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ARTIGO ORIGINALREVISÃO DE LITERATURA
Recebido em
10/7/2015
Aprovado em
10/11/2016
DOI: 10.1590/0047-2085000000142
1 Universidade Fe deral do Pará (UFPA).
Endereço para cor respondência: Paula Danielle Palheta Car valho
Núcleo de Teoria e Pesquis a do Comportamento,
Universidade Fe deral do Pará
Av. Augusto Corrêa, 1
66075-110 – Belém, PA, Brasil
E-mail: pauladaniellecarvalho@g mail.com
Palavras-chave
Qualidade de vida,
tratamento não
farmacológico, doença de
Alzheimer.
Tratamentos não farmacológicos que melhoram
a qualidade de vida de idosos com doença
de Alzheimer: uma revisão sistemática
Non-pharmacological treatments that improve the quality of
life of elderly with Alzheimer’s disease: a systematic review
Paula Danielle Palheta Carvalho1, Celina Maria Colino Magalhães1, Janari da Silva Pedroso1
RESUMO
Objetivo: Realizar uma revisão sistemática sobre quais são os tratamentos não farmaco-
lógicos que ajudam a melhorar a qualidade de vida (QV) de idosos com doença de Alzhei-
mer (DA) mais descritos na literatura nos últimos dez anos (2006-2016). Métodos: Revisão
sistemática da literatura realizada nas três primeiras semanas de janeiro de 2016, nas bases:
Capes, SciELO, Web of Science, PubMed, Lilacs e Scopus. Foram utilizadas duas combina-
ções de termos: (1) predictors AND quality of life AND elderly AND Alzheimer’s disease e (2) non-
pharmacological treatment AND quality of life AND Alzheimer’s disease. Foram encontrados
240 artigos e analisados o título e o resumo dos artigos e, quando necessário, o próprio
texto. Do total de 240 artigos, apenas quatro trabalhos preencheram os critérios de in-
clusão e foram selecionados. Resultados: Os resultados mostraram que os tratamentos
não farmacológicos mais descritos, no referido período, visando melhorar a QV de idosos
com DA, foi a reabilitação, tanto cognitiva quanto multidisciplinar. Conclusão: As técni-
cas de reabilitação mostraram-se capazes de melhorar a QV de idosos com doença de
Alzheimer leve.
ABSTRACT
Objective: To carry out a systematic bibliographical review, between 2006 and 2016, about
the most cited non-pharmacological treatments that improve the quality of life (QOL) of
elderly with Alzheimer’s disease (AD). Methods: The study was to realize in Capes, SciELO,
Web of Science, PubMed, Lilacs and Scopus databases. The search was to carry out in the
three rst of January 2016. The following terms combinations were used: (1) predictors AND
quality of life AND elderly AND Alzheimer’s disease (in February) and (2) non-pharmacological
treatment AND quality of life AND Alzheimer’s disease. The searches resulted in 240 articles.
Four articles were selected after title and abstract inspection. Results: Multidisciplinary or
cognitive rehabilitation was the most cited non-pharmacological treatment that promote
the QOL in elderly with AD. Conclusion: The rehabilitation techniques presented capable
of improving the QOL in elderly with mild Alzheimer’s disease.
Keywords
Quality of life, non-
pharmacological
treatments, Alzheimer’
disease.
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REVISÃO DE LITERATURA
J Bras Psiq uiatr. 2016;65(4):334-9.
Tratamentos não farmacológicos
INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde1, qualida-
de de vida (QV) é um conceito muito amplo que incorpora de
uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu esta-
do psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais,
suas crenças e sua relação com características proeminentes
no ambiente, e inclui ainda a percepção que o indivíduo tem
de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do
sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações. Partindo dessa deni-
ção, pode-se compreender a QV como um conceito subjeti-
vo em que a autopercepção do indivíduo é levada em con-
sideração, e também como um conceito multidimensional,
visto que envolve vários aspectos da existência humana.
Em relação à QV do idoso, há uma falta de consenso so-
bre quais são os determinantes de um bom envelhecer, de
um envelhecer com qualidade, sendo um importante fator
para isso a heterogeneidade sobre a percepção que o pró-
prio idoso tem do processo de envelhecimento2. Apesar des-
sa falta de consenso, alguns fatores relevantes a serem con-
siderados quando se fala em QV do idoso são de natureza
psicológica, biológica e socioestrutural, como longevidade,
saúde biológica, saúde mental, satisfação com a vida, con-
trole cognitivo, competência social, produtividade, ecácia
cognitiva, status social, renda, continuidade de papéis fami-
liares e das relações com amigos3.
Alguns autores consideram ainda como relevantes nesse
processo do bom envelhecer e, consequentemente, uma me-
lhor QV a autonomia e a independência, sendo a autonomia o
controle e a capacidade de tomar as próprias decisões quanto
ao seu modo de vida, com regras e preferências próprias, e a in-
dependência como a capacidade de executar funções da vida
diária e viver sem a ajuda de outros1,4-6. Vale ressaltar que, mes-
mo havendo divergências sobre quais os determinantes de
um envelhecimento saudável e uma boa QV, os pesquisadores
concordam que essa é uma questão complexa que engloba
questões governamentais, de saúde pública, variáveis socioe-
conômicas, culturais e pessoais. Portanto, a QV em idosos per-
passa por todo o universo que é a sociedade e seus valores.
Quando se trata de idosos que possuem algum acome-
timento neurológico, como é o caso das demências, a ava-
liação da QV é de fundamental importância, uma vez que
fornece dados que auxiliam a identicar quais as demandas
do idoso e, de posse disso, a equipe de saúde e cuidadores/
familiares possam programar e implementar práticas que
promovam a QV desses idosos. Novelli7,8 traduziu, adaptou e
validou para o Brasil a Quality of life-AD (QOL-AD), uma escala
desenvolvida especicamente para avaliação de idosos com
doença de Alzheimer (DA) por Logsdon et al.9, mostrando
a importância e a necessidade de ter disponível um instru-
mento que avalie as especicidades da doença e as percep-
ções tanto do idoso quanto do cuidador sobre ela.
Qualidade de vida na doença de Alzheimer
A DA, por ser uma doença neurodegenerativa progressiva,
traz ao indivíduo uma gama de modicações tanto neu-
rológicas quanto cognitivas e comportamentais. Uma vez
que a doença é diagnosticada, o tratamento farmacológico
é iniciado na tentativa de melhorar seus sinais e sintomas.
Atualmente, o tratamento farmacológico padrão tem sido
a prescrição de drogas inibidoras da acetilcolinesterase que
atuam diminuindo o processo de envelhecimento celular,
retardando, assim, a evolução da doença10.
Além do tratamento farmacológico, é recomendado tam-
bém que o idoso receba tratamentos não farmacológicos,
uma vez que a DA é difícil de manejar apenas com o uso de
medicação11. A estimulação constante do idoso com DA com
atividades físicas e mentais, participação em atividades sociais
com outras pessoas, exercícios de memória e mesmo afaze-
res domésticos são estratégias relevantes na melhora de sua
QV10. Uma vez que a DA acarreta alterações de humor, dicul-
dade no desempenho das atividades de vida diária (AVDs),
perda de autonomia e independência, distúrbios compor-
tamentais e sobrecarga ao cuidador, técnicas voltadas para
minimizar essas alterações tornam-se necessárias para uma
boa QV tanto do idoso quanto de sua família e cuidadores.
Este trabalho tem como objetivo expor os tratamentos
não farmacológicos mais utilizados para melhorar a QV do ido-
so com DA por meio de uma revisão sistemática da literatura.
MÉTODOS
Foi realizada uma revisão sistemática nas bases PubMed, Li-
lacs, Scopus, SciELO e Portal Capes referente aos últimos dez
anos, 2006 a 2016. A busca foi realizada na primeira e segun-
da semana de janeiro de 2016 com duas combinações de
descritores: (1) predictors AND quality of life AND elderly AND
Alzheimer’s disease e (2) non-pharmacological treatment AND
quality of life AND Alzheimer’s disease. Ao todo, foram encon-
trados 240 trabalhos.
Os critérios de inclusão nesta revisão foram: 1) tratar-se
de artigos empíricos revisados por pares; 2) estar escrito nos
idiomas português ou inglês; 3) tratar-se de trabalhos que te-
nham usado intervenções para a melhora da QV e 4) mensu-
rar diretamente a QV por meio de instrumentos especícos.
Os critérios de exclusão foram: 1) tratar-se de artigos em-
píricos revisados por pares; 2) trabalhos escritos em outras
línguas que não o português e inglês; 3) artigos teóricos rela-
cionados ao tema; 4) artigos não disponíveis gratuitamente;
5) outros tipos de trabalho como resenhas e revisões e 6) es-
tudos que não utilizaram instrumentos especícos para ava-
liação da QV.
Levando-se em consideração os critérios de inclusão e ex-
clusão, dos 240 artigos encontrados, apenas quatro trabalhos
foram selecionados para esta revisão, conforme a Figura 1.
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J Bras Psiq uiatr. 2016;65(4):334-9.
Carvalho PDP et al.
Figura 1. Fluxograma demonstrando o número de artigos por base de dados, total de artigos, número de artigos excluídos e
número de artigos selecionados.
Capes
60 estud os
SciELO
2 estudos
Total de estud os
240
Estudos excluídos
236
Estu dos
selecionados
4 artigos
Outros ti pos de trabalho que nã o artigos – 15
Temas não relacio nados – 198
Outras lí nguas – 12
Artigo s teóricos – 6
Não disponí veis – 3
Sem medida direta de Qualidade de Vida – 2
Web of Science
11 e stu dos
PubMed
73 estudo s
Lilacs
39 estud os
Scopus
55 estu dos
RESU LTAD OS
Tratamentos não farmacológicos da doença de
Alzheimer
Na Tabela 1 estão listados os artigos selecionados e seus res-
pectivos dados mostrando quais os tratamentos não farma-
cológicos utilizados para melhorar a QV na DA descritos na
literatura nos últimos dez anos.
Os dados dos estudos mostram que: 1) todos os tra-
balhos foram realizados com idosos em estágio leve da
DA; 2) Apenas um estudo foi realizado em instituição de
longa permanência12; 3) Nos quatro estudos, os idosos
possuíam escolaridade média a alta (6 anos a 14 anos de
escolaridade).
A respeito dos instrumentos, todos utilizaram o Mini-
-Exame do Estado Mental (MEEM) para avaliação das funções
cognitivas e instrumentos para avaliação de sintomas depres-
sivos (Escala de Depressão Geriátrica – GDS; Minimum data
set depression rating scale; Patient health questionnaire – PHQ-9);
e todos utilizaram também escalas de avaliação direta de QV
(Escala Autorreferida de Qualidade Vida – SRQoL; Cornell-
-Brown QOL; Short Form-8 – SF-8 e Quality of life-Alzheimer’s
disease – QOL-AD). Além disso, dois dos estudos11,13 utilizaram
escalas de avaliação de Atividades de Vida Diária (AVDs).
Tabela 1. Estudos mostrando os tratamentos não farmacológicos descritos na literatura nos últimos dez anos
Estudo Autor Participantes Objetivos Instrumentos utilizados Principais resultados Conclusões
1Azcur ra DJLS 135 idosos com doença
de Alzheimer leve
institucionalizados
Investiga r se um programa
especíco de reminiscência
está ass ociado com níveis
mais altos de qualidade
de vida em residentes
com doença de Alzheimer
em instit uições de longa
permanência
Avaliação da qualidade de
vida: Esc ala Autorreferid a de
Qualidade de Vida (SRQoL)
Melhora signicativa da
qualidade de vida no grupo
que recebe u a terapia de
reminiscência, com aumento
da média na SRQ oL, tanto 12
semanas quanto seis meses
após a intervenção
A terapia de reminiscência
usando uma a bordagem da
história de vida de idosos
com doença de Alzheimer
parece ser u ma opção
terapêutica conável e
ecaz para pacientes com
doença de Alzheimer, com
efeitos promissores sobre a
qualidade de vida
2Buettner LL
et al.
77 idosos com doença de
Alzheimer leve residentes na
comunidade
Apresent ar o impacto de dois
programas de estimulação
cognitiva sobre apatia,
depressão, função executiva,
cognição e qualidade
de vida em um gr upo
de participantes quatro
semanas após a intervenção
Avaliação da Qualidade de
Vida: Cornell-Brown QOL
Aumento signicativo da
qualidade de vida no grupo
tratamento (que passou
pela intervenção focada
na cogniçã o) em relação
ao grupo controle (que
participou de um programa
psicoeducacional sobre saúde
do cérebro)
O programa de atividades
mentalmente estimulante
mostrou-se capaz de
melhorar a qualidade de vida
de idosos com doença de
Alzheimer em estágio inicial
Continua
337
REVISÃO DE LITERATURA
J Bras Psiq uiatr. 2016;65(4):334-9.
Tratamentos não farmacológicos
Estudo Autor Participantes Objetivos Instrumentos utilizados Principais resultados Conclusões
3Viola LF et al. 41 idosos co m DA leve Avaliar os efe itos de um
programa de reabilitação
multidisciplinar sobre a
cognição, qualidade de vida e
sintomas neuropsiquiátricos
em paciente s com doença de
Alzheimer leve
Avaliação da qualidade de
vida: Escala de Qualidade de
Vida na Doen ça de Alzheimer
(EQV-DA)
O grupo experimental que
recebeu o pr ograma de
reabilitação multidisciplinar
obteve aumento signicativo
da qualidade de vida,
indicando melhora desta em
relação ao grupo controle
que não recebeu intervenção
O programa multidisciplinar
de estimu lação mostrou se r
benéco para pacientes com
doença de Alzheimer leve,
melhorando, entre outros,
a qualidade de vida desses
idosos
4Hattori H e t al. 39 idosos com DA le ve Administr ar e avaliar a
efetividade da arteterapia
no tratamento da demência
de paciente s com doença de
Alzheimer
Avaliação da Qualidade de
Vida: Shor t Form 8 (SF-8)
Melhora signicativa da
qualidade no grupo que
participou das atividades
de colorir e d esenhar em
comparação ao grupo
controle cuja atividade era
fazer cálculos
A arteterapia mostrou-se
efetiva e m melhorar a
qualidade de vida de idosos
com doença de Alzheimer
leve
DISCUSSÃO
A DA é uma condição neurodegenerativa progressiva que
compromete a autonomia, a independência, as AVDs e, con-
sequentemente, a QV de idosos que são acometidos por ela.
Nesse sentido, além do clássico tratamento farmacológico,
estratégias não farmacológicas de tratamento devem tam-
bém ser utilizadas com os medicamentos na tentativa tanto
de diminuir a utilização e/ou dose destes e, consequente-
mente, seus efeitos colaterais, como também de aumentar
a QV dos pacientes com DA, uma vez que tais estratégias
melhoram os sintomas comportamentais e psicológicos
da demência (BPSDs do inglês Behavioral and Psychological
Symptoms of Dementia). Este trabalho teve como objetivo ex-
por os tratamentos não farmacológicos mais utilizados para
melhorar a QV do idoso com DA descritos na literatura nos
últimos dez anos. Nos trabalhos selecionados para essa revi-
são, a reabilitação tanto cognitiva quanto multidisciplinar foi
o tratamento mais utilizado, aparecendo em três dos quatro
estudos selecionados12-14. A arteterapia apareceu em apenas
um estudo como intervenção principal a ser investigada11,
porém ela também foi utilizada no estudo de Viola et al.14
como parte da reabilitação multidisciplinar empregada. Em
ambos os estudos, foi uma técnica que resultou em efeitos
positivos sobre a QV11,14.
No estudo 115, empregou-se um programa de reminis-
cência em residentes de uma Instituição de Longa Perma-
nência (ILP) com DA leve. Os idosos foram separados em três
grupos: Grupo Intervenção, que recebeu a terapia de remi-
niscência em pares por meio de fotos, vídeos, recortes de
jornais e era incentivado pelos coordenadores do grupo a
compartilhar suas memórias com seus pares; Grupo Controle
Ativo, que recebeu aconselhamentos e contatos sociais in-
formais estruturados; e Grupo Controle Passivo, que recebeu
contatos sociais não estruturados. As sessões, em todos os
grupos, ocorreram duas vezes na semana por doze semanas.
A avaliação da QV dos participantes foi mensurada antes,
doze semanas e seis meses após a intervenção. O instrumen-
to de avaliação da QV foi a Escala Autorreferida de Qualidade
de Vida (SRQOL). Os resultados mostraram que houve dife-
rença signicativa entre os três grupos, e no Grupo Interven-
ção a QV aumentou tanto nos doze quanto nos seis meses
após o tratamento com a técnica de reminiscência.
O estudo 212 teve como objetivo apresentar o impacto
de dois ensaios controlados de estimulação cognitiva so-
bre apatia, depressão, cognição, funções executivas e QV
em idosos com DA leve, com quatro semanas de interven-
ção. Foram utilizados dois grupos: Grupo MSA (Mentally Sti-
mulating Activity Program), que realizou tarefas focadas em
atenção, orientação, concentração, memória de curto prazo
e organização de pensamento; e Grupo SS (Structured Early-
-Stage Social Support Program), que recebeu psicoeducação
informativa sobre saúde do cérebro, no qual havia discus-
sões grupais e suporte emocional. As sessões ocorriam 1h/
dia, duas vezes na semana durante quatro semanas. O ins-
trumento de QV utilizado foi a escala Cornell-Brown QOL. Os
dados obtidos mostraram aumento signicativo da QV no
Grupo MSA em relação Grupo SS, após as quatro semanas
de intervenção.
O estudo 313 avaliou os efeitos de um programa de rea-
bilitação multidisciplinar sobre cognição, QV e sintomas
neuropsiquiátricos em pacientes com DA leve. Os idosos
foram separados em dois grupos: Grupo Experimental, cuja
reabilitação foi sobre atenção, memória, orientação espacial
e temporal, autoadaptação aos prejuízos cognitivos, treino
cognitivo computadorizado, terapia da linguagem, terapia
ocupacional, arteterapia, treino físico, sioterapia e estimu-
lação cognitiva com leitura e jogos lógicos; e Grupo Controle,
que recebeu apenas cuidados ambulatoriais padrão e visitas
mensais à clínica de memória. O programa ocorria 5h/dia,
duas vezes na semana, durante quatro semanas. Neste estu-
do, foi utilizada a Escala de Qualidade de Vida na Doença de
Alzheimer (QOL-AD). Os resultados mostraram que o Grupo
Experimental, que recebeu a intervenção multidisciplinar,
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Carvalho PDP et al.
obteve aumento signicativo no escore da escala de QV em
comparação ao Grupo Controle.
No estudo 416 foi avaliada a utilidade da arteterapia,
comparando-a com treino de cálculos em pacientes com
DA leve. Os grupos foram separados em arteterapia, em
que as tarefas eram colorir e desenhar; e Grupo Controle,
que realizou cálculos simples de adição e multiplicação.
A QV foi avaliada por meio do SF-8 (Short Form-8), que se
trata de um instrumento especíco para avaliação da QV.
As intervenções foram realizadas 1 vez na semana durante
12 semanas. Os resultados mostraram que houve melhora
signicativa no SF-8 no Grupo Arteterapia em relação ao
Grupo Controle.
A reabilitação cognitiva busca melhorar, de modo mais
especíco, as funções cognitivas em seu nível mais neurop-
sicológico, e consequentemente a QV do idoso, uma vez
que melhora suas condições decitárias17. Já a reabilitação
multidisciplinar e/ou neuropsicológica busca a melhora
biopsicossocial do indivíduo, atuando sobre vários aspectos
desse indivíduo, em nível cognitivo, físico, de relacionamen-
tos sociais e AVDs15. Nesse sentido, a reabilitação neuropsi-
cológica tem mostrado resultados positivos tanto sobre a
cognição quanto na QV de idosos com DA (De Vreese et al.16
apud Ávila15).
Ressaltamos que todos os trabalhos selecionados nesta
revisão utilizaram instrumentos especícos de avaliação de
QV, embora haja muitos estudos que a avaliam fazendo infe-
rências a partir de dados obtidos com outros instrumentos.
Não foi encontrada uma ampla variedade de estudos inves-
tigando tratamentos não farmacológicos ecientes em me-
lhorar a QV de idosos com DA, e uma justicativa plausível
para o baixo número de artigos incluídos nesta revisão é que
a maioria dos estudos encontrados (nesta e em outras revi-
sões realizadas pela pesquisadora), investigando o papel de
intervenções não farmacológicas sobre a QV, foram estudos
que não mensuraram diretamente essa variável, fazendo-o
por meio de instrumentos como o MEEM, as Escalas de Ava-
liação de Sintomas Depressivos e de AVDs, entre outros.
Uma vez que a QV é composta por fatores de naturezas
psicológica, biológica e socioestrutural, como longevidade,
saúde biológica, saúde mental, satisfação com a vida, con-
trole cognitivo, competência social, produtividade, ecácia
cognitiva, status social, renda, continuidade de papéis fami-
liares e das relações com amigos3, as intervenções multidis-
ciplinares parecem ser as mais adequadas quando se trata
de DA. Uma vez que não há cura nem modos de regredir a
doen ça, a melhora do paciente é realizada por meio da me-
dicação, da reabilitação cognitiva e da informação sobre a
doença, bem como o suporte dado por familiares e cuidado-
res15. Nesse sentido, os familiares sempre devem ser esclare-
cidos e encorajados a possibilitar o tratamento multidiscipli-
nar do idoso com DA, que oferece benefícios e melhoras no
estado geral do paciente.
Embora haja divergências sobre a efetividade de trata-
mentos não farmacológicos na DA, acredita-se que o tra-
tamento mais adequado para a melhora dos sintomas da
doença seja a combinação da medicação com estratégias
não medicamentosas, visto que há grande variedade de sin-
tomas psicológicos, comportamentais e cognitivos que não
respondem às medicações comumente utilizadas.
CONCLUSÃO
A complexidade dos sintomas na DA faz tornarem-se ne-
cessários tratamentos alternativos aos medicamentosos,
visto que os sintomas comportamentais e psicológicos da
demência tornam-se difíceis de manejar apenas com farma-
coterapia.
Os tratamentos não farmacológicos mais utilizados nos
últimos dez anos para a melhora da QV de idosos com DA,
de acordo com esta revisão, foram a reabilitação cognitiva/
neuropsicológica.
CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS
Paula Danielle Palheta Carvalho – Realização da revisão
sistemática e escrita do manuscrito.
Celina Maria Colino Magalhães e Janari da Silva Pe-
droso – Revisão do manuscrito, contribuições teóricas, su-
gestões de melhoramento e aprovação da versão nal.
CONFLITOS DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conitos de interesse.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos uns aos outros por todos o empenho na escri-
ta e revisão deste manuscrito, bem como a Capes pelo nan-
ciamento do trabalho.
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