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A
CIÊNCIA DO SER
HUMANO
UNITARIO DE
MARTHA
ROGERS
E SUA
VISÃO
SOBRE A
CRIATIVIDADE
NA
PRÁTICA
DA
ENFERMAGEM
Ana
Cristina
de
Sá*
SÁ,
A. C. A ciência do aer humano uni taño de Martha Rogers e sua visáo sobre a criatividade
na prática da Enfermagem. Rev. EscEní-USP, v. 28, n.2, p. 171-6 , ago. 1994.
O
artigo aborda algumas formas de utilizar e conceitualizar a criatividade na
prática
da Enfermagem sob o ponto de vista de Martha
Rogers,
teorista norte ameri-
cana,
A
ciencia
do Ser Humano Unitário de
Rogers
considera que a utilização do
potencial
criador dos enfermeiros é
essencial
para o desenvolvimento da prática e do
corpo
de conhecimentos de enfermagem.
UNITERMOS:
criatividade, potencial criador, ser humano unitário,
holismo,
ciência
da enfermagem, teorias de enfermagem.
O
tema criatividade na enfermagem é
pouco
encontrado em
literatura
brasileira, sendo que a função criadora é considerada por Horta3
como
um dos
instrumentos básicos utilizados no universo da Enfermagem. No entanto em
países onde a ciência da enfermagem encontra espaço
para
o pleno desenvol-
vimento
das teorias de enfermagem
como
requisito básico da prática
profis-
sional,
como
nos Estados Unidos, por
exemplo,
esta função é
bastante
explo-
rada
e tem sido considerada uma característica importante do perfil do
enfermeiro,
frente às rápidas mudanças
tecnológicas
e do pensar humano que
vêm
ocorrendo neste final de
século.
A
teoria de enfermagem que melhor abre portas à exploração da criati-
vidade
dos enfermeiros em sua prática diária é, seguramente, a Ciência do
Ser Humano Unitário de Martha
Rogers.
E a
partir
dessa
colocação
que
surgiu a necessidade de aprofundar estudos relativos a esse potencial sob a
visáo
futurista
e visionária de
Rogers,
uma das primeiras enfermeiras a
lançar mão da nova ciência, através da Fenomenología e da Teoria de
Sistemas, na construção de um
modelo
conceituai de enfermagem.
"A
arte
da enfermagem constitui-se na aplicação imaginativa e criativa
dos
conhecimentos científicos próprios da profissão, com o intuito de servir à
humanidade."
Marta
Rogers9
*
Enfermeira,
aluna
do Programa de Pós-Graduação, Mestrado, Area de Concentração
Fundamentos
de Enfermagem;
EBCOIE
de Enfermagem da USP.
Faz-se necessário,
antes
de explorar a questão específica da criatividade
para
Rogers, falar um
pouco
sobre a teorista e
suas
propostas
para
a enfer-
magem.
MARTHA
ROGERS - BREVE HISTÓRICO
Martha Elizabeth Rogers nasceu em Dallas, Texas, em 1914, vindo a
falecer
em Nova Iorque, em março de 1994, com 80 anos. Graduou-se enfer-
meira em 1937 com especialização na
área
de saúde coletiva. Em 1945,
tornou-se mestre em saúde pública. Em
1952,
já doutora em enfermagem na
mesma
área,
concluiu o primeiro de nove PhD.
Após
vários anos de trabalho
coordenando
serviços de saúde coletiva, entrou
para
o mundo acadêmico na
Universidade de Nova Iorque onde dirigiu a Divisão de Educação em Enfer-
magem
por vinte e um anos, até receber
o
título de Professora Emérita. Dentre
as inúmeras homenagens e títulos que recebeu, foi honrada pela
NASA
com
a concessão de seu nome a uma estrela da constelação Ursa Maior. Produziu
dois
livros próprios, inúmeros capítulos de livros de enfermagem, além de
incontáveis palestras, conferências e mais de uma centena de artigos publi-
cados
em revistas. Até meses
antes
de falecer, manteve-se ministrando
aulas
aos
alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade de Nova
Iorque1.
A
CIÊNCIA DO SER
HUMANO
UNITÁRIO de ROGERS
Estudar
a Ciência do Ser Humano Unitário de Rogers é um ato fasci-
nante
pela forma criativa e estimulante
como
a teorista conduz seu
modelo
teórico.
A
questão da criatividade se mostra presente em praticamente todos os
textos de
Rogers.
Para
que se possa compreender o valor que a teorista
atribui
a essa capacidade intelectual humana, faz-se necessário explorar alguns
pressupostos que
compõem
a Ciência do Ser Humano Unitário.
O
pensamento criativo da ciência rogeriana propõe a transformação da
prática da enfermagem em um sistema terapêutico independente, que pro-
mova
a saúde e calcado na utilização da energia e em processos não-invasivos,
como
é o caso da aplicação do Toque Terapêutico, derivado da teoria de Rogers.
A
aplicação de
tais
métodos torna-se viável a
partir
da compreensão de que,
para
Rogers, a realidade é não-Iinear, mas circular, rítmica e virtual. Assim,
o
trabalho a ser desenvolvido por enfermeiros rogerianos é
parte
integrante
da dinâmica universal, que é
cíclica,
contínua, em constante movimento,
rítmica e que evolui sempre
para
estados inovadores, o que envolve uma
função
criadora constante no processo vital humano.
Essa
colocação
de Rogers nos
oferece
uma forma de ver o mundo em que
este é um todo holístico e integrado que contradiz o ponto de vista mecanicista
e
reducionista predominante no
modelo
médico
cartesiano,
colocando
o ser
humano
como
um todo indivisível e
como
sendo o
foco
das ações de enferma-
gem.
Num mundo encarado
como
holístico, onde o todo é muito mais do que
a soma de
suas
partes,
o universo de
trabalho
rogeriano se configura na
Ciência
do Ser Humano Unitário, onde:
-
o individuo é um todo unificado, indivisível e
totalmente
integrado ao
ambiente, sem que possa ser reduzido a sistemas, órgãos e células,
interagin-
do
com
infinitas
dimensões que
compõem
o universo (universo pandimensio-
nal); -
o indivíduo é caracterizado
como
um campo energético humano em
interação constante com este universo pandimensional;
-
o campo energético humano é um sistema aberto em troca
ininterrupta
de energia com o ambiente, ao qual
está
integrado, configurando um campo
energético suficientemente forte
para
se estender ao infinito;
•
tanto
o campo humano quanto o ambiental estão sujeitos, a constantes
mudanças que, ao ocorrerem, provocam alterações
simultâneas
nos dois campos.
Este
processo contínuo de mudança é considerado por Rogers
como
sendo de
crescimento e atualização, configurando um processo criativo contínuo.
Enfim, o processo de integração constante, indivisível e
total
entre
os
campos
humano e ambiental é definido por Rogers
como
integralidade. As
mudanças continuas que ocorrem
entre
ambos implicam em trocas energéti-
cas com
variadas
freqüências de onda, intensidade e velocidade de respostas,
caracterizadas pela
teorista
como
ressonância. As respostas provocadas pelas
continuas modificações que ocorrem nos campos humano e ambiental têm
uma única direção, onde o processo passado vai sendo incorporado ao
presente
num ritmo dinâmico e não-linear de padrões de resposta, o que Rogers
denomina helicidade9-10, n-13.
Parece
complicado,
porém, à medida que percebemos nos pressupostos
de Rogers que podemos
utilizar
nosso potencial criativo em dimensões nunca
antes
imaginadas
para,
como
ela mesma diz, "servir à humanidade por meio
da Enfermagem", a gama de possibilidades
terapêuticas
que se
apresentam,
torna
o estudo
desta
teoria simplesmente fascinante.
Rogers
cita em
inúmeras
conferências que o enfermeiro deve
utilizar
a
criatividade na elaboração de métodos de
trabalho
e na exploração de novas
modalidades
terapêuticas9,10-11.
"Clarividencia é algo racional se vista sob o ângulo da interação simul-
tânea
entre
os campos pandimensionais humano e ambiental, assim
como
certos eventos
como
a psicometria, a
telepatia,
o toque terapêutico e uma
enorme gama de fenômenos."
Rogers10
ROGERS
E CRIATIVIDADE
O foco
da ciência da enfermagem
para
Rogers é o ser humano
unitário,
que é contínuo, evolutivo, indivisível, incerto, em constante troca energética
com
o ambiente e que utiliza
ininterruptamente
seu potencial criativo, ao se
readaptar
a cada mudança que ocorre nos campos humano e ambiental. O ser
humano unitário, descreve Rogers, caracteriza-se ainda pelo uso da
abstra-
ção,
sensação,
emoção,
imaginação, linguagem e pensamento produtivo.
Este
ser humano, incluindo o enfermeiro, é, portanto, um ser acima de
tudo criativo e que depende de seu potencial criador
para
sobreviver a cada
alteração dos padrões energéticos dos campos humano e ambiental. O ponto
de
partida
para
a utilização do potencial criador na
arte
de viver do ser
humano
unitário
e na
arte
de se
praticar
a enfermagem, portanto, concentra-
se na questão da pandimensionalidade.
Rogers
afirma que "a criatividade da vida emerge
para
o exterior da
interação ser humano-ambiente, ao
longo
do processo continuo de seu
ciclo
vital. O campo humano é continuamente alimentado e acrescido de novas
dimensões de complexidade crescente e estende-se
para
todas as direções,
projetando-se
para
o futuro da mesma forma que
para
o passado. O homem
move-se
de forma a transcender a si mesmo, o que se caracteriza pela infinita
gama de possibilidades na utilização de seu potencial criativo". A pandimen-
sionalidade permite, portanto, a flutuação continua
entre
as fronteiras ima-
ginárias
do ser humano unitário.
Esta
realidade, que é
virtual,
é percebida
como
uma síntese de coordenadas não-lineares,
através
das quais as mudan-
ças inovadoras continuamente emergem10,13.
Rogers
abre as portas
para
a criatividade dos enfermeiros ao
proporcio-
nar a exploração de fenômenos, que até então eram tidos
como
"paranormais",
como
métodos terapêuticos viáveis, não invasivos e cientificamente embasa-
dos,
como
é o caso do Toque Terapêutico
(TT).
O ensino do TT já faz
parte
do
currículo de inúmeras universidades norte-americanas, canadenses, japone-
sas, suecas e do Reino Unido. Nessas universidades há disciplinas específicas
sobre
a Ciência do Ser Humano Unitário de Rogers e há cursos de especiali-
zação
em TT (latu senso).
A
partir
da década de 80, surgiram os primeiros grupos organizados de
enfermeiros que começaram a
estudar
as aplicações
práticas
e criativas da
referida teoria. Um desses grupos é a "Society of Rogerian Scholars", que
promove
eventos nacionais e internacionais, além de possuir publicações que
reúnem discussões e reflexões sobre a Ciência do Ser Humano Unitário e
sobre
sua aplicação na prática da enfermagem, o que vem validando a teoria.
Seguem
algumas citações sobre aplicações da teoria, realizadas com
sucesso:
-
utilização do TT na alteração dos níveis de hemoglobina e na cicatri-
zação
de feridas4,6-7-8- u-14;
-
propostas de atuação
para
o enfermeiro visando a utilização do seu
potencial criativo na promoção do conforto ao paciente-cliente10;
-
controle da dor em pacientes cancerosos,
através
da aplicação de luzes
em
diferentes comprimentos de onda associadas à cromoterapia10;
-
redução dos padrões de movimentos em crianças
hiperativas
através
da repadronização dos campos humano e ambiental10;
-
desenvolvimento de um Guia Efetivo de Avaliação dos Padrões de
Resposta na assistência de enfermagem à criança portadora de variações
cardíacas9;
-
a oportunidade de desenvolvimento de participação consciente: um
novo
esquema
para
a Organização do Serviço de Enfermagem9.
Há enfermeiras brasileiras desenvolvendo trabalhos no campo do TT,
da cromoterapia e no uso dos florais do Dr. Bach, utilizando o
modelo
conceituai
de Rogers
como
referência. Em se
tratando
de abordagem fenome-
nológica,
estes estudos demandam atenção mais acurada em seu desenvolvi-
mento,
o que vem postergando sua publicação na
literatura
científica.
Para
Rogers, a fenomenología é um caminho
para
que o enfermeiro
clarifique
o papel da ciência no acesso e evolução dos fenômenos com os quais
o
ser humano se depara, rompendo a
barreira
do que se denominou até então
de
meta-ciência.
Para
tal, é preciso que se amplie a visão de mundo dos
enfermeiros,
a
partir
do estudo aprofundado e constante do fenômeno da
enfermagem.
"Se
aceitarmos que uma pessoa é um campo energético, torna-se fácil
explorar modalidades terapêuticas
como
o TT, a meditação ou a musica, por
exemplo.
A visão de mundo dos indivíduos costuma refletir o sistema de
crenças dominante. Eis o porquê de se
analisar
a questão da
visão
de
mundo, a fim de dar espaço
para
o desenvolvimento de nosso potencial
criativo."
Rogers13.
CONCLUSÃO
A
função criadora surge na Ciência do Ser Humano Unitário de Martha
Rogers
desde sua
estruturação
até sua aplicação na prática da Enfermagem,
rompendo
barreiras
e transcedendo fronteiras inexploradas pelo homem,
contribuindo
para
a evolução científica da profissão.
Rogers
propõe formas de desenvolver essa prática e conclui que a
criatividade é um dos principais recursos de que dispomos
para
alcançarmos
esse desenvolvimento. Milhares de enfermeiros mudaram sua visão sobre a
enfermagem
ao se depararem com o estudo da Ciência do Ser Humano
Unitário e vêm utilizando seu potencial criador na busca de novas práticas
não invasivas e efetivas de servir à humanidade.
Como
diz Rogers, "o futuro é agora", portanto, reescrever a história da
enfermagem
depende da utilização desse potencial e do aprofundamento de
nossos
estudos frente ao fenômeno da Enfermagem.
SÁ,
A. C. Roger's
Science
of Unitary Human Beings and its
view
about creativity in Nursing
practice.
Rev. Esc. Enf. USP, v. 28, n.2, p. 171-6 , aug. 1994.
The
article
describes
some
of
the
uses and conceptualizations
about
creativity
in.
nursing by the point of
view
of Martha
Rogers. Rogers'
Science
of Unitary Human
Beings
considers
the use
of
nurses'
creative
potential as something to
develop
nursing
knowledge
and
practice.
UNITERMS:
creativity, creative potential, unitary human beings, holism,
nur-
sing
science,
nursing theories.
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