, dis-
cutiu-se sobre a necessidade de intervenção de um tumor
benigno e os riscos envolvidos na cirurgia. Mesmo após a
ressecção total do tumor e a reconstrução ligamentar me-
dial adequadas, há a preocupação de ocorrer deformidade
ou instabilidade tardias da articulação do tornozelo, já que
pouco se sabe da evolução pós-operatória dos osteocon-
dromas que acometem a tíbia distal(8). Alguns autores rela-
tam que a ressecção total dos tumores ósseos no tornozelo
em crianças geralmente apresenta bons resultados a lon-
go prazo devido à capacidade de remodelação óssea. No
adulto, como não há essa remodelação, a ressecção pode
acarretar instabilidade articular(9,10).
CONCLUSÃO
Os OC são tumores raros no tornozelo que ocasional-
mente tornam-se sintomáticos. O tratamento cirúrgico com
a ressecção total do tumor pode ser realizado, no entanto
deve haver um estudo cauteloso do local acometido para
prevenir que ocorram alterações biomecânicas e no cresci-
mento ósseo do tornozelo que causem incapacidade fun-
cional e deformidade tardias. No paciente em questão, o
resultado da ressecção total do tumor e da maior parte do
maléolo medial foi satisfatório, sem sinais de recidiva do tu-
mor, dor residual ou instabilidade articular remanescente
após 3 anos e 6 meses de acompanhamento pós-operatório.
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