ArticlePDF Available

A educação superior no Brasil diante da mundialização do capital

Authors:

Abstract

The paper discusses the process of expansion of Brazilian higher education, considering the demands of contemporary monopoly capitalism of financial dominance. The text is an exploratory study based on literature and document analysis of converging problems that are necessary to understand the subject by adopting a perspective of analysis that combines quantitative and qualitative aspects. In sequence, the paper discusses the capital globalization process under the financial dominance. The paper discusses how that process affects the Brazilian state and how it has oriented the expansion of higher education in recent decades in Brazil, considering the public and private sectors. Production of commodified knowledge has received a special attention as it has a significant impact in the university institutional culture.
205
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL DIANTE DA
MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL
Deise Mancebo*
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, Brasil
João dos Reis Silva Júnior**
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP, Brasil
Daniel Schugurensky***
Arizona State University, Tempe - Arizona, EUA
RESUMO: O artigo discute o processo de expansão da educação superior
brasileira, considerando as demandas do capitalismo monopolista
contemporâneo de predominância nanceira. O texto é um estudo de
caráter exploratório e sua construção apoia-se em pesquisa bibliográca
e análise documental de problemáticas convergentes e necessárias para a
compreensão do tema, adotando uma perspectiva de análise que conjuga
aspectos quantitativos e qualitativos. Na sequência, o artigo discute o
processo de mundialização do capital sob a predominância nanceira, as
expressões da mundialização no Estado brasileiro e a forma como se deu a
expansão da educação superior nas últimas décadas no Brasil, considerando
os setores público e privado. Especial atenção é dada para a produção de
conhecimento mercantilizada, pelo impacto que tem provocado na cultura
institucional universitária.
Palavras-chave: Mundialização do capital. Educação superior. Produção do
conhecimento.
*http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698162033
* Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com pós-doutorado pela
Universidade de São Paulo. Professora Titular do Programa de Políticas Públicas e Formação Humana
da Universidade do Estado Rio de Janeiro (PPFH/UERJ). Coordenadora do Observatório da Educação
(OBEDUC) “Políticas da Expansão da Educação Superior no Brasil” e da Rede Universitas/Br. E-mail:
<deise.mancebo@gmail.com>.
** Doutor em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP). Pós-doutorado em Sociologia Política pela Universidade de Campinas (UNICAMP); em Economia
pela Universidade de São Paulo (USP) e em Economia pela Universidade de Londres. Professor associado
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP).
Coordenador adjunto do Observatório da Educação (OBEDUC) “Políticas da Expansão da Educação
Superior no Brasil”. E-mail: <joaodosreissilvajr@gmail.com>.
***Doutor em Educational Policy Studies pela University of Alberta (Canada). Professor da Arizona
State University (USA), no School of Public Affairs Department e no School of Social Transformation
Department. Diretor do School of Public Affairs.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
206
BRAZILIAN HIGHER EDUCATION IN FACE OF CAPITAL GLOBALIZATION
ABSTRACT: The paper discusses the process of expansion of Brazilian
higher education, considering the demands of contemporary monopoly
capitalism of financial dominance. The text is an exploratory study
based on literature and document analysis of converging problems that
are necessary to understand the subject by adopting a perspective of
analysis that combines quantitative and qualitative aspects. In sequence,
the paper discusses the capital globalization process under the nancial
dominance. The paper discusses how that process affects the Brazilian
state and how it has oriented the expansion of higher education in recent
decades in Brazil, considering the public and private sectors. Production
of commodied knowledge has received a special attention as it has a
signicant impact in the university institutional culture.
Keywords: Capital globalization. Higher education. Production of knowledge.
INTRODUÇÃO
O exame das razões que levaram à recente expansão da educação
superior no Brasil constitui-se em notório desao. Debater essa questão
educacional, tomando como referência as demandas do capitalismo
monopolista contemporâneo de predominância financeira é tarefa
mais complexa ainda, impossível de se alcançar, em sua plenitude, num
texto. Todavia, é o desao central que pretendemos perseguir aqui, pelo
menos em suas linhas mais gerais, trabalhando com a hipótese central de
que o regime de acumulação com a predominância nanceira provoca
mudanças reais no processo de trabalho, na indústria, nos aparelhos de
Estado e, no que aqui nos interessa, na educação.
Assim, na sequência do artigo, buscaremos discutir o processo de
mundialização do capital sob a predominância nanceira, as expressões
da mundialização no Estado e na educação brasileira e a forma como
se deu a expansão da educação superior nas últimas décadas no Brasil,
considerando os setores público e privado. Especial atenção será dada
para a produção de conhecimento mercantilizada, pelo impacto que tem
provocado na cultura institucional universitária e pelos fortes vínculos
que apresenta com a mundialização do capital. O texto é um estudo de
caráter exploratório e, para sua construção, apoiamo-nos em pesquisa
bibliográca e análise documental de problemáticas convergentes e
necessárias para a compreensão do tema, adotando uma perspectiva de
análise que conjuga aspectos quantitativos e qualitativos.
Deve-se registrar que boa parte das fontes e das análises
apresentadas pertence a um coletivo de mais de 200 pesquisadores da
Rede Universitas/Br, que participam do projeto integrado “Políticas
207
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
da Expansão da Educação Superior no Brasil”. São colegas incansáveis
na tentativa de aprofundar as diversas facetas da educação superior
no país. A eles pertence boa parte dos dados e comentários expostos,
mesmo que as conclusões, eventualmente apressadas, sejam nossas.
Na sequência, o artigo discute o processo de mundialização do
capital sob a predominância nanceira, as expressões da mundialização
no Estado brasileiro e a forma como se deu a expansão da educação
superior nas últimas décadas no Brasil, considerando os setores público
e privado e abrangendo a formação (massicada) e a produção de
conhecimento (mercantilizada), para a qual se deu mais atenção pelo
impacto que tem provocado na cultura institucional universitária.
O PROCESSO DE MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL SOB A PREDOMINÂNCIA FINANCEIRA
As transformações no capitalismo contemporâneo resultaram
em um novo padrão de acumulação mundial que permitiu a livre
circulação dos capitais em escala planetária. Chesnais (1996)
denomina esse processo, que se consumou nas últimas décadas, de
mundialização (do capital), que sob a égide dos Estados Unidos,
resulta num modo de funcionamento específico do capitalismo,
predominantemente financeiro e rentista. Para ele, esse processo
desenvolve-se sob três dimensões principais: “intercâmbio comercial,
investimento produtivo no exterior [IED] e os fluxos de capital
monetário, ou capital nanceiro” (CHESNAIS, 1996, p. 51).
Na tentativa de ir à raiz da questão Netto e Braz (2007)
analisam que, na realidade, a nanceirização resultou do processo de
[...] superacumulação e, ainda, da queda das taxas de lucro dos investimentos
industriais registrada entre os anos setenta e meados dos oitenta. [Nesse contexto],
um montante fabuloso de capital disponibilizou-se então sob a forma de capital-
dinheiro (ou capital monetário). Parte desse capital foi investido na produção
e, especialmente, no setor de serviços em outros países pelas corporações
imperialistas (representando o chamado investimento externo direto/IED) [mas]
parte substantiva permaneceu no circuito da circulação buscando valorizar-se
nesta esfera. (NETTO; BRAZ, 2007, p. 231)
E os autores continuam afirmando que “à medida que o
capitalismo se desenvolveu, um segmento de capitalistas passou a viver
exclusivamente desse capital que conservaram sob a forma monetária”
(NETTO; BRAZ, 2007, p. 232). Trata-se da camada de capitalistas
rentistas, que não se responsabilizam por investimentos produtivos.
Portanto, o processo de mundialização do capital sob a predominância
nanceira acaba por resultar num regime de acumulação centrado
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
208
no poder das instituições financeiras, cujos principais agentes são
os bancos, os fundos de pensão, os fundos de investimentos, as
seguradoras e outras empresas nanceiras especializadas.
A mundialização do capital – que na acepção de Chesnais
(1996) difere da globalização ou internacionalização do capital,
fenômenos observáveis desde meados do século XIX – é a marca do
processo vivido pelo capitalismo desde as últimas décadas do século
XX e ela caracteriza-se
[...] pela descentralização de grandes empresas, do ramo industrial, por exemplo,
cujas unidades se multiplicam e se espalham por diversas regiões e países, com
menores custos e maiores vantagens quanto à força de trabalho (mais barata),
matéria prima, legislação trabalhista, universidades que pesquisam e formam
mão de obra especializada para empresas com subsídio estatal, etc. A força
econômica dessas empresas sobrepor-se-ia à de muitos Estados nacionais e
suas instituições republicanas, como a universidade e instituições de pesquisa.
(SGUISSARDI, 2015, p. 95)
Para atender a esse processo, na tentativa de garantir a retomada
da expansão do capital, especialmente de sua rentabilidade na esfera
financeira, a partir dos anos 1980, sob a hegemonia da doutrina
neoliberal, os Estados nacionais promovem “reformas”, gerando
uma repartição da riqueza cada vez mais concentrada, em favor das
instituições nanceiras1. Essas reformas, invariavelmente, traduzem
uma deserção dos Estados de sua função de provedor de direitos e
serviços sociais (saúde, educação, dentre outros) e aprofundam seus
vínculos com o mercado mundial.
Conforme Chesnais (2005), a pressão exercida pelos
investidores para a extração crescente de lucros das empresas exige
mais produtividade, novas formas de organização do trabalho, novas
formas de organização e gestão, uso intensivo de novas tecnologias,
com fortes danos econômicos e sociais para os assalariados. Estes
encontram-se envolvidos com desemprego estrutural, rebaixamento
de salários, intensicação da jornada, precarização das condições do
trabalho e a necessidade de uma forte acomodação psicofísica e da
sua sociabilidade. Como observa Sguissardi (2015):
Nesse contexto de mundialização do capital nanceirizado, que cobra aumento
de produtividade, supervaloriza a competição e a rentabilidade empresariais de
bens e serviços, a ciência e a educação superior adquirem um valor cada dia
maior como efetivas mercadorias. Da mesma forma, valorizam-se as instituições,
universidades e institutos de pesquisa, com potencial de produzi-las. Cada vez
mais se verica, na economia atual, maior predominância dos bens imateriais
sobre os materiais e a universidade passa a ser vista como essa nova empresa
produtora, ainda que indireta, de mais valor. (SGUISSARDI, 2015, p. 98)
209
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
Assim, pode-se armar que grandes transformações ocor-
reram nas universidades e na educação superior em boa parte do
mundo, engendradas, em última instância, pela hegemonia do capital
nanceiro, sob a égide do capital portador de juros e do capital ctício.
As frações nanceiras foram insistentes e vitoriosas nas diversas
tentativas de reposicionar sua hegemonia mundial. Impingiram,
por exemplo, novos contornos à área dos serviços. Seu núcleo
hegemônico pôde impor um novo marco ao comércio mundial com
a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995,
com a denição da educação no rol de serviços a ser liberalizado
no escopo do General Agreement on Trade in Services (GATS) e, mais
recentemente, no Trade in Services Agreement (TISA)2. Em síntese, “as
corporações e os países do núcleo hegemônico lograram espraiar
suas ações em escala mundial, a partir de regulamentações com
alcance planetário” (LEHER, 2015b, p. 31).
EXPRESSÕES DA MUNDIALIZAÇÃO NO ESTADO BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO SUPERIOR
Todo esse processo também provocou impactos no Brasil,
mesmo que seus efeitos tenham aparecido um pouco mais tarde. O
trânsito da década de 1980 para a de 1990 foi o marco histórico de
profundas mudanças estruturais na sociedade brasileira e também
na cultura institucional da educação superior, que se prolonga até
os dias atuais. Essas mudanças cobrem os governos dos três últimos
presidentes brasileiros e as apresentaremos, em linhas gerais,
seguindo periodização proposta por Silva Júnior e Schugurensky
(2014) para a compreensão da dinâmica do capitalismo e da
educação superior no país.
A primeira fase detectada pelos autores tem como base
econômica a demanda imposta ao país em face de sua aderência à
globalização, gerada pelo predomínio do capital financeiro e tem
seu ápice em 1995. Ela se expressa concretamente na edição do
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (BRASIL, 1995),
reforma que afeta todas as instituições e, consequentemente, as
instituições de educação superior (IES). A elaboração do Plano foi
liderada pelo Ministério da Administração Federal e da Reforma
do Estado (MARE), onde “os policymakers brasileiros produziram a
institucionalidade para o exigido alinhamento do país ao movimento
realizado no nível mundial” (SILVA JÚNIOR; SCHUGURENSKY,
2014, p. 34), qual seja, ao momento histórico que o capitalismo
experimentava de transição do regime de acumulação monopolista
para o de predominância nanceira.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
210
De um modo bem geral, pode-se armar que o Plano Diretor
pretendia inserir a educação entre os “serviços competitivos ou não
exclusivos do Estado” e estabelecia um novo precedente para as
parcerias público-privadas na educação superior brasileira.
Segue-se uma segunda fase que abrangeu os mandatos do
presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), mas também o início
do primeiro mandato do governo de Lula da Silva (2003-2007). Ela
é marcada pela edição de inúmeras legislações, decorrentes do Plano,
que afetaram as mais diversas instâncias, órgãos estatais e instituições
republicanas em geral e, em particular, as IES. Os traços que passam
a ser perseguidos, de um modo bem geral, na educação superior
brasileira são: a pesquisa aplicada; cursos mais rápidos, inclusive
apoiados em novas tecnologias de informação e comunicação;
processos avaliativos ou de regulação calcados em resultados,
entre outros. Adicionalmente, cabe destacar a gradativa perda da
autonomia universitária, diretamente relacionada à emergência de uma
heteronomia de gestão e de uma nova relação entre a universidade e
o setor empresarial, que começa a ter curso. Todas essas mudanças
já podiam ser observadas nos países de economia central, seja os da
União Europeia, especialmente com o Processo de Bolonha (1999),
mas também se apresentavam de modo bastante acabado no Canadá
e, principalmente, nos Estados Unidos da América.
A terceira etapa tem início em meados do primeiro mandato da
gestão do presidente Lula da Silva e prossegue em parte do governo
de Dilma Rousseff (de 2011 a 2013, pelo menos). Nessa etapa, a
contrarreforma continua por meio de um g rande número de leis, decretos
e portarias, regulando o trabalho docente, os currículos, as avaliações etc.
Sua principal característica, no entanto, seria a emergência de programas
com forte potencial de mudança institucional e a expansão da educação
superior, como o Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI) (BRASIL, 2007) –
que inaugura, em larga escala, formas de nanciamento por meio de
contratos de gestão –; o incremento à educação a distância (EAD),
em especial com a criação do sistema Universidade Aberta do Brasil
(UAB) (BRASIL, 2006); a proliferação de cursos tecnológicos nos
moldes dos community colleges. Especicamente quanto à rede privada,
o redimensionamento do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)
3 e a generalização das isenções scais, previdenciárias e de renúncia
scal pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI) (BRASIL,
2005a) foram as principais iniciativas, cobertas com fundo público, que
se pode responsabilizar pela expansão.
211
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
Uma síntese dessas três etapas revela que, indiscutivelmente,
a educação superior brasileira viveu um amplo processo de expansão
após 1995. Se tomarmos os dados referentes às matrículas, por exemplo,
temos a seguinte situação: entre 1995 e 2014, ocorreu um crescimento
no número total de matrículas (presenciais e à distância), que passou
de 1.759.703, em 1995, para 7.828.013, em 2014, com um crescimento
aproximado da ordem de 345%, num espaço de tempo de 20 anos4.
Se, por um lado, essa expansão deve ser percebida como positiva
por ampliar o acesso da população ao ensino superior, é necessário
atentar para alguns efeitos perversos desse mesmo processo, pois,
indiscutivelmente, o que mais se expandiu no período foram as matrículas
nas instituições privadas, que tiveram um crescimento da ordem de 454%,
enquanto na rede pública o aumento foi de 180% somente5.
Sempre é bom lembrar que o critério para o oferecimento
de cursos e de matrículas nas instituições privadas são suas planilhas
nanceiras. Assim, a expansão se dá sob a inuência direta de demandas
mercadológicas, a partir dos interesses da burguesia desse setor de ampliar
a valorização do seu capital, com a venda de serviços educacionais.
Isso faz com que haja uma enorme quantidade de cursos de
forte apelo mercantil oferecidos nas regiões mais ricas do país e que
dão pouquíssimas contribuições para o desenvolvimento econômico,
social e cultural do país ou da própria região, ao mesmo tempo em
que locais e áreas prossionais que mais necessitam de reforços são
abandonados. O critério financeiro atinge, também, a qualidade
dos cursos oferecidos, restringindo as possibilidades prossionais
dos estudantes e a contribuição que essas IES poderiam dar para o
desenvolvimento das diferentes áreas de conhecimento (MANCEBO;
VALE; MARTINS, 2015, p. 35).
Consideramos importante acrescentar uma quarta etapa às
denidas por Silva Júnior e Schugurensky (2014), correspondente ao
m do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff à presente
data. O que se verica nesse período diz respeito à “adaptação” do país
à conjuntura de crise internacional. No nosso entendimento, trata-se de
uma crise capitalista mundial, uma crise orgânica e geral do capitalismo,
cujo marco foi o ano de 2008. Os impactos dessa crise manifestam-
se de forma diferenciada em termos geográcos e temporais, mas é
inegável que, no último período, impactou com força a América Latina
e o Brasil, em movimentos estruturais que abalaram as bases sociais
da própria reprodução política, impossíveis de serem analisadas em
profundidade nesse texto. Em linhas gerais deve-se registrar:
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
212
1 - A evolução da política nacional ocorre num pano de fundo
de uma nova situação geopolítica na América Latina. Na virada do
milênio, havíamos assistido a um certo giro à esquerda. De acordo
com Domingues (2015), esse giro foi “modesto em seus resultados”,
mas teve o mérito de remar contra a maré global, e “ele signicou
a implantação de um social liberalismo de cunho progressista,
tendo em seu centro políticas de equidade que suavizaram de forma
humanitária e economicamente estimulante as agruras das massas de
miseráveis da região mais desigual do mundo”. Implicou, ainda, uma
maior centralidade de Estados “na coordenação da vida econômica e
um distanciamento dos ditames mais severos do capital nanceiro”,
sem que a igualdade propriamente tenha sido alcançada.
Esse giro atingiu seus limites e, nda a bonança das commodities e a fartura de
recursos que proporcionou durante a década de 2000, somente enfrentamentos
sociais distributivos mais aguçados poderiam permitir que [a economia] retomasse
seu ímpeto, levando a políticas sociais mais universalistas e custosas, bem como
a uma mudança mais decidida de modelo econômico. (DOMINGUES, 2015)
2 - Tais enfrentamentos não ocorreram e a vitória do rentismo,
institucionalizado na crise de 2008, só aprofundou as contradições
estruturais da ordem burguesa no plano mundial, principalmente, no
que tange ao orçamento público, impondo a adoção das políticas de
ajuste (austeridade) neoliberal.
3 - Inicialmente, os ajustes foram aplicados nos países centrais
do capitalismo, mas, a partir de meados da década de 2010, assistimos
à intensificação da ofensiva neoliberal na América Latina, sob a
retomada da inuência hegemônica dos Estados Unidos na região.
Nessa conjuntura complexa, na qual se articulam crise econômica
e crise política, as instituições de ensino superior (especialmente as
públicas) veem-se afetadas, primeiramente, pela recessão e cortes
sistemáticos advindos da federação e de diversos entes federativos.
Nas instituições de educação superior públicas, o movimento
de expansão de matrículas e cursos – como foi o caso do REUNI
–, verificado pelo menos até 2013, é refreado em função dos
ajustes, deixando às instituições a amarga tarefa de reconfigurar
diversos procedimentos internos, para fazer frente à expansão (do
período anterior) que lhes legou mais alunos, cursos, campi e forte
interiorização, sem o devido nanciamento.
A estratégia mais imediatamente observada é a dos cortes de
verbas de manutenção e renovação, abandonando a infraestrutura física
dos campi. Todavia, as diculdades não se esgotam aí. Outro movimento
213
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
perceptível nas IES públicas de acomodação à atual conjuntura refere-se
ao grande peso que tem sido dado ao ensino, em detrimento das demais
atividades próprias à universidade. Por seu turno, o ensino – muitas
vezes aligeirado, voltado às exigências de mercado ou ainda mediante o
uso da educação a distância (EAD) – nem sempre se encontra adaptado
às necessidades dos novos estudantes que adentraram na universidade
pública, criando sérios problemas de evasão.
Na rede pública, as possibilidades de expansão parecem recair
nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), com
forte direcionamento às demandas do mercado. Temos por hipótese
que essa rede, no campo público, poderá manter um certo ritmo
de expansão, pois é composta por instituições que racionalizam o
uso de recursos nanceiros, o que é almejado por qualquer Estado
capitalista, em tempos de crise.
Para finalizar a análise de acomodação das IES públicas
(federais e estaduais) à atual conjuntura e aos cortes, é preciso
mencionar as diversas estratégias de desregulamentação e ataque aos
direitos trabalhistas que vêm ocorrendo. Diversos governos, além do
federal, têm adotado, de forma mais recorrente, “alternativas” para
reduzir o custo da força de trabalho, por meio da implementação de
variadas estratégias de precarização, com vistas à transformação das
relações de trabalho e redução da folha de pagamento. Uma situação
que vem se generalizando e que está a requerer investigações mais
aprofundadas refere-se à terceirização da força de trabalho auxiliar
– mas que poderá ser estendida para os trabalhadores das atividades
ns –, com contratos com empresas que negam aos funcionários,
inclusive, direitos trabalhistas básicos e proteção.
Quanto às IES privado-mercantis, os efeitos da crise não são os
mesmos. Na realidade, são opostos. Conforme detalhado diagnóstico
elaborado por Sguissardi (2015, p. 103) “as IES do país com fins
lucrativos e, em especial, as mantidas por empresas de capital aberto e
envolvidas no mercado acionário, [...] hoje, apresenta-se como o setor
de maior rentabilidade dentre os setores atuantes na BM&FBovespa”.
O mesmo autor, acompanhando a evolução do índice do Ibovespa
e do valor das ações, em 2013 e 2014, conclui “[...] em dois anos a
Kroton teve uma valorização de suas ações na Bolsa de 314,87%; a
Estácio, 240,97%; e a Anhanguera, nos dois anos que correram até 28
de março de 2014, 85,89%” (SGUISSARDI, 2015, p. 122).
Esse diferencial no enfrentamento da crise pode ser atribuído
a vários fatores. Primeiramente, à forte indução estatal. Conforme
Reis (2016, p. 25):
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
214
Em 2014, o governo federal liberou R$ 13,154 bilhões para o Fies e o Prouni.
Essas despesas passaram a representar 12,32% do orçamento total sob supervisão
do MEC. Em termos nanceiros, os recursos destinados à expansão da educação
superior privada, por meio do Fies e do Prouni, cresceram 880,42%: de R$ 1,342
bilhão, em 2003, para R$ 13,154 bilhões, em 2014.
Adicionalmente, essas empresas também introduziram
inovações gerenciais (enxugamento de quadros, precarização do
trabalho)6 e têm adotado um ensino de qualidade discutível, inclusive
com o uso intensivo da modalidade a distância.
Para concluir esse diagnóstico preliminar da expansão,
podemos emitir a síntese apresentada por Silva Júnior e Spears (2012),
que nos parece bastante atual. Para esses autores, o movimento
de “acomodação” da educação superior brasileira ao capitalismo
monopolista contemporâneo (de predominância financeira)
“desdobra-se em duas largas dimensões concomitantes: [...] o processo
de mercantilização da produção do conhecimento e a certicação
em massa dos estudantes de graduação e de pós-graduação” (SILVA
JÚNIOR; SPEARS, 2012, p. 9), que desenvolveremos a seguir.
A FORMAÇÃO MASSIFICADA
Como discutimos, a predominância nanceira põe exigências
ao Estado, bem como demanda novos ordenamentos jurídicos para
as políticas públicas, incluindo as destinadas à formação na educação
superior. Em linhas gerais, esse novo ciclo de movimentação do
capital exige do futuro trabalhador mais produtividade, exibilidade
para adaptação às novas formas de organização do trabalho e às novas
formas de gestão, competências gerais para lidar com a introdução
de avanços tecnológicos, bem como uma ampla disposição para
suportar a intensicação e precarização do trabalho humano, hoje
presente na maior parte das ocupações, exigindo dos trabalhadores
um redobrado equilíbrio físico e subjetivo.
Obviamente, essas diversas e complexas aptidões sofrem
imensas variações conforme o campo de trabalho considerado
e, consequentemente, demandam formações também variadas.
No entanto, de um modo geral, pode-se identicar dois grandes
processos de formação que qualicam tipos diferentes de mão de
obra, exigidos por diferentes patamares da economia em tempos
de predominância nanceira: (1) a formação necessária a empregos
que exigem mais qualicação, que normalmente são mais estáveis
e que pagam melhor, e (2) a formação da maioria, designada por
215
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
certicação em massa, destinada a empregos mal pagos, precários,
com uma maior exploração da força de trabalho e que exigem um
menor (ou nenhum) nível de conhecimento técnico. A formação
de primeiro tipo ocorre principalmente na pós-graduação stricto
sensu e em cursos mais valorizados socialmente das universidades de
melhor qualidade. A de segundo tipo é fornecida por cursos de pós-
graduação lato sensu e pelo restante da graduação.
Ainda sobre essa questão, deve-se destacar a dinâmica do
setor privado, que detém a maior taxa de matrículas na graduação –
aproximadamente 75% das matrículas da educação superior presenciais
e a distância –, conforme publicação do último Censo da Educação
Superior (BRASIL, 2015). São empresas e, enquanto tal, precisam
ter retorno lucrativo, seu parâmetro não é o interesse público geral, a
importância do ponto de vista cultural, cientíco e político, e nem o
suprimento de força de trabalho para o mercado7. As análises de Leher
e Motta (2014) sintetizam muito bem a especicidade do setor privado:
Inexiste uma relação direta entre a qualidade da força de trabalho requerida pelo
capital e a expansão do serviço educacional no setor privado. Este setor não
objetiva necessariamente suprir a força de trabalho para os diversos ramos da
produção, pois sua racionalidade é outra: a venda de serviços com ns de lucro
para os fundos de investimentos e bancos. [...] Entretanto, tal descompasso
não é necessariamente irracional para os interesses gerais do capital. Por sua
própria natureza mercantil [...], os processos de socialização empreendidos pelas
corporações educacionais são congruentes com a pedagogia demandada pelo
capital, difundindo valores do capital humano e do capital social e, ademais, a
formação do Exército Industrial de Reserva (EIR) é altamente funcional para o
capital. (LEHER; MOTTA, 2014, p. 61, grifo nosso)
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO MERCANTILIZADA
O desenvolvimento, combinado e desigual, do capitalismo
em escala mundial e de predominância nanceira também introduziu
a mercantilização na produção e na disseminação do conhecimento.
Sem dúvida, este foi o campo da educação superior mais afetado pelas
mudanças econômicas, tendo curso na Europa, América Latina e no país
que teve precedência nesse processo: os Estados Unidos da América.
Burawoy (2015, p. 43) observa que a
[...] invasão do mercado na produção e na disseminação do conhecimento
combinou-se com sistemas nacionais de educação superior preexistentes para
produzir resultados muito diversos, gerando uma série de crises que impactam
diferentes níveis de cada sistema de forma distinta.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
216
Todavia, há semelhanças entre os diversos sistemas, sobre as
quais nos deteremos.
Nos EUA, a colaboração entre a universidade e as indústrias
ocorre há algum tempo. No entanto é, sobretudo, a partir da década de
1980 que essa associação toma um impulso signicativo, aumentam
os níveis de patentes e licenças de conhecimentos produzidos na
universidade e sua comercialização ocorre mais rapidamente.8
Na Europa, conforme Lima (2015), a análise de documentos de
política cientíca e de governação da educação superior, provenientes de
instituições internacionais e supranacionais, designadamente da União
Europeia, revela, com frequência, concepções utilitaristas e instrumentais
quanto à produção do conhecimento cientíco. A análise indica, ainda,
forte indução à “cultura empresarial orientada para o mercado e o lucro,
e ainda pelo exemplo das universidades empreendedoras e inovadoras
dos Estados Unidos da América” (LIMA, 2015, p. 12).
No Brasil, deve-se destacar, preliminarmente, que esse
movimento de mercantilização da produção do conhecimento não é
encontrado em todas as universidades e nem em todas as instituições
públicas e isso porque somente algumas delas têm pesquisa e pós-
graduação institucionalizadas plenamente. São essas IES, ou
grupos dentro delas, que têm sido instadas à produção de um novo
conhecimento: “o conhecimento matéria prima9, passível de ser
transformado em produtos, processos e serviços” (SILVA JÚNIOR,
2016, p. 125) ou o tipo de conhecimento que esteja relacionado à
possibilidade de lucros imediatos no âmbito econômico. Leher (2015b),
estabelecendo paralelo com o conhecimento estratégico desenvolvido
nos países do núcleo hegemônico do capitalismo, chega a armar que
as instituições de pesquisa brasileiras ajustam-se “à mera condição de
prestadoras de serviços de adaptação de tecnologias inscritas em bens
de capital, bem como de serviços e processos que corporações não
desejam realizar no [seu] país” (LEHER, 2015b, p. 31).
De todo modo, trata-se de um conhecimento preponderante-
mente aplicado, guiado pela economia, que é protegido por patentes,
direitos autorais e marcas registradas e que é orientado para um
tratamento em que Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) formem
um trinômio indissociado10. Esse anseio de articulação da universidade
ao sistema produtivo remonta a períodos anteriores, à ditadura militar
no Brasil (1964-1984), mas os passos mais incisivos para tal só são
dados a partir do governo de FHC.
Conforme histórico traçado por Oliveira, Ferreira e Moraes
(2015), a Lei de Diretrizes e Bases – LDB – (Lei n° 9.394, de 20
de dezembro de 1996), vincula a educação escolar mais fortemente
217
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
ao sistema produtivo, indicando o desenvolvimento de competências
para o mundo do trabalho (BRASIL, 1996). Adicionalmente, a
articulação universidade/sistema produtivo, pautada agora pela busca
constante da inovação, foi ainda mais intensicada no Plano Nacional
de Educação – PNE – (2001-2010, aprovado pela Lei nº 10.172, de 9
de Janeiro de 2001). As discussões que zeram parte da 2ª Conferência
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (2ª CNCTI), ocorrida em
2001, também foram razoavelmente orientadas nessa direção, tanto
que o termo “inovação” passou a fazer parte do nome do próprio
evento. Os autores assim analisam a questão:
[...] a inovação deixaria de ser um aspecto pontual e aleatório na produção de
C&T, para se tornar o carro-chefe, a raison d’être, dos investimentos do país nesse
setor e também das políticas públicas para as demais áreas. O que se propunha era
uma estratégia centrada no papel do conhecimento gerado por diferentes atores,
alicerçada na aproximação cada vez maior entre os empresários e a universidade
brasileira, para a constituição de um sistema nacional de CT&I. (OLIVEIRA;
FERREIRA; MORAES, 2015, p.138)
Assim, desde a segunda metade dos anos 1990, intensicaram-
se no país a discussão e as ações políticas voltadas para inovação,
[...] sobretudo, por meio de criação de marcos legais [mas], também, mediante
incentivos scais, subvenção, crédito subsidiado e criação de incubadoras de
empresas, polos e parques tecnológicos, apoio à pesquisa e desenvolvimento,
compras governamentais em áreas consideradas prioritárias. (OLIVEIRA;
FERREIRA; MORAES, 2015, p. 127)
Os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff deram
continuidade a essa tendência, buscando viabilizar a aproximação
entre a educação superior e as empresas. Em 2 de dezembro de
2004, foi aprovada a Lei n° 10.973, também conhecida como “Lei
da Inovação”, que dispunha sobre incentivos à inovação e à pesquisa
cientíco-tecnológica, promovia a criação e a consolidação de laços
entre universidades, institutos tecnológicos e empresas, estimulando
a participação de institutos de ciência e tecnologia no processo de
inovação empresarial. Além disso, a Lei de Inovação criou todo um
arcabouço jurídico capaz de viabilizar a incubação de empresas no
espaço público ao estimular a utilização da infraestrutura pública
para ns de desenvolvimento tecnológico privado. Ela facultava aos
docentes o recebimento de incentivos nanceiros ao desenvolverem
projetos em parceria com empresas, assim como autorizava o
afastamento dos docentes de suas atividades acadêmicas para se
dedicarem às inovações nas empresas.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
218
A tendência a aprofundar o vínculo do conhecimento
produzido nas universidades com o sistema produtivo também é
explícita na 3ª e na 4ª Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação,
ocorridas em 2005 e 2010, respectivamente, assim como no IV
Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) 2005-2010 (BRASIL,
2005b) e no V Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) 2011-
2020 (BRASIL, 2010). Sinteticamente, os dois últimos documentos
propõem uma exibilização do modelo de pós-graduação, de modo a
atender aos setores acadêmico e não acadêmico, sugerindo a formação
de técnicos e pesquisadores especializados para atuar nas empresas
públicas e privadas. Em especial, o último PNPG é mais incisivo na
convocação da universidade e de sua estrutura acadêmico-cientíca,
técnica e pedagógica a contribuir na inserção do Brasil num sistema
econômico mundial e competitivo por mercados, estimula, ainda,
a diminuição temporal entre a produção de conhecimento e a sua
apropriação (pública ou privada) (BRASIL, 2010, p. 309). Pretende
fazer do conhecimento e da tecnologia uma poderosa ferramenta
do desenvolvimento econômico e social e “neste quadro a parceria
entre a Universidade, o Estado e as empresas dará lugar ao chamado
modelo da tríplice hélice” (BRASIL, 2010, p. 18).
Um último documento merece citação: a Lei 13.243,
de 11 de janeiro de 2016, chamada de Marco Legal da Ciência,
Tecnologia e Inovação, que altera a Lei de Inovação Tecnológica.
O novo Marco permite, entre outros aspectos, que professores
em regime de dedicação exclusiva desenvolvam pesquisas dentro
de empresas e que laboratórios universitários sejam usados pela
indústria para o desenvolvimento de novas tecnologias (em ambos
os casos, com remuneração). Autoriza que a União nancie, faça
encomendas diretas e até participe de forma minoritária do capital
social de empresas com o objetivo de fomentar inovações e resolver
demandas tecnológicas especícas do país. Digno de destaque é que
as empresas envolvidas nesses projetos podem manter a propriedade
intelectual sobre os resultados (produtos) das pesquisas. O novo
código é bastante recente e requer acompanhamento rigoroso para
que se possam analisar os impactos que trará para a produção do
conhecimento e para a universidade como um todo. O Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
(ANDES-SN) foi incisivo na crítica à nova legislação porque ela:
[...] aprofunda a privatização da ciência e tecnologia públicas, legalizando parcerias
público-privadas na área e possibilitando transferência de recursos, estrutura,
propriedade intelectual e pessoal de instituições públicas para usufruto da iniciativa
219
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
privada, [...] alarga as vias de privatização do fundo público na área, prejudicando
o caráter público de universidades e institutos, [possibilita] a criação de Instituições
Cientícas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) com estatuto de Organizações
Sociais (OS), [que poderão] captar recursos públicos e privados e intermediar a
prestação de serviços entre as instituições públicas e o mercado, [...] estimula que
os docentes se tornem empreendedores, criando ICTs dentro das instituições para
captar recursos. [Trata-se de] um avanço vigoroso do processo de privatização dos
recursos humanos e patrimônio cientíco públicos. (ANDES-SN, 2016, p. 1)
Deve-se registrar que para inovar é preciso rigoroso
planejamento, pois o retorno dos recursos investidos, o registro de
patentes e a venda de novos produtos ou serviços, que orientam parte
signicativa dos esforços desenvolvidos nas universidades brasileiras,
devem gerar resultados de curto prazo.
Conforme análise de Bianchi e Braga (2009), com o aumento
da concorrência em escala global, com a compressão do ciclo de
produção real de valor e o consequente estabelecimento de novos
critérios de governança corporativa:
[...] os diferentes sistemas nacionais de pesquisa – sejam eles estatais, semipúblicos
ou privados – passaram a ser pressionados por resultados de curto prazo. Os
investimentos tangíveis ou intangíveis em pesquisa distanciaram-se daquela
experiência histórica sustentada por um tipo de compromisso com horizontes
de longo prazo que foi assegurado até meados dos anos 1980, tanto nos países
de capitalismo avançado quanto em alguns países de capitalismo semiperiférico.
(BIANCHI; BRAGA, 2009, p. 2)
Nesse processo, nos constrangimentos da produtividade
acadêmica rápida (e aligeirada), muitos docentes se veem forçados
a fazer a opção de aderir às demandas particularistas impostas em
editais de nanciamento à pesquisa, oferecendo serviços às empresas
e a setores públicos, muitos transformados em organizações sociais
(entidade pública de gestão privada). É, até certo ponto, uma forma
de minimizar os impactos dos cortes nos orçamentos das instituições,
que “tem forçado estas a uma adaptação subordinada ao mercado, às
exigências da divisão do trabalho e à adoção de modos de organização
e de gestão típicos do mundo econômico” (LIMA, 2015, p. 14).
Os novos valores que passaram a guiar as instituições poderiam
ser sintetizados pela privatização do conhecimento, em busca de
lucros pelas universidades e a reivindicação das corporações em ser
prioridade antes do cidadão. A relevância econômica sobrepõe-se,
claramente, à relevância cognitiva, social e cultural do conhecimento.
Para tal, é exigido um professor empreendedor, disposto a produzir
uma ciência útil e comercializável, que minimiza os efeitos dos cortes
e ajustes perpetrados pelo Estado e, correlativamente, aumenta a
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
220
dependência da universidade em relação ao mercado e às grandes
corporações empresariais e financeiras. Fato é que a universidade
pública brasileira que produz conhecimento alterou radicalmente sua
cultura institucional ao passar por tantas mudanças de perl e se ver
frente a tantos novos compromissos, para os quais não foi criada e que
a enraíza mais e mais num capitalismo de predominância nanceira.
A leitura dos documentos sobre o tema (e de seus analistas
críticos) deixa a amarga sensação de que se trata de políticas impostas,
seja pela indução provocada pelos diversos órgãos de nanciamento
ou, ainda, pelas rigorosas avaliações, dentre as quais se destaca a
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), em relação à pós-graduação. Para sobreviver, é obrigatório
inovar, principalmente por meio de uma forte vinculação com o
sistema produtivo, ou melhor, com as empresas!
Todavia, essa é somente uma parte do conto, pois se deve
reconhecer que a subordinação não é uma imposição externa à
universidade, que mecanicamente é seguida pelos que nela trabalham,
mas resulta da adesão de uma parcela (cada vez mais considerável)
de docentes a essa refuncionalização da universidade em prol das
demandas da economia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A documentação analisada neste texto, bem como a leitura
crítica de autores que têm pesquisado a educação superior no Brasil,
tendem a demonstrar, com razoável grau de evidência, que, ao longo
das últimas décadas, especialmente após 1995, promoveu-se uma
incessante busca pela expansão do sistema de educação superior
no país, mas traduzida, no que tange à formação, em massicação,
um processo de “universalização” que reduz ao máximo a formação
às necessidades estritas do mercado de trabalho (BRUNO, 2011).
Obviamente, a massicação apresenta fortes variações conforme a
organização acadêmica (pública ou privada), a modalidade de ensino
(presencial ou a distância), o tipo de curso (mais ou menos nobre),
o nível de ensino (graduação ou pós-graduação) e até variações
geográcas (que infelizmente não puderam ser exploradas no artigo).
Defendemos, ainda, a hipótese de que, a partir de 2014 (m
do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff), a situação de
expansão inverteu-se, pelo menos para o polo público do sistema de
educação superior, em função da adaptação do país à conjuntura de crise
221
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
estrutural, levando as IES a amargarem com a forte recessão e cortes
sistemáticos advindos da federação e de diversos entes federativos.
Ao tratar da produção do conhecimento, demos destaque
à mercantilização, à maior vinculação entre as universidades e
as empresas, buscando compreender os nexos mais amplos do
controle e exploração da produção do próprio conhecimento como
mercadoria que, juntamente com o movimento de nanceirização e
desregulamentação, colabora para que o capitalismo se (re)organize.
Em síntese, por um lado, a expansão da economia em âmbito
global está associada à incorporação de avanços tecnológicos que
demandam conhecimentos cada vez mais especializados, rapidamente
aplicáveis e que resultem em mais lucros para a fração da burguesia
envolvida. Por outro lado, requer a exigência de nova qualicação
da força de trabalho e diminuição de seu custo, remetendo, com
frequência, a processos de mera massicação.
Tanto na formação quanto na produção do conhecimento, o
quadro é bastante desanimador e a questão que nos colocamos, para
terminar, vai na direção da formulada por Oliveira, Ferreira e Moraes
(2015, p. 156): “como sobreviver no meio acadêmico sob essa pressão e,
ainda por cima, pensar criticamente?” Como romper o silêncio cúmplice,
quanto aos planos, programas e atividades ociais, que sugerem que a
universidade se converta em agência meramente executora e acrítica em
relação às políticas públicas de competência do Estado?
A resposta não é simples, obviamente. Preliminarmente,
consideramos que para tornar a universidade relevante, tanto em termos
sociais quanto em termos cientícos, urge uma reconciliação dos seus
intelectuais com o conhecimento crítico, reexivo e recuperador da
missão histórica da universidade no processo civilizatório, por isso
mesmo, um conhecimento insubmisso aos interesses mercantis. Em
seguimento, seja qual for o movimento de sublevação, ele deve ser
coletivo. Por m, há que se considerar que a problemática universitária
atual nos países capitalistas dependentes, como é o nosso caso,
apresenta proporções mais devastadoras do que nos países do centro
do capitalismo. A reversão desse quadro de heteronomia “não será
possível nos espaços estritamente universitários e, tampouco, apenas
pelos protagonistas diretos da universidade, os professores, técnicos
e administrativos e os estudantes” (LEHER, 2015a, p. 11). Assim,
gostaríamos de acompanhar a hipótese desenvolvida por Leher (2015a,
p. 4) de que “sem os movimentos sociais antissistêmicos a defesa de
um lugar estratégico para a universidade pública, crítica e autônoma
no projeto de nação permanecerá débil e, possivelmente, inviável”.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
222
REFERÊNCIAS
ANDES-SN. SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES
DE ENSINO SUPERIOR, 2016. Dilma sanciona lei que aprofunda privatização
de ciência e tecnologia. Disponível em: <http://www.andes.org.br/andes/print-
ultimas-noticias.andes?id=7926>. Acesso em: 20 fev. 2016.
BIANCHI, Álvaro; BRAGA, Ruy. Um conto de duas universidades: quando a lógica mercantil
se sobrepõe à construção do pensamento crítico e reexivo. Revista Cult, 2009. Disponível
em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/um-conto-de-duas-universidades/>.
Acesso em: 22 set. 2015.
BRASIL. Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento
cientíco, à pesquisa, à capacitação cientíca e tecnológica e à inovação e altera a Lei no 10.973,
de 2 de dezembro de 2004, a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, a Lei no 8.666, de 21 de
junho de 1993, a Lei no 12.462, de 4 de agosto de 2011, a Lei no 8.745, de 9 de dezembro de
1993, a Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei nº 8.010, de 29 de março de 1990, a
Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990, e a Lei no 12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos termos
da Emenda Constitucional no 85, de 26 de fevereiro de 2015. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13243.htm.> Acesso em: 25 fev. 2016.
BRASIL. Sinopses estatísticas do Censo da Educação Superior: 1995-2015. Brasília:
MEC, 2015. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/
default.asp>. Acesso em: 10 fev. 2016.
BRASIL. Plano Nacional de Pós-graduação 2011-2020. Brasília: CAPES, 2010.
Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/PNPG_Miolo_
V2.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
BRASIL. Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais REUNI. Brasília: 2007. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6096.htm>.
Acesso em: 20 fev. 2016.
BRASIL. Decreto nº 5800, de 8 de junho de 2006. Dispõe sobre o sistema Universidade
Aberta do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 jun. 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/civil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5800.htm>. Acesso
em: 26 fev. 2016.
BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, 2005a. Institui o Programa Universidade para
Todos – PROUNI. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em: 1 dez. 2015.
BRASIL. Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010. Brasilia: MEC/Capes,
2005b. Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/editais/
PNPG_2005_2010.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2016.
BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à
pesquisa cientíca e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em: 1 dez. 2015.
BRASIL. Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 20 fev. 2016.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em: 15 dez. 2015.
BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Estado. Brasília, DF: MARE, 1995. Disponível
223
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
em: <http://www.bresserpereira.org.br/documents/mare/planodiretor/planodiretor.
pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016.
BRUNO, Lúcia. Educação e desenvolvimento econômico no Brasil. Revista Brasileira de
Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 48, p. 545-561, set./dez. 2011.
BURAWOY, Michael. Ensino superior em crise: o contexto global. Margem Esquerda:
ensaios marxistas, São Paulo, n. 25, p. 43-51, out. 2015.
CHESNAIS, François. A nança mundializada: raízes sociais e políticas, conguração e
consequências. São Paulo: Boitempo, 2005.
CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
DOMINGUES, José Maurício. A conjuntura em duas durações: da crise à disputa do futuro.
Trincheiras, Revista do IBASE, n. 1, abr. 2015. Disponível em: <http://www.academia.
edu/12210838/A_conjuntura_em_duas_dura%C3%A7%C3%B5es_da_crise_%C3%A0_
disputa_do_futuro_Trincheiras_no._1_IBASE_abril_2015>. Acesso em: 20 jun. 2016.
LEHER; Roberto. Movimentos sociais, padrão de acumulação e crise da universidade.
REUNIÃO NACIONAL DA ANPEd, 37., 2015, Florianópolis. Anais... Florianópolis:
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação, 2015a. Disponível em:
<http://37reuniao.anped.org.br/wp-content/uploads/2015/02/Trabalho-de-Roberto-
Leher-para-o-GT11.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2015.
LEHER, Roberto. Crise universitária, crise do capital. Margem Esquerda: ensaios
marxistas, São Paulo, n. 25, p. 27-35, out. 2015b.
LEHER; Roberto; MOTTA, Vânia Cardoso da. Trabalho docente crítico como dimensão
do projeto de universidade. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 6,
n. 1, p. 48-78, jun. 2014.
LIMA, Licínio C. A melhor ciência”: o acadêmico-empreendedor e a produção de
conhecimento economicamente relevante. In: CATANI, Afrânio Mendes; OLIVEIRA,
João Ferreira de (Org.). Educação superior e produção do conhecimento. Campinas:
Mercado de Letras, 2015. p. 11-34.
MANCEBO, Deise; VALE, Andrea Araújo do; MARTINS, Tânia Barbosa. Políticas de
expansão da educação superior no Brasil: 1995-2010. Revista Brasileira de Educação
(Impresso), v. 20, p. 31-50, jan./mar. 2015.
NETTO, João Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. São
Paulo: Cortez, 2007.
OLIVEIRA, João Ferreira de; FERREIRA, Adriano de Melo; MORAES, Karine Nunes
de. A política e a cultura de inovação na educação superior no Brasil. In: CATANI, Afrânio
Mendes; OLIVEIRA, João Ferreira de (Org.). Educação superior e produção do
conhecimento. Campinas: Mercado de Letras, 2015. p. 127-164.
REIS, Luiz Fernando. Dívida pública, política econômica e o nanciamento das universidades
federais nos governos Lula e Dilma (2003-2014). Universidade e Sociedade, Brasília, v. 57,
p. 16-35, jan. 2016.
RODRIGUES, José. Os empresários e a educação superior. Campinas: Autores
Associados, 2007.
SGUISSARDI, Valdemar. Estudo diagnóstico da política de expansão da (e acesso à)
educação superior no Brasil: 2002-2012. Piracicaba: 2015. (Mimeo).
SILVA JÚNIOR, João dos Reis. The new Brazilian University: a busca de resultados
comercializáveis para quem? São Paulo: Autores Associados, 2016. (No prelo).
SILVA JÚNIOR, João dos Reis; SCHUGURENSKY, Daniel. Reetindo sobre as razões
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
224
da diversificação institucional das universidades estatais brasileiras. Integración y
conocimiento, Córdoba/Mercosur Educativo, n. 2, p. 33-48, 2014.
SILVA JÚNIOR, João dos Reis; SPEARS, Eric. Globalização e mudança do papel da
universidade federal brasileira: uma perspectiva da economia política. Revista HISTEDBR
On-line, Campinas, n. 47, p. 3-23, set. 2012.
SILVA JÚNIOR, João dos Reis; SCHUGURENSKY, Daniel; ARAUJO, Juliana Borges de.
Ciencia académica, intelectuales y el trabajo del profesor universitario en Brasil: convergencia
y hegemonía. Revista de la Educación Superior, México/DF, v. XLIV (1), n. 173, p. 157-
180, ene.-mar. 2015.
SLAUGHTER, Sheila; RHOADES, Gary. Markets in Higher Education. In: ALTBACH,
Philip G.; GUMPORT, Patricia J.; BERDAHL, Robert O. (Ed.). American Higher
Education in the twenty-rst century: social, political and economic challenges. 3. ed.
Baltimore: The John Hopkins University Press, 2010. p. 433-464.
NOTAS
1 “Essa dinâmica, altamente concentradora de riqueza, de acordo com Chesnais (1996),
nutre-se de dois mecanismos: a formação de capital ctício, por meio da ‘inação do valor
dos ativos’ nanceiros, e a transferência efetiva de riquezas para a esfera nanceira. Tal
transferência tem no pagamento da dívida pública e nas políticas monetárias associadas a
este um dos seus mecanismos mais importantes. Parcelas cada vez maiores do orçamento
dos Estados nacionais têm sido destinadas, por meio da dívida pública, para o circuito
da valorização do capital financeiro, em proveito de um restrito grupo de rentistas e
algumas grandes empresas transnacionais, beneciários do processo de nanceirização
mundializada” (REIS, 2015, p. 19). O mesmo autor calcula que os governos Lula e Dilma
destinaram cumulativamente, por meio do Orçamento da União, R$ 11,029 trilhões para
a dívida pública (juros, amortizações e renanciamento). Esse montante representou, em
média, praticamente metade (49,70%) dos recursos orçamentários da União, destinados para
todas as áreas de atuação governamental (REIS, 2015, p. 23).
2 O novo acordo, que seria denominado Acordo sobre Comércio de Serviços (AsCS) ou
Trade in Services Agreement (TiSA), atualizaria o Acordo Geral de Comércio e Serviços (AGCS)
ora em vigor. Ele deve ter sido discutido na conferência geral da OMC, ocorrida em Nairobi,
Kênia, de 15 a 18 de dezembro de 2015. Até o fechamento desse texto não se tinha notícia
sobre seu desfecho.
3 Na realidade, o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) foi criado pela Lei nº 10.260,
de 12 de julho de 2001, portanto em data anterior à etapa que se está discutindo no texto.
Todavia, em 2010, um conjunto de facilidades foram criadas, de modo que seu uso pôde ser
bastante ampliado, por estudantes da rede privada.
4 Todos os dados estatísticos apresentados neste texto foram retirados de: BRASIL. MEC. INEP.
Sinopses estatísticas do Censo da Educação Superior: 1995 a 2015. Brasília: MEC. Disponível em: <http://
www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/default.asp>. Acesso em: 2 jan. 2016.
5 Sobre esse aspecto, deve-se registrar que o crescimento do setor privado sobre o público
advém desde os tempos da ditadura civil-militar (1964-1984). A situação política daquele
período requereu ajustes na educação superior, o que foi feito pela reforma universitária
instituída pela Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968. Essa legislação reforçou a atuação do
então Conselho Federal de Educação (CFE), com forte composição privatista, e as facilidades,
225
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.32|n.04|p. 205-225 |Outubro-Dezembro 2016
os incentivos scais e tributários para a abertura de IES privadas foram incessantemente
criados e recriados. Fato é que, ao m da ditadura, as matrículas privadas já ultrapassavam em
muito as oferecidas nas IES públicas (MANCEBO; VALE; MARTINS, 2015, p. 35).
6 Valdemar Sguissardi (2015, p. 114) destaca o papel dos fundos de investimento privado
(private equity), principalmente transnacionais, com matriz sediada nos EUA, no “preparo”
das primeiras empresas brasileiras que visavam abrir o capital e fazer oferta pública inicial
de ações (Initial Public Offering – IPO –) na bolsa de valores. Esses fundos investiram
quantias altíssimas em empresas educacionais, induziram processos de reestruturação nessas
instituições, visando à redução de custos, racionalização administrativa e o uso de gestão
claramente empresarial.
7 Para o aprofundamento dessa temática ver Rodrigues (2007).
8 Para um maior aprofundamento da situação das universidades norte-americanas, ver o
texto de João dos Reis Silva Júnior, Daniel Schugurensky e Juliana Borges de Araujo (2015)
ou ainda João dos Reis Silva Júnior (2016). Para esses autores, a origem da tendência de
aproximação das universidades norte-americanas com as empresas advém da pressão que
as universidades estatais sofreram (e ainda sofrem) para conseguir nanciamento que lhes
permitisse substituir os cortes estatais. Destacam, ainda, que essas mudanças têm uma
dimensão legislativa e discutem os dois principais casos: a promulgação da Bayh-Dohle Act
de 1980 e a Competes Act de 2007. O Bayh-Dole Act, ou Lei de Patentes e Licenciamentos,
criou uma política de patentes uniforme entre as muitas agências federais que nanciam a
investigação nos Estados Unidos. Ela permitiu que pequenas empresas e organizações sem
ns lucrativos, incluindo as universidades, retivessem a propriedade das invenções obtidas
com nanciamento do governo federal em programas de investigação (SILVA JÚNIOR;
SCHUGURENSKY; ARAUJO, 2015, p. 161-162).
9 A expressão conhecimento matéria-prima foi adotada por João dos Reis Silva Júnior (2016)
numa referência ao trabalho de Sheila Slaughter e Gary Rhoades (2010), que discutem
o conhecimento do tipo raw material, para se referir a aquelas produções que podem ser
transformadas em produtos, processos ou serviços com o objetivo do aumento da
produtividade econômica.
10 Segundo Silva Júnior (2016), nos EUA, mais recentemente, as corporações passaram
também a proteger os artigos, livros e material didático.
Submetido: 04/04/2016
Aprovado: 29/08/2016
Contato:
Deise Mancebo
Rua Barão de Cotegipe 416 casa7, Vila Isabel
Rio de Janeiro|RJ|Brasil
CEP 20.560-080
... In this correlation of forces, there is a decrease in state assignments of a universalist social nature and an expansion of the space and power of private interests (6) . Consequently, educational policies have limited training to market interests, translated as a productive, flexible, and adaptable profile, capable of enduring and tolerating work intensification and the establishment of more precarious working conditions (7) . ...
... These characteristics result in massification of training in private higher education institutions (HEIs), whose alumni are intended for low-quality jobs, low technical knowledge, and greater exploitation. This massification process contributes to the commodified production and dissemination of knowledge, which, under the label "innovation", deepen science privatization by means of public-private partnerships (7) . ...
Article
Full-text available
Objective To analyze the expansion of undergraduate Nursing courses in Brazil, especially those in the distance education modality. Methods Exploratory, descriptive, analytical, and documentary study that used the Statistical Overview of Higher Education – Undergraduate Courses, of the Brazilian National Institute for Educational Studies and Research “Anísio Teixeira”, which is part of the Ministry of Education and Culture, as a source of secondary data for the period between 2009 and 2018. Results There was a growth in the number of undergraduate Nursing courses and new seats in the distance education modality. However, only 8.89% of these seats were occupied and 3.39% of the enrolled students completed the course, which accounted for 0.30% of the new seats. Conclusion The expansion of undergraduate Nursing courses is aligned with the general trends in higher education. This scenario exposes the interests of capital in education, which emphasizes the need for collective development of strategies to guarantee the right to education that is public, free and has social quality. Education, Higher; Education, Distance; Nursing
... O panorama descrito acima indica o quanto o processo de expansão do ensino superior no Brasil, apesar dos avanços que marcam o setor das universidades públicas no país na última década, levou dimensões inigualáveis para o setor privado (Barros, 2015). Tal quadro traduz bem o quanto a reorientação das políticas de ensino superior resultou, por um lado, na expansão e interiorização da rede pública de ensino, especialmente por meio do Expandir e do Reuni, mas também representou o fortalecimento da rede privada de ensino com o Fies e o Prouni, consolidando a lógica privatista e neoliberal, iniciada nos governos anteriores, e aprofundando a hegemonia do setor privado na oferta de serviços educacionais no país (Macedo, Lima, Dantas, & Dimenstein, 2017;Mancebo, Silva Jr., & Schugurensky, 2016). A seguir discutiremos o impacto desse processo em relação ao perfil dos estudantes de Psicologia das Ifes que aderiram às políticas de expansão do ensino superior na última década. ...
Article
Full-text available
Resumo Diante do quadro de expansão e reestruturação das universidades federais no Brasil, o presente trabalho visa investigar seu impacto no perfil de estudantes de Psicologia. Objetiva-se traçar um panorama dos cursos de Psicologia vinculados às Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil e analisar os efeitos da ampliação e interiorização no acesso ao ensino superior federal sobre o perfil dos estudantes que têm ingressado nos cursos de graduação em Psicologia no Brasil. Trata-se de um estudo documental, com base nos microdados do Censo do Ensino Superior no Brasil e do Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade), divulgados em domínio público pelo Ministério da Educação (MEC). Foram selecionados apenas os estudantes de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) para compor a amostra final de 3.059 estudantes. A análise foi realizada por meio do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows versão 21, com base no teste qui-quadrado (χ2) de independência e grau de significância 0,05 (p<0,05). Observou-se avanços quanto à ampliação do acesso de estudantes com perfil socioeconômico menos elitizado nos cursos de graduação em Psicologia das Ifes, sobretudo no que diz respeito àqueles oriundos de famílias com renda mais baixa, com mães e pais com menor escolaridade, e que estudam em municípios de porte populacional menor, cujo estudo é proporcionado pelos programas de expansão à educação superior no país. Nessa lógica, entende-se a importância dessas políticas como estratégia de deselitização do perfil do estudante de graduação brasileiro.
... É importante ressaltar que essa reorientação das políticas de ensino superior resultou, por um lado, na expansão e interiorização da rede pública de ensino, especialmente por meio do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), mas também representou o fortalecimento da rede privada de ensino, com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), consolidando a lógica privatista e neoliberal, iniciada nos governos anteriores, e aprofundando a hegemonia do setor privado na oferta de serviços educacionais no país (Macedo, Lima, Dantas, & Dimenstein, 2017;Mancebo, Silva Júnior, & Schugurensky, 2016). ...
Article
Full-text available
Objetiva-se analisar os projetos pedagógicos dos cursos de Psicologia (PPC) localizados em cidades de médio, médio-pequeno e pequeno porte, considerando o contexto de expansão e interiorização da formação na últimadécada. Trata-se de um estudo documental, a partir da análise de 20 PPC, com base nos seguintes eixos: perfil e localização dos cursos, caracterização geral dos PPC, ênfases curriculares/disciplinas e campo das práticas. Os cursos estão distribuídos em, pelo menos, 12 Estados brasileiros, sendo 30% em municípios de médio porte, 45% em municípios de médio-pequeno porte e 25% em localidades de pequeno porte. São cursos mais próximos dos contextos rurais, entendidos como um espaço singular, permeados por uma multiplicidade de formas e uma diversidade de relações com o mundo urbano, o que exige maior sensibilidade para apreender a complexidade e a heterogeneidade que marca os meios e os povos rurais no Brasil.
Article
Full-text available
Este artigo analisa como a equipe organizacional impacta no mapeamento de processos de trabalhos em um ambiente de educação a distância. Por meio de pesquisa aplicada, qualitativa por meio de um estudo de casos, foram desenvolvidas entrevistas com cada um dos envolvidos. Percebeu-se a importância da participação das pessoas no mapeamento dos processos. Destaca-se também que foram várias as percepções com relação à motivação e receptividade às mudanças. Já o envolvimento dos servidores nessa mudança veio a ser fator decisivo, mesmo que seja uma das dificuldades apontadas. Por fim, a participação da equipe de colaboradores foi de extrema importância, tornando possível a efetividade do mapeamento de processos na secretaria de educação a distância.
Article
Full-text available
The aim of the current article is to investigate collective activity management strategies developed by the team accountable for analyzing the allocation of technical-administrative servants who have recently taken public exam at a Federal University. It emphasizes the challenges this team faces in the fight for a work management process capable of articulating health, productivity and quality in favor of a public, free, autonomous and high-quality university, within a context of dispute with mercantile pole forces influenced by the Neoliberal logic. By taking the ergological perspective and the historical-dialectical materialism as reference, the following methodological tools were here in selected: bibliographic and documental research, Meetings about the Work, and field diary. The research indicates the constant need to develop collective management strategies, through internal and external partnerships, to enable common good values by creating norms to ensure the isonomy of this process, as well as by resetting them, for the sake of workers’ health and public services’ improvement.
Article
Full-text available
Nos últimos anos, grande parte do debate acerca da democratização da Educação Superior no Brasil tem se pautado na lógica redistributiva da Lei de Cotas, que busca apoiar os segmentos mais vulneráveis da sociedade em seu acesso à formação acadêmica, a fim de reduzir a desigualdade social. Nessa perspectiva, cabe ao Estado responsabilidade não apenas por políticas de acesso, mas também de permanência na Educação Superior. Este artigo aborda o histórico daquele que foi o precursor dentre os programas governamentais do país na oferta de auxílio à permanência dos estudantes em instituições de educação superior - o programa de bolsas do Artigo 170 da Constituição do Estado de Santa Catarina. Criado em 1989, ele recém completa 20 anos se consolidando como uma importante iniciativa, ao lado de outras políticas de ação afirmativa do país, para reduzir a desigualdade na sociedade brasileira no que tange ao sucesso na ES. Ao final, são identificados pontos positivos do programa - abrangência da política, qualidade das instituições participantes e regularidade dos recursos aplicados – e, também, desafios tendo em vista seu aperfeiçoamento: maior acompanhamento do Estado e promoção de uma avaliação do programa; ampliação da visibilidade e transparência dos recursos empregados; e revisão de critérios para concessão do benefícios (para estudantes e instituições).
Article
Full-text available
O presente artigo pretende contribuir para o complexo debate da Moda enquanto objeto de estudo. Neste caminho, optou-se pela análise quali-quantitativa de trabalhos de final de curso da turma formada no ano 2018 da Universidade do Estado de Santa Catarina. A concepção interdisciplinar de campo de Moda, ancorada nas concepções de Frigotto (2002) e Acom e Moraes (2017), bem como a compreensão da pesquisa acadêmica como parte constitutiva de uma formação universitária pautada pela reflexão e exercício crítico, em que Chauí (2001/2003) é baliza teórica, consolidaram o caminho percorrido neste trabalho. Os resultados indicam descompasso na relação entre a composição curricular e as áreas temáticas mais incidentes nas produções analisadas, bem como um perfil utilitário emprestado às disciplinas de cunho técnico. Pensar Moda e educação, contudo, sintoniza a dimensão formativa à missão que assume quando se insere no ensino superior, sobretudo na universidade pública.
Article
Full-text available
The theme of education and work in higher education has been approaching due to the recognition of the issues inherent to the professional training received and the adequacy with the daily work. Thus, it is highlighted the need to understand whether the training received by the staff in hospitality is fulfilling its purposes and, at the same time, provide subsidies for understanding the relationship between vocational training and professional practice. The present study analyzed the relationship between professional training and labor market practice from the perspective of graduates of the hospitality course at the Federal University of Paraíba. For this, a descriptive qualitative research was carried out. For data collection, a Focal Group interview was conducted with graduates of the hospitality course at UFPB who are currently inserted in the hospitality labor market. The graduates exhibited that the course improved with the new pedagogical project of the course and, currently, is moving to find an identity and evaluate that the transfer of the course from the campus of Mamanguape to João Pessoa, as well as the creation of the Department of Tourism and Hospitality contributed to the formation of an identity. According to the interviewees, more aspects related to the operational part and, above all the practice, the absence of laboratories in the course as the most negative point. In relation to vocational training and the labor market, they stated that it was distant, and explained that the sector is in crisis, that there are many changes in the context of the market and new trends.
Article
O levantamento sobre as alterações trazidas pela lei nº 13.243/16, para as políticas públicas de CT&I, faz parte de esforço inicial para aproximação aos conceitos relativos à produção de conhecimento no âmbito das universidades públicas do país e tem como fonte o banco de dados Scielo. Trata-se de estudo descritivo e exploratório, com abordagem fundamentalmente qualitativa. Foi empreendido nos três primeiros meses de 2018 e tem como critérios de inclusão: publicado a partir de 2016 e proposição de debate acerca do MLCTI. O corpus definitivo demonstra que em geral são apresentadas visões otimistas sobre as iniciativas de ajustes na legislação para CT&I e o predomínio de interesse na área da saúde. Nos discursos observou-se que, com a tecnologia cada dia mais popularizada, a importância econômica e política de participar ativamente do processo de geração e produção desses bens é defendida como fundamental e estratégica. Por outro lado, não fica claro que os esforços coletivos convergiram o suficiente para a construção de um cenário ideal para o desenvolvimento da pesquisa aplicada no Brasil. Verifica-se ainda que algumas preocupações recorrentes tangem a: os aspectos burocráticos e o perfil de investimento do capitalista brasileiro.
Article
Full-text available
!--[if gte mso 9]> 0 0 1 156 894 UFBA 7 2 1048 14.0 96 800x600 <span style="font-size: 11.0pt; line-height: 115%; font-family: Garamond; mso-fareast-font-family: ";Times New Roman";; mso-bidi-font-family: ";Times New Roman";; mso-ansi-language: PT-BR; mso-fareast-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA;">O artigo analisa a heteronomia do trabalho acadêmico no Brasil, particularizando a educação superior pública. Discute o significado da ruptura do projeto nacional-desenvolvimentista pela irrupção do golpe empresarial-militar e o processo combinado de coerção (AI-5/1968 e Decreto 477/1969) e de subordinação da pesquisa e da pós-graduação ao capitalismo monopolista na contrarreforma de 1968, por meio de programas de fomento à ciência e tecnologia direcionados aos anseios das frações burguesas que sustentavam o regime. Frente aos processos de expropriação e de alienação do trabalho acadêmico na ditadura, o estudo examina a organização do movimento docente, as suas primeiras greves e a centralidade conferida a carreira no projeto de universidade da ANDES. Finalmente, apresenta como o aprofundamento ao capitalismo dependente nas três últimas décadas refuncionalizou a universidade pública e a educação superior privada, indicando consequências para o trabalho docente e para as lutas em prol da afirmação do público como esfera antimercantil. <!--EndFragment--
Article
Full-text available
A proposta deste artigo é analisar a atual fase de internacionalização da educação superiore suas conseqüências para este setor social no Brasil, considerando a hipótese de que esteprocesso ocorrido em outros momentos da história da educação brasileira orientava-sepredominantemente por demandas acadêmicas dos alunos e professores, mas, naatualidade, em face da globalização da economia capitalista, o que assistimos é umaglobalização da educação superior pública motivada por demanda econômica e parte daglobalização da economia com conseqüências o seu papel sócio-econômico e peloestabelecimento de uma hierarquia das áreas do conhecimento orientada pela globalizaçãodo capital financeiro.
Research
Full-text available
O trabalho busca mostrar as relações entre Brasil e Estados Unidos e a contradição entre o modelo econômico brasileiro e o desmonte da universidade estatal produzindo uma divisão internacional do trabalho científico em que o Brasil pesquisa para os USA.
Article
Full-text available
This article explores the social, economic and political context of higher education reforms in the United States in order to understand contemporary changes in Brazilian higher education. The paper argues that while the Brazilian higher education system has made important achievements in the last decade, the academic profession cannot escape market pressures and neoliberal dynamics. This is particularly evident in areas related to research, funding, and the commercial value given to scientific discovery.
Article
Full-text available
Resumo O artigo busca compreender o processo de diversificação institucional das universidades estatais brasileiras como parte do processo de expansão da educação superior brasileira. A hipótese trabalhada consiste em que ambos os processos são a expressão da reforma do Estado Brasileiro em curso desde a década de 1990 que foi exigida em razão da aderência do Brasil ao processo de globalização, considerando, especialmente as históricas desigualdades regionais do país e seu novo lugar na economia mundial. Palavras-chave: Diversificação Institucional; Expansão da Universidade estatal; Reprodução social. Resumen El artículo busca entender el proceso de diversificación institucional de las universidades estatales de Brasil como parte de la expansión del proceso de la educación superior brasileña. La hipótesis es que ambos procesos son la expresión de la reforma del Estado brasileño en marcha desde la década de 1990 que era necesaria debido a la adhesión de Brasil al proceso de globalización, teniendo en cuenta especialmente las históricas desigualdades regionales del país y su nuevo lugar en la economía mundial. Palabras clave: Diversificación Institucional; La expansión de la Universidad Estatal; La reproducción social. Abstract The article seeks to understand the process of institutional diversification of Brazilian state universities as part of the expansion process of Brazilian higher education. The hypothesis is that both processes are the expression of the Brazilian state reform under way since the 1990s that was required due to the adherence of Brazil to the globalization process, considering especially the historical regional inequalities in the country and its new place in the world economy.
Article
Full-text available
El artículo presenta las principales tendencias de la expansión de la educación superior en Brasil, entre 1995 y 2010, a partir de cuatro ejes. En primer lugar, se expone el cuadro de la progresiva privatización, tanto en lo que respecta al crecimiento de las instituciones privadas, como a la mercantilización de las instituciones públicas. Se presenta, enseguida, la expansión promovida por el gobierno federal, analizando, en particular, el Programa de Apoyo al Plan de Reestructuración y Expansión de las Universidades Federales (REUNI). Se discute, como tercera tendencia, el cuadro de la expansión de la enseñanza a distancia y, finalmente, se debate el crecimiento de posgrado, con la redefinición de sus rumbos hacia la producción de conocimiento direccionado a las empresas. Se concluye que, en todos estos campos, cambios sustanciales fueron inducidos, bajo la regencia de un ideario que apela a una economía de mercado, racionaliza el gasto público basado en un sistema de asociación entre el Estado y el mercado y suprime varios derechos y conquistas sociales transmutados en servicios, que se rigen por un intenso proceso de mercantilización.
Plano Nacional de Pós-graduação 2011-2020
  • Brasil
BRASIL. Plano Nacional de Pós-graduação 2011-2020. Brasília: CAPES, 2010.
Educação e desenvolvimento econômico no Brasil. Revista Brasileira de Educação
  • Lúcia Bruno
BRUNO, Lúcia. Educação e desenvolvimento econômico no Brasil. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 48, p. 545-561, set./dez. 2011.
Brasilia: MEC/Capes Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories
  • Plano Nacional De Pós-Graduação
BRASIL. Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010. Brasilia: MEC/Capes, 2005b. Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/editais/ PNPG_2005_2010.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2016.