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Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reflexões teóricas e apontamentos para futuras pesquisas

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Abstract

O objetivo deste artigo é contribuir com o entendimento do processo das políticas públicas a partir da sistematização de seus principais construtos, apresentando reflexões teóricas e apontamentos para uma agenda de pesquisa. Optou-se pela revisão bibliográfica de 3 modelos teóricos conhecidos na literatura, múltiplos fluxos, coalizões de advocacia e equilíbrio pontuado, que vêm sendo cada vez mais aplicados nas pesquisas nacionais. Em comum, consideram que o processo das políticas públicas é resultado da interação de diversas variáveis, como instituições, atores, ideias e crenças, assumindo que a política pública seria resultado dessas interações ao longo do tempo. Buscou-se investigar como esses modelos teóricos compreendem os construtos mudança versus estabilidade e capacidade de influência dos atores. A análise empreendida demonstrou que os modelos veem o processo das políticas públicas marcado pela dicotomia "mudança" versus "estabilidade" e concentram-se em explicar a mudança, embora cada um tenha seu entendimento específico sobre ela. A capacidade de influência dos atores é entendida ora como consequência direta dos recursos institucionais, ora como consequência da capacidade de ação dos atores. A principal contribuição deste artigo consiste em reflexões teóricas e apontamentos para futuras pesquisas, colaborando com a agenda em curso no Brasil, que visa à construção de instrumentos teóricos e metodológicos para a análise de políticas públicas. Palavras-chave: Processo de políticas públicas. Modelos de análise de políticas públicas. Múltiplos fluxos. Coalizões de advocacia. Equilíbrio pontuado.
444
444-455
Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018.
Processo das políticas públicas: revisão de literatura,
reexões teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
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Resumo
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Proceso de las Políticas Públicas: revisión de la literatura, reexiones teóricas e indicaciones para investiga-
ciones futuras
Resumen
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445 Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018. 445-455
Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
INTRODUÇÃO
As polícas públicas, como campo do conhecimento, têm sua origem na ciência políca americana e remonta aos estudos da
década de 1950 (MELO, 1999). Não há consenso entre os pesquisadores acerca do conceito de polícas públicas. O que
são variadas denições, desde as clássicas advindas da ciência políca até as mais recentes. A armação de Lowi (1964) de
que a políca pública cria a políca levou ao entendimento de que a políca pública emerge de um processo de disputas em
disntas arenas decisórias. Denições recentes ilustram esse caráter políco, ao considerar a políca pública além de uma
decisão governamental, ao passo que também pode decorrer de decisões e ações de outros atores, como a sociedade civil e
o mercado (HOWLETT, RAMESH e PERL, 2013; RAMOS e SCHABBACH, 2012), sendo inuenciada por ideologias, interesses e
necessidades de vários atores, sejam estes formais (aqueles que atuam diretamente nas arenas polícas instucionalizadas,
como o Poder Execuvo, o Poder Legislavo, o Poder Judiciário e os pardos polícos) ou informais (aqueles que atuam na
esfera da sociedade civil) (SILVA e BASSI, 2012; SECCHI, 2014).
Nas décadas de 1970 e 1980, a políca pública começou a tomar forma como ciência nos Estados Unidos da América (EUA)
a parr do desenvolvimento de modelos de análise que compreendiam as polícas públicas segundo etapas sequenciais (ou
estágios). Normalmente, tais modelos consideravam que a políca pública incluía as fases de formação da agenda, formulação
da políca, implementação e avaliação (SECCHI, 2014). Entretanto, eles mesmos foram alvo de crícas, por não viabilizar a
compreensão de relações causais, mostrando-se imprecisos do ponto de vista descrivo e subvalorizando o papel da análise
e do aprendizado para as polícas públicas (SABATIER, 2007). Surgiram, então, a parr dos anos 1980-90, estudiosos que
procuraram compreender a políca pública invesgando 6 elementos-chave (atores, instuições, redes/subsistemas, ideias/
crenças, fatores contextuais e eventos) que interagem no que cou conhecido como policy process (JOHN, 2003; CAIRNEY e
HEIKKILA, 2014).
O conceito de processo de polícas públicas (policy process) traz a ideia de que as polícas públicas são moldadas em todas
as suas fases por diferentes pos de atores e instuições, os atores podem estabelecer relações (redes formalizadas ou não)
de acordo com suas crenças/interesses na defesa de uma ideia, sendo suas ações afetadas pelo contexto em que operam
e inuenciadas por eventos externos. Assim, analisar o processo de polícas públicas signica compreender como esses 6
fatores interagem e inuenciam a trajetória das polícas públicas ao longo de suas fases ou etapas. Nesse sendo, Weible
e Carter (2017, p. 27) armam que estudar o processo de polícas públicas signica analisar as “interações que ocorrem ao
longo do tempo entre polícas públicas e atores, eventos, contextos e resultados”.
Uma gama de modelos teóricos tem sido desenvolvida com o objevo de proporcionar explicações sobre os diversos
aspectos do processo das polícas públicas (WEIBLE e CARTER, 2017). Dentre esses modelos se destacam os consagrados
na literatura internacional (PETRIDOU, 2014;WEIBLE e CARTER, 2017) e que têm sido aplicados à realidade brasileira com
maior frequência (BRASIL e CAPELLA, 2016; CAPELLA, SOARES e BRASIL, 2014): o modelo de múlplos uxos (mulple
streams), proposto por John Kingdon em 1984, o modelo de coalizões de advocacia (advocacy coalions framework),
proposto por Paul Sabaer e Jekins-Smith em 1993 (revisado e ampliado pelos autores em 1999), e o modelo de equilíbrio
pontuado (punctuated equilibrium), elaborado por Frank Baumgartner e Brian Jones em 1993. Em comum, esses três
modelos entendem o processo das polícas públicas, como complexo, instável, e sujeito a relações de poder entre
diversos atores. Além disso, incluem importantes variáveis, como as ideias, a mídia e a opinião pública, considerando-as
importantes inuências na consolidação de uma políca. Talvez por sua amplitude e suas possibilidades de adequação à
análise de diferentes pos de políca pública, tornaram-se instrumentos atraentes para analisar o processo de construção
de diferentes polícas e em diferentes realidades.
Embora sejam semelhantes em muitos pontos, cada um possui objevos analícos diversos. O modelo de Kingdon enfoca
como determinado tema ascende à agenda governamental; o modelo de Sabaer e Smith busca compreender como são
formados arranjos entre atores (coalizões) nos processos decisórios e como estes mudam ao longo do tempo; já o modelo
de Baumgartner e Jones procura explicar os momentos de mudança abrupta pelos quais passam a maior parte das polícas
públicas. Como argumentam Cainey e Heikkila (2014), tais modelos foram desenvolvidos paralela e independentemente e
os pesquisadores não apresentaram uma preocupação inicial com a linguagem comum e com a possibilidade de comparação
entre eles. Tais caracteríscas não tornam a comparação inviável, pelo contrário, reforçam a importância de uma revisão
sistemáca (CAINEY e HEIKKILA, 2014).
446 Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018. 446-455
Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
Nesse sendo, o objevo deste argo é sistemazar os construtos (mudança versus estabilidade e a capacidade de inuência
dos atores1), que estão presentes de diferentes formas nos modelos teóricos supracitados. Para a consecução do objevo
proposto, empreendemos uma revisão de literatura dos 3 modelos em questão, com vistas a idencar: 1) como cada modelo
entende mudança e estabilidade do processo das polícas públicas e quais são os objevos explicavos nessas dimensões;
2) o entendimento sobre os fatores que compõem a capacidade de inuência dos atores.
A escolha dos construtos mudança/estabilidade e a capacidade de inuência dos atores jusca-se pelo fato de que um
dos grandes temas dos estudiosos do processo de polícas públicas, segundo Weible e Carter (2017), é a invesgação do
engajamento e da inuência de determinados atores e grupos polícos, uma vez que se entende que os atores competem para
inuenciar a políca pública direta ou indiretamente, “visando [a] inuenciar os resultados de tomada de decisão; mudando
as regras que estruturam o governo, muitas vezes através da criação, alteração e eliminação de locais de tomada de decisão;
ou a parr da eleição de pessoas em cargos ociais” (WEIBLE e CARTER, 2017, p. 28). Outra grande temáca de pesquisa
apontada por esses autores é a mudança do processo, impulsionada pelo trabalho de Baumgartner e Jones (1993). Desde sua
publicação até os dias atuais, uma quandade considerável de estudos se ocupou de compreender os padrões de mudança
da políca no espaço e no tempo (WEIBLE e CARTER, 2017). Portanto, essas duas dimensões (capacidade de inuência e
mudança/estabilidade), presentes de diferentes formas em cada modelo, pode constuir unidades de comparação entre eles.
Ao pensar no processo de polícas públicas como algo constuído por atores, instuições, redes/subsistemas, ideias/crenças,
fatores contextuais e eventos, pode-se compreender a capacidade de inuência dos atores e a mudança/estabilidade como
produtos da interação entre tais elementos. Vale destacar que cada modelo enfaza alguns elementos em detrimento de
outros em suas explicações sobre cada uma dessas dimensões de análise.
A relevância deste argo consiste em sistemazar esses grandes temas de estudo, a m de aprofundar o entendimento do
processo de polícas públicas, especialmente dos produtos da interação entre seus elementos-chave, de modo a contribuir
para apresentar reexões teóricas e possíveis direcionamentos de uma futura agenda de pesquisa, com o intuito de pensar
em outros instrumentos teóricos e/ou novas abordagens de análise, especialmente em um momento de “mobilização da
comunidade de pesquisadores não apenas no sendo da invesgação de polícas públicas, mas também com o desenvolvimento
de abordagens teóricas e metodológicas” (BRASIL e CAPELLA, 2016, p. 86).
A seguir, descrevemos cada um dos modelos teóricos analisados.
O MODELO DE COALIZÕES DE ADVOCACIA
Esse modelo foi desenvolvido com a clara preocupação de proporcionar uma alternava para os modelos de análise de polícas
públicas segundo estágios que, de acordo com seus idealizadores, careceriam de robustez conceitual para a construção de
hipóteses causais empiricamente testáveis (WEIBLE, SABATIER e MCQUEEN, 2009). O modelo de coalizões de advocacia
(advocacy coalions framework), ao enfazar o papel de valores e ideias, consubstanciados nas crenças das coalizões de
defesa, busca construir uma visão geral sobre o funcionamento do subsistema de polícas públicas.
O processo políco é caracterizado por um sistema aberto, sujeito a trocas com o ambiente e cuja unidade de análise primordial
seria o subsistema de polícas públicas, composto por atores diversicados avamente preocupados e envolvidos com um
problema ou questão políca (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999).
Externamente ao subsistema de polícas públicas haveria fatores estáveis bastante diceis de alterar, que constrangeriam a
ação dos atores no interior do subsistema. Tais fatores seriam: os atributos básicos da área do problema, a distribuição dos
recursos naturais, valores socioculturais e estrutura social e a estrutura de regras básicas do sistema políco (SABATIER e
JENKINS-SMITH, 1999).

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Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
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Ricardo Corrêa Gomes
Os atores que compõem os subsistemas, seriam orientados pelo comparlhamento de crenças sobre determinada temáca, na
tentava de inuenciar decisões sobre uma políca. As coalizões tenderiam a ter interesses diferenciados, ora complementares,
ora excludentes, e apresentariam elevado grau de coordenação de suas avidades, na tentava de levar adiante suas propostas
de intervenção em determinada políca pública (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999). As decisões sobre uma políca pública
resultariam do conito estabelecido entre coalizões que contribuiriam para o desenvolvimento de constrangimentos e/ou
esmulos para a adoção ou mudança em determinada políca pública (SABATIER, 1999).
O modelo busca explicar os momentos de mudança, estabelecendo hipóteses sobre as condições necessárias para que
ocorram. Segundo Sabaer e Jenkins-Smith (1999), a mudança pode ocorrer devido a fatores internos ao subsistema e
externos a este. Os fatores externos são: 1) parâmetros relavamente estáveis; 2) estruturas de oportunidades das coalizões;
e 3) perturbações de maior vulto.
Os parâmetros estáveis são os atributos básicos do problema – distribuição dos recursos naturais, valores socioculturais e
estrutura social e constucional –, que mudam pouco em um período de 10 anos, recomendado pelos autores para a análise.
As estruturas de oportunidades das coalizões são as caracteríscas especícas do sistema políco que fornecem maior ou
menor oportunidade de atuação das coalizões, dependendo de suas regras. As estruturas de oportunidades são inuenciadas
pelos parâmetros relavamente estáveis do sistema. E, nalmente, as perturbações de maior vulto constuem-se de mudanças
em condições socioeconômicas, mudança no regime políco, impacto das decisões em outros subsistemas e acontecimentos
de força maior, como desastres, por exemplo.
Os fatores internos que podem ocasionar a mudança, são: 1) choques internos; 2) acordos negociados; e 3) o aprendizado
políco construído pela interação dos atores no subsistema ao longo do tempo seriam responsáveis por mudanças no processo
de formulação e implementação de polícas públicas (SABATIER e WEIBLE, 2007).
Os choques internos são entendidos como perturbações de maior vulto, que impactam as crenças da coalizão dominante,
podendo, portanto, causar a mudança do entendimento acerca de um problema e de sua condução. Os acordos negociados
também são apontados como caminho para a mudança, quando não há choques internos ou externos ao subsistema, porém,
quando há situações de impasse. O processo de aprendizado políco seria uma consequência do processo de negociação
entre os membros de várias coalizões, que agem buscando melhor entendimento da realidade para aprimorar seus objevos
polícos (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999). Esse processo favoreceria o acúmulo de conhecimento sobre caracteríscas de
um problema e fatores que o afetam, promovendo a avaliação das alternavas adotadas e impactando a adoção de mudanças
em determinadas polícas públicas.
O MODELO DE MÚLTIPLOS FLUXOS
Da mesma forma que o modelo de coalizões de advocacia, esse modelo também surgiu com o objevo de proporcionar uma
explicação mais abrangente do processo de formulação de polícas públicas, em especial a fase de construção da agenda
governamental, dando ênfase ao papel do empreendedor de polícas, rejeitando as representações racionais e lineares do
modelo sequencial ou de estágios (WEIBLE e CARTER, 2017). Para Kingdon (2010), o processo de formulação da agenda é
altamente compevo, do qual parcipam diferentes agentes, e as mudanças na agenda ocorrem quando da convergência
de três uxos, que têm uma dinâmica própria e caminham de modo relavamente independente: o uxo políco (polics
stream), o uxo de soluções (policy stream) e o uxo de problemas (problem stream).
Para que se compreenda o mecanismo subjacente à mudança na agenda, mostra-se necessário compreender primeiro o
uxo de problemas. Nesse sendo, o autor aponta a importância de compreender a diferença do que ele denomina questões
(condions) de problemas. Uma questão é uma situação social percebida, mas que não necessariamente desperta uma ação
em contraparda. Esta apenas se congura como problema quando os formuladores acreditarem que devem agir sobre ela
(KINGDON, 2010).
O segundo uxo, de soluções, “ocorre sem estar necessariamente relacionado à percepção do problema” (CALMON e
MARCHESINI, 2007, p. 8). As alternavas são geradas nas policy communies e aquelas que se mostrem viáveis do ponto de
vista técnico e que apresentem custos razoáveis passam a ser difundidas, não só para as comunidades polícas, mas também
para o público em geral, construindo progressivamente a aceitação da ideia (KINGDON, 2010).
448 Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018. 448-455
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O terceiro uxo, o políco, é composto por elementos como: a opinião pública, grupos de pressão, resultados eleitorais,
distribuições pardárias ou ideológicas no Congresso e mudanças na administração (KINGDON, 2010). Nesse uxo, 3 elementos
são inuentes sobre a agenda governamental: o “humornacional (naonal moodino), as forças polícas organizadas e as
mudanças dentro do próprio governo. O humor nacional, “cria uma espécie de ‘solo férl’ para algumas ideias germinarem”
(CAPELLA, 2007, p. 29). Assim, o humor favorável pode incenvar a promoção de algumas questões e, ao mesmo tempo,
desesmular a promoção de outras (CAPELLA, 2007).
Os 3 uxos mencionados têm sua dinâmica própria e caminham com relava independência e, por vezes, convergem e geram
uma oportunidade de mudança na agenda, a qual Kingdon denomina janela de oportunidade (windows opportunity), que
constui momentos transitórios, podendo ocorrer a abertura de “janelas” em determinados momentos, bem como seu
fechamento em outros (KINGDON, 2010).
Entretanto, para que ocorra o encontro dos 3 uxos, a gura do empreendedor de polícas (policy entrepreneur) é fundamental,
pois sem ele a união entre os uxos pode não ocorrer. Isso porque tais indivíduos atuam “unindo soluções a problemas;
propostas a momentos polícos; eventos polícos a problemas” (CAPELLA, 2007, p. 31). Geralmente, são especialistas em
determinada questão e são hábeis em representar ideias de outros indivíduos ou grupos ou, ainda, podem desfrutar de uma
posição de autoridade dentro do processo decisório, o que proporciona recepvidade às suas ideias (CAPELLA, 2007). A grande
habilidade desse po de ator é perceber o momento oportuno e agir. Eles investem seus recursos na defesa de propostas,
com vistas à obtenção de futuros benecios. Assim, o empreendedor tem papel central na mudança políca (KINGDON,
2010; CAPELLA, 2016).
Além da dinâmica dos uxos polícos, os atores envolvidos no processo também são determinantes para as mudanças na
agenda. Kingdon (2010) diferencia os atores inuentes na denição da agenda governamental daqueles inuentes apenas na
denição de alternavas. Os atores governamentais (a “administração”, os servidores de carreira, os deputados e senadores e
seus assessores) têm mais recursos para interferir na formulação das polícas públicas, como “autoridade legal, publicidade,
longevidade e uma mistura de informações políticas e técnicas”(KINGDON, 2010, p. 43), ao passo que os atores não
governamentais (grupos de interesse, acadêmicos, pesquisadores e consultores, opinião pública, pardos polícos) seriam
mais inuentes na geração de alternavas.
No primeiro grupo, dos atores governamentais, a “administração” inclui o presidente, sua assessoria e os demais cargos
cuja indicação cabe exclusivamente a ele. O presidente é o ator mais importante no uxo políco, exercendo um papel
dominante, pois detém recursos instucionais, organizacionais e recursos de comando da atenção à formulação da agenda;
segundo Kingdon (2010, p. 23), “nenhum outro ator no sistema políco tem a capacidade do Presidente de denir agendas
em determinadas áreas polícas para todos os que lidam com essas polícas”.
O MODELO DE EQUILÍBRIO PONTUADO
Desenvolvido por Baumgartner e Jones em 1993, inspira-se em elementos da biologia para explicar a ocorrência de longos
períodos de estabilidade, interrompidos ocasionalmente por rompantes de mudanças abruptas, que marcam a trajetória da
maior parte das polícas públicas (BAUMGARTNER e JONES, 1993).
Esse modelo assume que os indivíduos operam com racionalidade limitada e, portanto, para lidar com a mulplicidade de
questões polícas, os governos delegam autoridade a agentes governamentais (burocratas especializados em uma área de
polícas) que, junto com os subgrupos de legisladores e os grupos de interesse, discuriam vários temas ao mesmo tempo
(de forma paralela). Esse grupo de atores foi denominado subsistema por Baumgartner e Jones e também é responsável por
construir uma imagem da políca, ou seja, uma ideia forte que conecta valores e pode ser comunicada de forma simples com
apelo emovo. Tal imagem ajuda a legimar um monopólio tanto do entendimento sobre determinada políca como sobre
arranjos instucionais para lidar com ela.
Uma imagem comparlhada e o monopólio sobre uma políca ajudam a manter o status quo e o subsistema atuaria em
um processo de feedback negavo, que reforçaria esse status quo, permindo mudanças apenas de modo incremental
(BAUMGARTNER e JONES, 2010).
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Quando uma questão consegue emergir no ambiente da macropolíca, onde as questões são tratadas uma de cada vez, ocorrem
processos de feedback negavo, com mudanças expressivas que rompem com o status quo. Logo, as decisões governamentais
são tomadas em 2 níveis de governo, o nível dos agentes governamentais (que estão localizados nos chamados subsistemas
polícos) e o dos líderes do governo (que compõem o que denominaram macrossistemas) (BAUMGARTNER e JONES, 2010).
A explicação sobre períodos de estabilidade e/ou mudança estaria relacionada aos agentes que lidam com aquela questão,
ou seja, se ela esver sendo tratada no subsistema (pelos agentes governamentais) ou no macrossistema (pelos líderes de
governo). O modelo assume que muitas questões (policy images) concorrentes sobreviveriam simultaneamente, esperando
o momento certo para se expandir (BAUMGARTNER e JONES, 2010).
Subsistemas são caracterizados pela estabilidade e propostas de mudanças são desencorajadas pelo feedback negavo, com
pouco ganho dos atores polícos em relação aos invesmentos, resultando em equilíbrio e mudança incremental. Ao contrário
dos subsistemas, os macrossistemas polícos se caracterizam por intensas e rápidas mudanças, diversos entendimentos
sobre uma mesma políca (diferentes policy images) e feedback posivo; segundo Baumgartner e Jones (2010, p. 137): “a
macropolíca é a políca da pontuação – a políca de mudanças em larga escala, das imagens que competem, da manipulação
políca e da reação posiva”.
CAPACIDADE DOS ATORES INFLUENCIAREM O PROCESSO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
A capacidade de inuência dos atores no processo é diferente na concepção de cada um dos modelos.
No modelo de coalizões de advocacia, o comparlhamento de crenças entre atores diferenciados no interior de uma coalizão
e as relações estabelecidas entre essas coalizões seriam responsáveis por inuenciar os processos de formação de uma
políca. O processo políco é caracterizado ao mesmo tempo pelo conito (entre coalizões) e o consenso (intercoalizões). As
decisões em polícas públicas seriam resultado desse conito estabelecido, que funcionaria como um constrangimento e/ou
um esmulo para adoção de uma alternava de políca (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999). Parte-se do pressuposto de que
a ação dos atores organizados em coalizões concorrentes inuencia o resultado da políca, ou seja, a alternava adotada. Os
atores agiriam segundo as crenças comparlhadas sobre determinada temáca, na tentava de inuenciar decisões sobre uma
políca, tais como a denição de regras instucionais, a alocação de recursos e as indicações para cargos e funções públicas
(SABATIER e SMITH, 1999). A parr das interações entre os atores, o modelo assume que pode ocorrer um movimento de
aprendizado políco entre os atores que pode mudar seus posicionamentos; além disso, os choques externos podem mudar
os recursos disponíveis no subsistema e, por consequência, alterar os arranjos das coalizões, portanto, as coalizões e sua
capacidade de inuenciar o processo mudam ao longo do tempo.
Contrariamente à perspectiva do modelo de coalizões de advocacia, mais aberto a considerar a capacidade de ação dos
atores, o modelo de múltiplos fluxos confere maior ênfase aos recursos possuídos pelos atores e sua posição no ambiente
político-institucional como fator explicativo das diferenças da capacidade de influência no processo. Há clara diferença
no modelo entre os atores que são influentes na definição da agenda governamental e aqueles que são influentes apenas
na definição de alternativas. O primeiro grupo é composto por atores “visíveis”, que recebem considerável atenção
da imprensa e do público, são normalmente os políticos do Poder Executivo e do Poder Legislativo. No segundo grupo
se encontram os participantes “invisíveis”, que têm maior importância na geração de alternativas, e incluem-se nesse
grupo os especialistas em determinados temas que atuam em comunidades epistêmicas, os acadêmicos e os burocratas
(KINGDON, 2010).
Nesse caso, ao assumir que os atores governamentais têm mais recursos para interferir na formação da agenda governamental
do que os não governamentais, o modelo considera que a capacidade de inuência dos atores é determinada pelas próprias
caracteríscas constuvas do ambiente instucional em que se encontram, ou seja, uma maior ou menor capacidade de
inuenciar depende da posição ocupada no ambiente políco instucional. Um exemplo disso é a gura do presidente,
considerado o ator mais importante no uxo políco, pois detém recursos instucionais, organizacionais e o comando da
atenção, exercendo um papel dominante na formulação da agenda. Entretanto, nem mesmo o presidente, sozinho, pode
determinar o resultado de uma políca, pois apesar de possuir os recursos mais importantes, ele não tem controle sobre o
uxo de alternavas (KINGDON, 2010).
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Assim, a posição dos atores no ambiente instucional condiciona uma maior ou menor capacidade de inuência, na medida
em que nem todos os atores têm acesso aos mesmos recursos, sendo que estes úlmos são fatores importantes para que
os atores consigam inserir suas demandas na agenda. Todavia, o modelo também considera o aspecto da ação individual ao
fazer referência à gura do policy entrepreneur, ou empreendedor de polícas, que é o responsável pela junção dos 3 uxos
e, consequentemente, pela ascensão de determinado tema à agenda. Esses indivíduos são responsáveis por unir “soluções
a problemas; propostas a momentos polícos; eventos polícos a problemas” (CAPELLA, 2007, p. 31).
Embora a capacidade de representar ideias e construir consenso seja uma caracterísca da ação individual de determinado ator,
Kingdon (2011, p. 180) reforça a importância do componente instucional ao armar que tal habilidade pode ser explicada,
além de outros fatores, por uma posição de autoridade dentro do processo decisório, “como o Presidente ou o presidente
de uma comissão no Congresso”, o que proporcionaria recepvidade às ideias do empreendedor.
Assim, a inuência exercida por um ator é entendida como consequência de seu posicionamento no ambiente instucional,
que faz com que ele possua recursos mais relevantes para inuenciar o processo. Entretanto, ao armar que o presidente
sozinho não é capaz de determinar a agenda, embora seja aquele que mais se aproxima de conseguir isso2, o modelo assume
que os recursos advindos do posicionamento instucional não são sucientes para explicar isoladamente o processo de
agenda-seng. É justamente essa a grande contribuição de sua narrava, ou seja, a mudança da agenda só ocorrerá em um
momento especíco; mesmo se atores com grande capacidade de inuência a desejarem, ela só virá no momento oportuno,
ou seja, quando ocorrer a junção dos 3 uxos, o que denominou “janela de oportunidade”.
O modelo de equilíbrio pontuado se assemelha bastante ao modelo de múlplos uxos no entendimento do comportamento
dos atores e em sua capacidade de inuência no processo. Assim como o modelo de Kingdon, com a separação dos atores
em “visíveis” e “invisíveis”, de acordo com a posição ocupada no sistema e os recursos possuídos, o modelo de equilíbrio
pontuado também oferece uma divisão. Para os autores, o sistema políco seria dividido em 2 subsistemas, que operariam
mudanças de forma seriada (abrupta) e paralela (incremental).
O primeiro seria o chamado macrossistema (o lugar dos aspectos formais – papel do presidente, dos ministros, do Congresso,
etc.), composto pelos tomadores de decisão, ou seja, quem realmente consegue inuir na políca de modo a causar mudanças
abruptas. De outro lado, tem-se o subsistema, entendido como o espaço reservado aos especialistas, os quais seriam capazes
de inuir na políca apenas de modo paralelo, sendo responsáveis por mudanças incrementais (BAUMGARTNER e JONES,
1993). O processamento paralelo, no subsistema, esmula mudanças polícas de menor envergadura, uma vez que esse sistema
opera “fora do foco políco” (TRUE, JONES e BAUGMARTNER 2007, p. 158). A captura de uma questão pelo macrossistema é
o momento em que as maiores mudanças em uma políca tendem a ocorrer, podendo gerar, como consequência, mudanças
nos próprios subsistemas. A criação de uma imagem é considerada componente estratégico na mobilização da atenção do
macrossistema em torno de uma questão e, por isso, a disputa para criação de consenso em torno de uma policy image é
considerada pelos autores um elemento crucial na luta políca.
Logo, os atores instucionalmente dotados dos recursos de decisão são capazes de mudar o curso de uma políca de modo
abrupto, ao passo que os especialistas, não dotados do mesmo recurso, têm uma capacidade de inuência marginal. Assim
como no modelo de múlplos uxos, no modelo de equilíbrio pontuado a capacidade de inuência é dependente dos pos
de recursos que cada ator possui, que são derivados de seu posicionamento no ambiente políco-instucional.
Em suma, no modelo de coalizões de advocacia, a capacidade de inuência é entendida como consequência da atuação
dos atores organizados em coalizões, que lutam por objevos comuns diante de uma políca, e desse embate emergem
instrumentos polícos e/ou entendimentos acerca de um problema que moldam a políca pública em suas etapas.
Por outro lado, os modelos de múlplos uxos e equilíbrio pontuado atribuem menor ênfase à ação coleva e ao conito
estabelecido entre atores, seja este de ideias, valores ou crenças, e privilegiam a explicação dos diferentes níveis de inuência
dos atores no processo como consequência dos recursos que têm, que, por sua vez, dependem da posição ocupada no
ambiente políco-instucional.
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Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
MUDANÇA E ESTABILIDADE NAS POLÍTICAS
O modelo de coalizões de advocacia compreende a mudança de forma ampla, podendo ir desde a mudança da dinâmica do
subsistema políco onde ocorrem as decisões até as mudanças no conteúdo da políca, sendo a primeira induzida por fatores
externos e as segundas induzidas por fatores internos ao subsistema. Por exemplo, a mudança quanto ao entendimento de
um problema por parte das coalizões (que ocorre internamente ao subsistema) pode ocasionar mudanças no conteúdo da
políca. Por outro lado, mudanças das estruturas de oportunidades das coalizões (p. ex., maior abertura do sistema políco)
impactam o comportamento das coalizões, alterando o grau de consenso necessário a ser angido para uma decisão, o que,
por sua vez, pode alterar a dinâmica do processo decisório.
O modelo se preocupa especialmente em explicar a mudança, procurando teorizar sobre seus fatores determinantes (que
idencou como sendo os inputs do ambiente externo ao subsistema, choques internos, acordos negociados e o aprendizado
políco), inclusive estabelecendo hipóteses (SABATIER e WEIBLE, 2007; WEIBLE, SABATIER e MCQUEEN, 2009).
O conceito de aprendizado político, que foi definido pelos autores como “alternâncias relativamente duradouras de
pensamento ou intenções comportamentais que resultam da experiência e/ou de novas informações e que estão relacionadas
à realização ou revisão de objevos polícos” (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999, p. 123) demonstra sua preocupação com
o fato de que os próprios atores podem mudar suas percepções a parr da interação com os demais. Eventos externos a
determinado subsistema apresentariam esmulos à geração de mudanças. São exemplos disso as mudanças em condições
sociais, econômicas e polícas; decisões sobre outras polícas públicas; e impactos de outros subsistemas de políca. Os
choques internos são entendidos como perturbações de maior vulto, à semelhança dos eventos focalizadores3 do modelo de
Kingdon, que impactam as crenças da coalizão dominante, podendo, portanto, causar a mudança do entendimento de um
problema e da sua condução. Os acordos negociados também são apontados como caminho para a mudança, quando não
há choques internos ou externos ao subsistema, porém, quando há situações de impasse (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999).
Cabe destacar que nenhuma das hipóteses traçadas pelo modelo se preocupa em explicar a estabilidade. Entretanto, consideram
que quando nenhuma das hipóteses de mudança ocorre, têm-se processos decisórios lentos e complexos, permeados pelos
conitos de crenças polícas dos atores (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1999).
Ao contrário do modelo de coalizões de advocacia, que compreende a mudança tanto relacionada à dinâmica do subsistema
quanto o conteúdo da políca, o modelo de múlplos uxos se preocupa com um po especíco de mudança, ou seja, a
mudança da agenda governamental, seja por meio da inclusão de novos temas ou mesmo do abandono de temas antes
considerados estratégicos. Nesse caso, a unidade de análise não é um sistema ou subsistema, mas sim “uxos” que ocorrem
de forma paralela e independente: uxo de problemas, uxo políco e uxo de soluções.
Os 3 uxos mencionados têm sua dinâmica própria, caminham com relava independência e, por vezes, convergem e geram
uma oportunidade de mudança da agenda, a qual Kingdom denomina janelas de oportunidade (windows opportunity), que
constuem momentos transitórios, podendo ocorrer a abertura de “janelas” em determinados momentos, bem como seu
fechamento em outros. É nesse momento que uma condição consegue atrair a atenção dos formuladores de polícas públicas
e é também no mesmo momento que há mudanças no uxo políco, as quais permitem mudanças da agenda. E, assim,
os formuladores passam a procurar alternavas para os problemas, que já foram desenvolvidas paralelamente no uxo de
soluções. Dessa forma, Kingdon aponta que a abertura de janelas de oportunidade é inuenciada, sobretudo, pelo uxo de
problemas e pelo uxo políco (CAPELLA, 2007).
Kingdon não se preocupou em explicar a estabilidade do processo de agenda-seng, embora tenha assumido que a fragmentação
das policy communies inuenciaria a estabilidade da agenda. Essa falta de abordagem dos momentos de estabilidade foi
objeto de críca dos autores Baumgarter e Jones (1993), que, em seu modelo, procuraram justamente diferenciar esses
momentos, armando que mudanças substanvas ocorreriam em momentos de ruptura e mudanças incrementais nos
momentos de estabilidade.
O modelo de equilíbrio pontuado foi desenvolvido preocupando-se em responder porque “os processos das polícas públicas
são muitas vezes conduzidos por uma lógica de estabilidade e incrementalismo, mas ocasionalmente também produzem
mudanças em grande escala com relação ao passado” (BAUMGARTNER e JONES, 1999, p. 97). Portanto, a compreensão de
como ocorrem essas mudanças em larga escala é o objevo principal da análise. O modelo de equilíbrio pontuado se assemelha
ao modelo de múlplos uxos, no tocante ao entendimento do funcionamento do processo das polícas públicas. Ao invés
de uxos, o primeiro faz referência ao “processamento” de problemas em 2 níveis, no nível dos líderes governamentais
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452 Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018. 452-455
Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
(macro) e no nível dos agentes governamentais (micro). As mudanças de pequena envergadura, consideradas incrementais,
seriam fruto das decisões tomadas no microssistema ou subsistemas políco-instucional, nos quais as diferentes questões
são processadas de forma paralela. Já as mudanças radicais seriam fruto das decisões tomadas no macrossistema políco-
instucional, onde as questões são tratadas em série (BAUMGARTNER e JONES, 1993).
Em relação à mudança e à estabilidade, o modelo assume que, quando uma questão é capturada por um microssistema, tem-se
um período de equilíbrio ou quase equilíbrio, por outro lado, quando uma questão entra na agenda macropolíca, ocorrem
períodos de desequilíbrio, período em que a agenda em polícas públicas pode mudar muito rapidamente, contrariando
o consenso de ideias estabelecidas (BAUMGARTNER e JONES, 1993). Os subsistemas têm como caracterísca principal sua
estabilidade, ou seja, os atores nesse nível tendem a tomar decisões apenas incrementais, pois há pouco custo-benecio para
os atores polícos, prevalecendo mudanças lentas, graduais e incrementais. Ao contrário, os macrossistemas se caracterizam
por intensas e rápidas mudanças (BAUMGARTNER e JONES, 1993).
Tem-se, então, uma associação entre a dinâmica do processo (sua mudança ou estabilidade) e a tomada de decisão por
diferentes atores (no subsistema ou macrossistema). Em outras palavras, as diferenças dos recursos possuídos pelos atores
explicam não só as diferentes intensidades que conseguem inuenciar o processo, mas também a magnitude dos reexos
que tais decisões podem causar.
Percebe-se que os 3 modelos se preocupam em explicar a mudança (seja a mudança da agenda, a mudança da dinâmica do
subsistema e do conteúdo da políca ou a mudança abrupta), buscando teorizar sobre os fatores envoltos na sua explicação.
Comparando esses 3 modelos, tem-se que o modelo de coalizões de advocacia se preocupa em explicar os fatores indutores
de mudança, pois estes podem alterar a dinâmica de negociação das coalizões e o conteúdo da políca. Ou seja, o objeto
de análise é o processo decisório, buscando compreender como a atuação das coalizões molda a políca pública. O foco
não é explicar porque as mudanças ocorrem, mas como a políca pública é um produto dessas interações. Os outros 2
modelos, que possuem uma visão processual, ao contrário da visão sistêmica do modelo de coalizões de advocacia, encaram
a mudança como o próprio objeto de análise, como no caso do modelo de equilíbrio pontuado seu objevo é invesgar por
que ocasionalmente longos períodos de estabilidade são interrompidos por mudanças abruptas, e no caso do modelo de
múlplos uxos a pergunta central é: Porque temas ascendem à agenda mudando o status quo?
O Quadro 1 sinteza o que foi apresentado nesta seção.
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Modelos teóricos Objeto de análise Capacidade dos atores exercerem
inuência no processo
Mudança versus estabilidade
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Fonte: Elaborado pelos autores.
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teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
Como apontado nesta seção, cada modelo apresenta um objeto de análise especíco e cada um tem sua intepretação sobre
mudança e estabilidade e sobre a capacidade de inuência dos atores. Percebeu-se que os 3 modelos se preocupam a priori em
compreender a mudança, embora cada um tenha seu próprio entendimento sobre ela. A capacidade de inuência, por sua vez, é
entendida como consequência da ação dos atores a parr da formação de coalizões, no modelo de coalizões de advocacia, e nos
outros modelos é entendida como consequência dos recursos possuídos, devido à posição ocupada no sistema políco instucional.
Em suma, percebe-se que os 3 modelos pretendem explicar a priori os momentos de mudança e entendem mudança e
estabilidade como dimensões que podem ser idencadas individual e separadamente. Por exemplo, a estabilidade ocorre
no modelo de equilíbrio pontuado, quando uma questão é tratada no subsistema, gerando apenas ajustes incrementais,
no modelo de coalizões de advocacia, quando nenhuma das hipóteses indutoras de mudança ocorre, tem-se um período
de estabilidade, e, por m, no modelo de múlplos uxos, quando não ocorre a abertura de uma janela de oportunidade
e a união dos 3 uxos pelo empreendedor, tem-se a estabilidade e a manutenção do status quo. Assim, a estabilidade é
entendida como um momento no qual as condições para a mudança não ocorrem, permindo que o pesquisador “separe” os
2 momentos quando da análise do processo. A capacidade de inuência, por sua vez, é entendida como dependente da ação
coleva dos atores (modelo de coalizões de advocacia), ou como consequência do posicionamento dos atores no ambiente
políco-instucional (nos modelos de equilíbrio pontuado e de múlplos uxos). A parr da sintezação desses construtos,
traçamos a seguir reexões e apontamentos que podem direcionar o avanço teórico na área.
REFLEXÕES TEÓRICAS E APONTAMENTOS DE PESQUISA
Uma primeira reexão que se pode apontar a parr da análise empreendida é a necessidade de avançar teoricamente quanto
à análise da mudança e estabilidade, entendendo-as não como categorias separadas, mas analisando como elas ocorrem de
forma inter-relacionada.
Wiering, Lieerink e Crabbé (2017), em argo publicado na edição especial do Jornal of Flood Risk Management, analisam
a dinâmica do sistema políco de gerenciamento de risco de inundações, idencando as principais direções e tendências e
assumindo que estabilidade e mudança podem reforçar-se ou neutralizar-se mutuamente. Os autores combinaram insights
das 3 teorias revisadas neste argo e também da análise do discurso, e do modelo de policy arrangements approach. Os
autores armaram que cada uma das teorias negligencia ou subesma as forças de estabilidade e mudança, sendo necessária
uma abordagem alternava.
Concluem que a evolução das polícas de gerenciamento de risco de inundações em determinado país é resultado da interação
especíca de forças de estabilidade e mudança. Com base na análise comparava em 4 países, os autores idencaram 5
combinações picas (clusters) de forças de estabilidade e mudança que podem ajudar a explicar a dinâmica das polícas e
dos arranjos instucionais nacionais sobre a gestão de risco de inundações. Nesse caso, o foco de análise é a dinâmica dessas
polícas, objevando compreender sua evolução.
Esse foco de análise se torna relevante principalmente ao se ter em conta a complexidade dos ambientes instucionais
nos quais as polícas públicas são formuladas na atualidade e as rápidas mudanças do sistema políco inuenciadas pelos
processos de globalização (ANDERIES e JANSSEN, 2013), o que, segundo Hill e Varone (2016, p. 165) torna “até os sistemas
administravos mais estáveis, sujeitos a processos de mudanças que ocorrem a todo momento”, porém, segundo os autores,
a maioria dos estudos em análise de polícas ainda se focam nos estudos das mudanças abruptas (HILL e VARONE, 2016).
Nesse sendo, um apontamento para pesquisas futuras, seria orientar a análise do processo para compreender sua dinâmica
como um todo, sem buscar teorizar sobre momentos de mudanças abruptas ou incrementais ou buscar invesgar os fatores
indutores de mudança, como já feito pelas teorias abordadas. Uma pergunta de pesquisa para avançar nesse sendo seria:
• Como a dinâmica do processo (permeada por forças de mudança e estabilidade que estão inter-relacionadas)
moldam o conteúdo da políca?
Outra reexão que se estabelece aqui é a possibilidade de ampliar o entendimento sobre a capacidade de inuência dos atores,
a parr da combinação de seus elementos determinantes já idencados nas teorias analisadas: a capacidade de estabelecer
relacionamentos visando a alcançar seus objevos no processo (coalizões e/ou redes) e os recursos possuídos pelos atores.
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teóricas e apontamentos para futuras pesquisas
Lia de Azevedo Almeida
Ricardo Corrêa Gomes
Como visto nas teorias revisadas, os recursos dos atores (relacionados à sua posição no ambiente políco instucional) e sua
capacidade de arcular-se e estabelecer relações para defender seus interesses, ideias e/ou crenças, parecem ser dimensões
igualmente importantes da capacidade de inuência dos atores.
Um direcionamento para pesquisas futuras pode ser a invesgação de como essas duas dimensões conjuntamente (os recursos
possuídos e as relações estabelecidas) contribuem para o aumento da capacidade de inuência dos atores e como ela impacta
a dinâmica do processo e o conteúdo da políca. O diferencial proposto consiste em combinar as duas dimensões na análise
e invesgar a relação entre capacidade de inuência e dinâmica/conteúdo da políca.
Elgin e Weible (2013) parecem apontar nessa direção. Os autores analisaram o caso da políca climáca e energéca do
Colorado, nos EUA, combinando o modelo de coalizões de advocacia e o modelo de policy analycal capacity, para avaliar
os recursos individuais e organizacionais dos atores que formam as coalizões. A combinação dos 2 modelos se jusca pelo
fato de que o modelo de coalizões de advocacia não se preocupou, em sua primeira versão, em teorizar sobre os recursos e
como estes seriam ulizados pelos atores individualmente e pelas coalizões de advocacia. Uma aproximação nesse sendo
se encontra em Weible (2007), que idencou 5 pos de recursos ulizados pelos atores: recursos nanceiros, autoridade
legal formal, grupos mobilizáveis, acesso à informação técnica e cienca e inuência sobre a opinião pública. Entretanto,
Weible, Sabaer, Jenkins-Smith et al. (2011) reconhecem que esse ainda é um dos aspectos pouco desenvolvidos no modelo.
O objevo de Elgin e Weible (2013) é combinar a capacidade individual e a capacidade organizacional com a análise do
conito no processo decisório, possibilitado pelo arcabouço analíco do modelo de coalizões de advocacia. Entretanto, os
autores não relacionam diretamente os recursos possuídos à capacidade de inuência individual ou organizacional, sendo esta
úlma compreendida no âmbito de atuação das coalizões. Argumenta-se que essa pode ser uma possibilidade de avançar na
teorização, ao buscar compreender a relação direta entre recursos e capacidade de arculação via coalizões sobre a capacidade
de inuência dos atores individuais e organizacionais.
As reexões aqui apresentadas são apenas apontamentos iniciais que podem formar uma agenda de pesquisa mais ampla
e parlhada entre os autores do campo de análise de polícas públicas. Acredita-se que a mudança no foco de análise para
a dinâmica do processo das polícas, ao invés do foco em períodos especícos (ou de mudança ou de estabilidade) e o
alargamento do entendimento sobre conceitos-chave, como a capacidade de inuência, podem trazer contribuições para
aumentar a capacidade explicava quanto aos resultados e a evolução das polícas públicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objevo deste argo foi ampliar o entendimento sobre o processo das polícas públicas a parr da sistemazação de seus
principais construtos, apresentando reexões teóricas e apontamentos para uma agenda de pesquisa. Percebe-se que os 3
modelos almejam explicar a priori a mudança e entendem que a estabilidade emerge quando as condições necessárias para
a ocorrência da primeira não se fazem presentes. A capacidade de inuência, por sua vez, ora é entendida como dependente
de fatores individuais, ora como consequência do posicionamento dos atores no ambiente políco-instucional.
A parr da sintezação e análise dos construtos em cada modelo, levantamos algumas reexões teóricas apontando a composição
de uma agenda de pesquisa: 1) a possibilidade de analisar a dinâmica do processo das polícas públicas, compreendendo
mudança e estabilidade como instâncias que estão inter-relacionadas; e 2) análise da capacidade de inuência dos atores em
função tanto dos recursos possuídos como das relações estabelecidas (coalizões e/ou redes). A contribuição úlma de tais
apontamentos seria compreender como a dinâmica e a capacidade de inuência moldariam o conteúdo da políca.
Pondera-se, ainda, que nossas reexões teóricas podem ser operacionalizadas em trabalhos empíricos a parr da combinação
das proposições de mais de um modelo, de modo a permir analisar a dinâmica e a capacidade de inuência sobre as novas
ócas propostas. Contudo, também, a sistemazação e as reexões empreendidas podem auxiliar na estruturação de um
futuro modelo para análise de polícas públicas.
Para tanto, é importante que os pesquisadores idenquem um objeto de pesquisa em que essas análises sejam relevantes.
Por exemplo, para o caso de estudos comparavos, parece ser relevante a compreensão da dinâmica do processo por um
longo período de tempo. Já a análise da capacidade de inuência nessa perspecva sugerida parece ser úl em processos
decisórios nos quais se reúnem uma grande gama de atores diferenciados e em assuntos nos quais diversos interesses colidem,
como as polícas ambientais por exemplo. O próximo passo é realizar estudos empíricos, para que se possa vericar até
que ponto essas novas dimensões de análise podem contribuir para alargar o entendimento sobre os resultados e a evolução
das polícas públicas.
455 Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 3, Rio de Janeiro, Jul./Set. 2018. 455-455
Processo das políticas públicas: revisão de literatura, reexões
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, p. 1-9, 2017.
Lia de Azevedo Almeida
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Ricardo Corrêa Gomes
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Article
Although maritime cabotage emits comparatively less CO 2 per tonne kilometre than other means of transportation , the potential contribution of Brazil's cabotage policy toward tackling climate change remained largely unexplored throughout its legislative process. Hence, to gather insights into how climate change can be integrated into sectoral policies, we apply Kingdon's Multiple Streams Framework (MSF) to analyse the forces at work in the policy process of this statute, a piece of legislation encouraging maritime cabotage development and attempting to shift cargo away from roads. Based on data from 259 newspaper articles and ten semi-structured interviews, this study finds that a policy window was opened by the emergence of a problem-overreliance on road transport-a key event-truck drivers' strike-and changes in the administration. The Minister of Infrastructure seized this window, proposing a policy and pushing for its approval until it became law. Through MSF, this study also identifies missed opportunities to integrate climate change concerns into the problem, policy, and political streams of this policy process, highlighting a novel contribution to the application of Kingdon's framework in climate-related sectoral policies. This article concludes with recommendations for climate policy actors.
Article
Kingdon's Multiple Streams Model is used in various political contexts, especially to understand agenda-setting processes in Europe and North America. Based on the elements that structure the Multiple Streams Model, this research analyzed the normative, contextual, and political factors that favored the insertion of the mining theme in the Brazilian government's agenda, contributing to the approval of changes in the legislation that regulates mineral policy. As for the problem stream, the results indicate that the discussion about changes in Brazil's mineral policy rekindled when the country was experiencing an economic crisis. The amendment found by the formulators was to update the legislation briefly (solutions stream). In the politics stream, the change in the presidency of the federal government is the factor that exerted the greatest influence for mining to return to the government agenda, finding fertile ground for the approval of changes in mineral policy.
Article
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Trata-se de uma investigação com o objetivo de analisar a percepção de usuários do Sistema Único de Saúde quanto à sua apropriação social desta política pública, em especial, ao atendimento de suas necessidades e à participação nos processos de organização e avaliação do sistema e dos serviços de Saúde em que estão inseridos. Estudo qualitativo com usuários que vivenciaram episódio de internação hospitalar por condição sensível à atenção primária, seus resultados foram sistematizados segundo Análise de Conteúdo e discutidos à luz da hermenêutica crítica e do referencial Paideia. Os achados demonstram que os usuários reconhecem o Sistema Único de Saúde como política pública, referindo sua lógica de funcionamento e benefícios quando necessitam de cuidados à saúde; e descrevem seus efeitos pela criação de novas práticas de cuidado nas unidades básicas após episódio de internação hospitalar; não mencionando sua participação nos espaços de controle social.
Article
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Resumo Embora a taxa de encarceramento feminino tenha aumentado significativamente nos últimos anos, a construção de políticas públicas que englobam a perspectiva de gênero ainda é um processo estatal a ser consolidado na agenda governamental. Este trabalho apresenta o estudo de um caso que teve como locus de investigação o universo carcerário feminino de uma comarca no estado de Minas Gerais, seu objetivo foi analisar como a diferença de gênero, na construção de políticas públicas de segurança no sistema prisional, influencia as vivências do feminino no cárcere. A pesquisa, de natureza qualitativa, utilizou entrevistas com roteiros semiestruturados e análise documental. Os dados produzidos foram submetidos à análise de conteúdo proposta por Bardin, cuja categorização textual ocorreu pela classificação de elementos constitutivos de um conjunto e reagrupamento com base em características comuns destes elementos. Por meio desta análise, foram construídas quatro categorias: encarceramento e gênero; maternidade e cárcere; políticas públicas e vivências no cárcere. Os principais resultados apontam que as especificidades de gênero no encarceramento feminino influenciam as vivências produzidas resultantes de vários tipos de violência que marcam definitivamente a vida das mulheres, destacando-se a relação com a maternidade, apontada como a principal fonte de sofrimento. Apesar de avanços significativos, a inserção da questão de gênero na formulação das políticas públicas de segurança pública ainda é recente e incipiente no que tange às especificidades do cárcere feminino.
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Although the rate of female incarceration has increased significantly in recent years, building public policies that encompass the gender perspective is still a state process to be consolidated in the government agenda. This article presents a case study that investigates the female prisoner universe of a region in the state of Minas Gerais. The objective was to analyze how gender differences influence the construction of public security policies in the prison system, and affects the experiences of female prisoners. This qualitative research used semi-structured interviews and documentary analysis, the data produced were submitted to content analysis proposed by Bardin, whose textual categorization occurred by classifying constituent elements of a set and regrouping from the common characteristics of these elements. From this analysis, four categories were constructed: imprisonment and gender; maternity and prison; public policies; and prison life. The main results indicate that gender differences in the elaboration of policies related to the prison system influence the experiences of incarcerated women, particularly regarding motherhood. Although significant advances were made to adequate public policies to the specificities of female prisoners, this is still a recent and incipient issue.
Book
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The Public Policy Process is essential reading for anyone trying to understand the process by which public policy is made. Explaining clearly the importance of the relationship between theoretical and practical aspects of policy-making, the book gives a thorough overview of the people and organisations involved in the process. Fully revised and updated for a 7th edition, The Public Policy Process provides: Clear exploration, using many illustrations, of how policy is made and implemented. A new chapter on comparative theory and methods. New material on studying advocacy coalitions, policy changes, governance, and evaluation. More European and international examples. This edition appears at a time when its concern to emphasise the complex implications of modern ‘governance’, and the way in which the ultimate outcome of a new policy initiative will depend on policy formulation and implementation processes, is particularly relevant to the UK government’s efforts to leave the European Union.
Article
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This article presents a theoretical framework for the analysis of stability and change in national flood risk policies. Based on thorough scrutiny of existing theories on stability and change in the literature, we want to offer guidance for empirical studies on flood risk governance. On one hand, we elaborate theories of path dependency and institutional stability. On the other hand, we focus on the role of policy entrepreneurs and actor coalitions bringing in new ideas on how policies should be adjusted. We translate both angles to the realm of flood risks. Furthermore, we consider the role of trends and shock events. By integrating these perspectives into one comprehensive theoretical framework, we aim to offer guidance to empirical researchers searching for forces of stability and change in flood risk governance. © 2017 The Chartered Institution of Water and Environmental Management (CIWEM) and John Wiley & Sons Ltd.
Article
A scholarly nexus is defined as identifiable spheres of theoretical and empirical overlap between academic fields or disciplines. This article explores the nexus between policy process research, public management scholarship, and nonprofit and voluntary action studies, oriented from the perspective of policy process scholars. The article begins with a description of policy process research, including some of its major thematic emphases regarding governance problems and processes. It next discusses limitations of policy process research imposed by its scope of inquiry, theoretical black boxes, and omitted factors. Three strategies—filling, zooming, and linking—for addressing these limitations are introduced. The article ends with rationales for leveraging research at the nexus to advance both specialized and general knowledge about public policy processes and governance issues.
Article
The object of policy research is the understanding of the interaction among the machinery of the state, political actors, and the public. To facilitate this understanding, a number of complementary theories have developed in the course of more than two decades. This article reviews recent scholarship on the established theories of the policy process, mostly published in 2011 and 2012. Additionally, scholarship extending these theories is identified and new theories of policy process are discussed. This review finds that the established theories have generated substantive scholarship during the period under review and have also been the springboard for much of the recent thinking in policy research. KEY WORDS: established theories of policy process, new theories of policy process, policy subsystems, policy networks, policy entrepreneurs
Article
We conceptualize social‐ecological systems (SESs) as complex adaptive systems where public policy affects and is affected by the biophysical system in which it is embedded. The study of robustness of SESs combines insights from various disciplines including economics, political science, ecology, and engineering. In this paper we present an approach that can be used to explore the implications for public policy when viewed as a component of a complex adaptive system. Our approach leverages the Institutional Analysis and Development framework to provide a platform for interdisciplinary research that focuses on system‐wide outcomes of the policy process beyond just policy change. The main message is that building robustness can create new vulnerabilities. Fail‐free policies cannot be developed, and instead of a focus on the “right” policy, we need to think about policy processes that stimulate experimentation, adaptation, and learning.