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Characterization of the sprouting of ‘Setubalense’ mandarin in “on-crop” and “off-crop” - Caracterização da rebentação da tangerineira ‘Setubalense’ em anos de safra e de contrassafra

Authors:

Abstract

The citrus production is widespread throughout all continents, representing an economic activity, generative of billions of euros. The increasing demands of consumers lead to the emergence of new cultivars at the expense of traditional cultivars. The production of 'Setubalense' mandarin (Citrus deliciosa) has suffered a sharp decline, but consumers who require more intense citrus aromas and fragrances continue to enjoy this cultivar. Therefore, this cultivar has a commercial space for different markets that value the traditional cultivars. These characteristics and its time of maturity, which implies being little affected by Ceratitis capitata, make 'Setubalense' a cultivar recommended for organic farming. Aiming to characterize the alternating reproductive pattern, and having as object of study a 5- year-old orchard of 'Setubalense' mandarin grafted on 'Troyer' citrange [Citrus sinensis (L.) Osbeck × Poncirus trifoliata L.] we evaluated the composition of the tree sprouting and flowering in the years “on” and “off” of the alternate bearing cycle. The intensity and characteristics of spring sprouting depends on the tree quadrant and the year (“on” and “off” of the alternate bearing cycle). In the years "on" the percentage of sprouted nodes ranges from 67.6 to 79.5%, which contrasts with the 25.4 to 28.2% of the year "off", depending on the analyzed quadrant. In the productive years formed sprouts are mostly floral, and in the unproductive years the sprouts are almost exclusively vegetative. The formation of a large number of flowers in the year "on" leads to an intense abscission of the generative organs. The number of leaves per 100 nodes is similar in years "on" and "off". The results reflect the alternating bearing pattern of this cultivar, showing that it is necessary to pay particular attention in its management.
Actas Portuguesas de Horticultura, n.º 25 (2016) 43
Caracterização da rebentação da tangerineira ‘Setubalense’ em anos de
safra e de contrassafra
Pedro Pacheco1, Amílcar Duarte2
1 FCT, Universidade do Algarve (UAlg), LARA-Laranja do Algarve, SA, pfmpacheco@gmail.com
2 MeditBio, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade do Algarve (UAlg), Campus de Gambelas, 8005-139
Faro, aduarte@ualg.pt
Resumo
A produção de citrinos encontra-se amplamente disseminada por todos os continentes,
representando uma atividade económica geradora de milhões de euros. As crescentes exigências dos
consumidores conduzem ao aparecimento de novas variedades, em detrimento das cultivares
tradicionais. A produção de tangerineira ‘Setubalense’ (Citrus deliciosa) tem vindo a sofrer um
acentuado declínio, mas os consumidores mais exigentes em aromas cítricos e fragrâncias intensas
continuam a apreciar esta cultivar. Por isso, esta cultivar tem algum espaço comercial para mercados
diferenciados em que se valorizam as cultivares tradicionais. Estas características e a sua época de
maturação, que implica ser pouco afetada pela Ceratitis capitata, fazem da ‘Setubalense’ uma cultivar
recomendável para o modo de produção biológico.
Com o objetivo de caracterizar o padrão produtivo alternante e tendo por objeto de estudo um
pomar de cinco anos de tangerineira ‘Setubalense’ enxertado sobre citranjeira ‘Troyer’ [Citrus sinensis
(L.) Osbeck × Poncirus trifoliata L.], foi avaliada a composição da rebentação e da floração nos anos de
safra e de contrassafra.
A intensidade e as características da rebentação dependem do quadrante da árvore e do ano
(safra ou contrassafra). Nos anos de safra a percentagem de nós rebentados oscila entre 67,6 a 79,5%,
que contrasta com os 25,4 a 28,2% dos anos de contrassafra, função do quadrante analisado. Nos anos
produtivos os rebentos formados são essencialmente florais e nos improdutivos quase exclusivamente
vegetativos. A formação de elevado número de flores nos anos de safra conduz a uma intensa abcisão
de órgãos generativos. O número de folhas formadas por cada 100 nós é similar nos anos de safra e de
contrassafra. Os resultados obtidos refletem o padrão alternante desta cultivar, evidenciando o
cuidado particular que esta cultura tem de ter na sua condução.
Palavras-chave: Citrus deliciosa, floração, abcisão, alternância, órgãos generativos
Abstract
Characterization of the sprouting of ‘Setubalense’ mandarin in “on-crop” and “off-crop”
years
The citrus production is widespread throughout all continents, representing an economic
activity, generative of billions of euros. The increasing demands of consumers lead to the emergence of
new cultivars at the expense of traditional cultivars. The production of 'Setubalense' mandarin (Citrus
deliciosa) has suffered a sharp decline, but consumers who require more intense citrus aromas and
fragrances continue to enjoy this cultivar. Therefore, this cultivar has a commercial space for different
markets that value the traditional cultivars. These characteristics and its time of maturity, which
implies being little affected by Ceratitis capitata, make 'Setubalense' a cultivar recommended for
organic farming.
Aiming to characterize the alternating reproductive pattern, and having as object of study a 5-
year-old orchard of 'Setubalense' mandarin grafted on 'Troyer' citrange [Citrus sinensis (L.) Osbeck ×
Poncirus trifoliata L.] we evaluated the composition of the tree sprouting and flowering in the years
“on” and “off” of the alternate bearing cycle.
The intensity and characteristics of spring sprouting depends on the tree quadrant and the
year (“on” and “off” of the alternate bearing cycle). In the years "on" the percentage of sprouted nodes
ranges from 67.6 to 79.5%, which contrasts with the 25.4 to 28.2% of the year "off", depending on the
analyzed quadrant. In the productive years formed sprouts are mostly floral, and in the unproductive
years the sprouts are almost exclusively vegetative. The formation of a large number of flowers in the
year "on" leads to an intense abscission of the generative organs. The number of leaves per 100 nodes
is similar in years "on" and "off". The results reflect the alternating bearing pattern of this cultivar,
showing that it is necessary to pay particular attention in its management.
Citation: Pacheco, P. & Duarte, A. 2016. Caracterização da rebentação da tangerineira ‘Setubalense’ em anos de
safra e de contrassafra. Actas Portuguesas de Horticultura, 25, 43-49.
Actas Portuguesas de Horticultura, n.º 25 (2016) 44
Keywords: Citrus deliciosa, flowering, abscission, alternate bearing, generative organs
Introdução
A produção de citrinos em Portugal cifrou-se em 2014 na ordem das 304 mil toneladas. Destas,
cerca de 36 mil toneladas são de tangerinas, estando a oferta principalmente concentrada no Algarve
(Instituto Nacional de Estatística, 2015). No entanto, os números não refletem a progressiva
diminuição na produção da tangerineira ‘Setubalense’ (Citrus deliciosa). Esta cultivar, possivelmente,
um híbrido entre C. reticulata e C. maxima, tem sido vítima da crescente demanda em novos produtos
por parte da maioria dos consumidores, colocando em causa um conjunto de variedades tradicionais.
A tangerineira ‘Setubalense’ apresenta frutos com muitas sementes, por vezes com uma
coloração pálida e com tendência ao empolamento num estado mais avançado da maturação. Contudo,
exibe frutos com um aroma especial e um ótimo sabor, características apreciadas pelos consumidores
mais exigentes (Duarte, 2012). Espécie perfeitamente adaptada às condições edafoclimáticas
encontradas nas nossas latitudes (Hodgson, 1967), tem como época de maturação janeiro-fevereiro
(Massapina Júnior & Gonçalves, 1995), função da quantidade de frutos produzidos. Apesar de ter vindo
a sofrer um acentuado declínio nas últimas décadas, os consumidores mais exigentes em aromas
cítricos e fragrâncias intensas continuam a apreciar esta cultivar. Por isso, esta cultivar tem algum
espaço comercial para mercados diferenciados em que se valorizam as cultivares tradicionais. Estas
características e a sua época de maturação, que implica ser pouco afetada pela Ceratitis capitata, fazem
da ‘Setubalense’ uma cultivar recomendável para o modo de produção biológico.
Em termos agronómicos o fenómeno da alternância é uma dificuldade acrescida para quem
cultiva esta tangerineira. A regularização da produção é indispensável para manter a viabilidade desta
cultura em termos comerciais. A alternância de produção manifesta-se em diversas espécies fruteiras,
podendo ocorrer em ciclos bienais ou de outra magnitude. Relativamente aos bienais refletem um ciclo
produtivo caracterizado por excessiva produção num ano (anos de safra ou “on”), seguido de um ano
de baixa ou sem produção (anos de contrassafra ou “off”) (fig. 1) (Monselise & Goldschmidt, 1982).
Elevadas produções conduzem a frutos pequenos, mais amarelos e de sabor menos intenso,
dificultando a comercialização. Segue-se a falta de floração no ano seguinte (Hodgson, 1967), que, nas
situações mais extremas, pode inviabilizar a colheita do ano seguinte (Spiegel-Roy & Goldschmidt,
1996). Quando a produção existe, os frutos, em número reduzido, são de tamanho elevado e com a
casca grossa e rugosa (Agustí, 2000). Nas espécies alternantes, a regulação deste fenómeno passa por
um controlo efetivo de todos os processos, que vão desde a floração até à colheita, através de um
equilíbrio hormonal e nutricional adequado (Monselise & Goldschmidt, 1982).
A disponibilidade de hidratos de carbono, enquanto fonte energética, interfere em todos os
processos da planta. A alternância reflete, em certa parte, a dependência da produção de frutos
relativamente à disponibilidade energética da planta. Estas espécies nos anos “off” aumentam e
armazenam as reservas, de forma que no ano seguinte a sua disponibilidade é elevada (Monselise et al.,
1981).
Nas nossas condições, os citrinos (excluindo o limoeiro) entram em período de latência no
inverno com a diminuição das temperaturas. Com o fim do período de baixas temperaturas, os gomos
distribuídos ao longo dos ramos, retornam da fase de dormência e iniciam a sua atividade (Schneider,
1968; Agustí, 2000). Passado algum tempo dá-se o início da rebentação, que pode, por regra, ocorrer
em ciclos de duas a cinco rebentações por ano, mas normalmente ocorre em três épocas. A rebentação
de primavera é a mais intensa e a que apresenta os órgãos generativos, consequentemente, a futura
produção (Schneider, 1968), no entanto, as progressivas alterações climáticas têm vindo a desajustar
estes ciclos. A de verão e de outono não apresentam flores, dão origem a folhas de maior tamanho e a
menor número de rebentos (Agustí, 2000). A intensidade das rebentações de primavera é
inversamente proporcional às das fases posteriores.
Diversos autores têm estudado a rebentação e a floração de algumas espécies de citrinos
(Duarte, 1992; Teixeira, 1999; Afonso, 2000; Faísca, 2005), contudo, a lacuna relativamente à espécie
em estudo persistia.
As características da rebentação de primavera dependem da espécie e a proporção de cada
tipo de rebento pode variar em função das condições ambientais, da cultivar, mas sobretudo da
intensidade de floração. O estudo das rebentações da tangerineira ‘Setubalense’ enquadra-se na ótica
do aumento do conhecimento sobre esta tangerineira, na busca de formas de controlar o fenómeno da
alternância.
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Material e métodos
Foi selecionado um pomar de tangerineira ‘Setubalense’ com cinco anos de idade, enxertado
sobre citranjeira ‘Troyer’ [Citrus sinensis (L.) Osbeck × Poncirus trifoliata L.], com orientação das filas
norte-sul, perfeitamente conduzido, não demostrando estar afetado por pragas ou doenças, nem por
fenómenos de stress hídrico, no qual foi realizada a avaliação da rebentação no período entre janeiro
de 2014 e abril de 2015.
Em termos produtivos a campanha 2012/2013 tinha sido abundante. Por conseguinte, na
campanha 2013/2014 a produção foi reduzida ou quase inexistente. Como seria expectável, a
rebentação e produção da campanha 2014/2015 seria elevada, sendo o ano ideal para iniciar a sua
avaliação.
Foram selecionadas 23 árvores dispersas pelo pomar e que foram consideradas
representativas do mesmo. Nestas árvores foi feita a caracterização da rebentação de primavera,
através da contagem de ramos, avaliando o tipo de rebentos e o seu número, tendo em consideração a
idade dos ramos e a sua orientação. Esta operação foi realizada entre os dias 18 e 26 de março de 2014
e entre 9 e 12 de abril de 2015, período em que todos os órgãos generativos estavam visíveis, mas
em que a abcisão ainda não tinha iniciado. De entre as 23 árvores, selecionaram-se quatro que foram
utilizadas para avaliações periódicas ao longo do período de abcisão. Nestas árvores, os ramos
contados foram marcados para posteriores recontagens, permitindo determinar o ritmo de abcisão
desta cultivar.
A seleção dos ramos foi efetuada de forma aleatória, contudo apenas foram considerados
ramos provenientes da rebentação de outono do ano transato, por se ter constatado ser neste tipo de
ramos que surgem quase todas as novas rebentações nesta cultivar. Foi efetuada a contagem de um
número superior a 200 nós por árvore (50 nós por quadrante (S, O, N, E)). Iniciou-se a contagem a
partir da base da inserção do ramo, ou da última mudança de madeira, no sentido da extremidade do
ramo (acrópeto), contanto todos os nós e órgãos, registando todos os elementos numa matriz para
posterior interpretação. Os resultados obtidos permitiram determinar, de entre os nós contados; o
número de nós onde ocorreu rebentação; o número de rebentos por nó, o número de órgãos
generativos e folhas presentes em cada rebento e quantificar e qualificar o tipo de rebentos formados.
A classificação dos rebentos foi a utilizada em anteriores trabalhos sobre citrinos (Duarte &
Guardiola, 1996), distinguindo-se cinco tipos de rebentos, em função da presença de flores ou folhas:
rebento misto multifloral (com várias flores e com uma ou mais folhas); rebento generativo multifloral
(com várias flores e sem folhas); rebento misto unifloral (com uma flor e com uma ou mais folhas);
rebento generativo unifloral (com uma flor e sem folhas) e rebento vegetativo (sem flores e com uma
ou mais folhas).
Os dados submetidos a uma análise de variância (ANOVA) efetuada através do programa de
estatística da IBM® SPSS® Statistics version 22. Atendendo a que algumas das variáveis analisadas
não apresentavam uma distribuição normal e incluíam valores muito baixos ou mesmo zero, essas
variáveis foram submetidas a transformação do tipo  , para diminuir o nível de assimetria. Para a
determinação dos grupos homogéneos, as médias de cada modalidade foram comparadas com recurso
ao teste das diferenças mínimas significativas (LSD). O erro padrão foi calculado através da raiz
quadrada da variância da amostra dividindo pelo número de elementos na amostra. As barras de erro
presentes no gráfico representam o valor de erro padrão das amostras em ambos sentidos.
Considerou-se que não ocorrem diferenças significativas entre fatores quando P>0,05 (n. s.).
Resultados e discussão
Contrariando os estudos efetuados por outros autores noutras espécies, em que ocorre uma
significativa rebentação de primavera nos ramos formados na penúltima rebentação (Duarte, 1992;
Krajewski & Rabe, 1995; Teixeira, 1999), na espécie Citrus deliciosa, a rebentação ocorre quase
exclusivamente nos ramos formados na última rebentação do ano transato.
No ano de safra (2014) a rebentação de primavera foi intensa (quadro 1), com uma
percentagem elevada de nós rebentados e um total de rebentos por 100 nós acima de 100 unidades,
dando origem a uma floração abundante (113 flores/100 nós). Esta rebentação foi fortemente
influenciada pelo quadrante, apresentando no lado norte uma percentagem inferior de nós rebentados
(67,6), um número inferior de rebentos por 100 nós (85,6) e de rebentos por rebentado (1,3), em
comparação com os restantes quadrantes (quadro 1). Dados similares foram registados para outras
espécies (Duarte, 1992; Faísca, 2005). O nível de rebentação intenso origina frequentemente mais de
um rebento por rebentado, evidenciando a elevada disponibilidade de reservas no início dos anos
“on” (Goldschmidt & Golomb, 1982).
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Posteriormente, com o avançar do ciclo evolutivo dos frutos, o progressivo declínio de vigor
inicial das árvores foi evidente, dando origem a rebentações de verão e de outono reduzidas ou quase
inexistentes. No ano seguinte o esgotamento das plantas era patente, culminando numa rebentação
escassa e numa floração quase nula.
Nos anos de contrassafra, sendo o nível de rebentação mais reduzido, as diferenças entre o
lado norte e os restantes lados não são tão claras. Apenas entre os lados norte e oeste se observou uma
diferença estatisticamente significativa (quadro 2). Neste ano observou-se uma redução na
percentagem de nós rebentados e no total de rebentos por 100 nós. A semelhança entre as duas séries
de valores revela que a rebentação foi de apenas um rebento por nó rebentado. Estes dados são
consistentes com as baixas reservas da planta no início dos anos “off” (Goldschmidt & Golomb, 1982). É
ainda de salientar que o facto de os ramos do lado norte, terem nos anos de safra, uma rebentação
menos intensa que os outros lados, não levou a que no ano seguinte a redução da rebentação do lado
norte fosse atenuada nesses ramos.
O tipo de rebentos formados é fortemente condicionado pelo ciclo de alternância. Nos anos de
safra a rebentação inclui um número elevado de rebentos florais, no entanto, a aparição de duas ou
mais flores por rebento surge com uma baixa frequência; tanto o número de rebentos generativos
multiflorais (0,1/100 nós) como o número de rebentos mistos multiflorais (2,1/100 nós) apresentam
valores muito baixos. Nos anos de contrassafra a rebentação é composta quase exclusivamente por
rebentos vegetativos, havendo uma reduzida presença de flores, (fig. 2). Comparando os presentes
resultados, com os dados obtidos por Guardiola et al, 1977 e por Duarte, 1992, verifica-se que a
composição da rebentação também é fortemente condicionada pela espécie.
Relativamente à intensidade da floração (n.º de flores por 100 nós), no ano de safra, esta é
coerente com os resultados obtidos para a percentagem de nós rebentados, registando-se a influência
vincada do quadrante, conforme se pode comprovar através do quadro 3. O menor número de flores
presentes no lado norte, parece refletir o efeito do ensombramento, que provoca uma inibição da
formação de flores (Deidda & Agabbio, 1977; Deidda et al., 1988-1992).
O número de folhas novas formadas, não foi afetado pelo ciclo de alternância apresentando
valores médios similares no ano de safra (131,0 folhas/100 nós) e de contrassafra (125,3 folhas/100
nós). Mesmo assim, no ano de safra o número de folhas por 100 nós foi afetado pelo quadrante, sendo
inferior no lado norte e superior no lado este, enquanto no ano de contrassafra não se observaram
diferenças significativas entre quadrantes (quadro 3).
Os ramos marcados aquando da primeira contagem, nas quatro árvores selecionadas,
permitiram efetuar novas contagens ao longo do tempo (fig. 3). Os dados obtidos indicam que o
número de folhas novas não sofre grande alteração no período avaliado. Já o número de órgãos
generativos vai sofrendo um progressivo decréscimo após a sua formação, culminado numa queda
elevada na fase de vingamento. A elevada abcisão surge pelo efeito competitivo entre estruturas
reprodutivas, na demanda em substâncias de reserva, por parte dos frutos em rápido crescimento
(Goldschmidt & Monselise, 1977). Por outro lado, a abcisão melhora a relação entre folhas e órgãos
generativos, aumentado a capacidade da planta em nutrir os frutos que subsistem.
Conclusões
O ciclo de alternância na espécie Citrus deliciosa atinge uma importância extrema, originado
nos anos de safra, uma rebentação e floração bastante intensas. Apesar dos fenómenos internos de
competição gerados e da consequente abcisão avultada de órgãos generativos, os que ainda
permanecem na árvore, conduzem a um visível declínio das plantas e a uma produção elevada. Nos
anos de contrassafra a presença de flores é extremamente reduzida. Não existindo frutos agindo como
sumidouros de hidratos de carbono, a árvore revitaliza-se, repondo o nível de reservas, preparando
para o retomar do ciclo no ano seguinte.
Estes resultados revelam a intensidade e importância do fenómeno da alternância, que nos
casos mais extremos pode conduzir à morte das plantas (Smith, 1976).
Agradecimentos
Agradece-se à empresa Frutas Martinho, Lda., representada pelo Eng.º Filipe Martinho, a
cedência do pomar e todas as informações pertinentes.
Referências
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Actas Portuguesas de Horticultura, n.º 25 (2016) 47
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Quadro 1 Intensidade de rebentação da tangerineira ‘Setubalense’, por quadrante, num ano de safra
(ano de 2014).
Parâmetros
Quadrante
Significância
Sul
Oeste
Norte
Este
Nós rebentados (%)
79,5 b*
77,4 b
67,6 a
77,6 b
p ≤0,001
Total rebentos / 100 nós
119,0 b
119,0 b
85,6 a
122,9 b
p ≤0,001
N.º rebentos / nó rebentado
1,5 b
1,5 b
1,3 a
1,6 b
p ≤0,001
* Dentro da mesma linha, médias com letras comuns, não diferem significativamente entre si, de acordo
com o teste LSD (P=0,05) (n=23).
Actas Portuguesas de Horticultura, n.º 25 (2016) 48
Quadro 2 Intensidade de rebentação da tangerineira ‘Setubalense’, por quadrante, num ano de
contrassafra (ano de 2015).
Parâmetros
Significância
Sul
Oeste
Norte
Este
Nós rebentados (%)
26,4ab*
28,2 b
25,4 a
26,4 ab
p=0,244
Total rebentos / 100 nós
26,7
29,0
26,2
26,7
ns
N.º rebentos / nó rebentado
1,0
1,0
1,0
1,0
ns
* Dentro da mesma linha, médias com letras comuns, não diferem significativamente entre si, de acordo
com o teste LSD (P=0,05) (n=23).
Quadro 3 Número de flores e de folhas por 100 nós nos anos de safra e de contrassafra, por
quadrante.
Parâmetros
Ano
Significância
Sul
Oeste
Norte
Este
N.º flores / 100 nós
Safra
124,8 b*
119,0 b
84,8 a
123,9 b
p≤0,001
N.º folhas / 100 nós
Safra
132,7 b
120,9 ab
113,4 a
156,9 c
p≤0,001
N.º folhas / 100 nós
Contrassafra
124,8
122,9
127,8
125,8
ns
* Dentro da mesma linha, médias com letras comuns, não diferem significativamente entre si, de acordo
com o teste LSD (P=0,05) (n=23).
Figura 1 Esquema da sequência de processos que caracterizam os ciclos bienais de alternância.
Actas Portuguesas de Horticultura, n.º 25 (2016) 49
Figura 2 Percentagem para cada tipo de rebento para um ano de safra e um ano de contrassafra; RV
rebento vegetativo; RGU rebento generativo unifloral; RGM rebento generativo multifloral; RMM
rebento misto multifloral; RMU rebento misto unifloral.
Figura 3 Evolução do número de flores e de folhas e da relação entre ambos, num ano de safra.
... A cultivar portuguesa 'Setubalense', é uma tangerineira que devido ao seu excelente sabor tem procura em nichos de mercado, mas sofre também de alternância. Nos anos de safra, as produções são elevadas, mas há uma diminuição da qualidade dos frutos e nos anos de contrassafra as produções são muito pequenas, podendo não compensar os custos de produção (Pacheco, 2015;Pacheco & Duarte, 2016). ...
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A produção de citrinos em Portugal tem tido uma evolução positiva nos últimos anos. O aumento da produtividade dos pomares e a melhor inserção no comércio internacional fazem com que o setor esteja mais competitivo. Contudo, a produção nacional é cada vez mais indiferenciada, uma vez que a área destinada às nossas cultivares tradicionais ('Setubalense', 'Encore', 'Carvalhais', 'D. João' e outras) têm vindo a diminuir, por dificuldades no cultivo e na comercialização, associados à alternância de produções e a defeitos epidérmicos do fruto. Noutras cultivares, os defeitos epidérmicos têm também aumentado, possivelmente causados por doenças (fungos) ou ataque de pragas. Este problema pode dever-se à diminuição da frequência de poda das árvores e a alterações na forma de a fazer, relacionadas com a necessidade de reduzir custos de produção. A poda é uma técnica pouco estudada, devido à dificuldade em encontrar pomares adequados para fazer experimentação nesta área e ao facto de que, para obter resultados fiáveis, são necessários vários anos de observação e recolha de dados. Neste contexto surge o projeto PodaCitrus, baseado numa parceria entre várias entidades, que tem como objetivo otimizar a poda de citrinos, em diferentes cultivares, o que contribuirá para a otimização da cultura e para o aumento da sua viabilidade económica. No caso das tangerineiras 'Encore' e 'Setubalense' pretende-se desenvolver o cultivo de forma a fazer com que estas cultivares continuem a ser produzidas e comercializadas em Portugal. Nas cultivares 'Encore', 'Valencia Late', 'D. João' e 'Lane Late', pretende-se otimizar a poda, para diminuir a incidência de defeitos epidérmicos dos frutos. Os resultados obtidos neste projeto permitirão também melhorar as práticas de poda noutras cultivares de citrinos produzidos no Algarve, contribuindo para o desenvolvimento da citricultura nacional e para a sua competitividade no mercado europeu e mundial. Palavras-chave: Alternância, Citrus, defeitos epidérmicos do fruto, laranjeira, tangerineira. Abstract PodaCitrus-Contribution to pruning optimization in citrus, in order to enhance the fruit quality Portuguese citrus industry has had a positive development in recent years. The increase of the productivity of the orchards and the better insertion in the international trade have made the sector more competitive. Nevertheless, the national production is more and more undifferentiated, since the cultivated area of traditional cultivars
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Pruning is a common practice in citrus for various reasons. These include controlling and shaping the canopy; improving phytosanitary health, productivity, and fruit quality; and facilitating operations such as harvesting and phytosanitary treatments. Because pruning is an expensive operation , its need is sometimes questioned. However, it has been proven to be particularly important in Mediterranean citriculture, which is oriented towards producing fruits for a high-quality demanding fresh market. Herein, we summarize and explain the pruning techniques used in Mediterranean citriculture and refer to the main purposes of each pruning type, considering citrus morphology and physiology.
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Two alternate bearing ‘Wilking’ mandarin ( Citrus reticulata Blanco) trees, an “on” and an “off” tree were uprooted and dissected into 11 organ types. Starch and soluble sugar concentrations were determined for each organ. Starch concentrations were 3.6 (leaves) to 17.4 (medium roots) times higher in the “off” tree. Soluble sugar concentrations were 1.5 (leaves) to 1.9 (medium roots) times higher in the “off” tree. A total dry matter, starch and soluble sugar balance was compiled for each tree. The “off” tree contained 13.26 kg starch and 10.66 kg soluble sugars; as against 2.95 kg starch and 6.75 kg soluble sugars in the “on” tree (excluding the fruit). The majority of this reserve pool would presumably be recycled and used for next year’s crop. Removal of fruit by mid-summer permitted reasonable flower bud differentiation the following year, connected with a build up of the starch reserve levels.
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‘Murcott’ tangerine ( Citrus hybrid) trees often decline suddenly during fall and winter, if they are heavily loaded with fruit. First symptoms are wilt, yellowing of leaves, defoliation, and shriveling of fruit. The rapid loss of leaves and fruit, followed by dying back of branches, gives the appearance of death. However, such trees generally recover. The remaining leaves are deficient in one or more minerals such as N, P, K, or Mn. However, extra fertilizer does not prevent tree collapse. Seasonal studies showed that starch depletion and death of feeder roots accompany the decline. Root starvation, as a result of crop strain, appears to be the primary cause of rapid tree collapse.
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To investigate the effects of bud age on sprouting and flowering, bearing Clementine mandarin trees were hand-pruned at monthly intervals from late spring to fall. This pruning resulted in regrowth bearing axillary buds ranging in age from 9 to 5 months. After winter rest and during the return bloom, sprouting and flowering were assessed on axils on terminally positioned stems of these ages. The proportion of axillary buds sprouting and the number of spring shoots produced by each sprouting axillary site decreased with decreasing bud age. The proportion of axils sprouting one or more inflorescences, and the average number of flowers per stem also decreased with decreasing bud age. The number of axillary sites per stem, also significantly affected sprouting and flowering. Our results demonstrate the potential of hand-pruning to manipulate sprouting and return bloom depending on when in the summer or autumn the trees are pruned.
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Gibberellic acid sprays reduced flowering of 'Washington' navel and 'Navelate' oranges, the degree of reduction depending on time of application and the concentration. Although the greatest effect of GA was obtained when applications were made during the time of flower induction, its main action does not appear to be related to an inhibition of this process as reported earlier since: I. -The number of flowers per inflorescence was not affected, and II.-The increase in the proportion of leafy inflorescences and vegetative sprouts was mainly due to a marked reduction in the number of leafless inflorescences, most of the corresponding buds failing to develop and not reverting to a vegetative apex nor to a more leafy inflorescence. It is our conclusion, therefore, that the main effect of GA lies in the inhibition of bud development before visible growth starts in spring, the buds of the leafless inflorescences being more sensitive to this compound. No effect was observed in the abscission of sprouts, which was even lower in the GA treated trees in which the decrease in their number reduces competition during early growth, as shown by a more vigorous growth of both flowers and vegetative shoots.
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Young orchards of 'Fortune' mandarin usually have a low productivity due to insufficient fruit set. The trees flower profusely, and most of the flowers are borne on leafless inflorescences. Leafy inflorescences are formed in a very low proportion and vegetative sprouts are nearly absent. This sprouting pattern results in a very low leaf/flower ratio. The carbohydrate reserves of the trees are lower than reported for other citrus cultivars, and are depleted shortly after anthesis. Therefore, the growth of the developing fruitlets depends mostly on current photosyntate formation. Most of the ovaries abscise shortly after flowering, having made very little growth. There is a main peak of abscission from early May until the end of June. Late fruitlet abscission lasts until late July. A GA3 spray at flowering retarded the abscission of reproductive organs, but failed to increase the final fruit set. On the other hand girdling did not affect the main wave of drop, but reduced late abscission, which resulted in an increase in set and final yield. Girdling did not increase the level of carbohydrates in the leaves, which indicates that carbohydrate use is determined by availability and fruit set may be limited by photosynthate supply.
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O artigo descreve brevemente a citricultura portuguesa, dando uma perspectiva sobre os porta-enxertos e as variedades cultivadas no país, assim como uma ideia sobre o futuro da citricultura portuguesa.
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IntroductionDefinition of AlternationRepresentative Cases of AlternationHorticultural TraitsCauses of AlternationHorticultural Control of AlternationConclusions Literature Cited