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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – UniCEUB
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE –
FACES
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
REGIO ARAUJO DA COSTA
EVOLUÇÃO DE ROTAS E DINÂMICAS MIGRATÓRIAS EM
TIRANÍDEOS NEOTROPICAIS
BRASÍLIA-DF
2016
REGIO ARAUJO DA COSTA
EVOLUÇÃO DE ROTAS E DINÂMICAS MIGRATÓRIAS EM
TIRANÍDEOS NEOTROPICAIS
Relatório final de pesquisa de Iniciação
Científica apresentado à Assessoria de
Pós-Graduação e Pesquisa pela
Faculdade de Ciências da Educação e da
Saúde – FACES.
Orientação: Dr. Raphael Igor da Silva
Corrêa Dias
BRASÍLIA-DF
2016
EVOLUÇÃO DE ROTAS E DINÂMICAS MIGRATÓRIAS EM TIRANÍDEOS
NEOTROPICAIS
Regio Araujo da Costa – UniCEUB, PIC voluntário
regioadc@gmail.com
Dr. Raphael Igor da Silva Corrêa Dias – UniCEUB, professor orientador
raphael.dias@uniceub.br
Migração é um fenômeno biológico caracterizado pelo deslocamento espacial
de indivíduos entre locais diferentes com retorno posterior ao lugar de origem.
Esse fenômeno é observado em vários grupos de animais, porém, é mais
comumente encontrado em aves, onde o mesmo apresenta enormes variações
devido a fatores físicos e ecológicos. A migração ocorre de forma regular,
sendo uma alternativa de sobrevivência de muitas espécies devido a
sazonalidade de recursos e fenômenos naturais. A região Neotropical
apresenta uma elevada diversidade de aves e faz parte da rota de muitas
espécies migratórias. Entretanto, poucas informações sobre rotas migratórias e
locais de invernada estão disponíveis para a maior das espécies migrantes de
Passeriformes brasileiros. A família Tyrannidae é um dos táxons mais
representativos e numerosos de aves do mundo, sua distribuição é exclusiva
do continente americano e sua ocupação compreende os mais variados
ambientes. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi investigar os
padrões de deslocamento de espécies consideradas migratórias segundo a
literatura. Para tanto, foram selecionadas quatro espécies de tiranídeos:
Chibum (Elaenia chiriquensis), Irré (Myiarchus swainsoni), Maria-ferrugem
(Casionrnis rufus) e Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa). Foram utilizados
dados secundários disponíveis nas bases Xeno-canto e WikiAves. De cada
base foram extraídas informações referentes à localização espacial (latitude e
longitude), observações comportamentais, além de informações temporais
relacionadas aos registros (data da observação). As análises envolveram
comparações temporais das distribuições dos pontos no programa RStudio. Os
resultados indicaram pequenos deslocamentos latitudinais ao longo do ano
para todas as espécies investigadas. Adicionalmente, não foi observado uma
orientação consistente nos deslocamentos feitos para todas as espécies
estudadas. Os resultados parecem sugerir que o processo migratório nas
espécies investigadas ocorre em uma escala menor, possivelmente
relacionado a variações nas condições ambientais locais.
Palavras-chave: Aves. Migração. Sazonalidade. Tyrannidae.
Sumário
Introdução ........................................................................................................ 1
Matérias e Métodos ......................................................................................... 5
Resultados e Discussão ................................................................................. 6
Considerações finais ..................................................................................... 21
Referências bibliográficas ............................................................................ 22
Apêndice ......................................................................................................... 24
1
1. Introdução
O termo migração é uma palavra derivada do latim migrare, que significa
a capacidade de um indivíduo de mover-se de um local para o outro em um
espaço e depois retornar ao lugar de onde partiu (Åkesson e Hedenström,
2004).
No sentido estrito, migração significa o deslocamento realizado
anualmente por uma determinada população animal e que se repete de forma
estacional. Em uma determinada época do ano, esses animais se deslocam de
sua área de reprodução para áreas de alimentação e descanso, depois
retornam a sua área de reprodução original (Alerstam e Hedenström, 1998).
A migração ocorre em quase todos os grupos de seres vivos, desde uma
simples bactéria até os seres humanos (Berthold, 2001). Por exemplo, nos
invertebrados, crustáceos marinhos podem migrar por vários quilômetros no
fundo do mar e enxames de gafanhotos invadem sazonalmente grande parte
dos continentes (Baker, 1991). Nos vertebrados, salamandras e sapos migram
vários quilômetros para as áreas de desova e as tartarugas marinhas migram
cerca de 3.000 km para chegar ao litoral e colocar seus ovos (Baker, 1991).
Entre os mamíferos esse fenômeno é observado em baleias e focas, que
podem chegar a distancias de 20.000km (Baker, 1991). Nesse sentido, a
migração pode englobar percursos pequenos, de algumas centenas de metros,
até percursos longos, composto por milhares de quilômetros (Milner-Gulland et
al, 2011). Embora a migração seja evidente em todos esses grupos animais,
nas aves ela é mais desenvolvida e ampla (Newton, 2008). Porém, nem todas
as aves migram, muitas permanecem em uma região ou local durante o ano
todo, sendo denominadas residentes (Sick, 1993). A migração das aves difere
do voo comum do dia-a-dia pela maior duração da viagem e maior altitude em
que a mesma geralmente ocorre (Newton, 2008).
As aves migram por dois fatores principais: endógenos, regulado pela
hipófise, que controla boa parte do sistema endócrino e as gônadas, que se
desenvolvem antes da reprodução, estimulando as aves a voltarem para suas
áreas de partida, pela falta de atividade das mesmas; e exógenos, que são
caracterizados por fatores como a duração do dia, luminosidade, fatores
tróficos e meteorológicos (Andrade, 1993).
2
A migração das aves pode se estender por distâncias de mais de
10.000km (Newton, 2008). Geralmente as migrações são realizadas em alturas
abaixo dos 600m, porém, em regiões inóspitas como mares e desertos, a altura
varia de 2000 a 3000 metros. Durante a noite, certas marrecas podem chegar a
9.000 metros de altura (Andrade, 1993).
Essas longas migrações não exigem apenas habilidades extraordinárias
de navegação, mas reservas corporais maciças para abastecer os voos e o
esforço interrupto durante todo o percurso da migração (Newton, 2008). As
aves acumulam muita gordura, necessária para a resistência física durante as
migrações, as que realizam migrações mais longas chegam a ficar com o dobro
do peso normal. Essa gordura é acumulada em todo o corpo, exceto no
coração (Andrade, 1993), todos esses fatores resultam em uma elevada taxa
de mortalidade (Newton, 2008).
Existem dois níveis básicos de orientação das aves: migração apoiada
em caracteres fito-fisionômicos (como matas e savanas), caracteres
topográficos (como costas marinhas, desertos, lagos, mar, montanhas, rios,
beira de rios) e fatores meteorológicos (como correntezas de ar em ascensão e
ventos) e migrações que são guiadas por sentidos, como uma bússola,
ignorando a superfície da Terra (Andrade, 1993).
As migrações sazonais são divididas em: 1) migração altitudinal, que é a
migração com variação na altitude, sendo comum em regiões montanhosas
onde as aves sobem e descem a procura de alimento (e.g algumas espécies
de beija-flores); 2) migração longitudinal, em que há variações de longitude
entre leste e oeste ou vice-versa e acompanha as frentes isotérmicas; 3)
migração latitudinal, que ocorre entre diferentes latitudes, geralmente da região
norte a região sul no outono e regressando na próxima primavera; e 4)
migração por radiação, que é caracterizada pela dispersão ou movimentos
realizados para várias direções, ou seja, indivíduos da mesma espécie migram
para regiões diferentes (Negret, 1981).
Os sistemas migratórios descritos para as América do Sul e do Norte
são os: Temperado-Tropical ou Neártico-Neotropical (para indicar as espécies
que migram entre as latitudes temperadas e tropicais) e o Frio-Temperado
(para indicar as espécies que migram entre as latitudes temperadas) (Joseph,
1997; Cueto e Jahn, 2008). Migrante neotropical, segundo Hayes (1995), é a
3
espécie que se reproduz na América do Sul e migra regularmente para o
hemisfério norte durante a estação não reprodutiva. Porém, Cueto e Jahn
(2008) propuseram o uso do termo “migrantes austrais neotropicais” para as
aves que migram latitudinalmente dentro da América do Sul, em razão da
região biogeográfica onde as aves se encontram (Cueto e Jahn, 2008). Essa
denominação abrange as espécies que se reproduzem no Sul da América do
Sul (principalmente Argentina, sul do Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) e
passam a época não reprodutiva no trópico da América do Sul (e.g., Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), que constituem o sistema
migratório Temperado-Tropical da América do Sul (Joseph, 1997; Cueto e
Jahn, 2008).
A região Neotropical é a região biogeográfica que abrange parte do Sul
da América do Norte, região que compreende o México, América Central e
América do Sul (Amorim e Pires, 1996). Essa região possui alta biodiversidade
e variadas características climáticas e fisiográficas (Goldani e Carvalho, 2003),
possui mais de 30% de toda a diversidade de aves no mundo (Ridgely e Tudor,
1989, 1994). Entretanto, essa região tem sido pouco estudada (Martin, 2004).
O Brasil ocupa uma considerável parte da região Neotropical e a avifauna
dessa região possui numerosas espécies endêmicas que nela evoluíram (Sick,
1997). De acordo com a escassa literatura, a maioria dos migrantes
Neotropicais realizam migrações de média e curta distância dentro da América
do Sul (Chesser, 1994). Dessa maneira, as migrações altitudinais que
ocorrem na América do sul constituem um padrão raro de migração em escala
regional (Areta e Bodrati, 2010).
Tyrannidae é uma das maiores e mais diversificadas famílias de aves,
com cerca de 400 espécies e 100 gêneros (Fitzpatrick, 1980), sua distribuição
é restrita ao continente americano (Fitzpatrick, 2004) e tem maior número de
espécies no Brasil (Sick, 1997).
O Brasil é o segundo país com maior diversidade de aves, possui 1.901
espécies de aves documentadas (CBRO, 2014), e faz parte da rota de muitas
espécies migratórias (ICMBio, 2014). Durante a rota migratória das aves,
diversos habitats são selecionados devido a disponibilidade de recursos,
hábitos alimentares e táticas de forrageamento das espécies envolvidas.
Porém, devido a distribuição não-contínua desses recursos, as espécies
4
migrantes se concentram em áreas específicas para se alimentarem,
realizarem a muda e adquirirem reservas energéticas para a continuação de
longas viagens. Portanto, esses locais de concentração das aves têm
importância fundamental para sua conservação (ICMBio, 2014).
No Brasil, destacam-se as migrações do inverno do Norte (inverno
boreal) e do inverno do Sul (inverno austral) (Antas, 1994; Sick, 1997; Cabral et
al., 2006; Campos et al., 2008). Os migrantes vêm ao Brasil em busca de locais
de invernada, encontram alimentação farta para dar continuidade ao seu ciclo
de vida (Telino Jr. et al., 2003). Centenas de indivíduos que invernam no
extremo Norte utilizam essas áreas para pouso e alimentação logo após o
período reprodutivo, que acontece em maio e julho (Sick, 1997; Cabral et al.,
2006).
A destruição, fragmentação e degradação ambiental tendem a ameaçar
espécies migratórias de forma acentuada (Peterson, 1971), o que reforça a
necessidade de se compreender a dinâmica migratória das espécies. Além
disso, os padrões migratórios atuais demonstram evidências de que estão
sendo alterados pelo aquecimento global (Crick, 2004; Niven et al., 2004;
Pulido e Berthold, 2010). Mudanças já foram identificadas como o
adiantamento dos períodos reprodutivos (Dunn, 2004), datas de partida e
chegada (Cotton, 2003), diminuição da atividade migratória por causa do hábito
residente (Pulido e Berthold, 2010), mudanças na latitude nas áreas de
invernada (Fiedler et al., 2004; Niven et al., 2004) e de reprodução (Brommer,
2004).
Apesar das publicações recentes no Brasil sobre migração em aves,
ainda existem várias lacunas de conhecimento sobre as rotas migratórias
dentro do país (ICMBio, 2014). Uma possível explicação para a carência de
estudos sobre esses migrantes pode estar associada a seus movimentos
complexos, que incluem deslocamentos altitudinais, latitudinais e longitudinais;
podendo ser movimentos regionais ou locais, em decorrência da
disponibilidade de recursos. Portanto, para estudos dos seus movimentos
deve-se considerar não apenas a escala espacial, mas também a temporal
(Alves, 2007).
Neste trabalho foram investigados os padrões migratórios de quatro
espécies de tiranídeos Chibum (Elaenia chiriquensis), Irré (Myiarchus
5
swainsoni), Maria-ferrugem (Casiornis rufus) e Suiriri-cavaleiro (Machetornis
rixosa), com o objetivo de apresentar informações sobre movimentações
sazonais e avaliar se o deslocamento está associado a fatores reprodutivos e
estacionais, podendo assim, fornecer informações para elaboração de planos
de conservação.
2. Materiais e métodos
2.1 Coleta de dados e espécies estudadas
Os dados utilizados nessa pesquisa foram obtidos a partir de
registros de imagens e cantos disponibilizados, respectivamente, nos sites
WikiAves (http://www.wikiaves.com.br/) e Xeno-canto (www.xeno-canto.org). As
aves selecionadas para esses estudos foram quatro espécies de tiranídeos da
família Tyrannidae descritos como migrantes por Sick (1997): Chibum (Elaenia
chiriquensis), Irré (Myiarchus swainsoni), Maria-ferrugem (Casiornis rufus) e
Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa). Foi feita uma busca das espécies
selecionadas nos meses de janeiro a março de 2016 e todas as informações
disponíveis sobre essas aves foram registradas, como data e hora que o
registro foi feito, local de observação (município) e observações importantes
(e.g. atividades reprodutivas, forrageamento, etc).
2.2 Análises dos dados
Os padrões de distribuição geoespacial foram analisados no Programa
RStudio com o uso dos pacotes maps, rgdal, geosphere e gsubfn.
Os centroides das localidades que não tinham informação de latitude e
longitude foram identificados a partir do arquivo shapefile dos municípios
brasileiros disponível no site do IBGE, utilizando o pacote geosphere. Foi
utilizado um algoritmo para remover os outliers que estejam uma vez e meia a
distância interquartílica como uma forma de diminuir a influência de valores
extremos na interpretação dos dados. Foi comparado o deslocamento (em km)
do centroide dos pontos por mês em relação ao centroide do conjunto de todos
os pontos. Foi também calculada a distância em relação ao centroide dos
6
pontos do mês anterior (ex. foi calculada a distância dos pontos de fevereiro
com os de janeiro). Adicionalmente, foi calcula a envoltória convexa (convex
Hull) dos conjuntos de pontos separados por mês e foi avaliada a sobreposição
entre os polígonos que representam os meses. Foi avaliada a orientação dos
deslocamentos dos polígonos. Para essa avaliação foram utilizados apenas os
anos de 2009 até 2015 devido a maior disponibilidade de dados.
3. Resultados e discussão
Os resultam indicam que a abundância da espécie Machetornis
rixosa (suiriri-cavaleiro) durante o período entre 2009 e 2015 foi constante,
apresentando pouca variação na quantidade de espécies durante todo o ano,
mantendo uma quantidade de 400 a 600 indivíduos em todos os meses (Figura
1). Porém, houve um leve declínio do mês de fevereiro a abril, ficando em torno
de 400 a 450, indivíduos e novamente estabilizando a partir de maio. Houve
também pouca variação nos locais de concentração da espécie, sendo
encontrado predominantemente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, e
em pequenas quantidades em alguns países da América do Sul, como
Argentina e Paraguai (Figura 2). A migração latitudinal e longitudinal
apresentou deslocamento em todos os sentidos, somente nos meses de
setembro a outubro, durante a primavera, houve deslocamento somente em
direção sul (Figura 3, (j)), possivelmente devido à abundância de alimentos
nesta estação do ano.
Figura 1: Abundância média mensal da população de Machertonis rixosa (suiriri-cavaleiro)
durante o período de 2009 a 2015.
7
Figura 2: Concentração média mensal da população de Machetornis rixosa (suiriri-cavaleiro)
durante o período de 2009 a 2015. a) Janeiro; b) Fevereiro; c) Março; d) Abril; e) Maio; f)
Junho; g) Julho; h) Agosto; i) Setembro; j) Outubro; k) Novembro; l) Dezembro.
8
Figura 3: Variação em relação ao mês anterior na orientação do deslocamento da população
de Machetornis rixosa (suiriri-cavaleiro) durante o período de 2009 a 2015. a) Janeiro-
Dezembro; b) Fevereiro-Janeiro; c) Março-Fevereiro; d) Abril-Maio; e) Maio-Abril; f) Junho-
Maio; g) Julho-Junho; h) Agosto-Julho; i) Setembro-Agosto; j) Outubro-Setembro; k) Novembro-
Outubro; l) Dezembro-Novembro.
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A espécie Casiornis rufus (maria-ferrugem) apresentou pouca variação
na abundância de indivíduos nos meses de novembro a junho, estações verão
e outono, sendo observados entre 40 a 70 indivíduos, havendo um crescimento
em julho, agosto e um pico em setembro, estação que corresponde ao inverno
Neotropical, apresentando em torno de 100 a 150 indivíduos, possivelmente
devido a sazonalidade que ocorre na região central do Brasil. O aumento no
número de indivíduos pode estar relacionado ao incremento na disponibilidade
de um recurso importante para a espécie e a diminuição da competição com
outras espécies que tendem a deixar a região durante esse período. A
densidade volta a declinar no final de outubro (Figura 4). Houve também pouca
variação nos locais de concentração da espécie, sendo encontrado
predominantemente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul e algumas
espécies no Peru (Figura 5). A migração latitudinal e longitudinal apresentou
deslocamento em todos os sentidos, somente nos meses de setembro a
outubro, durante a primavera, houve deslocamento somente em direção oeste
(Figura 6, (j)), podendo ser característica de migração devido a sazonalidade
de recursos dessa estação do ano em regiões do Centro-Oeste.
Figura 4: Abundância média mensal da população de Casiornis rufus (maria-ferrugem) durante
o período de 2009 a 2015.
10
Figura 5: Concentração média mensal da população de Casiornis rufus (maria-ferrugem)
durante o período de 2009 a 2015. a) Janeiro; b) Fevereiro; c) Março; d) Abril; e) Maio; f)
Junho; g) Julho; h) Agosto; i) Setembro; j) Outubro; k) Novembro; l) Dezembro.
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Figura 6: Variação em relação ao mês anterior na orientação do deslocamento da população
de Casiornis rufus (maria-ferrugem) durante o período de 2009 a 2015. a) Janeiro-Dezembro;
b) Fevereiro-Janeiro; c) Março-Fevereiro; d) Abril-Maio; e) Maio-Abril; f) Junho-Maio; g) Julho-
Junho; h) Agosto-Julho; i) Setembro-Agosto; j) Outubro-Setembro; k) Novembro-Outubro; l)
Dezembro-Novembro.
12
A espécie Elaenia chiriquensis (chibum) é uma ave migratória na região
do Brasil Central (Negret et al, 1984; Marini e Cavalcanti, 1990; Sick, 1997) e
apresentou uma grande variação na abundância de indivíduos, nos meses de
janeiro a março, durante o verão, houve em torno de 60 indivíduos e foi
declinando até o mês de abril, que chega a ter em torno de 20 indivíduos,
mantendo a quantidade baixa, em torno de 40 indivíduos, até o mês de julho
(Figura 7). A partir de agosto houve um aumento da população, que nos meses
de setembro a dezembro, durante a primavera, haviam de 80 a 120 espécies
(Figura 7), conforme descrito por Medeiros e Marini (2007), que essa ave é
comum no cerrado sensu stricto e cerrado ralo nos meses de agosto a janeiro,
quando se reproduz.
Houve variação nos locais de concentração da espécie, sendo
encontrado em todos os estados do Brasil, porém em mais quantidade nas
regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul e algumas espécies no Peru (Figura 8). A
migração latitudinal e longitudinal apresentou deslocamento em todos os
sentidos, somente nos meses de janeiro a fevereiro houve deslocamento em
direção noroeste (Figura 9, (b)) e nos meses de setembro a outubro, durante a
primavera, houve deslocamento somente em direção oeste (Figura 9, (j)).
Figura 7: Abundância média mensal da população de chibum (Elaenia chiriquensis) durante o
período de 2009 a 2015.
13
Segundo Marini e Cavalcanti (1990), existem uma população migratória
reproduzindo no centro-sul do Brasil (em Brasília de setembro a dezembro) e
invernando no Centro-Oeste e Amazônia (há registros todo ano). A maior parte
da população é migratória e ocupa sazonalmente os cerrados (Cavalcanti,
1990; Marini e Cavalcanti, 1990), capturas dessas aves em redes ornitológicas
na Estação Ecológica de Águas Recomendadas (DF), ao longo dos meses
entre os anos 2002 e 2007 demonstraram que é uma espécie migratória
(Miguel Â. Marini com. Pess., 2007).
14
Figura 8: Concentração média mensal da população de chibum (Elaenia chiriquensis) durante o
período de 2009 a 2015. a) Janeiro; b) Fevereiro; c) Março; d) Abril; e) Maio; f) Junho; g) Julho;
h) Agosto; i) Setembro; j) Outubro; k) Novembro; l) Dezembro.
15
Figura 9: Variação em relação ao mês anterior na orientação do deslocamento da população
de chibum (Elaenia chiriquensis) durante o período de 2009 a 2015. a) Janeiro-Dezembro; b)
Fevereiro-Janeiro; c) Março-Fevereiro; d) Abril-Maio; e) Maio-Abril; f) Junho-Maio; g) Julho-
Junho; h) Agosto-Julho; i) Setembro-Agosto; j) Outubro-Setembro; k) Novembro-Outubro; l)
Dezembro-Novembro.
16
A espécie Myiarchus swainsoni (irré) apresentou uma grande variação
na abundância de indivíduos nos meses de janeiro a março. Durante o verão
foi observado em torno de 50 indivíduos, declinando até o mês de abril, que
chega a ter em torno de 20 indivíduos, mantendo a quantidade baixa até o mês
de julho, em torno de 40 indivíduos (Figura 10). A partir de setembro,
primavera, houve um aumento da população e entre outubro e novembro foram
registradas mais de 300 indivíduos (Figura 10). O local de concentração da
espécie é nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, além de alguns registros
no Peru. Entretanto, houve uma pequena variação nos meses de junho a
agosto, estação de inverno, onde a concentração da espécie foi na região
Centro-Oeste e Sudeste (Figura 11). A migração latitudinal e longitudinal
apresentou deslocamento em todos os sentidos, não havendo uma variação
significativa nas estações do ano (Figura 12)
Os resultados indicaram pequenos deslocamentos latitudinais ao longo
do ano para todas as espécies investigadas. Adicionalmente, não foi observado
uma orientação consistente nos deslocamentos feitos para todas as espécies
estudadas. Os resultados parecem sugerir que o processo migratório nas
espécies investigadas ocorre em uma escala menor, possivelmente
relacionado a variações nas condições ambientais locais.
Figura 10: Abundância média mensal da população de irré (Myiarchus swainsoni) durante o
período de 2009 a 2015.
17
Figura 11: Variação média mensal da espécie Myiarchus swainsoni (irré). a) Janeiro; b)
Fevereiro; c) Março; d) Abril; e) Maio; f) Junho; g) Julho; h) Agosto; i) Setembro; j) Outubro; k)
Novembro; l) Dezembro.
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Figura 12: Variação em relação ao mês anterior na orientação do deslocamento da população
da espécie irré (Myiarchus swainsoni). a) Janeiro-Dezembro; b) Fevereiro-Janeiro; c) Março-
Fevereiro; d) Abril-Maio; e) Maio-Abril; f) Junho-Maio; g) Julho-Junho; h) Agosto-Julho; i)
Setembro-Agosto; j) Outubro-Setembro; k) Novembro-Outubro; l) Dezembro-Novembro.
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4. Considerações finais
Os padrões migratórios das espécies Neotropicais aparentam apresentar
maior variação e complexidade do que observado nos tradicionais migrantes de
altas latitudes. Apesar do registro reduzido para algumas espécies, os dados
sugerem a inexistência de rotas migratórias bem definidas para as espécies
investigadas. Aparentemente, as espécies Myiarchus swainsoni (suiriri-
cavaleiro) e Elaenia chiriquensis (chibum) apresentam um padrão de migração
latitudinal, apesar de não ter sido possível identificar a área final de invernada.
Os dados sugerem que a espécie Casiornis rufus (maria-ferrugem) apresenta
um padrão de migração longitudinal, com movimentações regionais. Por outro
lado, não está claro se a espécie Machertonis rixosa (irré) apresenta
movimentos migratórios. Se os mesmos ocorrerem, devem ser influenciados
por variações nas condições locais como a disponibilidade de recursos e clima.
Na Europa e América do Norte pesquisas sobre migrações têm
produzido informações por centenas de anos, gerando um bom conhecimento
sobre o tema nessas regiões. Na América do Sul faltam informações e as
existentes normalmente são apenas em escala local. Segundo Alves (2007), o
Brasil, pela sua extensa área e ecossistemas que abriga é o país da América
do Sul com maior potencialidade para desvendar as questões relacionadas à
migração. Necessitamos obter mais informações sobre a dinâmica migratória e
rotas de migrações das aves, de maneira sistematizada e integrá-las em um
banco de dados para acesso, principalmente para os pesquisadores. A
disponibilidade pública de dados sobre migração de aves é importante para o
estudo e conservação de aves migratórias no Brasil.
20
5. Referências Bibliográficas
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24
APÊNDICE
Machertonis rixosa (suiriri-cavaleiro)
WikiAves
Mês
Cuidando/
alimentando
filhotes(s)
Presença
de
filhote(s)
Presença
de ninho
Construindo
ninho
Alimentando-
se/caçando
Jan
8
1
4
1
83
Fev
9
1
2
1
55
Mar
1
1
1
0
54
Abr
1
0
1
0
40
Mai
2
0
0
0
60
Jun
2
0
2
0
61
Jul
1
0
1
1
79
Ago
0
0
2
1
68
Set
2
0
0
1
48
Out
4
2
6
4
59
Nov
5
4
6
4
67
Dez
9
4
3
2
62
Países:
(Wiki Aves e Xeno-Canto)
Argentina (2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016)
Uruguai (2009, 2012, 2013, 2014, 2015)
Guatemala (2015)
Paraguai (2013)
Venezuela (2010, 2013)
Colômbia (2011, 2015)
Panamá (2015)
25
Casiornis rufus (maria-ferrugem)
WikiAves
Mês
Cuidando/
alimentando
filhotes(s)
Presença
de
filhote(s)
Presença
de ninho
Construindo
ninho
Alimentando-
se/caçando
Jan
0
0
0
0
0
Fev
0
0
0
0
2
Mar
0
0
0
0
0
Abr
0
0
0
0
0
Mai
0
0
0
0
0
Jun
0
0
0
0
1
Jul
0
0
0
0
0
Ago
0
0
0
0
0
Set
0
9
0
1
1
Out
2
0
0
0
1
Nov
0
0
0
0
0
Dez
0
0
0
0
1
Países:
(Wiki Aves e Xeno-Canto)
Peru (2010, 2013, 2011)
26
Elaenia chiriquensis (chibum)
WikiAves
Mês
Cuidando/
alimentando
filhotes(s)
Presença
de
filhote(s)
Presença
de ninho
Construindo
ninho
Alimentando-
se/caçando
Jan
1
0
0
0
2
Fev
0
0
0
0
1
Mar
0
0
0
0
0
Abr
0
0
0
0
0
Mai
0
0
0
0
0
Jun
0
0
0
0
0
Jul
0
0
0
0
1
Ago
0
0
1
1
0
Set
0
2
2
2
1
Out
2
1
4
1
4
Nov
1
1
0
0
0
Dez
0
1
1
0
2
Países:
(Wiki Aves e Xeno-Canto)
Venezuela (2014)
Panamá (2015)
Equador (2014, 2011, 2012, 2014)
Guiana Francesa (2010, 2011)
Peru (2009)
Costa Rica (2010)
27
Myiarchus swainsoni (Irré)
WikiAves
Mês
Cuidando/
alimentando
filhotes(s)
Presença
de
filhote(s)
Presença
de ninho
Construindo
ninho
Alimentando-
se/caçando
Jan
0
1
0
0
4
Fev
0
0
1
0
1
Mar
0
0
0
0
1
Abr
0
0
0
0
1
Mai
0
0
0
0
1
Jun
0
0
0
0
1
Jul
0
0
0
0
1
Ago
0
0
0
0
4
Set
0
0
0
0
5
Out
3
0
0
6
6
Nov
5
0
0
1
14
Dez
1
0
0
1
10
Países:
(Wiki Aves e Xeno-Canto)
Uruguai (2010)
Equador (2015, 2013, 2010, 2012)
Venezuela (2009, 2010)
Colômbia (2011)
Argentina (2013, 2011, 2012)
Bolívia (2012)