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CARSTE NÃO-CARBONÁTICO DA AMAZÔNIA: ANÁLISE GEOECOLÓGICA DA PROVÍNCIA ESPELEOLÓGICA ALTAMIRA-ITAITUBA (PA)

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As Inúmeras Facetas da Espeleologia
Atena Editora
2019
Ingrid Aparecida Gomes
(Organizadora)
2019 by Atena Editora
Copyright da Atena Editora
Editora Chefe: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira
Diagramação e Edição de Arte: Geraldo Alves e Natália Sandrini
Revisão: Os autores
Conselho Editorial
Prof. Dr. Alan Mario Zuffo – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Prof. Dr. Álvaro Augusto de Borba Barreto – Universidade Federal de Pelotas
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Prof. Dr. Eloi Rufato Junior – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
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Prof. Dr. Gianfábio Pimentel Franco – Universidade Federal de Santa Maria
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Prof. Dr. Jorge González Aguilera – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
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Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará
Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior – Universidade Federal de Alfenas
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Profª Drª Vanessa Lima Gonçalves – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
E77 As inúmeras facetas da espeleologia [recurso eletrônico] /
Organizadora Ingrid Aparecida Gomes. – Ponta Grossa (PR):
Atena Editora, 2019.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-081-0
DOI 10.22533/at.ed.810193001
1. Espeleologia. I. Gomes, Ingrid Aparecida.
CDD 796.525
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos autores.
2019
Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos
autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
www.atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
Alguns fatores locacionais são decisivos na xação de determinados grupos no
espaço, estes agem de acordo com sua cultura e necessidades, o transformando.
As condições físicas (clima, geologia, relevo, solo, hidrograa) se apresentam como
recursos que são de interesse do grupo. Ao mesmo tempo, existem também fatores
mais especícos como os econômicos e sociais, que contribuem para a formação e
adaptação desses indivíduos no espaço.
Desde a evolução das espécies as cavernas sempre estiveram presentes na
história do homem, a princípio serviam como abrigos naturais (primeiro abrigo da
humanidade), com o desenvolvimento das culturas e conhecimentos foram sendo
agregadas a estas, crenças mitológicas da existência de forças ocultas, animais
desconhecidos e/ou até mesmo outros seres e energias.
A partir da segunda metade do século XIX, as cavernas passaram a despertar
o interesse dos cientistas, que visavam descobrir através das suas formações e
morfologia a história cronológica da Terra e seus habitantes. As últimas décadas
do século XX, foram caracterizadas pela expansão da pesquisa e das explorações
espeleológicas no Brasil. No século atual, diversas pesquisas são desenvolvidas no
âmbito espeleológico, em diferentes áreas do conhecimento.
Os termos relativos a caverna geralmente utiliza a raiz espeleo, derivada do
latim spelaeum, a qual teve seu signicado instituído pelo Decreto Lei n. 99.556 de 1º
de outubro de 1990 que dene caverna como “cavidade natural em qualquer espaço
subterrâneo, penetrável pelo ser humano com ou sem abertura identicada”.
Atualmente as pesquisas desenvolvidas referentes a cavernas, direta ou
indiretamente, representam o momento de excelência da espeleologia no Brasil,
ampliam-se contribuindo para a melhoria das técnicas, desenvolvimento do
conhecimento e consequentemente para a preservação desses ambientes.
Considerando a necessidade de aprimorar os estudos espeleológicos, esta obra
intitulada As inúmeras facetas da espeleologia”, com seus 6 capítulos, publicados
em seu I volume pela Atena Editora, busca disseminar o conhecimento a respeito da
temática apresentada.
Neste sentido, este volume dedicado aos estudos espeleológicos, apresenta
artigos alinhados com análise geoecológica espeleológica, carste em metacalcários,
levantamento espeleológico de cavidades naturais, criação de RPPN para patrimônio
espeleológico e sepultamento em urna funerária em cavernas.
Por m, os organizadores da Atena Editora, agradecem especialmente os autores
dos diversos capítulos apresentados, parabenizam a dedicação e esforço de cada
um, os quais viabilizaram a construção dessa obra no viés da temática apresentada.
Desejamos que esta obra, fruto do esforço de muitos, seja seminal para todos que
vierem a utilizá-la.
Ingrid Aparecida Gomes
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
ACHADO DE FERRAMENTA LÍTICA PLANO CONVEXO NO INTERIOR DA CAVERNA TOCA DA
ONÇA DA CAPITINGA, FORMOSA-GOIÁS
Alfredo Palau Peña
Viviane Cristiane Novais Soares
Edvard Dias Magalhães
DOI 10.22533/at.ed.8101930011
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 15
CARSTE NÃO-CARBONÁTICO DA AMAZÔNIA: ANÁLISE GEOECOLÓGICA DA PROVÍNCIA
ESPELEOLÓGICA ALTAMIRA-ITAITUBA (PA)
Luciana Martins Freire
Edson Vicente da Silva
César Ulisses Vieira Veríssimo
Joselito Santiago de Lima
DOI 10.22533/at.ed.8101930012
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 30
CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO CARSTE EM METACALCÁRIOS DO SEMIÁRIDO
BRASILEIRO: O CASO DAS OCORRÊNCIAS DO MUNICÍPIO DE TEJUÇUOCA – CE
Daniel dos Reis Cavalcante
Frederico de Holanda Bastos
Abner Monteiro Nunes Cordeiro
DOI 10.22533/at.ed.8101930013
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 47
O USO DE MATRIZ DE VALORAÇÃO NO LEVANTAMENTO ESPELEOLÓGICO DE CAVIDADES
NATURAIS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE PARIPIRANGA, BAHIA
Elvis Pereira Barbosa
Márcio Santana Santos
Fernando Andrade Silva
Hércules Silva Santos
Autran Matos Santana
DOI 10.22533/at.ed.8101930014
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 63
PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE RPPN PARA SALVAGUARDO DE PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO –
LAPA DA FORQUILHA, BALDIM - MG
Pablo Vinícius Silva Santos
Luciano Emerich Faria
Patrícia Cristina Dias Perini
Bruno Henrique Martins Moreira
Daniel Magno Carmo
Gabriela Camargos Lima
DOI 10.22533/at.ed.8101930015
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 81
VIOLADO O PRIMEIRO REGISTRO DE SEPULTAMENTO EM URNA FUNERÁRIA NAS CAVERNAS
DA REGIÃO DE GUARANI DE GOIÁS
Alfredo Palau Peña
Viviane Cristiane Novais Soares
DOI 10.22533/at.ed.8101930016
SOBRE A ORGANIZADORA ..................................................................................... 88
As inúmeras facetas da Espeleologia 1
Capítulo 1
CAPÍTULO 1
ACHADO DE FERRAMENTA LÍTICA PLANO CONVEXO
NO INTERIOR DA CAVERNA TOCA DA ONÇA DA
CAPITINGA, FORMOSA-GOIÁS
Alfredo Palau Peña
Ecoarqueologia Brasil, Departamento de
Arqueologia
Aparecida de Goiânia- Goiás
Viviane Cristiane Novais Soares
Ecoarqueologia Brasil, Departamento de
Arqueologia
Aparecida de Goiânia- Goiás
Edvard Dias Magalhães
Panorama Ambiental, Departamento Espeleológia
RESUMO:As ocupações humanas pretéritas
são bastante conhecidas e estudadas no
Planalto Central Brasileiro, no entanto os estudos
de arqueologia em cavernas ainda são pouco
frequentes, principalmente no estado de Goiás,
diferentemente de outros estados do sudeste
e nordeste brasileiro, e que apresenta alto
potencial para a arqueologia e espeleologia. As
cavernas foram com certeza alvos de ocupações
humanas, permanentes e ou temporárias para
diversos ns, de habitacionais a simbólicos e
religiosos. Na Toca da Onça da Capitinga em
Formosa no estado de Goiás (SBE GO-057),
foram registradas representações rupestres em
pinturas e uma ferramenta lítica em sílex do tipo
plano convexa, conhecida como raspador, de
uma das tradições mais antigas que ocuparam
o Planalto Central. Este recorte evidência a
importância de otimizar estudos e análises de
atividades e relações humanas e as interações
com cavernas, onde estas podem ter sido
espaços escolhidos para os diversos usos
desde busca de recursos matérias, faunísticos,
abrigos e espaços simbólicos.
PALAVRAS CHAVE: artefato lítico, pré-história,
cavidade.
ABSTRACT:Key-Word: prehistory, funeral urn,
cave systems.
The previous human occupations are well
known and studied in the Brazilian Central
Plateau, however, cave archeology studies
are still infrequent, especially in the state of
Goiás, unlike other states in the southeastern
and northeastern Brazilian states and which
presents high potential for archeology and
caving. The caves were certainly targets of
human occupations, permanent and temporary
for various housing purposes, symbolic and
religious. In the Lair of the Jaguar the Capitinga
cave in Formosa at the state of Goiás (SBE
GO-057), rock representations were recorded
in paintings and a lytic tool in int of the convex
plane type, known as scraper, of one of the
oldest traditions that occupied the Central
Plateau. This clipping evidences the importance
of optimizing studies and analyzes of human
activities and relationships and the interactions
with caves, where they may have been spaces
chosen for the various uses from the search of
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 2
material resources, fauna, shelters and symbolic spaces.
KEYWORDS: lithic artifact, prehistory, cavity.
1 | INTRODUÇÃO
As populações humanas pretéritas que se instalaram nessa região selecionaram
diferentes locais, a céu-aberto e em abrigo e ou cavernas para se xarem. As pesquisas
arqueológicas comprovam que os grupos humanos pré-coloniais escolheram ambientes
topomorfológicos distintos para construir vastas áreas de habitação.
Segundo Bertran (2011) um dos fatores que diferenciam a região e contribui para
que grupos humanos se estabeleçam nessa área é a própria característica geográca
da região do Planalto Central. Ainda, conforme o autor, alguns fatores particulares
contribuíram para essa efetiva ocupação, a região possui um divisor de bacias
hidrográcas que no passado e posteriormente no Século XVIII, foi um caminho
inevitável para as migrações de grupos humanos. Igualmente, ainda existem dentro
da região do município de Formosa alguns pontos de contato entre ecossistemas
diferenciados, zonas de transição de campo limpo para cerrado e para mata que,
poderiam delimitar sítios pré-históricos.
Para Schmitz (1989) havia uma maior abundância de recursos neste ecossistema
do que na caatinga, ou mesmo a mata e que podem ter favorecido o desenvolvimento
de uma economia de caça e coleta generalizada.
Nesse contexto observa-se o desenvolvimento de uma cultura especíca,
denominada pelos arqueólogos de Itaparica / fase Paranaíba. As datas mais antigas
que comprovam a presença do homem em Goiás estão compreendidas entre 10.750 a
9.000 AP (ATAÍDES, 1998), que correspondem à fase Paranaíba da tradição Itaparica
(SCHMITZ, 1989). Essa cultura apresenta como principais características não apenas
uma padronização lítica, mas também o tipo de habitação. A indústria lítica da fase
Paranaíba caracteriza-se por lascas pequenas retiradas de seixos de quartzito (98%)
e calcedônia (2%) que produziu alguns objetos retocados plano-convexos, tais como
raspadores, ogivais e gumes arredondados (PROUS, 1992).
Já o tipo de habitação, tanto no Goiás quanto no norte do Mato Grosso do Sul, é o
abrigo, enquanto em outros Estados, como o Tocantins, nota-se uma maior abundância
de sítios a céu aberto. Nos assentamentos localizados em grutas ou abrigos, geralmente
calcários, areníticos ou quartzíticos, reuniam-se recursos minerais, vegetais e animais
em nichos diversicados (SCHMITZ, 1989), o que pode ter sido um fator de inuência
para a criação de acampamentos de atividades múltiplas.
Na bacia do rio Paranã onde foram identicadas ocupações em grutas por grupos
da fase Palma da tradição Una, onde sua cerâmica é desprovida de decoração, de
contorno simples ou inetido com duas datas para esta fase 720 anos d.C. e outra
1.210 anos d.C., ambas pré-coloniais (ATAÍDES, 1998).
Na região do Vale do Paranã e no município de Formosa existem sítios de
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 3
pinturas rupestres que estão denidos como um conjunto estilístico de Formosa
(tradição Geométrica) (PROUS, 1992). Muitos vestígios do homem do passado ainda
são desconhecidos. E são muitas as pessoas que não compreendem o valor histórico
e artístico da arte rupestre, ou de uma gama de outros achados arqueológicos.
Em 1975 deu início aos estudos sistemáticos orientados pelo Museu Antropológico
da Universidade Federal de Goiás junto com o Instituto Superior de Cultura Brasileira
com a implantação do projeto denominado Bacia do Paranã1 com focos em áreas do
rio Maranhão, Chapada dos Veadeiros e nascentes do rio Paranã (BARBOSA, 2002).
São três fases líticas que testemunham ocupações pretéritas: Cocal, Paranã
e Terra Ronca, sendo a Cocal a mais recuada e correlacionada à fase Paranaíba
da Tradição Itaparica, com datações de ocupações no Planalto Central a partir de
aproximadamente 11.000 anos AP, constituída por grupos de caçadores coletores
(MENDONÇA DE SOUZA et al., 1982).
“no período Paleoíndio (holoceno inferior, de 11.000 a 8.500 AP) aparece a Tradição
Itaparica, ou o que Mendonça de Souza (1981-2) chama de ‘subtradição Paranaíba’
em que o fóssil guia seria o artefato plano-convexo, e em que as fases Paranaíba
e Cocal seriam as mais antigas. Ainda dentro dessa ‘subtradição’, tem-se a fase
Paranã, que apareceria em uma transição para o período Arcaico (holoceno médio),
e a Terra Ronca, que já surgiria no Arcaico Superior;” (MELO, 2006 p.741).
“Para o leste do estado de Goiás, no alto curso do rio Paranã, as pesquisas ali
realizadas (Mendonça de Souza et al., 1977; Mendonça de Souza et al., 1983-
84) deniram a fase Paranã, representativa de uma cultura existente entre 8.400 e
4.000 BP. Apesar da data, devido à presença de vários raspadores plano convexos,
essa fase foi liada à Tradição Itaparica, com os autores acrescentando que se
trataria de uma fase de transição, m do Paleoíndio, e que daria início às culturas
do Arcaico Inferior” (MELO, 2005 p.26).
“Ainda na bacia do rio Paranã, em especial no seu médio e baixo curso, foi denida
a Fase Terra Ronca, onde, apesar de ainda ocorrer predominância de artefatos
plano-convexos, é possível perceber uma modicação morfológica da tipologia
lítica em relação às outras fases denidas: artefatos de talhe maior, e presença de
uma porcentagem signicativa de artefatos com retoques bifaciais. De acordo com
os autores (Mendonça de Souza et al., 1981-2) essa fase seria a mais recente, já
atingindo o período arcaico inferior” (MELO, 2005 p.28).
Seus instrumentos apresentavam lascamento por percussão direta em matérias
primas como jaspe, sílex, quartzo e calcedônia, morfologicamente unifaciais plano-
convexos, destacando os raspadores lesmiformes, bicos, facas, furadores (BARBOSA,
2002).
Na região foram ainda encontrados duas pontas bifaciais com pedúnculo e aletas,
mas se acredita serem intrusivas na região (MENDONÇA DE SOUZA et al., 1982).
Para o Período Horticultor-Ceramista (a partir de 2.500 AP) caracterizado pela
presença de material cerâmico e uma horticultura incipiente a tradição Una é a mais
1. O Projeto Bacia do Paranã seguiu, também, as mesmas orientações do PRONAPA: “...são aber-
tos um ou mais cortes para sondagem, com níveis articiais de 10 cm. O corte padrão tem 1 x 1 m.”
(Mendonça de Souza et al., 1977: 17-8). Tinha como objetivo “o estabelecimento de uma sequência
cronológica e cultural para as áreas estudadas” (idem, p:15-6). Esse projeto encampou as pesquisas
realizadas por Simonsen, um ano antes, na mesma região.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 4
antiga da região (fase Palma), com sítios situados preferencialmente em abrigos,
aparecendo tanto na Bacia do Paranã, onde as datações remontam ao século V a.C,
como no sudoeste de Goiás (fase jataí), onde encontram-se evidências botânicas
(milho, feijão, cabaça) em associação direta com a cultura material, seguidas dos
grupos das ‘grandes aldeias’ da tradições Aratu e Uru.
As pinturas das grutas de Formosa estão nítidas, levando-se em conta o
desgaste sofrido ao longo de tanto tempo de exposição. Algumas foram feitas a até
7,5 metros do solo. A maioria tem um só tom: vermelho, laranja, vinho e preto. Poucas
têm associação de duas cores. As representações são variadas. Algumas gravuras
se referem a animais, como tatus e veados. Também há marcas de pés, com quatro,
cinco e seis dedos e desenhos primários de pessoas (Complexo Arqueológico Lapa
da Pedra).
O Complexo Arqueológico da Lapa da Pedra está formado por mais de 15 sítios
em abrigo e céu aberto localizados em sequência ou próximos do mesmo aoramento
calcário representados por pinturas rupestres e vestígios lítico-cerâmicos.
Na região também são registrados sítios com gravuras que têm uma
predominância de formatos geométricos, os mais conhecidos são os petroglifos do
Sítio do Bisnau (GO00327 - GO-PA-01). Sítios de petroglifos (gravuras em lajedos
horizontais) semelhantes foram encontrados por Mendonça de Souza et al (1979) em
vários tributários do rio Paranã auente do rio Tocantins (Vale do Paranã), no ribeirão
dos Bois (GO-PA-03), no córrego Doce (GO-PA-04), na corredeira do rio Paranã (GO-
PA-05) e do rio Sucuriu (GO-PA-06). Schmitz; Moehlecke & Barbosa (1979) registram
também outros sítios com petroglifos tanto no alto Tocantins como em tributários do rio
Vermelho auente do rio Araguaia, Gravura na região de Itapirapuã (GO-JU-II), Gravura
de Jaupaci (GO-JU-28), Petroglifo São Januário (GO-NI-54). Mendonça et al (1979)
e aceito por Schmitz, Moehlecke & Barbosa (1979) denominam estes Petroglifos de
Complexo Estilístico Simbolista Geométrico Horizontal.
Enm, o contexto arqueológico da região de Formosa nos apresenta uma área
que foi constantemente ocupada por grupos pretéritos. Atualmente a maior diculdade
em encontrar evidências da presença desses grupos e o alto grau de urbanização da
região e a ocupação desordenada das cidades e uso constante do meio ambiente, no
entanto as cavernas são testemunhos ou apresentam evidências dessas ocupações e
este estudo revela os achados na Toca da Onça da Capitinga.
Este recorte evidência a importância de otimizar estudos e análises de atividades
e relações humanas e as interações com cavernas, onde estas podem ter sido espaços
escolhidos para os diversos usos desde busca de recursos matérias, faunísticos,
abrigos e espaços simbólicos.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 5
2 | ÁREA DE ESTUDO
A caverna Toca da Onça da Capitinga foi explorada pela primeira vez em
1983 pelo Espeleo Grupo de Brasília EGB, que a cadastrou dez anos mais tarde
no Cadastro Nacional de Cavernas - CNC/SBE sob o registro GO-057. À época o
EGB noticiou em seus relatórios a presença de um sítio arqueológico, com painéis
de pinturas rupestres no teto interno da metade norte da gruta. Essa caverna possui
registro no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas - CANIE sob número
021871.00366.52.08004. Localiza-se nas coordenadas geográcas SIRGAS 2000
Latitude -15, 3659° / Longitude -47,0962° / Altitude 883 metros, em área rural particular,
parcelada da antiga Fazenda Capitinga, no município de Formosa, Goiás. Insere-se
na Bacia Hidrográca Tocantins-Araguaia, Sub-bacia do Rio Paranã, micro bacia do
Rio Bisnau; nos domínios vegetacionais do Bioma Cerrado, com cobertura de Mata
Seca Decídua sobre o aoramento rochoso, esse completamente circundado por
pastagens. A gruta encontra-se formada à base de morro testemunho carbonático
da formação Sete Lagoas, Grupo Bambuí, transpassa transversalmente (NW-SE) o
alto aoramento rochoso. Sua galeria principal possui morfologia retilínea uniforme,
em seção vertical tabular; e suas galerias secundárias são mistas entre a morfologia
horizontal tabular e a meândrica e vertical. Seu desenvolvimento linear topografado é
de 169 metros, com predominância de galerias secas e planas, atingindo um desnível
de 3,7 metros. Caracterizada pelas duas bocas de entrada dispostas nas extremidades
de seu amplo corredor principal, sua ambiência interna expõe a rocha matriz, com
ocorrências pontuais de espeleotemas e discretos depósitos alóctones de sedimentos
terrígenos inconsolidados e matéria orgânica (Figura 1).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 6
Figura 1 – Mapa espeleotopográco em planta baixa da Toca da Onça da Capitinga.
3 | METODOLOGIA
A escolha do método de um trabalho cientíco é fundamental para se chegar à sua
conclusão, pois aplicando uma metodologia adequada, o levantamento arqueológico
pode contribuir não somente com a localização de sítios, mas pode também produzir
resultados signicativos a uma pesquisa (RENFREW & BAHN, 1993).
Para este levantamento prospectivo foram seguidas ações orientadas para a
identicação evidencias arqueológicas, onde foram realizadas prospecções com
análise supercial, seguindo o método probabilístico sistemático amostral e aleatório
não alinhado (REDMAN, 1973; RENFREW & BAHN, 1993) em consequência das
características locais, onde predominam aoramentos calcários com cavidades,
favorecendo o levantamento oportunista (EVANS & MEGGERS, 1965).
Assim, em meados de junho de 2016 foram realizados na Toca da Onça da
Capitinga, os caminhamentos sistemáticos com a varredura da superfície, paredes e
tetos, a partir do zero (entrada da caverna) por segmentos até percorrer a totalidade
do conduto principal, com auxílio de trena tipo ta e laser, na busca de evidências de
ocupações humanas, como representações rupestres, vestígios líticos e cerâmicos.
Cada unidade identicada foi devidamente orientada e localizada (Figura 2).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 7
Figura 2 – Sequência: A- localização das evidências no solo; B- tomada de distâncias com trena
laser; C- Prospecção na superfície do piso, teto e parede; D- registro de representação rupestre
zoomorfa (quelônio).
A amostragem foi, nesse sentido, considerada como uma forma de obter uma
representação adequada da variedade total de informações sobre o sítio arqueológico,
sem que seja preciso lidar com todos os dados do universo por ela representado,
comparando com sítios da região (PLOG et al., 1978).
Quanto à denição de sítio arqueológico a proposta metodológica sustenta-se
em não somente pela presença de material cultural, assim não analisando apenas
a presença de material cultural (BRUNET et al., 2003), onde a caverna é um espaço
social. Pode-se assim, entender que a caverna é um sistema territorial com área
própria e denida pelas suas características geográcas – como geologia, microclima,
fauna e ora e as relações sociais que existem no seu entorno ou dentro dela,
principalmente nas cavernas santuário, facilitam a análise do espaço cavernícola sob
a ótica da territorialidade e relações sociais (BARBOSA, 2013).
Para Santos (2008) um conceito que pode ser aplicado ao uso da caverna,
como um espaço social, onde se vivenciam as relações sociais e as interações entre
os diversos ocupantes deste espaço. Assim, o espaço é formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de
ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história
se dá (SANTOS, 2008, p. 62-63).
Também foram realizadas entrevistas com moradores locais sobre a presença
de material arqueológico na área do entorno e na caverna, fato esse que fornece uma
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 8
grande quantidade de informação (EREMITES DE OLIVEIRA & PEREIRA, 2012).
Todos os procedimentos das prospecções na caverna foram documentados em
fotos digitais.
Todos esses processos fazem parte da prospecção arqueológica, pois é, como
na sua denição mais clássica, um processo múltiplo e que envolve diversas atividades
(SCHIFFER, SULLIVAN & KLINGER, 1978). Não direcionado especicamente para a
identicação de restos materiais, mas também para o entendimento das propriedades
intrínsecas do todo.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A caverna Toca da Onça da Capitinga caracteriza-se como um túnel linear
horizontal orientado de norte a sul, providos amplos pórticos de entrada, detendo
poucas áreas com depósitos de sedimentos, principalmente em sua zona norte, onde
também foram registradas as representações rupestres e o lítico plano convexo, este na
superfície entre blocos. A caverna está em um dos maiores aoramentos carbonáticos
da região, isolado em uma extensa área plana entre os ribeirões Bisnau e Capitinga.
A topograa da caverna é plana com pequena declividade 1,5º sentido norte-
sul, e um pequeno escalonamento a partir da metade da cavidade. A caverna é seca
sem a presença de curso d’água signicativo. A estratigraa supercial mostra-se
formada por laje e blocos caídos e rolados, com pontos com pacotes de sedimentos
arenoso e argilosos de coloração acinzentada, evidenciando aportes do meio externo,
provavelmente por dinâmica de um paleocurso d’água. A visibilidade da superfície é
de média a alta.
Não foram realizadas, no interior da caverna, intervenções na subsuperfície,
assim como remoção de blocos abatidos. As únicas atividades foram o registro das
representações rupestres e análise de superfície com a coleta de um instrumento
lítico.
As evidências arqueológicas tipo representações rupestres em pintura foram
identicadas nas paredes de ambos lados do conduto e no teto, com maior número
de painéis e ou conjuntos na parede leste da galeria principal, distando 33 metros da
entrada a norte. A ocorrência lítica tipo plano convexa foi localizada em superfície no
centro desta galeria a 12 metros da entrada norte (Figura 3 e 4).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 9
Figura 3 – Local do encontro da ferramenta lítica na superfície entre blocos.
Figura 4 – Ferramenta lítica plano convexa (raspador) em sílex.
Por ser uma caverna já conhecida regionalmente sua visitação tem promovido a
movimentação de alguns blocos, pisoteio da superfície e a pichação dos suportes com
pinturas nas paredes e teto, muitas riscadas e outras pintadas com tinta e giz.
O entorno da caverna, principalmente na entrada norte, está completamente
ocupado por pastagem onde o solo foi arado. A vegetação arbórea predomina apenas
nas áreas de rocha rasa ou aorada. O remeximento do solo pelo arado, pode ter
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 10
contribuído para a perda de vestígios arqueológicos.
Na região existem outras cavernas que foram ocupadas e que os grupos
registram arte imobiliar. Podemos citar o Complexo Lapa Alta com várias cavernas
com representações rupestres, sepultamentos e outras evidências arqueológicos
como material lítico. As representações rupestres apresentam os mesmos motivos
observados na caverna Toca da Onça da Capitinga, predominando os motivos
geométricos.
Uma das características mais interessantes dos diferentes grupos humanos é que
tendem a encontrar locais semelhantes para se xar, com oferta de água, alimentos
e abrigo. Isso esteve em nossa mente durante todo o trabalho, e inclusive pode-se
constatar que diferentes grupos humanos ocuparam às vezes os mesmos locais ao
longo do tempo.
A caverna Toca da Onça da Capitinga, mesmo com o uso desordenado e as
pichações registradas, ainda possui elementos de grande signicância que podem e
devem ser objeto de estudos acadêmicos.
Assim, foi realizado seu registrado junto ao IPHAM em 2016 como Sítio
Arqueológico Toca da Onça da Capitinga e considerou como delimitação a extensão
total da cavidade respeitando seus limites naturais, com aproximadamente 828m².
A Relevância do sítio é alta com ocorrência de instrumento lítico (plano convexo)
e representações rupestres, com o registro de 22 conjuntos com diversas guras e
13 representações isoladas totalizando 14 painéis, sendo 3 ocupando os suportes do
lado direito (parede oeste) e 11 ocupando os suportes do lado esquerdo (parede leste),
com contexto de caçadores coletores Fase Cocal. O Estado de Conservação deste
sítio é perturbado, onde as pinturas estão parcialmente danicadas, com um Grau
de Integridade entre 25 e 75%, com fatores de destruição como atividades humanas
(visitação e pichação) e intemperismo da rocha suporte (calcário).
A identicação de um artefato lítico, enquanto, um vestígio pretérito de produção
antrópica, é o passo inicial para o estudo de qualquer coleção lítica. O reconhecimento
de artefatos complexamente transformados como no caso dos planos-convexos se
dá sem maiores esforços, pois, possuem formas e volumes totalmente diferentes das
matrizes rochosas encontradas no meio natural (FOGAÇA & LOURDEAU, 2006).
Contudo, durante a análise tanto de instrumentos, quanto de lascas utilizadas sem
grandes mudanças volumétricas, ou mesmo os subprodutos resultantes dos processos
de produção lítica (núcleos, lascas e detritos) requerem uma série de critérios analíticos
diacríticos que os caracterizam (FOGAÇA & LOURDEAU, 2006).
Portanto durante a análise do artefato lítico encontrado no Sítio Arqueológico
Toca da Onça da Capitinga, optou-se pela utilização da abordagem tecnofuncional,
no qual, integra a noção básica de cadeia operatória e esquema operatório, mas, ao
mesmo tempo tenta compreender a funcionalidade de cada objeto para em seguida
integra-lo no conjunto como todo, buscando dessa forma os objetivos e modos de
produção, assim como, as características estruturais e dos potenciais funcionais dos
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 11
instrumentos produzidos (LOURDEAU, 2006).
A ferramenta foi produzida sobre lasca-suporte em matéria-prima de sílex. Não
apresenta córtex o que evidencia o estágio de redução volumétrica e de intensas
modicações da matéria (MORAIS, 1987).
Foram levados em consideração alguns critérios básicos de análise, como a
retirada das dimensões da peça. As dimensões são importantes para caracterizar a
indústria lítica. Com o auxílio do paquímetro foram tomadas três medidas básicas da
ferramenta, nos quais, apresenta 58 mm de comprimento, 25 mm de largura e, 13 mm
de espessura.
Pôde-se observar também, diferentes etapas de lascamento na produção do
instrumento: a debitagem que consiste na primeira etapa de lascamento realizada,
quando o artesão retira do núcleo uma lasca (FOGAÇA, 2005), e que pôde ser
observada no instrumento através de algumas retiradas superiores pela diacronia. Em
seguida foram observadas uma sequência de retiradas de façionagem façonnadas e,
que têm por objetivo moldar o instrumento, e por último as retiradas de retoque que
teve como intuito o aperfeiçoamento, ou reavivamento do gume (Figura 5).
Figura 5- Desenho de 4 secções do Plano Convexo. Desenho Milena Sousa Melo.
Através do desgaste escalonado observado no gume durante a análise do
instrumento concluiu-se que a ferramenta foi utilizada de ambos os lados, possivelmente,
para a raspagem, tanto o bordo direito, quanto o bordo esquerdo.
Nos estudos realizados na região do Vale do Paranã, a indústria lítica foi
caracterizada como de lascas e núcleos, típica e associada a nichos ecológicos bem
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 1 12
determinados, como, cabeceiras dos rios, grutas calcárias e aoramentos de siltítos,
tipologia Cocal (SIMONSEN, 1975), que descreve os planos convexos (“lesma”) como
os artefatos mais típicos, com bordos em bisel simples com ângulos entre 45°/80° e
dimensões entre 115 x 48 x 27 mm e 60 x 2,9 x 1,4 mm, tendo como principal escolha
da matéria prima o sílex, o que corrobora com a peça encontrada na Toca da Onça da
Capitinga.
“Os artefatos da tipologia Cocal, como cou visto, caracteriza-se por uma
cultura predominantemente de lasca, com artefatos plano-convexos lascados,
apresentando uma face plana sem retoques e a outra constituída pela fase externa
da lasca, e com retoque direto elaborado a partir da face interna, destacando-
se as lesmas, raspadores, furadores-facas e furadores-raspadores, lâminas de
machado e pontas de arremesso, elaborados em sílex, calcedônia, quartzo, e mais
raramente, arenito” (SIMONSEN, 1975: 68).
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados obtidos até o momento demonstram na ocupação da caverna uma fase
unicomponencial pré-colonial pela homogeneidade da cultura material encontrada um
raspador (plano convexo) lítico e as representações rupestres, para um provável grupo
de caçadores coletores.
Cabe ressaltar que podem existir outras evidencias arqueológicas sob os pacotes
de sedimentos que não foram investigados no presente estudo.
As representações rupestres deverão ser amplamente documentadas em
estudos posteriores na reprodução dos painéis utilizando as técnicas cabíveis
na documentação e ou registro das representações. Neste estudo apenas foram
identicadas, fotografadas e analisadas quanto sua conservação.
Importante buscar entre os agentes governamentais e sociais a conservação dos
patrimônios culturais presentes nas cavidades naturais de Formosa, Goiás, que estão
hoje sendo depredados com retirada de material arqueológico, pichações sobre as
representações rupestres e com a destruição das estruturas espeleológicas.
6 | AGRADECIMENTOS
Agradecimento a Milena Sousa Melo pelo desenho e análise no material lítico.
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As inúmeras facetas da Espeleologia 15
Capítulo 2
CARSTE NÃO-CARBONÁTICO DA AMAZÔNIA:
ANÁLISE GEOECOLÓGICA DA PROVÍNCIA
ESPELEOLÓGICA ALTAMIRA-ITAITUBA (PA)
CAPÍTULO 2
Luciana Martins Freire
Universidade Federal do Pará, Campus
Universitário de Ananindeua.
Ananindeua – Pará
Edson Vicente da Silva
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Geografia.
Fortaleza – Ceará.
César Ulisses Vieira Veríssimo
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Geologia, Fortaleza CE.
Fortaleza – Ceará.
Joselito Santiago de Lima
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará, Campus Óbidos. Óbidos –
Pará.
RESUMO: A Espeleologia é uma área de
estudo que se dedica a investigar a natureza,
a gênese e os processos de formação das
cavidades naturais subterrâneas (as quais
incluem diferentes denominações como
cavernas, grutas, abrigos, etc.) e suas feições
relacionadas, incluindo ainda os aspectos
biológicos (fauna e ora). Como exemplo,
a presente pesquisa apresenta a Província
Espeleológica Altamira-Itaituba (Estado do
Pará), situada na faixa de contato dos domínios
geológicos da Bacia Sedimentar do Amazonas
e do Embasamento Cristalino do Complexo
Xingu. Na metodologia foi realizada uma análise
geoecológica da paisagem da Província, por
meio da utilização do enfoque sistêmico. A
inexistência de unidades de conservação na
Província leva a uma preocupação inicial, uma
vez que esses ambientes são congurados
por formas de relevo desenvolvidas em rochas
cársticas não carbonáticas. Considerando-
se que a Espeleologia é uma atividade de
múltiplo sentido (cientíco, esportivo, turístico
e sociocultural), faz-se necessário a proposição
de planejamento ambiental aliada ao conceito
de geoconservação. Tem-se, então, uma
contribuição à pesquisa espeleológica,
ampliando os estudos voltados para o
conhecimento de patrimônios geológicos na
Amazônia, destacando-se um estudo sobre
carste em rochas não carbonáticas.
PALAVRAS-CHAVE: Análise Geoecológica,
Carste não-carbonático, Amazônia.
ABSTRACT: The Speleology is an area of study
that is dedicated to investigating the nature,
genesis and formation processes of natural
underground cavities (which include different
denominations such as caves, shelters, etc..)
and their related features, including even
the biological. As an example, this research
shows the Altamira-Itaituba Speleological
Province (Pará), located in the contact strip of
that following geologic domains: Amazonas
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 16
Sedimentary Basin and of crystalline base of Xingu Complex. The geological structure
is sandstones of Maecuru Formation and shale of Curuá Formation. This research is
developed from the geoecologic analysis of the landscape of the Speleological Province,
though a systemic method. The lack of protected areas in the Province detaches an
important concern, since these environments are congured by landforms developed
in karst rocks, not carbonate. Considering that the Speleology is a multiple sense
activity (scientic, sports, tourism and socio-cultural), it is necessary to propose an
environmental plan combined with the concept of geoconservation. This is a contribution
to the speleological research, broadening the studies focused on the knowledge of
geological heritage in Amazon, highlighting a study about karst in non-carbonate rocks.
KEY-WORDS: Geoecological Analysis, Karst in Non-Carbonate Rocks, Amazon.
1 | INTRODUÇÃO
Espeleologia (do grego spelaion = “caverna”) é a ciência que estuda as cavidades
naturais subterrâneas que se desenvolvem por meio de fenômenos cársticos,
abrangendo conhecimentos sobre sua formação e caracterização geológica, sua
biodiversidade, além do estabelecimento de planos de preservação e conservação.
Trata-se de um ramo das ciências ambientais ainda pouco desenvolvido no Brasil,
apresentando uma fundamentação teórica sistêmica, envolvendo a interdisciplinaridade
e englobando varias áreas de conhecimento e pesquisa, tais como Geologia, Geograa,
Biologia, Hidrologia, Arqueologia, Antropologia e Turismo, entre outras.
A Região Amazônica é caracterizada por feições geológico-geomorfológicas de
terras baixas orestadas, rica biodiversidade e porte hídrico de destaque mundial. Nela
são identicados unidades de sistemas ambientais diferenciadas pela complexidade
nas interações dos seus recursos naturais, onde se destaca a presença de paisagens
cársticas. Algumas dessas paisagens de exceção encontram-se inseridas no contexto
geológico da bacia sedimentar do Amazonas, no qual se apresentam cavidades
naturais subterrâneas, mais comumente designadas como cavernas, que fazem parte
de um conjunto paisagístico denominado Província Espeleológica, composta por
rochas susceptíveis aos processos cársticos.
Apesar de o termo carste ser originalmente adotado para o estudo da formação
de cavidades naturais subterrâneas em rochas carbonáticas, sabe-se que existem
cavernas desenvolvidas em rochas onde a solubilidade não é o processo de formação
preponderante, tais como arenitos, quartzitos, gnaisses, micaxistos, basaltos e rochas
vulcânicas alcalinas, indicando uma nova abordagem da Geomorfologia Cárstica.
Esta pesquisa apresenta, por sua vez, a Província Espeleológica Altamira-Itaituba,
localizada no estado do Pará, que se dene pelo conjunto de cavidades naturais
subterrâneas com diferentes feições endogenéticas, em sua maioria desenvolvida em
estrutura arenítica. Diante do exposto, uma das propostas desta pesquisa trata de
ampliar os estudos sobre carste em rochas não carbonáticas, contribuindo para os
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 17
estudos espeleológicos no Brasil, além de também fomentar uma discussão a respeito
desses ambientes na Região Amazônica, trazendo instrumentos e estratégias para a
geoconservação do patrimônio espeleológico.
2 | METODOLOGIA
A primeira etapa da pesquisa desenvolveu-se por meio do dialogo da
fundamentação teórica e metodológica, a partir da investigação sobre a dinâmica
de estruturação das unidades de paisagem espeleológica. Assim, a pesquisa é
fundamentada na análise geoecológica da paisagem (RODRIGUEZ; SILVA, 2004),
oferecendo as bases para o conhecimento sobre a formação geológico-geomorfológico
das unidades paisagísticas, a sua caracterização ambiental e a avaliação do estado
atual de conservação dos recursos naturais que as constituem.
Outro momento do levantamento de bibliograas está relacionado com textos e
documentos que subsidiaram a identicação das paisagens espeleológias alocadas
no domínio da Amazônia. Assim, realizou-se uma pesquisa sobre a geologia e
geomorfologia da Bacia Sedimentar do Amazonas, identicando os processos naturais
de formação de Províncias Espeleológicas nesse ambiente. As informações referentes
à área da Província Espeleológica Altamira-Itaituba foram adquiridas com base no
exame e análise de material bibliográco e cartográco produzido por instituições
ociais, tais como: Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas /
Instituto Chico Mendes (CECAV/ICMBio); Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE);
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM); Projeto RADAM Brasil,
produzido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM); arquivo técnico-
cientíco do Grupo Espeleológico Paraense GEP, artigos cientícos (PINHEIRO;
MOREIRA; MAURITY, 2001) e documentos exigidos para a autorização da implantação
do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) de Belo Monte, tais como a Avaliação Ambiental
Integrada (AAI) dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográca do Rio Xingu
(BRASIL/MME, 2009) e Estudo de Impactos Ambiental (EIA) do AHE Belo Monte
(ELETRONORTE, 2009).
Juntamente com o material adquirido, foi realizada a interpretação de imagens
de sensoriamento remoto, adquiridas também em instituições ociais como o Instituto
Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM)
e IBGE. Com o acompanhamento de cartas e mapas produzidos sobre a região
estudada (CECAV/ICMBio; SBE; CPRM; IBGE; ELETRONORTE, Ministério de Minas e
Energia, INPE, SIPAM), o ambiente foi documentado por fotograas e georreferenciado
por GPS (Global Positioning System).
Em expedição às cavidades naturais subterrâneas contidas na Província
Espeleológica Altamira-Itaituba, chegou-se a caracterização e à avaliação do
ambiente, abordando os seguintes aspectos: o contexto geomorfológico de formação;
a caracterização das formas de relevo; processos de gênese e geomorfogênese das
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 18
cavernas; as formas de uso e ocupação do solo; as condições de acesso; a qualidade
ambiental; e a fragilidade e vulnerabilidade ambiental.
O procedimento cartográco constitui-se por meio da elaboração de mapeamento
básico e temático, realizado na escala de interpretação de imagens de satélite
disponíveis pelo INPE, em seu catálogo de imagens CBERS (China-Brazil Earth
Resources Satellite ou Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) e no Projeto
PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), que inclui o
mosaico de imagens LandSat (Land Remote Sensing Satellite). Acrescenta-se, ainda,
a utilização de imagens do Google Earth numa complementação de informações.
A construção do banco de dados consiste no levantamento de dados de interesse
disponível sobre a área da Província Espeleológica Altamira-Itaituba, na seleção
criteriosa e na padronização desses dados, apresentando como produtos tabelas
correlacionáveis que serão introduzidas em ambiente SIG utilizando o software livre
Quantum GIS 2.2.0, desenvolvido pelo projeto Open Source Geospatial Foundation
(OSGeo). A proposta de escala do mapeamento nal é de 1:100.000. Destaca-se uso
de dados geoespaciais (planos de informação em formato shape le) disponíveis para
download gratuito na internet. A base de dados geoespacializados das cavernas do
Brasil, fornecido pela CECAV/ICMBio, oferece um inventário das cavidades naturais
subterrâneas brasileiras em constante atualização. Demais dados em shape le foram
adquiridos em pesquisa webográca, capturados de sites de órgãos ociais, tais como:
IBGE, CPRM, MMA (Ministério do Meio Ambiente) e DNIT (Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa apresenta um exemplo de carste desenvolvido em região tropical, da
Amazônia brasileira, chamada de Província Espeleológica Altamira-Itaituba, localizada
no estado do Pará. A Província situa-se na bacia sedimentar Amazônica, e integra um
conjunto de cavidades subterrâneas naturais com diferentes feições endogenéticas,
em sua maioria desenvolvida em rochas areníticas da Formação Maecuru, pertencente
ao Grupo Urupadi sobreposta ao Grupo Trombetas (VASQUES; ROSA-COSTA, 2008).
Em se tratando de paisagem cárstica, a Província apresenta um sistema
espeleológico diferenciado, apresentando feições desenvolvidas predominantemente
no contexto de rochas areníticas. Dessa forma, a carsticação não se apresenta
condicionada a dissolução de rochas carbonáticas e sim pela ação mecânica da água
que vai tornando-se um dos principais fatores de esculturação das cavidades, gerando
então um exemplo de carste não-carbonático. Uma vez que as condições climáticas
das regiões tropicais apresentam uma precipitação anual com médias pluviométricas
de 1000 a 4000 mm, a erosão hídrica age mecanicamente de maneira mais intensa
nos processo de desenvolvimento dessas cavernas. Contudo, as condições de altas
temperaturas e umidade, bem como a presença de matéria orgânica abundante, fazem
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 19
com que o ambiente produza mais CO2, resultando na atividade química nas rochas,
ao passo que a ação química da água apresente papel fundamental na dissolução
intergranular.
A literatura brasileira sobre Geomorfologia Cárstica quase não faz menção a
esses sistemas espeleológicos diferenciados, entretanto, sabe-se que o número desse
tipo de caverna é representativo. De acordo com os dados do Cadastro Nacional de
Cavernas da Sociedade Brasileira de Espeleologia (CNC/SBE), as cavernas de calcário
representam 62,5% do total registrado, demonstrando assim um número de quase
40% de cavernas desenvolvidas em rochas não carbonáticas (Tabela 01). Apesar do
número reconhecido desses litotipos, as pesquisas que tratam da espeleogênese em
feições não carbonáticas e fenômenos cársticos associados a ela ainda são bastante
reduzidas. Contudo, é crescente o número de teses, dissertações e artigos cientícos
que tratam da temática, tais como: Wernick, Pastore e Pires Neto (1976), Pinheiro e
Maurity (1988); Verissimo e Spoladore (1994), Sallun Filho e Karmann (2007), Hardt
(2003, 2011), Hardt e Pinto (2009), Hardt e Rodet (2013), Morais & Souza (2009),
Guareschi e Nummer (2010), Crescencio (2011), Morais & Rocha (2011) e Fabri e
Augustin (2013).
Litologia Cavernas Por
Litologia
% em relação ao
Brasil
Calcário 4.647 62,5%
Rochas siliciclásticas (arenitos, conglomerados,
argilitos) 915 12,3%
Metassedimentares (Quartzito, Formação
Ferrífera) 893 12,0%
Carbonatos Indiferenciados 438 5,9%
Ígneas (Granito, Basalto) 231 3,1%
Dolomito 146 2,0%
Mármore 65 0,9%
Depósitos supérgenos (Bauxita, Canga) 52 0,7%
Metaígneas (Gnaisses) 31 0,4%
Xisto 12 0,2%
Tufa/Travertino 3 0,0%
Tabela 01 – Litologia e número de cavernas do Brasil
Fonte: Cadastro Nacional de Cavernas – CNC/SBE (http://www.cavernas.org.br/cnc/Stats.aspx)
Assim, nos últimos anos o tema ganha atenção por parte dos estudiosos
cientícos, a exemplo da SBE que publicou um volume de sua revista Espeleo-tema
(v.22, 2011) com edição especial intitulada “Carste e ocorrências não cársticas em
rochas não carbonáticas”, além do 7º Encontro Mineiro de Espeleologia realizado em
2014, evento com a temática “Cavernas em rochas não carbonáticas”.
A presente pesquisa soma-se como mais uma contribuição sobre a paisagem
cárstica em rochas não carbonáticas, bastante comuns na Amazônia. Nesta, são
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 20
analisadas as cavidades naturais subterrâneas desenvolvidas em arenitos, tendo como
principais a Caverna da Planaltina, a Caverna Pedra da Cachoeira e a Caverna do
Limoeiro. Destaca-se, contudo, uma tipologia peculiar no qual apresenta um exemplo
raro de caverna em folhelho: a Gruta Leonardo da Vinci.
3.1 Análise Geoecológica da Província Espeleológica Altamira-Itaituba
A Província Espeleológica Altamira-Itaituba ocorre no ambiente de contato
entre a Bacia Sedimentar do Amazonas (em sua borda sul) e o Embasamento Pré-
Cambreano Complexo Cristalino do Xingu. A grande Sinéclise Amazônica resultou de
prolongados processos de sedimentação iniciados no paleozóico, da qual a Bacia do
Amazonas estende-se por uma área de aproximadamente quinhentos mil quilômetros
quadrados. Esta bacia sedimentar foi formada por sucessivas transgressões marinhas
epicontinentais sobre o Cráton Amazônico, e exibe discordâncias erosivas e hiatos
de sedimentação, entre o Neo-ordoviciano e o Neoperminiano, intercalados por
soerguimentos vinculados às orogenias relacionadas a abertura do Atlântico Equatorial
e à separação das placas Africana, Norte-Americana e Sul-Americana durante o
Cretáceo e o Paleoceno (VASQUES e ROSA-COSTA, 2008).
Em seguida, sobreviveram processos de estruturação, morfogêneses e
sedimentação até hoje em vigor, relacionadas à atividade neotectônica do tipo
transcorrente. Dois pulsos de movimentação, atribuídos aos intervalos Mioceno-
Plioceno e Pleistoceno superior-Holoceno, estão representados por deslocamentos,
sedimentação, morfogênese e controle de drenagem (SUGUIO, 2010, p.258).
Sendo assim, a Província concentra uma área ao sul da Bacia Sedimentar do
Amazonas (Figura 01), delimitada numa estreita faixa com aproximadamente duzentos
quilômetros de eixo maior e vinte e cinco quilômetros de eixo menor, orientada
seguindo NE com o rio Xingu constituindo o limite leste (ELETRONORTE, 2009). Por
esse motivo, as estruturas escarpadas da borda de cuesta, com inclinações entre três
e cinco graus, apresentam boa parte das cavidades subterrâneas da Província.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 21
Figura 01: Representação da área da Província Espeleológica Altamira-Itaituba, com as
principais cavernas: Caverna do Kararaô (PA-022), Gruta Leonardo Da Vinci (PA-023), Gruta
Cama de Vara (PA-19), Caverna Pedra da Cachoeira (PA-21), Gruta do Tic-Tac (PA-20),
Caverna Planaltina (PA-24), Gruta do Sétimo Dia (PA-25), Gruta do Arrependido (PA-26),
Gruta do Urubúquara (PA-27), Gruta do Preus (PA-28), Caverna do Limoeiro (PA-33), Gruta
Mbaeapu’a (PA-34), Gruta do Seiko (PA-29), Gruta Pacal (PA-30), Gruta do Bico da Arara (PA-
32), Furna da Cachoeira Grande (PA-31).
Fonte: ELETRONORTE, 2009.
A estrutura geológica das cavernas da Província apresenta-se notadamente em
arenitos friáveis da Formação Maecuru, pertencente ao Grupo Arupadi sobreposta ao
Grupo Trombetas, com posicionamento estratigráco no Eo-Devoniano (VASQUES
& ROSA-COSTA, 2008). “O ambiente de deposição desta unidade é úvio-deltáico a
nerítico” (CAPUTO et al. apud VASQUES & ROSA-COSTA, 2008, p.203). A Formação
Maecuru é constituída por arenitos nos com intercalações siltosas e argilo-siltosas,
amarelados e avermelhados (Fig.02 e 03), além de apresentar arenitos conglomeráticos,
com estraticação plano-paralela e cruzada. (Fig.04) (VASQUES & ROSA-COSTA,
2008; ELETRONORTE, 2009).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 22
Figuras 02: Aspectos do teto da Caverna da Pedra da Cachoeira (Altamira/PA).
Foto: Luciana Freire, 2012.
Figura 03: Área da entrada da Caverna da Planaltina (Brasil Novo/PA).
Foto: Joselito Lima, 2015.
Figura 04: Parede da caverna do Limoeiro (Medicilândia/PA) com presença de arenitos
conglomeráticos, estraticação plano-paralela e cruzada.
Foto: Luciana Freire, 2015.
As cavidades em arenito são resultantes do processo de formação iniciada no
Quaternário, diante das variações climáticas estabelecidas nesse período, por meio do
entalhe dos padrões de escoamento que foram se desenvolvendo ao longo do tempo.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 23
Após a desagregação e remoção dos grãos de areia, formam-se feições erosivas
designadas como pippings (gura 05), associadas à percolação de água inltrada
pelos sistemas fratura, gerando assim a formação de cavidades (ELETRONORTE,
2009; FABRI e AUGUSTIN, 2013).
Como a própria denominação arma, cavidades subterrâneas naturais se
desenvolveram a partir da erosão hídrica subterrânea, realizado pelo trabalho de
escavamento dessas subsuperfícies, ao passo que as aberturas das cavidades são
resultantes do mergulho regional da cuesta e do recuo erosivo das escarpas.
Figura 05: Representação esquemática das feições erosivas pippings.
Fonte: FABRI e AUGUSTIN (2013)
As feições internas das cavidades subterrâneas naturais da Província
Espeleológica Altamira-Itaituba não apresentam estalactites nem estalagmites,
aspectos físicos bastante comuns em cavernas carbonáticas. São observados
espeleotemas tais como feições erosivas em coralóides esféricos e scallops,
semelhantes a “caixa de ovos” (gura 06), que “apresentam aparentemente origem
relativamente recente, associados à percolação de água pelos sistemas principais de
fratura” (ELETRONORTE, 2009, p.30).
Figura 06: Aspecto de scallops no teto da caverna do Limoeiro (Medicilândia/PA), formados pelo
uxo d’água ao longo do conduto atualmente seco.
Foto: Luciana Freire, 2015.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 24
Em todos os casos, as cavernas apresentam diversos pontos de ressurgência
de água, principalmente no teto, formando chuveiros que originam os espeleotemas.
Essas formas em geral contam como o atrativo no interior das cavernas, oferecendo
uma esculturação ruiniforme.
Destaca-se na Província paraense um caso raro de formação espeleológica em
folhelhos e siltitos, presentes na Formação Curuá, onde se tem como exemplo a Gruta
Leonardo Da Vinci, localizada no município de Vitória do Xingu/PA (PA-023 na Fig. 01).
As rochas de folhelho constituintes da gruta apresentam-se ricas em óxidos de ferro
e minerais como a pirita, evidentes pela coloração avermelhada e brilho metálico (Fig.
07).
Figura 07: Feições na parede e teto da gruta Leonardo da Vinci (Vitória do Xingu/PA).
Foto: Luciana Freire, 2015
As características pedológicas dos ambientes endocársticos, de maneira geral,
mostram substratos cobertos por camadas nas de sedimentos recém depositados
(neossolos), com presença de solos arenosos e pedregosos, além de pontos com a
presença de matéria orgânica oriunda das acumulações de guano.
A bioespeleologia estuda as espécies que utilizam as cavernas de acordo com
a relação de dependência total ou parcial dos recursos e espaços, com hábitos de
vida especícos às condições inóspitas. A maior parte da fauna é eventual, tais como
formigas, cupins, coleópteros, caranguejos braquiuros e aranhas caranguejeiras.
Citam-se, também, alguns trogloxenos típicos como morcegos e opiliões. “Outras
espécies são troglólos registrados amplamente em cavernas de outras regiões
brasileiras (percevejos da família Reduviidae, aranhas das famílias Pholcidae e
Theridiosomatidae, amblipígeos da família Heterophrynidae)” (ELETRONORTE, 2009,
p. 57).
A história de ocupação do homem na região também resguarda alguns vestígios
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 25
dos antepassados amazônicos. Os estudos arqueológicos têm registros nos arquivos
das expedições do GEP à Província, realizadas junto a equipes do Museu Paraense
Emílio Goeldi, em que foram realizadas pequenas escavações no interior das cavernas
para vericação de vestígios de material cultural. Nessa ocasião, foram encontrados
alguns resquícios de atividades humanas do passado histórico da região, que
demonstram o seu potencial arqueológico, tais como: solos de coloração mais escura,
que evidenciam possibilidades de fogueiras; quantidade de material lítico e cacos
de cerâmica; e um machado de pedra. Já nos estudos realizados para o Estudo de
Impacto Ambiental da AHE Belo Monte (ELETRONORTE, 2009), foram constatados
alguns dos materiais arqueológicos citados (cacos de cerâmica), além da presença de
petroglifos em baixo relevo.
Algumas cavernas proporcionam lazer, atraídos principalmente pelos igarapés
e rios encachoeirados, que se encontram as margens ou ressurgindo do interior das
cavidades. Em sua maioria, encontram-se inseridas dentro de áreas particulares,
que no caso do Estado do Pará tem como principal atividade econômica a pecuária
extensiva, resultando em áreas desorestadas. Foram constatadas alterações das
estruturas cársticas, tais como pichações (Fig. 08) e riscos nas paredes das cavernas
provenientes dos visitantes em busca de lazer.
Figura 08: Pichações observadas no interior da Caverna do Limoeiro.
Foto: Luciana Freire, 2015
3.2 Geoconservação de Patrimônios Espeleológicos: caminho para o
planejamento ambiental
Diante do exposto, pode-se realizar uma associação referente à geodiversidade
dessas unidades de paisagem espeleológias, bem como sua importância geológica,
ecológica, histórica e social. Sobre esses variados ambientes desenvolve-se uma
biodiversidade incalculável, tema sempre investigado e com atenção especial quanto
a sua proteção ecológica, ou seja, a bioconservação. Poucas foram as pesquisas que
deram uma atenção especial ao hábitat físico como suporte a vida terrestre, até que nos
anos 1990 iniciou-se uma discussão focada no patrimônio geológico: geodiversidade.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 26
Nesse momento, os aspectos físicos da natureza receberam valores diante dos seus
múltiplos sentidos, sejam cientíco, estético, funcional e/ou sociocultural, enm,
essencial para a vida. Porém, a maior parte das ameaças à geodiversidade, por sua vez
também dos componentes vivos, advém das ações dos seres humanos, necessitando
trazer a tona o conceito de geoconservação.
A geoconservação é um termo novo no que diz respeito aos temas ligados a
conservação da natureza, uma vez que por mais tempo voltou-se uma maior importância
cientíca para a proteção da biodiversidade, com foco em uma abordagem biocêntrica.
Contudo, notou-se que não bastava apenas pensar nos seres vivos sem tomar conta
do seu ambiente (habitat) natural, a geodiversidade.
Assim, a geodiversidade compreende apenas aspectos não vivos do nosso
planeta. E não apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico
(minerais, rochas, fósseis), mas também os processos naturais que actualmente
decorrem dando origem a novos testemunhos. A biodiversidade é, desta forma,
denitivamente condicionada pela geodiversidade, uma vez que os diferentes
organismos apenas encontram condições de subsistência quando se reúne uma
série de condições abióticas indispensáveis. (BRILHA, 2005, p.18)
Como exemplo focado em ambientes espeleológicos, citam-se Urban e Oteska-
Budzin (1998), que realizaram uma aplicação do conceito de geodiversidade nas
cavernas não carbonáticas da Polônia, tendo-se então como a razão de sua importância
cientíca e, por sua vez, o motivo para necessidade de sua proteção ambiental.
Elencaram ali as peculiaridades dos processos de formações das feições cársticas
(denida pelos autores como pseudocarste ou não-carste), como critério cientíco
principal para sua avaliação, além dos elementos bioespeleológicos e histórico-
culturais.
Sharples (2002) desenvolve o conceito de geoconservação relacionado à gestão
da conservação dos elementos abióticos da natureza, com foco principal na proteção
do patrimônio geológico, em busca de proteger não apenas os recursos de valor
cientíco ou necessários ao ser humano, mas também a manutenção dos processos
ecológicos e diversidade biológica. Sendo assim, a pesquisa assume a denição de
geoconservação para além de proteger o patrimônio espeleológico, a qual se propõe a
reconhecer a diversidade dos processos geológicos, geomorfológicos e pedológicos,
em busca de minimizar os impactos negativos causados pelo ser humano, divulgando
a importância da geodiversidade para manutenção da biodiversidade.
Nesse contexto, o Planejamento Ambiental está relacionado à tomada de decisões
sobre ações de concessão, permissão, subsídio e crédito, tendo-se como base o
espaço físico-ambiental (RODRIGUEZ e SILVA, 2013). O Plano de Manejo estabelece
as potencialidades e limitações das formas de exploração dos recursos naturais. Nos
patrimônios espeleológicos, são utilizadas técnicas de “espeleoconservacionismo,
que irão indicar as estratégias para implantação de infra-estruturas e ações na área
de inuência externa, bem como internas da caverna-alvo” (MARRA, 2001, p.131),
seguindo-se para a elaboração do Plano de Manejo Espeleológico – PME. Para
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 27
isso, faz-se o diagnóstico ambiental do patrimônio espeleológico com a denição
das possibilidades de uso, do emprego de atividades econômicas, da capacidade de
suporte, do controle de acesso e das ações para que haja a geoconservação.
4 | CONCLUSÕES
No Brasil, os registros de cavernas ocorrentes em rochas não carbonáticas
representam quase 40% do total. Essas formas cársticas ainda representam um
tema em discussão na ciência espeleológica, havendo ainda a necessidade de uma
ampliação nas investigações sobre os processos de formação. Alguns exemplos
dessas cavernas localizam-se na Região Amazônica, das quais na presente pesquisa
é apresentada a Província Espeleológica Altamira-Itaituba (PA). A Província está
inserida na Bacia sedimentar Amazônica, com cavidades constituídas em sua maioria
por arenitos, além de um caso raro em folhelho.
Os exemplos estudados na pesquisa contribuem para ampliação dos estudos
sobre o carste não carbonático no Brasil. Mesmo com um número representativo, ainda
é grande a diculdade para levantamento de dados nas pesquisas dessas categorias
de cavernas, uma vez que a maioria das referências bibliográcas existentes no Brasil
trata de estudos sobre geomorfologia cárstica em rochas calcárias. Diferente do que
ocorre nos carstes calcários, a formação das cavernas areníticas está primeiramente
condicionada aos processos de mecanização das rochas, iniciados pela arenização.
A sequência evolutiva do revelo cárstico no arenito segue pelo processo de pipping,
dissolução por silícia e colapsos e deslizamentos por queda de blocos.
Após o conhecimento sobre os processos de formação das cavernas da Província
Espeleológica Altamira-Itaituba, a pesquisa seguiu para a análise geoecológica.
Constatou-se que degradação orestal é o principal problema, interferindo na
alimentação dos recursos hídricos subterrâneos, responsáveis pela dinâmica,
evolução e esculturação do sistema cárstico. Conrma-se que não existem políticas
de planejamento voltadas para a proteção e preservação ambiental do patrimônio
espeleológico, nem Unidades de Conservação (UCs) que abranjam a área. Faz-
se necessário pensar sobre propostas de geoconservação, uma vez que o escopo
principal desses ambientes é a geodiversidade.
AGRADECIMENTOS
Ao professor Roberto Vizeu Lima Pinheiro, do Instituto de Geociências da
Universidade Federal do Pará UFPA, pelo auxílio nas pesquisas espeleológicas
da Amazônia brasileira. À Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa
FAPESPA, ao Campus Universitário de Altamira da UFPA e à Universidade Federal do
Ceará - UFC (Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA e
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 2 28
Departamento de Geologia), pelas estruturas e apoio no desenvolvimento da pesquisa.
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As inúmeras facetas da Espeleologia 30
Capítulo 3
CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO CARSTE EM
METACALCÁRIOS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO:
O CASO DAS OCORRÊNCIAS DO MUNICÍPIO DE
TEJUÇUOCA – CE
CAPÍTULO 3
Daniel dos Reis Cavalcante
Universidade Estadual do Ceará – Centro de
Ciências e Tecnologia
Fortaleza – Ceará
Frederico de Holanda Bastos
Universidade Estadual do Ceará – Centro de
Ciências e Tecnologia
Fortaleza – Ceará
Abner Monteiro Nunes Cordeiro
Universidade Estadual do Ceará – Centro de
Ciências e Tecnologia
Fortaleza – Ceará
RESUMO: No município de Tejuçuoca, centro-
norte do Ceará, se encontra uma das mais
signicativas ocorrências de relevos cársticos
do Estado. O referido estudo tem por objetivo
abordar a gênese da atual conguração do carste,
associando-o a processos morfodinâmicos
atuais e pretéritos, bem como caracterizar
algumas feições cársticas que ocorrem na
área de estudo. Para isso, foram divididas
as etapas de trabalho em levantamentos
bibliográcos/cartográcos, levantamentos de
campo seguidos de trabalhos de gabinete com
auxilio de técnicas de geoprocessamento e
por m a integralização dos dados obtidos. Os
resultados obtidos indicam que o signicativo
desenvolvimento de feições de dissolução não
corresponde com as condições climáticas atuais
semiáridas, sendo, portanto, sugerido que tais
formas tiveram seu ápice de desenvolvimento
em condições climáticas mais úmidas durante
o Quaternário que, posteriormente, passou
a apresentar climas mais secos viabilizando
ciclos erosivos através de processos físicos
condizentes com o entorno do carste. Nessa
perspectiva foram identicadas feições
exocársticas e endocársticas que tiveram sua
gênese ligada aos eventos paleoclimáticos, são
exemplos os lapiás alveolares e os diferentes
espeleotemas encontradas nas cavernas.
PALAVRAS-CHAVE: Carste; Semiárido
Brasileiro; Oscilações Climáticas.
ABSTRACT: In Tejuçuoca Town, Ceará State
central-north, one of the most signicant karstic
relief occurrences of the State is found. The
purpose of this study is to explain the genesis of
the current karst conguration, associating it with
current and past morphodynamic processes, as
well as to characterize some karstic features that
occur in the study area. For this, the work steps
were divided into bibliographical / cartographic
surveys, eld surveys followed by cabinet work
with the help of geoprocessing techniques
and, nally, the sum up of data obtained.
The signicant development of dissolution
features does not correspond to the current
semi-arid climatic conditions, therefore, it was
suggested that these forms had their climax in
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 31
the most humid climatic conditions during the Quaternary, which later presented drier
climates, allowing erosive cycles through physical processes consistent with the karst
environment. In this perspective exokarstic and endokarstic features were identied,
which had their genesis linked to the paleoclimatic events, examples are alveolar aps
and the different speleothems found in the caves.
KEYWORDS: Karst; Brazilian Semi-Arid; Climate Movements.
INTRODUÇÃO
O termo carste faz referência a especícas paisagens onde se desenvolvem
cavernas, bem como drenagens subterrâneas, sendo que tal paisagem se desenvolve,
especialmente, sobre rochas solúveis tais como calcários, mármores e dolomitos
(AULER; ZOGBI, 2005; FORD; WILLIAMS, 2007; TRAVASSOS, 2007; BIGARELLA,
et al., 2009). Tais feições têm recebido atenção especial pela Geomorfologia devido
suas excentricidades morfológicas e seus diversos registros históricos, que contribuem
sobremaneira na interpretação da evolução das paisagens naturais da Terra.
De maneira generalizada, pode-se armar que três condições são fundamentais
para o pleno desenvolvimento de relevos cársticos: 1. Presença de rochas solúveis,
preferencialmente fraturadas; 2. Condições climáticas úmidas; e 3. Gradientes
topográcos favoráveis à intensicação da ação hídrica (THORNBURY, 1960;
CHRISTOFOLETTI, 1980; KARMANN, 2000; PILÓ, 2000; FORD; WILLIAMS, 2007;
BIGARELLA et al., 2009; SUGUIO, 2010).
O semiárido do Nordeste brasileiro se caracteriza como uma área de temperaturas
médias elevadas e totais pluviométricos anuais abaixo de 700 mm (AB`SÁBER, 2003).
Sua posição geográca associada a baixas latitudes justica o fato dessa região
constituir um semiárido nitidamente azonal (AB`SÁBER, 1974), cujos parâmetros
hidroclimáticos são condicionados pelos complexos sistemas de circulação atmosférica
que atuam nessa área (NIMER, 1979), com destaque para a Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT). Tais condições hidroclimáticas se conguram como fator limitante
para o desenvolvimento de formas cársticas, porém, não inviabilizam a existência
desses tipos de feições nessa região.
De acordo com Elorza (2008), no carste em regiões áridas, em consequência
da escassez da cobertura vegetal densa e solos pouco desenvolvidos, a quantidade
de CO2 é muito pequena, o que acaba por limitar o desenvolvimento de feições de
dissolução. Consequentemente as morfologias cársticas identicadas em ambientes
secos devem ser interpretadas como feições herdadas de períodos onde a precipitação
era mais expressiva, com regimes climáticos mais úmidos no passado (ELORZA, op.
cit.; BIGARELLA et al., 2009).
No Estado do Ceará os relevos cársticos ocorrem predominantemente em
calcários cristalinos pré-cambrianos, sendo o mais conhecido exemplo o relevo cárstico
formado nos metacalcários da Formação Frecheirinha no setor NW do Estado, estes,
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 32
de acordo com Karmann e Sánchez (1979) representam a província espeleológica
de Ubajara. Há também relevos cársticos em rochas mais recentes, sendo aqui
destacados os relevos formados nos calcários cretáceos da Formação Jandaíra, na
bacia Potiguar, no setor oriental do Estado.
No município de Tejuçuoca, centro-norte do Ceará, se encontra uma das mais
expressivas ocorrências de relevos cársticos do Estado, com representações de
diversas feições que caracterizam esse tipo de forma. O carste em questão localiza-se
no extremo SW do município que, no contexto atual, apresenta totais pluviométricos
anuais que giram em torno de 600 mm (IPECE, 2016), não constituindo uma condição
hidroclimática favorável para explicar a expressiva ocorrência de feições exocársticas
e endocársticas identicadas na área. Com isso, é de grande importância a tentativa
de se interpretar a evolução do relevo cárstico em questão, de maneira a contribuir
nos estudos dos aspectos paleoclimáticos no Nordeste brasileiro, assim como de sua
evolução geomorfológica.
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo (Figura 1) encontra-se na Província Borborema, mais
especicamente no bloco tectônico denominado Domínio Ceará Central, onde seus
limites correspondem à zona de cisalhamento Sobral-Pedro II a oeste e pela zona de
cisalhamento de Senador Pompeu a leste (BRASIL, 2003). O Domínio Ceará Central
de acordo com Arthaud (2007) é formado principalmente por rochas do Complexo
Ceará e da Unidade Acopiara.
A litoestratigraa do Complexo Ceará é dividida de acordo com Brasil (2003)
em Unidade Canindé, Unidade Independência, Unidade Quixeramobim e Unidade
Arneiroz. A área de estudo é constituída por rochas do Complexo Ceará, principalmente
representada pelas Unidades Canindé e Independência com primazia de litologias
metamórcas.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 33
Figura 1: Hipsometria e localização da área de estudo.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A Unidade Canindé apresenta a maior abrangência espacial da área de estudo,
onde predominam rochas metamórcas, tais como, paragnaisses, ortognaisses,
migmatitos, lentes de quartzitos, rochas calcissilicáticas e calcários cristalinos
(CAVALCANTE; PADILHA, 2005).
Na Unidade Independência também prevalece a ocorrência de rochas
metamórcas, tendo como exemplos os xistos, quartzitos, gnaisses, calcários cristalinos
(mármores) e rochas calcissilicáticas (CAVALCANTE; PADILHA, 2005). Apesar de
ser constituída por rochas metamórcas, a Unidade Independência apresenta um
nítido controle geomorfológico no Estado do Ceará com manutenção de topograas
aguçadas elevadas, geralmente associadas a quartzitos, como nos casos dos maciços
de Baturité e Machado. Os mármores da Unidade Independência, que ocorrem em
forma de lentes carbonáticas, possuem reexos geomorfológicos muito expressivos,
sobretudo nas ocorrências pontualizadas de feições cársticas.
Os relevos cársticos do município de Tejuçuoca se encontram na vertente
setentrional da serra do Machado num esporão da referida serra que, segundo
Ximenes (2005), recebe localmente o topônimo de serra da Catirina e está localizado
no extremo SW do município, apresentando-se como um relevo ruiniforme acima das
superfícies sertanejas, possuindo topograas que se aproximam da cota 400 m. O
carste em questão localiza-se na reserva legal do assentamento Macaco e leva o
nome de Parque Ecológico Furna dos Ossos.
Do ponto de vista hidrográco, a região é marcada por presença de rios
intermitentes e, sobretudo, efêmeros. Dois importantes auentes do rio Curu drenam
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 34
próximos a área de estudo, sendo eles o rio Caxitoré e o riacho Tejuçuoca, ambos rios
intermitentes.
Os deslocamentos meridionais de verão e outono da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT) constituem o principal mecanismo responsável pelas chuvas que
ocorrem no setor setentrional do Nordeste brasileiro. Na maior parte das vezes esse
deslocamento ocorre entre e 5º de latitude sul, cuja variação tende a justicar eventos
secos ou chuvosos (NIMER, 1972; MOLION; BERNARDO, 2002; ZANELLA; SALES,
2011). No que tange os aspectos hidroclimáticos atuais, o município de Tejuçuoca
não difere muito do padrão predominante de clima semiárido cearense, apresentando
médias pluviométricas de 590 mm (FUNCEME, 2016), com temperaturas elevadas
(Aproximadamente 28ºC), pouca variação térmica ao longo do ano e concentração do
regime das chuvas nos primeiros meses do ano, como pode ser observado na Figura
2 com as médias de temperatura e pluviosidade.
De acordo com o mapa elaborado pela EMBRAPA (2006), no município de
Tejuçuoca quatro classes de solos predominantes, onde a distribuição está
relacionada a aspectos litológicos, climáticos e geomorfológicos, sendo eles os
Planossolos, Luvissolos, Argissolos Vemelhos-Amarelos e Neossolos Litólicos. Cabe
destacar que, em escala local, é possível constatar também a presença dos Neossolos
Flúvicos. Especicamente na área de ocorrência dos relevos cársticos os Neossolos
Litólicos predominam.
O município de Tejuçuoca é marcado pela presença abundante de caatingas ao
longo de sua extensão territorial, que reete nitidamente as condições edafo-climáticas
atuais, comandadas pela semiaridez climática. Com exceção da quadra chuvosa, que
ocorre preferencialmente entre os meses de Fevereiro e Abril, constata-se expressiva
queda foliar nos períodos de estiagem, caracterizada pela caducifolia da vegetação.
Figura 2: Climograma do município de Tejuçuoca com série histórica de 25 anos para a
pluviosidade (1988 – 2015) e 19 anos para a temperatura (1995 – 2015).
Fonte: FUNCEME (2016) & INMET (2016).
Além de apresentar o quadro natural atual, essa breve apresentação também
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 35
teve o intuito de destacar os aspectos relacionados à morfogênese atual, de maneira
a ressaltar as formas cársticas no contexto ambiental em questão.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa foi dividida em levantamento bibliográco/cartográco;
levantamento de campo e trabalho de gabinete com auxilio de técnicas de
geoprocessamento. Na primeira etapa foi realizado o levantamento bibliográco, onde
se prezou por um levantamento interdisciplinar visando uma abordagem mais completa
sobre a temática na referida área de estudo, sendo levantados trabalhos relacionados
à Geomorfologia Cárstica (THORNBURY, 1960; CHRISTOFOLETTI, 1980; KOHLER,
1989; KARMANN, 2000; PILÓ, 2000; FORD; WILLIAMS, 2007; ELORZA, 2008;
BIGARELLA et al., 2009; SUGUIO, 2010). Para um melhor entendimento do carste em
região semiárida, foram levantadas também pesquisas sobre paleoclima com casos
especícos para o Nordeste brasileiro, bem como estudos sobre relevos cársticos
no semiárido nordestino (TRICART; CARDOSO DA SILVA, 1961; JATOBÁ, 1993;
BEHLING et al., 2000; WANG et al., 2004; LIMA, 2008; SUGUIO, 2010; PIMENTEL,
2013).
No levantamento cartográco os mapas mais consultados para uma melhor
interpretação da área de estudo foram o mapa geológico do Ceará (BRASIL, 2003)
na escala de 1:500.000 e o mapa morfoestrutural do Ceará e adjacências de Peulvast
e Claudino-Sales (2003) na escala de 1:500.000, ambos disponibilizados em formato
digital no site da CPRM, além da utilização de imagens imagens do satélite ALOS,
mais especicamente do sensor PALSAR da área de estudo.
As pesquisas de campo foram de suma importância para alcançar os objetivos
propostos para este estudo, pois serviu para constatação da veracidade das informações
levantadas através da pesquisa bibliográca e cartográca, além de ter complementado
os dados adquiridos na primeira etapa. Foram realizados dois trabalhos de campo na
área de estudo, onde se tentou identicar o contraste entre diferentes períodos do
ano, sendo que o primeiro, no mês de outubro de 2015, foi marcado por um período
de estiagem e o segundo, no mês de março de 2016, coincidiu com o período da
quadra chuvosa. Esse contraste se fez necessário para se identicar os diferentes
fatores que podem contribuir para a morfodinâmica cárstica, mesmo que de forma
pouco expressiva, pelo fato de se tratar de uma área semiárida.
Foram realizados registros fotográcos, visitas a cavidades já identicadas, bem
como prospecção de feições cársticas. Sendo assim, a presente etapa de trabalho se
apresentou de notável importância para o desenvolvimento da pesquisa, já que sem
essa etapa o trabalho caria muito limitado ou até mesmo incompleto.
Os trabalhos de gabinete tiveram papel muito importante para conclusão da
cartograa básica e temática. Para a elaboração da cartograa, se fez necessário o
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 36
auxílio das técnicas de geoprocessamento. Também foi elaborado um climograma,
com uma série histórica de 25 anos para a pluviosidade, com dados obtidos na
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos FUNCEME e 19 anos
para a temperatura do município em questão com dados obtidos no Instituto Nacional
de Meteorologia – INMET.
Sendo assim, com a integralização dos dados de campo e levantamento
bibliográco/cartográco, chegou-se ao esboço preliminar de como se deu a evolução
do relevo cárstico, bem como sua morfodinâmica atual, além de caracterizar as feições
exocársticas e endocársticas do relevo em questão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização das formas exocársticas e endocársticas
O carste de Tejuçuoca, de forma geral, é desenvolvido sobre um aoramento de
mármores espacialmente limitado na serra da Catirina, cujo topônimo está associado
a um esporão da serra do Machado. As circunjacências do carste são compostas por
rochas metamórcas pertencentes às Unidades Canindé e Independência.
A estrutura apresenta planos de acamamento predominantemente
horizontalizados com alguns setores podendo ultrapassar os 400 m de altitude. a
porosidade secundária da estrutura tem notável participação na gênese das diversas
feições presentes na área, onde algumas fraturas são bem verticalizadas permitindo
a circulação hídrica.
A cobertura vegetal de porte arbustivo nos setores mais baixos e a presença
de solos pouco desenvolvidos na maior parte do carste fazem com que a rocha
apresente-se totalmente exposta por quase toda a área, o que facilita na identicação
dos diversos tipos de formas.
De maneira geral, pode-se armar que o desenvolvimento das formas cársticas
em análise, sobretudo as cavernas, apresentam um forte controle estrutural cuja
dissecação se apresenta diretamente condicionada pela expressiva porosidade
secundária da rocha e isso pode ser constatado tanto em macro como micro escala.
Em termos de macro escala, constata-se uma dissecação predominante no sentido
N-S.
Devido sua pouca extensão, o carste de Tejuçuoca não apresenta grandes
feições típicas de relevos cársticos como dolinas, uvalas, vales cegos ou polje, porém,
esse carste não deixa a desejar quando se trata de microformas.
Para os lapiás do carste em questão procurou-se encontrar semelhanças destes
com os da classicação de Alonso e García (op. cit.), onde os autores dividem os lapiás
em quatro tipos, sendo eles Formas de lapiás relacionadas com a heterogeneidade
da rocha; Formas de lapiás canalizadas não relacionadas com heterogeneidade da
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 37
rocha; Formas de lapiás com cristas não relacionadas com heterogeneidade da rocha;
e por m, Outros tipos de lapiás.
As formas de lapiás relacionadas com a heterogeneidade da rocha são divididas em
dois tipos: 1. Lapiás por heterogeneidade mineralógica; 2. Lapiás por heterogeneidade
planar. O primeiro tipo (Figura 3A) está relacionado aos lapiás formados pela maior
resistência dos minerais que compõe a rocha, sendo considerados também minerais
residuais. O segundo tipo de lapiás (Figura 3B) está ligado à expressiva ocorrência de
porosidade secundária, tais como diacláses e superfícies de estraticação.
As formas de lapiás canalizados não relacionadas com heterogeneidade da rocha
(Figura 3C) são as feições de lapiás de maior ocorrência espacial e normalmente
ocorrem verticalizadas e paralelas. Essas formas atuam como coletoras de água
supercial, ou seja, são áreas onde comumente a água precipitada drena. Esses tipos
de lapiás são mais conhecidos como Rillenkarren.
Figura 3: (A) Lapiás por heterogeneidade mineralógica; (B) Lapiás por heterogeneidade planar;
(C) lapiás canalizados não relacionadas com heterogeneidade da rocha; (D) Outras formas de
lapiás, no caso, kamenitzas.
Fonte: Acervo particular do autor.
Não foram identicadas as formas de lapiás com cristas não relacionadas com
heterogeneidade da rocha. Outras formas de lapiás são representadas, sobretudo por
formas mistas, onde se teve processos diferentes. Na área de estudo os principais
representantes desse grupo são as kamenitzas (Figura 3D), que são depressões
geralmente circulares desenvolvidas sobre superfícies horizontais ou sub-horizontais,
sendo considerado um tipo de lapiás (TRAVASSOS et al., 2015). Podem reter matéria
orgânica e água da chuva, nesses casos é provável que haja atividade microbiológica e
morfodinâmica limitadas espacialmente por todo o período em que a matéria orgânica
e a água cam retidas.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 38
O endocarste do município de Tejuçuoca apresenta-se bem desenvolvido com
expressivos espeleotemas, sendo as cavernas os principais exemplos de formas.
Estas, provavelmente, são de origem epigênica, ou seja, são formadas pela circulação
de águas meteóricas (TRAVASSOS et al., 2015).
O número de cavernas presentes no carste é algo controverso, já que no
Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil CNC, localizado no site da Sociedade
Brasileira de Espeleologia, estão registradas seis cavernas. Já no Cadastro Nacional
de Informações Espeleológicas – CANIE, que ca no site do Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Cavernas CECAV, estão registradas nove cavernas,
onde algumas possuem nomes repetidos sendo diferenciadas por algarismos romanos.
Através de pesquisas bibliográcas nos órgãos especializados, dissertações e jornais,
bem como no campo, pôde-se fazer um levantamento e organização do número e
nome das cavernas. Foram identicadas oito cavernas, sendo elas Gruta do Veado
Campeiro; Gruta do Encanto; Gruta do Amor; Gruta do Jardim; Gruta do Sino; Furna
dos Ossos; Gruta da Mesa; por m Gruta do Túnel (Tabela 1).
Nº CNC CANIE
1Gruta do Veado Campeiro Gruta dos Veados Campeiros I
2Gruta do Encanto Gruta dos Veados Campeiros II
3Gruta da Mesa Gruta dos Veados Campeiros III
4Gruta do Sino Gruta do Amor I
5Gruta do Amor Gruta do Amor II
6Furna dos Ossos Furna dos Ossos
7XXXX Gruta do Sino
8XXXX Gruta do Túnel
9XXXX Gruta do Veado Campeiro (Veados Campeiros I)
Tabela 1: Relação de cavernas de acordo com o CNC e o CECAV.
Fonte: CECAV, 2017; CNC, 2017.
Dentro das cavernas foram identicados diversos tipos de espeleotemas. Na Gruta
do Veado Campeiro identicou-se uma claraboia (Figura 4A), bem como a presença
de coraloides (popcorns) (Figura 4B) que correspondem a variedades de depósitos de
calcita microcristalinos ou botrioidais, que distinguem-se por apresentarem superfícies
curvas (TRAVASSOS et al., 2015).
Na Gruta do Sino foi identicada uma micro-represa de travertino na base de
uma coluna. Em períodos de estiagem a feição passa despercebida devido a ausência
de água, porém no período da quadra chuvosa, após o preenchimento pela água das
chuvas.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 39
Figura 4: (A) Claraboia na Gruta do Veado Campeiro; (B) coraloides (popcorns).
Fonte: Acervo particular do autor.
Fato curioso ocorre na Gruta da Mesa que, por causa de um evento sísmico,
ocorrido nas cercanias do município de Sobral, houve o colapso de um grande bloco
rochoso do teto da gruta e a forma do bloco lembra uma mesa, dando o nome da
gruta. Fato parecido ocorreu no sistema de cavernas de Postojna na Eslovênia em
01/01/1926, onde um terremoto de localização discutível fez com que uma coluna de
expressivas dimensões colapsasse, porém a inuência de terremotos na dinâmica
interna das cavernas é muito raro (ŠEBELA, 2010).
Considerações sobre a morfogênese do carste
A princípio, se faz necessário o entendimento preliminar da estrutura onde o
carste se desenvolveu. Tal estrutura pertence ao Complexo Ceará, que é datado
do Paleoproterozóico (BRASIL, 2003). A estrutura do carste é predominantemente
carbonática (metacalcários), o que lhe confere características de se tratar de um carste
tradicional. O processo de metamorzação ocorreu em zonas profundas da crosta,
inclusive sendo muito comum a presença de deformações dúcteis (Figura 5).
Figura 5: Estrutura dobrada nos metacalcários da Unidade Independência.
Fonte: Acervo particular do autor.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 40
Em termos de evolução geomorfológica da província Borborema, os
soerguimentos cretáceos (relacionados à separação da América do Sul e África) e
pós-cretáceos (associados a eventos exurais) constituíram eventos endógenos de
fundamental importância na conguração topográca atual do setor setentrional do
Nordeste brasileiro (PEULVAST; CLAUDINO SALES, 2004).
Associados aos eventos tectônicos apresentados, cabe destacar o papel do clima
como agente modelador dos relevos. As áreas de entorno do esporão apresentam
morfologias verticalizadas com depósitos de tálus na base, o que indica processos
recentes de recuo lateral (backwearing), provavelmente associado a condições
climáticas severas atuais.
No entanto, a forma como o carste se apresenta não reete os processos
predominantes do sistema morfoclimático atual. No caso, os mármores presentes na
área e sua condição topográca atual, que lhe confere um expressivo gradiente, são
fatores favoráveis ao desenvolvimento de tal morfologia, porém, o clima semiárido com
elevadas temperaturas médias diárias e totais pluviométricos limitados e irregulares,
não permitem que a dissolução seja o principal processo morfodinâmico atual no
carste em questão.
Diante de um contexto climático semelhante, Tricart e Cardoso da Silva (1961)
armam que o clima onde está situada a gruta do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, é
pouco favorável à carsticação, já que seus totais pluviométricos anuais oscilam entre
700 e 900 mm. Cabe destacar que o contexto climático onde o carste de Tejuçuoca
está inserido, se comparado ao exemplo de Bom Jesus da Lapa, tem-se condições
pluviométricas ainda menos favoráveis à carsticação (<600mm anuais).
Ford e Williams (2007) armam que chuvas torrenciais aliadas à ausência de solos
e o clima semiárido, fazem com que o escoamento uvial seja total e a evaporação
seja rápida, limitando assim o desenvolvimento do epicarste. Esse fato foi observado
no carste em questão, a presença de solos incipientes e, consequentemente, a
ausência do epicarste, além de uma vegetação local predominantemente arbustiva.
Esses elementos têm papel fundamental na morfodinâmica cárstica, pois é onde
se situa grande concentração de CO2 e indicam claramente mudanças no contexto
morfoclimático regional com início de ciclos erosivos associados a climas mais secos.
A presente explicação da gênese desse carste se adéqua perfeitamente às
discussões recentes que relacionam a evolução dos relevos do semiárido nordestino
com processos de echplanação (SALGADO, 2007; SANTOS; SALGADO, 2010;
PEULVAST; BÉTARD, 2015). Essa teoria defende a evolução dos relevos a partir de
processos de downwearing associados a variações climáticas onde os períodos mais
úmidos são marcados pela formação de profundos mantos de intemperismo de acordo
com as propriedades geomorfológicas das rochas, enquanto que períodos mais secos
justicam a remoção dos regolitos expondo as frentes de intemperismo (WAYLAND,
1933; BÜDEL, 1957; VITTE, 2005).
No caso do carste de Tejuçuoca, é fato que o sistema morfoclimático atual não
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 41
propicia condições necessárias para a morfogênese cárstica, no entanto, não se pode
desconsiderar que exista, mesmo que de forma pouco expressiva, dissolução da rocha
carbonática nos períodos da quadra chuvosa. Entretanto, se faz necessário destacar
o papel das oscilações climáticas ao longo do Quaternário para tentar justicar a
presença de tal morfologia cárstica tão signicativa.
Para o Nordeste do Brasil alguns eventos de oscilações climáticas foram
vericados por Behling et al. (2000), Wang et al. (2004) e Lima (2008) (Quadro 1).
Behling et al. (op. cit.) através de registro palinológico encontrado em amostras
retiradas na plataforma continental leste do Estado do Ceará, possivelmente entre as
cidades de Beberibe e Aracati, a cerca de 70 km da linha de costa, inferiram que a
pluviosidade era mais expressiva nos períodos de 40, 33 e 24 mil anos A.P., sendo que
a maior taxa de precipitação já registrada no Nordeste brasileiro ocorreu entre 15.500
e 11.800 anos A.P.. Os autores ainda armam que foi nesse período de maior taxa de
precipitação que ocorreu a expansão das orestas úmidas.
Lima (op. cit.) arma que taxas de intemperismo e precipitação de óxidos de
manganês têm utilidade para o entendimento dos paleoclimas. Com isso, através
da análise de amostras de óxido de manganês, adquiridas entre os Estados de
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, a autora sugeriu quatro picos
onde as condições climáticas seriam quentes e úmidas (28; 10; 5,5; 1,5 Ma).
Por sua vez, Wang et al. (op. cit.), com auxílio de métodos de datações absolutas em
espeleotemas e depósitos de travertinos adquiridos no Estado da Bahia, conseguiram
inferir períodos de alta pluviosidade, onde os picos correspondem a 15, 39, 45 e 60 mil
anos A.P., num intervalo de 210.000 mil anos, associados a deslocamentos meridionais
da ZCIT.
Pimentel (2013) destaca que nos últimos 3.500 anos A.P. observou-se duas
situações onde a precipitação no setor setentrional do Nordeste brasileiro sofreu uma
notável redução, sendo a primeira situação em 2,5 – 3 mil anos A.P. e a segunda entre
1,5 – 2 mil anos A.P., o mais recente, por sua vez, representando o período mais seco
registrado nesse setor do Nordeste brasileiro.
Fazendo uma relação entre o período de maior taxa de precipitação já registrado
para o Nordeste brasileiro, que provavelmente ocorreu no período entre 15.500
e 11.800 anos A.P. (BEHLING et al., 2000), com o relevo cárstico do município de
Tejuçuoca, ca claro que esse relevo teve seu mais expressivo desenvolvimento ao
longo do Pleistoceno tardio.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 42
PERÍODO ÉPOCA BEHLING
et al. (2000)
WANG et
al. (2004)
LIMA
(2008)
PIMENTEL
(2013)
QUARTENÁRIO
HOLOCENO X X X 2.000 yr
3.000 yr
PLEISTOCENO
15.000 yr
24.000 yr
33.000yr
40.000 yr
15.000 yr
39.000 yr
45.000 yr
60.000 yr
1,5 Ma X
NEÓGENO
PLIOCENO X X X X
MIOCENO X X 5,5 Ma
10 Ma X
PALEÓGENO
OLIGOCENO X X 28 Ma X
PICOS DE UMIDADE PICOS DE SEMIARIDEZ
Quadro 1: Oscilações climáticas ao longo da era Cenozóica no Nordeste brasileiro.
Sendo o clima fator determinante no condicionamento morfogenético, todas
essas oscilações climáticas tiveram repercussões sobre o relevo regional, bem como
no relevo cárstico em questão. As repercussões estão expressas em diferentes formas
tanto exocársticas quanto endocársticas.
Os lapiás alveolares identicados na área são excelentes testemunhos
paleoclimáticos, tendo em vista que sua gênese se sob os solos (AULER et al.,
2005). Nesse caso, com a ocorrência dessas feições por alguns setores, sobretudo
nas partes mais baixas, pode-se armar que em períodos mais úmidos houve o
desenvolvimento de mantos de intemperismo, justicando assim as morfologias
arredondadas sub-horizontalizadas a horizontalizadas (Figura 6A) da área.
As feições endocársticas, também conhecidas como espeleotemas, encontram-
se bem desenvolvidas e se apresentam como importantes evidências paleoclimáticas
no sertão cearense. As cavernas abrigam diferentes morfologias e, de forma geral, as
cavernas lembram canyons com paredões escarpados.
Foi possível observar que as cavernas mais baixas possuem espeleotemas mais
desenvolvidos que as cavernas que se situam nos locais mais altos. Provavelmente
isso se deve pelo fato de que as águas dissolvem a rocha nos setores mais altos,
chegando aos setores mais baixos, a água saturada de CaCO3, precipita em maiores
quantidades nas cavernas que se situam nos setores mais baixos, formando
assim espeleotemas mais desenvolvidos. Nas cavernas mais baixas identicou-se
estalagmites, estalactites, cortinas, colunas, micro-represas de travertinos (Figura 6B),
entre outras formas. nas cavernas situadas nas áreas mais altas também foram
encontradas essas feições, porém, de forma menos expressiva. Todas essas formas
endocársticas bem desenvolvidas têm relações diretas com as oscilações climáticas,
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 43
sobretudo as oscilações do Pleistoceno.
Figura 6: (A) Lapiás alveolares; (B) Micro-represas de travertinos na Gruta do Sino.
Fonte: Acervo particular do autor.
Algo que chamou bastante atenção foi a presença de espeleotemas fora das
cavernas. Isso fez com que fosse levantada a hipótese de que a área de ocorrência
dessas feições teve um recobrimento, caracterizando-se como uma antiga caverna,
onde houve recuo e colapso das partes mais altas da caverna expondo os espeleotemas.
No que diz respeito à morfodinâmica atual do carste, acredita-se que esta é
expressa principalmente nos locais onde a água da chuva e a matéria orgânica cam
mais tempo retidas, bem como no próprio período da quadra chuvosa, tendo em vista
que não presença de rios intermitentes, muito menos perenes ligados diretamente as
cavernas. Neste período pôde-se identicar a presença signicativa de escorrimentos
nas paredes das grutas, bem como temperaturas mais amenas. Também foi observada
a presença de matéria orgânica e água retida em alguns locais da estrutura, sobretudo
nas pequenas depressões como nas kamenitzas. Nesses casos é provável que haja
atividade microbiológica e morfodinâmica limitada espacialmente nesses locais por
todo o período em que a matéria orgânica e a água cam retidas e isso se deve,
sobretudo pela horizontalidade de suas ocorrências que permite a retenção de água
por período maior de tempo.
CONCLUSÕES
O estudo apresentou o carste do município de Tejuçuoca que está inserido em
uma região de clima predominantemente semiárido. Com isso, a referida pesquisa
tentou interpretar a gênese desse relevo e chegou ao entendimento que oscilações
climáticas quaternárias possuem uma estreita relação com a conguração atual do
carste.
As armações feitas no presente estudo são conjecturas levantadas a partir de
bibliograas, comparações com outros estudos, bem como a observação em campo.
Entretanto, cabe aqui destacar, a necessidade da utilização de métodos de datações
absolutas para se comprovar ou refutar as hipóteses aqui levantadas.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 3 44
Vale ressaltar também a importância da geoconservação do patrimônio
geomorfológico que o carste abriga, tendo em vista seu potencial geoturístico e
espeleoturístico. A utilização do relevo cárstico pelo turismo de forma planejada pode
trazer benefícios para a população local e ajudar na conservação das cavernas, da
fauna e da ora local, que também possui um valor notável pelo atual estado de
conservação.
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As inúmeras facetas da Espeleologia 47
Capítulo 4
O USO DE MATRIZ DE VALORAÇÃO NO
LEVANTAMENTO ESPELEOLÓGICO DE CAVIDADES
NATURAIS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE
PARIPIRANGA, BAHIA
CAPÍTULO 4
Elvis Pereira Barbosa
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC,
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas –
DFCH, Ilhéus – Bahia.
Márcio Santana Santos
Universidade do Estado da Bahia – UNEB,
Departamento de Ciências Humanas e
Tecnologias – DCHT, Eunápolis – Bahia.
Fernando Andrade Silva
Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia –
GMSE, Paripiranga – Bahia.
Hércules Silva Santos
Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia –
GMSE, Paripiranga – Bahia.
Autran Matos Santana
Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia –
GMSE, Paripiranga – Bahia.
RESUMO: Este trabalho procura demonstrar
como a aplicação da Matriz de Valoração,
com base nos atributos estipulados pela IN
002/2009 MMA, facilita a análise das cavidades
naturais subterrâneas através da aplicação de
valores pré estabelecidos, visto que se adota
uma posição exclusivamente técnica para a
análise das cavernas. Ponderando os quesitos
de classicação de nível de relevância das
cavidades naturais encontradas e de acordo
com a legislação vigente, é possível garantir
o uso sustentável dos recursos naturais
presentes na área, viabilizando as atividades
da indústria extrativa de calcário em harmonia
com a preservação ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: Matriz de Valoração;
Cavernas; Paripiranga.
ABSTRACT: This work seeks to demonstrate
how the application of the Valuation Matrix,
based on the attributes stipulated by the IN
002/2009 MMA, facilitates the analysis of
the underground natural cavities through the
application of pre-established values, since an
exclusively technical position is adopted for the
analysis of the caves. Considering the criteria
for classication of the level of relevance of the
natural cavities found and in accordance with
current legislation, it is possible to guarantee
the sustainable use of the natural resources
present in the area, enabling the activities of
limestone extraction industry in harmony with
environmental preservation.
KEYWORDS: Valuation Matrix; Cave;
Paripiranga.
1 | INTRODUÇÃO
O presente trabalho refere-se aos estudos
de campo realizados nas cavidades naturais
subterrâneas do município de Paripiranga,
Bahia, ao longo de quatro expedições (11 a
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 48
25/04/2012; 16 a 23/10/2012; 28 a 01/02/2013; 19 a 22/04/2013) envolvendo estudos
de localização e identicação de cavidades naturais subterrâneas que subsidiaram,
posteriormente, a valoração das cavidades, e consequentemente o zoneamento
espeleológico da ADA e AID do Complexo Minero Industrial de Paripiranga cujo objetivo
era a instalação de uma fábrica de cimento Portland no referido município.
Originalmente, este trabalho fora apresentado como comunicação e publicado
nos Anais do 34° Congresso Brasileiro de Espeleologia da Sociedade Brasileira de
Espeleologia – SBE, que ocorreu na cidade de Ouro Preto, MG, entre os dias 13 a 18
de junho de 2017. Naquele momento, ainda estava em vigor a Instrução Normativa
ICMBIO/MMA n° 2 de 20 de agosto de 2009 e por isto, neste artigo ela foi tomada
como parâmetro de análise. A publicação da nova IN (n°2 de 30 de agosto de 2017) é
posterior ao 34° CBE.
Desta forma, as expedições objetivaram a realização do diagnóstico de propensão
espeleológica na Área Diretamente Afetada – ADA do Complexo Minero Industrial de
Paripiranga visando atender o Termo de Referência do Instituto do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos INEMA, órgão que normatiza e scaliza os estudos ambientais
no estado da Bahia, e ao Decreto 99556/1990, alterado pelo Decreto 6640/2008,
seguindo a IN 02/2009 do MMA, que dispõem sobre a proteção das cavidades naturais
subterrâneas existentes no território nacional.
Paripiranga é um município do estado da Bahia localizado na zona siográca
do nordeste, território integrante do “Polígono das Secas”, fazendo divisa a leste e
sul com o Estado de Sergipe, a oeste com Adustina e a norte com Coronel João
Sá. A sede municipal tem altitude de 430 metros e coordenadas geográcas 24 L
624593, UTM 88184591. De acordo com dados de 2016 do portal IBGE Cidades sua
extensão territorial é de 435,698 km2 contando com 29.980 habitantes, uma densidade
demográca de 63,76 hab/km² e IDHM de 0,577 (2010), sendo a maioria residente da
zona rural, distribuídos em 56 povoados os mais expressivos por área territorial e
ocupação são: Conceição de Campinas, Lagoa Preta, Maritá, Apertado de Pedras e
Baixa Funda.
Sua economia está sustentada pelos negócios agropecuários, seguida dos
serviços e uma tímida indústria. A produção de destaque na região, destinada à
exportação é o milho, a abóbora e o feijão, sendo ainda encontrada a criação de
bovinos e, a agricultura de subsistência entre a população menos favorecida.
As receitas municipais provêm basicamente da agricultura, pecuária, avicultura e
indústria. Na agricultura o município é o quinto produtor baiano de feijão e décimo
de milho. Os maiores rebanhos são os bovinos, suínos, equinos e ovinos. Na
avicultura destaca-se a produção de galináceos (CPRM, 2005).
A geologia do município está representada por rochas Neoproterozóicas da faixa
de dobramentos Sergipana, que incluem: metacalcários, metadolomitos, intercalações
de metapelitos e níveis subordinados de metacherts da Formação Jacoca (Grupo
1. Coordenadas estabelecidas na parte central da praça da Igreja Matriz de Paripiranga.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 49
Miaba); metarenitos, metagrauvacas, litos siltosos, litos seixosos e quartzitos (Grupos
Simão Dias e Miaba Indivisos); litos, metarenitos, metarritmitos e metagrauvacas,
da Formação Frei Paulo (Grupo Simão Dias); metadiamictitos de matriz grauváquica,
litos, em parte seixoso e lentes de quartzito (Formação Palestina), e mármores,
metarritmitos, metapelitos, em parte calcíferos, e metacherts subordinados da formação
Olhos D’Água (Grupo Vaza-Barris).
No Município de Paripiranga, podem-se distinguir dois domínios hidrogeológicos:
carbonatos/metacarbonatos e metassedimentos/metavulcanitos, o primeiro ocupando
cerca de 60% da área municipal. Os carbonatos/metacarbonatos constituem um
sistema aquífero desenvolvido em terrenos com predominância de rochas calcárias,
calcárias magnesianas e dolomíticas, que têm como característica principal, a constante
presença de formas de dissolução cárstica (dissolução química de rochas calcárias),
formando cavernas, sumidouros, dolinas e outras feições erosivas típicas desses tipos
de rochas. Fraturas e outras superfícies de descontinuidade, alargadas por processos
de dissolução pela água propiciam ao sistema porosidade e permeabilidade secundária,
que permitem acumulação de água em volumes consideráveis (CPRM, 2005).
As cavidades estudadas localizam-se na Província Espeleológica do Supergrupo
Canudos (AULER et al, 2001), Distrito de Lagoa Preta. O contexto regional abrange
territórios da região dos municípios de Paripiranga, Adustina e Fátima na Bahia
e do município de Simão Dias em Sergipe. De acordo com os dados pesquisados
no ICMBIO-CECAV, hoje o município de Paripiranga possui 105 cavidades naturais
subterrâneas cadastradas.
Pouco se sabe sobre o período pré-histórico da região, buscas realizadas
no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – Sistema de Gerenciamento do
Patrimônio Arqueológico – Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – CNSA/
SGPA/IPHAN não revelam nenhuma informação a respeito da localidade. De acordo
com a historiograa encontrada (em grande parte textos memorialistas) o território
era ocupado por indígenas conhecidos como “vermelhos” que estariam xados as
margens do Coité Velho (rio localizado na entrada da cidade, vindo pelo estado de
SE). Ainda não se conseguiu chegar a uma identicação cultural precisa, no entanto, é
consenso armar que se tratavam em termo genérico dos Tapuia. No baixo Irapiranga
(Vaza-barris) estavam localizados os Tupinambá em terras férteis. registros nos
documentos ocias da presença das tribos Munguru e Ceriacá na região de Jeremoabo
e, dos Caimbé na região de Euclides da Cunha.
O processo de povoamento deste território no período histórico está relacionado
a estratégia de ocupação adotada pelos portugueses das terras interioranas do Brasil
no século XVI com guerra declarada à população indígena, que neste processo foi
em parte exterminada e em outra escravizada, gerando um êxodo das populações
nativas sertão adentro. Com a adaptação do sistema de capitanias hereditárias e a
distribuição de sesmarias, novos colonos migraram em direção a região, organizando-
se as primeiras fazendas e sítios; e assim começam a surgir as primeiras feiras para
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 50
trocas comerciais.
Em meados do século XVII quando o lugar era conhecido por Malhada Vermelha
implantaram-se as primeiras lavouras de cana-de-açúcar, café e algodão; orescendo
na região principalmente a cultura canavieira e seus engenhos. Em 1846 o Major
Antônio de Menezes manda construir a capela de Nossa Senhora de Patrocíneo do
Coité, surgindo ao redor da capela, algumas casas e as primeiras ruas.
No século XVIII, Paripiranga tinha os seus engenhos: Santa Cruz; do capitão José
Vitorino de Menezes, irmão de Ana Francisca de Menezes; Coité, de Joaquim José
de Carvalho e Lagoa Salgada, de João Fraga Pimentel (ABREU, 2007, p. 20).
Nas proximidades de Paripiranga há grande registro da escravidão de africanos
nestes engenhos. Lugares como Simão Dias, Cotinguiba, Laranjeiras, Nossa Senhora
do Socorro, Maruim, Santo Amaro, Rosário do Catete, Japaratuba, Capela tiveram
suas senzalas e, até hoje é forte a presença da cultura afro-brasileira nessa região,
contando com algumas comunidades quilombolas. Em 1871 é estabelecido por lei
provincial o distrito de Patrocínio do Coité, elevado a vila em 1886, transmutando-se o
nome para Paripiranga apenas em 1931.
Durante a República Velha (1889-1930), no contexto do Coronelismo, surge a
gura emblemática de Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião e
o seu bando armado que cou conhecido com cangaceiros, contestando a ordem
política vigente. O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social que emana
das péssimas condições sócias nordestinas, entregue a latifundiários chamados
de coronéis que produziam suas próprias leis, gerando um quadro de injustiças e
condições de exclusão social para a maioria da população.
Existem registros orais da passagem de Lampião pelas terras de Paripiranga.
Este episódio está fortemente arraigado na memória da população mais antiga que
conta histórias muito curiosas a respeito dos embates da Volante (como era chamado
o bando de Lampião) contra os Macacos (como eram chamados os policiais militares
pelo bando de Lampião).
Alguns lugares ligados a este evento histórico estão cercados de misticismo, como
é o caso da Gruta de Lampião no povoado Ponta da Serra, onde seu bando teria se
escondido e deixado alguns pertences, identicados pela comunidade como tesouros,
punhais de ouro e prata, além da máquina de costura do bando que segundo contam
foi enterrada no lugar. Existe uma romaria anual para esta gruta na qual foi construída
uma capela que acontece no dia 25 de dezembro. A população local guarda muito
respeito e alguns demonstram medo desta gruta, associando a ela maus espíritos.
Outro episódio emblemático para a constituição da memória coletiva local
foi a passagem de Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio
Conselheiro, por essas terras. Ao fundar o Arraial de Canudos na margem norte do
rio Vaza-barris durante os anos de 1893-1897, Conselheiro saiu pelo sertão reunindo
camponeses, índios e escravos recém-libertos vítimas das grandes secas de 1877-
1879, 1889, 1891, 1898, para construir uma comunidade mais justa, chamada de Belo
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 51
Monte, na qual pudessem fugir da miséria, sede e fome que assolava a região.
De Simão Dias e Paripiranga foram muitos os que foram para o Arraial de Canudos.
construíram casas, tiveram lhos. A grande comunidade foi feita. A cada novo dia
chegava em Belo Monte, o arraial tinha esse nome dado por Antônio Conselheiro,
os lhos da escravidão, os sem-terra, os em teto. Isso passou a ser uma afronta ao
poder e aos latifundiários, os coronéis da terra, entre eles o Barão de Jeremoabo,
coronel Cícero Dantas (ABREU, 2007, p. 30).
Em 1897 a comunidade de Canudos foi exterminada sob a alegação de que
Antônio Conselheiro era monarquista. Dez mil homens do Exército Brasileiro caram
alojados em Simão Dias, sustentados pelos coronéis Pedro Freire de Carvalho e
Sebastião da Fonseca Andrade. Alguns sobreviventes do massacre foram morar como
agregados na Fazenda Santa Rosa em Simão Dias.
2 | METODOLOGIA
A metodologia foi dividida em duas etapas: Levantamento da documentação da
área de estudo; e Caracterização Espeleológica. O Levantamento da documentação
envolveu a análise detalhada de informações geológicas, geomorfológicas, de
cobertura vegetal, entre outros, coletadas junto ao banco de dados eletrônicos (digitais
e/ou analógicos), a utilização de cartas topográcas, mapas temáticos, fotograas
aéreas, imagens de satélite, relatórios técnicos atuais e registros históricos locais.
A Caracterização Espeleológica consistiu na pesquisa arguitiva com moradores
das fazendas próximas às áreas de estudo, com o intuito de identicar as cavidades
já conhecidas pela população local e, só após o resultado desta pesquisa arguitiva foi
realizado a prospecção física, in loco, segundo critérios estabelecidos previamente,
como o caminhamento georreferenciado com o uso de aparelhos GPS (Datum SAD
69), que objetivou o registro de todo o percurso, principalmente nas áreas de maior
probabilidade de ocorrência do exocarste, onde foram localizadas e identicadas as
feições espeleológicas das cavidades objeto deste estudo
Os trabalhos de prospecção visaram aferir as informações obtidas na fase de
Levantamento das informações primárias e permitir seu registro e processamento. As
entrevistas com moradores locais, principalmente aqueles que, por desenvolverem
atividades como pesca, extrativismo vegetal ou mineral, costumam se embrenhar
nas matas, possuem um conhecimento da área objeto de estudo e que auxiliou na
localização de cavernas, que na região normalmente recebem denominações próprias
como furna, lapa, toca, buraco, gruta, gruna ou grota.
3 | DISCUSSÕES E RESULTADOS
Os dados obtidos em campo são apresentados a seguir através da breve
descrição das cavidades, seguido de ilustrações que possam facilitar a compreensão
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 52
e as dimensões das cavidades analisadas. A abordagem espeleológica teve por
objetivo descrever as características geológicas do carste – tipo de rocha e controles
estruturais e as feições geomorfológicas exo/endocársticas presentes na área de
estudo, procurando assim, relacionar os aspectos morfogenéticos das cavidades,
caracterizando os tipos de sedimentos identicados no interior e no entorno delas.
Foram caracterizados os tipos de depósitos sedimentares e suas relações com
possíveis evidências ou vestígios paleontológicos.
3.1 Cavidades Estudadas
No processo de caracterização espeleológica da ADA e AID, foi possível identicar
cavidades naturais subterrâneas no entorno da ADA e no interior da ADA. No entorno –
dentro da AID – foram identicadas cinco cavidades: Caverna do Cupinzeiro, Caverna
do Descanso, Gruta do Zumbi, Gruta do Encanto e Toca Boca de Forno. No interior
da ADA, foram identicados dois sumidouros e sete cavidades naturais subterrâneas:
Gruta do Alto do Morro, Abismo Entupido, Caverna da Presa I, Caverna da Presa II,
Fenda da Costura, Fenda do Márcio, Toca do Escondido (Figura 1).
Figura 1 – Localização das cavidades naturais subterrâneas na ADA e na AID. Fonte: Preserv
Ambiental.
As cavidades objeto do estudo são apresentadas na tabela 1 com as suas
respectivas coordenadas geográcas.
Cavidade Coordenadas UTM
Gruta do Encanto 24 L 622010 / 8824094
Gruta Boca de Forno 24 L 622007 / 8824038
Gruta do Zumbi 24 L 621931 / 8824006
Caverna do Descanso 24 L 621986 / 8824036
Caverna do Cupinzeiro 24 L 621861 / 8823986
Gruta do Alto do Morro 24 L 623009 / 8824101
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 53
Abismo Entupido 24 L 623058 / 8824017
Caverna da Presa I 24 L 622652 / 8824133
Caverna da Presa II 24 L 622655 / 8824107
Fenda da Costura 24 L 623047 / 8824006
Fenda do Márcio 24 L 623034 / 8824024
Toca do Escondido 24 L 622749 / 8823926
Tabela 1 – Relação das cavernas estudadas.
3.2 Classicação das cavidades naturais subterrâneas da ADA e AID
Para um melhor entendimento da importância das cavidades identicadas na
ADA e na AID, foi utilizada a metodologia utilizada por Santos (2011) de valoração das
cavidades naturais subterrâneas. Assim, procurando seguir o que determina o artigo
5° do Decreto 99556/1990, alterado pelo Decreto 6640/2008 e a Instrução Normativa
(IN) 02 de 20 de agosto de 2009 publicada pelo Ministério do Meio ambiente – MMA,
foi empregado neste relatório o modelo de matriz matemática atribuindo valores para
a existência das características citadas na IN 02/2009 baseado na análise integrada
sob o enfoque regional e local seguindo as especicações para máxima, alta, média e
baixa relevância espeleológica.
Desta forma, as cavidades foram avaliadas segundo a presença ou ausência
dos atributos e variáveis de relevância indicados pela IN 02/2009. Assim, foram
atribuídos valores para as características Presentes (P) com valor numérico 1 (um) e
para as características Ausentes (A) com valor numérico 0 (zero). O somatório destas
características é que vai estabelecer a classicação nal de cada cavidade. Um resumo
desta análise é visto na tabela 2.
Etapa Atividade Resultado
Etapa I Análise de Máxima Relevância em
contexto regional e local.
Determinação das grutas de
Máxima Relevância.
Etapa II Análise em contexto regional. Classicação preliminar das
grutas em Importância Acentuada,
Signicativa ou Baixa Regional.
Etapa III Análise em contexto local Classicação preliminar das
grutas em Importância Acentuada,
Signicativa ou Baixa Local.
Etapa IV Integração das análises regionais e
locais.
Determinação das grutas de Alta,
Média ou Baixa Relevância.
Etapa V Zoneamento espeleológico. Delimitação de áreas de MR, AR,
RM ou BR a partir da área de
inuência das cavidades.
Tabela 2 – Etapas do processo de valoração de cavidades segundo IN 02/2009.
Com a classicação das cavidades da ADA e AID nos atributos que determinam
o grau de relevância máxima (Tabela 3) foi possível avançar para classicação sob a
importância regional (Tabela 4), uma vez que para a ADA e AID do empreendimento
não existem cavidades naturais subterrâneas com máxima relevância, segundo o
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 54
modelo adotado.
Sigla Atributos
GEN Gênese única ou rara
MOR Morfologia única
DIM Dimensões notáveis em extensão, área ou volume
ESP Espeleotemas únicos
ISO Isolamento geográco
ABR Abrigo essencial para a preservação de populações geneticamente viáveis de
espécies animais em risco de extinção, constante de listas ociais
HAB Habitat essencial para preservação de populações geneticamente viáveis de
troglóbios endêmicos ou relictos
TRO Habitat de troglóbio raro
INT Interações ecológicas únicas
CAV Cavidade testemunho
HCR Destacada relevância histórico-cultural ou religiosa
Tabela 3 – Atributos considerados para classicação de cavidades naturais subterrâneas de máxima
relevância.
Sigla Classicação
IAR Importância Acentuada Regional
ISR Importância Signicativa Regional
IBR Importância Baixa Regional
Tabela 4 – Classicação da Cavidade quanto a Importância Regional
Superada a primeira etapa, aquela que enquadra com o grau de máxima
relevância, empregou-se então a classicação sob a ótica local e o seu respectivo
grau de importância (Tabela 5). Nas tabelas 6 e 7 podem ser observados os atributos
considerados na análise Regional e Local para denir o grau de importância das
cavidades da ADA e AID.
Sigla Classicação
IAL Importância Acentuada Local
ISL Importância Signicativa Local
IBL Importância Baixa Local
Tabela 5 – Classicação da Cavidade quanto a Importância Local
Sigla Atributo
LOC Localidade tipo
ECI Presença de populações estabelecidas de espécies com função ecológica importante
TAX Presença de táxons novos
RIQ Alta riqueza de espécies
ABU Alta abundância relativa de espécies
COM Presença de composição singular da fauna
TRG Presença de troglóbios que não sejam considerados raros, endêmicos ou relictos
EST Presença de espécies troglomórcas
TOB Presença de trogloxeno obrigatório
PEX Presença de população excepcional em tamanho
ERR Presença de espécie rara
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 55
AHZ Alta projeção horizontal da cavidade em relação às demais cavidades que se distribuem
na mesma unidade espeleológica
APH Alta área de projeção horizontal da cavidade em relação às demais cavidades que se
distribuem na mesma unidade espeleológica
VOL Alto volume da cavidade em relação às demais cavidades que se distribuem na mesma
unidade espeleológica
EES Presença signicativa de estruturas espeleogenéticas raras
LAG Lago ou drenagem subterrânea perene com inuência acentuada sobre os atributos da
cavidade
DIV Diversidade da sedimentação química com muitos tipos e espeleotemas processos de
deposição
CES Conguração notável dos espeleotemas
INF Alta inuência da cavidade sobre o sistema cárstico
IRM Presença da inter-relação da cavidade com alguma de relevância máxima
REC Reconhecimento nacional ou mundial do valor estético/cênico da cavidade
VIS Visitação pública sistemática na cavidade, com abrangência regional ou nacional
Tabela 6 – Atributos considerados para classicação parcial de cavidades naturais
subterrâneas, sob enfoque regional e local, em Importância Acentuada.
Sigla Atributo
SFR Presença de singularidade dos elementos faunísticos sob enfoque regional
MHZ Média projeção horizontal da cavidade em relação às demais cavidades que se distribuem
na mesma unidade espeleológica
MPH Média área da projeção horizontal da cavidade em relação às demais cavidades que se
distribuem na mesma unidade espeleológica
ADE Alto desnível da cavidade em relação às demais cavidades que se distribuem na mesma
unidade espeleológica
MVL Médio volume da cavidade em relação às demais cavidades que se distribuem na mesma
unidade espeleológica
PEE Presença de estruturas espeleogenéticas raras
LDI Lago ou drenagem subterrânea intermitente com inuência signicativa sobre os atributos
da cavidade
DIV Diversidade da sedimentação química com muitos tipos de espeleotema ou processos de
deposição
SED Sedimentação clástica ou química com valor cientíco
RRE Reconhecimento regional do valor estético/cênico da cavidade
USO Uso constante, periódico ou sistemático para ns educacionais, recreativos ou esportivos
Tabela 7 – Atributos considerados para classicação parcial de cavidades naturais
subterrâneas, sob enfoque regional e local, em Importância Signicativa.
As análises podem ser observadas nas tabelas 8, 9 e 10, respectivamente para
o grau máximo de relevância, importância acentuada sob o enfoque regional e local e
importância signicativa sob o enfoque regional e local. Após a análise matemática para
estes atributos, encontra-se nas tabelas 11 e 12 a classicação nal de cada cavidade,
segundo o contexto regional e local. Este modelo é visto como o que mais se aproxima
de uma análise de riscos de forma isenta, pois os atributos são analisados através de
valores matemáticos determinados para a sua presença ou ausência, facilitando a
compreensão nal da classicação das cavidades naturais subterrâneas existentes na
ADA e AID do empreendimento.
56
Capítulo 4As inúmeras facetas da Espeleologia
Cavidade GEN MOR DIM ESP ISO ABR HAB TRO INT CAV HCR Nota Classicação
Gruta do Encanto A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Gruta Boca de Forno A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Gruta do Zumbi A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna do Descanso A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna do Cupinzeiro A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Gruta do Alto do Morro A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Abismo Entupido A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna da Presa I A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna da Presa II A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Fenda da Costura A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Fenda do Márcio A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Toca do Escondido A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Tabela 8 – Matriz de análise de relevância utilizada para classicar as cavidades estudadas, segundo atributos de Máxima Relevância. Siglas vide Tabela 3. P =
Presente = 1; A = Ausente = 0. (SANTOS, 2011).
Nome LOC ECI TA X RIQ ABU COM TRG EST TOB PEX ERR AHZ APH VOL EES LAG DIV CES INF IRM REC VIS Nota Classicação
Gruta do Encanto A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 1 IBR
Gruta Boca de Forno A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Gruta do Zumbi A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna do Descanso A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna do Cupinzeiro A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Gruta do Alto do Morro A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Abismo Entupido A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna da Presa I A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Caverna da Presa II A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Fenda da Costura A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Fenda do Márcio A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Toca do Escondido A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBR
Tabela 9 – Matriz de análise de relevância utilizada para classicar as cavidades sob enfoque regional, segundo os atributos de Importância Regional. Siglas vide
Tabela 6. P = Presente = 1; A = Ausente = 0. (SANTOS, 2011).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4
57
Nome SFR MHZ MPH ADE MVL PEE LDI DIV SED RRE USO Nota Classicação
Gruta do Encanto A 0 P1 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 1 ISL
Gruta Boca de Forno A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Gruta do Zumbi A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Caverna do Descanso A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Caverna do Cupinzeiro A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Gruta do Alto do Morro A 0 A 0 A 0 P1 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 1 ISL
Abismo Entupido A 0 A 0 A 0 P1 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 1 ISL
Caverna da Presa I A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Caverna da Presa II A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Fenda da Costura A 0 A 0 A 0 P1 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 1 ISL
Fenda do Márcio A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Toca do Escondido A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 A 0 0 IBL
Tabela 10 – Matriz de análise de relevância utilizada para classicar as cavidades sob enfoque local, segundo os atributos de Importância Local. Siglas vide Tabela 7. P =
Presente = 1; A = Ausente = 0. (SANTOS, 2011).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 58
Nome Contexto Regional Contexto Local Classicação
Gruta do Encanto IBR ISL ISL
Toca Boca de Forno IBR IBL IBL
Gruta do Zumbi IBR IBL IBL
Caverna do Descanso IBR IBL IBL
Caverna do Cupinzeiro IBR IBL IBL
Tabela 11 – Classicação para as Grutas da AID.
Nome Contexto Regional Contexto Local Classicação
Gruta do Alto do Morro IBR ISL ISL
Abismo Entupido IBR ISL ISL
Caverna da Presa I IBR IBL IBL
Caverna da Presa II IBR IBL IBL
Fenda da Costura IBR ISL ISL
Fenda do Márcio IBR IBL IBL
Toca do Escondido IBR IBL IBL
Tabela 12 – Classicação para as Grutas da ADA.
4 | CONCLUSÕES
O município de Paripiranga, devido as suas características geomorfológicas,
possui uma propensão signicativa a existência de cavidades naturais subterrâneas.
Até o presente momento, o Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia GMSE
conseguiu registrar junto ao CECAV/ICMBIO aproximadamente 105 cavidades. Mesmo
considerando-se que a maior parte deste patrimônio espeleológico é composto por
cavernas de pequeno porte, há nele um número consistente de abismos, alguns com
profundidade variando entre 15 e 30 metros.
Assim, após a realização dos estudos em campo e destacando a importância da
sua localização geográca, pode-se pôr em relevância os seguintes pontos:
por apresentarem as melhores condições de deslocamento e principalmente
de espaço, foram topografadas três cavidades, uma na AID (Gruta do Zum-
bi) e duas na ADA (Gruta do Alto do Morro e Gruta da Presa I). Os mapas
estão no Anexo;
confrontando-se os dados obtidos em campo com o disposto na IN-002 do
ICMBIO, concluiu-se que as cavidades identicadas no interior da ADA
Gruta do Alto do Morro, Gruta da Presa, Gruta da Presa II, Abismo do Lixo,
Fenda da Costura, Fenda do Márcio e Toca do Escondido – enquadram-se
como cavidades naturais subterrâneas com grau de relevância baixo confor-
me o disposto no Artigo 6°, Inciso II e Artigos 11 e 12:
Art. 6° Entende-se por cavidade natural subterrânea com grau de relevância baixo
aquela cuja importância de seus atributos seja considerada:
I – signicativa sob enfoque local e baixa sob enfoque regional; ou
II – baixa sob enfoque local e regional.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 59
(…)
Art. 11. Quando a conguração de atributos sob enfoque local não for considerada
de importância acentuada ou signicativa, será, por exclusão, considerada de
importância baixa.
Art. 12. Quando a conguração de atributos sob enfoque regional não for
considerada de importância acentuada ou signicativa, será, por exclusão,
considerada de importância baixa.
Recomendou-se levar adiante os estudos de cunho paleontológico e bioes-
peleológico para conclusão dos dados relativos ao dossiê das cavidades
situadas dentro da ADA;
Para as cavidades da AID que foram topografadas, após o cruzamento das
informações obtidas em campo com o disposto na IN-002 do ICMBIO, con-
cluiu-se que estas cavidades Caverna do Encanto, Caverna do Cupin-
zeiro, Caverna Boca de Forno, Gruta do Zumbi e Gruta do Descanso – en-
quadram-se também como cavidades naturais subterrâneas com grau de
relevância baixo conforme o disposto no Artigo 6°, Inciso II e Artigos 11 e 12.
Para as demais cavidades que estão situadas fora da ADA – e dentro de um raio
mínimo de até 250 m da ADA – recomendou-se:
a topograa completa das cavidades;
o levantamento da fauna e ora cavernícola através de estudos de bioespe-
leologia;
a apresentação dos resultados dos estudos do conjunto das cavernas da
ADA, AID e AII à comunidade de Paripiranga, através de um programa de
divulgação com a realização de palestras nas escolas da região e para a
população em geral do município. Esta atividade foi indicada como “Espe-
leologia Pública” – uma prática emprestada das pesquisas de Arqueologia,
quando ao nal das atividades é sempre realizada a apresentação dos re-
sultados à população e empregado o termo de “Arqueologia Pública” para
caracterizar o evento e acompanhada da produção de materiais educa-
tivos, como cartilhas e cartazes para serem distribuídas nas escolas com
a nalidade de despertar na população a importância da preservação do
patrimônio espeleológico da região de Paripiranga. Esta medida fez parte
das propostas mitigadoras e compensatórias a serem realizadas pelo em-
preendedor em relação aos impactos causados pela atividade mineradora
ao patrimônio espeleológico do município, despertando a consciência de
preservação do meio ambiente entre a os moradores da zona rural.
Ainda dentro das conclusões a respeito do estudo realizado, observou-se que o uso
de uma matriz de valoração, conforme o proposto por Santos (2011), facilitou a análise
dos dados referentes às cavidades e agilizou o trabalho de laboratório, demonstrando
ser esta metodologia de valoração bastante válida para o enquadramento de outras
cavidades dentro de áreas de mineração.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 60
AGRADECIMENTOS
A UESC e à UNEB pelo apoio Institucional, ao Grupo Mundo Subterrâneo de
Espeleologia pelo apoio logístico e à Preserv Ambiental Soluções Integradas em
Meio Ambiente pelo nanciamento do projeto.
Agradecimento especial a Osmar Rosa da Conceição, membro do Grupo Mundo
Subterrâneo de Espeleologia – GMSE de Paripiranga – Bahia.
REFERÊNCIAS
ABREU, O. Professor, exemplo de vida. Cenários de História: Simão Dias/SE, Paripiranga/BA,
Lagarto/SE. Aracaju: J. Andrade, 2007.
AULER, A.; RUBBIOLLI, E.; BRANDI, R. As grandes cavernas do Brasil. Belo Horizonte: Grupo
Bambuí, 2001.
CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água
subterrânea. Diagnóstico do município de Paripiranga, estado da Bahia / Organizado [por] Ângelo
Trévia Vieira et. al. Salvador: CPRM/PRODEEM, 2005.
IBGE. Portal IBGE Cidades. http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perl.php?lang=&codmun=292380&searc
h=bahia|paripiranga|infogracos:-informacoes-completas Acessado em 31/03/2017.
MMA – Ministério do Meio Ambiente. Gabinete do Ministro. Instrução Normativa nº 2, de 20 de
agosto de 2009. Dispõe sobre a metodologia para classicação do grau de relevância das cavidades
naturais subterrâneas. Diário Ocial da União, Brasília, 21 de agosto de 2009, Seção 1, n. 160, p.
68-71.
SANTOS, T. F. Zoneamento espeleológico nas adjacências da Mina da Pedreiras Contagem
Ltda. Sobradinho, DF. Belo Horizonte: GEOEMP, 2011.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 61
ANEXO
Gruta do Zumbi
Gruta do Alto do Morro
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 4 62
Gruta da Presa I
As inúmeras facetas da Espeleologia 63
Capítulo 5
PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE RPPN PARA
SALVAGUARDO DE PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO –
LAPA DA FORQUILHA, BALDIM - MG
CAPÍTULO 5
Pablo Vinícius Silva Santos
Centro Universitário Newton Paiva
Belo Horizonte – Minas Gerais
Luciano Emerich Faria
Centro Universitário Newton Paiva
Belo Horizonte – Minas Gerais
Patrícia Cristina Dias Perini
Centro Universitário Newton Paiva
Belo Horizonte – Minas Gerais
Bruno Henrique Martins Moreira
Centro Universitário Newton Paiva
Belo Horizonte – Minas Gerais
Daniel Magno Carmo
Centro Universitário Newton Paiva
Belo Horizonte – Minas Gerais
Gabriela Camargos Lima
Centro Universitário UNI-BH
Belo Horizonte – Minas Gerais
RESUMO: A cavidade Lapa da Forquilha inclui-
se dentre as grandes descobertas realizadas
por Peter Lund no Brasil. O simples fato
desta se congurar como parte dos achados
de Lund agrega signicativo valor histórico-
cultural à mesma aumentando a necessidade
de sua preservação. Há leis que garantem a
integridade física da caverna, porém, ao instituir
uma Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) na área do entorno da caverna, é possível
proporcionar maior proteção e recursos para sua
manutenção e preservação. Ao se tombar uma
área em RPPN é importante, principalmente
para o proprietário, a realização de uma análise
de viabilidade, uma vez que este deverá, além
de ceder parte de seu terreno em caráter
perpétuo, se responsabilizar pela manutenção
e preservação da Unidade de Conservação
(UC) estabelecida em sua propriedade. Este
estudo permite averiguar se a cavidade possui
atributos relevantes que justiquem a criação
de uma UC para garantir sua preservação e
se não trará prejuízos ao proprietário, uma vez
que o mesmo poderá responder legalmente por
qualquer impacto ocorrido na área. A análise
ambiental de viabilidade foi realizada através
de estudo de relevância da cavidade e por
criterioso exame nas legislações pertinentes. O
diagnóstico ambiental permitiu a identicação
de áreas passíveis de recuperação. Ao
examinar a legislação conheceu-se os direitos
e obrigações em relação ao proprietário da
fazenda. O presente estudo permitiu evidenciar
que a viabilidade na criação de uma RPPN
está diretamente ligada aos interesses do
proprietário e das particularidades do uso e
ocupação do solo no terreno.
PALAVRAS-CHAVE: Cavidade; RPPN;
Preservação; Legislação Ambiental; Peter Lund.
ABSTRACT: The cave calls “Lapa da
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 64
Forquilha” is included among the great discoveries made by Peter Lund in Brazil.
Only the fact that this cave is part of the Lund ndings adds signicant historical and
cultural value, aggravating the preservation needs. There are laws that guarantee
the physical integrity of the cave, however, establishing a Private Natural Patrimony
Reserve in the surrounding area of the cave, it is possible to provide greater protection
and resources for its maintenance and preservation. When you create an area in
Private Natural Patrimony Reserve is of utmost importance, especially to the owner,
to conduct a viability analysis, since this should, in addition to giving up part of their
land in perpetuity, the owner will be responsible for the maintenance and preservation
of the Conservation Unit established on your property. This study allows determine if
the cavity has important attributes that justify the creation of a Conservation Unit to
ensure its preservation. The environmental viability analysis was carried out through a
study of the relevance and by a examination of the relevant laws. The environmental
analysis allowed the identication of areas for recovery. By examining the legislation
was possible to know the rights and obligations in relation to the owner of the farm.
This study provided insight into the viability in creating a Private Natural Patrimony
Reserve is directly linked to the interests of the owner and the particularities of the use
and occupation of soil/ground.
KEYWORDS: Cave; Private Natural Patrimony Reserve; Preservation; Environmental
Law; Peter Lund.
1 | INTRODUÇÃO
O Brasil abriga a maior Biodiversidade do planeta no que tange à fauna e à ora, o
que faz necessário a criação de legislações especícas para garantir sua preservação
(MMA, 2007). Para proteger as áreas naturais do território nacional, a proposta de
criação de Unidades de Conservação (UC´s) é uma das estratégias utilizadas pelo
Estado.
A criação de UC´s surgiu quando o governo brasileiro instituiu, através da Lei
9.985 de 18 de julho de 2000, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza (SNUC) que estabelece critérios e normas para a criação, implantação
e gestão das unidades de conservação (Lei 9.985, 2000). Dentre os dois grupos
de UC’s existentes (Unidade de proteção integral e de uso sustentável), tem-se a
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), objeto deste estudo.
A RPPN é uma Unidade de Conservação de Uso sustentável, estabelecida pelo
Artigo 21 da Lei 9.985 e regulamentada pelo Decreto 5.746, de 5 de abril de
2006, que objetiva conciliar a preservação da natureza com a exploração sustentável
dos recursos naturais nela existentes (DECRETO Nº 5.746, 2006). Trata-se de uma
área privada estabelecida mediante a livre e espontânea vontade do proprietário e
possui caráter perpétuo, uma vez instituída não poderá ser revogada. De acordo com
o SNUC, é permitida a utilização desta reserva para pesquisas cientícas e/ou
visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 65
Em consonância com o conceito de manutenção e preservação da biodiversidade
e da qualidade ambiental o governo federal criou também legislações especícas para
a preservação de cavidades naturais subterrâneas (CNS), visto que estas possuem
grande potencial para abrigar grande quantidade de espécies da fauna assim como o
ambiente epígeo (TRAJANO e BICHUETTE, 2006) além de serem sabidamente locais
em que processos de preservação evitam a degradação acelerada de vestígios fósseis
e arqueológicos. Através do Decreto Federal 99.556/1990 e seu complemento o
Decreto N° 6.640/2008 as cavernas e suas designações comuns (lapa, toca, abismo,
gruta, buraco, furna, abrigo) se tornaram patrimônio natural protegido, necessitando
uma análise de relevância para uma possível intervenção. O Decreto N° 6.640 dene
que estas deverão ser preservadas com o intuito de serem utilizadas para ns de
cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo.
A análise de relevância das cavidades naturais subterrâneas baseia-se em uma
metodologia de estudos que preconiza que a mesma deve ser avaliada em seus
quesitos morfológicos, espeleológicos, geológicos, hidrológicos/ hidrogeológicos,
socioeconômicos, bióticos, dentre outros. Estes quesitos supracitados serão
confrontados com outras cavidades localizadas no âmbito local e regional, denindo
assim seu grau de relevância em máximo, alto, médio ou baixo, sendo importante
salientar que não existe a classicação de cavidades não relevantes (INSTRUÇÃO
NORMATIVA N°02, 2009). Essa valoração para as CNS se torna um instrumento de
preservação da mesma e do entorno, visto que esta comprova a importância ambiental
deste ambiente subterrâneo.
A Lapa da Forquilha é atualmente cadastrada no Cadastro Nacional de Cavernas
da Sociedade Brasileira de Espeleologia CNC-SBE com a sinonímia “Gruta da
Fortuna”, no entanto, de forma a homenagear o grande naturalista Peter Lund, consta
ainda sua existência neste cadastro com o nome original dado por Lund (graças ao
‘córrego Forquilha’ próximo da boca da gruta) da forma que ele a descreveu. Dado
a este fato, ela é uma cavidade natural subterrânea de grande potencial histórico-
cultural, advindo dos estudos nela realizados pelo naturalista no século XIX. A lapa
está localizada na Fazenda Vargem do Lobo situada no município de Baldim em
Minas Gerais, a cerca de 95 km da capital Belo Horizonte (Figura 1). A caverna foi
(re)descoberta recentemente graças ao trabalho de levantamento de cavernas da
região que tem sido feito por uma equipe do Centro Universitário Newton Paiva nas
proximidades de Baldim e que tem levantado um número ainda incontável de cavidades
e demais patrimônios ligados à espeleologia (FARIA, 2015).
A preservação da Lapa da Forquilha em conjunto com a criação de uma RPPN no
entorno da gruta estão consonantes com projetos de cunho turísticos, muito abordados
na literatura atual com o nome de “Rota Lund” (SECRETARIA DE TURISMO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS, 2014) que consistem no estudo dos caminhos que
Peter Lund percorreu no interior de Minas Gerais, incluindo diversas cavidades no
roteiro turístico. A preservação da área de inuência da Lapa da Forquilha (Figura
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 66
2), além do aspecto cultural e turístico, seria então de extrema importância para a
preservação da biologia hipógea e de seu patrimônio Histórico.
Figura 1: Localização da caverna dentro da Fazenda Vargem do Lobo
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 67
Figura 2: Mapa topográco da caverna realizado em AutoCAD/ArcGIS contendo a Pedologia
Local
A preservação do entorno (em um raio de proteção preconizado por um eixo
perpendicular 250m em torno de toda projeção da cavidade) de uma caverna implica
em conservar sistemas hidrológicos e a biota existente e também em conservar a
umidade do solo e a cobertura vegetal, que estão diretamente relacionadas à formação
de espeleotemas no interior das cavernas. É notório, portanto, a necessidade que a
biota do meio hipógeo necessita das atividades do meio epígeo para sobreviver. Devido
a esta dependência, é extremamente importante preservar uma área no entorno da
cavidade. O entorno da Lapa da Forquilha não está preservado por completo, devido
ao proprietário da Fazenda Vargem do Lobo não ter ideia da riqueza que guardava, e
por esta razão, será avaliado se existe a necessidade de recuperá-la, em um eventual
tombamento da área em uma RPPN, através da implantação de um Programa de
Recuperação de Área Degradada - PRAD. Com este intuito, o trabalho visou realizar
o estudo ambiental de viabilidade da criação de uma Reserva Particular do Patrimônio
Natural – RPPN, com a proposta de preservação de patrimônio espeleológico e
entorno: a caverna Lapa da Forquilha.
1.1 Unidades de Conservação e a preservação de Patrimônio Espeleológico
O grupo de Unidades de Conservação de uso sustentável é formado por sete
categorias que permitem a utilização de parte de seus recursos naturais. A RPPN é um
instrumento utilizado pelo órgão ambiental para incentivar os proprietários de terras a
preservarem parte de suas áreas a m de garantir o equilíbrio ecológico na região em
que se encontra. Existem estudos em todo Brasil que abordam a criação de RPPN’s
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 68
como uma das formas mais usuais de se preservar uma área. Isso ocorre porque o
próprio Governo incentiva essa prática através da concessão de alguns benefícios ao
proprietário do terreno onde a RPPN for criada. No entanto a maioria das RPPN’s está
ligada à proteção do patrimônio natural de importância ambiental e não espeleológica.
O Art. 4 da Lei Federal 9.985 (2000, p.2), ressalta como um dos objetivos do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a proteção de características
relevantes de natureza espeleológica, evidenciando o valor do ambiente cavernícola e
a importância de sua preservação.
Com o intuito de comparar as Cavidades Naturais Subterrâneas (CNS´s) e as
Unidades de Conservação (UC´s), Marra (2008), em sua tese de doutorado ressalta
que das 6.522 CNS´s conhecidas até então, de acordo com cadastros espeleológicos,
1.779 estão localizadas dentro de alguma UC seja ela de proteção integral ou de
uso sustentável. Também é ressaltado que 4.743 (72,73%) se posicionam no entorno
destas. Com isso cerca de 27,27% das cavidades conhecidas, estão localizadas no
contexto de uma UC.
Donato (2011) escreve em sua dissertação de mestrado para a Universidade
Federal de Sergipe que uma das formas indicadas para a conservação de meio epígeo
é a delimitação do raio de proteção das cavernas segundo a legislação vigente. A
criação de RPPN’s aparece neste estudo de forma complementar ao raio de proteção,
indicando a sua localização no entorno deste. Um estudo sobre as áreas prioritárias
para a preservação do patrimônio espeleológico realizado no estado do Paraná,
apresentado ao XVII Congresso Brasileiro de Espeleologia, aponta a criação de
RPPN como uma solução para preservação de grutas isoladas, ou seja, grutas que
não pertencem a sistemas amplos de valor espeleológico. A Instrução Normativa N°2
de 2009, preconiza em seu Art.3° que estas cavidades se caracterizam em isolamento
geográco, atribuindo as mesmas a relevância máxima em caso de em um estudo
de relevância prévio ter sido considerada de relevância média ou alta. Neste caso
a gruta geralmente se encontra em área particular, sem proteção formal especíca.
Este trabalho de Sessegolo et al. (2013) indica já existirem duas reservas criadas pela
iniciativa privada, devido a maior sensibilização por parte dos proprietários rurais e
empresas privadas. Algumas empresas começaram a adotar esta prática e criaram suas
próprias RPPNs, como é o caso da Lafarge, empresa de cimento localizada na cidade
de Cantagalo, região serrana do estado do Rio de Janeiro. Segundo o IBAMA (2010)
isso ocorreu em função da importância da preservação de cavidades e da existência
de legislações especícas, como a Instrução Normativa n° 30 de 2012 que preconiza
que em caso de empreendimentos causarem impactos negativos irreversíveis como
a supressão de alguma CNS de relevância alta e não houver em sua área outras
cavidades de mesma litologia e mesma relevância para ser preservadas como forma
de cavidades testemunho deve-se prioritariamente criar uma RPPN em área de posse
do empreendedor intuindo a preservação do patrimônio espeleológico.
O fato de empresas começarem a se preocupar em atender a legislação, optando
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 69
pela criação de reservas mostra que o tema abordado é atual e pertinente, mesmo
sendo ainda pouco investigado pelo meio acadêmico.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é unidade de conservação, de
caráter perpétuo, gravado em Termo de Compromisso averbado à margem da inscrição
do Registro Público de Imóveis que objetiva a conservação da diversidade biológica.
A utilização da RPPN é restrita a projetos de pesquisas cientícas e visitações de
cunho turístico, recreativos e educacionais previstas no Termo de Compromisso e no
seu plano de manejo (DECRETO Nº 5.746, 2006). De acordo com o Decreto Federal
de nº 6.640, de 7 de novembro de 2008, as cavidades do território nacional deverão
ser protegidas, de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem técnico-cientíca,
bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo
e educativo. Com o intuito de atendimento à legislação e de intensicar a proteção
da Lapa da Forquilha, cavidade natural presente na Fazenda Vargem do Lobo, foi
cogitada a ideia de criar uma RPPN na área de inuência da mesma.
Após a assinatura do Termo de Compromisso, que institui a RPPN, o proprietário
assume o compromisso de preservar toda a área transformada na unidade de
conservação e ca sujeito às sanções da Lei em caso de descumprimento das normas
legais. Em contrapartida a área criada como RPPN será excluída da área tributável
do imóvel para ns de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, ITR
(DECRETO Nº 5.746, 2006).
1.2 Direitos e obrigações de um proprietário de RPPN
Ao instituir uma RPPN é importante que o principal fator motivacional seja a
preservação do Patrimônio Natural. Porém, ao criar uma RPPN, o proprietário
do terreno assume compromissos (obrigações) perpétuos que, em alguns casos,
requerem comprometimento de área produtiva ou grandes investimentos nanceiros.
Por esta razão, há outros fatores que servem de incentivo para a pessoa que deseja
criar uma RPPN.
Os principais direitos concedidos ao proprietário de uma RPPN são:- Assessoria
do IBAMA/IEF nos trâmites para instituir a RPPN;
Isenção da ITR sobre a área disponibilizada para a RPPN;
Realocação da Reserva Legal da propriedade para a área da RPPN;
Explorar a área da reserva para ns turístico e cientíco, desde que conste
no plano de manejo;
Formalizar parcerias com instituições públicas e privadas;
Prioridade na análise dos projetos pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente
(FNMA), do MMA;
Preferência na análise de pedidos de concessão de crédito agrícola, junto
às instituições ociais de crédito, para projetos a serem implementados em
propriedades que contiverem RPPN em seu perímetro;
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 70
Possibilidades de cooperação com entidades privadas e públicas na prote-
ção, gestão e manejo da Unidade.
A criação de uma RPPN exige do proprietário o cumprimento de vários quesitos
legais. Importante salientar que a instituição de uma RPPN ocorre em caráter de
perpetuidade. As principais obrigações de um proprietário de RPPN são:
Elaboração das peças cartográcas do imóvel e da RPPN (mapas e memo-
riais descritivos),
Elaboração do Plano de Manejo;
Manter a RPPN em caráter perpétuo;
Assegurar a manutenção dos atributos ambientais da RPPN;
Sinalizar os seus limites, advertindo terceiros quanto à proibição de des-
matamentos, queimadas, caça, pesca, apanha, coleta, captura de animais
e quaisquer outros atos que afetem ou possam afetar a integridade da UC;
Submeter, no âmbito federal, à aprovação do ICMBio o plano de manejo da
RPPN;
Encaminhar anualmente ao ICMBio e sempre que solicitado, relatório da
situação da RPPN e das atividades desenvolvidas;
O proprietário ou representante legal da RPPN cará sujeito às sanções
legais previstas no Decreto no 5.74612, de 05/04/2006, que regulamenta a
categoria de RPPN, após a averbação da área da Reserva (ICMBIO, 2012).
1.3 Área de Estudo
A caverna está situada em região tomada pelo cerrado (IBGE, 2013) e nas
proximidades da área de estudo é composta por ambientes orestais em sua
sionomia de Campo-Cerrado e Cerrado. As áreas que margeiam à de estudo são
compostas por uma matriz de pastagens e culturas de eucaliptos sendo encontrados
fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual em estágio inicial de regeneração.
Ainda se encontram formações orestais nativas em regeneração natural e parte
em recuperação com introdução de espécies nativas e exóticas. Existem algumas
trilhas no entorno desta vegetação que demonstra impactos da ação antrópica na
área bem como vegetação suprimida no entorno. Os fragmentos de vegetação nativa
encontrados na área são porções de Cerrado, com representantes da ora nativa em
estado de desenvolvimento. As áreas em recuperação estão representadas por zonas
onde se encontram mudas de espécies nativas e cobertura do solo por gramíneas e
leguminosas.
A hidrograa local localizada na sub-bacia do Rio São Francisco, próxima ao
divisor com a sub-bacia do Rio Doce (Serra da Lapinha ou Serra do Cipó). Esta tem
como principal corpo hídrico o Rio Cipó que é formado pelo encontro dos córregos
Mascates e Bocaina. A área ainda possui outros corpos d’água que a cruzam (Córregos
da Forquilha, da Posse e Vargem do Lobo).
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 71
De acordo com Salgado et al (2011) a pedologia da região de Baldim é
caracterizada por solos bem desenvolvidos, argilosos e igualmente distrócos,
apresentando horizontes “A” espessos e ricos em matéria orgânica. Em alguns locais
onde há grande presença de intemperismo a formação de solos mais profundos.
É ainda caracterizado como Argissolo Vermelho, que é caracterizado pela EMBRAPA
(2011) como solos com alta presença de óxidos de ferro presentes no material de
origem, dando assim a cor avermelhada. Apresenta fertilidade variável devido à
diversidade de materiais originários.
A Lapa da Forquilha é uma cavidade formada na litologia Calcário. Esta possui
seu desenvolvimento preferencialmente na direção noroeste possuindo diversas
ramicações em seus condutos para diversos sentidos. No que tange as feições
espeleológicas, esta possui diversos espeleotemas sendo eles: estalactites, canudos
de refresco, colunas, estalagmites, pérolas, microtravertinos, travertinos, blister de
calcita, coralóides, escorrimentos, cortinas e cortinas serrilhadas. Já no quesito feições
morfológicas, essa possui pilares, blocos abatidos em toda sua extensão, buracos,
patamares e níveis superiores.
2 | METODOLOGIA
Os preceitos metodológicos de “valoração” de cavidades adotados são aqueles
preconizados na Instrução Normativa N° 2/2009 do Ministério do Meio Ambiente,
apesar de o trabalho não estar ligado a interesses da iniciativa privada, fazendo desta
forma com que a IN pudesse servir como ferramenta teórica na aplicação de ações
que buscassem a proteção da cavidade. De uma forma geral, o artigo 14 da IN 2/2009
reza que a valoração de cavidades necessite de:
“...estudos espeleológicos a serem realizados para ns de classicação de
cavidades subterrâneas devem apresentar informações, sob os enfoques local e
regional, que possibilitem a classicação em graus de relevância das cavidades
naturais subterrâneas”.
Além da utilização da IN, o trabalho contou ainda com profunda revisão teórica
sobre as legislações vigentes em esfera nacional, estadual e municipal. Para o
levantamento de dados primários tanto para aplicação da IN quanto para a proposta
de recuperação de áreas degradadas no entorno da cavidade foram necessárias
investidas de campo para levantamentos e pesquisas na Fazenda Vargem do Lobo.
As visitas foram feitas no período de secas durante os meses de fevereiro a maio de
2014 com o objetivo de fazer o reconhecimento da área interna e externa da caverna
estudada, assim como das áreas de entorno da mesma. Foram feitos caminhamentos
pelo interior da cavidade utilizando Equipamentos de Proteção Individual – EPIs como
macacões, botas, perneiras, meiões, luvas de raspa, capacetes, lanternas de cabeça
e lanternas de mão – também foram utilizadas máquinas fotográcas, prancheta,
papel e caneta para anotações. O reconhecimento da área externa da caverna foi
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 72
feito através do caminhamento, parcelamento e georreferenciamento da área de
entorno. Foi realizado diagnóstico ambiental, de acordo com o proposto por Martins,
2013, de toda a área para delimitar e caracterizar a proposta da RPPN. O diagnóstico
foi apoiado pela identicação de parcelas de solo a se recuperar (MARTINS, 2013)
e na identicação da formação vegetal (MEDEIROS, 2011). Foram utilizados EPIs,
máquinas fotográcas, GPS, prancheta, papel e caneta e facão para abertura de trilha.
De posse de alguns dados, levantam-se dados de um diagnóstico da área em que irá
se propor para a RPPN de acordo com o raio de proteção da cavidade, assim como
identicação os usos do solo da área externa e as formas de recuperação das áreas
impactadas.
Os dados geográcos sobre levantamento de uso e ocupação do solo da Fazenda
Vargem do Lobo, de autoria do engenheiro agrônomo Hélder V. Batista (BATISTA,
2010), foram gentilmente cedidos pelo proprietário, o sr. Luiz Lodi. O levantamento
topográco foi realizado anteriormente por investida pessoal do sr. Luciano Faria,
orientador e coautor deste artigo, sendo precedido da vetorização do mapa obtido
durante a espeleotopograa e cálculo dos parâmetros espeleométricos nos softwares
AutoCAD e Speleoliti 4.4.
3 | DISCUSSÃO E RESULTADOS
Os dados espeleométricos da cavidade encontram-se na tabela abaixo e os
dados das demais cavernas usadas na comparação (enfoques regionais e locais)
foram obtidas por pesquisa no CNC-SBE em Maio de 2014 (Tabela 1):
Tabela 1: Dados Espeleométricos da Lapa da Forquilha
Estes parâmetros espeleométricos demonstram que a cavidade possui grande
área, volume e projeção horizontal, que podem caracterizá-la com uma caverna alta
relevância, de acordo com classicação e comparação com demais cavernas da região.
Para isso, faz-se necessário confrontar estes dados com o de outras cavidades de
enfoque local e regional para obter-se a classicação nal de relevância da cavidade.
O artigo do Decreto 98.881, de 25 de janeiro de 1990 dene que a APA
Carste de Lagoa Santa está situada nos Municípios de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo,
Matozinhos e Funilândia, no Estado de Minas Gerais. Com isso o cruzamento dos
dados obtidos referentes à Lapa da Forquilha será realizado em seu enfoque regional
com as cavidades presentes nos municípios supracitados. Contudo as cavernas
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 73
do município de Funilândia contidas no Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) não
possuem dados espeleométricos calculados, somente estimados, não cabendo utilizá-
las neste estudo.
O cálculo dos dados espeleométricos se valeu do descrito na Instrução Normativa
2/2009 Ministério do Meio Ambiente que preconiza os limites entre as classes de
relevância devem ser estabelecidos levando-se em conta a média (μ) e o desvio padrão
(σ) das cavidades tomadas como referência. Ademais, para efeito de classicação da
relevância, deverão ser considerados baixos os valores menores ou iguais ao limite
inferior que é (x<=[μ σ]). Serão considerados altos os valores maiores ou iguais a
(x>=[μ + σ]). Serão considerados médios valores entre ([μ – σ] < x < [μ + σ]). A Lapa
da Forquilha em seu parâmetro espeleométrico ‘projeção horizontal’ apresenta uma
importância acentuada comparada as cavidades localizadas na APA Carste de Lagoa
Santa. Isto se deu, pois a mesma possui em valor de PH superior ao encontrado no
limite superior + σ) da amostra de 24 cavidades estudadas. Referente à variável
espeleométrica desnível, a Lapa da Forquilha apresenta uma importância signicativa
confrontando-a com as cavidades localizadas na APA Carste de Lagoa Santa. O motivo
desta importância é devido à mesma possuir um desnível entre o limite inferior (μ - σ)
e o limite superior (μ + σ) no conjunto amostral de 24 cavidades.
A denição do âmbito de análise no enfoque local deste estudo baseou-se na
Unidade Geomorfológica do Planalto Residual de Baldim, que compreende toda área
do município. Para a avaliação da importância dos atributos em enfoque local da Lapa
da Forquilha utilizou-se de um universo amostral de 6 cavidades topografadas do
município de Baldim. Em seu parâmetro espeleométrico projeção horizontal, a Lapa
da Forquilha juntamente com a Gruta Sumidouro III apresenta uma importância
acentuada comparada as demais cavidades de Baldim que possuem atributo de
importância signicativa. Isto ocorre devido a mesma possuir em valor de PH superior
ao encontrado no limite superior + σ) da amostra de 6 cavidades estudadas. A
avaliação do atributo desnível no enfoque local confrontando com o valor encontrado
para as demais cavidades de Baldim foi atribuída da seguinte forma. No que tange o
parâmetro espeleométrico desnível a Lapa da Forquilha apresenta uma importância
signicativa confrontando-a com as cavidades localizadas no município de Baldim,
que possuem importância signicativa ou baixa. O motivo desta é devido a mesma
possuir um desnível entre o limite inferior (μ - σ) e o limite superior (μ + σ) na amostra
de 6 cavidades.
Partindo da análise realizada, é possível armar que a Lapa da Forquilha
apresenta variáveis espeleométricas de alta e média importância. É sobejamente
conhecido, como supracitado, que esta cavidade foi visitada por Peter Wilhelm Lund
em 1835 e só por este motivo ela já possuiria uma grande importância histórico-cultural,
entretanto este grau de importância é denido com base no Decreto 6.640/08 e deve
ser analisado e atribuído junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
- IPHAN. Isto faz-se verdade no que tange também aos achados arqueológicos que
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 74
devem ser datados e vericados se pertencem a cultura paleo-ameríndia. Caso sejam,
a relevância nal da cavidade pode ser indicada como de “destacada relevância
histórico-cultural religiosa”.
A Resolução CONAMA N° 347/2004 estabelece que pelo princípio da precaução,
ca denido que o raio mínimo de proteção em torno das cavidades naturais
subterrâneas será de 250 metros. Entretanto o estudo da área de inuência da cavidade
necessitaria de uma análise criteriosa da bioespeleologia epígea e hipógea, sendo
esse fator preponderante na denição desta. Com isso valeu-se da preconização da
Resolução CONAMA N° 347/2004 para a denição da área de proteção da Lapa da
Forquilha.
Figura 3: Buffer de 250m no entorno da Lapa da Forquilha
A gura acima que indica o raio de 250m foi obtido por meio da ferramenta buffer
do ArcGIS e este valeu-se do contorno das paredes internas da cavidade, totalizando
uma área de aproximadamente 28,31 ha, o equivalente a cerca de 1,3% da área total
da fazenda. Entretanto este raio não seria interessante, pois ele excede o limite da
Fazenda Vargem do Lobo (linha alaranjada) burocratizando a instituição da RPPN pois
permearia duas propriedades de proprietários distintos, além de incluir uma estrada e
parte de uma cultura de eucaliptos do proprietário da fazenda. Ademais para a proposição
da área de proteção da cavidade, que, por conseguinte será a área proposta para a
instituição da RPPN, valeu-se da adequação do polígono para dentro da propriedade,
baseando-se na hidrograa perene e intermitente, supercial e subsupercial da área,
sendo estas, em conjunto com as águas de origem pluviométrica, as principais fontes
de recursos alimentares de origem alóctone para a lapa (CULVER, 1982). Manteve-
se a área de 28,31ha obtida no buffer de 250m (Figura 6) e também foram excluídas
áreas previamente ocupadas por outras atividades como culturas de eucaliptos ou
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 75
modicações antrópicas como estradas, cercas etc.
A criação de uma RPPN na região da Lapa da Forquilha estaria condicionada à
recuperação do seu entorno. Considerando os diferentes níveis de degradação do solo
encontrados na região, a área será dividida em 4 parcelas, conforme o mapa acima,
visto que a recuperação será realizada com diferentes técnicas de Bioengenharia,
propostas de acordo com o cenário encontrado em cada parcela. Para tanto faz-se
necessário o diagnóstico das degradações presentes em cada uma das parcelas.
.
Figura 4: Raio de Proteção da Lapa da Forquilha e Área Proposta para a RPPN
A criação de uma RPPN na região da Lapa da Forquilha estaria condicionada à
recuperação do seu entorno. Considerando os diferentes níveis de degradação do solo
encontrados na região, a área será dividida em 4 parcelas, conforme o mapa acima,
visto que a recuperação será realizada com diferentes técnicas de Bioengenharia,
propostas de acordo com o cenário encontrado em cada parcela. Para tanto faz-se
necessário o diagnóstico das degradações presentes em cada uma das parcelas.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 76
Figura 5: Diagnóstico Ambiental em Parcelas na Área de Entorno da Lapa da Forquilha
3.1 Parcela 1
Área onde encontra-se aproximadamente 40% de vegetação nativa, constituída
basicamente por indivíduos próprios do Cerrado e Campo Cerrado, os outros 60%
estão cobertos por vegetação exótica, principalmente por braquiárias. Existe um
cercamento parcial na área, pois esta se encontra bem no limite da propriedade. Esta
foi determinada como uma área a ser recuperada dada a quantidade de vegetação
exótica presente e as erosões encontradas no local, em sua grande maioria em forma
laminar, porém também em forma de sulcos. A área é plana levemente ondulada, não
constando nenhum recurso hídrico no local, não está localizada dentro de nenhuma
APP (Área de Proteção Permanente) ou RL (Reserva Legal), e está localizada ao lado
de um fragmento de vegetação bem preservado.
3.2 Parcela 2
Área onde encontra-se aproximadamente 1% de vegetação nativa dada por
alguns espécimes remanescentes em meio aos outros 99% que estão cobertos por
vegetação exótica, principalmente por braquiárias, por se tratar de uma área usada
anteriormente como pastagem, não existindo assim nenhum cercamento na área. Esta
foi determinada como uma área a ser recuperada dada a quantidade de ora exótica
presente e a eminente compactação do solo ocorrida pela utilização da mesma como
pastagem. A área é plana, não constando nenhum recurso hídrico no local, não está
localizada dentro de nenhuma APP ou RL, e está localizada ao lado de um fragmento
de vegetação bem preservado e em estado regenerativo.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 77
3.3 Parcela 3
Nesta área encontra-se aproximadamente 35% de vegetação nativa, constituída
basicamente por indivíduos próprios do Cerrado e Campo Cerrado, os outros 65% estão
cobertos por vegetação exótica, principalmente por braquiárias, não existindo assim
nenhum cercamento na área. Esta foi determinada como uma área a ser recuperada
dada a quantidade de erosões encontradas no local, essas em forma de sulcos em
um estágio avançado. A área é de relevo levemente ondulado, não constando nenhum
recurso hídrico no local. Esta não está localizada dentro de nenhuma APP (Área
de Proteção Permanente) ou RL (Reserva Legal), e está localizada próximo de um
fragmento de vegetação bem preservado.
3.4 Parcela 4
Área onde encontra-se aproximadamente 30% de vegetação nativa, constituída
basicamente por indivíduos próprios do Cerradão já em estágio Estacional, os outros
70% estão cobertos por vegetação exótica, principalmente por braquiárias, não
existindo assim nenhum cercamento na área. Esta foi determinada como uma área
a ser recuperada dada a quantidade de vegetação exótica presente. A área é plana
levemente ondulada, não constando nenhum recurso hídrico no local. Esta não está
localizada dentro de nenhuma APP (Área de Proteção Permanente) ou RL (Reserva
Legal), e está localizada ao lado de um fragmento de vegetação bem preservado.
3.5 Panorama Geral
Realizando-se uma análise da área total em hectares das parcelas a serem
recuperadas (Parcelas 1, 3 e 4) em comparação a Parcela 2 que já possui um potencial
ambiental que lhe permite compor a área de uma RPPN não valendo-se de técnicas
de recuperação, encontrou-se:
ÁREA TOTAL DAS PARCELAS
Nome da Parcela Área (ha) Percentual sob o Total
Parcelas 1, 3, 4 16,22 57,29%
Parcela 2 12,09 42,71%
Total 28,31 100%
Tabela 2: Comparação das áreas das parcelas à serem recuperadas
Ademais, a partir desta análise foi possível observar que a área à ser recuperada
ultrapassa aos 30% para se recuperar preconizado pelo Decreto N° 5746, 2006.
Com isso vislumbra-se que previamente ao requerimento da RPPN necessitara-
se de recuperar ambientalmente cerca de 27,29% da área degradada (57,29%), o
equivalente a cerca de 7,73 ha em unidades de área.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 78
3.6 Proposição de Medidas para Recuperação das Áreas Degradadas
As primeiras medidas a serem tomadas pelo proprietário para tombamento da
área, no que se referem à preparação da área antes da aplicação das técnicas de
Bioengenharia necessária para a recuperação das áreas degradadas e são comuns a
todas as 4 parcelas, sendo:
Cercamento da área para impedir o acesso de gado e demais animais de
grande porte;
Combate às formigas cortadeiras e pragas;
Sistema de drenagem de águas pluviais;
Envelopamento e enriquecimento do solo com material terroso;
Revestimento vegetal com técnicas de nucleação e modelos sucessionais
(plantio de mudas em linhas preenchidas ora com espécies pioneiras ora
com espécies não pioneiras);
Inserção de mudas de espécies arbóreas nativas por plantio direto;
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfoque deste trabalho foi analisar a viabilidade ambiental da criação de uma
RPPN na Fazenda Vargem do Lobo considerando o apelo ambiental, histórico cultural
e os interesses do proprietário da fazenda balizados pelas diretrizes da legislação
ambiental e espeleológica vigente. Para atingir o objetivo proposto, foi realizado um
estudo de valoração da caverna Lapa da Forquilha que demandou um levantamento
topográco da mesma. Ainda foi realizada a proposição de um perímetro de proteção
para a mesma baseando-se em estudos realizados, e uma análise na legislação
ambiental vigente, para evidenciar os principais direitos e obrigações do proprietário
de uma RPPN.
O estudo de valoração da caverna foi realizado com o intuito de servir de subsídio
aos técnicos do ICMBIO e/ou IEF durante análise da viabilidade de instituir uma RPPN
na Fazenda Vargem do Lobo, seguindo o disposto na Instrução Normativa n° 30/2012.
Para conhecer a importância da cavidade em relação ao patrimônio histórico cultural
de Minas Gerais, deverá ser solicitado um parecer do órgão responsável IPHAN-MG
que complementará os estudos realizados demonstrando a real necessidade de
preservação da caverna natural subterrânea denominada por Lapa da Forquilha.
Durante a análise da legislação ambiental vigente no Estado de Minas Gerais,
foram evidenciados os direitos e obrigações do proprietário de uma RPPN e selecionado
os principais. Dentre os selecionados, ganham destaque o direito de realocação da
área Reserva Legal (RL) da propriedade para a área da RPPN uma vez que possibilita
o proprietário transformar a área, antes selecionada como RL, como área produtiva
para a fazenda sem comprometer a preservação do meio ambiente. Em contra partida,
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 5 79
salienta-se o caráter de perpetuidade que a criação da RPPN exige, como principal
fator considerado como desvantagem neste processo.
Durante a realização deste trabalho enfrentou-se diculdades em relação
à autorização para coleta da fauna cavernícola para análise da bioespeleologia
encontrada na caverna Lapa da Forquilha.
Conclui-se ainda que não basta, como existe, a vontade do proprietário/
empreendedor em tornar possível a criação da Unidade de Conservação, que traria
tantos privilégios à gruta e a todo seu patrimônio. Os gastos deste seriam consideráveis
ao tornar o fato uma realidade.
REFERÊNCIAS
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em Baldim - MG. Baldim, 2010.
BRASIL. Decreto Federal n° 5.746, de 5 de Abril de 2006.Regulamenta o art. 21 da Lei no 9.985, de
18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
Diário Ocial da União, Brasília, DF, 20 abr. 2006.
BRASIL. Decreto Federal n° 6.640, de 7 de Novembro de 2008. Dá nova redação aos arts. 1º, 2º, 3º,
4º e 5° e acrescenta os arts. 5-A e 5-B ao Decreto N° 99.556, de 1° de Outubro de 1990, que dispõe
sobre a proteção de cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional. Diário Ocial da
União, Brasília, DF, 10 nov. 2008.
BRASIL. Decreto Federal N° 98.881, de 25 de Janeiro de 1990. Dispõe sobre a criação de área de
proteção ambiental no Estado de Minas Gerais, e dá outras providências. Diário Ocial da União,
Brasília, DF, 25 Jan. 1990.
BRASIL. Decreto Federal n° 99.556, de 1° de Outubro de 1990. Dispõe sobre a proteção de cavidades
naturais subterrâneas existentes no território nacional, e dá outras providências. Diário Ocial da
União, Brasília, DF, 2 out. 1990.
BRASIL. Instrução Normativa MMA N° 2, de 20 de Agosto de 2009. Dispõe sobre os critérios para
classicação de cavidades naturais subterrâneas de acordo com seu grau de relevância. Diário Ocial
da União, Brasília, DF, 02 ago. 2009.
BRASIL. Instrução Normativa N° 30, de 19 de Setembro de 2012. Estabelece procedimentos
administrativos e técnicos para a execução de compensação espeleológica. Diário Ocial da União,
Brasília, DF, 19 set. 2012.
BRASIL. Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências. Diário Ocial da União, Brasília, DF, 18 jun. 2000.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 347, de 10 de Setembro de 2004. Dispõe sobre a proteção do
patrimônio espeleológico. Diário Ocial da União, Brasília, DF, 13 set. 2004.
CULVER, D.C. 1982. Cave life: evolution and ecology. Harvard University Press, Cambridge. 189p.
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EMBRAPA, Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica. Argissolos Vermelhos.
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IBAMA/NOVA FRIBURGO. Lafarge propõe a criação de proteção à caverna calcária de Pedra Santa.
Disponível em:<http://www.cantagalo.rj.gov.br/index.php/turismonoticias/%20303-lafarge-propoe-
criacao-de-protecao-a-caverna-calcaria-de-pedra-santa>. Acesso em: 2 mar 2014.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa de biomas e vegetação.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/21052004 biomashtml.shtm>.
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ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Proteção a Biodiversidade. Perguntas e Respostas sobre
RPPN. Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/ downloads/
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MARTINS, S. V. Recuperação de Áreas Degradadas: Ações em áreas de preservação permanente,
voçorocas, taludes rodoviários e de mineração. 3ª Ed. Viçosa, MG. Aprenda Fácil, 2013,
MEDEIROS, João de Deus. Guia de campo: vegetação do Cerrado 500 espécies. Brasília: MMA/SBF,
2011. 532 p.: il. color. ; 29 cm. (Série Biodiversidade, 43.
MINAS GERAIS. Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais. Rota Lund. Disponível em:
<http://www.turismo.mg.gov.br/noticias/905-noticias>. Acesso em 24. Mar. 2014.
SALGADO, A. A. R; REZENDE, E. A. Mapeamento de unidades de relevo na média serra do
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SESSEGOLO, G.C.; L. F. SILVA-DA-ROCHA; D. ZAKRZEWSKI. Áreas prioritárias para a conservação
do patrimônio espeleológico do estado do Paraná. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/
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TRAJANO, E.; BICHUETTE, M. E. Introdução. Biologia Subterrânea. São Paulo, SP: Redespeleo
Brasil, 2006. v. 1. 92 p.
As inúmeras facetas da Espeleologia 81
Capítulo 6
VIOLADO O PRIMEIRO REGISTRO DE
SEPULTAMENTO EM URNA FUNERÁRIA NAS
CAVERNAS DA REGIÃO DE GUARANI DE GOIÁS
CAPÍTULO 6
Alfredo Palau Peña
Ecoarqueologia Brasil, Departamento de
Arqueologia
Aparecida de Goiânia- Goiás
Viviane Cristiane Novais Soares
Ecoarqueologia Brasil, Departamento de
Arqueologia
Aparecida de Goiânia- Goiás
RESUMO: O estudo revela e busca analisar os
atos de falta de conhecimento junto ao achado
arqueológico comprometendo o registro do
sepultamento utilizando o espaço caverna,
ainda não registrado para esta região Cárstica
no município de Guarani de Goiás, levando a
consequências negativas para os estudos que
visam a estudar o modus vivendi do grupo
pretéritos que ocuparam essa região.
PALAVRA CHAVE: pré-história, urna funerária,
sistemas cavernícolas.
ABSTRACT: The study reveals and seeks
to analyze the acts of lack of knowledge by
the archaeological nd compromising the
burial registry using the cave space, not yet
registered for this karst region in Goiás Guarani
municipality, leading to negative consequences
for studies aimed at study the modus vivendi of
the past tenses group that occupied this region.
KEY-WORD: prehistory, funeral urn, cave
systems.
1 | INTRODUÇÃO
A retirada da urna funerária por equipes da
Policia Militar e Civil do estado de Goiás, após
o registro da ocorrência por moradores locais,
percebendo que não se tratava de um simples
desova de cadáver e sim um sepultamento
realizado por um grupo étnico que ocupou a
região no passado podendo ser até anterior
ao período colonial entre grupos da tradição
Una, fase Palma. A remoção da urna e dos
ossos levou a perda de contextos do registro
arqueológico, na coleta do material (ossos e
dentes) e descartando outros elementos e até a
destruição do pote “urna funerária”, o que levam
a consequências negativas para os estudos
que visam a estudar o modus vivendi (forma
de vida) e modus operandi (forma de fazer) do
grupo pretéritos que ocuparam essa região.
Partimos da perspectiva de interpretar
o sepultamento como um costume que
culturalmente foi introduzido no decorrer das
gerações, forjando nesse grupo social, parte
de sua identidade. Para Thompson (1998),
Costume é um remanescente do passado; uma
ambiência, mentalidade; que vira cultura; um
hábito, uma diretriz da vida humana, adquirida
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 82
durante início à toda vida, passado principalmente através da transmissão oral.
O potencial do estudo arqueológico não se limita a morte como um fenômeno
físico e humano ou as causas mortis ou circunstâncias em que ela ocorreu, mais sim
complementar com as práticas que envolveram a morte, a prática do funeral, os restos
materiais dos atos praticados, o destino escolhido para o corpo, os vestígios do grupo
social, ou seja a lógica às práticas mortuárias.
O termo prática signica tornar mais claro para o estudioso que são estas o
objeto de estudo imediato, sendo inacessíveis os pensamentos e vontades que não
se manifestaram concretamente em atos, não, pelo menos, do ponto de vista dos
vestígios de cultura material (RIBEIRO, 2007).
Este recorte evidência a importância de otimizar estudos e análises de atividades
e relações humanas e as interações com cavernas, onde estas podem ter sido espaços
escolhidos para os diversos usos desde busca de recursos matérias, faunísticos,
abrigos e espaços simbólicos.
Pode-se entender que a caverna é um sistema territorial com área própria e
denida pelas suas características geográcas – como geologia, microclima, fauna e
ora – e as relações sociais que existem no seu entorno ou dentro dela, principalmente
nas cavernas santuário, facilitam a análise do espaço cavernícola sob a ótica da
territorialidade e relações sociais (BARBOSA, 2013).
Para Santos (2008) um conceito que pode ser aplicado ao uso da caverna
como um espaço social, onde se vivenciam as relações sociais e as interações entre
os diversos ocupantes deste espaço. Assim, o espaço é formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de
ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história
se dá (SANTOS, 2008, p. 62-63).
Assim, conhecer ou estabelecer um modelo preditivo para a ocupação ou
realização de atividades em cavernas por grupos humanos que ocuparam a região
desde o período pré-colonial, de como este espaço a caverna e ou seu entorno foi
escolhido são as expectativas para a contextualização arqueológica desta relação da
caverna como um espaço social.
No entanto com limites impostos pela destruição provocada pelo tempo e
intervenções antrópicas, no nosso caso a remoção da urna e exumação dos ossos
sem metodologia especíca.
Lembramos que a Arqueologia é uma ciência social, assim inferir os
comportamentos humanos e as características socioculturais dos grupos que
produziram cultura material, através de vestígios materiais recuperados (sítios,
artefatos e quaisquer outros traços materiais de atividade cultural e seu contexto),
considerados como vetores de informação (RENFREW & BAHN 1993). O Arqueólogo
busca falar sobre o passado a partir da interpretação da cultura material.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 83
2 | ÁREA DE ESTUDO
A região Cárstica presente no município de Guarani de Goiás, pertence à
província São Domingos um dos mais importantes complexos cavernícolas do Brasil,
abrangendo parte do Nordeste Goiano, Oeste da Bahia e Sul do Tocantins, e ainda pouco
estudado principalmente nos contextos arqueológicos, onde são várias as cavidades
que apresentam algum tipo de registro arqueológico entre os mais reconhecidos são
as representações rupestres com motivos em pintura e ou gravuras e sepultamentos.
A cavidade está localizada nas coordenadas 13°48’15,59555 Lat. e
46°33’44,34153’’ Long., em uma altitude de 463 m. A vegetação do entorno é de mata
estacional decidual. Trata-se de uma pequena caverna com um desenvolvimento
linear de 22,76 m e projeção horizontal 9,40 m e desnível de 1,0 m, a meia encosta
de um pequeno morro, tendo uma entrada principal fendicular horizontal parcialmente
obstruída por blocos abatidos impedindo um acesso direto, orientada para 340°N/W,
em uma área de abrigo com linha de gotejamento 3 m, onde na sua base abaixo de
uma laje com mergulho horizontal está o sepultamento (Figura 1). A caverna apresenta
incidência de luz com o predomínio da Zona Fótica e Zona de Penumbra, pela boca e
uma chaminé, sem uxo hídrico no seu interior.
Figura 1 – Entrada principal da caverna com a visualização da localização do sepultamento.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 84
3 | METODOLOGIA
Aqui descrevemos a metodologia aplicada ao reconhecimento do sítio como
sepultamento e a caracterização da cavidade.
No mês de janeiro de 2014, foi realizado uma campanha de reconhecimento a
partir de uma informação da comunidade que tinham encontrado um pote com ossos
em uma caverna próximo ao povoado São Pedro no município de Guarani de Goiás.
Para a veracidade da ocorrência e a conrmação do encontro do local deslocamos
uma equipe multidisciplinar para a sede do município e o povoado, onde foram
realizadas várias entrevistas junto aos moradores locais.
para realizar a caracterização da cavidade e seus componentes do entorno
utilizamos um roteiro metodológico com técnicas de prospecção espeleológicas e
arqueológicas no sentido de registrar o máximo de informações dos dois contextos e
ambientais, e com uma documentação fotográca de todos os procedimentos.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
As datas mais antigas que comprovam a presença do homem em Goiás estão
compreendidas entre 10.750 a 9.000 AP (ATAÍDES, 1998), que correspondem à fase
Paranaíba da tradição Itaparica (SCHMITZ, 1980), no entanto é pouco o conhecimento
sobre seus sepultamentos. Estes grupos habitavam e ou utilizavam abrigos sob rocha,
muitos em entradas de cavernas, vivendo praticamente da caça, pesca e coleta de
vegetais, denominados caçadores coletores, até as ocupações mais recentes de
horticultores e ceramistas do período pré-colonial e colonial, onde são mais conhecidos
seus sepultamentos.
Os registros do comportamento de sepultamentos humanos em cavernas são
ainda mais tardios que 11.000 anos, onde os Neandertais já realizavam práticas
funerárias com seus entes mortos 30000 anos atrás (LEROI-GOURHAN, 1983).
No Brasil são bastante as ocorrências de sepultamentos em abrigos e cavernas. No
Planalto Central as mais conhecidas são de Serranópolis GO-JA-01 e Palestina de
Goiás GO-CP-04 (Sítio Buriti) (SCHMITZ et al 1989; SCHMITZ et al 1986), Serra da
Mesa GO-Ni-176 Abrigo Pedra Talhada e GO-NI-217 Abrigo Tuvira (MARTINS, 2005).
Já em Unai-MG na Gruta do Gentil, com o achado entre outros indivíduos uma criança
parcialmente mumicada, com um conjunto de elementos da cultura material.
Na bacia do rio Paranã onde estão inseridas a maioria das cavidades da província
São Domingos e principalmente nas drenagens do rio Palma onde foram identicadas
ocupações em grutas por grupos da fase Palma da tradição Una, onde sua cerâmica é
desprovida de decoração, de contorno simples ou inetido com duas datas para esta
fase 720 anos d.C. e outra 1210 anos d.C. ambas pré-coloniais (ATAÍDES, 1989).
O fato de não termos o material cultural, no caso, o vasilhame cerâmico utilizado
para o sepultamento por ter sido levado junto aos restos ósseos e dentes, diculta a
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 85
análise morfológicas e tecnológicas desse testemunho cerâmico “urna” e concluir sua
contextualização, haja visto que na região temos o registro de sítios arqueológicos das
tradições Una e Tupiguarani, onde esta última muitas vezes está associada a sítios de
outras tradições com interações culturais (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 1996, PONTIM,
2005).
A tradição Una foi encontrada ocupando abrigos e grutas dos estados de Rio
de Janeiro, Espirito Santo, Minas Gerais, Goiás (PROUS, 1992) e Bahia (ATAÍDES,
1989). Em Goiás, esta tradição é representada pelas fases Jataí no sudoeste goiano e
Palma no nordeste goiano (ATAÍDES, 1989). Os mais antigos indícios da tradição Una
são os registrados na Lapa do Gentio e Foice, próximo a Unai-MG, com datação 3490
BP e 2600 BP respectivamente (PROUS, 1992).
Assim, não podemos com certeza armar se o sepultamento é de um representante
da fase Palma ou da tradição Tupiguarani, fase São Domingos que também ocupou
o oeste da Serra Geral na vertente do rio Paranã, com registros arqueológicos nos
municípios de São Domingos e Monte Alegre de Goiás, onde seus sepultamentos eram
em urnas de cerâmica decorada se tratando de uma fase mais recente provavelmente
posterior à descoberta do Brasil.
No município de São Domingos são dois sítios com cerâmica Tupiguarani da fase
São Domingos (sítio GO-PA-64 e GO-PA-67), com sepultamentos em urnas funerárias,
exumando durante os estudos na década de 1980, com crânios e ossos longos. Os
vasilhames não apresentavam decoração (SCHMITZ et al, 1996).
Também sem maiores estudos e até a escavação do sítio não podemos relacionar
este como multifuncional para várias atividades da vida cotidiana, até o momento não
houve o registro de outros materiais ou até mesmo representações rupestres, que
também são conhecidas na região em paredões calcários já estudadas. Assim como
também a conrmação de se tratar de um único sepultamento.
análise do registro fotográco realizado pelo Sr. Manuel Frederico Moreira,
proprietário da fazenda Forquilha, que encontrou a urna com os restos ósseos (Figura
2), pode se inferir de que representa um enterramento secundário, comum nos grupos
da tradição Una e Tupigurani. Foram identicadas parte do crânio, 6 diáses e 8 dentes,
não sendo identicados ossos da mandíbula ou epíses. Mas lembramos que o Sr.
Manuel não tendo conhecimento de técnicas e de vestígios em uma escavação pode ter
descartado outros componentes ósseos e até mesmo vestígios do acompanhamento
funerário. Segundo Wesolosky (2000), acompanhamento funerário é tudo aquilo que
parece ter sido colocado intencionalmente na sepultura junto ao corpo. O registro
fotográco também não nos permitiu concluir nenhum tipo de padrão quanto a posição
e orientação do corpo.
O crânio mesmo que presente apresenta alto grau de decomposição com a
perda das paredes da região temporal e parietal por vários fatores tafonômicos e
provavelmente na própria ação da retirada. Quanto aos ossos longos podemos
identicar membros parciais.
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 86
A cova cavada não era muito profunda, onde se acopla a urna que estava
enterrada sem tampa. No entanto é percebido um cinturão de pedras limitando a borda
do vasilhame (Figura 3).
Figura 2 – Foto da urna funerária com os restos ósseos (cedida por Manuel Frederico Moreira).
Figura 3 – Visualização de parte da urna (fragmento da base e bojo) onde se vê um contorno de
pequenas rochas alinhadas fazendo um cinturão (Peña, 2014).
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coleta dos ossos e dentes humanos encontrados dentro da urna funerária
sem a menor preocupação com a contaminação, provavelmente, eliminaram as
probabilidades de realizar uma datação radiocarbônica dos achados, como também
a perda de informações para entender o próprio contexto fúnebre desse grupo que
ocupou a região no passado. No entanto ainda pode-se tentar elucidar alguns contextos
As inúmeras facetas da Espeleologia Capítulo 6 87
aplicados a tafonomia, doenças, idade, gênero entre outras associações.
Nossa busca agora está em resgatar estes restos de ossos e dentes que se
encontram na polícia técnica-cientíca do estado de Goiás para adentar nos possíveis
contextos após análise do material, assim como confrontar com as informações que
ainda podem ser levantadas e questionadas na caverna e seu entorno imediato.
Como também dar importância à capacitação e treinamento dos agentes dos
órgãos competentes que atuam ou podem em circunstâncias especícas atuarem
com achados arqueológicos principalmente de sepultamentos, através de cursos
direcionados à conservação e preservação dos vestígios arqueológicos.
para as populações locais realizar uma educação patrimonial enfatizando a
importância destas ocorrências arqueológicas e sua associação com as cavernas,
haja visto a predominância destas na região do município de Guarani de Goiás.
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CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 32, 2013. Barreiras. Anais... Campinas: SBE,
2013. p.157-165. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/anais32cbe/32cbe_157-165.pdf>.
Acesso em: data do acesso 08/12/2014.
LEROI-GOURHAN, A. Os caçadores da pré-história. São Paulo: Perspectivas do Homem/Edições
70, 1983.
MARTINS, D. C. A Arqueologia da Serra da Mesa. Revista do Museu Antropológico, v.8, N.1p.85-
118. 2005.
PONTIN, R.L. Serra da Mesa: Conguração dos grupos ceramistas do norte goiano. Revista do
Museu Antropológico, v.8, N.1p.37-50. 2005.
RENFREW, C.; BAHN, P. Arqueología, teorias, métodos y práctica. Madrid:Ediciones Akal, 1993.
RIBEIRO, M.S. Arqueologia das práticas mortuárias: uma abordagem historiográca. São Paulo:
Alameda, 2007.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2008.
SCHMITZ, I.P. BARBOSA, A.S., JACOBUS,A.L., RIBEIRO, M.B. Arqueologia nos cerrados do
Brasil Central: Serranópolis I. Pesquisas, Antropologia nº44, 1989.
SCHMITZ, I.P. BARBOSA, A.S., MIRANDA, A.F., RIBEIRO, M.B., BARBOSA. M.O. Arqueologia
nos cerrados do Brasil Central: Sudoeste da Bahia e Leste de Goiás – O Projeto Serra Geral.
Pesquisas, Antropologia nº 52, 1996.
THOMPSON, E. P (1998). Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras.
WESOLOSKY, V. Práticas Funerárias: Pré-História do Litoral de São Paulo In: TENÓRIO, M. C.
(Org.) Pré-história da terra brasilis. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, p.189-195. 1999.
As inúmeras facetas da Espeleologia 88
Sobre a organizadora
SOBRE A ORGANIZADORA
INGRID APARECIDA GOMES Bacharel em Geograa pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (2008), Mestre em Geograa pelo Programa de Pós-Graduação Mestrado em Gestão
do Território da Universidade Estadual de Ponta Grossa (2011). Atualmente é Doutoranda em
Geograa pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Foi professora colaborada na UEPG, lecionando para os cursos de Geograa, Engenharia
Civil, Agronomia, Biologia e Química Tecnológica. Também atuou como docente no Centro de
Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE), lecionando para os cursos de Engenharia
Civil e Arquitetura e Urbanismo. Participou de projetos de pesquisas nestas duas instituições e
orientou diversos trabalhos de conclusão de curso. Possui experiência na área de Geociências
com ênfase em Geoprocessamento, Geotecnologia, Geologia, Topograa e Hidrologia.
Article
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Este trabalho visa descrever um sistema cárstico em rochas siliciclásticas da Formação Ponta Grossa, no perímetro urbano do município de Chapada dos Guimarães, além de realizar uma análise da suscetibilidade ao colapso na área de estudo. Foi utilizado como método de estudo o processamento de imagens de satélites disponível no Google Earth Pro® no ArcGIS® e descrição e mapeamento das feições em campo. Foram identificados condutos, ressurgências de água e dolinas, sendo que duas delas ocorreram próximas a residências e duas em uma área sem ocupação, com vegetação nativa. As dolinas 1, 2 e 4 possivelmente estão interligadas por dois condutos, que somados possuem a extensão próxima de 400m, sendo que as duas primeiras estão situadas no perímetro de ocupação urbana. Próximo à dolina 1, é possível observar em residências rachaduras formadas pela rotação em bloco do cômodo devido ao recalque causado pela cavidade. As dolinas 1 e 2 colapsaram nos últimos 5 anos e foram preenchidas por aterro pela prefeitura municipal. As dolinas 3 e 4 e as duas ressurgências de água estão situadas em área sem ocupação residencial, e que ainda possui vegetação preservada. O conjunto de processos relacionados ao desenvolvimento das feições foi debatido ao longo do trabalho e relacionado com as ações e medidas previstas na política de Proteção e Defesa Civil. Os resultados sugerem uma relação entre o desenvolvimento do sistema cárstico e a formação do latossolo e demonstram a necessidade de realizar mais estudos para compreender essa evolução. O trabalho propõe um mapa de suscetibilidade ao colapso, considerando a densidade de feições cársticas e o possível trajeto dos condutos que as interligam. Ainda, o ordenamento territorial da área deve considerar a fragilidade do sistema cárstico e suscetibilidade a colapsos.
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Feições cársticas desenvolvidas em rochas não carbonáticas têm chamado a atenção de pesquisadores em todo o mundo. Este é o caso das rochas silicicláticas, que, até recentemente, por serem consideradas pouco solúveis, não eram incluídas entre as litologias passíveis de formação de relevos cársticos. No entanto, pesquisas em áreas quartzíticas e areníticas têm apontado para a ocorrência de feições com características até então restritas a substratos rochosos de fácil dissolução química. Este estudo busca apresentar e discutir os fatores envolvidos na elaboração dessas formas de relevo na região de Itambé do Mato Dentro, no Espinhaço Meridional, um conjunto montanhoso localizado no estado de Minas Gerais. Para isto, utilizou metodologia com base na quantificação desses fatores, bem como em sua avaliação qualitativa, com o objetivo de comparar os fatores responsáveis pelo desenvolvimento das cavernas descritas com outros apontados pela literatura, como é o caso do gradiente hidráulico. Resultados mostram que, na área, este não apresenta a mesma importância verificada em outras áreas de relevo cárstico em rochas siliciclásticas. As análises também demonstraram a importância da composição mineralógica das rochas na aceleração dos processos de intemperismo químico e físico, e sua importância para o desenvolvimento das feições cársticas na área.
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As superfícies de aplainamento sempre constituíram um dos temas mais estudados e controversos da ciência geomorfológica. Diversos modelos foram concebidos para explicar sua gênese e evolução. Entretanto, muitos desses modelos encontram-se parcialmente ultrapassados pelos novos conhecimentos geomorfológicos. O presente estudo demonstra, através de revisão bibliográfica, que as superfícies de aplainamento possuem origem poligenética e que a justaposição de teorias constitui o caminho mais seguro para a compreensão desse fenômeno.
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RESUMO A gênese das superfícies de aplainamento sempre constituiu assunto polêmico no âmbito da geomorfologia. Tal aspecto é fruto da diversidade de teorias que tentam explicar como os processos erosivos podem, ao longo do tempo geológico/geomorfológico, arrasar o relevo de amplas regiões, criando superfícies planas ou quase planas, independente do substrato ou da estrutura das camadas. No entanto, apesar da grande variedade de teorias que tentam explicar a gênese destas superfícies, estas podem ser consideradas em dois grupos: (i) Climáticos e; (ii) Estruturais. Este estudo realiza uma análise dedutiva e preliminar da aplicabilidade de modelos teóricos na explicação da gênese da paisagem de Milagres/BA. Neste contexo, o modelo que melhor explica a formação de tal paisagem é a teoria do aplainamento climático. Palavras-Chave: Superfície de Aplainamento, Teorias Geomorfológicas, Evolução da Paisagem, Semi-Árido. ABSTRACT The genesis of the planation surfaces has always been controversial subject in the geomorphology. This aspect is the result of the diversity of theories that attempt to explain how the erosion processes can; over time geological / geomorphologic, relief raze large areas, creating planation surfaces, independent of the substrate or the structure. However, despite the great variety of theories that attempt to explain the genesis of these surfaces, the theoretical models can be included into two major groups: (i) Climate and (ii) Structural. This study conducts a preliminary analysis to explain the genesis of the landscape of Milagres/BA. In this context, the best model to explain the formation of such landscape is the Climatic Planation Theory. A gênese das superfícies de aplainamento sempre constituiu assunto polêmico no âmbito da geomorfologia (ADAMS, 1976; SALGADO, 2007). Tal polêmica é fruto da diversidade de teorias que tentam explicar como os processos erosivos podem, ao longo do tempo geológico/geomorfológico, arrasar o relevo de amplas regiões, criando superfícies planas ou quase planas, independente do substrato ou da estrutura das camadas. No entanto, apesar da grande variedade de teorias que tentam explicar a gênese destas superfícies, é possível agrupar os modelos teóricos em dois grandes grupos (SALGADO, 2007): (i) Climáticos e; (ii) Estruturais. Dentre os modelos que podem ser classificados como climáticos, no Brasil, merece destaque aquele proposto por King (1953). Isto ocorreu em razão de que este pesquisador, que é de origem sul-africana, esteve no Brasil em 1956 e estudou o relevo da porção oriental do país. Neste estudo, ele identificou cinco ciclos de aplainamento (KING, 1956): (i)
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Regarding the studied historic references there are sufficient proofs that during the 1st January 1926 earthquake (M=5.6) in Postojna cave system (Sala del Candore or Pralnica) a stalagmite column of 1 meter in diameter collapsed. This is a not so common event in karst caves and took place due to the close vicinity of the epicentre located at the SE end of Idrija Fault or at the Javorniki Mountain. During earthquakes in karst caves brontides are generally heard, but ground movement is rarely felt. Only strong and close earthquakes can be felt as ground shaking or waving inside the caves also, withsome possible collapses as well.
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Este artigo trata das indústrias líticas encontradas no Planalto Central do Brasil, analisadas com base na tecnologia. Enfoca-se a possibilidade de perceber sua evolução técnica (de acordo com o conceito elaborado por Simondon). Utiliza-se como exemplo o material encontrado no Vale do Rio Manso (MT).