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“Passei a entender a influência do capital na saúde pública...”: formação política crítica dos trabalhadores do sistema único de saúde

Authors:

Abstract

Analisou-se a percepção dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), em um Curso de Formação Política, acerca dos desafios contemporâneos da saúde pública a luz da matriz marxista. Pedagogicamente, usou-se estratégias ativas emancipadoras e, analiticamente, conduziu-se uma Análise do Conteúdo das percepções dos 86 trabalhadores sobre como o curso contribuiu para compreender estes desafios. Os trabalhadores referiram-se, majoritariamente, ao fato de “Entender(em) melhor a influência do capital na saúde pública”. Desta forma, os trabalhadores passaram a delimitar melhor os desafios da saúde pública, diferentemente dos temas que tradicionalmente vem sendo apresentados pela saúde coletiva.
Artigos
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 11, n. 1, p. 182-192-. , abr. 2019. ISSN: 2175-5604
“PASSEI A ENTENDER A INFLUÊNCIA DO CAPITAL NA SAÚDE PÚBLICA...”:
FORMAÇÃO POLÍTICA CRÍTICA DOS TRABALHADORES DO SISTEMA ÚNICO DE
SAÚDE
AHORA ENTIENDO LA INFLUENCIA DEL CAPITAL EN LA SALUD PÚBLICA ...”:
FORMACIÓN POLÍTICA CRÍTICA DE LOS TRABAJADORES DEL SISTEMA ÚNICO DE
SALUD
“I HAVE BEEN UNDERSTANDING THE INFLUENCE OF CAPITAL IN PUBLIC
HEALTH ...”: CRITICAL POLITICAL TRAINING OF WORKERS OF THE UNIFIED
HEALTH SYSTEM
http://dx.doi.org/10.9771/gmed.v11i1.30556
Leonardo Carnut
1
Tarsila Teixeira Vilhena Lopes
2
Samara Jamile Mendes
3
Áquilas Mendes
4
Resumo:
Analisou-se a percepção dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), em um Curso de Formação
Política, acerca dos desafios contemporâneos da saúde pública a luz da matriz marxista. Pedagogicamente, usou-se
estratégias ativas emancipadoras e, analiticamente, conduziu-se uma Análise do Conteúdo das percepções dos 86
trabalhadores sobre como o curso contribuiu para compreender estes desafios. Os trabalhadores referiram-se,
majoritariamente, ao fato de Entender(em) melhor a influência do capital na saúde pública”. Desta forma, os trabalhadores
passaram a delimitar melhor os desafios da saúde pública, diferentemente dos temas que tradicionalmente vem sendo
apresentados pela saúde coletiva.
Palavras-chave:
saúde pública, formação política, crítica, ensino, SUS.
Resumen:
Se analizó la percepción de los trabajadores del Sistema Único de Salud (SUS), en un Curso de
Formación Política, sobre los desafíos contemporáneos en salud pública bajo la matriz marxista. Pedagógicamente,
se usaron estrategias activas emancipadoras y, analíticamente, se condujo un Análisis del Contenido de las
percepciones de los 86 trabajadores sobre cómo el curso contribuyó a comprender estos retos. Los trabajadores se
refirieron, mayoritariamente, al hecho de “Entender mejor la influencia del capital en la salud pública”. Así, los trabajadores
pasaron a delimitar mejor los desafíos de la salud pública, a la diferencia de los temas que tradicionalmente vienen
siendo presentados por la salud colectiva.
Palabras clave:
salud pública, formación política, crítica, enseñanza, SUS.
Abstract:
It was analyzed the perception of the workers of the Unified Health System (SUS), in a Course of Political
Formation, about the contemporary challenges of public health in the light of the Marxist matrix. Pedagogically,
active emancipatory strategies were used and, analytically, a Content Analysis of the 86 workers‟ perceptions was
conducted about how the course contributed to understanding these challenges. The majority of workers referred to
the fact that they concern better understand the influence of capital on public health”. In this way, workers began to better
define the challenges of public health, unlike the themes that have traditionally been presented by collective health.
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Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 11, n. 1, p. 182-192-. , abr. 2019. ISSN: 2175-5604
Keywords:
public health, political formation, comment, teaching, SUS.
Introdução
A formação política crítica dos trabalhadores do SUS tem sido um desafio a ser concretizada.
Herdeira da tradição socialdemocrata (TEIXEIRA, 1989), a Saúde Coletiva colonizou o pensamento
político deste campo, desencorajando assim, o desenvolvimento do „político‟ através de outras matrizes
interpretativas.
É pertinente atinar que uma celeuma intelectual no que tange aos termos Saúde Coletiva e
Saúde Pública. Segundo Campos (2000), a Saúde Coletiva é um campo/núcleo de saberes e práticas,
constituídos a partir da crítica às práticas de saúde biomedicalizadas e àquelas hegemônicas da Medicina
Social do século XIX (FOUCAULT, 1989) cujo centralismo/verticalismo estatal tinha como pressuposto
a vigilância/docilidade dos corpos.
A Saúde Pública considerada atualmente é resultante de uma crítica realizada pela Saúde Coletiva
aos pressupostos originários de um sistema de biopoder, em que as práticas de saúde são dotadas de um
forte caráter de vigilância, em termos de poder de “polícia”. Assim, a Saúde Coletiva reelaborou uma nova
compreensão sobre a saúde-enfermidade dos corpos, ao que, nas décadas de 1970-1980, se tornou
conhecida como a Determinação Social do Processo Saúde-Doença (PAIM e ALMEIDA-FILHO,
1998).
Nessa „Nova Saúde Pública (PAIM e ALMEIDA-FILHO, 1998), problematizada pela Saúde
Coletiva, o objeto de discussão desse campo tornou-se o processo de determinação social, em um
primeiro momento, fortemente inspirado na tradição marxista (VASCONCELOS e SCHMALLER,
2016). Entretanto, ao longo do desenvolvimento de seus saberes, inclusive na sua consolidação no Brasil,
o abandono gradual e contínuo da perspectiva crítica foi se acentuando.
Nesse sentido, torna-se importante afirmar que os trabalhadores do SUS padecem de uma
formação política crítica, que se perdeu ao longo da trajetória de desenvolvimento da Saúde Coletiva. Cabe
reforçarmos a preocupação em alargar a interpretação política crítica das práticas de Saúde Pública e
retomar a ligação entre a interpretação marxista da política e os desafios que a Saúde Pública no sentido de ajudar
os trabalhadores a situarem melhor suas atuações no mundo do trabalho.
Ao se entender a educação política para classe trabalhadora (MARX, 2007) como forma de
descortinar os mecanismos de opressão que o Estado opera na condução das questões sociais, é que
problematizamos a Formação Política em Saúde. Esta deve ser tomada como uma estratégia de
reorganização de „classe em si‟ para o enfrentamento do desmonte do direito à saúde, que vem sendo
adotado pelos governos federais no Brasil, especialmente a partir de 1995 no contexto do capitalismo, sob
a predominância do capital financeiro.
Assim, o objetivo desse artigo foi analisar a percepção de trabalhadores do SUS sobre os
desafios atuais da Saúde Pública a luz da interpretação marxista. Este tema foi alvo de discussão durante a
realização de um Curso de Formação Política em Saúde.
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Contexto pedagógico e opções metodológicas
Dentre opções metodológicas da apreensão do objeto de estudo neste trabalho, podemos
dividá-las, apenas para fins didáticos, em opções pedagógico-metodológicas, que se referem à descrição das
opções teórico-metodológicas que apoiaram as estratégias pedagógicas utilizadas durante a execução do
curso e as opções metodológico-analíticas, que se referem à descrição teórico-metodológica da produção dos
dados empíricos em função da percepção do processo educativo vivenciado.
No que tange às opções pedagógico-metodológicas, identificou-se que, realizar uma formação
política que promova emancipação da classe trabalhadora através da universidade seria uma ingenuidade
(TRAGTENBERG, 2004). Para retificar essa escolha, apoiou-se então em Marx (2007; p. 48) quando ele
afirma que “a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, as
armas contra ela própria”.
De acordo com este argumento, neste projeto de Formação Política em Saúde, a primeira
opção pedagógica foi realizá-la por meio da Associação Paulista de Saúde Pública (APSP), espaço não
institucionalizado e que vem arregimentando forças na reorganização da classe trabalhadora do SUS no
estado de São Paulo.
A segunda opção pedagógica foi dar ênfase aos três elementos do processo de ensino-
aprendizagem segundo a perspectiva de Paulo Freire (2012): “ensinar exige criticidade”; “ensinar exige
risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação” e “ensinar exige a convicção de que
a mudança é possível”.
A terceira opção pedagógica foi utilizar metodologias ativas de ensino-aprendizagem (MITRE et
al., 2008). Assim, uma mescla de três estratégias foi usada: as „Questões Disparadoras‟, a „Tempestade de
Ideias‟ e a „Sala de Aula Invertida‟. Todas as três se articulavam para favorecer, no espaço de sala de aula, o
tempo de leitura necessário para embasar cientificamente as discussões.
Nos cinco encontros, com duração de quatro horas cada, o conjunto de trabalhadores que
frequentaram o curso (86 sujeitos) lia os textos de Marx, intercalados com textos do campo da Saúde
Coletiva. Após a leitura, reuniam-se em pequenos Grupos de Aprendizagem de forma aleatória, sendo que
os trabalhadores/participantes do Curso eram instigados por moderadores de aprendizagem
5
a
responderem a questão disparadora do respectivo encontro.
Ao término do processo educativo, optou-se por tentar compreender como os trabalhadores
perceberam o ato educativo vivenciado. Agora, do ponto de vista metodológico-analítico, os 86
trabalhadores foram solicitados a responder a uma entrevista semiestruturada com diversos tópicos
relacionados à experiência vivenciada no curso. Um dos tópicos solicitado, aqui analisado, referiu-se à
descrição sobre as contribuições que o curso proporcionou para compreender os desafios contemporâneos da Saúde
Pública‟, apoiada numa perspectiva marxista.
Os dados foram analisados a partir da Análise de Conteúdo Clássica (BAUER, 2000;
OLIVEIRA et al, 2003) do tipo frequencial, cuja unidades de análise foram as proposições. Este tipo de
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análise apresenta-se como a mais apropriada para uma primeira aproximação com o conteúdo, visando
uma interpretação textual inicial (BAUER, 2000).
Resultados e Discussão
As cento e vinte e duas (122) proposições nas quais os discursos foram decompostos, puderam
ser agrupados em dez (10) categorias de análise, por semelhança léxico-semântica. Na tabela 1 podem-se
observar as categorias elaboradas a partir dos discursos dos trabalhadores, que serão referidos a partir
daqui como T1, T2... e assim por diante.
Tabela 1. Categorias temáticas relacionadas aos conteúdos identificados nos discursos dos trabalhadores sobre como
o curso contribuiu para compreender os desafios da saúde pública, Maio-Dezembro, 2017.
Número de
categorias
Categorias temáticas
n
%
1
Entender melhor a influência do capital na saúde pública
20
16,39
2
Necessidade de uma revisão crítica da Reforma Sanitária e dos referenciais da
saúde coletiva
15
12,22
3
Prática atual dos profissionais em saúde está distanciada do seu papel político
15
12,22
4
Lançar um olhar crítico à própria forma jurídica do Estado
14
11,47
5
Oportunidade de ler autores que não são comuns na minha rotina
14
11,47
6
Adoção de uma visão de totalidade que o curso discute
13
10,65
7
Visão romântica sobre o que foi e tem sido o campo da saúde coletiva no Brasil
9
7,37
8
Dialogar com os outros participantes
9
7,37
9
Ampliar o olhar para o campo da política
8
6,55
10
O resgate histórico de caminhos percorridos pela saúde pública
5
4,09
Total
122
100,00
Fonte: pesquisa direta
É possível perceber que o conteúdo mais frequente na percepção dos trabalhadores sobre como
a interpretação política marxista ajuda compreender os desafios contemporâneos da Saúde Pública foi a categoria
“Entender melhor a influência do capital na saúde pública” os trabalhadores apontavam o seguinte:
Com o curso, passei a entender melhor a influência do capital na Saúde Pública e o
interesse das classes dominantes nas contrarreformas proporcionadas ao longo da
história do Brasil. (T1); Primeiramente o contexto histórico e político que o SUS foi
implantado e o terreno infértil para a Saúde Pública, dado o atual momento do capital
financeiro, contrarreforma neoliberal do Estado e maior exploração da força de
trabalho pela queda global da taxa de lucro. (T6).
Nestes discursos, foi possível perceber que os trabalhadores delimitam melhor a compreensão
da relação política-desafios da Saúde Pública. A lei tendencial da queda da taxa de lucro e os mecanismos
de contratendências, como o aumento da taxa de exploração obrigando os trabalhadores a aceitar uma
diminuição dos salários e condições de trabalho precárias, a reorganização de novas linhas de produção e a
destruição de parte do estoque acumulado de capital, por meio de falências, baixas e afins, (MARX, 2017)
serviram de „novos argumentos‟ para compreensão marxista da crise. Certamente, também, ficou
esclarecido para os trabalhadores do SUS que o principal desafio da saúde pública neste contexto, está,
também, relacionado ao seu (des)financiamento.
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Duas categorias apresentaram 15 proposições, representando 12,22% do total. Foram elas, as
categorias: “Prática atual dos profissionais em saúde está distanciada do seu papel político” e “Necessidade de uma revisão
crítica da Reforma Sanitária e dos referenciais da saúde coletiva”.
Na primeira foi possível identificar as seguintes falas dos trabalhadores:
Acredito que a prática atual dos profissionais em saúde, tanto na docência quanto no
trabalho em campo, está muito distanciada do papel político que carregamos. (T8);
[Este curso] contribuiu para entender que a luta deve ser política, elogiar o que foi feito
de bom e criticar e tentar modificar o que não representa os princípios da Saúde
Pública. (T11); [Segundo] Viana e Baptista em seu texto „Análise de políticas de saúde‟
(2012) nos trazem o quanto a Saúde Coletiva se afastou dessa relação política e ficou
profundamente centrada em impasses de implementação do SUS numa postura
estritamente técnico-gerencial. Visto isso, vemos a importância do curso no momento
atual de uma crise do entendimento de que saúde é política. (T17).
Estes discursos demonstram que os trabalhadores identificam que a Saúde Coletiva não os
muniu dos argumentos necessários para entender os desafios da Saúde Pública à luz da crise do capital.
Mendes (2015) já assinalava que, um argumento insistentemente repetido pela Saúde Coletiva é que a crise
é proveniente do Estado e não do Capital. Pode-se dizer que, pelo relatado, os trabalhadores têm
permanecido politicamente distantes do debate sob esses termos.
Essa categoria chama atenção, pois reforça a necessidade de ampliar o escopo político do
pensamento sanitário. Assim, entendemos que o curso de Formação Política em Saúde contribui para
alcançar esse objetivo. Os trabalhadores do SUS, criados na tradição socialdemocrata (posição política
advinda da Saúde Coletiva) tendem a criticar os problemas de implantação e funcionamento dos serviços
de Saúde Pública à luz desse referencial, depositando no Estado a responsabilidade pelo sucesso/malogro
da execução das „Políticas de Saúde‟.
em “Necessidade de uma revisão crítica da Reforma Sanitária e dos referenciais da saúde coletiva” os
trabalhadores explicaram que:
Após as reflexões realizadas durante o curso, vejo com maior clareza a necessidade de
uma revisão crítica da Reforma Sanitária e dos referenciais da saúde coletiva, a fim de
propostas que apontem para uma atuação mais efetiva para garantir o direito à saúde
universal, integral e de qualidade. (T7); O curso possibilita o acesso a crítica à própria
saúde coletiva que eu não tinha ouvido, daquele modo, em outros espaços. (T12).
Mais uma vez, aqui recorre à crítica ao pensamento político da Saúde Coletiva. É evidente, para
os trabalhadores, a necessidade de revisão e refundação do pensamento sanitário. É sabido que, a ciência
produzida na Saúde Coletiva (pelo menos no âmbito da teoria), passa à margem do que se pode chamar de
„pensamento crítico em saúde‟ (ABRASCO, 2018). Para a geração de uma perspectiva crítica é necessária
uma teoria que invoque a luta política, e, para isso, é imprescindível exigir o diálogo e a autocrítica, algo
que os intelectuais hegemônicos deste campo tendem a se esquivar.
Outras duas categorias apresentaram 14 proposições. Uma delas se trata da “Oportunidade de ler
autores que não são comuns na minha rotina” em que os trabalhadores apontavam o seguinte:
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Acredito que a oportunidade de ler autores que não são comuns na minha rotina. (T4);
Os encontros contribuíram para atualização de conceitos e compreensão dos assuntos
de Saúde Pública e políticas na concepção de grandes atores que são referências teóricas
na área. (T5); Saí desse módulo com muitos instrumentos para entender mais a fundo
as problemáticas colocadas hoje, fazendo conexões entre temas que não havia pensado
antes. (T10).
Nesses trechos, os trabalhadores demonstram o quanto que a discussão política sobre os
desafios da Saúde Pública está alijada do pensamento crítico. Aqui tomamos a palavra „crítico‟ conforme
apontam Löwy, Duménil, Renault (2015) na teoria marxista, sendo compreendida como “a revisão de
posições teórico-políticas em função das transformações históricas, ou seja, uma crítica à ideologia
dominante”.
A outra categoria que apresentou 14 proposições foi a que diz respeito a “Lançar um olhar crítico à
própria forma jurídica do Estado”. Destacaram-se os seguintes excertos:
É importante lançar um olhar crítico à própria forma jurídica do Estado e à nossa
concepção de democracia, participação e representatividade. (T2); A saúde pública se
encontra, hoje, nas mãos de um Estado que está a serviço de um conflito de classes que
o promove a saúde da população. O desafio está, a curto e médio prazo, em fazer
este Estado burguês produzir política de saúde e não promover a saúde a serviço de
setores mercantilizados. (T41).
Tais elaborações vão ao encontro da perspectiva crítica pachukaniana que argumenta sobre o
direito privado e direito público, admitindo que estas formas são abstratas e que estão imbricadas no
modo de produção capitalista. Entende-se que Pachukanis (2017) se refere à “realidade” associada às
relações sociais de produção capitalista e ao “poder” do capital. Nesse sentido, pode-se compreender as
tensões da garantia do direito à saúde no Brasil por meio do processo de políticas públicas, não pela
institucionalização destas políticas mas pelo processo de mercantilização da saúde em detrimento de sua
assunção enquanto direito.
Para os trabalhadores a “Adoção de uma visão de totalidade que o curso discute”, categoria com 13
proposições, foi fundamental para enfrentar a “visão romântica” da saúde e corrobora com a discussão da
próxima categoria:
A visão de totalidade que o curso discute me permite fazer uma análise crítica e teórica
frente aos desafios contemporâneos da saúde pública (T9); Os impasses do SUS vão
para além de escolha de modelos de atenção e o curso nos proporcionou essa visão
ampliada. (T17).
Sobre a “Visão romântica sobre o que foi e tem sido o Campo da Saúde Coletiva no Brasil” os
trabalhadores apontavam o seguinte:
Portanto, contribui para „desromantizar‟ o que foi e tem sido o campo da saúde coletiva
no Brasil, evidenciando de forma radical (na raiz do problema) os desafios que
enfrentamos hoje e que enfrentaremos no futuro, a partir de uma perspectiva histórica
dos caminhos percorridos. (T12); Pra mim, o curso contribuiu no sentido de desfazer
um tipo de „cortina de fumaça‟ que os próprios campos ligados à Saúde Coletiva
produzem [...] (T13).
A crítica à „visão romântica‟ da Saúde Coletiva como aspecto importante para
compreender os desafios da Saúde Pública, na percepção dos trabalhadores, ainda se encontra incipiente
nos marcos elaborado pelo campo. Isso os interrogou sobre como enfrentar o futuro da Saúde Pública se
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não possibilidade de verem „o político‟ para „além da cortina de fumaça‟ (CARNUT e IANNI, 2017)
produzida pelo campo da Saúde Coletiva. Estas percepções dos trabalhadores estão ligadas à questão a
seguir, que, segundo eles, o curso proporcionou.
Essas categorias estão imbricadas e demonstra o quanto a discussão sobre „modelos de gestão‟
predominam no cenário político da saúde coletiva e reforçam a „romantização‟ da luta setorial via Estado
(OLIVEIRA, 1987). Assim, a visão de totalidade, garantida pelo marco teórico marxista (MARX, 2007;
MÁRKUS, 2015), ajudou a desconstruir a formação realizada pela Saúde Coletiva sobre o político a
ampliar a capacidade dos trabalhadores em perceber que „o político‟ na Saúde Pública está longe de estar
restrito à execução das Políticas de Saúde e de seus modelos tecnoassistenciais.
Já em “Dialogar com os outros participantes” os trabalhadores foram enfáticos em dizer que o curso
ajuda a:
Unir forças para garantir uma política de Saúde Pública, de qualidade e com equidade.
(T11); Dialogar com os outros participantes e o manejo dos facilitadores [professores]
fizeram ampliar meu entendimento e o meu papel nesta sociedade. (T4);
É sabido que os trabalhadores do SUS são, em certa medida, formados teoricamente à luz da
interface teórica produzida pela Saúde Coletiva. Este campo advoga para si, a característica da
„interdisciplinaridade‟ como constitutiva da sua natureza (ALVARENGA, 1994). Entretanto é conhecido
que o pensamento marxiano, como bem exemplificado durante toda essa pesquisa, teve pouca
penetração no ensino da Saúde Coletiva. Os trabalhadores, nesse sentido, perceberam que o diálogo com
outros trabalhadores da SUS, inclusive com aqueles que vêm de uma formação mais crítica (como os
assistentes sociais, por exemplo) ajudam a compreensão deste marco teórico e ajudam a tecer críticas à
própria situação de „pouca capacidade de compartilhamento de saberes‟.
Os trabalhadores também entenderam que “Ampliar o olhar para o campo da política” foi uma
categoria importante. Oito proposições se assentaram nessa perspectiva conforme as falas:
O curso me possibilitou um olhar político crítico para a saúde coletiva, trazendo
informações sobre o cenário político e econômico atual com a „retirada gradual dos
direitos‟ conquistados historicamente com muita luta e o congelamento de verbas
públicas para a saúde e a educação. (T51);Compreendi que o maior desafio é estar
sozinho. Não há luta individual e devemos lutar por uma questão maior. (T75).
Estes discursos dialogam com a concepção da política enquanto espaço de luta no debate da
constituição dos direitos sociais sob a categoria do “Estado social capitalista”. Boschetti (2016) nos
esclarece que a regulação estatal das relações econômico-sociais no capitalismo é objeto de sua própria
reprodução, utilizando-se das políticas sociais como centro que asseguram a reprodução ampliada do
capital, no capitalismo dependente, o que se aplica ao caso brasileiro.
Por fim, na última categoria O resgate histórico de caminhos percorridos pela saúde pública se
destacaram os seguintes excertos:
Acredito que com o curso foi possível compreender algumas ações - através de uma
bibliografia que trouxe muito da história e da organização da política, da saúde pública e
do encontro - a política enquanto ação - que é necessária para se fazer Saúde Pública
cotidianamente. (T21);
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Visão crítica sobre o movimento de vida histórica e atual. (T77).
Esses discursos vão ao encontro da perspectiva histórica que tanto faz falta na saúde, a qual
Jaime Breilh (2016) nos relembra. Quando este autor reconhece o marco interpretativo da saúde nas
determinações sociais, ele compreende a história como uma das principais possibilidades de analisar os
problemas de saúde. Assim ele tenta abarcar os espaços das dimensões coletivas e individuais,
reconectando a saúde à totalidade e explicitando o modo de produzir como caminho para reescrever a
saúde na história.
Considerações finais
Assim, de acordo com os elementos trazidos pelos trabalhadores sobre os desafios atuais da
Saúde Pública à luz da interpretação marxista, foi possível identificar que, a maior parte das proposições
atenta à entender melhor a influência do capital na saúde pública.
Os trabalhadores compreenderam que o interesse das classes dominantes nas contrarreformas
está no cerne da história dos direitos sociais do Brasil, do qual, o direito à saúde é parte integrante. Os
trabalhadores ainda se ancoram, majoritariamente, na perspectiva de pensar na influência em que sistema
de saúde vive nas negociações realizadas todos os dias, e qual o papel deles enquanto agentes políticos no
percurso que o SUS percorreu desde seu nascedouro até os dias atuais. Por isso que o contexto histórico-
político que o SUS foi implantado e o terreno infértil para a Saúde Pública foi destacado. O atual
momento do capital financeiro, da contrarreforma neoliberal do Estado e da maior exploração da força de
trabalho pela queda global da taxa de lucro foram compreendidos como elementos que determinam esse
processo.
Ainda, os trabalhadores perceberam que suas ações estão distanciadas de um papel político crítico
e que estas não permitem identificar saídas para além daquelas tradicionalmente apresentadas pela Saúde
Coletiva (como melhorar os modelos de gestão, por exemplo). Nesse sentido, podemos concluir que os
trabalhadores identificaram que a luta coletiva, inspirada pelo pensamento crítico, é a saída. O
enfrentamento pela unificação das forças e pela clareza do processo sócio-histórico no qual a Saúde
Pública esta imersa é o caminho para uma prática profissional que compreenda melhor os desafios e faça
política à luz de uma ação coletiva, organizada e emancipadora.
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PELOSO, Ranulfo. Trabalho de base: seleção de roteiros organizados pelo Cepis. São Paulo: Expressão
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TEIXEIRA, Sonia Fleury. (Org.). Reforma sanitária: Em busca de uma teoria. 1. ed. São Paulo: Cortez,
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TRAGTENBERG, Maurício. Sobre educação, política e sindicalismo. 3a. ed. São Paulo: Editora
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Artigos
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 11, n. 1, p. 182-192-. , abr. 2019. ISSN: 2175-5604
VASCONCELOS, Kathleen Elane Leal; SCHMALLER, Valdilene Pereira Viana. Promoção da Saúde:
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Elane Leal. Por uma crítica da promoção da saúde: contradições e potencialidades no contexto do
SUS. São Paulo: Hucitec, 2014. p. 47-110.
Notas:
1
Professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) lotado no Centro de Desenvolvimento do Ensino
Superior em Saúde (CEDESS). É Pós-Doutor em Saúde Pública (Ciências Sociais e Humanas em Saúde) pela Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) com visita à Universidad Nacional de La Plata (UNLP)ORCID
http://orcid.org/0000-0001-6415-6977 . E-mail: Leonardo.carnut@gmail.com
2
Possui graduação em odontologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2010). Pós-graduação em
Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade pela Universidade Federal de São Carlos (2012) e Mestre em
Gestão da Clínica da Universidade Federal de São Carlos (2015). ORCID http://orcid.org/0000-0002-5191-9717 E-mail:
tarcilatvlopes@gmail.com
3
Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011) e mestrado em Farmácia pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2013). Membro da equipe técnica-pedagógica do Curso de Gestão da Assistência Farmacêutica
(2013-2016). Atualmente é doutoranda da Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP/SP, desenvolvendo tese em Serviços
Farmacêuticos na Atenção Primária à Saúde e facilitadora do Curso de Formação Política em
Saúde. ORCIDhttp://orcid.org/0000-0003-3107-8233 E-mail:samarajm@gmail.com
4
Possui doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (2005), livre-docência pela
USP (2012) e pós-graduação em Política e Relações Internacionais pela Lancaster University da Inglaterra (1984). Atualmente é
professor livre-docente de economia política da saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP e de seu programa de pós-
graduação em Saúde Pública, professor doutor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em
Economia Política da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP ). ORCID http://orcid.org/0000-0002-5632-4333 E-mail:
aquillasmendes@gmail.com
5
A ideia de „moderadores de aprendizagem‟ é original e vem ao encontro da discussão específica sobre a „política‟ enquanto conteúdo
no processo ensino-aprendizagem. Moderar seria „ponderar a percepção sobre a política, que, em nossa opção pedagógica
significa desconstruir seu conteúdo especialmente dialógico para reconstruí-la na perspectiva realístico-dialética. Para esta finalidade,
a moderação tem se dedicado a (des-re)construir um „vai-e-vem argumentativo‟ sobre o político na sociedade de classes. Como
consideramos que o político não é autônomo e muitas vezes ele se encontra escamoteado nas versões analíticas que o
consideram como um „jogo‟ institucional ou como uma „cena‟ teatral, é que apostamos na radicalidade do pensamento marxiano
em considerar o político como uma forma (CODATO, 2011, p. 47). Trabalhar essa visão com profissionais na área da saúde, em
nossa experiência, tem sido um processo „doloroso‟ para eles. Por isso, os moderadores, para além da robustez teórica requerem
também atitudes de generosidade e escuta. Assim, entendemos que, esta experiência, em última instância se traduz como um
Trabalho de Base tal qual definido por Peloso (2012, p. 10) uma “ação política transformadora, realizada por militantes de uma
organização popular [...] para despertar [...] e ligar essa luta à luta contra a opressão”. Em longo prazo esse processo de
formação de moderadores constitui-se em uma verdadeira cadeia formativa que se aproxima de uma formação de quadros
(BOGO, 2011).
Recebido 03.04.2019
Aprovado em 01.07.2019
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O presente texto, sobre o uso da análise de conteúdo na área da educação, procura ser uma contribuição à pesquisa em educação no sentido de colocar à disposição do pesquisador este importante procedimento de interpretação de dados coletados. A partir deste propósito, o texto responde as seguintes questões: o que é análise de conteúdo, o que faz dela um método durável, confiável, sendo plenamente aceito até mesmo por revistas internacionais de grande rigor científico e metodológico? Quais são as etapas de sua execução? Como estas etapas se estruturam? E finalmente, quais são os limites da análise de conteúdo? Para respondê-las, este texto usa exemplos que clareiam o processo de análise de conteúdo.
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As vertiginosas transformações das sociedades contemporâneas têm colocado em questão, de modo cada vez mais incisivo, os aspectos relativos à formação profissional. Este debate ganha contornos próprios no trabalho em saúde, na medida em que a indissociabilidade entre teoria e prática, o desenvolvimento de uma visão integral do homem e a ampliação da concepção de cuidado tornam-se prementes para o adequado desempenho laboral. Com base nestas considerações, o objetivo do presente artigo é discutir as principais transformações metodológicas no processo de formação dos profissionais de saúde, com ênfase na apreciação das metodologias ativas de ensino-aprendizagem.
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In the introduction, the author discusses the current debate on the "Reforma Sanitária"; a proposal to innovate health policy. The author draws attention to the different meanings that can be attributed, in his opinion, to the use of this term in Brazil. He focusses particularly on the meaning closer to that of the Italian proposal of the same name ("Riforma Sanitaria"). The discussion leads the author to question the relationship between the characteristics of the contemporary political liberal organization and the Gramsci-Togliattian strategy of the transition in socialism, within the field of "Public Policies" and more specifically "Social Policies". The article ends with a preliminary outline a comparative investigation in this field.
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Trata-se de ensaio que apresenta um estudo exploratório da retórica paradigmática da saúde com o objetivo de analisar os principais elementos de discurso dos movimentos ideológicos que historicamente construíram o campo social da saúde, particularmente na segunda metade do século XX. São destacados os esforços empreendidos pela Organização Panamericana da Saúde para debater a teoria e a prática da saúde pública na região das Américas cotejando-os com as demandas emergentes no contexto econômico, político e social dos países latino-americanos. Neste particular, destaca-se a necessidade de construir uma agenda política comum, a partir da confluência de três temáticas - reforma setorial, "Renovação da Saúde para Todos" (RSPT) e "nova saúde pública", contemplando os planos doutrinário, conceitual, metodológico e operativo. Apresenta-se uma breve sistematização do marco conceitual da saúde coletiva, em elaboração na América Latina, situando mais particularmente as suas potencialidades de construção de um conhecimento transdisciplinar. Conclui-se que, apesar de em si não constituir um paradigma, a saúde coletiva, enquanto movimento ideológico comprometido com a transformação social, apresenta possibilidades de articulação com novos paradigmas científicos capazes de abordar o objeto saúde-doença-cuidado respeitando sua historicidade e integralidade.
Organização política e política de quadros. São Paulo: Expressão Popular
  • Ademar Bogo
BOGO, Ademar. Organização política e política de quadros. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
Assistência Social e Trabalho no Capitalismo
  • Ivanete Boschetti
BOSCHETTI, Ivanete. Assistência Social e Trabalho no Capitalismo. São Paulo: Cortez, 2016.
  • Adriano Codato
  • Marx
CODATO, Adriano. O espaço político segundo Marx. Crítica Marxista, Campinas, SP, n. 32, p. 33-56, 2011.
Microfísica do poder. 8a. edição. Rio de Janeiro: Graal
  • Michel Foucault
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 8a. edição. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práticas educativa. 47a
  • Paulo Freire
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práticas educativa. 47a. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2013.