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CORPO, MÍDIA E STATUS SOCIAL: reflexões sobre os padrões de beleza

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Abstract

Este artigo busca avaliar como as revistas femininas têm explorado o padrão de boa forma e beleza em seus conteúdos, relacionando-os ao status social. Propõe-se, a partir da análise da revista feminina Claudia, identificar separadamente os conteúdos relativos à beleza e os relativos à boa forma, verificar quantos deles relacionam beleza e/ou boa forma ao status social, e ainda analisar como o padrão de boa forma e beleza é construído por esse veículo de comunicação. Para a realização da pesquisa utiliza-se a análise de conteúdo, sendo o universo o conteúdo da revista dos meses de julho a novembro de 2009. A amostra são os conteúdos da editoria Beleza e Saúde, que foram divididas em duas categorias: boa forma e beleza, utilizando-se, deste modo, a análise categorial temática. A interpretação dos dados mostrou que dos 29 conteúdos analisados, 28 relacionam beleza e boa forma com status social, na medida em que induzem ao uso de técnicas e produtos de preços elevados para a obtenção de um corpo magro, bonito e saudável. Pode-se deduzir ainda que o padrão de beleza construído pela publicação está associando a magreza com saúde e status social.
Rev. Estud. Comun., Curitiba, v. 10, n. 23, p. 267-274, set./dez. 2009
(T)
CORPO, MÍDIA E STATUS SOCIAL:
reflexões sobre os padrões de beleza
(I)
Body, media and social status: reection about esthetic patterns
(A)
Gisele Flor
Jornalista, especialista em Design de Multimídia e Mestranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista, São Paulo,
SP - Brasil, e-mail: giseleor@gmail.com
(R)
Resumo
Este artigo busca avaliar como as revistas femininas têm explorado o padrão de boa forma e beleza em
seus conteúdos, relacionando-os ao status social. Propõe-se, a partir da análise da revista feminina Claudia,
identicar separadamente os conteúdos relativos à beleza e os relativos à boa forma, vericar quantos
deles relacionam beleza e/ou boa forma ao status social, e ainda analisar como o padrão de boa forma
e beleza é construído por esse veículo de comunicação. Para a realização da pesquisa utiliza-se a análise
de conteúdo, sendo o universo o conteúdo da revista dos meses de julho a novembro de 2009. A amos-
tra são os conteúdos da editoria Beleza e Saúde, que foram divididas em duas categorias: boa forma e
beleza, utilizando-se, deste modo, a análise categorial temática. A interpretação dos dados mostrou que
dos 29 conteúdos analisados, 28 relacionam beleza e boa forma com status social, na medida em que
induzem ao uso de técnicas e produtos de preços elevados para a obtenção de um corpo magro, bonito
e saudável. Pode-se deduzir ainda que o padrão de beleza construído pela publicação está associando a
magreza com saúde e status social.
(P)
Palavras-chave: Beleza. Revistas femininas. Mídia e inuência.
(P)
Abstract
This article aims to evaluate how women’s magazines have explored tness and beauty patterns in their contents,
relating them to the social status. Based on Claudia magazine, the present study identies separately the articles
related to beauty and tness, and then veries how many of them relate beauty or/and tness to social status. It’s
also intended to analyze how beauty and tness patterns are built by this means of communication. The research
takes the universe of magazine’s contents of July to November 2009. The sample are the contents of Beauty and
Health section, which were splited in two subject matter (tness and beauty), using the analysis category theme.
The data interpretation showed that 28 out of the 29 analysed contents relates beauty and tness to social status,
as they persuade to use technique and expensive products to have a thin, beautiful and healthy body.
(K)
Keywords: Beauty. Women’s magazines. Media and inuence.
ISSN 1518-9775
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
FLOR, G.268
Rev. Estud. Comun., Curitiba, v. 10, n. 23, p. 267-274, set./dez. 2009
As revistas femininas, em especial, são meios
essenciais para a criação dos padrões estético-corpo-
rais: reproduzem imagens de mulheres com o corpo
magro, reportagens com atrizes ou modelos contando
como conseguem manter a forma e a pele perfeita,
especialistas discursando sobre técnicas para “enxu-
gar” as gordurinhas, esteticistas trazendo as últimas
novidades sobre cosméticos e personal trainners falando
sobre exercícios que ajudam a reduzir medidas. I
Denise Bernuzzi de Sant’Anna (2004)
reitera a assertiva acima ao armar que as revistas
femininas são veículos ecazes na difusão social das
técnicas estéticas. De acordo com estudo realizado
por Jean Charles Zozzoli (2005), mais de três quartos
das capas desses veículos de comunicação dirigidas
às mulheres têm um título que se refere ao melhor
modo de mudar a aparência física.
Fundamentando-se nos pensamentos dos
autores anteriormente citados, na observação empírica
sobre o comportamento das mulheres com relação à
busca pelo corpo perfeito e na constatação de que as
revistas femininas vêm divulgando incessantemente
métodos e técnicas para atingir esta perfeição, sentiu-
se a necessidade de aprofundar os estudos sobre a
relação entre boa forma, beleza, sociedade e mídia.
Para atingir o patamar de boa forma e
beleza divulgado pelas revistas femininas é necessário
gastar dinheiro e tempo, mas não são todas as pessoas
que estão possibilitadas a investir nos cuidados com a
aparência, apenas as que possuem recursos nanceiros.
Inês Senna Shaw (2003) mostra como o con-
ceito de beleza não pode deixar de ser associado com
o poder nanceiro e cultural que o indivíduo ocupa na
esfera pública. Pierre Bordieu (2001) também explica
como o corpo e as práticas corporais estão investidos
de signicados que reetem a condição econômica do
indivíduo. Dessa forma, pode-se questionar se essas
mensagens apresentam conteúdos que relacionam
boa forma e beleza com status social.
Essas relações entre boa forma e beleza,
classe social e status, com o crescimento da indústria da
beleza e da sociedade capitalista-consumista, tornam-
se mais evidentes, pois não apenas os cosméticos e as
cirurgias, mas também dietas e exercícios adquirem um
valor simbólico de prestígio. Essa relação é sustentada
por Max Weber (1971), ao armar que nas sociedades
capitalistas a propriedade de alguns bens materiais e
as possibilidades de usá-los são determinantes para
classicar as pessoas em posições sociais.
A armação de Pierre Bordieu também
ajuda a compreender os processos de identicação
INTRODUÇÃO
A preocupação com a boa forma e beleza
acompanha a humanidade desde os primórdios. Na
Grécia antiga, valorizava-se o nu masculino e o homem
deveria mostrar um corpo forte, exercitado; na Idade
Média, ao contrário, o corpo não poderia ser exibido,
por causa do misticismo religioso. Já no m da Idade
Medieval começa um culto pelas formas corporais.
No Renascimento fazia parte da “disciplina” do
corpo aristocrático saber dançar e, consequentemente,
apresentar um corpo belo. Percebe-se que cada época
houve um estereótipo aceitável de boa forma e beleza.
No entanto, por trás da construção dos
padrões de boa forma e beleza esconde-se uma ideolo-
gia política, elitista e social. Na Alemanha nazista, por
exemplo, o discurso estético-corporal tinha a função
de exaltar o indivíduo que se adequava aos modelos
arianos e menosprezava os que não se enquadravam.
Contudo, esse fato pode ser observado ainda hoje
em nossa sociedade, pois a estética corporal serve
como divisor social, na medida em que exclui os que
não estão de acordo com os arquétipos difundidos
principalmente pelos meios de comunicação de massa.
Segundo Fischler (1995), o corpo constitui
nas sociedades contemporâneas uma conduta resul-
tante de coerções sociais. Basta lembrar as situações
de desprezo e desprestígio experimentadas pelos
obesos e pelas pessoas consideradas feias em nossa
sociedade. Essa discriminação se estende em todo
o âmbito social, seja para encontrar um emprego,
um namorado, ou nos comentários maldosos feitos
por outros indivíduos nas ruas e na própria mídia,
que ajuda a reforçar os estereótipos de (im)perfeição.
Atualmente, os meios de comunicação de
massa têm sido um importante veículo na divulgação
e construção dos padrões de beleza e de exclusão
social, pois, enquanto dispositivo de poder a serviço
de uma comunicação baseada nas fórmulas de mer-
cado, atualiza constantemente as práticas coercitivas
que atuam explicitamente sobre a materialidade do
corpo. A mídia, por meio dos discursos publicitários
e jornalísticos, mostra que para ser considerado belo
é necessário ter um corpo perfeito (lê-se magro), e
para obtê-lo qualquer sacrifício é válido.
Segundo Denise da Costa Oliveira e Aline
Almeida de Faria (2007), são as representações
midiáticas que têm o mais profundo efeito sobre
as experiências do corpo, reforçam a “autoestima”,
mostram o poder que a exaltação e exibição dele
assumem no mundo contemporâneo.
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mudança de estação inverno/primavera/verão. Outro
fator determinante para a opção do objeto foi o preço
do veículo de comunicação, considerado elevado para
as classes mais baixas – o quea põe como uma mídia
destinada a mulheres com algum poder aquisitivo,
embora não a torne inacessível às de classes baixas.
Stéphane Malysse (2002) relata que as
revistas femininas propagam o estilo de vida da
classe dominante, mas não deixam de ser lidas pelas
outras classes, por conta da circulação dos meios de
comunicação, uma vez que as mulheres que não têm
como pagar por elas podem encontrar essas publi-
cações em consultórios médicos ou odontológicos,
salões de beleza e nas casas das patroas.
Este estudo conduz à clássica discussão sobre
a relação mídia-sociedade no mundo contemporâneo,
na medida em que toca no debate acerca da autonomia
individual diante das imposições ditadas pelos meios
de comunicação. Tratar o tema boa forma e beleza
é também falar em corpo; consequentemente, falar
em corpo remete a questões sociais. Assim, pode-se
justicar a importância da pesquisa, pois busca com-
preender o papel da mídia na construção de padrões
estéticos e sua relação com status social e sociedade. O
estudo também é importante, uma vez que as pesquisas
sobre a relação mídia-sociedade contribuem para a
compreensão dos fenômenos sociais. Dessa forma,
torna-se necessário revelar o conteúdo sobre boa
forma e beleza difundido pelas revistas femininas, que
emoldura o comportamento das mulheres na busca
pelo corpo ideal e a sua relação com classe social.
Para realizar o presente estudo utilizou-se
para a coleta de dados a análise de conteúdo, com
uma abordagem qualitativa e categorial temática,
tendo como unidade de registro o tema boa forma
e beleza, e para a interpretação dos resultados, a
codicação foi realizada com base em um formulário
(Tabela 1) com os seguintes pontos:
de grupos sociais de acordo com padrões estabeleci-
dos culturalmente, pois para ele a disposição estética
constitui-se como “una expresión distintiva de una
posición privilegiada em el espacio social, cuyo valor
distintivo se determina objectivamente en la relación
com expresiones engendradas a partir de condiciones
diferentes” (BORDIEU, 1998, p. 53).
Featherstone (1999) reitera que os processos
de distinção social surgem com a cultura de consumo,
ao armar que
se é possível armar o funcionamento de uma
lógica do capital derivada da produção, talvez seja
possível armar também uma “lógica do con-
sumo”, que aponta para os modos socialmente
estruturados de usar bens para demarcar relações
sociais (FEATHERSTONE, 1999, p. 35).
Importante ressaltar que o estudo dos
padrões de boa forma e beleza está relacionado com
corpo e classe social. Segundo Foucault (1987), a
análise do corpo é elemento essencial para a compre-
ensão das estruturas sociais e suas relações de poder.
Desse modo, pretende-se com este estudo enriquecer
as análises sobre o efeito da mídia na sociedade e a
relação da boa forma e beleza com a classe social.
Assim, é necessário proceder a uma análise
crítica, com uma postura atenta e questionadora,
sobre as informações que são veiculadas nas revistas
femininas, problematizando os conteúdos sobre boa
forma e beleza.
A escolha do objeto de estudo, a revista femi-
nina Claudia, da Editora Abril, se deve ao fato de ser
destinada a este público, estar há 48 anos no mercado
e contemplar na linha editorial assuntos de interesse
feminino, tais como saúde, boa forma, sexo, família,
casa e beleza. A preferência pelo período analisado
pode ser justicada pelas edições abordarem com mais
ênfase a temática da beleza e boa forma por causa da
TABELA 1 - Formulário para análise de conteúdo sobre o tema forma e beleza
1 Temática do conteúdo Boa Forma Saúde Beleza
2 Conotação do conteúdo Mensagem ligada a status social Mensagem neutra Informativa
3 Conteúdo da mensagem Boa forma Saúde Beleza
4 Conteúdo da mensagem sobre boa forma Magreza e beleza Magreza e status social Magreza e saúde
5 Conteúdo da mensagem sobre saúde Status social Saúde Beleza
6 Conteúdo da mensagem sobre beleza Status social Saúde Beleza
7 Motivação dos cuidados com o corpo Status social Saúde Beleza
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de instrução, posse de objetos e os relacionamentos,
uma vez que os grupos e relacionamentos tendem a
ser formado por pessoas do mesmo padrão social.
Pierre Bordieu (1998) sustenta que o status
seria a possibilidade de desfrutar certos bens sim-
bólicos, pois estes determinam de certa maneira
a classe social que o indivíduo ocupa. Segundo o
sociólogo, os bens simbólicos são instrumentos de
conhecimento, comunicação e integração social,
podem ser apropriados pelo conjunto de um grupo
ou produzidos por especialistas, determinando o
status. Para Srour (1987), os bens simbólicos podem
ser livros, revistas, restaurantes, carros e até as men-
sagens que estão na mídia.
Na sociedade moderna o corpo também
adquire um valor simbólico, na medida em que ele
também é um identicador de classe social. Segundo
Goldenberg (2002), o corpo é um agente das dife-
renças sociais e, sendo “cultivado sob a moral da
boa forma, surge como marca indicativa de certa
virtude superior daquele que o possui. Um corpo
coberto de signos distintos que, mesmo nu, exalta
e torna visíveis as diferenças entre grupos sociais”
(GOLDENBERG, 2002, p. 10).
Bourdieu aponta para a linguagem corporal
como marcador de distinção social:
O corpo é a mais irrecusável objetivação do
gosto de classe, que se manifesta de diversas
maneiras. Em primeiro lugar, no que tem de
mais natural em aparência, isto é, nas dimensões
(volume, estatura, peso) e nas formas (redon-
das ou quadradas, rígidas e exíveis, retas ou
curvas, etc...) de sua conformação visível, mas
que expressa de mil maneiras toda uma relação
com o corpo, isto é, toda uma maneira de tratar
o corpo, de cuidá-lo, de nutri-lo, de mantê-lo,
que é reveladora das disposições mais profundas
do habitus (BOURDIEU, 2001, p. 188).
Para Malysse (2002), o “corpo natural”
é sinônimo do corpo social, na medida em que se
torna metáfora da sociedade, encarnando desigual-
dades sociais de acesso às construções corporais.
A armação de Pierre Bordieu (2001) torna mais
claros os argumentos de Malysse. Segundo o autor,
a sociedade capitalista e burguesa legitima seu poder
econômico-social por meio da criação de arquétipos
e produtos que contribuem para que haja uma nítida
delimitação entre ricos e pobres.
A escolha da análise de conteúdo se justica
pelo fato de ser indicada para detectar tendências
de noticiabilidade, agendamentos, enquadramentos,
descrever e classicar produtos, gêneros e formatos
jornalísticos, além de ajudar a entender o processo
de divulgação e recepção das mensagens.
DESCRIÇÃO DO OBJETO
A revista Claudia é uma publicação da
Editora Abril e está há 48 anos no mercado, abor-
dando o dia a dia da mulher, como relacionamentos,
as grandes mulheres que zeram história, família,
lhos, carreira, sucesso, dinheiro, moda, beleza, saúde,
etc., além de temas atuais. A mídia possui em média
190 páginas e está dividida nas seguintes editorias:
Família e Filhos, Casa e Consumo, Atualidade e Gente,
Beleza e Saúde, Moda, Emoções e Espiritualidade,
Sempre em Claudia, com um público-alvo composto
por mulheres de classe média alta, entre 25 e 45 anos,
que trabalham fora e tem uma vida familiar ativa.
Corpo como valor simbólico
Para que a pesquisa proposta seja desenvol-
vida, trabalha-se com os conceitos de classe social,
status, corpo, consumo, beleza, mídia e inuência.
Antes de entrar na questão do corpo, dene-
se primeiramente o que é classe social. Karl Marx
(1988) arma que as classes constituem a estrutura de
uma sociedade. O sociólogo não as dene com base
na renda ou na origem de seus rendimentos, mas de
acordo com a propriedade dos meios de produção.
Robert Henry Srour (1987) fornece a fun-
damentação, uma vez que classica as classes sociais
em camadas, ou seja, de acordo com a escala de ren-
dimento: altas, médias e baixas. A denição de status
social se torna necessária nesse ponto, pois é elementar
para que se possa entender o conjunto social, uma vez
que o conceito de status está intimamente relacionado
com classe social e sua relação com a sociedade.
Para Raymond Boudon e Baechler (1995),
status social diz respeito à honra social ou ao prestígio
que o indivíduo ocupa na sociedade, uma vez que está
fundado em juízos de valor e avaliações feitas pelos
membros da comunidade. O autor ainda ressalta que
uma forma de determinar o status de uma pessoa é
observar seus hábitos, estilo de vida, prossão, nível
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para a mídia, a mensagem da boa forma e beleza é algo
que produz lucro; desta forma o assunto é propagado
em todos os veículos de comunicação exaustivamente.
Produtos, técnicas, dietas e exercícios físicos são citados
exaustivamente como meios para obter o almejado
corpo perfeito, mas para conseguir atingir este patamar
é preciso consumir alguns destes dispositivos. Desse
modo, não é apenas a busca pela saúde e beleza que
faz com que pessoas gastem fortunas para ter o corpo
ideal, mas também pelo status que ele proporciona, uma
vez que ele é um meio de representação social.
Siqueira e Faria (2007) reiteram que nos
meios de comunicação de massa a experiência do corpo
se confunde com a de consumo. Segundo elas, “não é
o espetáculo do martírio que interessa (os suplícios e
as diculdades para alcançar o corpo modelo), mas o
espetáculo do resultado das transformações (a conver-
são do corpo), ou seja, o corpo convertido ao modelo
é o espetáculo” (SIQUEIRA; FARIA, 2007, p. 179).
Garrini (2007) enfatiza que os meios de
comunicação social colocam o consumo como agente
motivador para obter as formas físicas desejadas e
ainda exaltam os bens simbólicos destinados para o
tratamento da boa forma e beleza.
Fontanella (2005) diz que na cultura de con-
sumo o corpo serve como elemento para exclusão,
pois os indivíduos que não estão de acordo com os
estereótipos são colocados em situações de cons-
trangimentos, principalmente por meio da mídia.
Mídia e influência
A discussão sobre o poder de controle dos
meios de comunicação tem na reexão de Adorno
e Horkheimer (1985) e Harold Laswell (2006 apud
WOLF, 2006) as principais referências teóricas. Os
autores apontam a inuência das mídias, seus efeitos,
bem como sua relação com a indústria cultural, no
que se refere à difusão de valores estéticos impostos
à sociedade.
Adorno e Horkheimer (1985) armam que
os meios de comunicação de massa impõem padroni-
zação, e uma das táticas utilizadas para que as pessoas
sigam os modelos é utilizar estereótipos. Laswell (2006
apud WOLF, 2006), em uma de suas premissas, sustenta
que a comunicação na mídia é intencional e orientada
para obter um efeito nos indivíduos. Segundo Santos
e Serra (2003), o poder da mídia está em produzir
sentidos, projetá-los e legitimá-los.
Essa delimitação é também construída
através do consumo. Roland Barthes (1980) aponta
que o consumo possui duplo aspecto: satisfazer
às necessidades materiais e carregar estruturas e
símbolos sociais e culturais, aspectos que considera
inseparáveis. Guy Debord (1997) arma que o cará-
ter prestigioso de um objeto se deve a ter ele sido
colocado no centro da vida social.
A assimilação das mercadorias com prestí-
gio social e nanceiro é realizada com base no poder
econômico e cultural. Bordieu (1998) argumenta que
o capital econômico é também um capital cultural, e
os hábitos relacionados aos cuidados com o corpo e
os padrões estéticos permitem identicar a origem
social do indivíduo. O sociólogo explica que, com o
advento da sociedade de consumo, a diferenciação
de classe baseada nos conceitos de beleza se torna
ainda mais evidente.
A explicação de Featherstone (1995) é
fundamental para a compreensão da relação entre
sociedade de consumo e questão social, pois mostra
como as mercadorias proporcionam prestígio social
e serve para delimitar a classe social do indivíduo:
Usar a expressão cultura de consumo signica
enfatizar que o mundo das mercadorias e seus
princípios de estruturação são centrais para a
compreensão da sociedade contemporânea.
Isso envolve um foco duplo: em primeiro
lugar, na dimensão cultural da economia, a
simbolização e o uso de bens materiais como
“comunicadores”, não apenas como utilidades;
em segundo lugar, economia dos bens culturais,
os princípios de mercado oferta, demanda,
acumulação de capital, competição e mono-
polização – que operam dentro da esfera dos
estilos de vida, bens culturais e mercadorias
(FEATHERSTONE, 1995, p. 127).
Para Karl Marx (1988), a mercadoria é tam-
bém a forma elementar da riqueza capitalista, tem a
propriedade de satisfazer todas as necessidades do
ser humano e adquire um valor de uso quando se
realiza o consumo. Desse modo, pode-se compreen-
der como os cosméticos, as cirurgias, as academias
e os personal trainners, na sociedade capitalista da boa
forma e beleza, são utilizados para criar vínculos e/
ou para estabelecer distinções sociais.
Na mídia, a experiência do corpo se confunde
com a de consumo. Mike Featherstone explica que,
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de independência emocional e nanceira, força de
vontade e sedução.
É importante ressaltar que na edição 578
um especial com várias atrizes brasileiras, que dão
suas dicas de boa forma, saúde, alimentação e beleza,
e indicam técnicas, produtos e dietas que não são aces-
síveis a todas as mulheres, por terem preço elevado.
Após identicar os conteúdos relativos à beleza,
foram analisados os relacionados à boa forma, que
podem ser encontrados também na editoria Beleza
e Saúde. As dicas e reportagens sobre saúde, na
verdade, são mais sobre boa forma. Apenas uma
teve caráter informativo, sem nenhuma associação
com status social. Foram registradas apenas nove
mensagens sobre a temática, mas oito relacionando
boa forma com status social, ao indicar técnicas
para emagrecimento, dietas e exercícios físicos que
demandam investimentos não muito baixos.
Os conteúdos relacionados com boa forma
também mostraram a mesma tendência dos de beleza,
ou seja, a prossão das entrevistadas revela a mensa-
gem conotativa de condição social elevada, dicas de
atrizes e personal trainners com exercícios que exigem
uma academia para serem realizados. O cuidado com
a boa forma não é motivado apenas pela saúde, mas
também pela boa aparência física, o prestígio social
de ostentar um corpo magro, persistência, determi-
nação, e por se enquadrar no estereótipo ditado pela
mídia e aceito pela sociedade.
De acordo com a análise da codicação, pode-
se constatar que, além dos conteúdos estarem voltados
para a questão do status social, ainda há uma exaltação
à magreza: neste corpo magro há uma mulher forte,
determinada, bonita e rica, fato presente em todas as
edições analisadas. A apreciação dos conteúdos também
constatou que o veículo de comunicação é especialmente
voltado para mulheres das classes médias e altas.
No mês de outubro, por exemplo, na
editoria de Beleza, a chamada da matéria dizia “Os
melhores cremes preenchedores de rugas: produtos
que prometem diminuir rugas e sulcos, sem picadas e
sem dor”. Outra matéria que relaciona status social e
boa forma é “Três meses para entrar em forma”, na
edição de agosto. No conteúdo da reportagem são
dados conselhos para cada mês – dietas, tratamen-
tos estéticos e exercícios físicos –, mas todos estes
passos, além de exigirem disciplina, ainda requerem
dinheiro, uma vez que os métodos são de alto custo.
Outro ponto que merece destaque é a ques-
tão do consumo. Ao fornecer dicas sobre produtos
Para Castro (2001), os meios de comunica-
ção são importantes difusores de um ideal de beleza
a ser alcançado, na medida em que garante que a
temática esteja sempre presente, levando ao recep-
tor as últimas novidades sobre o assunto, ditando
e incorporando tendências, e as revistas femininas
são um dos meios.
Conforme Moraes (2006), as revistas femi-
ninas ensinam qual o corpo que as mulheres devem
ter e desejar, além de ensinar a atingir o ideal e como
utilizá-lo. Dessa forma, percebe-se que os modelos
de beleza que a sociedade tem atualmente são os
estipulados pela mídia, que é um corpo magro e bem
torneado, além dos seios e do bumbum volumosos para
as mulheres e um corpo musculoso para os homens.
ANÁLISE DA PESQUISA
Para realizar o presente estudo utilizou-se
uma pesquisa qualitativa com análise de conteúdo,
sendo o universo de pesquisa a amostra dos conte-
údos sobre beleza e boa forma da editoria Beleza
e Saúde publicados na revista Claudia entre julho a
novembro de 2009, que correspondem respectiva-
mente às edições 574, 575, 576, 577 e 578.
Primeiramente, foram identicados os con-
teúdos relativos à beleza em todas as cinco edições
da revista, e pôde-se constatar que há em média de
três a quatro matérias e dicas sobre o assunto em
cada edição. Dessa forma, somou-se um total de 20
conteúdos sobre a temática. A análise do quadro
analítico proposto para a codicação da pesquisa
mostrou que todos os 20 conteúdos estão relacio-
nados com status, pois apresentam uma mensagem
que relaciona beleza com posição social, ao indicar
produtos com preços elevados, técnicas com altos
custos para deixar a pele e o corpo mais bonitos e
saudáveis, além de dietas com alimentos também de
preços não acessíveis a todos.
A prossão das entrevistadas ainda revela
a mensagem conotativa de status social elevado, pois
muitas delas são mulheres com uma carreira sólida,
têm bons salários e educação até o terceiro grau. Suas
prossões também as associam ao status, tais como
advogadas, funcionárias públicas, jornalistas, dentistas
e atrizes. Os conteúdos mostram ainda que os cuida-
dos com a beleza são motivados para alcançar não
a “perfeição” física, mas também reconhecimento
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Desse modo, o presente trabalho se encerra
não com uma conclusão, mas sim com uma reexão
sobre o papel da mídia na construção de estereóti-
pos sociais, pois, com seus discursos, os meios de
comunicação contribuem para a estigmatização e o
preconceito contra quem não se enquadra nos padrões
ditados por eles mesmos, favorecendo ainda para a
baixa autoestima desses indivíduos e a segregação social
entre belos e feios, magros e gordos, ricos e pobres.
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f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) –
Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2005.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes,
1987.
para beleza, estética e nutrição, há ainda a conotação
do consumismo. Se a mulher deseja parecer com uma
atriz, ter o corpo, a pele e o cabelo de determinada
modelo, ela precisa usar o produto que a referida usa.
Dessa forma, percebe-se que a revista cons-
trói um padrão de boa forma e beleza centrado na
classe social que o indivíduo ocupa e no corpo que
ostenta, pois, ao recomendar técnicas e produtos de
preço elevado, está sugerindo que apenas as pessoas
com alto poder aquisitivo podem ser bonitas e magras,
pois elas têm condição para usufruir dos produtos
e o corpo saudável é o magro.
A forma como a revisa Claudia apresenta
os padrões de beleza, corpo magro e saudável,
reete na sociedade a concepção da construção
do estereótipo do que é belo. Dessa forma, prin-
cipalmente as mulheres buscam a qualquer preço
se adequar a este padrão; no entanto, algumas
técnicas ou dietas podem trazer consequências
graves para a saúde e até mesmo para o corpo, se
feitas de modo errado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise mostra que a mídia, por meio de seu dis-
curso, impõe na sociedade os padrões de beleza e boa
forma e ainda os relaciona com status social. Alguns
títulos fazem apologia ao desprezo do que está fora do
estereótipo, e, deste modo, muitos indivíduos passam
a acreditar nestes arquétipos e buscam a todo custo
atingir o corpo ideal para serem aceitos na sociedade.
Adorno e Horkheimer armam que quanto
mais forte cam os estereótipos, mais difícil para as
pessoas mudarem de opinião sobre determinado
assunto. Assim são com os padrões de boa forma
e beleza. A mídia repete incessantemente que ser
belo é ser magro e, implicitamente, ser belo, magro,
é ser de boa condição social, pois o indivíduo pode
pagar uma academia, fazer lipoaspiração, dieta e
comprar cosméticos caros. Dessa forma, o padrão
de beleza construído pela mídia pode ser resumido
em magreza e riqueza.
Além de enaltecer o corpo e fazer dele
distintivo de classe social, o discurso das revistas
femininas contribuem para que a indústria da beleza
aumente seus lucros e a sociedade continue ainda
mais consumista pois a cada dia surge um novo
creme, um novo redutor de estrias e celulites, uma
nova técnica para reduzir medidas.
FLOR, G.274
Rev. Estud. Comun., Curitiba, v. 10, n. 23, p. 267-274, set./dez. 2009
Recebido: 10/11/2009
Received: 11/10/2009
Aprovado: 19/11/2009
Approved: 11/19/2009
Revisado: 18/01/2010
Reviewed: 01/18/2010
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... A criação de padrões de beleza, a busca por uma perfeição da imagem corporal e a preocupação com a boa forma estão presentes na história da humanidade e em cada época percebe-se um estereótipo de beleza (Oliveira & Costa, 2021;Flor, 2009). Contudo, esses padrões de beleza escondem uma ideologia política, elitista e social, na qual a estética corporal funciona como um divisor social, uma vez que exclui aqueles que não se enquadram nos ideais de beleza difundidos culturalmente (Flor, 2009). ...
... A criação de padrões de beleza, a busca por uma perfeição da imagem corporal e a preocupação com a boa forma estão presentes na história da humanidade e em cada época percebe-se um estereótipo de beleza (Oliveira & Costa, 2021;Flor, 2009). Contudo, esses padrões de beleza escondem uma ideologia política, elitista e social, na qual a estética corporal funciona como um divisor social, uma vez que exclui aqueles que não se enquadram nos ideais de beleza difundidos culturalmente (Flor, 2009). Dessa forma, "nosso corpo é um signo imediatamente interpretável por todos de nossa adesão ao vínculo social, de nossa lealdade às regras da distribuição e da reciprocidade'' (Fischler, 1995, p. 71). ...
... Nesse sentido, o corpo constitui uma conduta resultante de coerções sociais, tendo como exemplos a discriminação e o desprezo que obesos e pessoas classificadas como menos atraentes sofrem em todo o âmbito social, seja na rua ou nas redes sociais, por meio de comentários maldosos, piadas e até mesmo exclusão social (Fischler, 1995;Flor, 2009). Shaw (2003, citado por Flor, 2009) afirma existir uma associação entre o conceito de beleza e o poder financeiro e cultural ocupado pelo indivíduo na esfera pública, havendo então uma relação do estudo dos padrões de beleza com o corpo e classe social. ...
Book
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Nós apresentamos neste livro pesquisas cujo objetivo foi verificar o efeito da leitura de histórias em quadrinhos (ou de eventos que ocorrem nessas histórias) sobre a avaliação de personagens fictícios, sobre a atitude dos participantes das pesquisas em relação aos personagens. Dois experimentos bônus, que avaliaram atitudes, mas não com histórias em quadrinhos, foram também descritos neste livro. O Experimento 11 apresentou objetivo similar, entretanto, ao invés de história em quadrinhos como variável independente, utilizou-se vídeos de influenciadores de redes sociais. O Experimento 12 investigou também o fenômeno da atitude, entretanto, utilizou um procedimento clássico na literatura, o procedimento de pareamento ao modelo. Nos experimentos de 1 a 11, a atitude foi medida utilizando-se Escalas de Diferencial Semântico. Os resultados encontrados corroboram resultados de pesquisas anteriores acerca da mudanças de atitudes, histórias em quadrinhos e paradigma de equivalência. / In this book, we present research whose objective was to verify the effect of reading comic books (or events that occur in these stories) on the evaluation of fictional characters, on the attitude of research participants in relation to the characters. Two bonus experiments, which assessed attitudes but not comic strips, are also described in this book. Experiment 11 had a similar objective, however, instead of comics as an independent variable, videos of social network influencers were used. Experiment 12 also investigated the attitude phenomenon, however, it used a classic procedure in the literature, the model matching procedure. In experiments 1 to 11, attitude was measured using Semantic Differential Scales. The results found corroborate the results of previous studies about changes in attitudes, comics and the equivalence paradigm.
... Os autores verificaram um discurso de culto ao corpo que se associa ao consumo, e as revistas propagam a ideia de que, para que se tenha saúde e felicidade, é necessário atingir o padrão de corpo perfeito estampado na capa das revistas. Flor (2009) analisou o conteúdo relacionado à beleza e boa forma em uma revista nacional no ano de 2009 e verificou que beleza e boa forma estão associadas a um elevado status social, já que para que se possa alcançar os modelos disseminados é necessário contratar serviços ou adquirir produtos com alto custo. A autora verificou que ser magra garante um bom status. ...
... Essa preocupação leva a uma acentuação das características físicas que levem a pessoa a se sentir atraente. A beleza física também é importante para atingir status social e os padrões físicos, especialmente corporais, são ditados cotidianamente nos meios midiáticos, que associam o corpo magro ou musculoso à saúde e bem-estar (Figueiredo et al., 2017;Flor, 2009;Goetz et al., 2008). ...
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Para as mulheres, na contemporaneidade, a magreza é o padrão mais desejado e a mídia tem um papel preponderante na sua (re)produção. Esta pesquisa teve o objetivo de compreender as relações estabelecidas entre as representações sociais da beleza e da saúde, os padrões de beleza socialmente construídos e as práticas corporais adotadas por mulheres. Para atingir tal objetivo, um questionário foi dispo-nibilizado em uma plataforma digital e compartilhado no Facebook. Responderam à pesquisa 130 mulheres com idades entre 17 e 62 anos e média etária de 29,9 anos. Os dados foram analisados por meio da análise lexicográfica e da estatística descri-tiva e relacional. Foi possível verificar que o padrão de beleza midiático, que valoriza o corpo magro, está relacionado às RS da saúde e da beleza; sendo que a busca do corpo magro se dá por meio da adoção de dietas alimentares.
... A dica e a opinião valem mais que a de um médico cirurgião; as receitas e as dietas malucas são mais corretas e eficientes que a de um nutricionista; sabem mais de medicamentos e cosméticos que um farmacêutico e os treinos para aumentar glúteos são melhores que de um educador físico. Deixaram-se, de fato, ser influenciados por esses falsos profissionais, já que eles apresentam o que a maioria quer: um milagre (FLOR, 2009 ...
... No fim, a preferência por estes tipos de profissionais é cada vez maior por eles proporcionarem mais resultados em um menor tempo. E, nesse caso, ser imprudente não é mais considerado um critério de exclusão, mas sim de inclusão na hora da escolha do profissional(FLOR, 2009). Na atualidade, há uma crescente preocupação em chegar ao corpo dos sonhos, esse processo, claro, impulsionado pela massificação da mídia. ...
... A auto percepção de Editora e-Publicar | ESTUDOS, PESQUISAS E PRÁTICAS EM CIÊNCIAS DA SAÚDE, Vol. 2, 2020. | 204 obesidade provoca transtornos a uma pessoa, pois, mesmo quem não apresenta sobrepeso, sente-se como se estivessem acima do peso, gerando assim insatisfação.JáFlor (2009)relata que a preocupação com o corpo está relacionada tanto com a saúde, como pelo que o corpo representa para a sociedade. Nesse contexto, a mídia tem grande papel como influente, para ganho ou perda do nível de satisfação que uma pessoa apresenta com seu corpo.As lamentações referentes à insatisfação com o corpo entre ambos os sexos se manifestam de forma diferente. ...
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Este trabalho objetivou identificar como a equipe multiprofissional, prepara o cuidador para lidar com pacientes oncológicos na assistência domiciliar e compreender as dificuldades e vantagens encontradas pela equipe multiprofissional do Serviço de Atendimento Domiciliar. Trata-se de uma abordagem qualitativa de caráter exploratório, onde a coleta de dados foi realizada por meio de roteiro de entrevista semiestruturada. Foram descritas 4 Categorias, a seguir: a) vínculo entre equipe multiprofissional e cuidador; b) treinamento para o cuidador; c) principais dificuldades e vantagens no cuidado domiciliar; d) contribuição na assistência domicilar a pacientes oncológicos. Constatou-se que a maioria desses cuidados paliativos em pacientes terminais busca proporcionar um ambiente de conforto e que uma equipe multiprofissional são fundamental para garantir a melhor qualidade de vida possível.
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Objetivo do estudo: O objetivo deste artigo é compreender como o padrão de beleza difundido pelas influencers digitais do Instagram afetam a autoestima e o comportamento de consumo de universitárias. Metodologia/abordagem: A pesquisa qualitativa e exploratória envolveu entrevistas semiestruturadas com estudantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV) que utilizam o Instagram. A análise de conteúdo resultou em duas categorias: influência do Instagram na autoestima e no consumo das entrevistadas. Principais resultados: Elementos como busca pelo padrão de beleza, comparação excessiva, uso prolongado do Instagram, aceitação de corpos semelhantes e impacto financeiro afetam a autoestima das entrevistadas. O comportamento de consumo é afetado pela ativação de necessidades, aumento do consumo de produtos divulgados, ativação de estímulos pelos anúncios segmentados e necessidade de pertencimento a grupos. Contribuições teóricas/metodológicas: Este estudo avança metodologicamente ao desmembrar categorias analíticas que revelam, com maior riqueza de detalhes, elementos relacionados à percepção de consumo feminino, que leva à intenção e ação de compra. Paralelamente, avança na literatura relacionada ao papel das influenciadoras digitais no consumo de produtos e serviços, apontando que a autoestima das universitárias é afetada positivamente e negativamente. Relevância/originalidade: Identificação de fatores subjacentes que influenciam concomitantemente a autoestima e o consumo de universitárias, para além do que a literatura da área apresenta. A originalidade também é destacada em um Framework Teórico e em um Framework Analítico, desenvolvido a partir do quadro teórico desenvolvido e dos resultados e discussões elencados no estudo.
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p>A vaidade, um dos sete pecados capitais do catolicismo, apresenta-se como uma das influências no comportamento do consumidor de cirurgias plásticas. Dentro desse contexto, o presente artigo traz uma discussão acerca da influência da vaidade no consumo, destacando inicialmente definições da vaidade em diferentes abordagens, dando suporte ao entendimento de que ela está relacionada com a aparência que o indivíduo apresenta à sociedade. Tendo em vista o significado do corpo frente à decisão de fazer uma cirurgia plástica, levanta-se a questão da influência da mídia sobre o corpo, já que este compreende a aparência da pessoa. Ademais, ressalta-se que a mídia dita padrões de beleza nos quais os indivíduos gostariam de se inserir. Através disso, as pessoas decidem fazer intervenções para adequar-se ao biótipo “ideal”. Efeitos do envelhecimento ou aspectos do corpo que não agradem a pessoa também agem como influenciadores em intervir cirurgicamente para ter a aparência desejada frente à sociedade. Através desta relação mídia – padrões de beleza – corpo – vaidade, tem-se a compreensão de que esta temática se torna relevante aos estudos que envolvam consumo e sociedade, tendo em vista que o consumo simbólico, conspícuo, o self estendido e o materialismo estão presentes nesta discussão.</p
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A contratação e valorização profissional são seguimentos presentes no mercado de trabalho ao longo da carreira de professores de Educação Física em processo de envelhecimento. Sendo necessário compreender se a atuação dos profissionais do fitness pode ser prejudicada em decorrência das mudanças corporais que o envelhecimento impõe. Tendo isso em vista, as principais perguntas selecionadas para nortear os objetivos deste estudo foram: Como ocorre o processo de contratação dos professores de Educação Física? Como é a valorização desse profissional ao longo dos anos de trabalho diante do processo de envelhecimento? Logo, teve-se como objetivo investigar sobre a contratação de professores de Educação Física em academias e como realiza-se a valorização profissional ao longo da carreira e processo de envelhecimento no trabalho. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, através de entrevistas semiestruturadas com 6 gestores de academias do Rio de Janeiro. Como resultados, observa-se que os gestores preconizam nos candidatos o conhecimento técnico, o estereótipo de corpo, a postura profissional, a pontualidade e a acessibilidade. Em relação à valorização profissional, ela deveria acontecer por meio da projeção salarial por tempo de trabalho, existe o caso da hora aula mais bem paga atrelada à qualidade do profissional, há oferecimento de outras modalidades para aproveitamento do professor, o reconhecimento da experiência adquirida e em alguns casos o gestor acredita que a valorização parte do próprio profissional. O estereótipo de corpo pesa na contratação dos profissionais com idade elevada. Não há por parte dos gestores uma visão de diversidade, que poderia contribuir na valorização de uma equipe composta por profissionais com diferentes idades, o que contribuiria para um atendimento a uma igual diversidade de alunos. As academias parecem atender a um grupo muito seleto, de jovens.
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O trabalho problematiza percepções de estudantes sobre a relação entre corpo, mulher e mídia. A perspectiva culturalista e os estudos de gênero foram adotados como aporte teórico para a investigação. O objetivo foi compreender, a partir de suas narrativas, como as representações midiáticas afetam o olhar das estudantes a respeito de seus corpos, bem como qual o impacto que atribuem às influências da mídia na produção do corpo da mulher. A pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, utilizou-se de grupo focal com seis graduandas, as quais se autorrepresentavam como mulheres e cursavam o último período do curso de formação inicial em Educação Física, em uma instituição de ensino superior pública do interior do estado de Minas Gerais. Identificou-se que, para as colaboradoras, “ser” mulher se conecta com representações sociais e que as influências da mídia sob seus corpos se estabelecem na a construção de padrões corporais esperados socialmente para as mulheres. De acordo com as estudantes, tal fato produz sentimentos negativos com relação ao próprio corpo, estabelece classificações e hierarquizações entre as mulheres e impacta nas possibilidades de reconhecimento profissional, no que se refere à futura inserção no mercado de trabalho, especialmente quando da atuação como profissional liberal, em acadêmicas de ginástica e musculação.
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O texto traz reflexões sobre alguns motivos culturais e mercadológicos para a quase nula presença de negras e orientais nas capas de revistas brasileiras voltadas para o público feminino. O artigo parte de um “mito” vigente na Publicidade segundo o qual “negro não vende” e, buscando desconstruir essa crença, apresenta uma enquete para averiguar se realmente o público feminino rechaça personalidades negras e orientais nas capas de revistas. Foram entrevistadas 100 universitárias da Universidade Federal de Minas Gerais e o resultado aponta que não há rejeição de personalidades orientais e negras nesta amostra em particular. Por fim, o texto cogita se não seriam as redações das grandes publicações que impõem modelos caucasianas atendendo a solicitações de mercado.
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O artigo apresenta o caminho e conclusões de uma pesquisa desenvolvida na ENSP/Fiocruz, como parte do curso de mestrado, sobre a relação entre o adolescente e a obesidade como construção simbólica e discursiva na revista Capricho. Utilizando a metodologia da análise do discurso e considerando os debates sobre o tema no campo, enfatizamos as tensões e paradigmas que envolvem a mídia, os profissionais de saúde e o receptor que pretende modificar uma situação estética e sociossanitária que o aflige. Observamos que a obesidade é transformada em tema de disputa entre profissionais médico-sanitários e profissionais midiáticos se constituindo em parte das lutas que envolvem diversos campos científicos, simbólicos e sociais.
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Com base em uma visão transdisciplinar, o objetivo deste artigo é refletir sobre o modo como a mídia impressa representa e propaga conceitos de corpo feminino saudável. Foram feitas leituras de estudos sobre corpo e consultas aos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Seis revistas brasileiras voltadas para o público feminino – da segunda metade do século XX e início do XXI – foram selecionadas para ilustrar as mudanças nos conceitos de corpo saudável e na abordagem desses conceitos. Palavras-chave: Revistas femininas; representações sociais; corpo; cultura. Abstract From a transdisciplinary perspective, the objective of this article is to ponder about the way the printing-press represents and propagates concepts of women’s healthy bodies. Readings of studies about the body were made as well as consultations to the archives of the Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro National Library). Six Brazilian magazines written for women – published during the 20th century and the beginning of the 21st century – were chosen to exemplify the changes in the concepts of healthy body. Keywords: Women’s magazines; social representations; body; culture.
Do corpo desmedido ao corpo ultramedido: reflexões sobre o corpo feminino e suas significações na mídia impressa
  • S P F Garrini
  • Congresso
  • De
  • Da Mídia
GARRINI, S. P. F. Do corpo desmedido ao corpo ultramedido: reflexões sobre o corpo feminino e suas significações na mídia impressa. In: CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 5., 2007, São Paulo. Anais... São Paulo: Intercom, 2007.
Cultos e enigmas do corpo na história
  • D B Sant'anna
SANT'ANNA, D. B. Cultos e enigmas do corpo na história. In. STREY, M. N.; CABEDA, S. T. L. (Org.).
Corpos de mulheres enquanto marcas na mídia: recortes
  • J-Ch J Zozzoli
ZOZZOLI, J-Ch. J. Corpos de mulheres enquanto marcas na mídia: recortes. In: BRANDÃO, I. (Org.). O corpo em revista. Maceió: Edufal, 2005. p. 47-82.
Rio de Janeiro: Zahar
  • Ensaios De Sociologia
Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. p. 211-221.
Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade
  • C Fischler
  • Obeso
FISCHLER, C. Obeso benigno, obeso maligno. In: SANTANNA, D. B. (Org.). Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995. p. 68-80.
Tratado de sociologia
  • R Boudon
BOUDON, R. et al. Tratado de sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
Cultura de consumo e pósmodernismo. São Paulo: Studio Nobel
  • M Featherstone
FEATHERSTONE, M. Cultura de consumo e pósmodernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.