Os jogos de agressão (JA), os ‘jogos de não oxigenação’ (JNO) e os ‘jogos de desafios’ fazem parte do fenômeno social brincadeiras perigosas, que são comportamentos de risco realizados em um contexto recreativo e de socialização entre pares. Diante das implicações psicossociais dessas práticas e de sua disseminação no meio infantojuvenil, faz-se mister o desenvolvimento de pesquisas que investiguem os fatores de risco associados a esses comportamentos. Nesse contexto, o objetivo geral desta dissertação foi investigar as relações entre traços de personalidade, características emocionais e a participação de adolescentes em brincadeiras perigosas na adolescência, atendo-se ao contexto dos JA e dos JNO. Para tanto, foram desenvolvidos três estudos. No estudo I, realizou-se uma revisão sistemática sobre a prevalência da prática e os fatores associados à participação em brincadeiras perigosas. Analisaram-se 27 relatos de casos e 16 estudos transversais. Verificou-se que as três modalidades de ‘jogos’ foram associadas a outras condutas de risco e psicopatologias. Em relação ao estudo II, participaram 239 adolescentes de Fortaleza-CE, na faixa etária entre 12 e 17 anos (M = 14,64; DP = 1,69). Foram administrados cinco instrumentos de medida, a saber, (1) Questionário sociodemográfico, (2) Questionário de Brincadeiras Perigosas, (3) Escala de Impulsividade de Barratt para adolescentes, (4) Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade e (5) Inventário de depressão Infantil. A coleta de dados foi realizada no formato remoto assíncrono por meio de um formulário online. As análises estatísticas foram realizadas no software IBM SPSS Statistics 23.0, sendo empregadas Análises de Variância de uma Via para avaliar se havia diferenças entre os grupos com e sem histórico de prática de JA e/ou JNO em relação aos sintomas depressivos, à impulsividade e aos cinco fatores da personalidade. Constataram-se padrões diferenciados entre os grupos em relação aos traços neuroticismo [F(3, 239) = 11,95, p < 0,001] e conscienciosidade [F(3, 57,66) = 3,76, p = 0,016] e aos sintomas impulsivos [F(3, 239) = 7,41, p < 0,001] e depressivos [F(3, 50.67) = 7,19, p < 0,001]. O estudo II foi realizado com 35 adolescentes com histórico de participação em JA e/ou JNO e 35 adolescentes sem histórico de prática. Foi administrado, no formato remoto síncrono, o Sistema de Aplicação Informatizada do Pfister – Pfister Online. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para verificar as diferenças estatísticas entre os grupos no que concerne à dinâmica emocional, avaliada por meio do Pfister Online. Como resultado, observou-se um aumento da tonalidade 2 do vermelho (p = 0,003; r = 0,49) e da síndrome de estímulo (p = 0,030; r = 0,40) do Pfister Online no grupo com histórico de participação apenas em JA, em comparação ao grupo sem histórico. Constatou-se um aumento de formações simétricas entre os praticantes apenas de JNO, quando comparados aos não praticantes (p = 0,007; r = 0,48). Destaca-se a relevância desta dissertação para a literatura cientifica, uma vez que foram apresentados dados empíricos sobre as especificidades dos JA e dos JNO no contexto sociocultural brasileiro, um tema pouco debatido em publicações nacionais.