ArticlePDF Available
institutonanocell.org.br http://www.institutonanocell.org.br/a-neurobiologia-do-amor-as-fases-e-emocoes-envolvidas/
A NEUROBIOLOGIA DO AMOR: As Fases e Emoções
Envolvidas
A NEUROBIOLOGIA DO AMOR: As Fases e Emoções Envolvidas
Débora Sterzeck Cardoso, Laryssa H. E. Nishio, Soha Chabrawi, Silvia Honda Takada, Alexandre Hiroaki
Kihara
Laboratório de Neurogenética / Núcleo de Cognição e Sistemas Complexos / Universidade Federal do
ABC
Edição Vol. 2, N. 2, 20 de Outubro de 2014
DOI: http://dx.doi.org/10.15729/nanocellnews.2014.10.19.008
Nas últimas décadas, com o surgimento de técnicas como a tomografia computadorizada por emissão de
pósitrons e a ressonância magnética funcional, os neurocientistas começaram a investigar assuntos como o
amor, a atração e a monogamia; áreas que até então tinham prevalência de estudos psicológicos e sociológicos.
Desta forma, eles foram à busca de respostas para perguntas como o porquê nos apaixonamos e o porquê
escolhemos uma pessoa específica.
Psicólogos definiram três diferentes fases para um relacionamento amoroso: 1) paixão/romantismo, 2) amor
passional e 3) companheirismo; além do rompimento, que pode ocorrer durante esse percurso, sendo que cada
uma apresenta suas próprias características (Figura 1).
Figura 1: Esquema ilustrando as fases do amor e suas respectivas durações: 1) paixão/romantismo, 2) amor
passional e 3) companheirismo. O rompimento, que pode ocorrer durante esse percurso, também está
representado, sendo mais comum que ocorra entre as fases 2 (amor passional) e 3 (companheirismo).
A primeira fase, relativamente curta (aproximadamente 6 meses), apresenta grandes variações hormonais de
oxitocina e vasopressina que são importantes hormônios que regulam áreas do sistema de recompensa do
cérebro (Figura 2), complexa rede de neurônios que é ativada quando fazemos atividades que causam prazer.
Figura 2: Localização das principais áreas envolvidas no relacionamento amoroso: núcleo Accumbens; núcleo
pálido ventral e área tegmental ventral.
Boer e colaboradores (1), da Universidade de Groningen, na Holanda, publicaram em 2012 um artigo de revisão
bastante interessante sobre as perspectivas neurobiológicas atuais do amor e afeição.
Os autores relatam diversos estudos realizados com o objetivo de elucidar a base neurobiológica da monogamia,
a maioria deles comparando duas diferentes espécies de ratazanas (monogâmicas e promíscuas), em que estas
áreas e regiões adjacentes demonstraram alterações em sua ativação durante a fase inicial do amor (romântica).
Estas áreas estão intimamente ligadas à dopamina, outro importante neurotransmissor para o sistema de
recompensa.
A relação entre a dopamina e a monogamia foi demonstrada no encéfalo destes animais em que, após infusão
moderada deste hormônio no núcleo Accumbens da espécie promíscua, elas passaram a apresentar
comportamento monogâmico. É como se seu companheiro ou companheira que é muito assanhado(a) passasse
a ser a pessoal mais fiel à você!
Além do sistema de recompensa cerebral, foram observadas alterações na atividade de regiões corticais que se
associam às experiências emocionais, principalmente o medo, sentimento que diminui quando estamos próximos
às pessoas amadas; as experiências negativas e de julgamento, observado na incapacidade de julgarmos
honestamente o caráter de quem amamos; e de percepção sobre a evolução dos sentimentos e intenções da
outra pessoa.
A segunda fase, a fase passional, compreende até o primeiro ano de relacionamento.Nesta fase, a oxitocina e a
vasopressina estão envolvidas na formação de um relacionamento sólido. Estas alterações geram os sentimentos
de segurança, calma e equilíbrio.
Em 2013, Scheele e colaboradores ( 2) avaliaram a ação da administração intranasal de oxitocina (OXT) no
sistema de recompensa dopaminérgico, através da apresentação da foto da parceira em comparação com a de
outras mulheres exemplificadas adiante.
Foram selecionados 40 participantes do sexo masculino, adultos, não fumantes que estavam em um
relacionamento amoroso heterossexual por mais de 6 meses, solteiros e sem filhos que, portanto, estavam
vivenciando a segunda fase do amor, o amor passional.
Foram realizados dois estudos, um de Descoberta (DSC) e um de Replicação (RPL) ( Figura 3), cada um com 20
sujeitos. Trinta minutos antes de começar o teste, estes foram aleatoriamente selecionados para receberem OXT
intranasal ou Placebo (PLC).
No DSC, foram apresentadas a foto da parceira, de uma mulher desconhecida (com igual grau de beleza) e a
figura de uma casa como controle, pois esta não é considerada um estímulo facial.
no RPL, a figura da casa foi substituída pela foto de uma mulher familiar que conhecia o participante há, no
mínimo, 30 meses.
Figura 3: Exemplificação da realização dos estudos, contendo o tipo de estudo (verde), imagens utilizadas (azul)
e substância utilizada (laranja).
Ambos os estudos utilizaram a Ressonância Magnética Funcional (RMf) para visualizar o contraste de ativação
cerebral quando cada uma das fotos foram apresentadas, além de ser avaliado o grau de atratividade e
recompensa para cada foto.
O efeito da OXT foi evidenciado quando houve o aumento de ativação pela visualização da parceira e decréscimo
de ativação pela visualização da foto da mulher desconhecida no núcleo Accumbens (NAcc) e na Área Tegmental
Ventral (ATV), o que intensificou o sentimento de recompensa pela parceira quando a foto foi apresentada. Isto
aumentou a ativação da área de recompensa, sendo ainda o ATV recentemente sugerido como área de ação da
oxitocina para salientar os estímulos socialmente relevantes.
A ativação da ATV sofreu decréscimo, em ambos os estudos RPL e DSC, após o tratamento com OXT, o que
pode contribuir para os relacionamentos duradouros, pois demais mulheres se tornam menos atrativas, porém
não foram realizados estudos comportamentais para validação desta hipótese.
Quando comparado à casa, figura neutra, com a parceira no tratamento com placebo (PLC), notou-se ausência
de forte resposta neural, pois a casa o é uma figura o recompensadora quanto uma mulher desconhecida
com igual grau de beleza que sua parceira.
Nos homens envolvidos em relacionamentos amorosos o aumento de oxitocina (OXT) sinaliza a proximidade,
apoio social, contato íntimo ou sexo como atividades muito mais gratificantes se compartilhadas com sua
parceira.
Através destes estudos, verificou-se a possível influência da OXT no aumento da atração facial, da comunicação
entre o casal durante discussões e da fidelidade masculina através do distanciamento das demais mulheres.
Contudo, neste estudo não foram analisados os efeitos da OXT na ansiedade e no humor, sendo necessárias
análises mais sensíveis que possam detectar alterações mais sutis. Podem também ter ocorrido alterações
inconscientes de afetividade, pois não foram coletados dados psicológicos.
A terceira fase, companheirismo, é caracterizada pela diminuição da paixão e o aumento de comprometimento
com o parceiro, o que se assemelha a um sentimento de amizade. A oxitocina e a vasopressina mantêm seu
papel, sendo os hormônios dominantes para manter o relacionamento.
Contudo, não podemos classificar todas as relações amorosas desta maneira, pois um terço dos casamentos
acaba em divórcio e outros relacionamentos chegam ao fim, ainda entre as primeiras etapas, sendo mais comum
na transição da fase passional para o companheirismo. Neste período, a intimidade entre os casais decai e o
compromisso é o maior laço entre o casal, tornando assim a relação frágil.
Ao avaliar a atividade cerebral de pessoas que haviam terminado seus relacionamentos recentemente, foi
observada uma alta atividade em outras regiões do sistema de recompensa dopaminérgico que estão associadas
a recompensas incertas e respostas tardias,caracterizando o sentimento de incertezas de futuro (1).
Os estudos realizados na tentativa de elucidar as bases neurobiológicas do relacionamento amoroso ainda são
escassos, apesar do interesse crescente de cientistas e pesquisadores da área de Neurociências e dos recentes
avanços das cnicas de imagem. Muitos deles, realizados em animais, talvez não possam ser transpostos ao
homem, mas com certeza ajudam a compreender este campo ainda tão pouco explorado. Embora seja um
estudo bem complexo, o amor nos seres humanos é um interessante pico que merece ser aprofundado no
sentido neurobiológico, levando a novas descobertas nos próximos anos.
Referências
1. de Boer A, van Buel EM, Ter Horst GJ. Love Is More Than Just a Kiss: A Neurobiological Perspective on Love
and Affection. Neuroscience. 2012 Jan 10;201:114-24. PubMed PMID: ISI:000299400700011. English.
2. Scheele D, Wille A, Kendrick KM, Stoffel-Wagner B, Becker B, Gunturkun O, et al. Oxytocin enhances brain
reward system responses in men viewing the face of their female partner. P Natl Acad Sci USA. 2013 Dec
10;110(50):20308-13. PubMed PMID: ISI:000328061700077. English.
A reprodução parcial ou total só é permitida com a citação do artigo do Nanocell News.
ISSN 2318-5880
ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.
Article
Full-text available
Significance Sexual monogamy is potentially costly for males, and few mammalian species along with humans exhibit it. The hypothalamic peptide oxytocin (OXT) has been implicated in mediating pair bonds in various species, but as yet, we know little about neurobiological factors that might act to promote fidelity, especially in men. Here we provide evidence for a mechanism by which OXT may contribute to romantic bonds in men by enhancing their partner's attractiveness and reward value compared with other women.
Article
Love, attachment, and truth of human monogamy have become important research themes in neuroscience. After the introduction of functional Magnetic Resonance Imaging (fMRI) and Positron Emission Tomography (PET), neuroscientists have demonstrated increased interest in the neurobiology and neurochemistry of emotions, including love and affection. Neurobiologists have studied pair-bonding mechanisms in animal models of mate choice to elucidate neurochemical mechanisms underlying attachment and showed possible roles for oxytocin, vasopressin, and dopamine and their receptors in pair-bonding and monogamy. Unresolved is whether these substances are also critically involved in human attachment. The limited number of available imaging studies on love and affection is hampered by selection bias on gender, duration of a love affair, and cultural differences. Brain activity patterns associated with romantic love, shown with fMRI, overlapped with regions expressing oxytocin receptors in the animal models, but definite proof for a role of oxytocin in human attachment is still lacking. There is also evidence for a role of serotonin, cortisol, nerve growth factor, and testosterone in love and attachment. Changes in brain activity related to the various stages of a love affair, gender, and cultural differences are unresolved and will probably become important research themes in this field in the near future. In this review we give a resume of the current knowledge of the neurobiology of love and attachment and we discuss in brief the truth of human monogamy.