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DOIS NOVOS HOSPEDEIROS DE Prillieuxina winteriana (Ascomycota) DA FAMÍLIA ANNONACEAE

Authors:
Centro de Pesquisas do Cacau
Ilhéus - Bahia
Volume 30, número 1, janeiro a abril de 2018
AGROTRÓPICA é indexada em:
AGRINDEX; THE BRITISH LIBRARY; CAB (i.e. Horticultural Abstracts, Review of Plant Pathology, Forestry Abstracts);
AGROBASE; Agricultural and Enviroment for Developing regions (TROPAG); ULRICH’S INTERNATIONAL PERIODICALS
DIRECTORY (Abstract on Tropical Agriculture, Agricultural Engineering Abstracts, Agroforestry Abstracts, Bibliography of Agriculture,
Biological Abstracts, Chemical Abstracts, Exerp Medical, Food Science & Technology Abstracts, Indice Agricola de America Latina
y el Caribe, Nutrition Abstracts, Protozool. Abstracts, Review of Applied Entomology, Seed Abstracts, Tropical Oil Seeds Abstracts).
Agrotrópica, v. 1, n°1 (1989)
Ilhéus, BA, Brasil, CEPLAC/CEPEC,1989
v.
Quadrimestral
Substitui “Revista Theobroma”
1. Agropecuária - Periódico.
CDD 630.5
INFORMAÇÕES SOBRE A CAPA: A Vassoura-de-bruxa é uma doença do cacaueiro causada por um fungo basidiomiceto Moniliophtora
perniciosa Stahel Aime & Phillips-Mora. É uma das doenças de maior impacto econômico nos países produtores de cacau da América
do Sul e das ilhas do Caribe. M. perniciosa ataca as regiões meristemáticas do cacaueiro, principalmente frutos, brotos e almofadas
florais, ocasionando queda acentuada na produção, provocando o desenvolvimento anormal, seguido de morte, das partes infectadas.
2018 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer
fim comercial.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é do autor.
Ano 2018.
Tiragem: 1.000 exemplares
Elaboração, distribuição, informações:
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
Superintendência Regional no Estado da Bahia
Centro de Pesquisas do Cacau
Editor: Ronaldo Costa Argôlo.
Coeditor: Quintino Reis de Araujo.
Normalização de referências bibliográficas: Maria Christina de C. Faria
Editoração eletrônica: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró.
Capa: Ronaldo Costa Argôlo Filho
ISSN - 0103 - 3816
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
CEPLAC - Comissão Executiva do
Plano da Lavoura Cacaueira
AGROTRÓPICA. Publicação quadrimestral
do Centro de Pesquisas do Cacau
(CEPEC)/ CEPLAC.
Comitê Editorial:
Adonias de Castro Virgens Filho; Antônio
Cesar Costa Zugaib; Dan Érico Vieira Petit
Lobão; Edna Dora Martins Newman Luz;
George Andrade Sodré; Givaldo Rocha
Niella; Jacques Hubert Charles Delabie;
Jadergudson Pereira; José Basílio Vieira
Leite; José Inácio Lacerda Moura; José
Luís Bezerra; José Luís Pires; José Marques
Pereira; José Raimundo Bonadie Marques;
Karina Peres Gramacho; Manfred Willy
Muller; Paulo César Lima Marrocos; Raúl
René Melendez Valle; Uilson Vanderlei
Lopes.
Editor: Ronaldo Costa Argôlo.
Coeditor: Quintino Reis de Araujo.
Normalização de referências bibliográ-
ficas: Maria Christina de C. Faria
Editoração eletrônica: Jacqueline C.C. do
Amaral e Selenê Cristina Badaró.
Capa: Ronaldo Costa Argôlo Filho
Endereço para correspondência:
AGROTRÓPICA, Centro de Pesquisas
do Cacau (CEPEC), 45600-970, Itabuna,
Bahia, Brasil.
Telefone: (73) 3214 -3211
E-mail: agrotrop.agrotrop@gmail.com
Tiragem: 1000 exemplares
AGROTRÓPICA
CONTEÚDO
V. 30 Janeiro - abril 2018 N.1
Volume 30, páginas 1 - 78, publicado em maio de 2018.
ARTIGOS
Favorabilidade, distribuição e prevalência da vassoura-de-bruxa do
cacaueiro no estado do Espírito Santo, Brasil. S. S. Lima, C. A. S.
Souza, N. G. R. B. Patrocínio, R. A. da Silva, R. S. G. dos Santos,
K. P. Gramacho.
Uso de imagem digital para estimar o teor foliar de nitrogênio em
cacaueiros. T. de A. Silva, J. O. de Souza Júnior, M. S. Mielke,
C. O. A. Hernández.
Diversificação de atividades agropecuárias como alternativa de
sustentabilidade para o pequeno produtor rural. C. M. V. C. de
Almeida, C. Rosa Neto, A. de A. Lima, T. C. de Souza, L. V. de
Araújo.
Dois novos hospedeiros de Prillieuxina winteriana (Ascomycota)
da família Annonaceae. A. Santos, R. A. Pires, A. de O. Soares
Filho, Q. S. Novais, M. E. Caliman, J. L. Bezerra.
Besouros Escarabeídeos (Coleoptera:Scarabaeidae) coletados em
remanescente florestal em Rio Branco, Acre, Brasil. R. S. Santos,
W. P. Sutil, J. F. A. de Oliveira.
Variabilidade genética de cultivares e híbridos elite de mangueira
com base em marcadores moleculares. J. P. Basso, F. G. Faleiro,
J. da S. Oliveira, T. G. Guimarães, M. F. Braga, K. G. da Fonseca,
N. T. V. Junqueira, F. P. Lima Neto.
Produtividade da melancieira sob irrigação deficitária, em diferentes
coberturas de solo, utilizando o modelo ISAREG. K. R. Saraiva, T.
V. de A. Viana, S. C. Costa, F. M. L. Bezerra, F. de Souza e R.
R. da Costa.
Desempenho de cultivares de taro (Colocasia esculenta) no outono/
inverno em região de clima quente. M. R. Krause, J. N. Colombo,
L. M. Altoé, M. K. Ianke, A. F. de Souza.
Compostos bioativos e atividade antioxidante em frutas nativas do
Brasil. A. G. de Souza, A. C. Fassina, F. R. de S. Saraiva.
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ISSN - 0103 - 3816
MINISTRY OF AGRICULTURE
LIVESTOCK AND FOOD SUPPLY
CEPLAC - Executive Commission of
the Cacao Agriculture Plan
AGROTRÓPICA. Published every four
months by the Cocoa Research Center
(CEPEC)/CEPLAC.
Editorial Committee:
Adonias de Castro Virgens Filho; Antônio
Cesar Costa Zugaib; Dan Érico Vieira Petit
Lobão; Edna Dora Martins Newman Luz;
George Andrade Sodré; Givaldo Rocha
Niella; Jacques Hubert Charles Delabie;
Jadergudson Pereira; José Basílio Vieira
Leite; José Inácio Lacerda Moura; José
Luís Bezerra; José Luís Pires; José Marques
Pereira; José Raimundo Bonadie Marques;
Karina Peres Gramacho; Manfred Willy
Muller; Paulo César Lima Marrocos; Raúl
René Melendez Valle; Uilson Vanderlei
Lopes.
Editor: Ronaldo Costa Argôlo.
Coeditor: Quintino Reis de Araujo.
Revision of bibliographical references:
Maria Christina de C. Faria
Desktop publish: Jacqueline C.C. do
Amaral and Selenê Cristina Badaró.
Cover: Ronaldo Costa Argôlo Filho
Address for correspondence:
AGROTRÓPICA, Cocoa Research Center
(CEPEC), 45600-970, Itabuna, Bahia,
Brazil.
Telephone: 55 (73) 3214 - 3211
E-mail: agrotrop.agrotrop@gmail.com
Circulation: 1000 copies.
AGROTRÓPICA
Volume 30, pages 1 - 78, published May, 2018
CONTENTS
ARTICLES
V.30 January - April 2018 N.1
Favorability, distribution and prevalence of witches’broom disease
of cacao in the State of Espirito Santo, Brazil (in Portuguese). S. S.
Lima, C. A. S. Souza, N. G. R. B. Patrocínio, R. A. da Silva, R.
S. G. dos Santos, K. P. Gramacho.
Use of digital image to estimate the nitrogen content in cacaueiros
leafs (in Portuguese). T. de A. Silva, J. O. de Souza Júnior, M. S.
Mielke, C. O. A. Hernández.
Diversification of agricultural activities as a sustainability alternative
for the small farmer (in Portuguese). C. M. V. C. de Almeida, C.
Rosa Neto, A. de A. Lima, T. C. de Souza, L. V. de Araújo.
Two new hosts of Prillieuxina winteriana (Ascomycota) of the
family Annonaceae (in Portuguese). A. Santos, R. A. Pires, A. de
O. Soares Filho, Q. S. Novais, M. E. Caliman, J. L. Bezerra.
Dung beetles (Coleoptera: Scarabaeidae) collected in forest remnant
in the municipality of Rio Branco, Acre state, Brazil (in Portuguese).
R. S. Santos, W. P. Sutil, J. F. A. de Oliveira.
Genetic variability of cultivars and elite hybrids of mango tree based
on molecular markers (in Portuguese). J. P. Basso, F. G. Faleiro,
J. da S. Oliveira, T. G. Guimarães, M. F. Braga, K. G. da Fonseca,
N. T. V. Junqueira, F. P. Lima Neto.
Watermelon productivity under deficitary irrigation, in different
covering, using the ISAREG model (in Portuguese). K. R. Saraiva,
T. V. de A. Viana, S. C. Costa, F. M. L. Bezerra, F. de Souza e
R. R. da Costa.
Performance of taro cultivars (Colocasia esculenta) in fall / winter
hot climate region (in Portuguese). M. R. Krause, J. N. Colombo,
L. M. Altoé, M. K. Ianke, A. F. de Souza.
Bioactive compounds and antioxidant activity in native fruits from
Brazil (in Portuguese). A. G. de Souza, A. C. Fassina, F. R. de S.
Saraiva.
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES
1. O original para publicação em português, inglês ou
espanhol, deve ter no máximo 18 páginas numeradas, em
formato A4 (21,0 x 29,7 cm), fonte Times New Roman, corpo
12, espaço 1,5 (exceto Resumo e Abstract, em espaço
simples), digitado em Word/Windows. O artigo deverá ser
encaminhado à Comissão Editorial da revista por meio
eletrônico. No rodapé da primeira página deverão constar o
endereço postal completo e o endereço eletrônico do(s)
autores(s). As figuras e tabelas devem vir à parte.
2. Os artigos devem conter: título, resumo, abstract,
introdução, material e métodos, resultados e discussão,
conclusões, agradecimentos e literatura citada.
3. Os artigos científicos e notas científicas devem conter
introdução que destaque os antecedentes, a importância do
tópico e revisão de literatura. Nos materiais e métodos
devem-se descrever os materiais e métodos usados,
incluindo informações sobre localização, época, clima, solo
etc., bem como nomes científicos se possível completo de
plantas, animais, patógenos etc., o desenho experimental e
recursos de análise estatística empregada. Os resultados e
discussão poderão vir juntos ou separados e devem incluir
tabelas e figuras com suas respectivas análises estatísticas.
As conclusões devem ser frases curtas, com o verbo no
presente do indicativo, sem comentários adicionais e
derivados dos objetivos do artigo.
4. Título - Deve ser conciso e expressar com exatidão o
conteúdo do trabalho, com no máximo 15 palavras.
5. Resumo e Abstract - Devem conter no máximo 200
palavras. Abstract deve ser tradução fiel do resumo em
inglês.
6. Palavras chave - Devem ser no máximo de seis, sem
estar contidas no título.
7. Introdução - Deverá ser concisa e conter revisão
estritamente necessária à introdução do tema e suporte
para a metodologia e discussão.
8. Material e Métodos - Poderá ser apresentado de
forma descritiva contínua ou com subitens, de forma a
permitir ao leitor a compreensão e reprodução da
metodologia citada com auxílio ou não de citações
bibliográficas.
9. Resultados, Discussão e Conclusões - De acordo
com o formato escolhido, estas partes devem ser
apresentadas de forma clara, com auxílio de tabelas, gráficos
e figuras, de modo a não deixar dúvidas ao leitor, quanto à
autenticidade dos resultados, pontos de vistas discutidos e
conclusões sugeridas.
10. Agradecimentos - As pessoas, instituições e
empresas que contribuíram na realização do trabalho deverão
ser mencionadas no final do texto, antes do item Referências
Bibliográficas.
PERIÓDICO
REIS, E. L. 1996. Métodos de aplicação e fracionamentos de fertilizantes
no desenvolvimento da seringueira (Hevea brasiliensis) no
Sul da Bahia. Agrotrópica (Brasil) 8(2):39-44.
LIVRO
BALL, D. M.; HOVELAND, C. S.; LACEFIELD, G. D. 1991.
Southern forrages. Atlanta, PPI. 256p.
PARTE DE LIVRO
ENTWISTLE, P. F. 1987. Insects and cocoa. In: Wood, G.A.R.;
Lass, R. A. Cocoa. 4 ed. London, Longman. pp.366-443.
DISSERTAÇÃO
ROCHA, C. M. F. 1994. Efeito do nitrogênio na longevidade da
folha de cacau (Theobroma cacao L.). Dissertação
Mestrado. Salvador, UFBA. 31p.
TESE
ROHDE, G. M. 2003. Economia ecológica da emissão antropogênica
de CO2 - Uma abordagem filosófica-científica sobre a
efetuação humana alopoiética da terra em escala planetária.
Tese Doutorado. Porto Alegre, UFRGS/IB. 235p.
MONOGRAFIA SERIADA
TREVIZAN, S. D. P.; ELOY, A. L. S. 1995. Nível alimentar da
população rural na Região Cacaueira da Bahia. Ilhéus,
CEPLAC/CEPEC. Boletim Técnico n° 180. 19p.
PARTE DE EVENTO
PIRES, J. L. et al. 1994. Cacao germplasm characterisation based
on fat content. In: International Workshop on Cocoa
Breeding Strategies, Kuala Lumpur, 1994. Proceedings.
Kuala Lumpur, INGENIC. pp.148-154.
11. Unidades de medida - Usar exclusivamente o Sistema
Internacional (S.I.).
12. Figuras (gráficos, desenhos, mapas) - devem ser a
presentadas com qualidade que permita boa reprodução
gráfica; devem ter 8,2 cm ou 17 cm de largura; as fotografias
devem ser escaneadas com 300 dpi e gravadas em arquivo
TIF, separadas do texto.
13. As tabelas - devem ser apresentadas em Word ou
Excel, e os dados digitados em Times New Roman.
14. Literatura Citada - No texto as referências devem
ser citadas da seguinte forma: Silva (1990) ou (Silva, 1990).
A normalização das referências deve seguir os exemplos
abaixo:
15. Correspondência de encaminhamento do artigo
deverá ser assinada pelo autor e coautores.
A literatura citada deverá referir-se, de preferência, a
trabalhos completos publicados nos últimos 5 anos.
Os autores receberão cópias do seu trabalho publicado.
PERIODICALS
GUIDELINES TO AUTHORS
1 - The manuscript for publication in Portuguese, English
or Spanish, not exceed 18 numbered pages, format A4, in
Times New Roman, 12, 1.5 spaced (except Resumo and
Abstract, simple spaced) tiped in Word. The article must be
addressed to the Editorial Comission in 4 printed copies and
also in CD copy. Complete mailing address and e-mail of the
author(s) must appear at the bottom of first page. Three out
of the four copies should not state the authors name or
acknowledgements, since these copies will go to rewiers.
Figures (drawings, maps,pictures and graphs) and tables
should be sent separately and ready for publication;
2 - Articles must contain: title, abstract, introduction,
materials and methods, results and discussion, conclusions,
acknowledgements and literature cited (references);
3 - Scientific articles and notes must include an
introduction highlighting the background and importance
of the subject and literature review. Under materials and
methods one must mention informations about locations,
time, climate, soil, etc. and furnish latin names of plants,
animals, pathogens, etc., as well experimental designs and
statistical analysis used. Conclusions must be objective
and derived from relevant results of the research.
4 - Title - It must be concise (not exceed 15 words) and
express the real scope of the work.
5 - Abstract - No more than 200 words.
6 - Kew words - Six at most, and should not be present in
the title.
7 - Introduction – should be concise containing a strictly
necessary review to the introduction of the topic and
support for the methodology and discussionvista
8 - Materials and Methods may be presented in a
continuous descriptive form or with subheadings, in a manner
that allows the reader to understand and reproduce the
described methodology. Bibliographic citations can be used.
9 - Results, Discussion and Conclusions – In
accordance with the format chosen, these parts should be
presented clearly, with the aid of tables, graphs and figures
so as to leave no doubt as to the authenticity of the results,
viewpoints discussed and conclusions emitted.
10 - Acknowledgements – Persons, institutions and
companies that contributed to the accomplishment of the
work should be mentioned at the end of the text before the
Bibliographic References
11 - Measurement units - Use only the International
System.
12 - Figures (drawings, maps, pictures and graphs) -
They must possess good quality for graphic reproduction;
size 8.2 cm or 17 cm wide; photos should be scanned at 300
dpi and recorded, out of the text, in TIF file.
13 - Tables - It should be present in Word or Excel and
data tiped in Times New Roman, 12.
14 - References - literature cited in the text must be
written as follows: Silva (1990) or (Silva, 1990).
Citation should be givens as follows.
Literature cited should include published papers rather
in the last 5 years.
15 - Correspondence of guiding will have to be signed
by the author and coauthors.
Authors will receive the reprints of their published paper.
BOOKS
BALL, D. M.; HOVELAND, C .S.; LACEFIELD, G. D. 1991.
Southern forrages. Atlanta, PPI. 256p.
BOOK CHAPTERS
ENTWISTLE, P. F. 1987. Insects and cocoa. In: Wood, G.A.R.;
Lass, R. A. Cocoa. 4 ed. London, Longman. pp.366-443.
DISSERTATION
ROCHA, C. M. F. 1994. Efeito do nitrogênio na longevidade da
folha de cacau (Theobroma cacao L.). Dissertação
Mestrado. Salvador, UFBA. 31p.
THESIS
ROHDE, G. M. 2003. Economia ecológica da emissão
antropogênica de CO2 - Uma abordagem filosófica-
científica sobre a efetuação humana alopoiética da terra
em escala planetária. Tese Doutorado. Porto Alegre,
UFRGS/IB. 235p.
SERIATE MONOGRAPHS
TREVIZAN, S. D. P.; ELOY, A. L. S. 1995. Nível alimentar da
população rural na Região Cacaueira da Bahia. Ilhéus,
CEPLAC/CEPEC. Boletim Técnico n° 180. 19p.
PART OF MEETINGS
PIRES, J. L. et al. 1994. Cacao germplasm characterisation based
on fat content. In: International Workshop on Cocoa
Breeding Strategies, Kuala Lumpur, 1994. Proceedings.
Kuala Lumpur, INGENIC. pp.148-154.
REIS, E. L. 1996. Métodos de aplicação e fracionamentos de
fertilizantes no desenvolvimento da seringueira (Hevea
brasiliensis) no Sul da Bahia. Agrotrópica (Brasil) 8(2):
39 - 44.
Agrotrópica 30(1): 5 - 14. 2018.
Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Sanlai Santos Lima1,2, Carlos Alberto Spaggiari Souza3, Nara Geórgia Ribeiro Braz Patrocínio1,
Rangeline Azevedo da Silva1, Renato Souza Gonzaga dos Santos2, Karina P. Gramacho1,2*
FAVORABILIDADE, DISTRIBUIÇÃO E PREVALÊNCIA DA VASSOURA-DE-
BRUXA DO CACAUEIRO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL
Recebido para publicação em 07 de dezembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 5
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p5-14
1Comissão Executiva do Plano, Centro de Pesquisas do Cacau (CEPLAC/CEPEC), Seção de Fitossanidade, Laboratório de
Fitopatologia Molecular, Rodovia Ilhéus/Itabuna, km 22, 45600-970, Ilhéus-BA, Brasil. ialnas@hotmail.com;
naragrb@hotmail.com; rangeline.as@gmail.com; renatosgonzaga@gmail.com; gramachokp@hotmail.com;
2Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Departamento de Ciências Biológicas, Centro de Biotecnologia e Genética,
Rodovia Ilhéus/Itabuna, km 16, 45662-900, Ilhéus-BA, Brasil.
3Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, Estação (CEPLAC/ESFIP), Rodovia Vitória/Linhares, km 150,
Linhares-ES. spaggiari.ceplac@gmail.com.
*Autor para correspondência: gramachokp@hotmail.com
A vassoura-de-bruxa do cacaueiro (VBC), causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa foi identificada no
estado do Espírito Santo (ES) no ano de 2001 tornando-se o principal problema fitopatológico das plantações de
cacau do estado. Neste trabalho, realizou-se um diagnóstico da severidade da doença no ES por meio de informações
climáticas, área de cacau plantada e prevalência da doença na região. Foram visitadas 25 fazendas representativas das
principais regiões produtoras de cacau do estado, onde foram coletados tecidos de cacau com sintomas característicos
da doença. Verificou-se que 28% das fazendas visitadas apresentaram nível de severidade 1, 40% nível 2, e 32%
apresentaram nível 3, as quais exibiram tanto um elevado número de vassouras na copa como também vassouras nas
almofadas florais. Um zoneamento, com base na área plantada de cacau e nas condições climáticas favoráveis à VBC
no estado do ES foi elaborado identificando as zonas como ‘favorável’, ‘relativamente favorável’ e ‘desfavorável’.
Linhares e São Mateus apresentaram-se como as regiões mais favoráveis a VBC. Em paralelo, obteve-se uma coleção
de isolados de M. perniciosa representativa da diversidade do patógeno das principais regiões produtoras do estado
com o intuito de servir como base para subsidiar futuros estudos fitopatológicos sobre a biologia, patogenicidade,
genética populacional e melhoramento genético do cacaueiro no ES. Esta coleção está depositada na micoteca de M.
perniciosa da CEPLAC/CEPEC/FITOMOL (registro 109/2013 CGEN-Processo 02000.001362/2013-76).
Palavras-chave: Cacau, Moniliophthora perniciosa, zoneamento fitossanitário.
Favorability, distribution and prevalence of witches‘broom disease of cacao in
the State of Espirito Santo, Brazil. The witches´broom disease of cacao (WBD), caused by the
fungus Moniliophthora perniciosa was reported in the Espírito Santo (ES) State in the year 2001, and soon
became the main phytopathological problem that affects the cacao plantations in the State. A diagnostic of the
disease severity considering favorable climatic conditions, cacao planted area, and prevalence of the disease in the
region was carried out. Twenty-five representative farms from the major cacao producing regions of the State were
visited and diseased cacao tissues with characteristic symptoms of the disease were collected. It was found that
28% of the visited farms showed severity level 1, 40% level 2, and 32% level 3, the last exhibited a high number of
canopy brooms and flower cushions brooms. Favorable areas were established according to WBD favorability in
the ES, the identified zones were: ' favor ', ' relatively favorable ' and ' unfavorable ' based on cacao planted area of
cacao and climatic conditions. Linhares and São Mateus were the most favorable regions for WBD development.
A collection of M. perniciosa isolates representative of the fungal diversity in the State was established. This
collection represents an important step for future phytopathological studies about the biology, pathogenicity,
population genetics and genetic improvement of cacao in ES. All isolates are deposited in the culture collection of
M. perniciosa of CEPLAC / CEPEC / FITOMOL (registration 109/2013 CGEN-Process 02000.001362 / 2013-76).
Key words: Cacao, Moniliophthora perniciosa, phytosanitary zoning.
Agrotrópica 30(1) 2018
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Introdução
O cacaueiro (Theobroma cacao L.), conhecido
como a árvore do chocolate, é uma espécie diplóide,
pertencente à família Malvaceae, típica de clima tropical
e nativa de floresta úmida da América, onde cresce em
ambiente de sub-bosque. O interesse de cultivo desta
espécie está, principalmente, no aproveitamento de suas
sementes para produção do chocolate e outros
subprodutos tais como mel, polpa, ração animal,
fertilizantes, geleias, manteiga, e cacau em pó. A cultura
do cacau está constantemente sob ameaça de novas
doenças por uma ampla gama de patógenos fúngicos
(Bowers et al., 2001), os quais ocasionam perda de um
terço na produção mundial de cacau.
A ocorrência de doenças fúngicas é o principal fator
limitante a produtividade da cultura, dentre estas cita-
se a vassoura-de-bruxa do cacaueiro (VBC), causada
pelo fungo Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime
e Phillips-Mora (Aime; Phillips-Mora, 2005), um
patógeno hemibiotrófico que infecta tecidos
meristemáticos (gemas vegetativas, florais e/ou frutos
em formação) (Purdy; Schmidt, 1996). Na fase
biotrófica, o fitopatógeno provoca alterações
histológicas, morfológicas e fisiológicas (Frias et al.,
1991), tecido e tempo-específicas no cacaueiro (Sena
et al., 2014). A resposta do hospedeiro, localizada no
sítio de infecção, resulta no aumento dos tecidos
infectados (Ceita et al., 2007) e desenvolvimento de
ramos laterais, dando a aparência de uma vassoura-
reconhecidamente o sintoma típico da doença.
No Brasil, as regiões da Amazônia e estado da
Bahia se destacam como principais produtoras do
cultivo do cacaueiro. No ano de 2017 o estado do Pará
consolidou sua posição de maior produtor de cacau
em grão do país (IBGE, 2017), respondendo por quase
50% da produção nacional, à frente da Bahia, segunda
colocada no ranking. Segundo o levantamento
sistemático da produção agrícola (LSPA -
Levantamento Sistemático da Produção Agrícola) de
junho de 2017 (IBGE, 2017). A produção de cacau em
grão do Pará atingiu perto de 116 mil toneladas em
2017, acima das 105 mil toneladas previstas para a
Bahia que sofreu a quebra na safra devido à forte
seca. Com uma área plantada maior que a do Pará,
estima-se que a Bahia (antes o primeiro maior produtor
nacional de cacau) se recupere dos efeitos da seca de
2016, o que permitirá que retome a liderança ainda na
próxima safra. Em terceiro lugar está o estado do
Espírito Santo produzindo 6,5 mil toneladas de amêndoas
e com 5 mil toneladas o estado de Rondônia que vem
crescendo em produção.
O cultivo do cacaueiro no Espírito Santo remonta
aos anos de 1880, nas terras da Fazenda Guararema
por Francisco Calmon. A partir de 1917, o cultivo
começou a ser explorado mais intensamente sob a
floresta do Baixo Rio Doce, pelos cacauicultores
Filogônio de Souza Peixoto e Antônio Negreiros Pêgo
ao adquirirem as fazendas Maria Bonita e Gigante,
ambas localizadas às margens do Baixo Rio Doce,
em uma região com condições climáticas propícias
ao cultivo do cacaueiro (Costa, 1989). Nos governos
de Bernardino Souza Monteiro (1916-1920) e Nestor
Gomes (1921-1924) foi estimulado o plantio do
cacaueiro na região do Baixo Rio Doce, em Linhares,
no Estado do Espírito Santo, neste mesmo ano, o
estado adquiriu uma fazenda com plantações de
cacau onde foi fundada a Estação Experimental
Estadual de Goytacazes. Cujo objetivo foi conduzir
pesquisas com esse cultivo visando dar suporte técnico
aos produtores (Costa, 1989). Na primeira metade
do século XX, a cultura do cacaueiro continuou se
desenvolvendo no vale do Baixo Rio Doce, sobretudo
no município de Linhares, contribuindo para o intenso
crescimento de sua população e economia do estado,
de tal forma que este fato consta nos livros de história
regionais que o município de Linhares é um
subproduto do cacau (Pereira, 2017).
Os primeiros plantios em grande escala no Estado
do Espírito Santo foram feitos a partir de sementes
procedentes do Estado da Bahia. Eram cacaueiros do
grupo Forasteiro Amazônico, representados pelos
cultivares Comum, Pará e Maranhão. ‘Pará’ e
‘Maranhão’, apresentam ainda formas ou tipos
conhecidos como Parazinho, Maranhão Liso e
Maranhão Rugoso, respectivamente (Dias et al., 2003).
Por se tratar de uma “commodity”, o cultivo do
cacaueiro alterna momentos de altos preços e de crise.
Em meados da década de 80, uma nova queda de
preços não sustentou os altos custos de produção e
como resultado houve o abandono dos tratos culturais
e fitossanitários e consequente queda na produtividade
dos produtores capixabas sem a oferta de crédito rural
levando ao crescente endividamento dos produtores
Lima et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
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(PEDEAG, 2007). A crise agravou-se ainda mais
com a introdução da VBC em 22 de fevereiro de
2001, oficialmente relatada na Fazenda Maria
Bonita, em Linhares (PEDEAG, 2007). Rapidamente
a VBC disseminou-se para os principais municípios
produtores de cacau do estado. A partir de 2002, a
produção cacaueira no ES começou a declinar e,
passados 15 anos, a produção caiu pela metade:
variando de 11.722 toneladas para quase 6.000
toneladas em 2016, considerando ainda um aumento
de quase 2000 hectares de área colhida nesse
período.
É possível associar essa baixa produção e
produtividade a diversos fatores, mas sem dúvida a
VBC é uma das principais causas desse resultado.
Assim como na Bahia, os impactos da doença se
propagaram após a introdução da praga nas lavouras,
com diminuição da produtividade ano após ano. Santos
Filho et al. (2008) observaram estreita relação entre a
incidência da doença e a produção de cacau na Bahia
no período compreendido entre as safras de 1991/92 e
2006/07 quanto mais frutos doentes, menor a produção
ao longo do supracitado período. Essa queda também
foi relatada por Hartmann (2008) que, avaliando a
evolução da produção de cacau na Bahia por 66 anos,
discutiu que a produção apresentou crescimento
contínuo até meados da década de noventa quando
houve uma queda brusca na produção em
consequência da referida doença. Assim, a presença
da doença no estado do ES exerceu um efeito cascata
devido a: (i) queda de produção de amêndoas, (ii) perda
de receita por parte do cacauicultor, e (iii) abandono
dos tratos culturais na lavoura. No estado do Espírito
Santo, esses fatores foram e ainda são agravados
devido às oscilações climáticas na região que ora sofre
por períodos de estiagem, ora por enchentes.
Do ponto de vista fitossanitário, a ocorrência da
VBC no estado do ES constitui um ponto de
estrangulamento à manutenção da expansão da
cacauicultura no Estado. Portanto, a identificação
precisa do patógeno e o zoneamento da doença são
importantes, tendo em vista o estabelecimento de
estratégias eficazes de controle. Este trabalho discute
o impacto da doença VBC no estado do ES a partir
da determinação da distribuição geográfica,
prevalência e severidade da doença nas principais
áreas produtoras de cacau do Estado do ES. O
segundo objetivo foi a formação de uma coleção de
isolados representativos dos plantios comerciais de
cacau do ES para subsidiar futuros estudos
fitopatológicos sobre a biologia, patogenicidade,
genética populacional e melhoramento genético do
cacaueiro no ES.
Material e Métodos
Obtenção da Coleção de isolados de
Moniliophthora perniciosa
A área de estudo utilizada refere-se aos plantios
de cacau do estado do Espírito Santo, Brasil, limitado
pelas latitudes de 18º15’ e 19º 45’ S, a costa atlântica
e o meridiano de 41º 00’. Nesta, foram amostradas
25 propriedades representativas das principais
microrregiões de importância econômica para o cultivo
do cacaueiro no Estado. Para determinar a severidade
e prevalência da doença foram realizadas inspeções
fitossanitárias e coletas de material doente entre
outubro de 2011 e dezembro de 2012 (Figura 1).
Visando a obtenção de uma coleção de
Moniliophthora perniciosa (MP) do ES, vassouras
secas foram coletadas e acondicionadas em sacos
plásticos e levadas ao laboratório para o isolamento,
identificação e confirmação do patógeno. O
delineamento das coletas foi realizado de acordo com
um “caminhamento” em W que consiste em percorrer
toda a área de coleta em formato de um “W”,
evitando-se as bordas e coletando-se vassouras em
cacaueiros com distância mínima de 12 metros entre
si. Os isolados obtidos foram identificados,
registrados e depositados na coleção de culturas de
M. perniciosa do CEPEC – FITOMOL (CEGEN
Nº 109/2013/SECEXCGEN). Os números de registro
indicam o local de plantio e a fazenda de onde foram
obtidos os isolados.
Georreferenciamento e obtenção de Mapas
de favorabilidade
As fazendas visitadas foram devidamente
georreferenciadas (Tabela 1) e as informações
cartográficas foram preparadas em ambiente de
geoprocessamento utilizando o software Qgis
(Hugentobler, 2008). O Qgis é um Sistema de
Informação Geográfica (SIG), sistema livre e aberto,
VB do cacaueiro no estado do Espírito Santo
Agrotrópica 30(1) 2018
8
Figura 1. Área de ocorrência e distribuição geográfica das propriedades rurais representativas das principais
microrregiões de importância econômica para o cultivo do cacaueiro no estado do Espírito Santo (ES) Brasil.
e suporta formatos de vetores, rasters e base de dados
(QGIS Development Team, 2017). Segundo Jung
(2013), permite a extensão fácil de suas funções
principais através de plugins escritos pelo usuário, que
podem ser baixados no desktop suíte.
Foram utilizados dados de área plantada de cacau
do ES datados do ano de 2015 disponíveis no site do
IBGE (2015), para a elaboração do mapa temático
de área plantada e para o mapa temático de coletas
os pontos de coletas georreferenciados (Tabela 1).
Para elaboração do mapa de favorabilidade foram
utilizados os dados médios anuais de temperatura e
umidade relativa, do INCAPER (2017) e Climate-
Data (2017), seguindo a metodologia de Moraes
(2012). Com os mapas de favorabilidade e de área
plantada, foi elaborado o mapa de risco, através da
sobreposição de mapas, utilizando camadas vetoriais.
Foram utilizados shape files, que estão disponíveis
no site do Núcleo de Economia Regional e Urbana
da Universidade de São Paulo – NEREUS e no site
do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br),
seção mapas. Através da função adicionar camadas
vetoriais, os shapes file foram integrados para
preparar os mapas. Para o mapa dos pontos de coleta
e o mapa temático de área plantada foi utilizado o
sistema de referência Sirgas 2000 zona 24S (DATUM).
Tabela 1. Classificação dos níveis de severidade da doença
vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Theobroma cacao L.) baseado
na sintomatologia
Níveis Sintomas avaliados
Plantações apresentam poucas vassouras na copa
e nas almofadas florais. A incidência de frutos é
muito pequena;
Plantações apresentam um número elevado de
vassouras na copa das plantas, um aumento de
almofadas florais infectadas em relação ao Nível
1, a incidência de frutos é considerável;
Plantações com esse nível de severidade apresentam
elevado número de vassouras na copa e a maioria
das almofadas florais infectadas. A infecção de frutos
inviabiliza economicamente o cultivo.
1
2
3
Fonte: CEPLAC (http://www.ceplacpa.gov.br/site/wp-
content/uploads/2010/09/Novo%20Folder%20vassoura-de-
bruxa%20do%20cacaueiro.pdf).
Lima et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
9
Sintomatologia e diagnóstico
A descrição da sintomatologia da doença nos
cacauais do ES foi realizada pelos fitopatologistas da
CEPLAC tomando como base bibliografias
especializadas (Delgado; Cook, 1976; Evans, 1978;
1980; Griffith; Hedger, 1994; Purdy; Schmidt, 1996;
Oliveira; Luz, 2005; Silva et al., 2002). A classificação
dos níveis de severidade foi realizada pelo método
adotado pela CEPLAC, Resolução nº 2165, de 19 de
junho de 1995, que estabelece a severidade da doença
de acordo com a prevalência da doença na área
afetada (Tabela 2).
do ES apresentaram três níveis de doença. De todas
as fazendas prospectadas 28% apresentaram nível 1,
40% apresentaram nível 2 e 32% apresentaram nível
3. Caracterizou-se também a sintomatologia nos
diferentes níveis de severidade pela observação direta
dos sintomas, a qual foi registrada através de fotografias
Tabela 2. Caracterização da severidade da vassoura-de-bruxa
em plantios de cacaueiro nas propriedades rurais do estado do
Espírito Santo (ES) Brasil
Município
1 Sarcinelli 2
2 Sítio São Braz 2
3 Califórnia 2
4 CEPLAC/ESFIP 1
5 Esperança 2
6 Horizonte 2
7 Ilha do Preto 3
8 Santa Clara 1
9 Ilha do Sossego 3
10 Ipiranga 3
11 Itamarati 2
12 Luciana 2
13 Luzitânia 3
14 Maria Bonita 2
15 Monsarás 1
16 Petrópolis 1
17 Piraquê I 3
18 Primor 3
19 São José 2
20 São Luiz 1
21 Valão da Anta 3
22 Aldeamento 2
23 Boa Sorte 1
24 Campo Formoso 3
25 Sítio da Seringa 1
Nome da propriedade
rural
Nível de
doença
João Neiva
Linhares
Pancas
Rio Bananal
São Mateus
Resultados e Discussão
De acordo com os índices de severidade
estabelecidos pela CEPLAC, as lavouras cacaueiras
Figura 2. Níveis de severidade da doença vassoura-de-bruxa
do cacaueiro nas lavouras do estado do Espírito Santo (ES) Brasil.
(A) Nível 1, (B) Nível 2 e (C) Nível 3.
A
B
C
VB do cacaueiro no estado do Espírito Santo
Agrotrópica 30(1) 2018
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(Figura 2). Lavouras com nível 1 de severidade foram
encontradas nas fazendas Petrópolis, área experimental
da CEPLAC/ESFIP, Sítio da Seringa, Monsarás, São
Luiz e Santa Clara (Figura 2A); lavouras que
apresentaram nível 2 de severidade foram localizadas
nas fazendas Maria Bonita, Horizonte, Luciana,
Itamarati, São José, Sítio São Braz, Sarcinelli,
Califórnia, Aldeamento (Figura 2B).
Nessas fazendas foram observados sintomas típicos
da doença nos ramos, almofadas florais e frutos.
Nestas áreas a doença foi facilmente visualizada nos
ramos, que apresentaram um inchaço seguido pela
emissão acentuada de brotos laterais – as chamadas
vassouras vegetativas. Foram observadas vassouras
tanto verdes quanto secas (Figura 3 A-B). As fazendas
que apresentaram nível 3 de severidade foram: Piraquê,
Valão da Anta, Esperança, Ilha do Sossego, Ilha do Preto,
Luzitânea, Campo Formoso e Primor, a fazenda Ipiranga
foi a que obteve nível mais extremo de severidade
(Figura 2C). Nestas plantações, além do elevado
número de vassouras vegetativas na copa e na maioria
das almofadas florais, também foram observadas
elevada quantidade de basidiomas tanto nas vassouras
secas, como também nos frutos na copa, nervuras das
folhas e frutos dispersos no chão (Figura 3 C-D).
Muitas áreas das fazendas visitadas foram
classificadas como economicamente inviáveis. A
ausência de medidas de controle nestes casos favorece
a pressão do inóculo, colocando em risco as variedades
resistentes de cacaueiros. As almofadas florais doentes
apresentaram flores hipertrofiadas, vassouras e frutos
partenocárpicos denominados “morangos” e
“cenouras”, que não evoluem em tamanho, seguido
de necrose generalizada dos tecidos. Os frutos doentes
apresentaram lesões circulares na superfície externa
de coloração negra que evoluíram a total necrose.
Frutos necróticos apresentaram-se colonizados com o
micélio dicariótico, característico desta fase. A alta
Figura 3. Sintomas típicos da vassoura-de-bruxa do cacaueiro causados por Moniliophthora perniciosa em cacauais do estado do
Espírito Santo (ES) Brasil: (A) vassoura vegetativa verde; (B) vassoura seca com sintoma de engrossamento e presença de basidiomas;
(C) frutos modificados no formato morango e cenoura; (D) frutos em formato de morango e cenoura mumificados; (E) frutos mumificados
com presença de basidiomas; (F) fruto lesionado com sementes necrosadas.
Lima et al.
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humidade relativa e alternância de chuva típica da
região, provavelmente, favoreceram o aparecimento
dos basidiomas (Figura 3E) nos frutos doentes. Neste
estágio, as sementes apresentaram-se necrosadas,
murchas e aderidas umas às outras (Figura 3F) sem
valor para comercialização.
Segundo os dados do IBGE (2015), o município de
Linhares (Figura 4A) apresentou a maior área plantada
de cacau com 19.680 hectares, local onde foi
centralizada a maioria das s (76% das propriedades).
São Mateus, Rio Bananal e João Neiva foram os
municípios com a segunda maior área plantada de
cacau, variando de 101 a 801 hectares, representando
as outras seis propriedades da área de estudo.
Considerando a favorabilidade climática à VBC no ES,
observou-se extensas áreas favoráveis à ocorrência e
desenvolvimento da VBC com temperaturas de 20-
25°C e umidade relativa superior a 80% (Figura 4B).
Portanto, considerando a área plantada e a
favorabilidade climática dessas regiões as áreas
apresentaram-se com potencial de risco “relativamente
favorável” e “favorável” à ocorrência da doença
(Figura 4C).
Durante o estudo, foi possível notar que as fazendas
que apresentaram menor severidade da doença
realizavam poda fitossanitária, aplicação de fungicida,
renovação das lavouras com clones resistentes e
diversificação de cultivos. Foram observadas fazendas
que apesar da elevada severidade da doença em
genótipos suscetíveis a produtividade não foi tão
afetada devido ao plantio de clones resistentes.
Portanto, a utilização do Manejo integrado da doença
(MIP) pelos produtores proporcionou o melhor
convívio com a doença. Diversos estudos realizados
por pesquisadores da CEPLAC, dentre outros acerca
do comportamento e a biologia da praga, e da
epidemiologia da doença têm servido de base para
recomendar o MIP. Por ex., Almeida et al. (1998)
verificaram a diminuição significativa da porcentagem
de frutos com vassoura, no tratamento em que foram
combinadas a poda fitossanitária e a aplicação de
fungicidas, que quando aliado ao plantio ou enxertia
de copa com material genético resistente reduz a
população do patógeno, assim diminuindo a severidade
das áreas afetadas e evolução do fitopatógeno
(Gramacho et al., 2006). Pereira e Valle (2012) citando
Luz et al., 1997 enfatizam que o MIP tem efeito
acumulativo na incidência da doença. Portanto, o uso
do MIP nas lavouras do ES reduziu progressivamente
o desenvolvimento da doença.
Uma observação feita durante este trabalho foi o
fato de haver áreas extensas cultivadas com cacaueiros
irrigadas por meio de micro aspersão. O uso de
irrigação por micro-aspersão ou aspersão subcopa,
apesar de aumentar substancialmente a produção, pode
propiciar um microclima adequado ao desenvolvimento
do patógeno por favorecer condições de elevada
umidade em temperaturas entre 20 e 30 ºC, como as
encontradas no local. Estas condições são citadas
como sendo ideal para a formação dos basidiomas
(Rocha; Wheeler, 1985), onde são formados os
basidiósporos, únicos propágulos infectivos do
Figura 4. Mapas temáticos de Área plantada de cacau (A), Favorabilidade climática à vassoura-de-bruxa do cacaueiro (B) e Áreas
com potencial de risco ao estabelecimento da doença vassoura-de-bruxa do cacaueiro (C) no estado do Espirito Santo (ES) Brasil.
VB do cacaueiro no estado do Espírito Santo
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patógeno. Os basidiósporos são dispersos principalmente
pelo vento e gotículas de água de modo eficiente a curtas
distâncias - até 100 m da fonte de inóculo, e com menor
eficiência até 300 m (Baker et al., 1941), infectando os
frutos na parte baixa da planta, por conseguinte
aumentando a incidência da doença.
Em termos gerais, as doenças da parte aérea são
favorecidas pelos sistemas de irrigação por aspersão
(Lopes et al., 2006). Estudos em outros cultivos têm
indicado que a irrigação por gotejamento tem sido
recomendada em substituição da aspersão devido a
economia de água, o aumento da produtividade e da
qualidade dos frutos e a redução na incidência de
doenças foliares (Diver, 1999; Koike et al., 2000; Souza,
2003). Nas regiões semiáridas e tabuleiros costeiros do
Extremo Sul e Norte do Estado, o plantio do cacaueiro
sob regime intensivo a pleno sol, utilizando irrigação e
fertirrigação já é uma realidade e estas regiões
representam zonas de escape a VBC. No entanto,
existem poucos trabalhos de pesquisa com o objetivo
de se avaliar os efeitos de sistemas de irrigação na
ocorrência de doenças e as formas mais indicadas de
manejá-los. Com a expansão do cultivo do cacaueiro
no estado e a adoção de plantações com regime intensivo
de produção, essa temática torna-se uma prioridade.
Vale relatar que no ES, as constantes cheias do
Rio Doce também podem ter contribuído para a
dispersão de M. perniciosa entre as fazendas situadas
a sua margem. Relatos de produtores pontuaram a
prática de amontoar vassouras secas retiradas após
as podas, muitas vezes às margens do rio. A
recomendação oficial é que os galhos afetados por
MP sejam queimados (Oliveira; Luz, 2005), ou aplicar
biofungicidas como o TRICOVAB® (fungicida biológico
para lavouras de cacau) com ação antiesporulante,
assim evitando a formação de basidiomas.
Neste trabalho, foi constituída uma coleção formada
com 225 isolados de M. perniciosa para fins de
pesquisa com foco na diversidade genética do
patógeno. Este resultado representa um importante
acervo para estudos de diversidade a população de
MP existente nas diferentes regiões produtoras de
cacau do ES. Os isolados, foram obtidos nas áreas
classificadas como “favorável” à ocorrência da VBC
(São Mateus e Linhares). No foco de São Mateus 27
isolados foram obtidos em três principais fazendas da
região. No foco de Linhares as coletas foram divididas
em cinco áreas: (i) Faz. Maria Bonita foram obtidos
73 isolados em 5 fazendas; (ii) área de São Luiz com
53 isolados obtidos de 5 fazendas, e (iii) área de
Piraquê, 40 isolados obtidos em uma única fazenda;
(iv) na área mediana (ESFIP) e (v) área Beira Mar
foram obtidos em cada uma 16 isolados (Tabela 3).
Este trabalho contribuiu tanto com a descrição da
severidade da VBC no ES, no período de outubro de
2011 a dezembro de 2012, como também foi
demonstrado que estas áreas apresentam condições
climáticas altamente favoráveis ao estabelecimento e
desenvolvimento da doença. O controle genético deve
ser adotado como parte do manejo integrado da praga.
Como parte desse sistema, aplica-se também o controle
cultural, através das podas de limpeza ao final de cada
colheita, raleamento da sombra em plantios densos e
drenagem nas áreas sujeitas a alagamentos, e o
controle biológico.
Tabela 3. Isolados de Moniliophthora perniciosa coletados na
Zona de risco favorável à ocorrência da doença vassoura-de-bruxa
do cacaueiro no estado do Espírito Santo
Zonas de risco Local de coleta Nº de isolados
São Mateus
Linhares
Fazenda São Mateus 3
Fazenda Campo Formoso 11
Fazenda São Domigos 13
Foco Maria Bonita
Fazenda Maria Bonita 17
Fazenda Primor 18
Fazenda Luciana 12
Fazenda Lusitânia 15
Fazenda Esperança 11
Foco São Luiz
Fazenda São Luiz 17
Fazenda Califórnia 18
Fazenda Valão da Anta 15
Fazenda São José 3
Foco Piraquê
Fazenda Ilha do Sossego 17
Fazenda Piraquê 9
Fazenda Ipiranga 14
Área Mediana
ESFIP 16
Área Beira Mar
Fazenda Petrópolis 16
225
Total
Lima et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
13
Estes resultados são importantes para o
estabelecimento de novos plantios, para o planejamento
de pesquisas futuras visando seleção de clones
resistentes a doença. Serve também de alerta
epidemiológico pelo fato dos cacauais estarem
implantados em áreas com favorabilidade a doença.
Portanto o emprego do manejo integrado de pragas
MIP não deve ser negligenciado.
Agradecimentos
À Estação Experimental Filogônio Peixoto e a
Gerência de Extensão e Pesquisa da CEPLAC/
GERES - Linhares/ES pelos recursos humanos
disponibilizados. Em especial a Dr. Marco Antônio, Dr.
Paulo Siqueira, Binda, Daury Gasparini, Manoel, José
Reis, Moqueca, Leonardo e Cândido. A CAPES pela
concessão da bolsa de estudos e a UESC pela
concessão da verba PROAP.
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VB do cacaueiro no estado do Espírito Santo
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Tayla de Almeida Silva1, José Olimpio de Souza Júnior2, Marcelo Schramm Mielke3, Cesar
Oswaldo Arévalo Hernández4
USO DE IMAGEM DIGITAL PARA ESTIMAR O TEOR FOLIAR DE NITROGÊNIO
EM CACAUEIROS
1Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16, Salobrinho, 45662-900, Bahia, Brasil,
taylasilva@ymail.com. 2Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais,
Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16, Salobrinho, 45662-900, Bahia, Brasil, olimpio@uesc.br. 3Universidade Estadual de Santa
Cruz – UESC, Departamento Ciências Biológicas, Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16, Salobrinho, 45662-900, Bahia, Brasil,
msmielke@uesc.br. 4Instituto de Cultivos Tropicales, Tarapoto, Peru, cesar.arevaloh@gmail.com
A reflectância das folhas pode ser uma alternativa para estimar a teor de nitrogênio (N) na planta, devido à
relação entre o teor de clorofila e o de N no tecido foliar. O uso da imagem digital para avaliar o teor de N foliar vem
sendo testado para algumas culturas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o uso da imagem digital para predizer o
status nutricional de N em cacaueiros. Foram selecionadas 20 propriedades rurais no Sul da Bahia, que possuem
lavoura cacaueira em sistema agrossilvicultural e sem irrigação. Dentre as propriedades rurais que foram selecionadas,
10 estavam em zona úmida (ZU) e 10 em zona úmida a subúmida, denominada aqui apenas de zona subúmida (ZSU).
Os materiais genéticos selecionados para trabalho foram os clones PH16, CCN51 e PS1319. Em cada propriedade,
foram selecionadas quatro plantas de cada clone e quatro folhas diagnosticas foram amostradas por planta. As
folhas foram escaneadas para obtenção de imagens digitais, nas quais, com auxílio do software Image J, foram
determinados os valores red (R), green (G) e blue (B). O teor de N foliar também foi determinado. Nas condições
deste estudo, não houve boas correlações entre componentes RGB e o teor foliar de N em cacaueiro cultivados em
sistemas agrossilvicultural no Sul da Bahia, sugerindo que, para estas condições, o método da análise de imagem
digital possui baixa capacidade preditiva do teor de N foliar.
Palavras-chave: Diagnóstico nutricional, Theobroma cacao, pigmentos fotossintéticos, índices RGB.
Use of digital image to estimate the nitrogen content in cacaueiros leafs. The
reflectance of the sheets can be an alternative for estimating the nitrogen content (N) in the plant, due to the relation
between the content of chlorophyll and N in leaf tissue. The use of digital imaging to assess the leaf N content has
been tested for some crops. The objective of this study was to evaluate the use of digital imaging to predict the
nutritional status of N in cocoa. 20 rural properties were selected in the south of Bahia, where can be found cocoa
plantation in agroforestry system and without irrigation. Among the rural properties selected, 10 were in humid zone
(ZU) and 10 in the sub-humid and humid, called here only sub-humid zone (ZSU). The selected genetic material to
work are the PH16, CCN51 and PS1319 clones. In each property, four plants of each clone were selected and four
diagnostic leaves were sampled per plant. The leaves were scanned to obtain digital images, in which, with the help
of Image J software, the red (R), green (G) and blue (B) values were determined. Leaf N content was also determined.
In our study, there was no good correlations between components RGB and leaf nitrogen content in cocoa grown
in agroforestry systems in southern Bahia; suggesting that, for these conditions, the method of digital image
analysis has low predictive ability of the leaf N content.
Key words: Nutritional diagnosis, Theobroma cacao, photosynthetic pigments, RGB index.
Recebido para publicação em 11 de julho de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 15
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p15-24
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Introdução
O nitrogênio (N) é um dos nutrientes que desperta
mais interesse por parte de produtores e pesquisadores
em todo o mundo. Por ser um dos elementos mais
requeridos pelas plantas, devido à sua relevância na
produção de novas células e tecidos (Santos et al.,
2016), o teor deste nutriente, interfere diretamente no
crescimento, desenvolvimento e produção. Nesse
contexto, o custo relativamente elevado dos
fertilizantes nitrogenados, o tipo de fertilizante e a sub
ou superfertilização, podem afetar significativamente
a produção agrícola (Porto et al., 2014).
A dinâmica do N no solo é muito complexa e
diferenciada em relação aos outros nutrientes. Esse
nutriente possui grande mobilidade no solo, sofre
inúmeras transformações mediadas por
microrganismos, possui alta movimentação em
profundidade, transforma-se em formas gasosas e se
perde por volatilização, e tem baixo efeito residual
(Aguiar; Silva, 2005). Com isso, parte expressiva do
N introduzido no sistema de produção agrícola é
frequentemente perdida. Schröder (2000), citado por
Sena Junior et al. (2007), afirma que o N deve ser
utilizado com cuidado para maximizar o retorno
econômico, reduzir a susceptibilidade da cultura a
pragas e doenças, melhorar a qualidade da cultura,
poupar energia e proteger o meio ambiente.
Buscando otimizar a tomada de decisão em relação
à recomendação de adubação nitrogenada há
incentivos a pesquisas visando o estudo de métodos
alternativos para avaliar o estado nutricional de N em
plantas, de forma rápida e com menos custo para o
produtor. O clorofilômetro é um aparelho portátil que
permite a avaliação indireta do teor de N nas plantas,
diretamente no campo. Contudo, o equipamento ainda
é de difícil aquisição por produtores pelo alto custo e
pela baixa disponibilidade no mercado brasileiro
(Felisberto et al., 2016).
O N tem grande importância como constituinte de
moléculas de proteínas, enzimas, coenzimas, ácidos
nucléicos e citocromos, além de sua importante função
como integrante da molécula de clorofila (Malavolta,
2006). A intensidade da cor verde da folha pode ser
alternativa para estimar a teor de N na planta, devido
à essa relação entre o teor de clorofila e o teor de N
foliar (Sant’ana et al., 2010; Mercado-Luna et al.,
2010). A manipulação das imagens digitais, por meio
de programas editores de imagem, fornece índices que
expressam a cor verde da planta, que pode ter boa
correlação com o teor de N na folha (Backes et al.,
2010; Lima et al., 2012).
De acordo com Godinho et al. (2008), as imagens
formadas nas telas dos computadores, normalmente,
utilizam o sistema RGB para a definição de cores.
Neste sistema, cada tom de cor é definido por três
canais: R (vermelho), G (verde) e B (azul), cada canal
possui valores que variam de 0 a 255, permitindo uma
combinação de 2563 tonalidades em cada pixel,
refletindo cores diferentes de acordo com a
combinação desses três canais. Partindo do princípio
de que a deficiência de N leva à redução na intensidade
da coloração verde das folhas, estas medidas podem
ser utilizadas para monitorar o teor deste nutriente
presente nas plantas.
Ainda são poucos os trabalhos que fazem uso da
imagem digital para auxílio na diagnose nutricional em
cacaueiros. O uso da imagem digital para avaliar o
teor de N em plantas vem sendo testado para algumas
culturas como algodão, forrageiras, eucalipto, entre
outras. Para essas culturas, tem-se obtido correlações
positivas com teores foliares de N (Backes et al., 2010;
Rossato et al., 2012; Rocha et al., 2013), no entanto,
para que os índices obtidos por este método sejam
utilizados de forma correta eles precisam estar
calibrados de acordo com a cultura que será estudada.
Na cacauicultura, até o momento, não há estudos
relacionados ao emprego desse método de análise.
Diante desse contexto, a realização desse estudo teve
como objetivo avaliar o uso de imagens digitais para
predizer o teor de N foliar em cacaueiros.
Material e Métodos
Foram selecionadas 20 propriedades rurais no sul
da Bahia, em 16 municípios (Tabela 1), que possuem
lavoura cacaueira em sistema agrossilvicultural e sem
irrigação. Dentre as propriedades rurais que foram
selecionadas, 10 estavam em zona úmida (ZU) e 10
em zona úmida a subúmida, denominada neste texto
apenas de zona subúmida (ZSU) (SEI, 2015). A ZU
não possui estação seca definida e se enquadra em sete
tipos climáticos segundo Thornthwaite: B4r A’, B3r A’,
B2r A’, B2r B’, B1r A’, B1r’ A e B1w A (SEI, 2015).
Silva et al.
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A ZSU possui um a dois meses de seca e se enquadra
em quatro tipos climáticos: C2d A’, C2d’ A’, C2d B’ e
C2w A (SEI, 2015).
Os materiais genéticos selecionados para este
trabalho foram os clones PH16, CCN51 e PS1319,
por serem clones bastante difundidos na região, além
de serem clones com boa produtividade e tolerância à
vassoura de bruxa (Mandarino e Gomes, 2009). Em
cada propriedade foram selecionadas quatro plantas
de cada clone, com idade superior a cinco anos, em
situações edáficas e topográficas distintas, buscando-
se atingir maior variedade de solo possível. No período
de janeiro a maio de 2015 foram coletadas quatro
folhas sadias por planta (total de 48 folhas por
propriedade), uma em cada quadrante, na meia altura
da copa da planta (terceira folha a partir do ápice de
um ramo recém amadurecido, sem lançamentos)
(Souza Júnior, 2012).
Devido ao tamanho das folhas do cacaueiro, foi
necessário cortá-las transversalmente em três partes
para que fosse compatível ao tamanho do scanner,
sendo o ápice e a base descartados e a porção da
central, face adaxial, escaneada em no máximo oito
horas após a coleta, utilizando o scanner de mesa HP
scanjet 2400. O método de análise de imagens obtidas
por scanner de mesa é considerado mais preciso, sendo
utilizado como referência por vários autores (Lopes et
al., 2007; Cunha et al., 2010; Lucena et al., 2011).
As imagens digitais foram salvas no formato TIFF
(100 dpi) – esse formato e resolução permitem que
uma ou várias folhas sejam analisadas uma única vez
num único arquivo – e posteriormente as mesmas
foram analisadas no software Image J, que permite
quantificar o valor médio das cores presentes na
imagem. Com auxílio do referido software, obteve-se
a área do fragmento foliar e, em duas áreas delimitadas
por um retângulo de 8,84 por 0,91 cm (delimitação
necessária para utilização do software), localizadas na
porção central dos lados opostos da nervura central,
determinaram-se os valores red (R), green (G) e blue
(B), os quais correspondem as quantidades de radiação
de luz vermelha, verde e azul refletidas pela imagem.
A partir destes índices, médias das duas leituras por
folha e de quatro folhas por planta, calculou-se os
valores RGB sugeridos por diferentes autores e
resumidas no trabalho de Riccardi et al. (2014): R, G,
B, (R-B)/(R+B), G/(R+G+B), R/(R+G+B), G/R,
R+G+B, R-B, R+B e R+G.
Os quatro fragmentos foliares de cada planta
constituíram a amostra composta que foi seca, pesada
e moída, sendo o teor foliar de N determinado por
digestão, destilação e titulação (Silva, 2009).
Determinou-se também a massa foliar específica
(MFE: g cm3), obtida pela divisão da massa seca pela
área do fragmento foliar.
Fez-se análise de correlação linear simples de Pearson,
a 1 % e 5 % de significância pelo teste t; e posteriormente
análise de regressão simples e múltipla a 5 % de
probabilidade, sendo os modelos de regressão
semelhantes, por região e clone, comparados entre si pelo
intervalo de confiança dos coeficientes da regressão.
Para isso, foi utilizado o software estatístico R.
Resultados e Discussão
De modo geral, as correlações obtidas entre os
componentes RGB e os teores de N foram superiores
na ZU quando comparadas com a ZSU (Tabela 2),
principalmente para os clones PH16 e CCN51, sendo
a maioria dessas correlações negativas para todos os
clones, indicando que as variáveis analisadas são
inversamente proporcionais. Silva (2014) observou que
um menor teor de clorofila, consequentemente menor
teor de N, faz com que as espécies vegetais
apresentem uma menor absorção da radiação luminosa
na região do espectro entre 500 e 650 nm, já que este
nutriente compõe a molécula de clorofila, pigmento que
funciona como fotorreceptor da luz visível responsável
pela fotossíntese. Por ter uma menor absorção nesses
Tabela 1 - Municípios e número de propriedades, por zona
climática do sul da Bahia, onde este trabalho foi desenvolvido
Zona climática úmida (ZU) Zona climática subúmida (ZSU)
Município Município
Uruçuca 1Ipiaú 3
Teolândia 1Itagibá 2
Itamarí 1Ibirataia 2
Piraí do Norte 1Barra do Rocha 1
Ibirapitanga 1Itagi 1
Gandu 1Gongogi 1
Wenceslau Guimarães 1
Ubatã 1
Uma 1
Ilhéus 1
Nº de
propriedades
Nº de
propriedades
Uso de imagem digital para estimar o N em cacaueiros
Agrotrópica 30(1) 2018
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comprimentos de onda há, consequentemente, uma
maior reflectância, dessa forma são obtidos maiores
valores de RGB, visto que eles são medidos baseados
na reflectância da folha.
Em sua maioria, as correlações entre os
componentes RGB e o teor de N foliar foram baixas
e, em muitos casos, não significativas. As melhores
correlações foram observadas para os clones PH16 e
CCN51 na ZSU. Para o clone PS1319, independente
da região climática, quase todas as correlações foram
não significativas. Os componentes que obtiveram
melhores correlações com os teores de N foram: R, G,
R+G, R+B, R-B e R+G+B, mas apesar destes
coeficientes de correlações serem significativos, os
mesmos são considerados baixos, mostrando uma baixa
capacidade preditiva do teor foliar de N em cacaueiros
pelo método em questão.
O modelo de regressão selecionado para o
relacionamento do teor de N pelos componentes RGB
para os clones PH16 e CCN51 na ZU foi o linear. Ao
analisar o intervalo de confiança do intercepto (β0) e do
coeficiente angular (β1) dos modelos de cada
componente, verificou-se sobreposição dos mesmos,
indicando que podem ser expressos como um único modelo
de acordo com o índice analisado. Os mesmos, porém,
apesar de significativos, apresentam baixa capacidade
preditiva, visto que os coeficientes de correlações são
baixos (Figura 1A, 2A, 3A, 4A, 5A e 6A).
As Figuras 1B, 2B, 3B, 4B, 5B e 6B evidenciam
que não houve relação ( = 22,4) entre o teor de N
e os componentes RGB para todos os clones na ZSU
e para o clone PS1319 na ZU (H0:β0 = 0, rejeitou-se
H0), ou seja, a análise da imagem digital não foi capaz
de predizer teores de N foliar na situação
apresentada.
Fatores como diferença de sombreamento das
plantas e época de amostragem podem ser
determinantes no resultado obtido. Em relação à
diferença de sombreamento, um fator a ser observado
é a correlação entre os índices RGB e as características
morfológicas foliares, que podem mudar devido à
variação da incidência de luz entre plantas, por serem
cultivadas em um sistema agrossilvicultural, existindo
algumas plantas muito sombreadas e outras cultivadas
praticamente a pleno sol. A amostragem variou de
janeiro a maio, ou seja, do início do verão a meados do
outono, havendo diferença na incidência luminosa entre
essas estações, e essa incidência pode ter tido
influência no teor de N foliar (Santana; Igue, 1979) e
de clorofila (Engel; Poggiani, 1991).
A diferença de precipitação entre as zonas
também podem ter exercido influência no resultado
(SEI, 2015). De acordo com estudos realizados por
Souza et al. (2002) com lima ácida ‘Tahiti’ o estresse
hídrico pode ter efeito na radiação interceptada e
refletida pela planta, que é a base para obtenção dos
Tabela 2 - Correlação linear de Pearson entre os teores foliares de N e componentes RGB, para três clones de cacaueiros, em duas
zonas climáticas, do sul da Bahia: zona úmida (ZU) e zona subúmida (ZSU)
R-0,45** -0,23ns -0,17ns 0,01 ns -0,67** -0,14ns -0,39** -0,13ns -0,25**
G-0,46** -0,12ns -0,16ns 0,23ns -0,58** - 0,02ns -0,38** 0,00 ns -0,17**
B-0,20ns -0,04ns -0,12ns -0,15ns -0,44** 0,03ns -0,20* -0,02ns -0,07ns
R + G -0,46* -0,16ns -0,17ns 0,14ns -0,63** -0,07ns -0,39** -0,05ns -0,21**
R + B -0,36* -0,42** -0,16ns -0,11ns -0,61** -0,20ns -0,33ns -0,23** -0,19**
R + G + B -0,41** -0,24ns -0,16ns 0,12ns -0,61** -0,08ns -0,36** -0,08ns -0,19**
R – B -0,43** -0,11ns -0,15ns 0,06ns -0,56** -0,10ns -0,37** -0,07ns -0,23**
G/R 0,13ns 0,30* 0,11ns 0,50** 0,37** 0,48** 0,16ns 0,40** 0,24**
R/(R + G + B) -0,29* -0,18ns -0,11ns -0,13ns -0,47** -0,23ns -0,27** -0,19* -0,25**
G/(R + G + B) -0,19ns 0,03ns 0,03ns 0,34* 0,00 ns 0,06ns -0,10ns 0,10ns 0,02ns
(R - B)/ (R + B) -0,16ns -0,07ns -0,08ns 0,09ns -0,36* -0,09ns -0,14ns -0,05ns -0,07ns
PH16 PS1319 CCN51 Todos os clones
ZU ZSU ZU ZSU ZU ZSU ZU ZSU ZU+ZSU
** Significativo a 1 % de probabilidade pelo teste t.
* Significativo a 5 % de probabilidade pelo teste t.
ns – não significativo.
Ȳ
Silva et al.
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Figura 1 - Relação entre o componente R e o teor de N nas ZU, ZSU e entre clones. * Significativo a 5 % de probabilidade.
Teor de N g kg-1
RR
Teor de N g kg-1
A
Figura 2 - Relação entre o componente G e o teor de N nas zonas úmida (ZU) e subúmida (ZSU), para os clones PH16, CCN51 e
PS1319. * Significativo a 5 % de probabilidade.
B
Teor de N g kg-1
Teor de N g kg-1
GG
B
A
Uso de imagem digital para estimar o N em cacaueiros
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Teor de N g kg-1
Teor de N g kg-1
Figura 4 - Relação entre o componente R+B e o teor de N nas zonas úmida (ZU) e subúmida (ZSU), para os clones PH16, CCN51
e PS1319. * Significativo a 5 % de probabilidade.
Figura 3 - Relação entre o componente R+G e o teor de N nas zonas úmida (ZU) e subúmida (ZSU), para os clones PH16, CCN51
e PS1319. * Significativo a 5 % de probabilidade.
R + G R + G
R + B
R + B
Teor de N g kg-1
B
A
Teor de N g kg-1
Silva et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
21
Figura 6 - Relação entre o componente R+G+B e o teor de N nas zonas úmida (ZU) e subúmida (ZSU), para os clones PH16,
CCN51 e PS1319. * Significativo a 5 % de probabilidade.
Figura 5 - Relação entre o componente R-B e o teor de N nas zonas úmida (ZU) e subúmida (ZSU), para os clones PH16, CCN51
e PS1319. * Significativo a 5 % de probabilidade.
R - B
R - B
Teor de N g kg-1
Teor de N g kg-1
Teor de N g kg-1
R + G + B R + G + B
Teor de N g kg-1
Uso de imagem digital para estimar o N em cacaueiros
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índices RGB por imagem digital, nesse estudo o déficit
hídrico reduziu a radiação interceptada, e aumentou a
radiação refletida pelas árvores, mostrando que o fator
umidade pode influenciar na utilização desse indicador
do status de N na planta.
Contrariando o ocorrido neste trabalho, Vibhute e
Bodhe (2013) concluíram que a análise da imagem
digital pode ser útil para estimar exigências de N na
produção de uvas em fase inicial, assim como eles,
Lima et al. (2012) mostraram que os índices obtidos
com a análise da imagem digital podem ser utilizados
como ferramenta para auxiliar a recomendação da
adubação nitrogenada para a cultura da grama-
bermuda.
Tewari et al. (2013), ao desenvolver modelos
de regressão entre vários recursos de imagem e teor
de N em planta de arroz, verificaram que os valores
previstos de N foram linearmente correlacionados
com os índices da imagem (R2 de até 0,95),
mostrando que o teor de N pode ser estimado com
sucesso usando a imagem digital.
Ao fazer a análise de regressão linear múltipla,
incluindo a MFE, utilizada como indicativo da
espessura da folha, pode-se observar que a mesma
foi significativa para os modelos que tinham os
componentes R, G e R+G, o que gerou aumento do
coeficiente de correlação (Tabela 3). Contudo, este
aumento foi discreto visto que passou de -0,62; -0,57
e 0,60 para -0,63; -0,59 e -062, respectivamente
(Tabela 3), indicando que a inclusão da mesma no
modelo, apesar de significativa, aumenta muito pouco
a capacidade preditiva do modelo de regressão.
l Nas condições deste estudo, não houve altas
Tabela 3 - Equações de regressão linear múltipla, ajustadas
para estimativa do teor de N foliar de cacaueiros, clones PH16,
PS1319 e CCN51, em função dos componentes RGB e massa
foliar específica (MFE), na zona úmida (ZU)
Variáveis Equação de regressão R
R = 54,42 – 0,378**R – 0,398** MFE - 0,63
G = 54,55 – 0,276**G – 0,398 ** MFE - 0,59
R + G = 57,13 – 0,171**R+G – 0,435 ** MFE - 0,62
Ȳ
Ȳ
Ȳ
** Significativo a 1 % de probabilidade pelo teste F.
* Significativo a 5 % de probabilidade pelo teste F.
correlações entre componentes RGB e o teor foliar
de N em cacaueiro cultivados em sistemas
agrossilvicultural no Sul da Bahia.
l As correlações obtidas entre os componentes
RGB e os teores de N foram superiores na zona úmida,
quando comparadas com a zona subúmida,
principalmente para os clones PH16 e CCN51.
l O método da análise de imagem digital mostrou
restrições para predizer o estado nutricional de N
em cacaueiros.
Agradecimentos
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pesquisa.
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Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Caio Márcio Vasconcellos Cordeiro de Almeida1, Calixto Rosa Neto2, Antonio de Almeida
Lima3, Thaiane Cristino de Souza4, Leonardo Ventura de Araújo2
DIVERSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS COMO ALTERNATIVA DE
SUSTENTABILIDADE PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL
1 CEPLAC/CEPEX-RO, Avenida Governador Jorge Teixeira, nº 86, Bairro Nova Porto Velho, 78.906-100, Porto Velho,
Rondônia, Brasil. caio.almeida@agricultura.gov.br.
2 Embrapa Rondônia, BR 364, km 5,5. 76.815-800, Porto Velho, Rondônia, Brasil.
3 CEPLAC/CEPEX-RO/ESTEX-OP, BR 364, km 325, 78.950-000, Ouro Preto do Oeste, Rondônia, Brasil.
4 Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Porto Velho, Rondônia, Brasil.
O trabalho teve como objetivo analisar a diversificação de atividades agropecuárias em uma propriedade de 9,68
ha, como alternativa sustentável de uso da terra para pequenos produtores rurais. Foi realizado no Sítio Nova
Canaã, localizado no município de São Felipe do Oeste, Rondônia. Utilizou-se da aplicação de questionário e
entrevista direta com o proprietário e sua esposa, como método de levantamento de informações, além de medição
das áreas exploradas, com a contagem de plantas de cada intercultivo analisado. Em vinte e um anos de estabelecidos
no Sítio o produtor rural e sua esposa constituíram uma unidade produtiva bastante diversificada com a implantação
de três intercultivos: sistemas agroflorestais (SAF) com cacaueiros, fruteiras e essências florestais; SAF com
cafeeiros, fruteiras e essências florestais e sistema silvipastoril com essências florestais, pastagem e gado. Foram
contabilizadas 60 espécies entre frutíferas e essências florestais, o que representa uma diversidade florística
significativa, contemplando espécies com função econômica, social e ambiental. São geradas duas fontes de renda
principais, representadas pelo cacau e o café, além de rendas complementares da exploração de fruteiras, mel, leite
e derivados. Foram computadas as despesas realizadas, no período de 2010 a 2015, com mão-de-obra, insumos
agrícolas, ferramentas, equipamentos e energia. Os resultados obtidos revelaram renda média bruta mensal de 3,4
salários mínimos, a preços de março de 2017, com destaque para o ano de 2014, que correspondeu a 4,4 salários
mínimos mensais. É evidenciada a factibilidade de sustento socioeconômico e ambiental da unidade de produção
familiar por meio da exploração diversificada e intensiva de área de tamanho reduzido.
Palavras-chave: sustento de uso da terra, sistemas agroflorestais, agricultura familiar, Rondônia, Amazônia.
Diversification of agricultural activities as a sustainability alternative for the small
farmer. The assignment had as objective to analyze the agricultural and livestock activities in a 9,68 ha property,
as a sustainable alternative to soil usa for small farmers. This was performed at the Nova Canaã Farm, located at the
São Felipe do Oeste municipality, Rondônia, Brazil. The application of questionnaires and direct interviews with the
rural owner and his wife were utilized as an information gathering method, in addition to measuring the cultivated
areas, with the plant count of each analyzed interculture. During twenty-one years of the well stabilished farming,
the farmer and his wife constituted a very diversified productive unit with the implementation of three intercultures:
agroforestry systems (SAF) with cacao trees, fruit trees and forest essences; SAF with coffee, fruit trees and forest
essences; and silvopastoral system with forest essences, pasture and livestock. Sixty species were counted among
fruit trees and forest essences, representing a significant floristic diversity, including species with economic, social
and environmental functions. Two main sources of income are generated, represented by cocoa and coffee, as well
as complementary incomes from the exploitation of fruit trees, honey, milk and dairy products. Expenditure incurred
in the period from 2010 to 2015 was computed with labor, agricultural inputs, tools, equipment and energy. The
results showed a monthly average gross income of 3.4 minimum wages, at March 2017 prices, especially in 2014,
which corresponded to 4.4 minimum monthly wages. It is evidenced the feasibility of socioeconomic and
environmental sustenance of the family production unit through the diversified and intensive exploration of small
size area.
Key words: land use support, agroforestry systems, family farming, Rondonia, Amazon
Recebido para publicação em 09 de outubro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 25
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p25-38
Agrotrópica 30(1) 2018
26
Introdução
A expressão desenvolvimento sustentável foi
proposta na conferência internacional sobre meio
ambiente – ECO-92, em 1992, para se referir ao
crescimento econômico e social com preservação do
meio ambiente, enquanto sustentabilidade para ações
e atividades humanas que visam suprir as necessidades
atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro
das próximas gerações (Agenda 21, 2016). No âmbito
do meio rural, isto significa que se o produtor não fizer
a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis
em sua propriedade à sobrevivência das gerações
futuras estará comprometida. Entretanto, observa-se
que quando o produtor não faz uso de boas práticas
agrícolas ele próprio encontra sérias dificuldades para
permanecer no meio rural com sua família nos anos
vindouros, advindo, então, as migrações para outras
zonas agrícolas ou para os centros urbanos em busca
de melhores condições de vida, medidas essas nem
sempre coroadas de êxitos.
No final dos anos 1990, estudiosos da Amazônia
passaram a utilizar a expressão “arco do desmatamento”
para se referir à extensa área onde se encontram os
maiores índices de desmatamento da Amazônia
brasileira (Krug, 2001; IBGE, 2005; Fearnside, 2010).
em torno de 75%, e onde são evidentes os sinais de
degradação ambiental, tais como: alterações no solo,
mudanças climáticas e perda de biodiversidade. Nessa
área foi concentrada a maior parte das políticas de
desenvolvimento e de ocupação do território adotadas
pelos militares, impulsionando a expansão gradual da
fronteira agropecuária à medida que as grandes rodovias
foram abertas, a partir dos anos 1960. São 500 mil km2
de terras, que compreendem o oeste e noroeste do
Maranhão; o leste, sul e parte do oeste do Pará; oeste e
norte do Tocantins; leste, centro-oeste e norte do Mato
Grosso, todo o Estado de Rondônia e do Acre e sul do
Amazonas. Essa região tem a forma de arco, facilmente
visualizável em imagens de satélite (O “arco do
desmatamento”, 2016), e abrange 256 municípios, dentre
os quais algumas dezenas com serviços de assistência
técnica realizada pelo Departamento da Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira –
CEPLAC, órgão vinculado ao MAPA, responsável
pelo desenvolvimento rural sustentável das regiões
produtoras de cacau do Brasil.
Esse extenso território do “arco do desmatamento”
permeia grandes propriedades com exploração da
pecuária bovina extensiva e da agricultura mecanizada
da soja, algodão, milho e arroz, como também áreas
de reforma agrária em que pequenos produtores rurais
se defrontam com os desafios de utilização de sistemas
produtivos de uso da terra na Amazônia que lhes
assegurem crescimento econômico e também
benefícios socioambientais, possibilitando sua
permanência no campo com qualidade de vida,
evitando, assim, a migração interna.
Este estudo de caso teve por objetivo analisar a
diversificação de atividades agropecuárias em pequena
propriedade rural de projeto de colonização em área de
reforma agrária, como alternativa sustentável de uso
da terra para pequenos produtores, haja vista a carência
de informações dessa natureza no estado de Rondônia.
Referencial teórico
Numa interpretação equivocada de agricultura na
Amazônia, Rondônia representou no passado a terra
do mito, a crença pueril de que o simples acesso à
posse da terra garantiria um futuro de progresso para
os agricultores (Miranda, 1987). Questões sobre: como
tornar viável e se possível rentável a pequena
propriedade rural nas condições sócio-econômicas e
agroecológicas de Rondônia ou como promover o
desenvolvimento sustentável da unidade produtiva e
melhorar a qualidade de vida do homem no meio rural
são temas atuais de debates na sociedade civil
organizada. Quais as razões que tornam os sistemas
agroflorestais (SAF) em atividade de sucesso, em
termos agro-econômicos, para alguns e em fracasso
para outros? Porque um pequeno produtor rural torna-
se empresário agrícola de sucesso e seu vizinho,
também pequeno produtor, não tem êxito? Tais
perguntas requerem análise mais apurada por parte
de especialistas envolvidos nesse segmento do
agronegócio em Rondônia.
Um dos poucos estudos sobre rentabilidade em
pequena propriedade rural foi realizado na região de
Ouro Preto do Oeste, Rondônia (Freitas, 2004).
Comparou-se o modelo tradicional de ocupação e
exploração do solo naquela região, representado pela
pecuária leiteira e/ou o cultivo do café, com o modelo
de diversificação de atividades agrícolas adotado
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
27
pelos membros da Associação dos Produtores
Alternativos - APA, o qual consiste,
predominantemente, em pecuária leiteira, cultivo de
café e fruteiras consorciadas (açaizeiro, araçazeiro,
cupuaçuzeiro e pupunheira). Foi evidenciado que a
diversificação de atividades agrícolas propiciou uma
rentabilidade ha-1 superior em 22,6% àquela do modelo
tradicional. Ademais, observaram-se, entre os
produtores alternativos, menor nível de migração e
recuperação de mais de 50% das áreas degradadas
na propriedade, por meio dos SAF.
A carência de informações sobre viabilidade
econômica de SAF com cacaueiros e essências
florestais motivou esta pesquisa em Ouro Preto do
Oeste, Rondônia (Almeida et al., 2010). Foram
computadas todas as despesas do período de 1996 a
2008. Foi revelado que de 1997 a 2005 o valor presente
líquido apresentou valores positivos, o que indica que
o sistema de produção foi rentável. Sua melhor
performance ocorreu de 2002 a 2004, quando a
produtividade do cacau foi superior a 1.200,0 kg de
amêndoas secas ha-1 e a rentabilidade variou de 2,4 a
6,8 salários mínimos mensais, vigentes no período.
Obteve-se uma taxa interna de retorno de 21%, o que
evidencia a remuneração do capital investido pelo
produtor rural e a rentabilidade da atividade cacaueira.
A razão benefício /custo revelou que para cada unidade
monetária investida o produtor rural teve retorno de 1,16.
Noutra pesquisa em Rondônia, realizada no Projeto
de Reflorestamento Econômico Consorciado e
Adensado - RECA, no distrito de Nova Califórnia, Porto
Velho, compararam-se três modelos de intercultivos com
cupuaçuzeiro, pupunheira e castanheira-do-Brasil, de
acordo com as densidades de plantas ha-1 e horizonte
temporal de análise de 20 anos (Sá et al., 2000). Os
indicadores de rentabilidade apresentaram valores
positivos, o que indica a viabilidade econômica dos três
modelos de SAF. A relação benefício-custo evidenciou
que para cada R$ 1,0 investido houve um retorno
financeiro que variou R$ 1,52 a R$ 1,92, de acordo com
o modelo adotado. A remuneração da mão de obra
familiar foi superior ao custo de oportunidade da mão de
obra para a região. No RECA, projeto referencial de
reforma agrária na Amazônia, diferentes modelos de SAF
com cupuaçuzeiro, pupunheira e castanheira-do-Brasil,
têm constituído o sustento com qualidade de vida de cerca
de 300 famílias migrantes de outras regiões.
Material e Métodos
Este estudo de caso foi realizado em pequena
propriedade rural denominada de Sítio Nova Canaã,
localizada na linha Kapa 4, gleba 1, lote 178
(11o48’58,2’’S; 61o30’4,5’’W), Projeto de
Assentamento Marcos Freire, município de São Felipe
do Oeste, Rondônia. Dista de 12 km da cidade sede a
sudoeste, de 51 km de Rolim de Moura a noroeste, e
de 64 km de Cacoal, direção nordeste, onde se
encontra instalada estação meteorológica automática
de superfície da Rede Estadual de Estações
Meteorológicas de Rondônia – REMAR.
Essa região, como grande parte do Estado de
Rondônia, caracteriza-se por apresentar clima do tipo
Aw – Clima Tropical Chuvoso, de acordo com a
classificação de Köppen, com média anual da
temperatura do ar variando de 24ºC a 26ºC e um
período seco bem definido, quando ocorre um
moderado déficit hídrico com índices pluviométricos
inferiores a 50 mm mês-1, geralmente nos meses de
junho, julho e agosto, podendo, entretanto, ocorrer
antecipação e prorrogação desse período. A
precipitação pluviométrica anual varia de 1400 mm a
2600 mm (Boletim, 2012).
Utilizou-se da aplicação de questionário e entrevista
direta com o proprietário e sua esposa, complementada
pelo técnico da CEPLAC, que presta assistência
técnica à propriedade em foco, como o método de
levantamento de informações sobre os diferentes
aspectos da propriedade rural e das tecnologias
utilizadas no manejo dos SAFs, informações obtidas
por ocasião de doze visitas realizadas em diferentes
períodos de 2013, 2014, 2015 e 2016. Também, utilizou-
se do Global Positioning System - GPS para determinar
a localização da sede da propriedade e das áreas
exploradas, além de coleta de amostras dos solos
cultivados para análise química e de contagem de
plantas para análise populacional de cada intercultivo
analisado.
Por se tratar de um estudo de caso, ou seja, de
abordagem específica de coletas e análises de dados
de uma unidade produtiva individual, para um fenômeno
amplo e complexo como a diversificação de atividades
agropecuárias, os resultados apresentados a seguir
devem ser vistos com a cautela devida ao processo
amostral.
Alternativas agropecuárias de sustentabilidade para o pequeno produtor rural
Agrotrópica 30(1) 2018
28
Processo de migração da família rural
O produtor rural, natural do Espírito Santo, migrou
para o município de Presidente Médici, Rondônia, no
ano de 1974, em pleno processo de colonização do
Estado, acompanhando o pai e demais familiares. Até
1992 trabalhou em propriedades rurais de diferentes
municípios do Estado na condição de diarista,
assalariado, depois de meeiro, em atividades nos
cultivos de café e lavoura branca (arroz, feijão,
mandioca, milho), e em serviços gerais. Em 1992, já
estabelecido no município de São Felipe do Oeste,
Rondônia, adquiriu pequena propriedade rural de 7,26
ha. No ano seguinte, vendeu essa propriedade e
adquiriu outra de 10,89 ha, nas proximidades, onde
passou a explorar os cultivos de café e banana, e
criação de gado. Em agosto de 1996 preferiu mudar
de endereço, embora para propriedade menor no
mesmo município, de 9,68 ha, em razão de melhor
localização, maior suprimento de água e cultivos já
implantados: pastagem e café, onde se estabeleceu
com a família, constituída de esposa e de dois filhos
pequenos. Nessa trajetória do produtor rural ficam
evidentes as dificuldades para sua permanência no
meio rural em razão das limitações corriqueiras
existentes no processo de reforma agrária do país, tais
como: precária infraestrutura viária nos projetos de
reforma agrária, assentamentos em solos de baixa
fertilidade natural, ausência de estímulo à organização
social, ação predatória dos intermediários na aquisição
dos produtos agrícolas, inoperância dos mecanismos
de apoio ao produtor rural, entre outros. Observa-se
que nessas circunstâncias, a migração do pequeno
produtor rural e sua família, em busca de melhores
condições de vida no interior do Estado, torna-se
inevitável.
Implantação e manejo das atividades
agropecuárias
Originalmente, essa propriedade de 9,68 ha era
ocupada com 3,2 ha de pastagem, 3,0 ha de cafeeiro
(Coffea canephora), cultivar Conilon, 3,0 ha de
capoeira fina, 0,24 ha de mata ciliar e 0,24 ha com
infraestrutura básica de apoio (residência, depósito,
terreiro para secagem de café, carreadores e áreas
de circulação). É margeada a leste pelo rio Arara, onde
se encontra mata ciliar em processo de regeneração.
O rio Arara é afluente do rio São Pedro, pertencente à
bacia hidrográfica do rio Ji-Paraná, o mais importante
afluente do rio Madeira.
Em agosto de 1996 foram preparados os 3,0 ha de
capoeira para implantação de cacaueiro (Theobroma
cacao L.) em intercultivo com outras espécies, em
razão de facilidades de acesso ao crédito agrícola.
Anteriormente ao plantio do cacaueiro, mas logo após
o preparo da área, cultivou milho, feijão e banana, com
vistas à complementação da demanda alimentar e
comercialização do excedente nas feiras e mercados,
iniciativa fundamental no processo de estabelecimento
e permanência da família no meio rural.
Em janeiro de 1997 implantou os 3,0 ha de
cacaueiros, no espaçamento de 4,0 m x 3,0 m, utilizando
mudas formadas a partir de sementes de variedades
híbridas produzidas na Estação Experimental Ouro
Preto – ESTEX-OP, pertencente à CEPLAC. Para
tanto, utilizou recursos financeiros disponibilizados pelo
Fundo Constitucional de Financiamento do Norte
(FNO), Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf D), para ressarcimento
em dez anos, dos quais três de carência. Para
sombreamento definitivo plantou pupunheira, cajazinho
e sobrasil nas entrelinhas do cultivo em formação, sem
espaçamento definido. Também, plantou a espécie
florestal teca, em renque periférico, motivado pelo valor
de mercado de sua madeira. Houve também a
regeneração espontânea de grande número de
espécies vegetais, as quais foram mantidas
seletivamente pelo produtor, por ocasião das roçagens.
Em 2006, com recursos próprios, implantou mais 1,0
ha de cacaueiros, também no espaçamento de 4,0 m x
3,0 m, utilizando mudas formadas a partir de sementes
melhoradas produzidas na ESTEX-OP, após eliminar
pastagem em processo de degradação, em área
contígua aos cultivos de cacau e café. Nessa nova
área foram implantadas espécies frutíferas e florestais,
em diferentes épocas e espaçamento indefinido,
utilizando as bordaduras da área e entrelinhas do cultivo
em formação. As fruteiras foram as seguintes:
abacateiro, abieiro, açaizeiro, bananeira, cajazinho,
caramboleira, coqueiro (coco-da-baia), cupuaçuzeiro,
figueira, gravioleira, ingazeira, jaboticabeira, jambeiro,
jaqueira, jenipapeiro, laranjeira, lichia, limão-tahiti,
mangueira, manga-rosa, maricota, pitombeira,
Resultados e Discussão
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
29
pupunheira e tamarindeiro, totalizando 306 plantas, com
predominância (80,1%) de: pupunheira, gravioleira,
bananeira, cajazinho, abacateiro, açaizeiro e laranjeira.
As essências foram: aroeira, candiúba, cedro-rosa,
cerejeira, espeteiro, farinha-seca, freijó-louro,
gancheiro, goiabinha, guarantã, jatobá, leiteira, mamica-
de-porca, molungu, paineira, pau d’alho, peroba,
seringueira, sobrasil, teca e unha-de-vaca, totalizando
308 plantas, com predominância (67,2%) de: sobrasil,
cedro-rosa, peroba, freijó-louro e farinha-seca. Desse
universo de espécies frutíferas e florestais, que totaliza
614 plantas em intercultivo com o cacaueiro, apenas
273 plantas contribuem efetivamente para o
sombreamento definitivo dos 4,0 ha do cacaual, sem
constituírem, no entanto, sombreamento excessivo,
devidas às estruturas difusas e reduzidas de suas copas.
Em diferentes anos, implantou as seguintes fruteiras
nos 3,0 ha do cafezal já formado: açaizeiro, goiabeira,
mamoeiro e pupunheira, e as seguintes essências:
canelinha, gueroba, peroba e seringueira, também em
espaçamento indefinido, conforme procedimento
adotado na área de cacau. Tal iniciativa permitiu reunir
194 componentes vegetais em intercultivo com o
cafeeiro, os quais não proporcionam sombreamento
significativo para o cafezal. No ano de 1998, replantou
1,5 ha desse cafezal, também no espaçamento de 4,0
m x 3,0 m, utilizando material genético de café Conilon,
proveniente da própria lavoura. Em maio de 2014
eliminou 1,0 ha do cafezal original e, em fevereiro de
2015, fez o replantio com café clonal, variedade BRS
Ouro Preto, desenvolvida pela EMBRAPA Rondônia.
Na área remanescente de pastagem (2,2 ha)
contígua à mata ciliar (0,24 ha), o produtor utilizou
também a regeneração espontânea da vegetação para
proporcionar sombreamento para sua pequena criação
de gado e melhorar a produtividade por unidade de
área. Levantamento recente evidenciou 523
componentes arbóreos e arbustivos resultantes da
regeneração natural, reunindo as espécies: ipê,
bandarra, angelim-amargoso, jamelão, jequitibá, buriti,
amoreira e goiabinha, esta última a mais frequente,
presente tanto na pastagem, como na mata ciliar.
A implantação das espécies frutíferas citadas nas
áreas de café e cacau objetivou: i) complementação
da demanda alimentar da família (bananeira, laranjeira,
abacateiro, gravioleira, pupunheira, coqueiro,
mangueira, jaqueira), em especial nos anos iniciais de
estabelecimento no Sítio; ii) facilidades de
comercialização nas formas in natura e processadas,
especialmente de polpas e iii) uso na medicina popular.
O cultivo das essências florestais oriundas tanto do
plantio em covas, como do manejo da regeneração
natural da vegetação visou: i) benefícios financeiros
pela produção de madeira para atender às demandas
básicas da propriedade (construção, combustível) e
pela sua valorização no mercado regional; ii) benefícios
ambientais diversos (sombra e outros) e iii) uso na
medicina popular. Ademais, ao implantar diversas
espécies vegetais em intercultivo com o cacau e o café,
o agricultor idealizou “fazer fartura” em seu Sítio,
conforme declarou, como precaução a possíveis
benefícios nos dias vindouros. Portanto, existiu um
planejamento dessas atividades com a finalidade
principal de sustento da família, tanto em curto prazo,
como a médio e longo prazo. As espécies frutíferas e
florestais dos intercultivos são apresentadas,
respectivamente, nos Quadros 1 e 2, com seus
respectivos nomes comuns e científicos.
De modo geral, o manejo agronômico desses
intercultivos residiu em: i) cacaual - roçagens
periódicas, desbrota dos cacaueiros, poda, controle
fitossanitário da vassoura-de-bruxa, controle de pragas
nas áreas focos, colheita e beneficiamento de
sementes; ii) cafezal - roçagens periódicas, desbrota
dos cafeeiros, colheita e beneficiamento dos grãos;
Quadro 1 - Nomes comuns e científicos das espécies frutíferas
presentes em intercultivos com cacaueiros e cafeeiros no Sítio
Nova Canaã, em São Felipe do Oeste, Rondônia. 2015
Abacateiro Persea americana Mill.
Abieiro, abiu Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.
Açaizeiro Euterpe oleracea Mart.
Bananeira Musa sp.
Cajazinho, taperebazeiro Spondias mombin L.
Caramboleira Averrhoa carambola L.
Coqueiro, coco-da-baia Cocos nucifera L.
Cupuaçuzeiro Theobroma grandiflorum
Figueira Ficus sp.
Goiabeira Psidium guajava L.
Goiabinha Psidium sp.
Gravioleira Annona muricata L.
Ingazeira Inga sp.
(Willd ex Spreng) Schum
Nome comum Nome científico
Alternativas agropecuárias de sustentabilidade para o pequeno produtor rural
Agrotrópica 30(1) 2018
30
iii) pastagem – roçagens periódicas, geralmente uma
vez por ano, para eliminar ervas invasoras. As
fertilizações químicas ocorreram de maneira irregular,
conforme a seguir: i) cacaual - em 2010, aplicou 100 g
de sulfato de amônio planta-1, 130 g de superfosfato
simples planta-1 e 60 g de cloreto de potássio planta-1,
em aproximadamente 0,8 ha; em 2013, aplicou 160 g
de ureia planta-1, 260 g de superfosfato triplo planta-1
e 60 g de cloreto de potássio planta-1, em 2,0 ha; ii)
cafezal – em 2010 e 2011, aplicou 600 g de NPK
planta-1 (formulação 20-05-20 - dividida em três
aplicações), em 0,12 ha (100 plantas); em 2012 e 2013,
ampliou essa adubação para 1,0 ha, área essa
substituída, posteriormente, por café clonal.
No ano de 2008, ao se capitalizar e a maioria das
espécies frutíferas e florestais em intercultivos
expressarem floração, ampliou a diversificação das
atividades econômicas na propriedade com o
estabelecimento da apicultura, com vistas à produção
de mel, a partir da criação de abelhas africanizadas
(Apis mellifera). Foram instaladas sete caixas, as
chamadas colmeias, à beira de carreador na lavoura de
cacau. Em 2012, essa atividade foi ampliada para dez
caixas, porém, no ano seguinte, em razão de limitação
de pasto apícola, com consequente enfraquecimento e
revoada de enxames, retornou à exploração original das
sete colmeias. Essa região, onde se localiza o município
de São Felipe do Oeste, é considerada de grande
potencial para a produção de mel em razão de clima
favorável, com estações secas e úmidas bem definidas,
e floradas nativas abundantes e diversificadas. No ano
de 2010, o produtor filiou-se a Associação de Apicultores
Chapada dos Parecis APIS, com sede em Rolim de
Moura, onde participa de cursos e treinamentos e busca
sempre respaldo técnico para essa atividade.
Produção e Produtividade
Na Tabela 1 são apresentadas as produções dos
principais produtos explorados no Sítio Nova Canaã,
no período de 2010 a 2015. Observa-se que a adubação
de 0,8 ha de cacaueiros, em 2010, contribuiu apenas
Quadro 2 - Nomes comuns e científicos das essências florestais
presentes em intercultivos com cacaueiros e cafeeiros no Sitio
Nova Canaã, em São Felipe do Oeste, Rondônia. 2015
Nome comum Nome científico
Amoreira Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud
Angelim-amargoso Parkia gigantocarpa Ducke
Arnica-brasileira Lychnophora ericoides
Aroeira-verdadeiro Myracrodruon urundeuva Allemão
Assa-peixe Vernonia polysphaera
Bandarra Schizolobium amazonicum
Buriti Mauritia flexuosa L.
Candiúba Trema micranta
Canelinha Nectandra magapotamica
Cedro-rosa Cedrella odorata L.
Cerejeira Amburana acreana Ducke (A.C.Sm.)
Espeteiro Casearia gossypiosperma
Farinha-seca Parinari coriaceum Benth.
Freijó-louro Cordia goeldiana Huber
Gancheiro Peschiera fuchsiaefolia
Guaiçara, pau-ripa Luetzelburgia auriculata
Guarantã Esenbeckia leiocarpa
Gueroba Syagrus oleracea
Ipê Tabebuia sp.
Jamelão Syzygium cumini (L.) Skeels = Eugenia
Jatobá Hymenaea courbaril L.
Jequitibá Cariniana sp.
Leiteira Brosimum sp.
Mamica-de-porca Zanthoxylum acreanum (Krause) J.F. Macbr.
Molungu, eritrina Erythrina velutina
Paineira Chorisia sp.
cumini (L.) Druce
Tabela 1 – Volume de produção dos principais produtos explorados no Sítio Nova Canaã, em São Felipe do Oeste,
Rondônia, no período de 2010 a 2015
2010 2011 2012 2013* 2014 2015
Produtos
Cacau em amêndoas (kg) 2.000,0 2.200,0 2.000,0 1.902,0 3.127,0 1.856,5
Café em grãos (kg) 4.860,0 1.320,0 3.000,0 2.038,0 5.040,0 1.500,0
Leite (l) 3.600,0 3.600,0 1.800,0 408,0 2.854,0 3.700,0
Nota: *Na impossibilidade de resgate desta informação em 2013, estimou-se a produção destes produtos tendo por
base a renda bruta anual dividida pelos preços médios praticados na região em 2012 e 2014
Anos
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
31
para acréscimo de produção de 10%, em 2011,
enquanto a adubação de 2013 refletiu
significativamente em 2014, com acréscimo superior
a 50%, embora tenha se limitado a 2,0 ha, metade da
área do cacaual. A queda brusca de produção em 2015
pode estar associada aos menores índices
pluviométricos registrados no final de 2014, na estação
meteorológica da REMAR, em Cacoal, além da
ausência de fertilização química em 2014. Observa-
se também que a melhor produtividade obtida de 782,0
kg de amêndoas secas de cacau ha-1, em 2014, está
muito aquém da esperada, de 1.200 kg ha-1, reflexo
das fertilizações irregulares e parciais, além de podas
parciais e malconduzidas nos cacaueiros, evidenciada
por copas malformadas e presença de palmas
dominadoras, conhecidas como “palmas d’água” ou
“palmas chupadeiras”, as quais pouco ou nada
produzem, interferindo na eficiência fotossintética da
planta. Isto significa que o produtor rural poderá obter
níveis mais elevados de produtividade se investir mais
no manejo agronômico do cultivo.
As variações de produção do cafezal parecem
refletir a característica de bienalidade da cultura, com
maiores expressões produtivas em 2010, 2012 e 2014,
além das fertilizações irregulares e parciais. As
fertilizações realizadas em 2012 e 2013, em 1,0 ha,
acrescida da irrigação por aspersão, contribuíram
significativamente para a expressão de maior
produtividade em 2014, de 28 sacas ha-1, superior à
produtividade média de café no Brasil, que em 2014 foi
de 23,3 sacas ha-1 (Consórcio, 2014). À semelhança do
ocorrido com o cacau, a queda brusca em 2015 resultou
também da ausência de fertilização em 2014, além da
recente substituição de 1,0 ha do cafezal original pela
nova variedade clonal BRS Ouro Preto.
A produção leiteira do Sítio, restrita a alguns animais,
revela as limitações para esta atividade em pequena
propriedade rural, atrelada à necessidade diária de
manejo das matrizes leiteiras, incluindo, muitas vezes,
a oferta de suplementação alimentar. De acordo com
diagnóstico realizado pelo SEBRAE (2015), a
produtividade média diária da pecuária leiteira em
Rondônia é de 4,41 litros vaca-1, enquanto a do
município de São Felipe do Oeste de 4,84 litros vaca-1.
No caso da propriedade em foco, animais de melhor
aptidão leiteira possibilitaram produtividade média
diária de 8,7 litros vaca-1, em 2015.
Análise socioeconômica
No período de análise dos dados, de 2010 a 2015,
todas as atividades agropecuárias do Sítio Nova Canaã
foram executadas pelo produtor rural e sua esposa,
incluindo também o processamento das frutas, o manejo
do apiário e a ordenha das vacas. Isso quer dizer que
a força de trabalho empregada é de natureza
estritamente familiar.
De modo geral, semanalmente, dedica uma manhã
de trabalho na entrega e comercialização dos produtos
do Sítio na cidade de São Felipe do Oeste e no distrito
de Querência, município de Primavera de Rondônia,
utilizando motocicleta com reboque. Grande parte
destina-se às entregas em escolas beneficiadas por
programas dos governos estadual e federal, para
aquisição de alimentos produzidos pela agricultura
familiar. Se as escolas estiverem em pleno
funcionamento as entregas podem acontecer duas
vezes na semana. Pequena parte da produção,
especialmente limão-tahiti e frutos de pupunha, é
comercializada em sistema de meia com feirante que
atua na feira livre da cidade de Pimenta Bueno. Como
as entregas na cidade são feitas a partir das 7 h, há
necessidade de preparação dos produtos no dia anterior.
Ao analisar as atividades diárias do produtor rural
e de sua esposa observou-se que dos 365 dias de 2015,
240 dias foram dedicados efetivamente às atividades
de labor do Sítio, o que representa um desempenho
muito bom, e os demais dias a atividades diversas,
como: ida à cidade para fazer compras e resolver
assuntos familiares, feriados e dias santificados,
paralisação por chuvas, ida à cidade para conserto de
equipamentos e máquinas, tratamento de saúde, visita
a familiares noutras cidades, dentre outras. Atualmente,
ao se planejar atividades agropecuárias para as
condições ecológicas de Rondônia, consideram-se 200
dias úteis no ano agrícola. O produtor declarou gozar
de boa saúde. Ademais, essa família rural é beneficiada
por viver em região salubre e menos inóspita em
relação às condições passadas, com baixos níveis de
doenças tropicais comuns em áreas de fronteira
agrícola na Amazônia.
Assim, os 240 dias de trabalho foram dedicados
aos tratos culturais dos intercultivos já mencionados,
ao processamento das frutas e do mel, ao manejo do
apiário, à ordenha das vacas e à comercialização dos
Alternativas agropecuárias de sustentabilidade para o pequeno produtor rural
Agrotrópica 30(1) 2018
32
produtos. As jornadas de trabalho do produtor e de
sua esposa constituem atividades bastante árduas,
porém para esta família rural são de natureza prazerosa
pelo retorno financeiro e qualidade de vida que
desfruta. Em síntese, os 9,68 ha do Sítio em foco vêm
gerando dois postos de trabalho permanentes, com
remuneração suficiente para manter o produtor, sua
esposa e eventuais auxílios a um dos filhos residente
na cidade de Cacoal, onde trabalha.
Em vinte e um anos de estabelecimento no Sítio
Nova Canaã o produtor rural e sua esposa conseguiram
implantar uma unidade produtiva que lhes assegura a
diversificação das atividades econômicas por meio de
duas fontes de renda principais, representadas pelo
cacau e o café, as quais totalizaram anualmente de
81,8% (2010) a 63,8% (2015) dos recursos, além de
fontes de renda complementares advindas da
exploração das fruteiras (frutas in natura e
processadas), mel e leite e derivados (Tabela 3). A
renda propiciada pela exploração das fruteiras (frutas
in natura e processadas) cresceu gradativamente, à
medida que as plantas foram alcançando sua
maturidade fisiológica, iniciando com participação
irrisória de 2,1%, em 2010, até chegar ao patamar de
17,3%, em 2015, com expectativa de maior participação
nos anos vindouros. Houve redução da renda do leite
em 2012 e 2013, decorrente do descarte de matrizes,
superior à média da região, mesmo sendo tratados
livremente à pleno pasto. Em 2015, com a fabricação
de queijos e o aumento significativo na participação
deste item na renda anual, ficou evidente a inviabilidade
de utilização de animais mais especializados para
exploração leiteira intensiva em pequenas propriedades
rurais, quando se busca também maior diversificação
de atividades produtivas, a menos que haja maior
disponibilidade de mão de obra na propriedade, com
pessoas dedicadas exclusivamente à produção de leite
e sua agroindustrialização.
Essa diversificação de atividades na propriedade
minimiza os riscos de frustração de renda por eventos
climáticos adversos ou por condições de mercado
desfavoráveis, além de aperfeiçoar e intensificar o uso
da terra. No período de seis anos (2010 a 2015) o Sítio
em foco auferiu renda média bruta mensal de 3,4
salários mínimos (Valor do salário mínimo de 2017 = R$ 937,00),
com destaque para o ano de 2014, em que a renda
bruta anual alcançou a cifra de R$ 49.382,00, a preços
de março de 2017, correspondendo a 4,4 salários
mínimos mensais (Figura 1).
De acordo com Fuentes, Souza e Pinare (1987),
em estudos realizados com pequenos agricultores do
Brasil, renda de dois salários mínimos já é um sinal de
prosperidade. Mais recentemente, estudo realizado por
Alves e Rocha (2010), com base em análise dos dados
Figura 1 - Receita bruta anual do Sítio Nova Canaã, em São Felipe do Oeste, Rondônia,
no período de 2010 a 2015.
Notas: * - Valores corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas a preços de
março/2017. ** - Salário mínimo de 2017 = R$ 937,00.
em 2012, as quais foram
substituídas por bezerras de maior
aptidão leiteira, em 2013, porém
mais exigentes no manejo,
requerendo alimentação
complementar preparada
diariamente. Esse fato exigiu do
produtor maior dedicação à
atividade leiteira, em detrimento de
outras atividades produtivas, o que
o levou a optar pelo descarte
desses animais em 2014, após ciclo
de gestação e valorização pela
elevada média de produção de leite
para os padrões da região. Isto
permitiu ao produtor adquirir outros
animais de boa aptidão leiteira,
ainda em 2014, porém menos
exigentes no manejo e que mantém
média de produção de leite muito
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
33
do Censo Agropecuário 2006, identificou que 975.974
estabelecimentos rurais (18,86% do total) produziram
entre dois e dez salários mínimos mensais (exclusive)
– salário da época do censo – e geraram 11,08% de
valor da produção. Para os autores, esses
estabelecimentos são candidatos às políticas
específicas, que se assentam na hipótese de que há
soluções, na agricultura, para o problema da renda,
tais como crédito rural, extensão rural, associativismo
e cooperativismo, compra pelo governo do excedente,
dentre outras. Esse é o caso da propriedade objeto
deste trabalho.
Nos seis anos de análise de dados, de 2010 a 2015,
a renda proporcionada pelo Sítio Nova Canaã
possibilitou à família do produtor rural, vários
benefícios, dentre eles: i) dedicar-se única e
exclusivamente as atividades produtivas do Sítio, sem
necessidade de desenvolver serviços extra-Sítio para
complementação de renda; ii) ter acesso a
determinados bens de consumo, tais como geladeira,
televisão, aparelho de som, motocicleta com reboque,
forno elétrico, máquina de lavar-roupa; iii) possibilitar
tratamento dentário à família; iv) dispor de alimentação
mais farta e diversificada, especialmente pela produção
de legumes, folhosas, leite, queijo, mel e criação de
suínos no Sítio; v) estabelecer pequena unidade de
processamento de frutas composta de despolpadeira
industrial (1), espremedor de laranjas (1), prensa para
fabricação de queijos (1), selador de embalagens (1),
freezer horizontal para armazenamento de polpas de
frutas (3) e ralador de coco (1); vi) construir casa
residencial de alvenaria no Sítio; vii) adquirir
equipamentos agrícolas para favorecer o manejo
agronômico, tais como: roçadeira motorizada,
pulverizador costal motorizado e pulverizador costal
manual e viii) fornecer complementação alimentar a
um dos filhos residente na cidade. Por tudo isso, esta
propriedade é frequentemente visitada por produtores
rurais, técnicos e demais atores vinculados ao meio
rural, como modelo de diversificação de atividades
agropecuárias naquela região.
Os dados de distribuição mensal de comercialização
dos produtos, registrados apenas no período de 2013 a
2015 (Tabela 2), revelaram que as atividades de
exploração de frutas (in natura e processadas) e de
cacau propiciaram um fluxo de caixa quase constante,
presente em 91,7% e 80,6% dos 36 meses do período,
respectivamente. Esse fato realça a importância dessas
atividades em pequenas propriedades, pois possibilita
uma geração de renda constante, o que facilita a
Tabela 2 – Distribuição mensal da renda bruta (R$*) por produto, do Sítio Nova Canaã, em São Felipe do Oeste, Rondônia, no período
de 2013 a 2015
Ano Produto/mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total anual
2013
2014
2015
Cacau 398 - - 1.943 1.683 2.815 2.003 655 - - 844 936 11.277
Café - - - - - - 5.313 - - - - - 5.313
Frutas e legumes 233 1.161 1.531 1.025 297 -59 39 79 138 61 -4.623
Madeira - - - - - - - - - - - - 780
Mel 34 118 135 85 8-68 236 338 85 118 -1.225
Leite e derivados - - - - - - - - - - 116 234 350
SUBT O T A L 665 2.059 1.666 3.053 1.988 2.815 7.443 930 417 223 1.139 1.170 23.568
Cacau 609 604 724 654 10.112 2.672 1.910 330 0568 1.060 -19.243
Café - - - - - 20.084 - - - - - - 20.084
Frutas e legumes 112 1.207 1.264 682 568 405 123 28 0246 828 454 5.917
Mel 208 256 64 -49 - - - 59 577 415 -1.628
Leite e derivados -100 36 - - 110 144 102 151 538 973 356 2.510
SUBT O T A L 929 2.167 2.088 1.336 10.729 23.271 2.177 460 210 1.929 3.276 810 49.382
Cacau 299 558 1.019 2.401 890 1.231 2.542 1.774 918 1.428 -2.647 15.707
Café - - - - - 6.176 - - - 1.811 - - 7.987
Frutas e legumes 457 585 558 286 261 160 722 323 442 753 1.598 432 6.577
Mel - - - - - - - - 703 97 340 1.730 2.870
Leite e derivados 141 301 275 208 188 170 308 307 454 521 489 612 3.974
SUBT O T A L 897 1.444 1.852 2.895 1.339 7.737 3.572 2.404 2.517 4.610 2.427 5.421 37.115
Nota: * Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV a preços de março de 2017
Alternativas agropecuárias de sustentabilidade para o pequeno produtor rural
Agrotrópica 30(1) 2018
34
Notas:
* - Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV a preços de março de 2017;
¹ Abacate, banana, goiaba, graviola, laranja, limão, mamão, melancia, ponkan, pupunha;
2 Polpa de frutas (graviola e goiaba) e/ou coco ralado;
3 Abóbora, batata-doce, chuchu, mandioca e palmito de pupunha.
Tabela 3 - Distribuição anual da renda bruta (em R$ 1,00*) por produto, do Sítio Nova Canaã, no período de 2010 a 2015
Cacau 15.116 35,2 13.640 50,0 11.246 33,1 11.277 47,9 19.243 39,0 15.707 42,3 86.229
Café 19.963 46,6 6.333 23,2 14.549 42,8 5.313 22,5 20.084 40,1 7.987 21,5 74.229
Frutas in natura1896 2,1 1.985 7,4 3.233 9,5 2.147 9,1 4.172 8,5 3.961 10,7 16.393
Frutas processadas2- - - - 914 2,7 1.784 7,6 1.296 2,6 2.432 6,6 6.426
Legumes3- - - - - - 692 2,9 449 0,9 184 0,5 1.325
Leite e derivados 2.958 6,9 2.657 9,7 1.518 4,5 350 1,5 2.510 5,1 3.974 10,7 13.967
Mel 3.286 7,7 2.657 9,7 2.530 7,4 1.225 5,2 1.628 3,3 2.870 7,7 14.197
Madeira - - - - - - 780 3,3 - - - - 780
R$ 1,00 % R$ % R$ % R$ % R$ % R$ %
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Produto/ano TOTAL
permanência da família no meio rural e, em
decorrência, evita sua migração para os grandes
centros urbanos. O café, embora tendo participação
expressiva na renda da família, concentra sua colheita
em maio e junho, quando há também colheita do
cacau e de outras espécies frutíferas, o que resulta
em sobrecarga de atividades para o produtor e sua
esposa. Em 2015, quando a produção de leite se
tornou regular na propriedade, foi possível agregar
valor a essa matéria-prima, por meio da fabricação
de queijos, o que permitiu um acréscimo na renda
dessa origem da ordem de 78,6%, evidenciado nos
maiores valores obtidos nos meses de agosto a
dezembro (Tabela 2). De modo geral, observa-se uma
concentração de renda de 55,5% apenas em três
meses: maio, junho e julho, em grande parte (51,7%)
advinda da produção do café.
Os menores fluxos de caixa foram observados
nos meses de janeiro, agosto e setembro.
Coincidentemente, agosto e setembro são os meses
em que há maior disponibilidade de pasto apícola em
Rondônia. Entretanto, o tamanho limitado da
propriedade em estudo impossibilita a expansão desta
atividade em padrões tecnicamente apropriados,
situação agravada também pela atuação de outros
apicultores na região.
Tendo por base a distribuição da renda bruta anual
por tipo de cultivo/produto (Tabela 3), calculou-se a
renda bruta média anual por área de intercultivo
explorada na propriedade objeto deste estudo
(Tabela 4).
Verifica-se, com base na análise da Tabela 4, que
a maior renda bruta foi auferida pelo intercultivo do
café com fruteiras e essências florestais, seguida de
perto pelo intercultivo do cacau, que equivaleu a cerca
de 91,0% da renda anterior. A renda bruta média de
ambas equivaleu a cerca de 1,8 vezes aquela da
pastagem em intercultivo com essências florestais.
Isto evidencia que a substituição desse sistema
Tabela 4 - Distribuição da renda bruta (em R$ *) por hectare
em intercultivo, do Sítio Nova Canaã, em São Felipe do Oeste,
Rondônia, no período de 2010 a 2015
Notas: * Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV a preços de
março de 2017;
¹ A produção de frutas, legumes e madeira decorreu dos 7,0
ha ocupados com intercultivos de cacau e café;
² A produção de mel decorreu dos 9,2 ha ocupados com
intercultivos de cacau, café e pastagem.
Área explorada Produtos R$
Cacau em
intercultivo com
fruteiras e essências
florestais (4,0 ha)
Café em intercultivo
com fruteiras e
essências florestais
(3,0 ha)
Pastagem em
intercultivo com
essências florestais
(2,2 ha)
Cacau em amêndoas 3.592,89
Frutas, legumes e madeira1593,43
Mel2257,19
Renda bruta ha 4.443,51
Café 4.123,83
Frutas, legumes e madeira1593,43
Mel2257,19
Renda bruta ha14.974,45
Leite e derivados 1.058,10
Mel2257,19
Novilha 49,77
Renda bruta ha 1.365,06
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
35
silvipastoril pelo intercultivo do café ou do cacau com
fruteiras e essências permitirá ao produtor rural a
elevação da renda bruta anual de sua propriedade.
Se optar pelo intercultivo do cacau suas atividades
ficarão mais bem distribuídas durante o ano, assim
como o fluxo de caixa. Salvo, se o produtor buscar
maior agregação de valor ao sistema silvipastoril,
aumentando, por exemplo, a produção de queijos e
similares, mas, para tanto, é preciso aumentar a
produção de leite, que, a partir de determinado volume,
exigirá mais área para pastejo, além de maior
disponibilidade de mão de obra na propriedade.
A renda líquida auferida pela propriedade também
foi positiva no período de seis anos analisado, exceto
em 2013, quando se mostrou negativa (Tabela 5). Outro
aspecto a ser destacado é que a mão de obra familiar
compõe as despesas brutas anuais, considerando o valor
de um salário mínimo correspondente ao seu valor em
cada ano analisado, corrigido pelo Índice Geral de
Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) a preços
de março de 2017, para o proprietário, e 0,7 salário
mínimo para sua esposa, haja vista dedicar-se também
às atividades domésticas.
Conforme os dados apresentados na Tabela 5, o
lucro médio anual da propriedade, considerando os seis
anos analisados, foi de R$ 6.239,00, correspondendo a
lucro médio mensal de R$ 519,92. Para a determinação
do lucro bruto anual considerou-se a renda bruta anual
e os custos totais. Para o cálculo dos custos totais
tomou-se por base os custos variáveis, fixos e de
remuneração dos fatores.
Entende-se por custo de produção a soma de todos
os fatores (terra, trabalho e capital) utilizados no
processo produtivo de certo bem. Conhecer o custo
de produção é fundamental para que o produtor tome
decisão de forma segura. Segundo a CONAB (2010),
o custo total pode ser organizado da seguinte maneira:
A) custo variável: apresenta os desembolsos com
mudas, fertilizantes, defensivos, mão de obra, operação
com máquinas, dentre outras despesas. Normalmente
os produtores rurais que tem um controle mínimo da
gestão da sua propriedade fazem seus custos em cima
apenas dessas despesas;
B) custo fixo: apresenta os custos com depreciação
e manutenção;
C) custo operacional: são os gastos de toda a
propriedade durante um ciclo de produção, constituído
pelos custos fixos e custo variável;
D) custo total: soma dos custos operacionais e da
remuneração dos fatores (terra e capital investido).
É importante ressaltar que a remuneração dos
fatores terra e capital, também conhecidos como
custos de oportunidade, são fundamentais no momento
de planejamento da atividade pelo produtor pois ajuda
o mesmo a decidir seus investimentos, se investe o
dinheiro na atividade produtiva ou aplica o dinheiro a
juros de banco (EMBRAPA, 2010).
Nota: * Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV a preços de março de 2017.
Tabela 5 - Desempenho financeiro (em R$ 1,00*) do Sítio Nova Canaã, em São Felipe do Oeste, Rondônia, no período de 2010
a 2015
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Atividade/insumo
CUSTOS VARIÁVEIS
Mão de obra do produtor
Insumos
Energia elétrica
CUSTO FIXO
Depreciação Equipamentos
Depreciação Benfeitorias
REMUNERAÇÃO DOS FATORES
Remuneração do capital
Custo de Oportunidade da Terra
CUSTO TOTAL
RENDA BRUTA ANUAL
LUCRO BRUTO ANUAL
22.545 21.998 22.269 24.994 28.965 26.616
18.519 17.780 19.323 19.482 19.714 20.676
3.251 2.166 2.153 3.473 7.602 2.455
775 2.052 793 2.039 1.649 3.485
389 389 851 851 1.625 1.625
389 389 531 531 1.063 1.063
- - 320 320 562 562
3.821 3.788 3.804 3.968 4.206 4.065
1.353 1.320 1.336 1.500 1.738 1.597
2.468 2.468 2.468 2.468 2.468 2.468
26.755 26.175 26.924 29.813 34.796 32.306
42.876 27.272 33.990 23.568 49.382 37.115
16.121 1.097 7.066 -6.245 14.586 4.809
Alternativas agropecuárias de sustentabilidade para o pequeno produtor rural
Agrotrópica 30(1) 2018
36
Análise Ambiental
A iniciativa do agricultor em “fazer fartura” no
Sítio Nova Canaã possibilitou a formação dos
conhecidos sistemas agroflorestais (SAF), definidos
como formas de uso e manejo da terra de forma
racional, nas quais árvores ou arbustos são utilizados
em associação com cultivos agrícolas e criação de
animais, numa mesma área, de maneira simultânea
ou em uma sequência temporal (Dubois, 1996). Tais
sistemas reúnem atributos de sustentabilidade da
floresta heterogênea no que se refere à proteção dos
solos tropicais, além de benefícios quanto à
reciclagem de nutrientes, poder tampão do
sombreamento frente a condições ecológicas
adversas, aproveitamento racional dos fatores espaço
e luz, dentre outros (Alvim, 1977; Alvim, 1989). Na
verdade, foram constituídos três sistemas produtivos
de intercultivos no Sítio: SAF com cacaueiros,
fruteiras e essências florestais; SAF com cafeeiros,
fruteiras e essências florestais e sistema silvipastoril
com essências florestais, pastagem e gado.
Observa-se que ao intuir “fazer fartura” em seu
Sítio, implantando diversas espécies vegetais, como
precaução para os dias vindouros, o agricultor
estabeleceu uma “poupança-verde”, que propicia,
geralmente, um retorno financeiro acima da média
(Moeda plantada, 2016), e possibilitou, posteriormente,
a exploração da apicultura, haja vista ter implantado
em intercultivos, embora desconhecendo, na época,
o assunto “criação de abelhas”, espécies
reconhecidamente melíferas, tais como: açaizeiro,
aroeira, cajazinho, goiabeira, ingazeira, jabuticabeira,
jatobá, laranjeira, limão-tahiti, mangueira, mulungu e
tamarindeiro. Ademais, no processo de regeneração
natural da vegetação da pastagem e da mata ciliar
houve a expressão de espécies arbustivas melíferas
que naturalmente apresentam farta floração, tais
como: arnica, assa-peixe e goiabinha, as quais foram
preservadas pelo produtor. Desta forma, a visão
futurista do produtor em buscar benefícios ambientais
possibilitou também mais uma fonte de renda, a
apicultura, para sua sobrevivência e alimentação
suplementar da família.
Nos três sistemas produtivos de intercultivos
mencionados foram contabilizadas 60 espécies entre
frutíferas e essências florestais, o que representa uma
diversidade florística significativa, contemplando
espécies que podem ser classificadas de acordo com
sua função e/ou utilização. Dentre estas, destacam-
se aquelas com função econômica, tais como abieiro,
angelim, bandarra, cedro-rosa, ipê, jatobá e jequitibá,
entre as vinte espécies vegetais mais comercializadas
em Rondônia, em razão da importância de seus
principais produtos na pauta de exportação do Estado,
conforme Autorizações de Exploração Florestal –
AUTEX, emitidas pela SEDAM (Eugênio Pacelli,
2016 – comunicação pessoal1). Acresce-se também
a exótica teca, de origem asiática, que começa a
ganhar espaço no cenário estadual, em razão da
facilidade de cultivo, rusticidade, tronco retilíneo,
rapidez de crescimento na região e resistência ao fogo,
pragas e doenças, cuja madeira tem elevado valor no
mercado mundial pelas suas excepcionais propriedades:
beleza, durabilidade, secagem uniforme. Sua implantação
em renques periféricos no Sítio Nova Canaã, facilitará a
extração da madeira, futuramente, sem causar danos aos
cacaueiros. Atualmente, Rondônia exporta peças de teca
para China, Vietnã e Índia (Madeira, 2016), um canal de
comercialização com grande potencial de crescimento.
Existem também espécies com função social, pois
permitem sua exploração de forma não predatória, não
necessitando, portanto, da eliminação do indivíduo. As
frutíferas fazem parte desse grupo, como também as
melíferas. Ademais, essas últimas têm importância
também na função ambiental, pois por produzirem grande
quantidade de flores, constituem em abrigo e alimento
alternativo para os inimigos naturais de pragas.
Nas visitas mais recentes ao agricultor e com a
maturidade fisiológica das espécies vegetais em
intercultivo, com definição de suas copas, observaram-
se inúmeras melhorias para o agroecossistema do Sítio,
tais como: i) maior equilíbrio térmico do ambiente, pelo
poder tampão exercido pelas árvores, o que possibilita
maior conforto para o agricultor e sua esposa na
execução dos tratos culturais; ii) maior proteção do
solo, diminuindo os riscos com erosão; iii) aumento da
camada de serapilheira, o que deve contribuir para a
riqueza de microrganismos no solo; iv) maior presença
de pássaros no Sítio, auxiliando na regulação de
insetos-praga e v) melhor controle de ervas daninhas.
1Informação fornecida por PACELLI, E. Funcionário da Secretaria
Estadual de Desenvolvimento Ambiental de rondônia. Porto Velho, RO.
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
37
Ao se analisar o cumprimento da atual lei ambiental,
observa-se que como o imóvel já se encontra inscrito
no Cadastro Ambiental Rural – CAR, o próximo passo
é o atendimento ao Programa de Regularização
Ambiental – PRA, para definir ações que serão
utilizadas na recuperação de áreas porventura
alteradas e degradadas. O novo Código Florestal no
Brasil, Lei n. 12.651/2012, Art. 61-A, § 1º, estabelece
que “Para os imóveis rurais com área de até 1 (um)
módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas
de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água
naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas
faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda
da calha do leito regular, independentemente da largura
do curso dágua”. O Sítio Nova Canaã, por compreender
área de apenas 9,68 hectares, enquadra-se neste caso.
Portanto, o produtor para atender às exigências desta
lei, deverá assumir compromisso de recompor a mata
ciliar ao longo da calha do rio Arara, considerando a
faixa marginal de 5 metros. Outra questão diz respeito
à Reserva Legal, prevista no art. 12, do referido Código
Florestal, que estabelece em 80% do imóvel quando
situado em área de floresta na Amazônia Legal.
Entretanto, por se tratar de pequeno imóvel rural com
ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008,
data estabelecida no citado Código Florestal, com
edificações, benfeitorias e atividades agrossilvipastoris,
essa Reserva Legal poderá ser compensada por área
cultivada em sistema intercalar ou consórcio com
espécies nativas, que é o caso dos 7,0 ha estabelecidos
no Sítio em sistemas agroflorestais com cacaueiros e
cafeeiros, com grande diversidade de fruteiras e
essências florestais. A complexidade do assunto exige
análise mais abalizada de profissionais da área
ambiental do Estado.
Considerações Finais
A utilização de sistemas agroflorestais em pequenas
propriedades familiares pode se constituir em
alternativa viável do ponto de vista socioambiental e
econômico, por permitir a exploração sustentável da
terra, propiciando trabalho e renda para o produtor e
sua família, garantindo o seu sustento e gerando
excedentes comercializáveis, possibilitando sua
inserção no mercado e contribuindo para a mobilidade
social da família.
Este estudo de caso, baseado na diversificação
de atividades agropecuárias em pequena propriedade
rural com pouco menos de 10,0 hectares, indica
caminhos de exploração sustentável que podem ser
seguidos por outros produtores, dada sua viabilidade
econômica, além de promover a integração
socioambiental na propriedade e proporcionar o bem-
estar para a família rural.
O desafio que se impõe ao proprietário e seus
familiares, dada a impossibilidade de expansão das
atividades agrosilvipastoris na propriedade, pela
limitação de espaço, é como aumentar a renda das
demais atividades. Nesse contexto, ganha importância
a implementação de inovações tecnológicas que
permitam ganhos de produtividade, ou seja, que
propiciem maior produção no mesmo espaço hoje
utilizado. Para isso, é importante que o produtor tenha
acesso a: serviços de assistência técnica regular e de
qualidade, crédito rural de custeio e investimento e
garantia de preços mínimos para sua produção.
Agradecimentos
Ao produtor rural Roberto Fernandes Sabino,
proprietário da área analisada, pelas informações
prestadas e por ter permitido a realização desta
pesquisa. Ao Auditor Fiscal Federal Agropecuário
Paulo Gil Gonçalves de Matos, da CEPLAC/SUERO,
pela leitura crítica e sugestões.
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l
Almeida et al.
Agrotrópica 30(1): 39 - 42. 2018.
Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Armínio Santos1,2, Raoni Andrade Pires2, Avaldo de Oliveira Soares Filho3, Quelmo Silva
Novais1, Mateus Endringer Caliman4, José Luiz Bezerra4,5
DOIS NOVOS HOSPEDEIROS DE Prillieuxina winteriana (Ascomycota) DA
FAMÍLIA ANNONACEAE
1UESB -Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Departamento de Fitotecnia e Zootecnia -Estrada do Bem Querer km
4, Caixa Postal 95, 45083-900, Vitória da Conquista - Bahia, Brasil. arminioo@uesb.edu.br; quelmo@uesb.edu.br; 2Bolsista
Iniciação Cientifica CNPq/CAPES piresraoni@gmail.com; 3UESB/Departamento de Ciências Naturais.
avaldoss@gmail.com; 4 UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz Campus Soane Nazaré de Andrade - Rod. Jorge
Amado, km 16 - Salobrinho, Ilhéus - BA, 45662-900. mateus_caliman@hotmail.com; 5UFRB /Centro de Ciências Agrárias,
Ambientais e Biológicas - Centro, R. Rui Barbosa, 710, Cruz das Almas - BA, 44380-000; UFPE - Av. Prof. Moraes Rego,
1235 - Cidade Universitária, Recife - PE, 50670-90. jlulabezerra@hotmail.com.
Em um levantamento de fungos foliícolas na reserva Serra do Periperi, no município de Vitória da Conquista,
Bahia, Brasil, foram coletadas folhas de Annona coriacea apresentando colônias negras de um fungo asterinoide
o qual foi identificado como o morfo assexual de Prillieuxina winteriana. Esta combinação patógeno-hospedeiro
é nova para a ciência, uma vez que este fungo ainda não foi relado em A. coriacea. Durante a revisão da literatura
foi encontrado um fungo descrito sobre A. monticola. Este fungo foi reportado como um possível gênero novo,
porém sua descrição e ilustrações correspondem a P. winteriana. Portanto, A. monticola é também um novo
hospedeiro de P. winteriana.
Palavras-chave: Annona coriacea, Annona monticola, taxonomia, morfologia, faixa de hospedeiros.
Two new hosts of Prillieuxina winteriana (Ascomycota) of the family Annonaceae.
In a survey of foliicolous fungi from Serra do Periperi Reserve in the municipality of Vitoria da Conquista, State of
Bahia, Brazil, leaves of Annona coriacea were collected showing black colonies of an Asterinaceous fungus which
was identified as Prillieuxina winteriana. This host-pathogen combination is new to science because this fungus
has not been recorded on A. coriacea. During the literature review, a fungus described on A. monticola was found
which was reported as a possible new genus but its description and illustrations correspond to P. winteriana.
Therefore, A. monticola is also a new host to this fungus.
Key words: Annona coriacea, Annona monticola, taxonomy, morphology, host range.
Recebido para publicação em 24 de outubro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 39
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p39-42
Agrotrópica 30(1) 2018
40
Introdução
Durante o mês de fevereiro de 2017 observou-
se no Parque Municipal da Serra do Periperi, em
Vitória da Conquista, Estado da Bahia, Brasil, a
incidência de um fungo epifítico em folhas de
Annona coriacea Mart., conhecida localmente pelo
nome comum de Araticum-de-Casca Lisa (Oliveira,
2011). Esta planta produz frutos grandes e bastante
perfumados, utilizados na culinária para fabricação
de licores, doces e sucos (Silva, 2007), além de ter
aplicação na medicina popular para o tratamento
de parasitas, úlceras e processos inflamatórios, bem
como para reumatismo e como anti-helmíntico,
tendo os óleos extraídos desta espécie atividade
comprovada contra Leishmania e Trypanosoma
cruzi (Siqueira et al., 2011).
O gênero Prillieuxina Arnaud, estabelecido por
Arnaud (1918), tem sido relatado sobre diversas
famílias de plantas hospedeiras, incluindo
representantes da família Annonaceae. Este gênero
apresenta colônias foliares escuras, hifas superficiais
sem apressórios e tiriotécios radiados, circulares a
ligeiramente alongados, abrindo-se por deiscência
central em forma de estrela (Gautam, 2015;
Hofmann, 2010; Hongsanan et al., 2014; Caliman,
2015). Seu morfo assexuado possui picniotírios
superficiais, circulares, radiados, escuros, com
deiscência central em forma de estrela e substitui
frequentemente o morfo sexual (Hofmann, 2010).
O uso de nomes separados para designar os morfos
assexuais de ascomicetos e basidiomicetos
pleomórficos não é mais permitido desde o Congresso
Internacional de Melbourne em julho de 2011. Dessa
forma, o nome Leprieurina winteriana G. Arnaud
atribuido ao morfo assexual de P. winteriana
(Pazschke) G. Arnaud deve ser evitado.
Existem 79 registro de Prillieuxina que incidem
em 78 hospedeiros das mais diversas famílias
botânicas (Index Fungorum, 2017), porém a espécie
P. winteriana foi relatada apenas nas seguintes
anonáceas: Annona sp. (Batista e Ciferri, 1959); A.
muricata L. (Caliman, 2015); A. montana (Hofmann,
2010); Annona glabra L. (=Annona palustris L.)
(Batista e Ciferri, 1959).
O objetivo deste estudo foi estudar dois espécimes
Asterinacae sobre A. coriacea e A. monticola.
Folhas infectadas de A. coriacea foram coletadas
durante a estação seca de 2017, mais fria do ano, em
um levantamento de fungos no Parque Municipal Serra
do Periperi, no município de Vitória da Conquista, Bahia
(14º49"52.87"S, 40º50"1.46"W).
Todas as amostras coletadas foram levadas ao
Laboratório de Fitopatologia da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia, para análise. O diâmetro das
colônias foi avaliado utilizando-se paquímetro digital.
As colônias foram analisadas em microscópio
estereoscópico de marca Zeiss, modelo Stemi 2000 -
C e foram então retiradas por meio de técnicas de
raspagem por adesão a esmalte para proceder análises
micromorfológicas, conforme metodologia descrita por
Gautam & Avasthi (2016). As lâminas foram montadas
em reativo de Melzer + PVLG (Schenck & Perez,
1990) e levadas ao microscópio ótico marca Zeiss,
modelo Axiostar Plus. A classificação morfológica foi
realizada utilizando-se a chave dicotômica de Hofmann
(2010). Foram medidos 30 picniotírios e 30 conídios.
Utilizou-se um Ipad® Pro 9,7" com câmera digital de
12 megapixels, para obtenção das fotografias.
Posteriormente os resultados foram comparados com
os da literatura disponível sobre P. winteriana.
Resultados
Material e Métodos
Espécimes examinados:
BRASIL. BAHIA: Una, Fazenda Santo Antônio,
15°17’36" S; 39°04’31" W, em folhas de Annona
O fungo estudado corresponde a Prillieuxina
winteriana, e apresenta colônias anfígenas (Figura 1 A
e B); micélio superficial, septado, sem apressórios
(Figura 1 D); hipostroma intraepidermal presente (Figura
1 E); picnotírios subcirculares, negros, radiados, 140 a
250 mm de diâmetro, abrindo-se por deiscência estelar
(Figura 1 C) ; conídios ovoides, castanhos, lisos, 25–35
× 15–17,5, com um septo próximo à base (Figura 1 F).
Durante a revisão da literatura foi encontrado um
fungo descrito sobre A. monticola Mart. o qual foi
considerado pelo autor como um possível gênero novo
de Coelomycetes. No entanto, a descrição e ilustrações
do mesmo correspondem a P. winteriana, permitindo
que esta planta seja também considerada um novo
hospedeiro de P. winteriana.
Santos et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
41
Figura 1. Prillieuxina winteriana. A. Colônias nas faces adaxial e abaxial das folhas. B. Detalhe das colônias. C.
Picniotírio mostrando a deiscência estelar. D.Picniotírio e hifas ramificadas. E. Hipostroma intraepidermal (setas). F.
Picnotiriósporos maduros e imaturo (seta). Barras: A = 5cm; B = 5mm; C = 100 µm; D = 100 µm; E = 50 µm; F - 20 m.
A
B
E
F
Dois novos hospedeiros de P. winteriana
Agrotrópica 30(1) 2018
42
muricata, 09/02/2015, M.E. Caliman, CEPEC 2460;
Wenceslau Guimarães, 13°41’13" S; 39°28’46" W, em
folhas de Annona muricata, 06/02/2015, M.E. Caliman,
CEPEC 2462;Vitória da Conquista, 14°53.361’ S;
40°48.031’ W, em folhas de Annona muricata, 02/02/
2015, M.E. Caliman, CEPEC 2459; Vitória da Conquista,
em folhas de Annona coriacea, 29/09/2017, A. Santos,
CEPEC 2496. PERNAMBUCO: Recife, Dois Irmãos,
em folhas de Annona palustris, 10/02/1959, A.C.
Batista e I. A. Lima, URM 15613; PERNAMBUCO:
Chá de Capoeira, Paudalho, em folhas de Annona sp.,
22/06/1959, A.C. Batista e H.S. Maia, URM 16076.
AMAZONAS: Manaus, Reserva Ducke, em folhas
de Annona sp., 11/11/1962, A.C. Batista e A.A.S. Silva,
URM 30297.
Os dados morfodimensionais das descrições de P.
winteriana em diferentes espécies de Annonaceae
apresentam uniformidade suficiente para considera-
los pertencentes à mesma espécie, conforme se vê
na Tabela 1.
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Literatura Citada
Annona coriacea e A.monticola são novos registros
de hospedeiros para P. winteriana.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da
bolsa IC a Raoni Andrade Pires e da bolsa PQ a José
Luiz Bezerra; à Capes pela bolsa de mestrado concedida
a Raoni Andrade Pires; à Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), pela permissão do uso do
Laboratório de Fitopatologia; à Secretaria do Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal de Vitória da
Conquista, pela permissão em proceder as coletas; os
funcionários do Parque Municipal da Serra do Periperi,
pelo apoio operacional; ao Herbário CEPEC-Fungi, da
CEPLAC, pelo depósito dos espécimes estudados.
Conclusão
Agradecimentos
Tabela 1. Comparação das descrições de Prillieuxina winteriana em diferentes espécies de Annonaceae
A.coriacea Vitória da Conquista-BA 140–250 25–35 × 15–17,5 Este trabalho
A.montana La Concepción – Panamá 127–166 28–34 × 17–20 Hofmann (2010)
A.monticola Distrito Federal, Planaltina. 112–262 19-30,5 × 6-20 Armando (2014)
A.muricata Wenceslau Guimarães-BA 137,5– 212,5 22,5–36,2 × 16,2–22,5 Caliman (2015)
A.palustris Recife-PE 175–212,5 27,5–35 × 15–20 Batista & Lima (1959)
Annona sp. Guatemala (Exsicata 160–220 20,5–30 × 14,5–19,5 Batista & Ciferri (1959)
do Herbário URM)
Espécies de Annona Local Picniotírios (mµµ
µµ
µ) Conídios (mµµ
µµ
µ) Fonte
l
Santos et al.
Agrotrópica 30(1): 43 - 48. 2018.
Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Rodrigo Souza Santos1, Weidson Plauter Sutil2, José Fernando Araújo de Oliveira2
BESOUROS ESCARABEÍDEOS (COLEOPTERA: SCARABAEIDAE) COLETADOS
EM REMANESCENTE FLORESTAL EM RIO BRANCO, ACRE, BRASIL
1Embrapa Acre, Rodovia BR 364, km 14, CP 321, 69900-970, Rio Branco, AC, Brasil. rodrigo.s.santos@embrapa.br
2União Educacional do Norte (UNINORTE), Alameda Hungria, 200, Jardim Europa, 69915-901, Rio Branco, AC.
plauter80@gmail.com; jfernando.a.o@hotmail.com
Besouros da família Scarabaeidae possuem grande importância ecológica, desde sua participação no ciclo de
decomposição da matéria orgânica, no controle biológico da mosca-dos-chifres e na entomologia forense. Neste
contexto, este trabalho teve como objetivo conhecer as espécies de besouros escarabeídeos em um remanescente
florestal, localizado no município de Rio Branco, Acre. Durante o período de março a agosto de 2016 foram instaladas
nove armadilhas do tipo “pitfall trap”, com três tipos de atrativos alimentares (fezes humanas, coração bovino em
decomposição e banana fermentada), dispostas em um triângulo equilátero, com 15 metros de lado. Foram realizadas
duas coletas semanais (segundas e sextas-feiras), e as armadilhas eram recolhidas e substituídas por novas, incluindo
os atrativos alimentares. O material foi triado no Laboratório de Entomologia da Embrapa Acre e os escarabeídeos
preservados em álcool 70%. Foram capturados um total de 764 espécimes, representados por cinco tribos, 12
gêneros e 40 espécies. Canthon quinquemaculatus, Canthon septemaculatus, Deltochilum carinatum, Deltochilum
orbiculare, Dichotomius batesi, Phanaeus bispinus e Phanaeus camberforti representam primeiros registros de
ocorrência para o estado do Acre. Pelo número de espécies capturadas, bem como pelos seus hábitos alimentares,
conclui-se que o remanescente florestal possui baixo impacto antrópico.
Palavras-chave: Bioindicador, Fauna edáfica, Floresta tropical, Scarabaeoidea
Dung beetles (Coleoptera: Scarabaeidae) collected in forest remnant in the
municipality of Rio Branco, Acre state, Brazil. Beetles of the family Scarabaeidae have great
ecological importance, since its participation in the cycle of decomposition of organic matter, in the biological
control of flies and in forensic entomology. In this context, the aim of this work was to know as species of Scarabaeidae
beetles in a forest remnant, in the municipality of Rio Branco, Acre state, Brazil using pitfall traps, with three types
of food attractions (human feces, bovine heart in decomposition and fermented banana). During the period from
March to August 2016, two weekly collections were held (Mondays and Fridays), collecting the traps and replacing
them with new ones, including food attractions. The material was screened in the Embrapa Acre’s Laboratory of
Entomology and the Scarabaeidae preserved in alcohol 70%. A total of 764 specimens were collected, represented by
five tribes, 12 genus and 40 species. The species Canthon quinquemaculatus, Canthon septemaculatus, Deltochilum
carinatum, Deltochilum orbiculare, Dichotomius batesi, Phanaeus bispinus and Phanaeus camberforti are first
records for Acre state. By the number of species captured, as well as by their eating habits, it is concluded that the
forest remnant has low anthropic impact.
Key words: Bioindicator, Edaphic fauna, Tropical forest, Scarabaeoidea
Recebido para publicação em 08 de novembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 43
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p43-48
Agrotrópica 30(1) 2018
44
Introdução
A exploração de ambientes naturais com o propósito
de expansão das diversas atividades humanas de
produção, principalmente as de natureza agropecuária,
provoca alterações na complexidade e estruturação
dos diferentes habitats naturais e, consequentemente,
acarretam em uma mudança na composição de
espécies das comunidades animais anteriormente ali
presentes (Borges, 2006). Essa prática tem como
consequência a perturbação do equilíbrio dinâmico
entre as espécies e o ambiente, podendo levar à
extinção das espécies. A perda da biodiversidade
ameaça a sustentabilidade de todo o sistema, com uma
consequente redução dos serviços ambientais, tais
como: controle de pragas, ciclagem de nutrientes e
manutenção da estrutura do solo (Sampaio, 2010).
Uma forma de avaliar o grau de alteração ou
fragmentação de um hábitat é mediante a utilização
de um grupo de organismos considerados
bioindicadores (Wink et al., 2005). Dentre os
organismos bioindicadores, os insetos são considerados
muito importantes na ecologia dos ecossistemas
naturais, podendo ser utilizados em estudos de
perturbação ambiental (Rosenberg et al., 1986).
A ordem Coleoptera é a maior dentre todas da
Classe Insecta, e o número total de espécies varia de
acordo com a opinião de diferentes autores, no entanto,
segundo Slipinski et al. (2011), esta ordem possui cerca
de 380.000 espécies conhecidas, representando 25%
de todas as espécies de animais do planeta. Dentre
estes, a família Scarabaeidae (superfamília
Scarabaeoidea) se destaca como uma das principais,
com aproximadamente 7.000 espécies conhecidas em
nível mundial, das quais, cerca de 800 ocorrem no Brasil
(Melo et al., 2009). Este grupo de besouros é detritívoro,
promovendo a remoção e reingresso da matéria
orgânica no ecossistema, aumentando a aeração do
solo e prolongando a sua capacidade produtiva
(Milhomem et al., 2003), podendo ainda ser
considerados como indicadores de qualidade ambiental
e de seus impactos em muitas regiões do mundo
(Halffter e Favila, 1993).
A melhor maneira de se coletar coleópteros é com
a utilização de iscas ou atrativos, independente do tipo
de armadilha. No entanto, para a coleta de
escarabeídeos, os quais são atraídos por fezes,
carcaças e frutos em decomposição, mas não são
atraídos por luz, as armadilhas de queda ou alçapões
(pitfall) são as mais recomendadas (Favila e Halffter,
1997). A maioria das espécies utiliza excrementos,
carcaças e frutas podres como recurso alimentar tanto
na fase adulta quanto na larval (Halffter e Matthew,
1966). Portanto, a maior parte do grupo é facilmente
amostrada através de armadilhas de queda iscadas com
os recursos de que se alimenta (Lobo et al., 1988;
Halffter e Favila, 1993).
Visto que, a fauna do solo exerce importante papel
nos processos ecológicos do ecossistema, estudos sobre
a composição e estrutura dessas comunidades são
importantes para entender o seu funcionamento
(Teixeira et al., 2009). Neste contexto e, levando em
consideração que estudos dessa natureza ainda são
muito escassos para o estado do Acre, este trabalho
teve como objetivo conhecer as espécies de besouros
escarabeídeos em um remanescente florestal, localizado
no município de Rio Branco, visando contribuir para o
aumento do conhecimento acerca das espécies de
escarabeídeos ocorrentes no estado do Acre.
Material e Métodos
O estudo foi realizado em um remanescente
florestal situado no campo experimental da Embrapa
Acre (10º01’49.8’’S; 67º41’00.5’’W – altitude de 143
m), no período de março a agosto de 2016, sendo
realizadas duas coletas semanais (segundas e sextas-
feiras), totalizando oito coletas mensais e um total de
48 coletas durante todo o período de amostragem.
O remanescente florestal é caracterizado como
uma floresta ombrófila aberta, com área de
aproximadamente 800 ha e faz fronteira com duas
propriedades onde existem pastagens formadas. A
fisionomia dessa floresta é predominantemente aberta
com presença de tabocas (Guadua sp.), palmeiras e
cipós. O clima é do tipo Aw (classificação de Köppen),
ou seja, clima quente e úmido de monções, com uma
estação seca bem diferenciada entre os meses de junho
e outubro (Funtac, 1989; Oliveira, 1994; Oliveira e Braz,
1998).
Na área experimental foram instaladas nove
armadilhas de queda do tipo “pitfall trap”, dispostas
em três triângulos de cinco metros de distância (três
armadilhas por triângulo), formando um triângulo
Santos, Sutil e Oliveira
Agrotrópica 30(1) 2018
45
equilátero de 15 m de lado (Figura 1). As armadilhas
foram instaladas a aproximadamente cinco metros da
bordadura do remanescente florestal.
A armadilha pitfall consiste de um recipiente de
boca larga enterrado no solo de maneira que a abertura
fique ao nível da superfície do mesmo (Leivas et al.,
2013). As pitfalls consistiram em copos plásticos de
700 mL enterrados até o nível superficial do solo. No
interior de cada armadilha era adicionado 250 mL de
solução conservante (formaldeído a 1%), com algumas
Figura 1 - Esquema da distribuição das armadilhas pitfall no interior do remanescente florestal, sendo
cada círculo correspondente a uma armadilha pitfall.
gotas de detergente líquido neutro, para quebrar a
tensão superficial da água, conforme metodologia
utilizada por Santos e Cividanes (2007).
Os atrativos alimentares eram suspensos por um
fio de cobre, em recipientes plásticos, nos quais eram
inseridos aproximadamente 20 g do atrativo alimentar
(Figura 2A e 2B). Foram utilizados três tipos de
atrativos alimentares nesse estudo (fezes humanas,
coração bovino em decomposição e banana
fermentada) (Silva et al., 2007). Um rodízio de atrativos
Figura 2 - Detalhe de armadilha pitfall iscada, com sua respectiva proteção de madeira(A) e do pote plástico
contendo coração bovino em seu interior (B). (Crédito das fotos: Weidson Plauter Sutil).
Besouros escarabeídeos coletados em Rio Branco, AC
Agrotrópica 30(1) 2018
46
alimentares entre as pitfalls era realizado a cada coleta,
a fim de reduzir a interferência da posição da armadilha
em detrimento ao tipo de atrativo.
Sobre cada pitfall foi instalada uma cobertura
quadrada de madeira (12 cm2), a fim de evitar o
transbordamento pela água da chuva e/ou o entupimento
das armadilhas por folhas e/ou detritos (Figura 2A).
A cada amostragem, o material coletado era levado
até o Laboratório de Entomologia da Embrapa Acre,
onde se procedia a triagem, com auxílio de peneira
granulométrica. Os coleópteros pertencentes às
famílias Histeridae, Staphylinidae e Scarabaeidae foram
morfotipados, sob microscópio estereoscópio, e
preservados em frascos contendo álcool a 70%.
Posteriormente, os escarabeídeos foram enviados ao
taxonomista Dr. Paschoal Coelho Grossi (Universidade
Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, Recife, PE),
para identificação ao menor nível taxonômico possível.
Resultados e Discussão
Foram coletados 6.601 besouros pertencentes às
famílias Histeridae, Staphylinidae e Scarabaeidae,
sendo essa última família a mais abundante em todo o
período de estudo. Os escarabeídeos pertenciam a
cinco tribos, 12 gêneros e 40 espécies (Tabela 1).
As tribos Coprini e Canthonini foram as melhores
representadas com 15 e 14 espécies respectivamente,
seguidas por Phanaeini (6 espécies), Onthophagini (3)
e Oniticelini (2).
Coprini corresponde a uma das tribos mais ricas
com gêneros que ainda são pouco estudados, em
especial Canthidium e Dichotomius, os quais se
encontram em processo de revisão sistemática. Estes
grupos possuem os mais variados hábitos alimentares,
encontrando-se preferencialmente em floresta primária
e secundária (Korasaki et al., 2012). Os gêneros mais
frequentes desta tribo foram Canthidium e
Dichotomius com sete espécies, seguidos por
Canthon com cinco espécies. Uma possível hipótese
para justificar a maior abundância de Coprini neste
levantamento é o fato de o fragmento de floresta
corresponder a uma mata primária.
Canthidium é um grande gênero, com 153 espécies
descritas, sendo a maior parte copro-necrófagas que
vivem em florestas ou savanas neotropicais, fator que
pode explicar a sua maior ocorrência (Vaz-de-Mello,
1999). Possuem hábitos alimentares generalistas, sendo
atraídas por fezes humanas, além de carnes e frutas
em decomposição. Há espécies indicadoras de
ecossistemas florestais mais conservados, bem como
outras, encontradas em ecossistemas perturbados
Tabela 1 - Espécies de Scarabaeidae (Coleoptera) coletadas
em armadilhas pitfall iscadas, em remanescente florestal, no
município de Rio Branco, Acre, de março a agosto de 2016
Canthidium sp.1
Canthidium sp.2
Canthidium sp.3
Canthidium sp.4
Canthidium sp.5
Canthidium sp.6
Canthidium sp.7
Dichotomius aff. boreus
Dichotomius aff. prietoi
Dichotomius batesi Harold
Dichotomius mamillatus Felsche
Dichotomius ohausi Luederwaldt
Dichotomius robustus Luederwaldt
Dichotomius sp.
Ontherus sp.
Canthon aff. luctuosus
Canthon quinquemaculatus Castelnau
Canthon septemaculatus Latreille
Canthon sp. 1
Canthon sp. 2
Deltochilum aff. howdeni
Deltochilum aff. irroratum
Deltochilum aff. peruanum
Deltochilum amazonicum Bates
Deltochilum carinatum Westwood
Deltochilum orbiculare Lansberge
Deltochilum schefflerorum Silva, Louzada e Vaz-de-Mello
Scybalocanthon sp.
Sylvicanthon aff. aequinoctialis
Oxysternon conspicillatum Weber
Oxysternon silenus Castelnau
Phanaeus bispinus Bates
Phanaeus camberforti Arnaud
Coprophanaeus aff. degallieri
Coprophanaeus telamon Erichson
Onthophagus aff. xanthomerus
Onthophagus haematopus Harold
Onthophagus sp.
Eurysternus aff. hypocrita
Eurysternus caribaeus Herbst
Coprini
Canthonini
Phanaeini
Onthophagini
Oniticelini
Espécie Tribo
Santos, Sutil e Oliveira
Agrotrópica 30(1) 2018
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(Silva et al., 2011). Sete morfoespécies de Canthidium
já haviam sido coletadas em levantamento realizado
por Rufino et al. (2016), utilizando armadilhas pitfall
não iscadas, em remanescente florestal, no município
de Plácido de Castro, AC, reforçando que esse gênero
de Scarabaeidae é comum em ambientes florestais no
estado do Acre.
Canthonini é uma das mais antigas e maiores tribos
de Scarabaeidae apresentando vários hábitos
alimentares, preferencialmente copro-necrófagos, mas
que também utilizam frutos em decomposição e fungos
como recurso alimentar (Vaz-de-Mello, 1999). Os
gêneros mais frequentes foram Deltochilum com sete
espécies, seguido por Canthon com cinco espécies.
As espécies Deltochilum schefflerorum Silva,
Louzada e Vaz-de-Mello e Oxysternon silenus
Laporte, já haviam sido registradas no estado do Acre
(Rufino et al., 2016).
Em trabalho similar, desenvolvido no estado do Acre
por Vaz-de-Mello (1999), utilizando armadilhas pitfall
iscadas (fezes humanas e carcaça de peixe), armadilha
de interceptação de voo (Malaise) e coleta manual (rede
entomológica), foram registradas 36 espécies de
escarabeídeos, quatro a menos em relação a este estudo,
havendo uma significativa diferença entre as espécies
capturadas em ambos os trabalhos. Esse resultado aponta
que, para se realizar um amplo levantamento de besouros
escarabeídeos, fazem-se necessárias várias formas de
captura, tais como: armadilhas iscadas, de
interceptação de voo e coleta manual.
De acordo com Silveira Neto et al. (1995), os insetos
de solo podem ser bons indicadores ecológicos, para a
avaliação do impacto ambiental que venha a ocorrer
em determinada região, já que a interação da
comunidade biótica com o solo tem um papel vital na
produção e manutenção da sua qualidade (Aquino, 1999).
Segundo Rodrigues e Marchini (1998) os besouros
coprófagos são utilizados no controle biológico da
mosca-do-chifre, Haematobia irritans (L.) (Diptera:
Muscidae), uma das principais pragas de bovinos no
Brasil (Honer e Gomes, 1990). O escarabeídeo africano,
Digitonthophagus gazela (Fabricius), foi introduzido
no Brasil em 1989, para fins de controle biológico de
moscas e incorporação de matéria orgânica no solo
(Miranda et al., 1998; Koller et al., 2006).
No âmbito geral, verificou-se que o maior número
de coleópteros foi capturado pelas armadilhas que
continham o atrativo de coração bovino em
decomposição (2.418 indivíduos capturados), seguido
por fezes humanas (2.338) e banana fermentada
(1.845), sendo o mais recomendado para captura de
espécies de escarabeídeos de hábito copro-necrófago.
A maior incidência de besouros nos dois primeiros tipos
de atrativos se deve ao fato de a maioria dos
representantes de Scarabaeidae possuir o hábito copro-
necrófago (Silva e Di Mare, 2012).
Segundo Silva et al., 2011, Canthon aff. luctuosus
é capturada em fezes humanas, carnes e frutas
apodrecidas. Canthon quinquemaculatus possui
hábito necrófago e se adapta bem a ambientes
perturbados. Eurysternus cariabaeus é considerada
coprófaga, embora também seja atraída por frutas em
decomposição.
Canthon quinquemaculatus Castelnau, Canthon
septemaculatus Latreille, Deltochilum carinatum
Westwood, Deltochilum orbiculare Lansberge,
Dichotomius batesi Harold, Phanaeus bispinus
Bates e Phanaeus camberforti Arnaud, representam
primeiros registros de ocorrência no estado do Acre.
Conclusões
Devido à escassez de trabalhos com Coleoptera
realizados na Amazônia Ocidental, especialmente no
estado do Acre, este trabalho contribuiu para
aumentar o conhecimento acerca da fauna de
escarabeídeos ocorrentes no Estado. Pelo número
de espécies capturadas nesse levantamento e, pelo
hábito alimentar de algumas espécies identificadas,
verifica-se que o remanescente florestal possui baixo
impacto antrópico, com a maioria das espécies
encontradas não tendo hábitos alimentares generalistas.
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Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
João Pedro Basso¹, Fábio Gelape Faleiro², Jamile da Silva Oliveira³*, Tadeu Graciolli
Guimarães2, Marcelo Fideles Braga2, Kenia Gracielle da Fonseca3, Nilton Tadeu Vilela
Junqueira2, Francisco Pinheiro Lima Neto4
VARIABILIDADE GENÉTICA DE CULTIVARES E HÍBRIDOS ELITE DE
MANGUEIRA COM BASE EM MARCADORES MOLECULARES
¹União Pioneira de Integração Social, BR-20, km 12, 73300-001, Planaltina, DF; jotapbasso@gmail.com.²Embrapa
Cerrados, BR 020, km 18, Rodovia Brasília/Fortaleza, 73310-970, Planaltina, DF; fabio.faleiro@embrapa.br;
tadeu.graciolli@embrapa.br; marcelo.fideles@embrapa.br; nilton.junqueira@embrapa.br.³Universidade de Brasília, Campus
Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, 70910-900, Brasília, DF, jamile.oliveira54@gmail.com, kenia.gfonseca@gmail.com.
4Embrapa Semiárido, Rodovia BR-428, km 152, Zona Rural - C.P. 23,
56302-970, Petrolina, PE, pinheiro.neto@embrapa.br.
*Autor para correspondência: jamile.oliveira54@gmail.com
A cultura da manga (Mangifera indica L.) possui grande importância social e econômica no Brasil. Entretanto,
os cultivos comerciais são baseados apenas nas cultivares Tommy Atkins e Palmer, sendo necessário o aumento da
base genética por meio da disponibilidade de novas cultivares superiores. Neste trabalho, objetivou-se verificar a
variabilidade genética molecular de 15 cultivares e híbridos elite de manga avaliados no Ensaio Nacional de
Cultivares, utilizando marcadores moleculares RAPD e ISSR. O DNA genômico das 15 plantas foi extraído e amplificado
via Reação em Cadeia Polimerase, utilizando-se 10 primers para RAPD e 7 para ISSR. Foram obtidos 150 marcadores
RAPD e 135 marcadores ISSR, os quais foram codificados em dados binários. Foi calculada uma matriz de dissimilaridade
genética, a partir da qual foram realizadas as análises de agrupamento e dispersão gráfica. Pela análise de agrupamento
e dispersão gráfica foi possível observar a variabilidade genética entre os materiais. A cultivar “Rosa 2” e o “híbrido
263/99” foram os que apresentaram maior dissimilaridade genética, sendo alternativas para ampliar a base genética das
atuais cultivares de manga utilizadas pelos fruticultores. Os marcadores moleculares RAPD e ISSR foram úteis e
complementares para o estudo da variabilidade genética das cultivares e híbridos de manga.
Palavras-chave: Mangifera indica L., vulnerabilidade genética, melhoramento genético, cultivar.
Genetic variability of cultivars and elite hybrids of mango tree based on
molecular markers.The mango tree (Mangifera indica L.) has a great social and economic importance in
Brazil. However, commercial crops are based only on Tommy Atkins and Palmer cultivars, and it is necessary to
increase the genetic base through the availability of new superior cultivars. The objective of this work was to verify
the molecular genetic variability of 15 elite cultivars and hybrids evaluated in the National Cultivars Assay, using
RAPD and ISSR molecular markers. Genomic DNA from the 15 plants was extracted and amplified via Polymerase
Chain Reaction, using 10 RAPD primers and 7 ISSR primer. We obtained 150 RAPD markers and 135 ISSR markers,
which were encoded in binary data. A genetic dissimilarity matrix was calculated, from which the analyzes of
grouping and graphic dispersion were performed. By the analysis of grouping and dispersion graphic it was
possible to observe the genetic variability among the cultivars and hybrids. “Rosa 2” and “263/99 hybrids” were the
ones that presented the greatest genetic dissimilarity, being alternatives to expand the genetic base of the current
mango cultivars used by fruit growers. RAPD and ISSR molecular markers were useful and complementary to the
study of the genetic variability of mango cultivars and hybrids.
Key words: Mangifera indica L., genetic vulnerability, genetic improvement, cultivar.
Recebido para publicação em 09 de setembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 49
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p49-56
Agrotrópica 30(1) 2018
50
Introdução
A mangueira (Mangifera indica L.) é uma
espécie originária da parte oriental da Índia (Duval
et al., 2005), sendo um dos mais apreciados frutos de
origem tropical. O processo de disseminação da
cultura foi lento, uma vez que a espécie alcançou
outras terras somente depois de ter sido cultivada há
mais de 4 séculos em suas regiões de origem. A
disseminação da cultura pelo mundo foi iniciada com
a descoberta das rotas comerciais marítimas entre
Europa e Ásia no início do século 16. Os portugueses
foram os que executaram esse deslocamento,
primeiramente levando as costas da África e depois
para a América. A manga foi introduzida no Brasil
por volta de 1700 (Souza et al., 2002).
O Brasil está entre os dez principais países
produtores de manga com uma área superior a 70 mil
hectares e produção de aproximadamente 1.132.000
toneladas (Anuário Brasileiro da Fruticultura, 2016).
A mangueira possui grande importância social e
econômica no Brasil, entretanto os cultivos comerciais
são baseados apenas nas cultivares Tommy Atkins e
Palmer, quase totalmente visando o consumo in natura.
Com a pouca diversidade de mangas em pomares
comerciais no Brasil, é necessário o aumento da base
genética por meio da disponibilidade de novas cultivares
superiores. Para tanto, o melhoramento genético da
manga tem sido realizado por diversas instituições
nacionais e internacionais com diferentes estratégias
para atender a dinâmica do mercado (Pinto, 1996;
Rossetto et al., 1996; Brettell et al., 2004; Human et
al., 2009). A Embrapa e parceiros possuem um
programa de melhoramento genético da mangueira, o
qual tem desenvolvido diferentes cultivares e híbridos
elite que estão sendo avaliados com base em
características agronômicas em diferentes regiões do
Brasil, por meio do Ensaio Nacional de Cultivares. O
conhecimento da variabilidade genética desses
materiais genéticos é importante e pode ser um critério
a mais para o lançamento de novas cultivares.
Marcadores moleculares do DNA têm sido
utilizados como ferramentas auxiliares nas diferentes
etapas do melhoramento genético, desde a
caracterização do germoplasma até as etapas
finalísticas de desenvolvimento e seleção de plantas
melhoradas. A capacidade dos marcadores moleculares
de analisar genomas de interesse de forma ampla, sem
influência do ambiente, permite gerar informações
precisas sobre a variabilidade genética
complementando outras informações obtidas com base
em dados de pedigree e de características morfológicas
e agronômicas (Faleiro, 2011). Assim, objetivou-se
avaliar e quantificar a variabilidade genética de
cultivares e híbridos elite de mangueira avaliados no
Ensaio Nacional de Cultivares, com base em
marcadores moleculares RAPD e ISSR, visando
analisar a base genética de potenciais cultivares
geneticamente superiores.
Material e Métodos
A caracterização molecular das 15 cultivares e
híbridos elite de mangueira foi realizada utilizando
marcadores RAPD e ISSR no Laboratório de
Genética e Biologia Molecular da Embrapa Cerrados,
Planaltina, DF. As cultivares e híbridos elite avaliados
foram: BRS Roxa 141 (Amrapali x Tommy Atkins),
CPAC 329/94, BRS Lita (Amrapali x Tommy Atkins),
CPAC 165/93, CPAC 58/95, Rosa 36, BRS Beta
(Amrapali x Winter), Tommy Atkins, BRS Alfa 142
(Mallika x Van Dyke), Palmer, Rosa 46, BRS Ômega
(Amrapali x Van Dyke), CPAC 22/93, Rosa 2 e
CPAC 263/94.
O DNA genômico de cada material foi extraído a
partir do tecido foliar em estágio intermediário de
maturação, utilizando o método do CTAB, com
modificações (Faleiro et al., 2003). A quantificação
foi realizada utilizando o equipamento Nanodrop e as
amostras de DNA de cada acesso foram diluídas para
10çg/ìL.
O DNA de cada material genético foi amplificado
para obtenção de marcadores RAPD. As reações de
amplificação foram feitas em um volume total de 13
µL, contendo Tris-HCl 10 mM (pH 8,3), KCl 50 mM,
MgCl2 3mM, 100µM de cada um dos
desoxiribonucleotídios (dATP, dTTP, dGTP e dCTP),
0,4 µM de um primer (Operon Technologies Inc.,
Alameda, CA, EUA), uma unidade da enzima Taq
polimerase e, aproximadamente, 15 çg de DNA.
Para obtenção dos marcadores RAPD, foram
utilizados dez primers decâmeros OPD (07 e 10), OPE
(16 e 18), OPF (17), OPG (01, 05, 08 e 17) e OPH (4)
Basso et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
51
(Tabela 1). As amplificações foram efetuadas em
termociclador programado para 40 ciclos, cada um
constituído pela seguinte sequência: 15 segundos a
94 ºC, 30 segundos a 35 ºC e 90 segundos a 72 ºC.
Após os 40 ciclos, foi feita uma etapa de extensão
final de seis minutos a 72 ºC, e finalmente, a
temperatura foi reduzida para 4 ºC.
Para marcadores ISSR, o DNA foi amplificado
utilizando-se sete primers (ISSR-5, ISSR-6, ISSR-7,
ISSR-8, ISSR-13, ISSR-14 e ISSR-15) (Tabela 1) e a
seguinte reação: 20çg de DNA genômico, 1 unidade
de Taq DNA polimerase, 0,3 µM de primer e água até
completar um volume de 13 ìl. As amplificações foram
efetuadas em termociclador programado por 5 minutos
a 94 ºC, 35 ciclos cada um constituído pela seguinte
sequencia: 40 segundos a 94 ºC, 40 segundos a 48 ºC
e 1 minuto a 72 °C. Após os 35 ciclos, foi feita uma
etapa de extensão final de dois minutos a 72 ºC, e
finalmente, a temperatura foi reduzida para 4 ºC.
Após as amplificações via RAPD e ISSR,
adicionou-se a cada amostra, 3 µl de uma mistura de
azul de bromofenol (0,25%) e glicerol (60%) em água.
Essas amostras foram aplicadas em gel de agarose
(1,2%), corado com brometo de etídio, submerso em
tampão TBE (Tris-Borato 90 mM, EDTA 1mM). A
separação eletroforética foi de, aproximadamente,
quatro horas, a 90 volts. Ao término da corrida, os géis
foram fotografados sob luz ultravioleta.
Os marcadores RAPD e ISSR gerados foram
convertidos em uma matriz de dados binários, a partir
da qual foram estimadas as distâncias genéticas entre
as cultivares, com base no complemento do coeficiente
de similaridade de Nei e Li, com o auxílio do Programa
Genes (Cruz, 2013). A partir das matrizes de distâncias
genéticas foram realizadas análises de agrupamento e
dispersão gráfica baseada em escalas
multidimensionais usando o método das coordenadas
principais, com auxílio do Programa SAS (Sas Institute
Inc., 2004) e Statistica (Statsoft Inc., 2005).
Resultados e Discussão
Com base nas análises realizadas por meio das
técnicas moleculares, obteve-se um total de 149
marcadores RAPD para os 15 cultivares e híbridos de
M. indica, sendo que desse total, 122 foram
polimórficos e 27 monomórficos. Os primers que
revelaram um maior polimorfismo foram: OPH12 com
19 marcadores polimórficos e 1 marcador
monomórfico; OPE20 com 16 marcadores polimórficos
e 1 marcador monomórfico; e OPG5 com 13
marcadores polimórficos e nenhum marcador
monomórfico (Tabela 1).
Com relação aos marcadores ISSR, foram obtidos
um total de 135 marcadores, sendo que 111 foram
polimórficos e 24 monomórficos (Tabela 1). Os
primers que revelaram um maior polimorfismo foram:
ISSR6 com 17 marcadores polimórficos e um marcador
monomórfico; e ISSR13 com 16 marcadores
polimórficos e 2 marcadores monomórficos.
Por meio da estimativa das distâncias genéticas
entre as cultivares e híbridos de M. indica obtidas
com base em marcadores RAPD, observou-se valores
que variaram de 0,18 a 0,54 (Tabela 2). A amplitude
Tabela 1 - Primers RAPD e ISSR utilizados e bandas polimórficas (BP) e monomórficos (BM), Embrapa Cerrados,
2017
Primers Primers
OPF01- ACGGATCCTG 11 5 05- AGCAGCAGCAGCAGC 15 5
OPH12- ACGCGCATGT 19 1 06- AGGAGGAGGAGGAGG 17 1
OPE16- GGTGACTGTG 10 2 07- CAGCAGCAGCAGCAG 25 6
OPD04- TCTGGTGAGG 14 3 08- CGAGAGAGAGAGAGA 15 4
OPD07- TTGGCACGGG 17 2 13- GAGAGAGAGAGAGAG 16 2
OPE20- AACGGTGACC 16 1 14- AGAGAGAGAGAGAGA 13 3
OPE18- GGACTGCAGA 5 5 15- GTGTGTGTGTGTGTGT 10 3
OPG08- TCACGTCCAC 8 4
OPH08- GAAACACCCC 9 4
OPG05- CTGAGACGGA 13 0
RAPD
BP BM
ISSR
BP BM
Total 122 27 Total 111 24
Variabilidade genética de mangueira
Agrotrópica 30(1) 2018
52
das distâncias genéticas estimadas indicam a
existência de grande variabilidade entre as cultivares
e híbridos elite de M.indica avaliados. A menor
distância genética foi obtida entre a cultivar BRS
Roxa 141 e o acesso CPAC 22/93 e as maiores
distâncias genéticas (0,54) entre as cultivares BRS
Roxa e Palmer; BRS Lita e Palmer; híbrido 58/95 e
Palmer e híbridos CPAC 58/95 e CPAC 263/94.
Os valores das distâncias genéticas obtidas entre
os 15 acessos de M. indica, com base em
marcadores ISSR variaram de 0,10 a 0,60 (Tabela 3).
As distâncias máximas estimadas foram entre os
híbridos CPAC 58/95 e CPAC 263/94 (0,60) e entre
os híbridos CPAC 165/93 e CPAC 263/94 (0,57). A
amplitude de valores de distância genética evidencia
a análise de acessos com diferentes graus de
dissimilaridade, como também foi verificado em
outras coleções avaliadas com base em marcadores
ISSR (Rocha et al., 2012).
Os marcadores moleculares RAPD e ISSR
evidenciaram as distâncias genéticas entre as
cultivares e híbridos elite, os quais mostram a
variabilidade que pode ser usada para trabalhos de
melhoramento, com o objetivo de diminuir a
vulnerabilidade das cultivares à fatores bióticos e
abióticos. A amplitude de valores também foi verificada
em outras coleções avaliadas com base em
marcadores RAPD por Ordon et al. (1997) e
Todorovska et al. (2003). Ravishankar et al. (2015) e
Ravishankar et al. (2011) desenharam primes SSRs
e estimaram a diversidade genética de mangueira.
Santos et al. (2008) estimaram a similaridade
genética de acessos de mangueira de diferentes
origens geográficas utilizando marcadores do tipo
AFLP.
A partir das matrizes de dissimilaridade genética,
foram realizadas as análises de agrupamento e
dispersão gráfica. Pelas análises de agrupamento e
dispersão gráfica obtidas com base nos marcadores
RAPD (Figura 1), foi possível observar diferentes
grupos de similaridade e a variabilidade genética das
cultivares e híbridos elite de M. indica em relação à
cultivar Tommy Atkins, os quais são alternativas para
ampliar a base genética das atuais cultivares de
manga utilizadas pelos fruticultores. Adotando-se
como ponto de corte a distância genética média de
0,35; observa-se a formação de quatro grupos de
similaridade. O grupo um foi formado pela maioria
das cultivares e híbridos de M. indica e os demais
genótipos ficaram sozinhos, com exceção das
cultivares Palmer e Rosa 2, que se mantiveram
próximas, formando um segundo grupo de
similaridade. Os acessos CPAC 329/94, CPAC 58/
95 e CPAC 263/94 ficaram isolados dos demais
acessos, apresentando maiores dissimilaridades
genéticas em relação aos demais genótipos. Pode-se
Tabela 2 - Matriz de dissimilaridade genética entre 15 cultivares e híbridos elite de mangueira, calculadas com base em 149
marcadores moleculares RAPD. Embrapa Cerrados, 2017
Acessos 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
1 0,39 0,28 0,29 0,36 0,24 0,21 0,16 0,29 0,54 0,28 0,21 0,18 0,44 0,48
2 0,33 0,37 0,37 0,43 0,36 0,38 0,42 0,52 0,37 0,39 0,35 0,46 0,49
3 0,30 0,36 0,27 0,27 0,25 0,36 0,54 0,28 0,23 0,28 0,47 0,53
4 0,34 0,32 0,27 0,25 0,28 0,52 0,32 0,24 0,27 0,50 0,49
5 0,43 0,34 0,35 0,35 0,54 0,38 0,37 0,41 0,51 0,54
6 0,21 0,27 0,34 0,51 0,18 0,22 0,29 0,33 0,48
7 0,20 0,34 0,48 0,25 0,22 0,25 0,42 0,47
8 0,35 0,51 0,27 0,24 0,30 0,49 0,48
9 0,50 0,25 0,26 0,32 0,41 0,47
10 0,24 0,26 0,24 0,21 0,28
11 0,21 0,31 0,38 0,51
12 0,23 0,42 0,53
13 0,40 0,50
14 0,34
1. BRS Roxa 141, 2. CPAC 329/94, 3. BRS Lita, 4. CPAC 165/93, 5. CPAC 58/95, 6. Rosa 36, 7. BRS Beta, 8. Tommy Atkins, 9.
BRS Alfa, 10. Palmer, 11. Rosa 46, 12. BRS Ômega, 13. CPAC 22/93, 14. Rosa 2, 15. CPAC 263/94.
Basso et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
53
Tabela 3 - Matriz de dissimilaridade genética entre 15 cultivares e híbridos elite de mangueira, calculadas com base em 135
marcadores moleculares ISSR. Embrapa Cerrados, 2017
Acessos 234567891011 12 13 14 15
1 0,26 0,28 0,37 0,47 0,33 0,25 0,22 0,27 0,20 0,20 0,20 0,22 0,53 0,48
2 0,20 0,32 0,40 0,38 0,31 0,31 0,27 0,27 0,31 0,28 0,28 0,55 0,54
3 0,30 0,33 0,32 0,29 0,26 0,22 0,29 0,29 0,31 0,32 0,55 0,50
4 0,37 0,37 0,35 0,36 0,33 0,37 0,39 0,38 0,43 0,49 0,57
5 0,40 0,36 0,39 0,36 0,36 0,39 0,37 0,42 0,49 0,60
6 0,31 0,26 0,32 0,25 0,23 0,28 0,33 0,43 0,47
7 0,16 0,23 0,17 0,24 0,25 0,28 0,55 0,47
8 0,23 0,16 0,15 0,18 0,22 0,54 0,47
9 0,25 0,23 0,26 0,29 0,51 0,49
10 0,10 0,18 0,23 0,55 0,47
11 0,23 0,52 0,47
12 0,12 0,53 0,45
13 0,54 0,48
14 0,48
1. BRS Roxa 141, 2. CPAC 329/94, 3. BRS Lita, 4. CPAC 165/93, 5. CPAC 58/95, 6. Rosa 36, 7. BRS Beta, 8. Tommy Atkins, 9.
BRS Alfa, 10. Palmer, 11. Rosa 46, 12. BRS Ômega, 13. CPAC 22/93, 14. Rosa 2, 15. CPAC 263/94.
observar no maior grupo de similaridade formado,
que houve uma variabilidade genética entre os
genótipos dentro do grupo.
A variabilidade genética entre as cultivares e híbridos
elite de manga também foi verificada com base na
análise de agrupamento e o gráfico de dispersão obtidos
a partir das distâncias genéticas estimadas, com base
nos marcadores ISSR (Figura 2). Na análise de
agrupamento, adotando-se como ponto de corte a
distância média de 0,3; houve a formação de cinco
grupos de similaridade. No primeiro grupo ficaram
agrupados a maioria dos genótipos. Assim como
verificado com base nos marcadores RAPD, pode-
se verificar a variabilidade genética entre os genótipos
dentro desse maior grupo de similaridade. Os acessos
CPAC 165/93, CPAC 58/95, Rosa 2 e CPAC 263/94
Figura 1 - Análise de agrupamento e dispersão gráfica de 15 acessos de Mangifera indica L., com base na matriz de distâncias
genéticas calculadas utilizando-se 150 marcadores RAPD. O método do UPGMA foi usado como critério de agrupamento.
Embrapa Cerrados, 2017. Legenda: 1. BRS Roxa 141, 2. CPAC 329/94, 3. BRS Lita, 4. CPAC 165/93, 5. CPAC 58/95, 6. Rosa 36,
7. BRS Beta, 8. Tommy Atkins, 9. BRS Alfa, 10. Palmer, 11. Rosa 46, 12. BRS Ômega, 13. CPAC 22/93, 14. Rosa 2, 15. CPAC
263/94.
Variabilidade genética de mangueira
Agrotrópica 30(1) 2018
54
se apresentaram em grupos separados na análise de
agrupamento, mantendo-se mais distantes no gráfico
de dispersão, evidenciando a variabilidade existente
entre eles e os demais genótipos analisados no
presente trabalho.
Segundo Pinto et al. (2009), os híbridos CPA 263/
94 e CPAC 58/95 têm peso de fruto entre 300g a 450
g, atendendo a faixa de peso do mercado Europeu e
da mesma forma do Americano, possuem excelente
qualidade de frutos e alto rendimento de polpa, podendo
ser consumidas in natura ou processadas, pois têm um
elevado teor de sólidos solúveis totais, com alto
potencial de lançamento para competir com ‘Tommy
Atkins’ no mercado.
A elevada porcentagem de marcadores
polimórficos RAPD e ISSR demonstra a alta
variabilidade genética entre as cultivares e híbridos
elite de manga obtidos pelo programa de
melhoramento genético realizado na Embrapa. Estes
genótipos também estão sendo avaliados no Ensaio
Nacional de Cultivares da Embrapa para a validação
do desempenho agronômico em condições
comerciais.
As estimativas de distâncias genéticas entre os
genótipos elite de manga obtidas neste trabalho foram
semelhantes às estimativas relatadas por Faleiro et al.
(2010), que utilizaram marcadores RAPD para
Figura 2 - Análise de agrupamento e dispersão gráfica de 15 acessos de Mangifera indica L., com base na matriz de distâncias genéticas
calculadas utilizando-se 135 marcadores ISSR. O método do UPGMA foi usado como critério de agrupamento. Embrapa Cerrados, 2017.
Legenda: 1. BRS Roxa 141, 2. CPAC 329/94, 3. BRS Lita, 4. CPAC 165/93, 5. CPAC 58/95, 6. Rosa 36, 7. BRS Beta, 8. Tommy Atkins,
9. BRS Alfa, 10. Palmer, 11. Rosa 46, 12. BRS Ômega, 13. CPAC 22/93, 14. Rosa 2, 15. CPAC 263/94.
caracterizar 28 acessos de mangueira do Banco Ativo
de Germoplasma da Embrapa Cerrados, os quais são
utilizados como genitores no programa de
melhoramento da mangueira na Embrapa.
Os resultados observados no presente estudo
evidenciaram a variabilidade existente entre as
cultivares e híbridos elite, desenvolvidos pelo programa
de melhoramento genético da mangueira na Embrapa.
Estes genótipos podem ser utilizados efetivamente
nos programas de melhoramento da cultura como
fonte de variabilidade e também apresentam grande
potencial para a ampliação da base genética das atuais
cultivares plantadas comercialmente, as quais podem
ser uma alternativa para a diversificação dos pomares
de manga no Brasil.
Conclusão
Os marcadores moleculares RAPD e ISSR são
úteis e complementares para o estudo de variabilidade
genética das cultivares e híbridos elite de mangueira.
Com o uso dos marcadores moleculares é possível
observar a dissimilaridade entre as cultivares e híbridos
de mangueira analisados neste trabalho, os quais
apresentam potencial para o mercado nacional de
manga, para diminuir a vulnerabilidade existente nos
pomares comerciais.
Basso et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
55
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Literatura Citada
A caracterização genético-molecular é importante
para o programa de melhoramento genético da
mangueira, uma vez que vai complementar os estudos
de caracterização agronômica que vão subsidiar o
lançamento de novas cultivares e também o uso de
novos genitores na base de cruzamentos do programa.
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Marcus Lima Bezerra2, Francisco de Souza2 e Raimundo Reginaldo da Costa3
PRODUTIVIDADE DA MELANCIEIRA SOB IRRIGAÇÃO DEFICITÁRIA, EM
DIFERENTES COBERTURAS DE SOLO, UTILIZANDO O MODELO ISAREG
1Instituto Federal do Piauí - IFPI, Campus Campo Maior, Localidade Fazendinha S/N, 64280-000, Campo Maior, Piauí,
Brasil, kleiton.rocha@ifpi.edu.br. 2 Universidade Federal do Ceará -UFC. Departamento de Engenharia Agrícola, bloco 804, S/
N, Campus do Pici, 60455-760, Fortaleza, Ceará, Brasil; thales@ufc.br; mbezerra@ufc.br; titicoviola@gmail.com. 3 Instituto
Federal do Ceará-IFCE, Campus Limoeiro do Norte, Rua Estevão Remígio de Freitas, 1145, Monsenhor Otávio, 62930-000,
Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil, solernecosta@gmail.com; regis_dacosta@yahoo.com.br.
Compararam-se as proposições de irrigação geradas a partir do ISAREG com o manejo de irrigação adotado pelos
irrigantes, avaliando e analisando a umidade do solo e a produtividade da melancia, sob as diferentes irrigações e
coberturas no solo; e, os efeitos da interação das variáveis. O experimento foi conduzido sob delineamento em
blocos completos ao acaso, com parcelas subdivididas e com 4 repetições. Os tratamentos consistiram da combinação
de 04 proposições de irrigação (três do ISAREG: M1 = manutenção de 100% da CAD; M2 de 80% e M3 de 60%; e M4,
lâmina modal) e 04 sub-parcelas, sendo 03 condições de cobertura no solo (coberturas com casca de arroz, com
“mulching” branco e com “mulching” preto, denominadas C1, C2 e C3), e a sub-parcela 4, o solo sem cobertura (C0).
Foram analisadas a umidade do solo e a produtividade da cultura. Os resultados foram submetidos à análise de
variância, e quando significativos, à regressão, a teste de médias e a gráficos de tendência. Maiores umidades no
solo foram verificadas nas condições experimentais com maiores lâminas, com coberturas de casca de arroz e “mulching”
branco; as menores foram verificadas nos solos sem cobertura; e M1C1 e M1C2 demonstraram as maiores
produtividades.
Palavras-chave: irrigação com déficit, software, Citrullus lanatus, convivência com o semiárido.
Watermelon productivity under deficitary irrigation, in different covering, using
the ISAREG model. Irrigation propositions generated from ISAREG were compared with the irrigation
management adopted by irrigators, evaluating and analyzing soil moisture and watermelon productivity, under
different irrigations and coverings in the soil; and, the effects of the interaction of the variables. The experiment was
conducted under a randomized complete block design, with subdivided plots and 4 replicates. The treatments
consisted of the combination of 04 irrigation propositions (three from ISAREG: M1 = maintenance of 100% of CAD,
M2 of 80% and M3 of 60%, and M4, modal blade) and 04 subplots, with 03 conditions of soil cover (cover with rice
husk, white mulching and black mulching, called C1, C2 and C3), and subplot 4, soil with no cover (C0). Soil moisture
and crop productivity were analyzed. The results were submitted to analysis of variance, and when significant, to
the regression, the means test and the trend graphs. Higher soil moisture levels were observed in the experimental
conditions with larger blades, with rice husks and white mulching; the lowest were verified in soils without cover;
and M1C1 and M1C2 showed the highest yields.
Key words: Irrigation with déficit, software, Citrullus lanatus, living with the semi-arid.
Agrotrópica 30(1): 57 - 64. 2018.
Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Recebido para publicação em 21 de dezembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 57
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p57-64
Agrotrópica 30(1) 2018
58
Introdução
Uma crescente escassez de água devido ao
aumento populacional e ao desenvolvimento
econômico está ampliando os desafios para a
agricultura, perdulária no seu uso, necessitando-se que
se encontrem novas soluções para a gestão dos
recursos hídricos, principalmente onde a água é
limitada. A população do semiárido tem convivido com
períodos de seca prolongada que afetam as atividades
agropecuárias e dificultam a melhoria das condições
de vida (Pereira e Cuellar, 2015).
Além disso, no semiárido do Nordeste do Brasil
predominantemente ainda não se realiza o correto
manejo da irrigação. Como resultado, além das baixas
produtividades, normalmente se aplica mais água do
que as culturas necessitam.
Uma das alternativas para se evitar o desperdício
do recurso hídrico é a utilização de softwares usados
no manejo da irrigação que calculam os requerimentos
de água a partir de dados do clima, do solo e da cultura
(Pereira, 2004). Como exemplo, tem-se o modelo
ISAREG, desenvolvido no Instituto Superior de
Agronomia, em Portugal.
Outra maneira de se reduzir o uso do recurso hídrico
na agricultura é através da utilização de cobertura no
solo, que é uma tecnologia simples e cujos benefícios
sobre a produtividade das culturas são irrefutáveis.
Inclusive, vários pesquisadores vêm investigando os
efeitos das coberturas sob a produção de várias
culturas (Dantas et al., 2011; Santos et al., 2012). Além
disso, a interação entre estas tecnologias pode
possibilitar aumento da produtividade agrícola com
redução de uso do recurso hídrico.
A pesquisa objetivou comparar as proposições de
irrigação geradas a partir do ISAREG com o manejo de
irrigação modal, atualmente, adotado pelos irrigantes do
DIJA, avaliando e analisando a umidade do solo e a
produtividade da cultura da melancia citrullus lanatus
(Thunb.) Matsum & Nakai), sob as diferentes proposições
de irrigação e condições de cobertura do solo; e, os
efeitos dessa interação na economia do recurso hídrico.
Material e Métodos
A pesquisa foi realizada na UEPE (Unidade de
Ensino, Pesquisa e Extensão) do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia - IFCE, em Limoeiro
do Norte-Ceará (05o06’38” S; 37o52’21” W; 145,95
m), no Distrito de irrigação Jaguaribe - Apodi, DIJA.
O clima local é do tipo BSw’h’, semiárido, segundo a
classificação climática de Köppen (1981-2005,
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas -
DNOCS).
Durante o processo de simulação do “software
ISAREG”, o mesmo foi “alimentado” com dados
oriundos de pesquisas locais, das seguintes variáveis:
dados físicos do solo; fases fenológicas da cultura, bem
definidas; fator de disponibilidade de água (f) e
profundidade efetiva do sistema radicular (Z), ambas
a cada fase fenológica. Também, o modelo necessitou
de dados sobre o manejo da irrigação, em que 3 (três)
foram calculados pelo ISAREG (Irrigação com déficit
– 60% e 80% da CAD; e, 100% da CAD) e o outro
constou da lâmina média de 6,3 mm.dia-1, durante o
ciclo da melancia, praticada pelo irrigante do DIJA.
Realizou-se o experimento, sob delineamento em
blocos completos ao acaso, com parcelas subdivididas
e com 4 repetições (4 x 4 x 4, totalizando 64 sub-
parcelas). Os tratamentos consistiram da combinação
de 4 proposições de irrigação (três proposições do
ISAREG e o manejo modal dos produtores
denominadas M1, M2, M3 e M4), que constituíram as
parcelas, e 4 sub-parcelas, sendo 3 condições de
cobertura do solo (com casca de arroz, com “mulching”
branco e com “mulching” preto, denominadas C1, C2
e C3), e a sub-parcela 4, o solo sem cobertura
(testemunha), denominado C0.
As proposições do ISAREG foram: M1, o manejo
ótimo de irrigação (lâmina proposta para a manutenção
diária do solo na sua capacidade máxima de
armazenamento, 100% da CAD (365,2 mm), sem
percolação, para um solo sem cobertura); M2,
proposição de lâmina diária para manutenção do
armazenamento de água do solo, sem cobertura, em
torno de 80% da CAD; M3, proposição de lâmina diária
para manutenção do armazenamento do solo sem
cobertura, em torno de 60% da CAD; e o tratamento
M4 representou a lâmina modal diária utilizada pelos
irrigantes locais de 6,3 mm dia-1, durante o ciclo da
melancia, praticada pelo irrigante do DIJA.
No tratamento (C1), utilizou-se a casca de arroz,
pela mesma ser bastante abundante na região. A
cobertura apresentou cerca de 2 cm de altura, com área
Saraiva et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
59
de 0,5 m² em torno da planta, perfazendo
aproximadamente 10 litros por planta.
A cultura foi plantada no espaçamento 2,0 m x 0,5
m, sendo que cada sub-parcela consistiu de 6 plantas,
perfazendo 6,0 m2 (2,0 m x 3,0 m). A área onde foram
feitas as determinações (área útil por sub-parcela)
compreendeu a área ocupada pelas 4 plantas do centro
da fileira. Houve uma linha de bordadura entre as linhas
com tratamento, perfazendo nove linhas (9 x 2,0 m = 18,0 m
de largura). Cada bloco teve quatro sub-parcelas por
tratamento, perfazendo 216,0 m2 (18,0 m x 12,0 m). A área
total do experimento foi de 864,0 m2 (18,0 m x 48,0 m).
A semeadura foi realizada em bandejas de isopor,
com 128 células, com substrato comercial, isso de
acordo com o número necessário de plantas que
precisaram ser transplantadas. Já o transplante ocorreu
uma semana após a semeadura.
De acordo com os resultados das análises de solo
foram recomendadas as quantidades dos adubos
químicos, visando suprir as necessidades da cultura,
em macro e micronutrientes. No entanto, para a
determinação da frequência de aplicação da
fertirrigação, tomou-se como base a pesquisa realizada
por Fernandes et al. (2014). Os adubos foram aplicados
via fertirrigação, iniciando-se no dia do transplantio e
finalizando-se aos 50 DAT (dias após o transplantio).
Os produtos comerciais utilizados foram uréia (N),
cloreto de potássio branco (K2O), ácido fosfórico
(P2O5), sulfato de enxofre (S) e ácido bórico (B), nas
seguintes quantidades, durante todo o ciclo: 22,98 Kg,
43,26 Kg, 38,00 L, 1,7 Kg, 0,85 Kg, respectivamente.
A colheita foi realizada quando os frutos atingiram
o ponto de maturação fisiológica, com °Brix mínimo
em torno de 8°, determinado em campo com
refratômetro portátil manual. As colheitas periódicas
foram feitas em intervalo de cinco dias, tendo inicio
aos 67 DAT. Foram realizadas 2 colheitas, tendo sido
considerados frutos comerciais aqueles com peso
acima de 0,80 kg, formato normal e não estragados.
A cultura foi irrigada por um sistema localizado, tipo
gotejamento, com uma linha de gotejadores por fileira
de plantas. Os gotejadores foram do tipo
autocompensante, com vazão média de 2,3 L h -1, para
uma pressão de serviço de 300 kPa. As irrigações foram
realizadas diariamente, durante todo o ciclo da melancia.
As quantidades diárias de água aplicadas seguiram
as proposições de irrigação (Li) elaboradas através do
ISAREG e o manejo modal adotado pelos irrigantes
do DIJA, conforme os tratamentos adotados. Os dados
de evapotranspiração da cultura (ETc) fornecido ao
modelo foram obtidos através de experimentos locais,
pela metodologia do balanço hídrico no solo; e a ETo
foi estimada por Penman – Monteith/FAO, descrita
por Allen et al. (1998), com dados de varáveis
climatológicas locais. O coeficiente cultural (Kc) foi
obtido pela razão entre as duas variáveis supracitadas.
O tempo de irrigação utilizado diariamente foi
calculado a partir da lâmina de irrigação proposta para
cada tratamento, em conformidade com a equação 1:
Ti =
g
CgLI
qEi
FEEL
*
***
(1)
em que,
Ti é o tempo de irrigação, em h; LI é a lâmina de
irrigação proposta no tratamento pelo ISAREG; EL é o
espaçamento entre linhas de irrigação, 2,0 m; Egé o
espaçamento entre gotejadores, 0,5 m; FC é o fator de
cobertura do solo, adimensional; Ei, é a eficiência de
irrigação, adimensional (0,95); qg, é a vazão do gotejador
(2,3 L h-1).
Para a utilização do fator de cobertura (Fc) do ciclo
da melancia, que representa a relação entre a área
molhada e a área ocupada pela cultura, seguiu-se a
recomendação de Bernardo et al. (2008), quando o
mesmo afirmou que o Fc deve ser de no mínimo 33%
(0,33) quando se trata de regiões áridas e semiáridas.
Também, foram utilizados os resultados de Miranda et
al. (2004).
Ademais, foram instalados tensiômetros de 20 cm
de profundidade, com o objetivo de acompanhar a
umidade no solo na profundidade média da zona efetiva
do sistema radicular da melancia.
As seguintes variáveis foram analisadas: condições
da umidade do solo, em que a partir das leituras dos
tensiômetros, instalados a uma profundidade de 20 cm,
em cada uma das combinações (lâmina versus
cobertura), analisou-se a umidade do solo, visando
avaliar a influência da quantidade de água aplicada e
do tipo de cobertura ao solo, nessa variável; e a
produtividade média, que foi obtida através da função
entre o peso médio dos frutos, o número de frutos por
planta e a área do experimento (864 m²), com posterior
extrapolação para a área de 10.000 m² (1 ha).
Produtividade da melancieira sob irrigação utilizando o ISAREG
Agrotrópica 30(1) 2018
60
Os dados resultantes das características
analisadas e suas interações foram submetidos à
análise de variância; quando significativos pelo teste
F, os dados foram submetidos ao teste de médias de
Tukey, a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade. Ademais
foram elaborados gráficos de tendência (interação
entre os fatores).
Quanto às condições de umidade do solo, a partir
da Figura 1 (A, B, C e D) é possível se analisar a
variação na umidade do solo (m3 m-3) a uma
profundidade média de 20 cm (zona média da
profundidade efetiva do sistema radicular), ao longo do
ciclo (10 semanas/observações) da cultura da melancia
plantada no dia 01/08/2012, e irrigada com as seguintes
lâminas: 208,3 mm (M3), 288,8 mm (M2), 365,2 mm
(M1) e 410,0 mm (M4).
Na Figura 1A está a variação média da umidade do
solo, nas unidades experimentais sem cobertura no solo
(C0), e a cada manejo de irrigação (M1 – 100% da
CAD, M2 – 80% da CAD, M3 – 60% da CAD e M4
– manejo do irrigante). Já nas Figuras 1B, C e D
verificam-se a umidade do solo em função das lâminas
com cobertura de casca de arroz, “mulching” branco
e “mulching” preto, respectivamente.
Conforme fora esperado, verificou-se que à medida
que se aplicou mais água, maiores foram as umidades
observadas. Na lâmina M4 a umidade média foi de 0,42
m3 m-3, ao longo das observações. Já na lâmina M3, a
umidade foi de 0,32 m3 m-3. Na condição da menor lâmina
aplicada (M3) foram registradas as menores umidades, o
que, fatalmente, influenciou no desenvolvimento da cultura,
pois segundo Bergamaschi (1992), na medida em que
diminui a umidade do solo, torna-se mais difícil às plantas
absorverem água, porque aumenta a força de retenção e
diminui a disponibilidade de água no solo às plantas.
Na Figura 1B, o solo da condição M4 apresentou
umidade em torno de 0,43 m3 m-3 e o M3 de 0,33 m3 m-
3. Já no M1, a umidade ficou em torno de 0,38 m3 m-3.
Essa tendência da umidade foi a mesma da condição
de solo sem cobertura, mas com maiores valores. Fato,
possivelmente, explicável devido à cobertura de casca
de arroz, que diminui a evaporação da água aumentando
a sua retenção no interior do solo.
Resultado e Discussão
Figura 1 - Influência das lâminas de irrigação e das condições de cobertura no solo (solo desnudo (A); casca de arroz (B);
“mulching” branco (C); e “mulching” preto (D)) na variação de umidade do solo, cultivado com a cultura da melancia.
Saraiva et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
61
Ao se analisar a Figura 1C, na condição em que o
solo foi coberto por “mulching” branco, verifica-se
umidades também maiores que as observadas na
condição do solo sem cobertura. Inclusive, Chaves et
al. (2004), investigando o efeito das coberturas e do
manejo da irrigação no rendimento da alface,
concluíram que a conservação da umidade no solo é
uma das principais vantagens do uso das coberturas
no solo. Também, na Figura 1D foram observadas as
mesmas tendências das anteriores. Observação
também verificada por Medeiros et al. (2007) que
mencionaram eficácia da utilização do “mulching” na
eliminação da evaporação direta da superfície do solo,
mantendo por mais tempo a umidade no solo.
Assim, em todas as condições de cobertura foram
verificadas maiores umidades, quando comparadas às
condições de solo desnudo. Esse comportamento
possivelmente se deve à redução de perdas de água
no solo (Li et al., 2008), à diminuição do escoamento
superficial (Babalola et al., 2007), ao aumento na capacidade
de infiltração (Silva et al., 2006), além de melhorar a
eficiência no uso da água (Chakraborty et al., 2008).
Na Figura 2A está a variação da umidade, nas
unidades experimentais, com manejo de irrigação M1,
a cada cobertura sobre o solo. Nas Figuras 2B, C e D,
verifica-se a análise das demais lâminas com as
diferentes coberturas.
Ao se investigar a Figura 2 (A, B, C e D) foi possível
se concluir que variando-se as coberturas, em uma
mesma condição de lâmina, a tendência da umidade
no solo é variável, quando da análise isolada de cada
lâmina. Todavia, embora haja variações, há relação
direta entre quantidade de lâmina aplicada e umidade
no solo, com maiores umidades verificadas nas
condições de solo coberto por casca de arroz e
“mulching” branco.
Verifica-se que houve influência direta das
coberturas nas umidades observadas, sendo que, na
condição sem cobertura observou-se a menor umidade.
Esse comportamento já era esperado, devido à exposição
do solo à ação direta da radiação, diminuindo a água
infiltrada no solo, pois Silva et al. (2006) concluíram que
com o uso de coberturas no solo, ocorre uma maior
quantidade de água infiltrada e a diminuição de
escoamento superficial.
Situações semelhantes foram observadas nas
Figuras 2B, C e D, onde em solos cobertos por casca
de arroz ou cobertura plástica foram verificadas
Figura 2 - Influência das condições de cobertura no solo e das lâminas de irrigação (M1 – 365,2 mm (A); M2 – 288,8 mm
(B); M3 – 208,3 mm (C); e M4 – 410,0 mm (D)) na variação de umidade do solo, cultivado com a cultura da melancia.
Produtividade da melancieira sob irrigação utilizando o ISAREG
Agrotrópica 30(1) 2018
62
maiores umidades no solo. Fato corroborado por
Aragão et al. (2013), que em experimento com a cultura
da melancia irrigada, com o uso de coberturas no solo,
presumiram que o manejo da irrigação com certo nível
de déficit hídrico, mas aliado ao uso de cobertura no
solo, possam ter melhorado as condições de
disponibilidade hídrica, favorecendo o desenvolvimento
das plantas.
Já o solo sem cobertura, exposto diretamente às
condições climáticas, independente da lâmina aplicada,
demonstrou sempre as menores umidades, o que
confirma a importância no uso das coberturas. Inclusive,
Lyra et al. (2010), ao pesquisarem o conteúdo da água
no solo (com e sem cobertura), observaram que em solo
sem cobertura, as umidades foram inferiores às demais.
A partir da análise de variância (Tabela 1) foi
verificado efeito significativo (P<0,01) para a interação
entre lâminas de irrigação versus coberturas no solo,
para a variável produtividade média.
Quanto à investigação dos valores médios de
produtividade total, observando-se a análise de
regressão na Figura 3 verifica-se que as lâminas de
irrigação e as coberturas no solo, promoveram efeito
polinomial, sob a produtividade média da melancia.
Na análise das interações entre as lâminas de
irrigação e as coberturas no solo, verifica-se que, até
certa condição limiar entre M1 e M4, há um padrão de
aumento da produtividade média da melancia, em
relação à quantidade de água aplicada, independente
do tipo de cobertura no solo. Fato também verificado
por Batista et al. (2008), que analisando o déficit hídrico
na melancieira, constataram maior produtividade no
tratamento sem déficit. Oliveira et al. (2012), ao
encontrarem resultado semelhante, afirmam que tal
comportamento está associado à manutenção de teores
adequados de água no solo para a cultura, possibilitando
uma maior absorção de água e nutrientes, o que é
responsável por uma maior proporção de
fotoassimilados translocados das folhas para os órgãos
reprodutivos, o que se traduz em aumento de produção.
Analisando os valores obtidos, independentemente,
das coberturas, quanto maior a lâmina aplicada, até certo
limite entre M1 e M4, maiores são as produtividades.
Inclusive, Santos et al. (2013), investigando a influência
de lâminas de irrigação na produção de melancia,
constataram que há uma relação direta e positiva entre
a lâmina aplicada e a produtividade de melancia.
Na condição de lâmina M1 (365,2 mm) foram
verificadas maiores produtividades (77,0 Mg ha-1) em
combinação com o solo coberto por “mulching” branco.
Derivada a equação representativa da produtividade
para o solo coberto com tal cobertura, observou-se
ponto de produtividade máxima (74,38 Mg ha-1) com
lâmina aplicada de 308 mm. Com resultado semelhante
Ramos et al. (2009), analisando as características
produtivas da melancia irrigada, chegaram a valores
médios de produtividade total de 76,1 Mg ha-1. Já
Dantas et al. (2010), em pesquisa realizada em Mossoró,
com a cultura da melancia irrigada e em diferentes
coberturas no solo, verificou - se produtividades máxima
e mínima de 93,1 Mg ha-1 e 72,2 Mg ha-1.
Já a menor produtividade, para a mesma lâmina
M1, foi observada no solo sem cobertura (40,2 Mg ha-1).
Medeiros et al. (2007) avaliando aspectos produtivos
do melão, em função de lâminas de irrigação e
coberturas no solo, em Baraúna - RN, verificaram
produtividade cerca de 14% maior em solo coberto
por “mulching” preto, em relação ao solo nu.
Para as lâminas M4, M2 e M3, as maiores
produtividades também foram verificadas no solo
coberto por “mulching” branco, alcançando 72,3 Mg
ha-1, 74,3 Mg ha-1 e 72,3 Mg ha-1, respectivamente. Ao
se analisar esta variável, tornou-se possível verificar a
relação positiva da supracitada cobertura no aumento
da produtividade da cultura da melancia, cultivada no
DIJA, principalmente em função da retenção de
umidade. Fato corroborado por Carvalho et al. (2007),
com afirmação de que redução hídrica em certas fases
Lâminas de Irrigação (LI) 3 511,02042**
Resíduo (a) 12 0,94094
Coberturas (C) 3 2171,01042**
Interação A x B 9 118,92333**
Resíduo (b) 36 0,61455
Total 63 -
Tabela 1 - Resumo da análise de variância e níveis de
significância para a produtividade média (PM)
CV % (LI) - 1,58
CV % (C) - 1,28
FV GL QM
PM
FV = Fonte de variação; GL = Grau de liberdade; CV=
Coeficiente de variação; * e ** = Significativo a 5%, 1%,
respectivamente
Saraiva et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
63
fenológicas pode contribuir substancialmente para a
diminuição da produtividade da melancia.
Já com a combinação de menor lâmina e sem
cobertura (M3C0) observou-se a menor produtividade,
com valor de 38 Mg ha-1. Esse comportamento,
fatalmente, tem explicação fisiológica, pois segundo
Azevedo et al. (2005) o déficit hídrico pode causar um
decréscimo acentuado nas atividades fisiológicas,
principalmente na divisão e no crescimento das células
e, em consequência, no crescimento das plantas. Essa
deficiência também pode causar o fechamento dos
estômatos, diminuindo a concentração intracelular de
CO2, gerando um decréscimo na assimilação do mesmo,
prejudicando a produção da cultura. Inclusive, segundo
Taiz e Zeiger (2013) vários fatores podem influenciar
o crescimento dos frutos, todavia, o processo de
crescimento celular é função da divisão celular e da
expansão das células, sendo que, para ocorrência desta,
é de grande importância a presença da água.
Na análise dessa variável, com coberturas de
“mulching” branco, casca de arroz e “mulching” preto,
em ordem decrescente, obtiveram-se os melhores
resultados, o que demonstra a vantagem técnica de se
utilizar cobertura no solo no cultivo da melancia no
DIJA. Corroborando, Silvernail et al. (2006)
pesquisando o efeito do “mulching” nas características
produtivas da melancieira, concluíram que coberturas
Figura 3 - Influência das lâminas de irrigação e condições de cobertura no solo, na produtividade média
da cultura da melancia, durante o primeiro ciclo.
plásticas proporcionaram maiores produtividades,
quando comparadas às outras coberturas não plásticas
ou solo sem cobertura.
Coberturas do solo com filmes de polietileno têm
levado ao incremento em crescimento e em
produtividade em várias hortaliças (Cantu et al., 2007;
Morais et al., 2008). Somado à eficiência das
coberturas, as simulações no ISAREG, com cálculo de
irrigação com déficit tornam-se cada vez mais eficazes
no manejo da irrigação.
O ISAREG se mostrou eficiente, como estratégia nas
simulações de irrigação com déficit, ficando claro que o
manejo modal de irrigação, praticado pelos irrigantes,
principalmente quanto ao desperdício de água, não é o
ideal, pois, durante todo o ciclo da cultura da melancia
ora o irrigante aplica mais água do que a planta necessita,
ora menos, mas geral, aplicam demasiadamente, fato
esse também verificado por Saraiva et al. (2013).
Os irrigantes não praticam o manejo correto da
irrigação, pois se aplica, durante todo o ciclo da
melancia, mais água do que a indicação de maior lâmina
do ISAREG (100% da CAD); as maiores umidades
no solo foram verificadas nas condições experimentais
com maiores lâminas aplicadas com coberturas de
casca de arroz e “mulching” branco; as menores foram
Conclusões
Produtividade da melancieira sob irrigação utilizando o ISAREG
C0: y = -0,000 5x
2
+ 0,383x -17,906
R² = 0,97 35
C1: y = -0,000 5x
2
+ 0,322x + 20,047
R² = 0,97 61
C2: y = -0,000 2x
2
+ 0,1232x + 55,411
R² = 0,97 8
C3: y = -0,000 3x
2
+ 0,1978x + 37,528
R² = 0,97 88
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
55,0
60,0
65,0
70,0
75,0
80,0
85,0
90,0
208,3 410
Produtividade média (Mg.ha
-1
)
Lâm ina s de irrigação (mm)
Sem cobe rtura Casca de arroz M ulching branco Mulch ing preto
288,8
365,2
Agrotrópica 30(1) 2018
64
Agradecimentos
À Universidade Federal do Ceará – UFC, ao
Instituto Federal do Ceará – IFCE, ao CNPq ao auxílio
financeiro ao projeto de pesquisa, à CAPES pela bolsa
de doutorado concedida, ao Instituto Superior de
Agronomia – ISA pelo apoio técnico e científico
fornecido por seus pesquisadores Luis Santos Pereira,
Paula Paredes e Francisco de Souza pelo essencial
apoio científico durante todas as fases do trabalho.
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plantas irrigadas pela lâmina M1 e sobre solos cobertos
por casca de arroz e “mulching” branco demonstraram
as maiores produtividades.
Saraiva et al.
Agrotrópica 30(1): 65 - 72. 2018.
Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Marcelo Rodrigo Krause*, João Nacir Colombo, Letícia Marim Altoé, Marcelino Krause Ianke,
Antonio Fernando de Souza.
DESEMPENHO DE CULTIVARES DE TARO (Colocasia esculenta) NO OUTONO/
INVERNO EM REGIÃO DE CLIMA QUENTE
Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Santa Teresa; Rodovia ES-080, km 93, s/n - 29660-000 - São João de
Petrópolis, Santa Teresa - ES.
*Autor para correspondência: agro.krause@gmail.com
O taro (Colocasia esculenta L.) é uma cultura rústica que se adapta nas mais variadas condições climáticas.
Objetivou-se avaliar o desempenho de cultivares de taro em região de clima quente, com plantio no período de
outono-inverno. O experimento foi desenvolvido no setor de Olericultura do IFES - Campus Santa Teresa - ES, no
período de maio/2015 a fevereiro/2016. Os tratamentos consistiram em quatro cultivares de taro: ‘São Bento’;
‘Chinês’; ‘Japonês’ e ‘1B’. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados (DBC), com cinco
repetições. Foram avaliados o índice de velocidade de brotação; altura de plantas; área foliar; massa fresca da parte
aérea; produtividade e número por planta de rizomas grande, médio, pequeno, refugo e comercial; produtividade de
rizoma mãe. A cultivar ‘São Bento’ apresentou maior velocidade de brotação e para área foliar apenas a cultivar ‘1B’
apresenta comportamento linear. Não houve diferença significativa entre as cultivares para produtividade de rizomas
comerciais, entretanto, a cultivar ‘São Bento’ destaca-se na produção de rizoma grande e maior velocidade de
brotação quando comparado com as cultivares ‘Chinês’ e ‘Japonês’, podendo esta ser a mais indicada para o
cultivo nessas condições.
Palavras-chave: inhame, tuberosa tropical, entressafra, redução de ciclo.
Performance of taro cultivars (Colocasia esculenta) in fall / winter hot climate
region. The taro (Colocasia esculenta L.) is a rustic crop that can adapt in the most varied climatic conditions.
Objectived evaluate the performance of four cultivars of taro cultivated in a predominantly hot fall / winter climate
region. The objective of this study was to evaluate the performance of taro cultivars in the hot climate region, with
planting in the autumn-winter period. The experiment it was developed in the sector of Olericultura of IFES -
Campus Santa Teresa - ES, from May/2015 to February/2016. The treatments consisted in the use of taro cultivars:
São Bento; Chinês; Japonês and 1B. The experimental design was randomized blocks, with five replications. The
velocity of budburst was evaluated; plant height; leaf area; shoot fresh matter; productivity number per comel
plant, large, medium, small, discard and commercial; corm productivity. The cultivar São Bento showed higher
shoot speed and for leaf area only the cultivar 1B presented linear behavior. There was no significant difference
between the cultivars for productivity of commercial comel large, however, the cultivar São Bento stands out in the
production of large rhizomes and higher sprouting speed when compared to the cultivars Chinês and Japonês,
which may be the most suitable for cultivation under these conditions.
Key words: Yam, tropical tuberous, off-season, reduction of cycle.
Recebido para publicação em 23 de novembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 65
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p65-72
Agrotrópica 30(1) 2018
66
Introdução
O taro (Colocasia esculenta L. Schott), também
conhecido por inhame no centro-sul do Brasil (Pedralli
et al., 2002), é considerado como principal hortaliça
da família Araceae. Em termos de volume produzido,
no mundo, ocupa o quarto lugar dentre as tuberosas
tropicais exploradas, vindo após a mandioca
(Manihot esculenta), batata doce (Ipomoea
batatas) e inhame (Dioscorea spp.). No Brasil, o
estado de Minas Gerais é o maior produtor (MAPA,
2010). A região Sudeste teve grande participação na
oferta do taro no Brasil, disponibilizando nas centrais
de abastecimento 94% deste produto no período de
2008 a 2013 (CONAB, 2014).
É uma espécie tropical que apresenta crescimento
ótimo na faixa de temperatura de 21 a 27º C, com o
crescimento afetado por temperaturas abaixo de 18ºC
(Puiatti, 2002; Puiatti e Pereira, 2007). Essa exigência
faz com que a época de cultivo e o ciclo cultural seja
variável com as condições climáticas de cada região.
Em regiões frias o ciclo cultural é de cerca de nove
meses e o plantio é feito nos meses de julho a outubro
(Juliatti et al., 2002; Puiatti, 2002). Nas regiões quentes
a cultura pode ser cultivada durante todo o ano, com a
vantagem de produzir com menor ciclo cultural, cerca
de sete meses.
Embora em regiões de clima quente o cultivo do
taro possa ser realizado durante todo ao ano, ele é
pouco explorado nessas localidades, provavelmente
pela falta de conhecimento sobre cultivares adaptadas
para essa condição climática. Entretanto, por
possibilitar o cultivo durante o ano todo, torna-se
possível nessas regiões o cultivo na entressafra,
possibilitando aos produtores aumento da renda, uma
vez que devido à baixa oferta, maior valor comercial
dos rizomas poderá ser alcançado.
A propagação do taro é exclusivamente vegetativa,
utilizando os rizomas nos plantios comerciais (Puiatti,
2002). Essa particularidade faz com que tenha poucas
opções de cultivares disponíveis para propagação e
ainda, poucas pesquisas sobre cultivares adaptadas nas
mais diversas estações do ano e condições climáticas
do Brasil. Nas regiões do Rio Doce, no município de
Inhapim e na região de Juiz de Fora, estado de Minas
Gerais são cultivadas as cultivares ‘Japonês’, ‘Chinês’
e ‘Macaquinho’ e, no estado do Rio de Janeiro,
especialmente na Região Serrana Fluminense, as
cultivares ‘Chinês’, ‘Japonês’, ‘Branco’, ‘Rosa’ e
‘Roxo’ (Heredia Zárate et al., 2009). No Espírito Santo,
especialmente na Região Serrana a cultivar de taro
‘São Bento’ é a mais produtiva (Carmo e Puiatti, 2004).
Vale ressaltar que a maioria dos cultivos situam-se em
regiões de altitude elevada com clima predominante
frio no inverno.
Dentre as diversas cultivares de taro existentes, no
estado do Espírito Santo a cultivar “São Bento”
apresenta-se como a mais produtiva (Carmo e Puiatti,
2004), sendo esta tendo sido selecionada no município
de Alfredo Chaves – ES. A cultivar chinês é a mais
cultivada no estado (INCAPER, 2008), enquanto a
cultivar 1B quando cultivada apresenta produtividade
de rizomas comerciais e extras (> 100 g) superior à
chinês (Carmo e Puiatti, 2004). A cultivar japonês,
apesar de ser pouco cultivada no Espírito Santo,
merece destaque por alcançar altas produtividades
quando cultivada em outras regiões: 41,69 t ha-1 de
rizomas comerciais, quando cultivada a pleno sol em
Viçosa - MG (Gondim et al., 2007); 39,08 t ha-1 de
rizomas comerciais em Dourados – MS (Heredia
Zarate et al., 2009).
Devido ser originário dos trópicos úmidos (Heredia
Zárate et al., 2005), acredita-se que o taro possa ser
cultivado em regiões com temperaturas mais elevadas
e de menor altitude, comparadas às que
tradicionalmente é cultivado no Espírito Santo, podendo
ser uma alternativa para a normalização do
abastecimento no período de entressafra. Entretanto,
são necessárias informações acerca das cultivares
adaptadas para essas condições climáticas. Portanto,
objetivou-se avaliar o desempenho de cultivares de taro
em região de clima quente, com plantio no período de
outono-inverno.
Material e Métodos
O experimento foi desenvolvido no setor de
Olericultura do IFES - Campus Santa Teresa,
localizado na região Centro – Serrana do estado do
Espírito Santo. O local apresenta altitude de 160 m,
latitude de 19°48’ Sul e longitude 40°40’ Oeste. O
solo é classificado como argissolo e a precipitação
pluviométrica é de aproximadamente 1000 mm/ano.
Durante a execução da pesquisa foi registrado uma
Krause et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
67
precipitação de 113 mm, umidade relativa do ar 77% e
temperaturas médias que variaram de 21,8° a 26,7° C.
Os tratamentos consistiram no uso de quatro
cultivares de taro, sendo ‘São Bento’; ‘Chinês’;
‘Japonês’; ‘1B’ (conhecido em algumas regiões
também por ‘Macaquinho’). O delineamento
experimental foi em blocos casualizados (DBC), com
cinco repetições. Cada tratamento foi representado
nos blocos por parcelas contendo três fileiras de cinco
metros de comprimento, com espaçamento de 0,3 m
entre plantas e 0,9 m entre linhas. Desta forma, em
cada unidade experimental foram cultivadas 45 plantas.
Foram consideradas úteis as plantas da fileira central
excetuando-se as das extremidades.
O preparo do solo consistiu em uma aração com
posterior gradagem. Foram abertos sulcos de acordo
com espaçamento adotado e com 0,30 m de
profundidade. A adubação foi realizada de acordo com
resultados da análise de solo e a exigência da cultura,
seguindo as recomendações do Manual de Adubação e
Calagem do ES - 5ª aproximação (Prezzotti et al., 2007).
O plantio foi realizado em maio de 2015 sendo
utilizados os rizomas médios, com massa média de
aproximadamente 60 gramas, colocados nos sulcos e
cobertos por uma fina camada de solo. Durante a
condução do experimento as irrigações foram realizadas,
quando necessário, por microaspersão e para o controle
do mato foram realizadas quatro capinas. Aos 60 dias
após o plantio (DAP) foi realizada a amontoa.
Durante o desenvolvimento da cultura, foram
avaliadas as seguintes variáveis: índice de velocidade
de brotação (IVB); altura de plantas (AP) e área foliar
(AF). O IVB foi determinado pela contagem diária das
plântulas brotadas, empregando a fórmula modificada
de Maguire (1962), utilizada por Lins et al. (2006).
A avaliação da altura das plantas iniciou em agosto
de 2015 (85 DAP), sendo realizadas a cada 25 dias
até aos 210 DAP. Foram avaliadas a cada 25 dias
quatro plantas da fileira central de cada unidade
experimental. A medição foi realizada com uma fita
métrica, medindo-se do nível do solo até a inserção do
pecíolo no limbo da folha mais alta. A altura média das
plantas foi obtida a partir da média aritmética dos
valores das quatro plantas avaliadas.
Concomitantemente à avaliação da altura de
plantas, foi determinada a área foliar das mesmas. Em
cada avaliação foram retiradas todas as folhas de duas
plantas por unidade experimental e levadas ao
Laboratório de Solos e Meio Ambiente do Ifes Campus
Santa Teresa, onde, após destacados seus pecíolos,
foi aferido a massa fresca do limbo da planta. Para
cada limbo foram retirados três moldes de área
conhecida (1,846x10-3 m²) em pontos diferentes dos
vértices e determinada a massa destes em balança
analítica. Por meio de uma média aritmética, obteve-
se a massa de matéria fresca de limbo e dos moldes
por planta. Multiplicando-se o número de moldes por
planta, pela área de cada molde obteve-se a área total
dos moldes. Conhecendo-se a área e a massa de
matéria fresca de moldes por planta, bem como a
massa de matéria fresca de limbo, calculou-se a área
foliar de cada planta.
A colheita foi realizada no dia 11 de fevereiro de
2016 (265 DAP), quando mais de 50% das folhas das
plantas das diferentes parcelas apresentavam sintomas
de senescência (ponto de colheita da cultura). Foram
colhidas oito plantas da área útil de cada unidade
experimental, sendo avaliadas as seguintes variáveis:
massa de matéria fresca da parte aérea da planta mãe
e dos rizomas filhos; produtividade de rizoma mãe;
produtividade e número por planta de rizomas,
classificados pelo diâmetro transversal, conforme
metodologia de Puiatti et al. (1990), nas classes grande
(> 47 mm), médio (40-47 mm), pequeno (33-40 mm) e
refugo (< 33 mm); produtividade comercial de rizomas
filho. Foram considerados como comerciáveis o somatório
das classes de rizomas filho grande, médio e pequeno.
Os dados obtidos na colheita e o IVB foram
submetidos à análise de variância sendo as médias dos
tratamentos comparadas entre si pelo teste Tukey ao
nível de 5% de probabilidade. Para as épocas de
avaliação de altura de planta, área foliar, foi realizada a
análise de regressão simples sendo os modelos
escolhidos com base na significância do coeficiente de
regressão e no valor do coeficiente de determinação.
Todas as análises foram realizadas por meio do
programa estatístico Sisvar 5.6 (Ferreira, 2011).
Resultados e Discussão
Houve diferença entre as cultivares para o índice
de velocidade de brotação (P<0,05). A cultivar São
Bento apresentou resultados superiores às demais e
estas foram semelhantes entre si (Tabela 1).
Desempenho de cultivares de taro em região de clima quente
Agrotrópica 30(1) 2018
68
A superioridade da cultivar ‘São Bento’ em relação
às demais, quando avaliada a velocidade de brotação,
provavelmente pode estar relacionada com a adaptação
dessa cultivar às condições de temperaturas amenas,
em média 20-22 °C, sendo originada da região de
maiores altitudes do Estado do Espírito Santo. A
velocidade de brotação é de fundamental importância
no cultivo dessa olerícola, uma vez que acelerando o
processo de brotação, menor será o custo de mão de
obra com capinas, pois, as plantas de taro sobressairão
sobre as plantas invasoras, diminuindo a luminosidade
no interior do dossel e reduzindo a matocompetição
(Balbinot Júnior e Fleck, 2005). Temperaturas amenas,
mantém as plantas em crescimento mínimo, pois o frio
reduz o metabolismo da planta, incluindo alterações
no conteúdo e ação das enzimas e na composição e
funcionamento das membranas celulares (Arrigoni-
Blank et al., 2014), assim cultivares menos adaptadas
irão necessitar de tempo maior para sua brotação e
desenvolvimento inicial.
Os valores de massa fresca de parte aérea não
apresentaram diferença entre as cultivares (Tabela 1).
Possivelmente, no momento da colheita as plantas já
encontravam-se em estágio final de senescência e já
teriam perdido a maioria das folhas, o que acontece
durante essa fase, onde os fotoassimilados são
translocados da parte aérea para a formação de
rizomas (Heredia Zárate, Vieira e Facco, 2008).
Resultado distinto foi encontrado por Heredia Zárate
et al. (2009), que ao avaliarem a produção e renda
bruta de quatro cultivares de taro cultivados em
Dourados, estado do Mato Grosso do Sul, observaram
que a massa fresca de parte aérea das plantas da
cultivar ‘Chinês’ e ‘Cascudo’ foram superiores ao
‘Macaquinho’ e semelhante ao ‘Japonês’.
Nas Figura 1A e 1B apresentam-se, respectivamente,
a altura de planta (cm) e a área foliar (m²) das quatro
cultivares de taro avaliadas nesse trabalho. De acordo
com a análise de regressão verifica-se que para altura
de planta as cultivares apresentaram crescimento até
os 210 DAP. Para área foliar, as cultivares ‘São Bento’,
‘Japonês’ e ‘Chinês’ aumentaram sua área foliar até
entrarem em senescência (187-210 DAP), em
contraposição para a cv. ‘1B’ onde houve incremento
de área foliar até os 210 DAP.
As cultivares ‘São Bento’, ‘Chinês’, ‘Japonês’ e
‘1B’ atingiram as maiores alturas, respectivamente,
123 cm, 134 cm, 143 cm e 175 cm aos 210 DAP
(Figura 1A). Esse comportamento foi distinto ao
observado por Pereira et al. (2002) que ao comparar
as características de diferentes cultivares no Município
de Viçosa, região de clima semelhante ao da Região
Tabela 1 - Massa fresca da parte aérea (t ha-1) e índice de
velocidade de brotação de taro em função de quatro diferentes
cultivares
Médias, na linha, seguidas das mesmas letras são
estatisticamente iguais pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Cultivar
‘São Bento’ ‘Chinês’ ‘Japonês’ ‘1B’ C.V. (%)
Índice de velocidade de brotação
Massa fresca da parte aérea (t ha-1)
0,383a 0,287b 0,296b 0,263b 13,07
22,40a 19,31a 20,13a 15,47a 46,00
Figura 1 - Altura (A) e área foliar (B) de plantas das quatro
cultivares de taro, em região de clima quente.
A
B
Krause et al.
Dias após o plantio (DAP)
Dias após o plantio (DAP)
Área foliar (m2)Altura de planta (cm)
Agrotrópica 30(1) 2018
69
Serrana do Espírito Santo, não observou diferenças para
altura de planta, entre as cultivares 1B, Japonês e
Chinês. Assim, a maior altura de planta apresentada
pela cultivar 1B em condições de temperaturas mais
quentes pode ter ocorrido devido a sua adaptabilidade
nessas condições climáticas e devido à época de plantio.
Plantas de taro com maiores alturas, não significa
que alcançarão maiores produtividades de rizomas. O
taro apresenta folhas com longos pecíolos, fator
preponderante na medição da altura das plantas.
Gondim et al. (2007) avaliando o crescimento, partição
de fotoassimilados e produção de rizomas em taro sob
sombreamento artificial, verificaram que plantas
submetidas ao maior grau de sombreamento,
apresentaram maiores valores de massa de matéria seca
de pecíolo e menores de massa de matéria seca de
rizomas. No presente trabalho, plantas da cv. 1B não
apresentaram redução da área foliar durante o
desenvolvimento, podendo ter ocorrido competição por
luz entre as plantas, proporcionando maior crescimento
das mesmas, sem contudo, afetar a produção de rizomas.
Os maiores valores de área foliar foram obtidos
aos 187, 205 e 177 DAP nas cultivares ‘São Bento’
(0,70 m²/planta), ‘Chinês’ (0,88 m²/planta) e ‘Japonês’
(0,86 m²/planta) respectivamente, enquanto a cv. ‘1B
apresentou comportamento linear, ou seja, até a última
avaliação realizada (210 DAP) não apresentou queda
do valor de área foliar (Figura 1(B)). Para as cultivares
’Chinês’, ‘Japonês’ e ‘São Bento’ o comportamento
quadrático em relação à área foliar observado neste
trabalho foi também observado por Gondim et. al.
(2007) na cv. ‘Japonês’. A cv. ‘1B’ apresentou
comportamento diferenciado, onde, até aos 210 DAP
não havia iniciado o processo de senescência,
caracterizando-se assim, possivelmente, como uma
cultivar de ciclo vegetativo mais longo.
Apresentar um ciclo vegetativo mais longo, muitas
das vezes não é uma característica desejada, pois leva
à ocupação da área por um maior período de tempo e
demanda mais mão de obra para os tratos culturais
(Puiatti, 2002). Entretanto, a área foliar não ter sofrido
redução durante os 210 dias de ciclo da cultura, pode
significar uma resistência da cultivar 1B às condições
climáticas desfavoráveis. Durante o período de
desenvolvimento do trabalho, as temperaturas médias
variaram de 21,8 a 26,7 °C (Climate-data-org, 2015),
esses valores são superiores aos observados na região
serrana no período de setembro a maio, época de
cultivo, que são de 21,1 a 24,3 °C (Climate-data-org,
2015), demonstrando que a temperatura não
influenciou no desenvolvimento do taro. Puiatti (2002)
destaca que em condições de temperatura diurna
média de 19-18 °C, o crescimento do taro é paralisado.
Assim, a cultivar 1B pode ser uma boa alternativa para
o cultivo em regiões mais altas, com menores
temperaturas, onde tais valores críticos de temperatura
pode ocorrer com mais frequência.
Observou-se diferenças tanto para os valores de
produtividade como para o número de rizomas por
planta (P < 0,05). Para o número de rizomas grandes
não houve diferença entre as cultivares, já em relação
à produtividade, as médias observadas para a cv. ‘São
Bento’ não apresentaram diferenças quando
comparados à cv. ‘1B’, entretanto foi superior aos das
cultivares ‘Japonês’ e ‘Chinês’ (Tabela 2). Essa
tendência a produzir rizomas de maior tamanho quando
comparado às cultivares ‘Japonês’ e ‘Chinês’ faz da
cv. ‘São Bento’ ser interessante do ponto de vista
comercial, considerando que essa classe de rizoma
apresenta maior valor comercial. Pereira et al. (2003)
ressaltam que essa característica pode ser considerada
relevante para o bom desempenho de uma cultivar.
Heredia Zárate et al. (2005) avaliaram a capacidade
produtiva e a renda bruta dos cultivares de taro ‘Chinês’
e ‘Macaquinho’, sob cultivo solteiro e consorciado com
alface, na faixa de temperatura de 20 a 24 °C e
observaram que no cultivo solteiro a cultivar
‘Macaquinho’ foi superior, demonstrando ser
característica da cultivar ‘Chinês’ a produção de
rizomas de menor tamanho.
As cultivares ‘Chinês’ e ‘Japonês’ apresentaram
maior número de rizomas médios, entretanto, quando
avaliada a produtividade somente a cultivar ‘Japonês’
foi superior às demais. Heredia Zárate et al. (2003)
avaliaram as produções de massa fresca das plantas
das cultivares de taro ‘Chinês’ e ‘Macaquinho’,
cultivadas sob influência de cinco doses de cama-de-
frango de corte semidecomposta, incorporada ao solo,
na faixa de temperatura de 20 a 24 °C e observaram
que a cultivar ‘Macaquinho’ apresentou maior
produtividade de rizomas médios, porém com valores
inferiores ao encontrado no presente trabalho. Vieira
et al. (2014), avaliando o consórcio de taro ‘Japonês’
com feijão vagem, com temperaturas variando de 14
Desempenho de cultivares de taro em região de clima quente
Agrotrópica 30(1) 2018
70
a 21,6 °C, obtiveram produtividade de 13,47 t/ha de
rizomas médios no sistema de monocultivo, valor
inferior ao observado neste trabalho (19,70 t ha-1) e
provavelmente associado as características
edafoclimáticas, onde pode-se notar que a região era
de temperaturas mais amenas.
Para rizomas pequenos, as cultivares ‘Chinês’ e
‘Japonês’ foram superiores às demais quanto ao
número de rizomas, já para produtividade não houve
diferença entre as cultivares (Tabela 2). O maior número
de rizomas pequenos observados nestas cultivares pode
ser explicado como uma característica das plantas em
produzir rizomas de menor tamanho ou seja o clima não
influenciou no comportamento normal da cultivar. Silva
(2014) também observou em taro ‘Japonês’ alta
produtividade de rizomas pequenos (9,4 t ha-1) em uma
produção total de rizomas comerciáveis de 28 t/ha, em
Viçosa – MG, sob condição de temperatura média de
21,6°C. As cultivares ‘São Bento’ e ‘1B’ mesmo
produzindo menor número de rizomas pequenos,
alcançaram a mesma produtividade comercial de
rizomas que as cultivares ‘Japonês’ e ‘Chinês’ devido
à produção de rizomas de maior tamanho.
A cultivar ‘Japonês’ apresentou superioridade em
relação às demais para número por planta e
produtividade de rizomas refugo. Essa característica
torna-se um fator negativo para essa cultivar, uma vez
que a planta investe em produção de rizomas que não
apresentam valor comercial, sendo descartados pelos
agricultores.
Para a produtividade de rizoma-mãe as cultivares
‘São Bento’ e ‘1B’ foram as que apresentaram as
maiores produtividades. Pereira et al. (2003) ressaltam
que a produção elevada de rizomas mãe não é de
interesse econômico. O valor comercial de rizomas
mãe é muito inferior aos rizomas filhos, isso acontece
devido aos rizomas apresentarem tamanho muito
elevado e qualidade inferior.
Com relação ao número de rizomas comercial por
planta, a cv. ‘Japonês’ apresentou-se superior ao ‘São
Bento’ e ‘1B’, enquanto a cv. ‘Chinês’ foi superior
apenas ao ‘1B’. Para a produtividade de rizomas
comerciais não houve diferença entre as cultivares.
Helmich (2010), também não obteve diferença na
produtividade de rizomas comerciais das cultivares
‘Japonês’ e ‘Chinês’ cultivadas em Dourados - MS
com temperatura média de 20 a 24°C. Resultados
semelhantes foram encontrados por Heredia Zárate
et al. (2009), nas mesmas condições de temperatura,
quando não observaram diferença para a produção
Tabela 2 - Valores médios de produtividade (t.ha-1) de rizoma mãe
(M); produtividade (t.ha-1) e número de rizomas por planta de rizomas
grande (RG), médio (RM), pequeno (RP), comercial (FC) e refugo (RR)
de taro em função de quatro diferentes cultivares
Classe de
Rizoma
Cultivar
‘São Bento’ ‘Chinês’ ‘ Japonês’ ‘1B’
Médias, na linha, seguidas das mesmas letras são estatisticamente
iguais pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
C.V. (%)
RG 6,30a 4,46a 4,88a 5,82a 23,78
RM 5,76b 8,28a 9,20a 4,42b 14,28
RP 2,68b 5,00a 6,86a 2,48b 27,04
RR 4,18bc 6,80b 10,48a 3,00c 26,00
FC 14,74bc 17,74ab 20,94a 12,72c 13,24
M34,99a 20,31b 20,62b 40,44a 23,82
RG 39,02a 21,42b 20,84b 32,36ab 23,73
RM 13,33b 15,82ab 19,70a 10,36b 22,46
RP 2,87a 9,88a 7,53a 3,07a 81,41
RR 1,53c 2,85b 4,37a 1,24c 27,50
FC 55,21a 47,12a 48,06a 45,79a 15,73
Número de rizomas (Unidade/planta)
Produtividade de rizomas (t ha-1)
de rizomas comerciais entre as cultivares
‘Cascudo’, ‘Chinês’, ‘Japonês’ e ‘Macaquinho’,
demonstrando ser uma característica da planta
de taro não apresentar diferenças de
produtividade comercial entre as cultivares, mas
sim de número de rizomas comerciais por planta.
Essa característica pode estar associada a
rusticidade (Vieira et al., 2014) e ampla
adaptabilidade das variedades de taro em
diferentes regiões e condições climáticas.
De forma geral todas as cultivares avaliadas
obtiveram produtividade satisfatória em Região
de clima quente e seco com o plantio sendo
realizado no período de outono/inverno.
Trabalhos semelhantes foram desenvolvidos por
outros autores. Heredia Zárate, Vieira e Rego
(2007) avaliaram a produção de massa fresca
de cultivares de taro cultivados em solo
hidromórfico, na época seca do pantanal sul-
mato-grossense e obtiveram produtividade
variando de 0,35 a 1,35 t ha-1. Pereira et al.
(2003) ao avaliarem o rendimento e caracterizar
Krause et al.
Agrotrópica 30(1) 2018
71
o potencial agronômico de 36 acessos de taro em
Viçosa - MG encontraram produtividades variando
entre 6,44 a 22,54 t/ha. Heredia Zárate et al. (2009)
ao avaliarem quatro cultivares de taro
(‘Macaquinho’, ‘Japonês’, ‘Chinês’ e ‘Cascudo’)
observaram produtividade variando de 14,84 a 16,83
t ha-1. Verifica-se que as cultivares utilizadas neste
trabalho apresentaram resultados superiores (45,79
a 55,21 t ha-1), sendo recomendadas para estas
condições de cultivo.
No estado do Espírito Santo, Carmo e Puiatti (2004)
avaliando cultivares de taro para cultivo, com o plantio
realizado no mês de setembro, no município de
Domingos Martins, com altitude de 950 m verificaram
para os clones testados as seguintes produtividades
de rizomas comerciais: São Bento (50,4 t ha -1), 1B
(45,79 t ha -1), Chinês (47,12 t ha -1) e Japonês (48,06
t ha -1). Esses valores foram inferiores aos observados
no presente trabalho, para todas as cultivares,
demonstrando que o cultivo do taro no período de
entressafra em regiões de baixas altitudes, com
temperaturas mais altas pode ser realizado com
sucesso, proporcionando aos produtores maiores
valores de mercado por ocasião da comercialização,
tornando-se assim uma alternativa economicamente
viável para a agricultura familiar.
Para a tomada de decisão sobre qual das cultivares
será utilizada, é necessário conhecer a forma de
comercialização. Se os rizomas forem
comercializados por classes, recomenda-se o uso da
cultivar ‘São Bento’ que apresenta maior
produtividade de rizomas grande em relação a duas
das cultivares testadas ‘Chinês’ e ‘Japonês’, com
maior valor comercial. Quando a comercialização não
for por classe todas as cultivares são recomendadas,
entretanto, a cultivar ‘São Bento’ apresentou maiores
valores de IVB o que pode representar uma redução
do custo com mão-de-obra, principalmente capinas,
como também uma antecipação da colheita no
período de entressafra evitando que a mesma seja
realizada durante o período das chuvas.
- As cultivares ‘São Bento’, ‘Chinês’, ‘Japonês’ e
‘1B’ podem ser recomendadas para o cultivo em região
de clima quente com plantio no período de outono/
inverno.
- Se a comercialização for realizada por classes de
rizomas, recomenda-se a utilização da cv. ‘São Bento’
por apresentar maior produtividade de rizomas filho
grande em relação às cultivares ‘Chinês’ e ‘Japonês’.
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Conclusão
- A cv. ‘São Bento’ apresenta maior velocidade de
brotação, que pode apresentar uma redução do ciclo
da cultura, antecipando a colheita.
Desempenho de cultivares de taro em região de clima quente
Agrotrópica 30(1) 2018
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Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil
Alexandra Goede de Souza*, Ana Caroline Fassina, Fátima Rosangela de Souza Saraiva
COMPOSTOS BIOATIVOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE EM FRUTAS NATIVAS
DO BRASIL
Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul, Estrada do Redentor, 5665, Canta Galo, 89163-356, Rio do Sul, Santa
Catarina, Brasil.
*Autor para correspondência: alexandra.souza@ifc.edu.br
A preocupação crescente com o consumo de alimentos saudáveis vem abrindo espaços para as pequenas
frutas nativas, muitas ainda pouco conhecidas. Este trabalho teve como objetivo avaliar os conteúdos de flavonoides
totais, antocianinas totais, compostos fenólicos totais e atividade antioxidante total (método DPPH) em frutas de
palmito juçara (Euterpe edulis), araçá amarelo e vermelho (Psidium cattleianum), butiá (Butia capitata), guabiroba
(Campomanesia xanthocarpa), jabuticaba (Plinia cauliflora) e pitanga (Eugenia uniflora) colhidas no ponto de
colheita comercial. As frutas foram processadas e as análises realizadas no laboratório de Fisiologia e Pós-colheita
do IFC – Campus Rio do Sul. As frutas de guabiroba, araçá amarelo e butiá apresentaram os maiores conteúdos de
flavonoides totais enquanto as frutas de palmito juçara, jabuticaba, araçá vermelho e pitanga os maiores conteúdos
de antocianinas totais e compostos fenólicos totais. Todas as frutas apresentaram capacidade de inibir o radical
DPPH acima de 96%, exceto as de butiá (74%), indicando serem importantes fonte de antioxidantes.
Palavras-chave: DPPH, compostos fenólicos, antocianinas, flavonoides.
Bioactive compounds and antioxidant activity in native fruits from Brazil. Growing
concern about the consumption of healthy foods has opened space for small and unknown native fruits. The aim
of this work was to evaluate the contents of total flavonoids, total anthocyanins, total phenolic compounds and
total antioxidant activity (DPPH method) in juçara palm (Euterpe edulis), yellow and red araçá (Psidium cattleianum),
butiá (Butia capitata), guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), jabuticaba (Plinia cauliflora) and pitanga
(Eugenia uniflora) fruits harvested at consumption point. The fruits were processed and analyzes carried out in
the laboratory of Physiology and Postharvest of the IFC - Campus Rio do Sul. Fruits of the guabiroba, yellow araçá
and butiá presented the highest contents of total flavonoids while the fruits of juçara palm, jabuticaba, red araçá,
and pitanga the highest contents of total anthocyanin and phenolic compounds. All fruits showed a capacity to
inhibit the DPPH radical above 96%, except for butiá (74%), indicating that they are an important source of antioxidants.
Key words: DPPH, phenolic compounds, anthocyanins, flavonoids.
Recebido para publicação em 08 de novembro de 2017. Aceito em 09 de março de 2018. 73
DOI: 10.21757/0103-3816.2018v30n1p73-78
Agrotrópica 30(1) 2018
74
Introdução
As frutas possuem diversos composto biativos que
podem trazer benefícios à saúde humana, quando
inseridas como parte usual da dieta (Oliveira et al.,
2011). Estudos apontam que o consumo de frutas está
relacionado com a prevenção de algumas doenças
crônicas como câncer, diabete, doenças do coração e
Alzheimer pela presença de compostos fenólicos, como
os flavonoides, em especial a antocianina, responsável
pela coloração avermelhada, púrpura e violeta das
frutas, além de vitaminas e outros compostos de ação
antioxidante (Agnieszka e Borowsla, 2008; Leite-
Legatti et al., 2012; Pereira et al., 2013). Os
antioxidantes presentes nas frutas, em especial os
compostos fenólicos, atuam como agentes redutores
de espécies reativas de oxigênio (ERO), como o radical
superóxido (O2
.-), o peróxido de hidrogênio (H2O2) e o
radical hidroxila (OH.), retardando ou impedindo o
processo de peroxidação lipídica ou oxidação de outras
moléculas, razão pela qual o consumo de alimentos
que possuem essa característica é importante (Mittler
et al., 2011; Carocho e Ferreira, 2013).
Estudos sobre a caracterização física e química
e a atividade antioxidante de frutas nativas têm sido
realizados por alguns pesquisadores, como em
goiaba-serrana, açaí, pitanga, araticum-do-mato,
mandacaru-de-três-quinas, jabuticaba, camu-camu,
mangaba, entre outros, a fim de mostrar suas
potencialidades e estimular o consumo destas
espécies nativas como alimento, valorizando esse
recurso genético disponível no Brasil (Amarante et
al., 2017; Rosso, 2013; Perreira et al., 2013; Leite-
Legatti et al. 2012; Rufino et al., 2010). Trabalhos
indicam que algumas frutas nativas apresentam
atividade antioxidante superior a de frutas
comumente empregadas na alimentação, como a
goiaba vermelha, mamão e manga (Oliveita et al.,
2011; Beyhan, Elmastas e Gedikli, 2010).
Neste contexto, estão inseridas as frutas como o
araçá amarelo e vermelho (Psidium cattleianum), a
jabuticaba (Plinia cauliflora), a pitanga (Eugenia
uniflora), o butiá (Butia capitata), a guabiroba
(Campomanesia xanthocarpa) e o palmito juçara
(Euterpe edulis), todas nativas e recentemente
consideradas com potencial econômico na região Sul
do Brasil (Coradin, Simisnski e Reis, 2011).
Para algumas espécies já existe forma de utilização
ou mercado estabelecido, mas apenas em âmbito local
ou regional (Coradin, Simisnski e Reis, 2011). As
potencialidades para a exploração de frutas nativas
não tradicionais estão relacionadas, entre outros
fatores, aos sabores especiais e diversificados, aos
elevados teores de açúcares, vitaminas e minerais, e
sua grande aceitação popular. Além do consumo in
natura, as frutas podem ser utilizadas no preparo de
polpa congelada para suco, assim como no preparo de
diversos pratos e bebidas, como geleias, sorvetes, doces
e licores, além do seu emprego na fabricação de
cosméticos (Shotsmans et al., 2011).
No entanto, informações sobre a composição
química de várias frutas nativas ainda são escassas.
O conhecimento destes atributos, entre outros, pode
contribuir para a expansão da produção e do consumo,
tornando-se uma alternativa para a diversificação da
propriedade rural e geração de renda, bem como
permitir a oferta à população de novos alimentos, com
propriedades bioativas desejáveis.
O objetivo do trabalho foi avaliar os teores de
flavonoides, antocianinas, compostos fenólicos e a
atividade antioxidante total em frutas de diferentes
espécies frutíferas nativas do Brasil (araçá amarelo e
vermelho, pitanga, jabuticaba, guabiroba, butiá e palmito
juçara) na colheita.
Material e Métodos
Frutas das diferentes espécies nativas foram
colhidas em áreas no Instituto Federal Catarinense -
Campus Rio do Sul (latitude 27º12" 51" Sul, longitude
49º38" 35" Oeste e altitude de 698 metros), no ponto
de colheita comercial e imediatamente transportados
ao laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-colheita do
IFC - Campus Rio do Sul para realização das análises.
Após a colheita, as sementes das frutas de butiá,
jabuticaba, pitanga e palmito juçara foram retiradas
manualmente e sua polpa processada com auxílio de
um mixer. As frutas de guabiroba, araçá vermelho e
amarelo foram processadas inteiras.
Para quantificação dos conteúdos de antocianinas
e flavonoides totais foi utilizado o método de Lees e
Francis (1972), onde as polpas das frutas foram
homogeneizadas com solução extratora (etanol
95%:HCl 1,5 N – 85:15, v/v) e estocadas por 12 horas
a 4 oC. As amostras foram filtradas com papel filtro e
Souza, Fassina e Saraiva
Agrotrópica 30(1) 2018
75
a absorbância medida em espectrofotômetro no λ de
535 nm para antocianinas e de 374 nm para flavonoides.
Os resultados foram expressos em mg 100 g-1 de
matéria fresca, calculados pela formula:
O procedimento de obtenção do extrato para a
quantificação de compostos fenólicos totais e da
atividade antioxidante total foi adaptado de Larrauri,
Rupérez e Saura-Calixto (1997). Para extração
hidroalcoólica foram utilizadas 10 g de polpa
processada, deixado em uma solução de metanol 50%
por uma hora. O material foi centrifugado a 5000 rpm
por 30 minutos. O sobrenadante foi armazenado e o
resíduo submetido a uma nova extração com acetona
70%. Após uma hora, o material foi novamente
centrifugado, acrescentando o sobrenadante ao
anterior, completando o volume para 100 mL com água
destilada. Os extratos foram armazenados em
recipiente âmbar e mantidos congelados até o momento
das análises.
A quantificação dos compostos fenólicos totais foi
realizada pelo método colorimétrico Folin-Ciocalteau,
que envolve a redução do reagente pelos compostos
fenólicos da amostra, com a formação de um complexo
azul que aumenta linearmente a absorbância no λ de
760 nm (Swain e Hillis, 1959). O ácido gálico foi
utilizado como padrão dos compostos fenólicos. Foram
retirados 2,5 mL do extrato e adicionados 7,5 mL de
água destilada. Em ambiente escuro, foi tomado 1 mL
do extrato diluído e adicionado 1 mL de Folin-
Ciocalteau, 2 mL de carbonato de sódio a 20% e 2 mL
de água destilada. As leituras foram realizadas em
triplicata, após 30 minutos, em espectrofotômetro, λ
de 760 nm. O espectrofotômetro foi calibrado usando
o branco (solução contento todos os reagentes, exceto
o extrato da fruta). O conteúdo de compostos fenólicos
totais das frutas foi expresso em equivalente de ácido
gálico (EAG; mg EAG g-1 matéria fresca), usando a
equação da reta obtida da calibração da curva com o
ácido gálico.
A atividade antioxidante total foi determinada
utilizando a metodologia baseada na capacidade do
extrato de sequestrar o radical 1,1-difenil-2-
picrilhidrazila (método DPPH) (Brand-Willians,
Cuvelier e Berset, 1995, adaptado por Milardovic,
Ivekovic e Grabaric, 2006). Em ambiente escuro,
utilizou-se 0,1 mL do extrato com 3,9 mL do radical
DPPH (em triplicata). A mistura foi agitada em Vortex
e deixada em repouso. As leituras foram realizadas
em espectrofotômetro, no λ de 515 nm, após 30
minutos. Foi utilizado álcool metílico para calibrar o
espectrofotômetro (modelo Rayleigh UV-9200). A taxa
de inibição do radical DPPH foi calculada utilizando a
fórmula:
I% = (Abranco – Aamostra / Abranco) x 100%
onde, Abranco é a absorbância da reação controle
(contém todos os reagentes, exceto a amostra testada)
e Aamostra é a absorbância da amostra testada.
O delineamento estatístico utilizado foi
inteiramente casualizado, com cinco repetições, cada
repetição com duzentos gramas de polpa. Os dados
foram submetidos à análise de variância e os resultados
comparados pelo método de Tukey a 5% de
probabilidade utilizando o programa SASM-Agri
(Canteri et al., 2001).
Resultados e Discussão
Houve diferenças significativas no conteúdo
total de flavonoides entre as frutas analisadas, com
teores médios de 14,9 mg 100g-1 de massa fresca
(Tabela 1). Os maiores conteúdos foram observados
nas frutas de pigmentação tendendo ao amarelo
(guabiroba, seguidos por araçá amarelo e butiá) e os
menores em frutas de palmito juçara, jabuticaba e
araçá vermelho. No entanto, para jabuticaba os
conteúdos de flavonoides totais (2,3 mg 100g-1 de
massa fresca) são superiores aos 0,32 mg 100g-1 de
massa fresca apresentados por Rufino et al. (2011),
enquanto para palmito juçara (0,9 mg 100g-1 de massa
fresca), os valores obtidos são inferiores aos 8,1 - 8,78
mg 100g-1 de massa fresca (de acordo com o solvente
extrator) reportados por Borges et al. (2011). Plantas
ricas em flavonoides são fontes importantes de
antioxidante para o organismo humano. Em trabalho
realizado por Hoffmann-Ribani, Huber e Rodriguez-
Amaya, (2009), frutas de pitanga e caju-do-mato
apresentaram os maiores conteúdos de flavonoides
quando comparados a outras frutas nativas e exóticas
estudadas e os principais flavonoides encontrados nas
Compostos bioativos e atividade antioxidante em frutas
76,6 (para flavonoides) ou 98,2 (para antocianinas)
Antocianinas ou
flavonoides
(Absorbância x fator de diluição)
=
Agrotrópica 30(1) 2018
76
frutas frescas ou processadas foram a miricitina,
quercitina e o caempferol.
Assim como para flavonoides totais, o conteúdo de
antocianinas totais diferiu entre as frutas. Os maiores
conteúdos de antocianinas foram observados em frutas
de palmito juçara, seguido por jabuticaba, araçá
vermelho e pitanga, frutas de coloração mais intensa,
tendendo do vermelho ao púrpura. Já as frutas de
coloração mais clara (amarela), apresentaram os
menores conteúdos de antocianinas (Tabela 1).
Apesar das frutas de palmito juçara apresentarem
os maiores conteúdos de antocianinas (50,7 mg 100g-1
de massa fresca), estão abaixo dos 192 mg 100g-1 de
massa fresca reportados por Rufino et al. (2010). Em
trabalho realizado por Borges et al. (2011) os conteúdos
de antocianinas em frutas de palmito juçara variaram
de 17,74 a 254,57 mg 100g-1 de massa fresca de acordo
com o solvente extrator utilizado. Em frutas de
diferentes progênies de açaí (E. oleracea) da coleção
de Germoplasma da Embrapa Amazônia oriental/Pará,
foram reportados conteúdos variando de 13,75 a 228,77
mg 100g-1 de massa fresca (Cohen et al., 2006). As
diferenças foram atribuídas à variabilidade genética,
indicando que as variações observadas entre os
trabalhos para os conteúdos de antocianinas totais em
palmito juçara podem ser decorrentes de variações
genéticas das plantas de palmito juçara, assim como
das diferentes condições edafoclimática onde as
plantas se desenvolvem. No entanto, é provável que
diferenças na maturação dos frutos utilizados também
sejam responsáveis pelas diferenças observadas
(Canuto et al., 2010).
O conteúdo de antocianinas totais em frutas de
jabuticaba (42,2 mg 100g-1 de massa fresca) obtidos
neste estudo são semelhantes aos valores reportados
por Rufino et al. (2011) (58,1 mg 100g-1 de massa
fresca) e superiores aos apresentados por Abe, Lajolo
e Genovese (2012) ( 3,2 mg 100g-1 de massa fresca).
Houve diferenças no conteúdo de compostos
fenólicos totais entre as espécies, com destaque para
as frutas de palmito juçara, com os maiores valores
(174,2 mg GAE 100 g-1 de massa fresca), seguidos por
jabuticaba (128,3 mg EAG 100g-1 de matéria fresca),
pitanga (95,9 mg EAG 100g-1 de matéria fresca) e araçá
vermelho (88,0 mg EAG 100g-1 de matéria fresca),
enquanto as frutas de guabiroba, araçá amarelo e butiá
apresentaram os menores valores (Tabela 1).
Em frutas de palmito juçara, os conteúdos de
compostos fenólicos são superiores aos 24,87 mg GAE
100 g-1 de massa fresca reportados por Rosso (2013)
e menores aos 440 mg EAG 100g-1 de matéria fresca
apresentados por Rufino et al. (2010). Para jabuticaba,
os valores também foram superiores aos 74,4 mg EAG
100g-1 de matéria fresca reportados por Abe, Lajolo e
Genovese (2012).
A cor característica das frutas avermelhadas ou
púrpuras decorre da presença de antocianinas, o que
justifica os elevados valores de compostos fenólicos
nestas frutas, tendo em vista que pigmentos
antociânicos são considerados compostos fenólicos
(Lima et al., 2000). Dessa forma, os maiores conteúdos
de antocianina foram observados nas frutas de
coloração avermelhada/púrpura, o que indica que as
antocianinas são os principais constituintes dos
compostos fenólicos nestas frutas.
Todas as frutas apresentaram alta atividade
antioxidante total (método DPPH). Não houve
diferenças na atividade antioxidante entre as frutas
avaliadas, com média de 94,1% de capacidade inibitória
do radical DPPH, exceto para as frutas de butiá, as
quais apresentaram a menor capacidade inibitória do
radical (74,9%) (Figura 1). A capacidade de inibição do
radical DPPH das frutas de palmito juçara (98,4%) foi
maior que os valores encontrados por Borges et al.
(2011), de 59,9%, sendo superiores ao de outras frutas
Tabela 1: Conteúdo total de flavonoides (mg 100g-1 massa
fresca), antocianinas (mg 100g-1 massa fresca) e compostos
fenólicos (mg EAG 100g-1 massa fresca) em diferentes frutos
nativos da região Sul do Brasil
Pitanga 7,7 d* 36,4 d 95,9 c
Jabuticaba 2,3 f 42,2 b 128,3 b
Guabiroba 34,4 a 5,9 e 81,7 e
Araçá Amarelo 27,9 b 3,9 f 72,3 f
Araçá vermelho 4,8 e 39,4 c 88,0 d
Palmito juçara 0,7 g 50,7 a 174,2 a
Butiá 27,0 c 2,9 f 63,2 g
Média 14,9 25,9 100,6
CV (%) 2,3 2,9 2,5
Flavonoides
totais
Antocianinas
totais
Espécie Compostos
Fenólicos
totais
*Valores seguidos da mesma letra, nas colunas, não diferem
entre si pelo teste de Tukey (p > 0,05).
EAG: Equivalente Ácido Gálico
Souza, Fassina e Saraiva
Agrotrópica 30(1) 2018
77
nativas, como a goiaba serrana (Acca selowiana) com
92,9% (Beyhan, Elmastas e Gedikli, 2010).
A atividade antioxidante é atribuída em grande
parte à presença de compostos fenólicos. Muitos
trabalhos vêm mostrando a relação positiva entre a
capacidade antioxidante e os conteúdos de compostos
fenólicos em tecidos vegetais (Amarante et al., 2017;
Li et al., 2014; Oliveira et al., 2011; Canuto et al.,
2010). As frutas de butiá, com menor atividade
antioxidante, foram justamente aquelas que
apresentaram menor conteúdo de compostos
fenólicos totais, indicando a participação dos fenóis
na capacidade antioxidante. No entanto, outros
compostos não quantificados neste trabalho, podem
também estar contribuindo para a capacidade
antioxidante total das frutas.
Apesar do avanço das pesquisas, pouco ainda se
conhece a respeito das potencialidades funcionais de
várias frutas nativas. Este estudo mostra que muitas
destas frutas podem ser consideradas uma rica fonte
de antioxidantes naturais e podem ser utilizadas na
alimentação humana, bem como no preparo de produtos
fitoterápicos, para prevenção de problemas decorrente
do estresse oxidativo das células.
Conclusões
As frutas de coloração amarela (guabiroba, araçá
amarelo e butiá) apresentam os maiores conteúdos de
flavonoides totais, enquanto o conteúdo de antocianinas
e compostos fenólicos totais são maiores nas frutas
de coloração vermelha/púrpura (palmito juçara,
jabuticaba, araçá vermelho e pitanga).
Todas as frutas, exceto as de butiá, apresentam
capacidade de inibir o radical DPPH acima de 96%,
indicando serem importantes fonte de antioxidantes.
Agradecimentos
Os autores agradecem a FAPESC (Fundação de
Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa
Catarina) pelo apoio financeiro na realização da
pesquisa.
Figura 1 - Atividade antioxidante total (%; Capacidade de inibição do radical DPPH) em diferentes frutos
nativos da região Sul do Brasil.
*Valores seguidos da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p >0,05).
Compostos bioativos e atividade antioxidante em frutas
Agrotrópica 30(1) 2018
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Souza, Fassina e Saraiva
POLÍTICA EDITORIAL
A Revista Agrotrópica foi criada em 1971, sendo originalmente conhecida como Revista Theobroma.
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reviews and of critical nature, all in three idioms: Portuguese, English and Spanish. It also publishes letters to
the editor about published works.
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accessory of the Editorial Board, reserves the right of suggesting or requesting the changes that seem to be
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Editor-in-Chief
... Höhn., Asteridiella McAlpine and Irenopsis F. Stevens belong Meliolaceae (Sordariomycetes, Ascomycota), and Meliola is the genus with the highest number of species has about 3000 species (Hansford 1961;Wijayawardene et al. 2018). Prillieuxina winteriana (Pazschke) G. Arnaud belongs to Asterinaceae (Dothideomycetes, Ascomycota), having Annona species as its main hosts (Santos et al. 2018). Despite being biotrophic, P. winteriana can act as a necrotrophic, causing the host killing it upon or shortly after infection and acquiring nutrients from dead or dying tissues (Giraldo andValent, 2013, Caliman et al. 2021). ...
Article
Full-text available
Five species of Meliola and one of Prillieuxina (black mildews) were recorded in agroecological transitional areas in polyculture crop (consortium of plants-COPs-and agroforestry systems-AFSs) located in Pernambuco State, Brazilian northeast. Meliola anacardii on Anacardium occidentale, M. annonacearum on Annona montana, M. mangiferae on Mangifera indica, M. rhoina on Schinus terebinthifolius, M. trichostroma on Psidium guajava and Prillieuxina winteriana on A. muricata and A. montana. These species differed for host relationship and taxonomic structures. Illustrations of P. winteriana, Meliola spp. and its epiparasites are provided. Resumo: Cinco espécies de Meliola e uma de Prillieuxina (Míldios negros) foram registradas em policultivos de áreas de transição agroecológica (consórcio de plantas-COPse sistemas agroflorestais-AFSs) localizados no estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Meliola anacardii em Anacardium occidentale, M. annonacearum em Annona montana, M. mangiferae em Mangifera indica, M. rhoina em Schinus terebinthifolius, M. trichostroma em Psidium guajava e Prillieuxina winteriana em A. muricata e A. montana. Estas espécies diferiram pelo hospedeiro a quem estão relacionadas e estruturas taxonômicas. Ilustrações de P. winteriana, Meliola spp. e seus epiparasitas são apresentadas. Termos para indexação: Asterina winteriana, Fungos micoparasitas, Meliolaceae, Spiropes sp., Trichothyrium reptans.
Article
Full-text available
A standard method is proposed for the quantitative determination and reporting of cranberry pigments.
Article
Full-text available
The objective of this work was to quantify the total phenolic content (TPC) and total antioxidant activity (TAA) of fruit from Brazilian genotypes of feijoa (Acca sellowiana). Skin and flesh tissues of the fruit were evaluated for the Alcântara, Helena, Mattos, and Nonante cultivars, and for the 2316 accession. TPC and TAA were both assessed in aqueous and hydroalcoholic extracts, and TAA was assayed by the DPPH (2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl) and ABTS [2,2’-azino-bis(3-ethylbenzothiazoline-6-sulphonic acid)] methods. The TPC values, for aqueous extracts of the skin and flesh tissues, were 114.9 and 88.3 mg gallic acid equivalent (GAE) per 100 g fresh weight (FW), respectively. The corresponding values for TAA determined by the DPPH method, the skin and flesh tissues, given as EC50 (substrate concentration which leads to 50% reduction of the DPPH), were 10.7 and 39.7 mg FW per g DPPH, respectively; and, by the ABTS method, the TAA values were 12.01 and 8.33 μmol L-1 Trolox per g FW, respectively. The greatest values for TPC and TAA were obtained for 'Mattos' and 'Nonante', in the skin, and for 'Nonante' and accession 2316, in the flesh. Feijoa fruit has important functional value, particularly in the skin, characterized by high TPC and TAA.
Technical Report
Full-text available
Após a execução de um inventário florestal na Embrapa-CPAF/AC, uma área de 20 ha de floresta foi selecionada para ser manejada de forma experimental com a aplicação de técnicas adequadas de planejamento e manejo, visando reduzir custos e danos à floresta, e aumentar o rendimento em todas as operações envolvidas no manejo. O objetivo do projeto foi avaliar a capacidade de suporte florestal, definir as operações básicas para o correto manejo da floresta, aprimorar coeficientes técnicos (custos e rendimentos) para a região, permitindo o planejamento e acompanhamento da exploração, e monitoramento das respostas da floresta ao manejo aplicado, buscando definir o melhor ciclo e taxas de corte. Também e objetivo do projeto servir como unidade demonstrativa de manejo florestal para produtores e técnicos da região. De maneira geral, a floresta da Embrapa-CPAF/AC apresentou bom potencial para manejo com volume médio de espécies comerciais acima de 50 cm de DAP em torno de 25 m3. ha-1. O planejamento da exploração foi feito com base em um inventário prospectivo e levantamento topográfico da área. As árvores foram mapeadas e as trilhas de arraste projetadas antes da exploração e marcadas no terreno por meio de balizamento. Exploraram-se em torno de 20 m3. ha-1, a carga média por ciclo foi de 4.2 t, para uma distância média de arraste de 190 m e um tempo total de 25 minutos. O limite para a exploração econômica da floresta, calculada para as condições da região, foi em torno de 5 m3 por hora. O corte de cipos e derrubada orientada das árvores contribuíram para reduzir os danos da exploração estimados em 0.25 m3 para cada metro cúbico extraído. A floresta manejada cresceu significativamente mais rápido, no período de estudo, do que a floresta não perturbada, especialmente nos dois primeiros anos após a exploração. Como já era esperado, também a mortalidade e o ingresso foram mais elevados na floresta manejada. O crescimento em volume das espécies comerciais, em torno de 1.7 m3. ha-1, é um indicativo de que tanto o ciclo como a taxa de corte adotados foram adequados. A diminuição das taxas e crescimento da floresta, após o segundo ano, recomenda o uso de tratamentos silviculturais.
Article
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A consorciação de culturas é um sistema de cultivo que tem como objetivos principais alcançar alta produtividade por unidade de área e promover a sustentabilidade do sistema de produção. Objetivou-se com este trabalho avaliar a viabilidade agronômica e a rentabilidade econômica do consórcio do taro (Colocasia esculenta) com feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) de hábito de crescimento indeterminado. O experimento foi conduzido a campo, na horta do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, no período de outubro/2011 a junho/2012. Constou de sete tratamentos resultantes de três cultivos consorciados do taro com feijão-vagem, estabelecidos aos 0, 21 e 42 dias após o plantio do taro, e de quatro monoculturas, sendo três do feijão-vagem, estabelecidas nas mesmas épocas dos cultivos consorciados com o taro, e de uma do taro. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com quatro repetições. Como material propagativo, utilizou-se o clone 'Japonês' e o cultivar de feijão-vagem 'Estrela'. A determinação dos custos de produção dos cultivos foi realizada com base no custo operacional de produção. Todos os sistemas consorciados foram agronomicamente viáveis, por apresentar Uso Eficiente da Terra (UET) acima de um. Dentre esses destacam-se os consórcios do feijão-vagem com o taro implementados a 0 e 21 dias após o plantio do taro, por proporcionarem maior renda líquida e vantagem monetária corrigida.