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Pau-rosa
Aniba rosaeodora Ducke
Lauraceae
MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA
ANO 2003 FASCÍCULO 3
NOMES VULGARES:
ESPECIES RELACIONADAS:
DESCRIÇÃO BOTÂNICA:
Árvore:
Folha:
pau-rosa, pau-rosa-itaúba (Brasil), cara-cara,
“rosewood” (Guiana), “bois-de-rose”, “bois-de-rose-femelle”
(Guiana Francesa), “enclit-rosenhout” (Suriname).
o gênero Aniba é constituído por 41
espécies neotropicais (Mabberley 1990) e a fitoquímica de 18 destas
espécies é suficientemente conhecida para permitir a classificação
sistemática baseada em compostos secundários (Gottlieb & Kubitzki
1981). Baseado em evidências bioquímicas e similaridades
morfológicas, Kubitzki e Renner (1982) incorporaram Aniba duckei
em Aniba rosaeodora, apesar da presença específica de cotoína em
A. duckei Kosterm e pinocembrina em A. rosaeodora Ducke. Ambas
são caracterizadas pela presença do álcool linalol, que fornece um
odor forte e perfumado em todas as partes da planta. São
consideradas sinonímias para Aniba rosaeodora Ducke: Aniba
rosaeodora Ducke var. amazonica Ducke e Aniba duckei Kostermans.
Aniba parviflora e A. coto são consideradas espécies relacionadas
com A. rosaeodora pela presença do pseudo-alcalóide anibina. A.
parviflora é uma árvore de pequeno porte com a madeira de cor
esverdeada clara.
Baseada em Ducke (1938) e Kubitzki & Renner (1982).
de grande porte, podendo atingir até 30 m de altura por 2 m
de diâmetro, com um tronco reto e cilíndrico e uma casca pardo-
amarelada ou avermelhada que se desprende facilmente em grandes
placas. A copa estreita ou ovalada ocupa o dossel intermediário ou
superior da floresta.
obovada-elíptica ou lanceolada, com uma grande variação
em tamanho, geralmente medindo de 14 (6-25) cm de comprimento
por 5 (2,5-8) cm de largura. Base obtusa e imediatamente
arredondada, ápice bastante acuminado, com margens planas ou
levemente recurvadas. A superfície superior é glabra, coriácea e
verde escura e a inferior levemente pubescente e amarela pálido. As
nervuras secundárias divergem das nervuras primárias em um ângulo
1
Aniba rosaeodora Ducke
Lauraceae
Sampaio, P. T. B., Ferraz, I. D. K. & Camargo, J. L. C.
2 cm
Aniba rosaeodora Ducke: (A) fruto imaturo. (B) fruto maduro. (C) fruto cortado visualizando a polpa amarela e a semente com tegumento. (D) semente sem
tegumento visualizando os dois cotilédones. (E) vista frontal após a retirada de um dos cotilédones, mostrando a posição basal do eixo embrionário.
(ilustrações: M. Nakajima)
A B C D E
Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke
Frutos em diferentes estádios de maturação e sementes.
de 45 a 60 graus. Pecíolo grosso e glabescente, canaliculado com
0,8 a 1,7 cm de comprimento. As folhas se distribuem
alternadamente ao longo dos ramos menores ou se concentram em
suas pontas.
Panícula sub-terminal com múltiplas flores
localizadas nas axilas das brácteas caducas ou das folhas
persistentes, densamente ferrugínea-tomentosa, com 4 a 17 cm de
comprimento.
hermafrodita, pequena (1,5 mm de comprimento), de cor
ferrugínea-tomentosa. O perianto tem 6 sépalas eretas iguais, ou às
Inflorescência:
Flor:
2
Sampaio, Ferraz & Camargo
Comprimento: 2,8 (2,4-3,1) cm; 4 cm ;
B 3,5-4cm
C
Diâmetro: 2,0 (1,8-2,3) cm; 2 cm
B
Peso: 6,6 (4,3-8,4) g
Teor de água da polpa: 39,5 (32,8-48,1) %
No. de sementes/fruto: 1
Comprimento: 2,4 (1,9-2,9) cm
Largura: 1,7 (1,4-2,0) cm
Espessura: 1,5 (1,2-1,9) cm
Peso: 3,5 (1,8-5,5) g
No. de semente/kg: 272-392; 320A; 750D
Teor de água: 48,5 (36-64) %
Reserva Principal: cotilédones
( ) Loureiro et al. 1979; ( ) Parrotta et al. 1995;
( ) van Roosmalen 1985; ( ) Lorenzi 1998.
AB
CD
SEMENTES
FRUTOS
BIOMETRIA
vezes, as externas podem ser menores. Comumente 9 estames, com
filamentos da mesma largura ou menores do que as anteras. As
anteras possuem válvulas que se abrem geralmente para cima
liberando o pólen. Pistilo minutamente tomentoso. Ovário
elipsóide ou ovóide, glabro ou piloso, incluído no tubo floral.
Pedicelos pouco evidentes.
do tipo baga com uma cúpula. A cúpula é cônica, espessa,
com superfície externa áspera marrom-esverdeada e superfície
interna glabra e marrom. A baga é de forma obovóide a ovóide, de
cor verde quando imatura, tornando-se roxa-escura quando madura,
contendo apenas uma semente. .
ovóide, tegumento delgado, liso e opaco; de cor marrom
clara com estrias longitudinais marrom-escuras. O tegumento
quando seco é quebradiço. A semente tem dois cotilédones
grandes, convexos, duros, lisos, de cor creme. O eixo embrionário é
reto, central, próximo à base, com 3 mm de cumprimento, e também
de cor creme.
Aniba rosaeodora
Ducke ocorre na Guiana Francesa, distribuindo-se ao longo do
escudo das Guianas, Suriname e a região amazônica da Venezuela,
Colômbia e Peru (Ducke 1938). No Brasil, ocorre desde o estado do
Amapá no nordeste amazônico, seguindo as duas margens do Rio
Amazonas e tributários até o Peru à noroeste (SUDAM 1972); como
também desde a região centro-sul do estado do Pará até a bacia do
Rio Purus no sul do estado do Amazonas (Ducke 1938; Mitja &
Lescure 1996). A espécie pode ser encontrada tanto em floresta de
terra firme úmida como também em área de campinarana, presente
nas regiões norte e central da Amazônia, com habitat preferencial
em platôs e nascentes de igarapés (Kubitzki & Renner 1982).
A densidade de árvores adultas (>10 cm DAP) nas florestas de terra
firme ao norte de Manaus é de 2 árv/ha (Loureiro et al. 1979) ou até
Fruto:
Semente:
DISTRIBUIÇÃO, ABUNDÂNCIA E ECOLOGIA:
7,5 árv/ha (Mitja & Lescure 1996). Na Reserva Ducke, vizinha à
Manaus foram encontradas 3 a 4 árv/25 ha com DAP >20 cm (Alencar
& Fernandes 1978). Apesar da presença de indivíduos
espacialmente dispersos, a distribuição das árvores adultas, nas
poucas áreas que não foram exploradas, parece ser agregada em
grupos de 5 a 8 árvores, com espaçamento de 50 a 100 m entre
árvores e 300 a 400 m entre grupos (Alencar & Fernandes 1978;
Araújo 1970).
A regeneração natural do pau-rosa é irregular e pouco freqüente e,
não segue um modelo clássico de distribuição espacial, no qual
espera-se que a probabilidade de ocorrer plântulas estabelecidas é
maior com o aumento da distância em relação à árvore-mãe. Um
estudo com 80 árvores de pau-rosa (>10 cm de DAP), realizado ao
norte de Manaus, mostrou que nos locais circunvizinhos para 70%
das árvores foram encontradas plantas jovens. Aproximadamente
50% destas plantas jovens se distribuíram em um raio de até 10 m da
árvore-mãe. A baixa freqüência da regeneração natural se
caracterizou pelo fato que em apenas 35% destas árvores foram
encontradas mais do que 10 plântulas (Mitja & Lescure 1996). Em
outro estudo, também ao norte de Manaus, Santana (2000)
encontrou a maior densidade de plântulas em uma distância de 4 a 5
m da árvore-mãe e nenhum outro indivíduo além dos 23 metros. Os
sítios regenerativos mais comuns de plântulas de pau-rosa estão
associados com clareiras e bordas de clareiras (Mitja & Lescure
1996).
3 cm
Muda de Aniba rosaeodora com 6 meses.
(ilustração: M. Nakajima)
folhas simples
alternas espiraladas
3
JAN
MAR
ABR
MAI
NOV
OUT
SET
AGO
FEV
JUN
DEZ
JUL
F
L
O
R
A
Ç
Ã
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S
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N
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M
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D
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F
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I
F
I
C
A
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Ã
O
FENOLOGIA
S
A
V
O
N
S
A
H
L
O
F
Fenofases observadas na região de Manaus - AM
Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke
Inicial Médio
viveiro areia e vermiculita recém dispersas
com tegumento
emergência 42% 35 54
viveiroA50% silica-argila emergência 37-91% 30-40 n.d.
viveiroB50% silica-argila emergência 39-75% 17-43 98-127
o
germinador 30 C papel de filtro com tegumento raiz primária
(2 mm)
81% 24 37
papel de filtro sem tegumento raiz primária
(2 mm)
84% 14 22
vermiculita sem tegumento raiz primária
(2 mm)
94% 9 19
vermiculita sem tegumento plântula normal 76% 18 34
( ) Loureiro et al. 1979; ( ) Araújo 1967 AB
Local
de estudo
Critério de
germinação
Tempo de germinação (dias)
Germinação
final
Condição
das sementes
Substrato
recém dispersas
com tegumento
o
germinador 30 C
o
germinador 30 C
o
germinador 30 C
Final
97
60-120
126-168
47
29
37
61
43
n.d.
n.d.
34
19
16
32
Tempo para
germinação de 50%
das sementes
germináveis (dias)
TESTE DE GERMINAÇÃO
FENOLOGIA: Na Amazônia Central, estudos fenológicos mostraram
uma grande variação para as fenofases floração e frutificação entre
os indivíduos, não apresentando necessariamente uma frutificação
anual. Nesta região, a floração ocorre entre outubro e março e a
frutificação apresenta um pico entre fevereiro e junho (Magalhães &
Alencar 1979). Em um estudo mais recente, Spironello e
colaboradores (2001), observaram dois picos de floração para as
árvores de um plantio na Reserva A. Ducke: o primeiro no final de
abril e início de maio e o segundo no final de julho. Também foi
observado que o período de floração individual variou entre 45 e 75
dias; o tempo de maturação dos frutos de 13 até 14 meses e o
período de frutificação se estendeu por 3 a 4 meses. Neste mesmo
estudo, observou-se uma alta incidência de abortos dos frutos para a
maioria das árvores estudadas (10-76%, n=10) e uma grande
variação numérica na produção de frutos que oscilou entre 210 a
1620 frutos maduros por árvore. Apesar da espécie ser perenifólia
ocorre uma maior mudança foliar durante a estação seca (Araújo
1970; Magalhães & Alencar 1979).
A predação dos frutos de pau-rosa, no plantio da
Reserva A. Ducke apresentou uma alta incidência tanto em frutos
abortados (58-86%), quanto em frutos maduros (70-96%), e foi
causada por larvas de vários insetos. O nível de infestação foi
independente da produtividade da árvore. Um coleóptero
(Curculionidae) ataca os frutos durante a fase intermediária de
desenvolvimento; enquanto que uma segunda espécie de coleóptero
do gênero Heilus sp. (75% dos casos) e lepidópteras (20% dos casos)
atacam os frutos na fase final de desenvolvimento até a maturação
(W. Spironello, com. pers.). A proporção de infestação foi maior em
frutos abortados, sugerindo que o coleóptero, que consome os
cotilédones, pode estar induzindo estes abortos. Os frutos de pau-
rosa também são severamente procurados por aves das famílias
Psitacídeos e Ranfastídeos, que os comem mesmo antes da
maturação. (W. Spironello, com. pers.).
Os frutos quando maduros se
desprendem da cúpula e caem ao chão, mas como visto acima,
podem ser comidos tanto na copa das árvores como após a
dispersão, o quê torna a disponibilidade das sementes um dos
pontos mais difíceis para a propagação da espécie. Quando
coletados nas árvores antes da maturação, os frutos imaturos devem
ser transportados em recipientes plásticos e armazenados a
temperatura ambiente até atingir uma coloração escura, indicando
um melhor ponto de maturação. Deve-se evitar qualquer
dessecamento. Após alguns dias, inicia-se o processo de
decomposição da polpa facilitando a extração das sementes que
PREDAÇÃO:
COLETA E EXTRAÇÃO DE SEMENTES:
3 mm
Morfologia do eixo embrionário: (A) vista frontal, depois de retirado um
dos cotilédones. (B) Vista lateral visualizando a inserção dos dois
cotilédones. (ilustrações: M. Nakajima)
4
Sampaio, Ferraz & Camargo
Classificação recalcitrante
Tolerância ao dessecamento não toleram secagem; um teor
de água < 20% é letal
Teor de água recomendado o teor de água da semente
deve ser mantido > 40%
Tolerância à refrigeração das
sementes embebidas
não toleram refrigeração < 10 ºC
Atualmente o melhor resultado
obtido através do método de
conservação
manter as sementes entre 15 e
20 ºC em sacos plásticos finos
e perfurados (com agulha) com
vermiculita úmida
Maior período de conservação
(tempo / % de germinação)
30 dias / 70%
Teor de água da semente baseado em porcentagem da massa fresca
ARMAZENAMENTO DE SEMENTES
deve ser feita manualmente devido ao tegumento ser muito frágil.
Resíduos ainda persistentes podem ser eliminados através da
lavagem das sementes em água corrente, deixando-as prontas para a
semeadura (Ferraz 1993).
As sementes de pau-rosa são
recalcitrantes pois não toleram dessecamento e devem ser
armazenadas com um teor de água acima de 40%. Um teor de água
de igual ou menor do que 20% foi considerado letal para a semente e
mesmo 30% pode ser considerado crítico, porque 50% das sementes
já perdem a germinabilidade. Em laboratório com condições
ambientais as sementes perdem a germinabilidade em um período de
7 dias. As sementes de pau-rosa também são intolerantes à
refrigeração. Atualmente, para armazenar as sementes por um
o o
período curto à temperatura de 15 C a 20 C sugere-se utilizar sacos
plásticos finos e perfurados com vermiculita úmida.
ARMAZENAMENTO DE SEMENTES:
GERMINAÇÃO:
PRÁTICAS DE VIVEIRO E PLANTIO:
A germinação de Aniba rosaeodora é do tipo
hipógea-criptocotiledonar. O grau de maturação dos frutos
influencia no processo germinativo; sementes provenientes de
frutos mais maduros, de coloração roxa escura, apresentam uma
maior porcentagem de germinação (Rosa et al. 1999). As sementes
não apresentam dormência, apesar de que o tegumento apresenta
uma certa resistência física à emissão da radícula. A retirada do
tegumento reduz à metade o tempo de germinação em relação às
sementes intactas. Quando as sementes sofrem um leve
dessecamento, o tegumento enrijece, aumentando a sua resistência
física. Recomenda-se assim, a retirada manual do tegumento após
um corte longitudinal cuidadoso com um estilete para sementes com
baixo vigor e aquelas que sofreram um leve dessecamento (Ferraz
1996). Em condições controladas, a germinação das sementes é
00
alta entre as temperaturas de 20 C e 35 C. Mas, observando a
0
velocidade do processo de germinação, as temperaturas entre 25 C e
0
30 C podem ser consideradas como ideais (Ferraz 1996).
A produção de mudas de Aniba
rosaeodora pode ser feita por semeadura direta em sacos plásticos
individuais ou em sementeiras para posterior repicagem. A semente
pode ser colocada a uma profundidade de 1 a 2 cm sem interferir na
taxa de germinação (Rosa et al. 1999). O pau-rosa não requer um
substrato específico, Rosa e Ohashi (1999) não encontraram
resultados diferenciados de germinação em sementes colocadas em
areia, terra preta ou mistura de pedrisco com terra preta. Assim
como, diferentes coberturas para sementeiras, como vermiculita,
Processo germinativo
(ilustrações: M. Nakajima)
A B
Cotilédone Cotilédone
Plúmula
Ponto de
inserção do
cotilédone
Radícula
Tegumento
Cotilédone
raíz primária
epicótilo
catáfilo epicótilo
catáfilo
primeiro
par de eófilos
opostos
5Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke
palha de arroz ou serragem não influenciaram a germinação de
sementes de pau-rosa (Marques et al. 1999). Um substrato organo-
arenoso, aliado ao sombreamento entre 30 ou 50% são favoráveis ao
desenvolvimento das mudas em viveiros (Rosa et al. 1997; Marques
et al. 1999). Tais condições são similares aos sítios preferenciais de
regeneração natural encontrados nas clareiras e bordas de clareiras
das florestas de terra firme (SUDAM 1972; Rosa et al. 1997).
Sombreamento (50%), adubação com NPK e irrigação diária
favoreceram a sobrevivência (95%) e maximizaram o crescimento
em altura das mudas (30 cm/ano) desta espécie em viveiro (Rosa et
al. 1997). Santana e Barros (1997) ainda propõem a inoculação de
micorriza para acelerar o crescimento das mudas em viveiros.
O pau-rosa também pode ser propagado por estaquia (Vieira 1972).
Um estudo realizado por Sampaio (1987) revelou que estacas de
pau-rosa obtidas de ramos juvenis sem nenhum tratamento
enraízaram 70% em média. Esta técnica oferece grandes
possibilidades de seleção de material de alta qualidade para
plantações experimentais.
Os plantios de pau-rosa sob sombra parcial (50%) da floresta madura
indicam que é possível o cultivo desta espécie em sistemas agro-
silviculturais. O pau-rosa cresce em latossolos amarelos e
vermelhos, em solos arenosos e argilosos, exclusivamente na terra
firme. Trabalhos de melhoramento genético deverão selecionar
procedências ou progênies de maior produtividade em óleo o quê
contribuiria para elevar a produtividade atual, tornado o cultivo “ex
situ” desta espécie atrativa para o agricultor (Sampaio et al. 2000).
Um estudo realizado pela SUDAM (1979) mostrou que esta espécie
apresenta bom índice de sobrevivência (80%), com incrementos
médios anuais de 0,83 m em altura, 0,79 cm em diâmetro e 9,1
3
m /ha/ano em volume em condições de sombra parcial na floresta
primária (30% de luminosidade). Em solo argiloso amarelo e
espaçamento de 10 x 5 m, o pau-rosa apresentou um incremento
médio anual de 0,75 m no sétimo ano após o plantio (Alencar &
Fernandes 1978). Pelas exigências lumínicas, recomenda-se plantar
as mudas de pau-rosa em consórcio com outras espécies que
propiciem um sombreamento de até 50% (Rosa et al. 1997).
O uso principal de Aniba rosaeodora é a
extração do óleo de pau-rosa, constituído principalmente de um
metabólito secundário conhecido como linalol, uma substância
fixadora de perfumes. Apesar do linalol estar presente em todas as
partes da árvore e o rendimento para a extração do óleo ser de 1,1%
e 2,4% da biomassa de madeira e folhas respectivamente, o óleo é
basicamente extraído da madeira (Gottlieb et al. 1964; Araújo et al.
1971; Chaar 2000). Para produzir 200 l de óleo através dos métodos
tradicionais de destilação é necessário processar de 16 t a 30 t de
madeira (Lescure & Castro 1992). A idade do material vegetativo
pode influenciar na proporção de linalol obtido, folhas e galhos
jovens são mais produtivos (Araújo et al. 1971). Na prática dos
extratores, o pau-rosa extraído do estado do Amazonas pode ser
classificado em três tipos segundo diferenças morfológicas e da
produtividade do óleo: o pau-rosa mulatinho, cerne escuro,
densidade elevada, que submerge quando as toras recém cortadas
são postas nos rios, apresenta maior produtividade de óleo (15 l/t);
o pau-rosa itaúba, de cor amarelada e menos densa (10 l/t) e o pau-
rosa imbaúba, muito leve e fácil de rachar, de cor quase branca, com
menor rendimento em óleo.
A extração tradicional do óleo começa com a derrubada das árvores.
O tronco é reduzido a lascas de madeira de 2 a 3 cm de largura e 5 mm
de espessura com um triturador (SUDAM 1972; Ohashi et. al. 1977).
Este material é colocado em um alambique e o processo de
0 0
destilação é feito em duas etapas a temperaturas de 194 C e 200 C,
com este processo, pode-se obter 75% de rendimento (Leitão 1939).
A quantidade de óleo depende do tempo transcorrido entre a
USO E COMERCIALIZAÇÃO:
derrubada, início da destilação e a procedência da árvore. Em geral
uma tonelada de madeira produz 9 a 12 litros de óleo (Alencar &
Fernandes 1978; Prance 1987). Após a destilação, este óleo passa
pelo processo de decantação e coagem para eliminar impurezas. O
transporte é feito em tambores de até 180 kg (SUDAM 1972).
Um estudo sobre o impacto da exploração de pau-rosa, em uma área
de 490 ha ao norte de Manaus, mostrou que para o abate de 66
árvores houve um impacto direto de 1,2% da área total. Cada
indivíduo abatido e transportado perturbou uma área de até 1000
2
m , duplicando assim a área que anualmente espera-se ser afetada
naturalmente pela formação de clareiras (Mitja & Lescure 1996).
O volume de óleo de pau-rosa exportado na década de 60 atingiu
mais de 500 t/ano, com cerca de 50 destilarias instaladas na região
amazônica, extraindo aproximadamente 50 mil t/ano de madeira de
pau-rosa de florestas nativas. Segundo Heinsdijk (1958), mais de
10 milhões de hectares foram explorados. Entre 1966 e 1986, a
exportação através do porto de Manaus, diminuiu de 137 a 17 t e ao
mesmo tempo, o número de destilarias na Amazônia diminuiu de 103
a 20. Em 1988, observou-se um aumento da exportação de 57 t
associado a um aumento do preço de FOB que passou US$ 14 o kg em
1984 a US$ 21 por kg em 1988 (Lescure & Castro 1992). Em 1995, o
estado do Amazonas exportou 41 t de óleo, a um preço de US$ 29,31
o kg. No ano de 2000, somente 4 t de óleo foram exportadas
(Sampaio 2000). Fatores como a substituição do óleo natural de
pau-rosa por correspondentes sintéticos e a inexistência de uma
política florestal para o setor também contribuíram para o declínio
da exportação do óleo nas últimas décadas (Sampaio 2000; Richards
1993). Atualmente, os principais importadores do pau-rosa são os
Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Países Baixos e Reino
Unido e alguns projetos de pesquisa interinstitucionais investigam
as possibilidades de manejo sustentável do pau-rosa (ver Ohashi et
al. 1997).
O sucesso do manejo dos plantios de pau-rosa visando produção de
óleo a partir de galhos e de folhas depende da capacidade de rebrota
e do crescimento dos novos brotos. Em um estudo recente foi
mostrado que a poda da copa estimulou o rebrotamento e a média do
peso verde destas rebrotas (60 kg) foi significativamente superior (p
> 0.001, teste t Student) ao peso verde da copa (37 kg) das árvores
testemunhas, ou seja, não podadas anteriormente (Sampaio et al.
2000, Spironello et al. 2001).
A capacidade de rebrota aliada a maior produtividade de óleo dos
galhos e folhas em relação à madeira das árvores, indicam que este
método pode ser considerado como uma alternativa para o manejo
sustentável de pau-rosa. Do ponto de vista econômico, a poda da
copa como fonte renovável de biomassa manteria por mais tempo o
plantio e disponibilizaria recursos que podem ser investidos, por
exemplo, em adubação, aumentando a eficiência da produção.
Nos plantios de pau-rosa da Reserva Ducke, há uma grande variação
na dimensão das copas. Árvores da bordadura, expostas a maior
luminosidade, apresentaram maior diâmetro, altura e biomassa de
copa. Em uma avaliação, aos nove anos de idade, Alencar e
Fernandes (1978) sugeriram que as árvores que sombreavam o
plantio deveriam ser reduzidas progressivamente para oferecer uma
maior luminosidade. Espaçamentos maiores, desbastes, limpezas,
adubação e podas periódicas certamente ajudariam maximizar a
produtividade destes plantios.
Empresários que desejam plantar pau-rosa visando maximizar a
produção de óleo poderiam optar por plantios consorciados do pau-
rosa com culturas como mandioca, pupunha, banana ou espécies
florestais de rápido crescimento, já que o pau-rosa exige
sombreamento nos primeiros anos de plantio. Estas culturas de
ciclo curto contribuiriam na receita para manutenção do plantio,
pois os custos são elevados e o retorno financeiro viria apenas após
o décimo primeiro ano (Sampaio 1999).
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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INPA - Pesquisas Florestais 4:1- 25.
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Sampaio, Ferraz & Camargo
O Manual de Sementes é uma publicação do Projeto de
Pesquisas Florestais da Amazônia Brasileira (Projeto
Jacaranda), financiada pela cooperação entre o Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA e a Japan
International Cooperation Agency- JICA. As informações
foram compiladas pela equipe do Laboratório de Sementes
da CPST do INPA.
Período do Projeto:
Fase I 1995-1998; Fase II 1998-2003
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Apoio:
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Endereço:
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