Content uploaded by Adilson Marques
Author content
All content in this area was uploaded by Adilson Marques on Jul 02, 2015
Content may be subject to copyright.
Journal of Sport Pedagogy and Research 1(6) - (2015) 24-29
*Correspondência -
João Mota – Faculdade de Motricidade Humana, Estrada da Costa, 1499-002 Cruz Quebrada – Dafundo,
joaomotarodrigues@gmail.com
24
Atividade Física e Rendimento Académico
- Uma Revisão Sistemática de Sete
Revisões Sistemáticas
João Mota1*; André Picado1; Tânia Assunção1; Ana Alvito1; Fábio
Gomes1; Adilson Marques2,3
1Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, Portugal; 2CIPER, Faculdade de
Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, Portugal; 3ISAMB, Instituto de Saúde Ambiental,
Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar dados provenientes de revisões sistemáticas, para
compreender a relação entre a prática de atividade física e educação física, o
rendimento académico e a cognição dos alunos. Realizou-se uma pesquisa na B-On,
em março de 2015, por revisões sistemáticas publicadas entre 2005 e 2015, com as
palavras-chave “physical activity AND academic performance AND systematic
review” sendo encontrados quarenta e sete artigos dos quais sete foram selecionados
para análise.
A maioria dos estudos apresentaram associações positivas entre as variáveis de
estudo, estando as associações discriminadas consoante o tipo, duração, frequência e
intensidade da atividade física, assim como pelo sexo e idade. Fortes evidências
apontam para a existência de efeitos positivos dos programas de atividade física sobre
os resultados académicos, bem como, associações positivas entre a atividade física e
medidas de cognição. Observa-se ainda que reduções na carga horária de educação
física não trarão benefícios para o rendimento académico de outras disciplinas e que a
prática de educação física três vezes por semana tem associação positiva com o
rendimento académico. A literatura sugere a existência de uma associação positiva
entre a prática de atividade física – bem como educação física – e o rendimento
académico.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze data from systematic reviews in order to
understand the relation between the practice of physical activity and physical
education, academic performance and cognition of students.
A search was performed in B-On, in march 2015, for systematic reviews published
between the years of 2005 and 2015, with the key-words “physical activity AND
academic performance AND systematic review”. Forty-seven articles were found,
seven of which selected for analysis.
Most of the studies reported a positive correlation between the variables of study,
attending to the type, duration, frequency and intensity of physical activity, as well as
gender and age. There is strong evidence of a positive effect of physical activity
programs on academic performance, as well as positive associations between physical
activity and cognition measures, as concentration and work memory. It’s also
suggested that reduction in the workload of physical education won’t result in benefits
to academic performance on other curriculum subjects and that participating in
physical education classes three times a week has positive association with academic
performance.
The literature suggests the existence of a positive association between the practice of
physical activity – as well as physical education – and academic performance.
Palavras-chave
Educação física;
Atividade física;
Rendimento
académico;
cognição;
Revisão
sistemática
KEYWORDS
Physical
education;
Physical activity;
Academic
performance;
Cognition;
Systematic review
Atividade física e rendimento académico
Revista da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto, 1(6), pp.24-29, 2015
25
INTRODUÇÃO
A área curricular de educação física (EF), dada a sua
integração no currículo do ensino obrigatório
português, constitui-se como um veículo
privilegiado da prática de atividade física (AF) para
todas as crianças e jovens, independentemente do
seu estatuto socioeconómico. A AF é comummente
definida como qualquer movimento corporal
produzido pelos músculos esqueléticos que resulte
em dispêndio energético (Caspersen, Powell, &
Christenson, 1985). A relação entre a AF e a saúde
está bem documentada, sabendo-se que a prática
regular de AF está associada ao aumento da
densidade mineral óssea, músculos, força e
resistência muscular e redução no risco de
desenvolvimento de fatores de risco para doenças
crónicas; para além de promover a autoestima e
bem-estar (Physical Activity Guidelines Advisory
Committee, 2008). Por esta razão recomenda-se que
as crianças e jovens pratiquem pelo menos 60
minutos de AF diariamente com intensidade
moderada a vigorosa (World Health Organization,
2010).
Apesar dos benefícios da AF para a saúde, as
tendências políticas contemporâneas têm apontado
para uma redução da carga horária alocada à
disciplina de EF, substituindo-a por outras
disciplinas de cariz mais teórico na tentativa de
aumentar as classificações obtidas nas mesmas – tais
como a matemática, língua materna e restantes
disciplinas científicas (UNESCO, 2014). Estas
classificações são comumente designadas de
rendimento académico (RA) – conceito sem
definição única, abarcando resultados obtidos em
diversos instrumentos de avaliação de alunos em
ambiente escolar, desde testes estandardizados a
classificações finais de período. Assim, a relação
entre a AF e o RA (Rasberry et al., 2011) bem como
a relação entre a EF e o RA têm sido alvo de
discussão e investigação recente (Ardoy et al., 2014;
Peralta et al., 2015), culminando em resultados que
sugerem um efeito positivo tanto da AF, como da
própria EF no RA dos estudantes.
Concomitantemente, diversos autores têm-se
debruçado no estudo da relação entre a AF e a
cognição dada a recorrente inexistência de relação
entre estes dois conceitos (Howie & Pate, 2012). Por
cognição entende-se a função mental envolvida na
obtenção de conhecimentos e nos processos de
compreensão (Esteban-Cornejo, Tejero-Gonzalez,
Sallis, & Veiga, 2015). Durante a adolescência a
cognição encontra-se numa fase crítica de
desenvolvimento, constituindo um importante
preditor de saúde na vida adulta (Gottfredson &
Deary, 2004). Para além disto, existem sugestões na
literatura de um efeito indireto da AF no RA que
utiliza a cognição como variável intermédia
(Haapala, 2012); efeito que exploraremos no
decorrer deste estudo.
O objetivo deste estudo foi analisar os dados
provenientes de revisões sistemáticas, para
compreender a relação entre a prática de AF e EF, o
RA e a cognição dos alunos. Como hipótese do
estudo, consideramos que a prática de AF não tem
um efeito detrator no RA, o que poderá servir como
forma de legitimar a disciplina de EF no currículo
escolar. Este estudo ganha relevância ao estabelecer
uma súmula de revisões sistemáticas recentes que
provêm de diversas partes do mundo,
nomeadamente dos Estados Unidos, Finlândia,
Canadá, Austrália e Reino Unido, e que abordam a
relação entre as variáveis citadas, em crianças e
jovens que frequentam as escolas atualmente.!
METODOLOGIA
Estratégia de pesquisa
Em março de 2015 foi feita uma pesquisa de
revisões sistemáticas na B-On. Foram incluídos
artigos publicados entre 2005 e 2015. As palavras-
chave utilizadas foram: “physical activity AND
academic performance AND systematic review”.
Contudo, estudos que estabelecessem a relação entre
atividade física e “academic achievement” também
foram incluídos.
Critérios de Inclusão
Uma série de critérios de inclusão foram pré-
determinados para a seleção dos artigos para esta
revisão sistemática. Cada estudo tinha de cumprir os
seguintes critérios: (1) Ser uma revisão sistemática
(design do estudo); (2) Ter sido publicado entre
2005 e 2015 (data de publicação); (3) Ter de incluir
crianças e adolescentes entre os participantes,
independentemente da idade e do número (n) da
amostra (critério de amostragem); (4) Ter de
estabelecer a relação entre atividade física em
contexto escolar e/ou educação física e rendimento
académico (critério de relação); (5) Ter sido
publicado em inglês ou português (critério
linguístico).
Extração de dados
A seleção dos estudos após a pesquisa foi levada a
cabo pelos autores, onde foram examinados todos os
títulos e resumos para identificar artigos com
relevância para esta revisão.
Resultados da pesquisa
Através da pesquisa realizada, com base nos
critérios de inclusão anteriormente descritos, obteve-
se um total de 47 referências (Figura 1). Depois de
se importarem os dados para o software EndNote
X5, eliminaram-se as referências repetidas (8
referências). Posteriormente, analisou-se a
relevância do título e do resumo dos 39 artigos que
revelou que 32 artigos poderiam ser eliminados (15
Atividade física e rendimento académico
Revista da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto, 1(6), pp.24-29, 2015
26
por não se figurarem revisões sistemáticas, 17 por
não estabelecerem relação entre atividade física em
contexto escolar e/ou educação física e rendimento
académico).
A análise do texto dos sete artigos restantes foi
efetuada, tendo sido considerados apropriados
devido a cumprirem com todos os critérios de
pesquisa definidos. Não obstante, antes dos estudos
serem incluídos na revisão, cada um foi examinado
independentemente por dois revisores para avaliar a
sua qualidade. Os revisores compararam as decisões
e quando houve desacordo chegaram a um consenso
com arbitragem adicional de um terceiro revisor. A
qualidade dos artigos foi avaliada a partir de um
conjunto de critérios. Esses critérios assentaram nas
medidas usadas para aumentar o rigor dos estudos
selecionados; nas medidas usadas para aumentar o
rigor da análise dos dados; nos resultados e sua
discussão (se eram suportados pelos dados); bem
como na extensão e especificidade dos resultados.
Seguidamente, os estudos foram avaliados em
termos da sua fiabilidade e utilidade, sendo a escala
de classificação definida pelos revisores como baixa,
média e elevada. Como todos os estudos foram
avaliados acima do critério mínimo de qualidade,
todos foram incluídos na revisão (n=7). Para analisar
os resultados recorreu-se à síntese temática
(thematic synthesis). Os estudos foram lidos,
identificando as principais caraterísticas e
resultados, independentemente por dois revisores,
que depois reuniram para discutir os resultados de
cada estudo.
!
Figura 1- Diagrama de fluxo.
RESULTADOS
Na Tabela 1 é apresentado o número total de estudos
que foram analisados dentro de cada revisão
sistemática, bem como o número de estudos que
associaram a prática de AF e EF, a cognição e o RA.
Dentro destas sete revisões sistemáticas foram
identificados 100 estudos que relacionaram as
variáveis em estudo, sendo que 62 destes reportaram
uma associação positiva entre as variáveis.!Nos
estudos analisados as relações foram discriminadas
quanto ao tipo, duração, frequência e intensidade da
AF, bem como sexo e idade. Lees e Hopkins (2013)
apresentam uma relação benéfica no RA com a
prática de AF do tipo aeróbio, a partir da
acumulação de 45 minutos por semana. Já Haapala
(2012) salienta maiores benefícios no RA quando a
duração da AF é de 40 minutos, três vezes por
semana comparativamente a 20 minutos com a
mesma frequência. Norris, Shelton, Dunsmuir,
Duke-Williams, e Stamatakis (2015) salientam que a
prática de AF moderada a vigorosa produz efeitos
positivos na melhoria da cognição e do RA. Lees e
Hopkins (2013), por sua vez verificaram que a
prática de AF de intensidade moderada por si só já
apresenta benefícios, enquanto Esteban-Cornejo et
al. (2015) concluíram que a AF de intensidade
vigorosa produz um maior impacto nos processos
cognitivos e no RA. É sugerido ainda que a prática
de AF apresenta benefícios no RA para ambos os
sexos (Trudeau & Shephard, 2008) todavia, Esteban-
Cornejo et al. (2015) e Norris et al. (2015)
verificaram que estes benefícios são superiores no
sexo feminino. Concomitantemente, Esteban-
Cornejo et al. (2015) apontam melhorias na
cognição e no RA em idades entre os 13 e os 18
anos.
DISCUSSÃO
A fim de melhor discutir os efeitos da EF/AF sobre a
cognição e rendimento académico agrupámos os
principais resultados em três categorias de relação.
Educação física e rendimento académico!!
Existem fortes evidências para a ausência de efeitos
negativos dos programas de EF sobre os resultados
académicos (Murray et al., 2007). Foi
adicionalmente identificado que participar em três
ou mais aulas de EF por semana está positivamente
correlacionado com uma melhoria no RA, sugerindo
que a distribuição da carga horária semanal pode ser
um fator relevante (Esteban-Cornejo et al., 2015).
Murray et al. (2007) verificaram que um programa
de intervenção em EF demonstrou ganhos
significativos ao nível da leitura, não existindo
diferenças para as notas de matemática num teste
estandardizado, sugerindo que mesmo reduzindo o
número de horas alocadas às restantes disciplinas,
em detrimento de EF, não existe um prejuízo no
funcionamento e resultados académicos globais.
Atividade física e rendimento académico
Revista da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto, 1(6), pp.24-29, 2015
27
Atividade física e rendimento académico!!
São diversos os estudos que sugerem evidência para
uma relação positiva entre a prática de AF e o RA
(Esteban-Cornejo et al., 2015; Rasberry et al., 2011).
Lees & Hopkins (2013) constataram que a atividade
física aeróbica (AFA) está positivamente associada
com o RA e com o comportamento, para além de
diversas variáveis psicossociais. Referem na sua
análise sistemática um estudo longitudinal onde
foram encontradas melhorias significativas no RA
ao longo de um período de três anos, em escolas que
integram programas de AFA (Donnelly et al., 2009).
Relativamente a este tipo de AF, Reed et al. (2010)
sugerem que existem benefícios significativos em
testes de inteligência, mesmo que realizada com
intensidade moderada. Desta mesma revisão
sistemática surge evidência de que uma acumulação
superior a 45 minutos por semana pode trazer
benefícios para o RA. Ainda assim, Haapala (2012)
sugere que a prática de 40 minutos de AF com uma
frequência de três vezes semanais pode trazer
benefícios acrescidos a intervenções que utilizem
um menor volume, distando ainda assim das
recomendações emanadas pela Organização Mundial
de Saúde (2010) no que toca ao volume
recomendado de AF para jovens e crianças com
vista a benefícios para a saúde de 60 minutos
diários. Trudeau e Shephard (2008) corroboram a
tendência apresentada, verificando que o desporto e
a AF foram preditores de melhor RA em 2200
estudantes do ensino médio nos Estados Unidos da
América. Assim, estes concluem que uma limitação
ou redução do tempo destinado à prática de AF, seja
esta em programas de EF ou de índole desportiva,
não conduzirá a uma melhoria do RA, nem da
aptidão física (bem como marcadores de saúde
cardiovascular e metabólica associados à mesma).
Norris et al. (2015) vêm acrescentar ao corpo de
literatura a investigação sobre a utilização do que os
autores nomeiam de aulas fisicamente ativas – aulas
de matemática, língua materna e estudos sociais que
Autores(
Estudos(
analisados(
Estudos( que(
analisam( a( relação(
entre(as(variáveis(de(
AF,( EF,( Cognição( e(
RA(
%(de( estudos(com(
associação(
positiva( entre(
variáveis(
Principais(conclusões(
Esteban)Cornejo,!
Tejero)Gonzalez,!
Sallis,!&!Veiga,!2015!
20!
20!
80%!
AF!intensa!parece!estar!
positivamente!associada!com!o!
desempenho!cognitivo;!
AF!geral!relacionada!com!o!
rendimento!académico,!
especialmente!em!adolescentes!do!
sexo!feminino;!
Haapala,!2012!
9!
9!
55,5%!
AF!pode!melhorar!processos!
cognitivos!e!memória,!que!a!longo!
prazo!poderão!ter!efeitos!positivos!
no!rendimento!académico;!
Lees!&!Hopkins,!
2013!
8!
5!
80%!
Sugestão!de!benefícios!no!
rendimento!académico!a!partir!da!
acumulação!de!45!minutos/semana!
de!AF;!
Murray,!Low,!Hollis,!
Cross,!&!Davis,!2007!
17!
2!
50%!
Tendência!positiva!para!o!aumento!
do!rendimento!académico!através!
da!AF;!
Norris,!Shelton,!
Dunsmuir,!Duke)
Williams,!&!
Stamatakis,!2015!
11!
6!
50%!
Utilização!de!AF!durante!aulas!pode!
potencializar!rendimento!
académico;!
Rasberry!et!al.,!2011!
43!
43!
50,5%!
Sugestão!de!associação!positiva!
entre!AF!e!rendimento!académico;!
Trudeau!&!
Shephard,!2008!
15!
15!
66%!
Rendimento!académico!não!
aumenta!com!a!limitação!da!AF;!
Atividade física e rendimento académico
Revista da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto, 1(6), pp.24-29, 2015
28
incluem AF – apresentando evidência que sugere
aparentes melhorias no RA. Ainda que a larga
evidência acima mencionada nos permita tecer
associações entre a duração da AF e os seus efeitos
sobre o RA, a associação entre a intensidade ótima
da AF com fim a maximizar os efeitos sobre o RA
encontra-se ainda ténue na literatura, ainda que
exista evidência crescente dos benefícios da AF de
intensidade vigorosa relativamente à intensidade
leve ou moderada (Esteban-Cornejo et al., 2015).
Atividade física e cognição!!
Um crescente corpo de literatura sugere que a AF
tem associações positivas significativas sobre
medidas de cognição, como a concentração,
memória de trabalho e inibição de comportamentos
de desvio em sala de aula (Esteban-Cornejo et al.,
2015). Haapala (2012) relatou uma melhoria na
concentração como resultado da prática de AF, bem
como uma melhoria na memória de trabalho após a
realização de uma tarefa de AF com intensidade
moderada. Para além disto, o autor identificou uma
melhoria no comportamento em sala de aula. Este
mesmo autor sugere, através da literatura
sistematizada, um papel indireto da AF sobre o RA,
através da cognição – a cognição encontra-se
associada à aprendizagem, que por sua vez se
relaciona com o RA. A fim de melhor compreender
o efeito da AF sobre a cognição (e por sua vez no
RA) é importante investigar os mecanismos por
detrás do fenómeno. A maioria das pesquisas sobre
estes mecanismos tem-se centrado no efeito da AF
sobre o hipocampo – dada a sua função central na
memória e aprendizagem. Trudeau e Shephard
(2008) apontam para um aumento da potenciação a
longo termo (PLT) – mecanismo que conduz a um
aumento da eficiência sináptica perante um aumento
do número de estímulos sinápticos – como
fundamental na relação entre AF e cognição. Assim
estes sistematizam três efeitos principais da AF
crónica sobre o hipocampo. O primeiro consiste num
aumento da neurogénese (formação de novos
neurónios) após prática de AF. O segundo efeito
aponta para um aumento da PLT em si, conduzindo
a uma maior capacidade aprendizagem. O terceiro
consiste na resposta hormonal à AF, potenciando
uma concentração aumentada de fatores neuro-
protetivos tais como o brain-derived neurotrophic
factor (BDNF), insulin-like growth factor-1 (IGF-1)
e fibroblast growth factor-2 (FGF-2) no hipocampo,
que para além de conduzirem a uma neurogénese
aumentada, diminuem os processos oxidativos e
danos originados por estes.
Implicações e limitações!
O presente estudo vem reforçar a necessidade de
tomada de decisões de índole política e educacional
por forma a potenciar a prática de EF – sendo que
esta representa acesso curricular para todos a uma
prática de AF monitorizada por especialistas – e de
AF em contexto escolar, através de uma distribuição
cuidada da carga horária da disciplina, bem como
uma atenção especial à intensidade das aulas.
Durante a realização desta revisão deparámo-nos
com várias formas distintas de medir o RA e
definição das variáveis de estudo, o que pode
influenciar as ilações e interpretação dos dados. Para
além disso verificámos uma escrita cautelosa por
parte dos autores no que toca às suas conclusões
finais, ainda que por vezes os resultados sejam
significativos. Uma das limitações desta revisão
passa pelo facto de não termos classificado ou
diferenciado as revisões sistemáticas de acordo com
o tamanho dos participantes dos seus estudos, bem
como termos optado por realizar a pesquisa inicial
somente numa base de dados.
CONCLUSÃO
Ainda que seja necessário um maior corpo de
estudos longitudinais, a maior parte da literatura
existente à data aponta para uma associação positiva
entre a AF e o RA, sendo recomendadas
acumulações de AF superiores a 120 minutos
semanais, com evidência que sugere benefícios da
intensidade vigorosa. No que toca à redução da
carga horária dedicada à prática de AF em
programas de EF, a evidência sugere que a mesma
não trará benefícios ao RA, para além de apontar
para uma associação positiva entre a prática de aulas
de EF três vezes por semana e o RA. Encontra-se
também sugerido na literatura um incremento na
cognição e variáveis associadas a esta – memória e
concentração – através da prática de AF. É reforçado
o papel da AF no aumento do RA através de
benefícios na cognição, dado que esta melhora a
capacidade de aprendizagem.
Atividade física e rendimento académico
Revista da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto, 1(6), pp.24-29, 2015
29
REFERÊNCIAS
Ardoy, D. N., Fernández-Rodríguez, J. M., Jiménez-
Pavón, D., Castillo, R., Ruiz, J. R., & Ortega, F. B.
(2014). A physical education trial improves
adolescents’ cognitive performance and academic
achievement: The EDUFIT study. Scandinavian
Journal of Medicine & Science in Sports, 24(1),
e52–61. http://doi.org/10.1111/sms.12093
Ardoy, D. N., Fernández-Rodríguez, J. M., Jiménez-
Pavón, D., Castillo, R., Ruiz, J. R., & Ortega, F. B.
(2014). A physical education trial improves
adolescents’ cognitive performance and academic
achievement: The EDUFIT study. Scandinavian
Journal of Medicine & Science in Sports, 24(1),
e52–61. http://doi.org/10.1111/sms.12093
Caspersen, C. J., Powell, K. E., & Christenson, G.
M. (1985). Physical activity, exercise, and physical
fitness: Definitions and distinctions for health-
related research. Public health reports, 100(2), 126.
Donnelly, J. E., Greene, J. L., Gibson, C. A., Smith,
B. K., Washburn, R. A., Sullivan, D. K., …
Williams, S. L. (2009). Physical activity across the
curriculum (PAAC): A randomized controlled trial
to promote physical activity and diminish
overweight and obesity in elementary school
children. Preventive medicine, 49(4), 336–341.
http://doi.org/10.1016/j.ypmed.2009.07.022
Esteban-Cornejo, I., Tejero-Gonzalez, C. M., Sallis,
J. F., & Veiga, O. L. (2015). Physical activity and
cognition in adolescents: A systematic review.
Journal of Science and Medicine in Sport.
http://doi.org/10.1016/j.jsams.2014.07.007
Gottfredson, L. S., & Deary, I. J. (2004).
Intelligence predicts health and longevity, but why?
Current Directions in Psychological Science, 13(1),
1–4. http://doi.org/10.1111/j.0963-
7214.2004.01301001.x
Haapala, E. (2012). Physical activity, academic
performance and cognition in children and
adolescents. A systematic review. Baltic Journal of
Health and Physical Activity, 4(1), 53–61.
Howie, E. K., & Pate, R. R. (2012). Physical activity
and academic achievement in children: A historical
perspective. Journal of Sport and Health Science,
1(3), 160–169.
http://doi.org/10.1016/j.jshs.2012.09.003
Lees, C., & Hopkins, J. (2013). Effect of aerobic
exercise on cognition, academic achievement, and
psychosocial function in children: A systematic
review of randomized control trials. Preventing
Chronic Disease, 10.
http://doi.org/10.5888/pcd10.130010
Murray, N. G., Low, B. J., Hollis, C., Cross, A. W.,
& Davis, S. M. (2007). Coordinated school health
programs and academic achievement: A systematic
review of the literature. The Journal of School
Health, 77(9), 589–600.
http://doi.org/10.1111/j.1746-1561.2007.00238.x
Norris, E., Shelton, N., Dunsmuir, S., Duke-
Williams, O., & Stamatakis, E. (2015). Physically
active lessons as physical activity and educational
interventions: A systematic review of methods and
results. Preventive Medicine, 72C, 116–125.
http://doi.org/10.1016/j.ypmed.2014.12.027
Peralta, M., Maurício, Í., Lopes, M., Costa, S.,
Sarmento, H., & Marques, A. (2015). A relação
entre a educação física e o rendimento académico
dos adolescentes: Uma revisão sistemática (The
relationship between physical education and
academic achievement for adolescents: A systematic
review). Revista de Psicologia da Criança e do
Adolescente, 5(2), 129–137.
Physical Activity Guidelines Advisory Committee.
(2008). Physical activity guidelines advisory
committee report. Washington, DC.
Rasberry, C. N., Lee, S. M., Robin, L., Laris, B. A.,
Russell, L. A., Coyle, K. K., & Nihiser, A. J. (2011).
The association between school-based physical
activity, including physical education, and academic
performance: A systematic review of the literature.
Preventive Medicine, 52(Suppl 1), S10–20.
http://doi.org/10.1016/j.ypmed.2011.01.027
Reed, J. A., Einstein, G., Hahn, E., Hooker, S. P.,
Gross, V. P., & Kravitz, J. (2010). Examining the
impact of integrating physical activity on fluid
intelligence and academic performance in an
elementary school setting: A preliminary
investigation. Journal of Physical Activity & Health,
7(3), 343–351.
Trudeau, F., & Shephard, R. J. (2008). Physical
education, school physical activity, school sports
and academic performance. International Journal of
Behavioral Nutrition and Physical Activity, 5(1), 10.
http://doi.org/10.1186/1479-5868-5-10
UNESCO. (2014). UNESCO-NWCPEA. World-wide
survey of school physical education. Paris, France:
UNESCO.
World Health Organization. (2010). Global
recommendations on physical activity for health.
Geneva, Switzerland: World Health Organization.