ArticlePDF Available

Abstract

A ninguém certamente oferece a mais ligeira dúvida sobre o poder da Imprensa, um poderoso veículo de propagação da informação, das ideias e do conhecimento, um meio simples, acessível e eficaz, de intervenção cívica e de influência política. Esclareça-se que quando nos referimos à Imprensa estamos a falar concretamente de jornais, órgãos de informação periódica, cujo espaço de intervenção geográfica se reparte entre dois horizontes, o regional e o nacional, cabendo entre ambos, como elemento diferenciador, a sua efectiva capacidade de expansão. Não obstante, o que verdadeiramente distingue a Imprensa como órgão de comunicação social é a sua capacidade de interferência pública e de consciencialização das massas. Em certos momentos da História da Humanidade, essas capacidades transformaram-se em elementos catalizadores, isto é, em princípios revolucionários conducentes à irrupção de uma nova ordem social. São disso exemplo os jornais da Revolução Francesa, que no ano da sua eclosão se editaram em tal profusão que chegaram quase às duas centenas de títulos. Só em Paris publicaram-se 23 diários. O mesmo ocorreu nos períodos revolucionários que marcaram o Libe-ralismo Oitocentista, de tal forma que foi considerado como a era do jornalismo. Repare-se que em Portugal, no período de 1800 a 1820, publicaram-se 106 jornais, mas nos oito anos seguintes, período áu-reo do nosso emergente liberalismo, editaram-se 231 novos títulos, dos quais mais de uma centena vieram a público entre 1826 a 1828. Mas de 1829 até à entrada em Lisboa das tropas liberais do duque da Terceira, em 24-7-1833, editaram-se 52 títulos, a maioria dos quais de inspiração constitucional. De Julho de 1833 até à eclosão da cé-lebre revolução do 9 de Setembro de 1836, ou seja, em apenas três anos, publicaram-se 151 jornais; mas no biénio seguinte editaram-se 110 títulos. Entre 1839 e a revolução da «Maria da Fonte», que culminaria em 1847 com a guerra civil da «Patuleia», publicaram-se mais 310 novos títulos, parecendo assim que a imprensa se desenvolvia conforme o evoluir dos grandes acontecimentos históricos, quando na verdade foi a imprensa que acentuou, se não mesmo acicatou, o eclodir dos grandes eventos político-revolucionários. A partir da «Regeneração», isto é, após o ano de 1851, a imprensa em Portugal evoluiu em flecha, com a diferença de que a partir de então a sua cobertura geográfica não se restringia preferencialmente ao espaço continental, mas também aos territórios insulares, expandindo-se, inclusivamente com certa intensidade, para as colónias ultramarinas, onde, na maioria dos casos, os jornais eram verdadeiras caixas de ressonância dos partidos que na metrópole se digladiavam pelo exercício do poder.
122
A ImprensA republIcAnA
no AlgArve
A ninguém certamente oferece a mais ligeira dúvida sobre o poder da Imprensa, um
poderoso veículo de propagação da informação, das ideias e do conhecimento, um meio
simples, acessível e eficaz, de intervenção cívica e de influência política. Esclareça-se
que quando nos referimos à Imprensa estamos a falar concretamente de jornais, órgãos
de informação periódica, cujo espaço de intervenção geográfica se reparte entre dois
horizontes, o regional e o nacional, cabendo entre ambos, como elemento diferenciador,
a sua efectiva capacidade de expansão. Não obstante, o que verdadeiramente distingue a
Imprensa como óro de comunicação social é a sua capacidade de interferência pública
e de consciencialização das massas. Em certos momentos da História da Humanidade,
essas capacidades transformaram-se em elementos catalizadores, isto é, em princípios
revolucionários conducentes à irrupção de uma nova ordem social.
São disso exemplo os jornais da Revolução Francesa, que no ano
da sua eclosão se editaram em tal profusão que chegaram quase às
duas centenas de títulos. em Paris publicaram-se 23 diários. O
mesmo ocorreu nos períodos revolucionários que marcaram o Libe-
ralismo Oitocentista, de tal forma que foi considerado como a era do
jornalismo. Repare-se que em Portugal, no período de 1800 a 1820,
publicaram-se 106 jornais, mas nos oito anos seguintes, período áu-
reo do nosso emergente liberalismo, editaram-se 231 novos títulos,
dos quais mais de uma centena vieram a público entre 1826 a 1828.
Mas de 1829 até à entrada em Lisboa das tropas liberais do duque
da Terceira, em 24-7-1833, editaram-se 52 títulos, a maioria dos quais
de inspiração constitucional. De Julho de 1833 até à eclosão da cé-
lebre revolução do 9 de Setembro de 1836, ou seja, em apenas três
anos, publicaram-se 151 jornais; mas no biénio seguinte editaram-se
110 títulos. Entre 1839 e a revolução da «Maria da Fonte», que culmi-
naria em 1847 com a guerra civil da «Patuleia», publicaram-se mais
310 novos títulos, parecendo assim que a imprensa se desenvolvia
conforme o evoluir dos grandes acontecimentos históricos, quando
na verdade foi a imprensa que acentuou, se não mesmo acicatou,
o eclodir dos grandes eventos político-revolucionários. A partir da
«Regeneração», isto é, após o ano de 1851, a imprensa em Portugal
evoluiu em flecha, com a diferença de que a partir de então a sua
cobertura geográfica não se restringia preferencialmente ao espaço
continental, mas também aos territórios insulares, expandindo-se,
inclusivamente com certa intensidade, para as colónias ultramari-
nas, onde, na maioria dos casos, os jornais eram verdadeiras caixas
de ressonância dos partidos que na metrópole se digladiavam pelo
exercício do poder.
Professor da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve
José Carlos Vilhena Mesquita
123
Tudo isto serve para dizer que quando se alteravam as circunstân-
cias político-socioeconómicas a imprensa (res)surgia em força e nú-
mero para acentuar um dos pratos da balança, geralmente aquele
que fosse mais progressista. Essa foi sempre uma das tendências
naturais da imprensa, não só em Portugal como no resto da Europa.
Os jornais, na maioria dos casos, foram sempre, e por natureza pró-
pria, uma espécie de mensageiros da mudança, arautos da verdade
e das injustiças sociais, tribunas de defesa dos mais desfavorecidos,
areópagos do espírito da liberdade e fautores da revolução. Daí que
na essência germinadora do jornal estivesse sempre presente uma
ideia, ou uma ideologia, mas quase sempre um grupo político ou
uma instituição social, como cimento aglutinador da missão político-
socioeconómica que inspirava a sua vinda a público. Na sua origem
os jornais eram criadores de opinião, fomentadores do espírito de
grupo, instigadores da crítica social e do combate político. Nas suas
colunas, geralmente corridas, inestéticas e pouco tituladas, campe-
ava a opinião em detrimento da notícia, que na maioria dos casos se
restringia àquilo a que hoje chamamos as “breves”.
Mas, essa preponderância da Imprensa era possível alcançar
através da efectiva credibilidade daqueles que expõem nas colu-
nas dos jornais uma opinião contagiante pela seriedade dos seus
conceitos, pela justeza dos seus valores morais e pela honradez dos
seus objectivos. Por conseguinte, a maior ou menor eficácia da Im-
prensa para erigir uma opinião pública dependia quase em exclusivo
daqueles que nela escreviam, isto é, dos seus jornalistas efectivos
e dos seus colaboradores eventuais. Foi assim que no passado se
fez da imprensa um tablado da redenção ético-social, um vigoroso
elemento moralizador e potencializador dos ideais libertários. Por
isso é que a arma mais eficaz da Revolução foi sempre a opinião
jornalística, séria, credível e contagiante.
E essas qualidades tornaram-se mais visíveis a partir do momento
em que começou a surgir a chamada imprensa de oposição, geral-
mente de inspiração republicana, embora não raramente conota-
da com organizações sindicalistas, movimentos operários e forças
anarquistas. Geralmente esses jornais despontavam na eclosão de
momentos de forte contestação social e política, por serem os mais
favoráveis à adesão pública no apoio aos movimentos de oposição
social e de impugnação partidária.
José Graça Mira - Natural de Alte
Jornalista e Director da “Folha de Alte
“O Imparcial”-- Semanário Literário , Noticioso
e Recreativo. Loulé
Início – 23-01-1916 Fim - 28-05-1916
Director –Filipe do Nascimento Barros
“O Sul” - Semanário Republicano - Defensor
dos Interesses da Região. Faro
Início – 24-03-1912 Fim – 04-08-1918
Director – Álvaro Júdice
124
Com a eclosão da guerra civil de 1846-1847,
iniciada com o movimento popular agrário
designado por «Maria da Fonte» e prosse-
guida pelas hostilidades vulgarmente desig-
nadas por «Guerra da Patuleia», durante a
qual os partidos políticos então vigentes e
preponderantes cartistas versus setem-
bristas, e outras facções menos pujantes e
organizadas, como miguelistas, cabralistas
e democratas – extremaram de tal forma as
suas posições que se digladiaram com armas
em nome de supostos interesses nacionais e
da independência da pátria. Não vamos de-
morar-nos com a análise dos factos, mas não
podemos deixar de referir que durante seis
meses, período em que decorreram as hos-
tilidades militares, o país viu-se submetido a
um odioso clima de guerra civil, que só termi-
naria debaixo da ameaça da intervenção mili-
tar britânica. O único resultado prático dessa
lamentável contenda político-militar foi a ex-
pulsão do Conde de Tomar, António Bernar-
do da Costa Cabral e do seu irmão José, que
seguiram para um exílio dourado, de onde ali-
ás regressariam dois anos depois para formar
novamente governo em 1849. O poder dos
“Cabrais” terminaria definitivamente com o
movimento da “Regeneração”, idealizado por
Alexandre Herculano, mas efectivado pelo
marechal Saldanha em 1851, do qual nasceria
de forma irrevogável o regime liberal, o esta-
do moderno e a própria democracia.
Uma das consequências práticas da «Guerra
da Patuleia» foi precisamente o de fazer sur-
gir no horizonte político novas e diferentes
forças, como se perfilassem alternativas ino-
vadoras para garantir o futuro do país. Entre
essas alternativas houve uma que se afirmou,
por vezes de forma clandestina, por ser de-
masiado revolucionária para a época. Referi-
mo-nos ao projecto alternativo da República,
que na sua bondade política era, sem sombra
de dúvida, o mais revolucionário e o mais ge-
neroso para as classes laboriosas e para os
mais desfavorecidos, mas ao mesmo tempo
o mais temido e desacreditado, por causa da
experiência atrabiliária e sangrenta da Revo-
lução Francesa. Devemos lembrar que por
essa altura o clima político na Europa agitava-
se em diversas convulsões, mercê da eclosão
de movimentos revolucionário de cariz repu-
blicano e socialista, conhecido na História pe-
las Revoluções de 1848, com particular realce
para a publicação do «Manifesto Comunista»
e a formulação do seu consequente partido
político. Convém dizer que envolvidos nes-
se caldo revolucionário eclodiram revoltas e
movimentos republicanos em França, Áustria,
Prússia, Itália e Hungria.
Seja como for, se com a Revolução de 1820
houve quem se mostrasse afecto ao projec-
to republicano, esse exemplo frutificaria em
momentos de profunda exaltação patriótica
e revolucionária, como aconteceu após o de-
sanuviar da «Guerra da Patuleia», quando em
1848 surgiram em Lisboa, oriundos de prelos
clandestinos, diversos jornais a defenderem
abertamente a instauração do novo regime,
como «O Republicano», «A Alvorada» (Abril a
Maio), «É Tarde – ao povo portuguez» (n.º úni-
co de 10 de Abril), «O Regenerador – jornal
do povo» (15 de Abril a 15 de Novembro), «A
República» (25 de Abril a 20 de Junho) e «A
Fraternidade» (8 a 13 de Maio). E morreu aqui,
diríamos que à nascença, esta primeira vaga
da imprensa republicana em Portugal.
Renasceria sempre que o equilíbrio político
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
Os primórdiOs
dO
republicanismO
pOrtuguês
Carlos Lyster Franco
José Dias Sancho
125
se tornasse insustentável, e sempre que as
conjunturas internacionais suscitassem ven-
tos de mudança. Quando os partidos polí-
ticos vigentes não davam resposta segura e
fiável para a manutenção da paz social e da
governabilidade do Estado, logo surgia o es-
pectro republicano como alternativa de regi-
me e de justiceiro da luta de classes.
Ora foi precisamente por causa das grandes
controvérsias político-partidárias entre Rege-
neradores e Progressistas (herdeiros naturais
de cartistas e setembristas do passado) que
nasceu aquilo a que podemos verdadeira-
mente chamar a imprensa republicana, cuja
origem remonta aos periódicas anteriormen-
te citados, mas cuja afirmação como órgãos
de propaganda política só se evidenciaria na
década de sessenta do século XIX, fruto das
contestações estudantis ocorridas na Uni-
versidade de Coimbra, em cujo seguimento
despontaria a conhecida «Questão Coimbrã»,
igualmente designada por «Questão do Bom
Senso e do Bom Gosto», que oporia uma nova
geração de intelectuais, liderada por Antero
de Quental, pró-socialista, e por Teófilo Bra-
ga, pró-republicano, contra os representantes
da velha escola ultra-romântica encabeçada
pelo poeta António Feliciano de Castilho e,
embora acessoriamente, pelo romancista Ca-
milo Castelo Branco. É um facto que a plêiade
de intelectuais da chamada «ideia nova», na
qual, além do Antero e do Teófilo, também se
integravam Oliveira Martins, Eça de Queirós,
Manuel de Arriaga, Batalha Reis, Ramalho Or-
tigão, Basílio Teles e até, ainda que episodica-
mente o poeta João de Deus.1
O impulso proporcionado por essa recente
vaga de jovens intelectuais daria origem ao
fervilhar de novas ideias e de renovados pro-
jectos reformistas, formando diferentes ca-
1 Vide J. C. Vilhena Mesquita, «A Geração de 70», in Stilus – Revista de
Cultura Algarvia, nº 6-7, Faro, AJEA Edições, 2004, pp. 181-188.
minhos e distintas perspectivas de alcançar a
Revolução, a qual se consubstanciaria na mu-
dança de regime e na consumação duma de-
mocracia mais efectiva e abrangente, ou seja,
mais tolerante, igualitária e equitativa. Essas
novas vias reformistas (socialista, proudho-
niana e marxista, libertária e anarquista) tão
do agrado das novas gerações estudantis, ins-
piradas na “Comuna de Paris”, acabariam por
confluir num objectivo comum e primacial: a
República democrática. Para alcançar esse
desiderato haveria que lançar uma frenética
campanha de propaganda, através da palavra
directa e coloquial, mas também da palavra
escrita e da exposição pública. Surgiu assim
um impetuoso movimento de engajamento
republicano através da criação, em 1870, do
Centro Democrático de Lisboa (onde pontifi-
cava o nosso João Bonança), seguido em 1872
da Associação Fraternidade Operária (de
inspiração socialista liderada por Antero de
Quental e José Fontana) e, em 1873, do Cen-
tro Republicano Federal. Não podemos, to-
davia, omitir o importante papel, na agitação
das ideias reformistas, insuflado na opinião
pública pelas Conferências Democráticas do
Casino, iniciadas em 22-05-1871, nas quais es-
tiveram presentes Antero de Quental, Teófi-
lo Braga, Eça de Queirós, Manuel de Arriaga,
José Fontana e Oliveira Martins. Mas o ali-
ciamento político dos republicanos também
se processava de forma directa nos locais
de trabalho, nas organizações sindicais, nos
lugares públicos e privados (cafés, clubes e
sociedades recreativas), nas praças e jardins,
através de comícios e discursos espontâneos,
muito embora se deva dizer que tudo isso de
pouco serviria se não se tivessem aproveita-
do os momentos festivos e de comemoração
nacional, como foi o caso do Tricentenário
de Camões, em 1880, no seguimento do qual
nasceria o Partido Republicano Unitário, de
António Neves Anacleto
Julião Quintinha
126
certo modo em alternativa ao anteriormente
fundado, em 10-01-1875, Partido Operário So-
cialista, também designado por Partido Socia-
lista Português, o qual se propunha implantar
a “República Social”. Em todo o caso, e
para esclarecer estas coisas das precedên-
cias histórico-cronológicas, convém dizer que
em 25-04-1876havia sido fundado o Centro
Eleitoral Republicano Democrático, com dife-
rentes sensibilidades políticas, no qual seria
eleito o Directório do Partido Republicano,
que em 1878 se apresentaria às eleições le-
gislativas, sob a designação de Partido Repu-
blicano, das quais sairia eleito pelo círculo do
Porto o seu único representante, o Dr. Rodri-
gues de Freitas. Não obstante, convém acres-
centar que o Partido Republicano estava ain-
da muito longe de ser entendido como uma
unidade de coesão ideológica, pois que para
além de possuir três diferentes tendências
não passava de uma espécie de clube polí-
tico, com um restrito espírito de grupo, um
pouco à imagem daquilo que foram os clubes
políticos na Revolução Francesa, dos quais
muito mais tarde germinariam os verda-
deiros partidos políticos. Por conseguinte, o
Partido Republicano carecia inicialmente da
dimensão organizativa de uma autêntica e
inequívoca unidade partidária, que aliás
viria a alcançar em 1880, com a apropriação
simbólica da figura de Camões, conferindo-
lhe a alma nacionalista, que antes não pos-
suía, e que iria recrudescer de ânimo, e até
de implantação eleitoral, logo após o ultraje
britânico de 1890, conhecido por “Ultimatum
Inglês”. Impõe-se afirmar que foi da neces-
sidade de desagravar a pátria que resultou,
em 11-01-1891, a publicação do «Manifesto do
Partido Republicano», mercê do qual a ide-
ologia republicana se fixaria num acrisolado
espírito democrático, municipalista, naciona-
lista (e até colonialista), claramente expresso
em «A Portuguesa», mais tarde adoptada
como hino nacional. Essa avassaladora onda
de patriotismo desencadeada pelo «Ultima-
tum», com laivos do mais execrável naciona-
lismo, evidenciou-se no crescente número
de novos jornais publicados no país inteiro,
através dos quais se pretendeu desagravar a
honra da pátria. A título de exemplo saliento
o caso de «O Patriota», hebdomadário de ins-
piração republicana fundado em 16-02-1890
na pacata vila de Monchique, estância terma
e berço do turismo algarvio, marcadamente
burguesa durante a época balnear, em cujas
colunas desfilaram os mais exaltados impro-
périos anti-britânicos.2 O mais curioso é que
este jornal, de grande qualidade literária e
forte pendor republicano, nacionalista (e co-
lonialista), que quase passou desapercebido
no tempo e no espaço em que se inseriu, foi
dirigido e editado pelo pai do futuro pintor e
poeta Almada Negreiros.3 Além do seu leit-
2 Na nossa História da Imprensa do Algarve, 2 vols., Faro, CCRA,
1988-1989, vol. II, pp. 124-125, escrevemos acerca deste periódico,
entre outras coisas, o seguinte: «(…) nasceu este jornal única
e exclusivamente para desafrontar o povo português, e muito
particularmente os algarvios, do insulto inglês, ou seja, todo o seu
carácter era de propaganda antibritânica, ressumando do seu
estilo jornalístico um intrínseco e feroz republicanismo. Por todo
o país corria uma onda de indignação contra os súbditos ingleses
que os republicanos aproveitaram para acusar de cobardia e de
subalternidade da coroa portuguesa, face aos
eternos aliados britânicos. (…) No meio de todo este clima emocional,
torna-se bastante significativa a manifestação da Câmara Municipal
de Monchique que, pondo de parte quaisquer partidarismos, que
aliás durante a reunião fez questão de não deixar admitir, pretendia
aprovar, como conseguiu, uma petição em que se exigia a retirada dos
ingleses e a libertação das colónias africanas, anexadas pelo “mapa
cor-de-rosa”, o que não sendo respeitado deveria ser punido com a
declaração de guerra à coroa britânica. Por isso se pedia no «Patriota»
o fim da velha aliança, o que não deixa de ser um gesto demasiado
radical e perigoso, em face da nossa debilidade militar
3 Com efeito o director e editor de «O Patriota» foi o poeta, jornalista
e escritor de temas coloniais, António Lobo de Almada Negreiros,
nascido em Aljustrel, a 15-8-1868, e falecido em Paris a 12-6-1939.
Começou por trabalhar nos Correios das províncias do Alentejo,
do Algarve e da vila de Cascais, demitindo-se em 1889 para assumir
o lugar de administrador do concelho e S. Tomé, na ilha do mesmo
nome, onde casou com D. Elvira Freire Sobral, herdeira da «Roça
Saudade», onde nasceria o seu filho José Sobral de Almada Negreiros,
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
Artur Aguedo
127
motiv antibritânico, «O Patriota» revelou ao longo das suas 39 edições
de vida (extinta em 9-11-1890), uma inusitada qualidade literária e in-
ternacionalista, expressa pelos seus correspondentes em Paris, Ger-
mond de Lavigne4 e Albert Maithe, que foi presidente da Academia
de Toulouse.
O desabrOchar
da imprensa republicana
E que melhor veículo de propaganda poderia usufruir o republicanis-
mo emergente que não fosse a Imprensa. Apesar de Portugal ser um
país estruturalmente analfabeto e rural, era nas cidades que se con-
centravam não só as instituições administrativas e os serviços públi-
cos, como ainda os letrados, o operariado fabril, o comércio retalhista,
ou seja, a nata do eleitorado nacional residia na urbe. Por conseguinte,
a opinião pública era fundamentalmente citadina, ou melhor, lisboeta,
e quem conquistasse a opinião da capital ganhava o país. Os jornais
de província, embora em largo número mal se conseguiam distanciar
das influências da capital, embora em muitos deles tivessem despon-
tado algumas das principais figuras da política republicana.
Na verdade, a ascensão da imprensa republicana ocorreu durante o
último quartel do século XIX, no vórtice revolucionário da “Geração
de 70”, crescendo progressivamente em número de títulos, que co-
briam quase todos os distritos do país, acentuando-se assim a sua
penetração política e os seus níveis de influência nos meios citadi-
nos, principalmente no seio do operariado, dos serviços terciários e
da média burguesia. Esta última, por ser mais instruída e qualificada,
constituiu a base de recrutamento dos quadros políticos do Partido
que se tornaria famoso como pintor, poeta e publicista, fundador do grupo do «Orfeu» e dilecto amigo de
Fernando Pessoa. Quando o António Negreiros enviuvou, em 1886, logo pensou em regressar à metrópole,
o que só aconteceu em 1889, mas sob a incumbência oficial e governamental de preparar a representação
das colónias portuguesas na Exposição Universal de Paris de 1900. Face ao êxito alcançado, o governo
encarregou-o de organizar os pavilhões portugueses na Exposição Colonial de Paris de 1906, onde
alcançou grande sucesso e ficou acreditado como uma verdadeira autoridade em temas de antropologia
e de etnografia colonial. Implantada a República foi encarregado de chefiar os Serviços de Propaganda
de Portugal em Paris. Mas com o Sidonismo foi demitido e retornou à pátria, onde ganhou a vida como
jornalista profissional e correspondente de várias publicações estrangeiras. Com a entrada de Portugal na
I Grande Guerra partiu para o “front” como repórter de «O Século», escrevendo também para a agência
americana United Press e para a inglesa Exchange Telegraph. Ao longo da sua vida publicou vários livros,
principalmente sobre temas coloniais, cujos títulos podem ser coligidos em qualquer enciclopédia.
4 Só por curiosidade aqui lembramos que este Germond de Lavigne, além de ser um conceituado cientista,
precursor da Ecologia, enquanto ciência, foi o autor de uma obra de referência no estudo da Geologia do
Algarve intitulada Voyage au Cap de Saint Vincent et au Cap de Sagres, além de outras de grande valor
científico, e até de interesse turístico, sobre o nosso país e a vizinha Espanha.
128
Republicano, assim como o alfobre de onde surgiram os principais
plumitivos republicanos, nomeadamente Basílio Teles, França Borges
de «O Mundo», Brito Camacho de «A Luta», António José d’Almeida
de «A República»... Mas de todos esses notáveis publicistas houve um
que marcou a diferença e contribuiu decisivamente para a implan-
tação do novo regime. Refiro-me a João Chagas o mais cáustico de
todos os plumitivos do seu tempo, que por reacção ao “Ultimatum
Inglês” fundou o jornal «República Portuguesa», cujos inflamados arti-
gos de fundo suscitaram a revolução do “31 de Janeiro”, no Porto, ci-
dade que ao longo da nossa História foi sempre o verdadeiro empório
da Liberdade.
A escalada republicana, nesse vinténio que precedeu a Revolução do
5 de Outubro, foi ininterrupta e persistentemente desacreditadora
das instituições que alicerçavam o regime monárquico, combatendo
com especial acuidade a Igreja e a Família Real, por serem causadoras
do atraso civilizacional em que o país se achava mergulhado quase
desde a sua fundação. Para o incremento da ideologia republicana e
para a implantação definitiva da República, posso afirmar sem rebuço
que a imprensa desempenhou um papel preponderante, sobretudo
em Lisboa e no Porto, mas também nas grandes cidades da província,
nomeadamente em Coimbra, em cuja Universidade despontara o ide-
ário republicano, e nas cidades industriais de Braga, Aveiro, Leiria e
Setúbal, para além de outras menos populosas como Castelo-Branco,
Évora, Beja e Faro.
«O echO dO algarve»
primeirO jOrnal
republicanO
Decorria o período das Lutas Liberais, quando em 15 de Julho de
1833 surgiu, ainda que de forma bastante fugaz, o primeiro órgão da
imprensa algarvia, sob a designação de «Chronica do Algarve», im-
presso em Faro, para noticiar os sucessos e avanços das forças libe-
rais que desde o dia 24 de Junho ocupavam a região. Não passou do
número inicial porque as tropas liberais partiram pouco depois para
Lisboa, onde a 24 de Julho alcançaram uma retumbante vitória militar.
Por conseguinte, a imprensa algarvia nasceu sob o signo da liberdade
e inspirada nos valores daquilo a que poderíamos chamar hoje de es-
querda revolucionária. Não admira pois que os periódicos seguintes,
a «Verdade Nua», publicado em Lagos (1840), e «O Popular – Jornal
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
129
do Algarve», editado em Faro (1847), tives-
sem uma inspiração acentuadamente liberal
e revolucionária, mantendo na sua primacial
radícula a consciência política da esquerda
rebelde e libertadora.
Na esteira desse espírito, livre, independente
e insubmisso, não admira que o terceiro jornal
a ver a luz do prelo no Algarve tenha tido a
ousadia de se apresentar como defensor do
ideário republicano, o que, na época era qua-
se um crime público. Foi, pois, sob a rebelde
invocação da Liberdade e da conquista dos
direitos e garantias do cidadão que nasceu,
em 9-9-1868, na cidade de Lagos, o «Echo do
Algarve», o primeiro jornal que nesta região
se assumiu inquestionavelmente republicano.
Sabemos que foi impresso na Tipografia La-
cobrigense, cujo prelo, pelas deficiências de
impressão, presumo que fosse antigo e bas-
tante rudimentar. Pertencia a António Corrêa,
o qual deve ter financiado a sua aquisição, já
que antes nunca vira tal máquina nem perce-
bia nada de artes gráficas. O jornal era produ-
zido, na velha arte da composição manual, por
dois jovens improvisados tipógrafos que antes
trabalhavam como alfaiate e carpinteiro. Mas
não eram únicos,que também ali trabalha-
vam dois aprendizes e dois impressores que
nunca tinham visto antes o rolo e o estrado
do mais simples prelo. Era seu único redactor
José Teixeira Simões, que acumulava com as
funções de administrador, revisor de orto-
grafia e por vezes de tipógrafo. Vemos assim,
que naquela tipografia tudo era improvisação
e boa-vontade, certamente irmanados pelo
espírito republicano que os impelia a clamar
por mais liberdade e justiça social. Apesar de
todas as dificuldades, logísticas e financeiras, o
jornal foi saindo a público, sempre com ferozes
ataques à Igreja e ao clericalismo obscurantis-
ta, à Coroa e ao daninho luxo da Corte, à ex-
ploração dos pescadores pela Companhia de
Pescarias, ao atraso científico no amanho dos
campos e ao analfabetismo. As lutas eleitorais
foram também assunto de especial enfoque,
de tal forma que defendeu a candidatura a
deputado de Sebastião Coelho de Carvalho,
pelo Partido Histórico (sempre conhecido por
Partido Progressista), contra um argentário de
nome Alves d’Araújo, que ninguém conhecia
na região, proposto pelo governo ao círculo
eleitoral do barlavento algarvio.
O seu acintoso jornalismo, cuja inspiração po-
lítica era uma mescla socialista e republicana,
foi abertamente criticado pelo Governador
Civil que assumiu o triste papel de caixa de
ressonância do regalismo monárquico, dando
cobertura a uma pertinaz e aleivosa onda de
calúnias emanada pela eclésia lacobrigense,
de tal forma violenta que suscitou o assalto à
tipografia, despejando as caixas dos tipos (ca-
racteres tipográficos), e destruindo o material
de impressão, o que não só atrasava a edição
como obrigava por vezes o «Echo de Lagos» a
sair a público com apenas uma folha de duas
páginas, para relatar os soezes acontecimen-
tos de que era persistente alvo. Mercê dessas
perseguições, o jornal deu a alma ao criador
em 23-5-1868, ao cabo de 38 edições.
O facto do primeiro jornal republicano algar-
vio ter visto a luz do prelo na cidade de Lagos
deverá estar relacionado com a existência
de uma elite local de cariz político-cultural,
cujas origens se prendem com uma estirpe
revolucionária visível desde 1816 na formação
de uma loja maçónica designada por «Philan-
tropia ao Oriente de Lagos n.º 2600», que se
manteve activa até 1823, sendo os seus mem-
bros pronunciados na Devassa instaurada em
14-1-1824, pela Intendência Geral da Polícia.5
5 A relação dos seus membros, em número de trinta, foi publicada por
Manoel João Paulo Rocha, Monographia – As forças militares de Lagos
nas guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela Liberdade,
Porto, 1910, p. 403.
130
Constatei recentemente que o número dos
maçons, pertencentes à loja «Filantropia»,
era porém superior aos trinta cidadãos ini-
cialmente pronunciados na chamada Devas-
sa de Lagos.6 Em 1842 esta loja maçónica,
subordinada ao Grande Oriente Lusitano,
foi restaurada com a mesma designação. To-
davia, em 1844, não existia, sendo então
instaurada uma nova loja maçónica com a
designação de «Concórdia II n.º 4200», a
qual em 1848 abateu colunas, para as reer-
guer no ano seguinte mercê da constituição
do Grande Oriente de Portugal.7 agora,
devo acrescentar que a maçonaria em Lagos
durante o período da Regeneração quase
não se deu pela sua existência, mas em 1905
existia um triângulo muito activo que trab-
alhou na preparação da revolução repub-
licana, tendo-se em 1911 formado uma loja
com a designação de «Lacóbriga n.º 326»,
que se manteve activa até à instauração da
ditadura militar em 1926.
Importa acrescentar que a cidade de Lagos
foi no século XIX e até sensivelmente ao fim
da I República, um verdadeiro alfobre de
notáveis jornalistas e escritores, areópago
de brilhantes intelectuais que muito dig-
nificaram a cultura algarvia. Aproveito o
ensejo para aqui lembrar, num breve exercí-
cio de memória, alguns eméritos publicistas
da praça lacobrigense, como Bartolomeu
Salazar Moscoso, João Bonança, Jeronymo
Bicker Cabral, Afonso Cañet de Castro,
António Cabreira, José Joaquim Nunes, An-
tónio Joaquim Correia Júnior, Augusto Feio
Soares de Azevedo, João Pedro Correia Tel-
lo, António Augusto Lobo de Miranda, Joa-
6 ANTT, Desembargo do Paço, Processos Diversos (Maçonaria de
Lagos), Maço 829, nºs 97-108.
7 Cf. A. H. de Oliveira Marques, Dicionário de Maçonaria Portuguesa,
2 vols., Lisboa, Editorial Delta, 1986, vol. II, cols. N.º 826-827.
quim José Serpa, José António Guerreiro
Gascon, José Bento Formosinho, António
Sabino Simões Neto, Júlio Dantas entre tan-
tos outros.
a imprensa
republicana
algarvia – O casO
paradigmáticO
de FarO.
Muito embora a cidade de Lagos leve consigo
a palma de haver fundado a imprensa repu-
blicana no Algarve, seria naturalmente a ci-
dade de Faro, por ser a capital político-admi-
nistrativa da região, a desenvolver um maior
número de publicações periódicas favoráveis
à implantação do novo regime.
Nessa altura, os jornais eram como que mon-
tras da realidade envolvente, abrindo com o
chamado “artigo de fundo”, não assinado mas
da autoria do director, no qual se expunha a
posição do jornal face aos principais momen-
tos políticos; seguindo-se depois as notícias,
raramente tituladas e apenas separadas por
um “filete (traço negro), e no rodapé do
jornal, ocupando toda a largura da página e
geralmente o reverso da mesma, gurava o
«Folhetim», no qual se inseria um conto, uma
novela ou até mesmo um romance de um au-
tor clássico – embora não fosse raro publica-
rem-se textos literários de autores locais. Nas
páginas interiores desfilavam as mais diversas
secções, com particular incidência nas que se
designavam por «Carta de…» ou «Correspon-
dências», que eram noticiários das freguesias
do concelho a que o jornal dizia respeito; a
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
“Chronica do Algarve”
Manuel Teixeira Gomes
(1860 - 1941)
Escritor. Embaixador e Presidente da República
131
que se seguiam os «Bilhetes de Visita» (coluna
social), a «Necrologia», o «Teatro», as «Artes e
Letras», a «Gazetilha» (retratos satíricos em
verso), «Charadas», «Ecos» (noticiário interna-
cional), «Sports», «Anúncios Oficiais», etc…
Não me vou demorar em demasia na evoca-
ção de todos os periódicos republicanos que
se editaram no Algarve, mas em todo o caso,
para a cidade de Faro, importa destacar os
semanários «Districto de Faro», «O Algarve»,
«A Mocidade», «O Heraldo» e «O Sul».
Comecemos por «O Districto de Faro», o
mais notável periódico algarvio do tempo da
monarquia, fundado em 6-4-1876, e que se
publicou ininterruptamente durante 37 anos,
até 24-4-1913, data da sua extinção, que quase
coincidiu com o passamento dos seus direc-
tores, António Bernardo da Cruz8 e Manuel
8 António Bernardo da Cruz, jornalista e vice-cônsul, nasceu em Faro
em 1841 e faleceu no sítio da Lejana, subúrbio desta cidade, a 7-5-1913,
contando 72 anos de idade. Era filho de José Bernardo da Cruz e de
D. Esperança Coelho de Carvalho, ambos oriundos das mais notáveis
famílias farenses, às quais pertenceram vários liberais que tomaram
parte activa nas lutas contra o absolutismo miguelista.
Era um espírito culto, aberto a todos os ideais de justiça e cavalheiro
de aprimorada educação. Em 1876 fundou, de parceria com Manuel
dos Santos Fonseca, o semanário «Districto de Faro», que sob a
sua eloquente orientação publicou-se ininterruptamente durante
37 anos. Como jornalista era um vigoroso polemista, mas como
homem era de um carácter extremamente bondoso. Foi um convicto
democrata de inspiração republicana que as circunstâncias da época
fizeram resvalar para o seio do Partido Regenerador, ao qual sempre
foi fiel até ao advento do novo regime. Voltou então às origens e
lutou vigorosamente pela emancipação da República, que fora o
supremo ideal da sua juventude. Nas colunas do seu jornal bateu-se
arduamente pela causa da instrução e pela divulgação e consequente
oficialização do método de João de Deus, de quem fora particular
amigo.
Como homem público desempenhou vários cargos de acentuado
prestígio social e político. Assim, foi procurador à Junta Geral do
Distrito, auditor administrativo do distrito, Governador Civil substituto
e Vice-cônsul em Faro da França, Itália, Rússia e Holanda, a cujos
países prestou relevantes serviços. Como cidadão impoluto, que
era, foi ainda nomeado juiz substituto de Faro e eleito vereador da
Câmara Municipal, numa das situações regeneradoras, altura em
que aproveitou para dar o nome do «Districto de Faro» à artéria
que atravessa a Rua Ferreira Neto vinda do Largo Terreiro do Bispo.
Curiosamente, foi também amador dramático, incorporando-se
durante vários anos no grupo do Teatro Lethes.
Poucos dias antes de falecer fora acometido de grande desgosto com
a notícia da morte do seu dilecto amigo Manuel dos Santos Fonseca,
co-proprietário do jornal, não conseguindo sobreviver a tão forte
comoção, muito embora já se encontrasse bastante doente.
dos Santos Fonseca9 figuras cimeiras do jor-
nalismo algarvio. Confessariam mais tarde
que apoiaram de forma estratégica o Partido
Regenerador, mas que no fundo se sentiam
republicanos, como aliás revelariam publi-
camente, numa breve “nota da redacção
aquando da aprovação da nova Constituição
da República.10 Em todo o caso, devo acres-
centar que o seu principal adversário na im-
prensa farense foi «O Progresso do Algarve»
(fundado em 18-4-1882, e extinto em 23-6-1889)
arauto local do partido progressista, cujo di-
rector, o professor liceal Luís Mascarenhas11,
Faleceu no dia 7 de Maio de 1913, com ele se extinguindo igualmente o
«Districto de Faro». Suponho que não deixou descendência.
9 Manuel dos Santos Fonseca, jornalista e empregado bancário,
nasceu em Faro em 1849 e faleceu em Lisboa a 23-4-1913. Era tio
paterno da brilhante cantora lírica e pianista D. Ema Romero dos
Santos Fonseca e irmão de seu pai o coronel Santos Fonseca,
miniaturista e escritor radicado em Lisboa. Em 1876 fundou com
António Bernardo da Cruz o semanário «O Districto de Faro», de
que foi proprietário e director, mas que abandonou pouco depois
por razões profissionais. Começou por se empregar na Banca,
tendo desempenhado funções superiores no Banco Ultramarino,
especialmente as de director da sua filial na ilha de S. Tomé. Aliás
nessa ilha acabou por ser eleito presidente da Câmara Municipal
ficando a dever-se-lhe alguns melhoramentos de acentuado vulto,
nomeadamente o abastecimento de águas à capital. Também aí se
fez sócio do Marquês de Val-Flor na exploração de grandes fazendas
agrícolas, produzindo cacau e outras mercadorias tropicais de grande
procura para o abastecimento das indústrias europeias. Como amante
das letras dedicou-se ao cultivo das musas e à tradução de peças
de teatro, pertencendo-lhe também a autoria de várias outras de
colaboração com Rocha Pinto.
Quando faleceu deixou avultada fortuna que legou a sua irmã D.
Matilde, que residia em Faro no Largo de S. Francisco, e fora casada
com um cavalheiro de apelido Mendes.
10 Na edição n.º 1835 de 22-6-1911, «O Districto de Faro» desejando
clarificar a sua inequívoca adesão à República, publicou a seguinte
nota oficial: «Nós - que a 6 de Abril de 1816, inauguramos este jornal,
imprimindo-lhe a feição exclusivamente republicana, quando poucos
republicanos havia em Portugal e nenhuns no Algarve, e que só por
circunstâncias locaes, como muito bem disse Jacintho Nunes em
artigo editorial de uma folha da epocha, demos o nosso apoio a
partidos monarchicos - associamonos do intimo da alma ao coro de
hossanas entoado em todo o paiz, pela realização definitiva do que,
ha trinta e cinco annos, não passava de mera utopia - a proclamação
da Republica Portugueza.
Por isso exclamamos jubilosos: Viva Portugal!
Viva a Republica!.»
Vide a nossa História da Imprensa do Algarve, vol. I., p. 274.
11 Luís Sepúlveda Pimentel Mascarenhas nasceu em Portimão a
Vilhena, Francisco Silveira Almeida
132
era também um velado republicano, que se aproveitou daquela tri-
buna para atacar os regeneradores, conotados com a direita car-
tista. Não deixa de ser curioso que antes da República muitos dos
seus futuros aderentes tivessem na imprensa farense assumido a
defesa de partidos contrários, o que claramente denota uma velada
simpatia, sobretudo da esquerda monárquica, pelo ideário republi-
cano, sendo igualmente sabido que a maioria dos Progressistas, e
até uma boa parte dos intelectuais Regeneradores, sentissem uma
profunda desilusão em relação aos inúmeros escândalos políticos
em que o regime se vinha atolando. a título de curiosidade se
acrescenta que este periódico passou a designar-se, em 23-6-1889,
como «O Progresso do Sul», dirigido pela nobre figura de Francisco
Augusto da Silveira Almeida Vilhena, titulado Conde do Cabo de
Santa Maria, o qual seria o último presidente da Câmara de Faro no
tempo da monarquia, cabendo-lhe inclusivamente a honra de dar
posse à primeira vereação republicana. Acresce ainda dizer que o
jornal se extinguiu em 30-6-1895 para na semana seguinte reaparec-
er a público com a nova designação de «Algarve e Alemtejo», o qual
foi culturalmente o melhor jornal algarvio do século XIX, não só pela
sua qualidade noticiosa como ainda pelos seus atributos literários,
nele colaborando os mais notáveis plumitivos da intelectualidade
nacional, que na sua maioria pertenciam ou simpatizavam com o
28-12-1847 e faleceu em Faro, na Rua Rasquinho, a 29-1-1920, com 73 anos de idade. Era filho de José
Bernardo Mascarenhas e de D. Catarina Sepúlveda Mascarenhas, cuja naturalidade desconheço, mas
que suponho portimonense. A sua vida jornalística iniciou-se nas colunas de «O Correio do Meio Dia»,
periódico portimonense de inspiração progressista, do qual foi director e proprietário, fundando a 8-12-1880
o semanário farense «Progresso do Algarve». Este periódico foi criado para organizar o Partido Progressista
no Algarve, o que em boa verdade não conseguiu já que os seus correligionários se repartiram por dois
grupos distintos e quase antagónicos: os rabinos e os fajardos. Contudo desse jornal nasceu uma plêiade
de progressistas notáveis, como o Dr. Manuel Águedo Gomes de Miranda, natural de Moncorvo, pai do
Dr. Artur Águedo de Miranda (com quem viria a fundar em 1908, em Faro, «O Algarve»), o farmacêutico
Agostinho Ferreira Chaves e o Dr. António Frederico Gomes, ambos de Faro e todos do grupo dos rabinos.
Dos fajardos faziam parte o Dr. Manuel Joaquim de Almeida Júnior, natural de Aveiro (pai de José Bento
Ferreira de Almeida), os Drs. Frederico e Francisco Lazaro Cortes, irmãos e ambos de Faro, e o Padre
Manuel José Gonçalves Osório, natural de Bragança. Após a extinção do «Progresso do Algarve», ajudou a
fundar em 1889 com o Conde do Cabo de Santa Maria, o semanário «Progresso do Sul» nele colaborando
com grande assiduidade e brilho. Dois anos depois o Conde do Cabo de Santa Maria fazia sair um outro
semanário de inspiração progressista intitulado «Algarve e Alentejo», ao qual Luís Mascarenhas também
pertenceu como colaborador. Extinto este jornal, em 1906, fundou com Artur Águedo e José Ferreira da
Silva o semanário farense «O Algarve», que é o actual decano da imprensa algarvia, nascido em 1908 mas já
sem quaisquer responsabilidades político-partidárias.
Luís Mascarenhas como militante do Partido Progressista chegou a candidatar-se a deputado pelo círculo
de Lagos, mas não teve a satisfação de ser eleito. Em Faro, no Liceu João de Deus exerceu as funções de
professor de inglês e de matemática e para esta última disciplina chegou mesmo a escrever um compêndio
que desconheço se foi publicado. Nos finais do século passado fundou em Faro a primeira fábrica de
conservas de sardinha denominada «Ossónoba» que se situava junto aos muros do castelo virada para
o Largo de S. Francisco, na rua que então se chamava de Espanha. Contudo, parece que por razões
financeiras a empresa faliu pouco depois de haver sido fundada.
Luís Mascarenhas exerceu ainda vários outros cargos de prestígio como por exemplo o de administrador do
concelho de Faro.
Partido Progressista. Este jornal, que se extinguiu em 30-10-1904,
seria aliás o embrionário do semanário independente «O Algarve»,
de que falaremos a seguir, cujos promotores compraram as oficinas
e parque gráfico ao Conde do Cabo de Santa Maria, que por terem
sido adquiridas em Lisboa ao antigo diário «Correio da Tarde», eram
então consideradas como as mais modernas a sul do país.
Relativamente a «O Algarve» – actual decano da imprensa algarvia,
fundado em 29-3-1908, que teve em Artur Águedo de Miranda12 e
Luís Mascarenhas, os principais obreiros do republicanismo na capi-
tal algarvia – importa dizer que apareceu a público como semanário
independente, cuja única bandeira eram os interesses e anseios da
região. Foi, por conseguinte, um fervoroso regionalista na vertente
propagandística das diversas potencialidades do Algarve, lutando
contra a existência dos privilégios e das prepotências que o regime
monárquico persistia em manter, apontando como principais peca-
dilhos do regime a corrupção, o nepotismo e a partidarite, isto é,
a exclusão dos seus adversários políticos. Aderiu à República, logo
após o 5 de Outubro de 1910, mas em 1914 retornou à sua posição
inicial de independente, que aliás não mais largaria até hoje. Creio
que o segredo da sua longevidade terá residido precisamente na
sua isenção política, mas também é certo, não podemos ignorá-lo,
que conseguiu superar todas as dificuldades financeiras mercê
12 Artur Águedo Miranda, advogado, político e jornalista, nasceu em Albufeira a 15-7-1867 e faleceu em
Faro a 23-8-1936. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, após o que se radicou na cidade
Invicta, onde, entre outros cargos, desempenhou as funções de redactor de «A Província», que, como
é do conhecimento geral, se considerava como órgão do Partido Progressista no norte. Após esta
breve experiência no jornalismo político foi colocado, numa das poucas situações progressistas, como
administrador do concelho da Póvoa de Varzim, cargo esse que teve duração efémera. Já estabelecido em
Faro desempenhou funções de subdelegado do procurador régio, auditor administrativo e comissário de
polícia. No dia 29 de Março de 1908 ao lado de Ferreira da Silva e de Luís Sepúlveda Mascarenhas aparecia
a fundar e dirigir o semanário independente «O Algarve», de algum modo sucedâneo do velho periódico
progressista «Algarve e Alentejo», ao leme do qual se manteve até Março de 1917, após o que se ausentou
desta cidade, para desempenhar um lugar de magistratura em África.
Voltou passados alguns anos, nunca deixando de dar o seu contributo ao «O Algarve», sempre que fosse
necessário, embora ele próprio afirmasse que se apresentava em serviço moderador. O Dr. Artur Águedo
chegou a certa altura a gozar de elevado prestígio na província. Foi director do Cine Teatro Farense e do já
desaparecido Teatro Circo, também dirigiu algumas companhias de pescarias e exerceu várias actividades
associativistas em instituições regionais de conceituado prestígio. Era, por conseguinte, uma pessoa de
iniciativa que tinha a mania de se meter em tudo. Curiosamente, poucos anos depois de implantada a
República foi levada à cena em Lisboa uma revista que chacoteava a figura politica do Dr. Afonso Costa;
acontece que o jovem António Nascimento copiou o modelo adaptando-o ao Dr. Artur Águedo de Miranda,
causando na época alguma celeuma na sociedade farense. Foi casado duas vezes e possuía um vistoso
chalé na Praia da Rocha, em cuja avenida ainda hoje se avista, posto que ligeiramente adulterado, que mais
tarde foi adquirido pelo industrial D. Caetano Feu, conhecido magnate conserveiro. A determinada altura foi
para o Ultramar, onde não foi bem sucedido por lhe ter sido movida uma demanda por desvio de dinheiros,
da qual se defendeu num opúsculo que corre impresso.
Morreu vitima de doença incurável na tarde do dia 23 de Agosto de 1936, num quarto particular do Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Faro, com 69 anos de idade.
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
133
da notável acção administrativa de Ferreira da Silva13, por muitos
designado como “Silvinha marau”, que lhe dedicou os melhores
anos da sua vida, sacrificando inclusivamente os seus bens pessoais
à sobrevivência do jornal. Nos dias que correm é um exemplo sem
imitação, infelizmente.
Mas o primeiro jornal fundado em Faro após a implantação da Repú-
blica foi um órgão estudantil, «A Mocidade», iniciado em 26-10-1911,
por iniciativa de um grupo de estudantes do Liceu identificados com
o Partido Democrático, de Afonso Costa, o qual congregou a facção
mais esquerdista, popular e revolucionária do antigo PRP – Partido
Republicano Português. Este jornal de jovens, congregava em si a
esperança no futuro da pátria, tendo por lema a trilogia: Trabalho,
Ciência e Progresso. O surgimento do jornal não era inocente, pois
que o Partido Democrático sabia claramente que tendo na mão as
novas gerações, sobretudo as mais instruídas, poderia não só ga-
rantir uma forte base eleitoral, como ainda recrutar os seus novos
quadros políticos. Nas colunas deste jornal, revelou-se uma plêiade
de novos talentos, no seio do qual pontificavam Jayme da Graça
13 José Ferreira da Silva, funcionário de Obras Públicas, nasceu em Loulé em 1870 e faleceu em Faro a
21-1-1949, com 79 anos de idade. Ainda jovem veio para Faro, onde se empregou como funcionário das Obras
Publicas, fundando em 1908, de parceria com o Dr. Artur Águedo Miranda e Luís Mascarenhas, o semanário
«O Algarve», do qual foi administrador durante muitos anos, assumindo a direcção desde 8-2-1920 até à
morte. A sobrevivência deste semanário foi justamente o leitmotiv de toda a sua vida, a ele dedicando o
melhor do seu esforço durante 42 anos, consentindo apenas por motivos alheios à sua vontade, devido
a uma greve dos correios, que o jornal não saísse a horas numa única semana. Não era aquilo a que se
pode chamar um jornalista, visto que pouco colaborava na redacção da folha que dirigia, porém era
um verdadeiro perito na organização e funcionamento da sua tipografia. Politicamente era conservador
e creio que perfilhava ideias monárquicas, muito embora nunca tivesse afrontado o novo regime, cuja
institucionalização democrática sempre respeitou. Era fervorosamente católico e praticante, irmão e
secretário da Venerável Ordem Terceira do Monte do Carmo durante cerca de 35 anos, à qual prestou
relevantíssimos serviços.
Quando faleceu legou a seu filho, Artur Serrão e Silva, a direcção de «O Algarve», o qual, tal como o seu
progenitor, fez do jornal, da sua publicação e continuidade, a razão de ser de toda a sua existência. Aliás,
também vendeu os bens e propriedades que possuía, nomeadamente os terrenos de Gambelas, para que
a publicação do jornal nunca fosse posta em causa. O coração do “Silvinha” também não resistiu aos novos
ventos de mudança, suscitados com o «25 de Abril», falecendo em Dezembro de 1980. Sucedeu-lhe na
direcção do jornal a irmã, D.ª Basilisa Conceição Serrão e Silva, que pouco depois vendeu a propriedade do
jornal a José do Carmo Lopes Martins, com a promessa de nunca suspender a publicação do jornal, o que
cumpriu na íntegra.
João Bonança
134
Mira14, Matheus Martins Moreno15 e José
Guerreiro Murta16, os quais souberam reunir
14 O Dr. Jaime da Graça Mira faleceu em Lisboa, a 10-2-1965.
15 Mateus Martins Moreno nasceu na freguesia da Conceição de
Faro, a 27 de Setembro de 1892, e faleceu em Lisboa em Maio de 1970,
contando 77 anos de idade. Efectuou os seus estudos preparatórios
no Liceu de Faro, onde presidiu à respectiva Academia e fundou
o órgão «A Mocidade». Fez o curso complementar dos Liceus em
Coimbra após o que transitou para Lisboa, em cuja universidade
ainda cursou Matemáticas, na Faculdade de Ciências, não chegando,
contudo, a concluir a formatura por ter sido mobilizado em 1917,
incorporando-se no C. E. P. como alferes miliciano de artilharia de
campanha. Ainda em Lisboa, tinha fundado a revista «Alma Nova» e
publicado os seus primeiros livros, Prece ao Vento e Minha Pátria,
sem esquecer a sua relevante participação no I Congresso Regional
Algarvio, realizado em 1915, e no qual apresentou a tese «A Luta
Contra o Analfabetismo e o Problema do Ensino no Algarve». Em
França escreveu também os seguintes trabalhos: De Portugal à
Flandres; Sangue d’Epopeia; A Sintonia Macabra -Maximas da Kultur;
e A Nova Guerra e a Artilharia, livro esse que foi recomendado pelo
Ministério da Guerra sob parecer da Direcção da Arma de Artilharia.
Terminada a guerra, optou pela carreira das armas, frequentou a
Escola de Guerra, foi promovido em 1921 a tenente, em 1933 a capitão
e em 1942 a major, em cujo posto passou anos depois à reserva. Na
qualidade de tenente frequentou o Curso Superior Colonial, o que
lhe valeu importantes missões de serviço quer no continente quer
em Angola, onde comandou uma unidade e foi professor do Liceu de
Diogo Cão, director da Casa da Metrópole em Luanda e dirigiu junto
do Gabinete do Governo Geral de Angola um serviço de informação
de actividades na província, a ele se ficando a dever a organização
de várias exposições, sessões de propaganda, edições de divulgação
cultural e política junto das populações indígenas, em cujo seio era
bastante querido. O major Mateus Moreno foi igualmente promotor
de justiça do Conselho Superior de Disciplina Militar, em cujo cargo
elaborou o projecto de novo Regulamento de Continência e Honras
Militares. Exerceu a docência no colégio Militar de 1942 a 1944,
foi delegado do conselho administrativo no Cofre de Previdência
dos Oficiais do Exército Metropolitano, pertenceu à Delegação
do Algarve para as Comemorações do V Centenário do Infante D.
Henrique e fundou a Casa do Algarve, a cujos corpos gerentes desde
sempre pertenceu. Colaborou assiduamente na imprensa algarvia,
especialmente no «Correio do Sul», onde publicou o interessante
trabalho. «Artilharia e Artilheiros do Algarve», entre 22 de Junho e
3 de Agosto de 1941, para além da recente e brilhantíssima secção
biográfico-memoralista intitulada «Medalhões Algarvios».
Mateus Moreno é autor de uma notável lista de obras.
16 José Guerreiro Murta, escritor, pedagogo e cooperativista, nasceu
em Loulé a 14-5-1891 e naquela vila faleceu a 30-4-1979, com 87 anos de
idade. Foi aluno distintíssimo do Seminário de S. José em Faro e do
Liceu de João de Deus, após o que se transferiu para Lisboa em cuja
Faculdade de Letras e de Direito concluiu a sua formatura. Distinguiu-se
brilhantemente na vida pedagógica exercendo a docência em vários
liceus da capital, nomeadamente no de Passos Manuel que reitorou
durante largos anos e no de Setúbal, acamaradando com dezenas
de professores e milhares de alunos que dedicavam ao Dr. Guerreiro
Murta a mais elevada estima e admiração. No Liceu de Passos Manuel
acabou por se reformar, sendo na altura homenageado pelas sucessivas
gerações de colegas e alunos que por ali passaram.
à sua volta os mais notáveis e conceituados
publicistas algarvios conotados com o novel
regime republicano, de entre os quais devo
mencionar Rodrigues Davim, Carlos Lyster
Franco, Bernardo de Passos, Cândido Guer-
reiro, José Dias Sancho, João Lúcio, Marcos
Algarve, Maria Veleda, Joaquim Rita da Pal-
ma, Júlio Dantas, etc. Acresce dizer ainda que
a vida de «A Mocidade» não foi tão efémera
quanto costumava ser a maioria dos seus
homólogos, pois que apenas se extinguiu ao
cabo de 49 edições, em 31-10-1912. A consulta
deste jornal é de indiscutível interesse para
se conhecerem, não só as lutas estudantis da
época, como ainda o evoluir da política repu-
blicana em diferentes localidades algarvias,
publicadas na secção «Ecos da Província».
O mais eloquente dos jornais republicanos
algarvios foi, sem sombra de dúvida, «O He-
raldo», fundado primeiramente na cidade de
Exerceu acção de grande relevo como Presidente da Direcção do
Montepio Geral e sobre esta instituição e a Caixa Económica de Lisboa
escreveu alguns estudos e publicou certos trabalhos de incontestável
valor, sem falar já nas imensas conferências e discursos que dedicou a
estes assuntos. No Montepio promoveu comemorações, homenagens,
exposições, instituiu prémios, cunhou medalhas, recordou o imortal
fundador e notável algarvio Álvaro Botelho, festejou o centenário da
instituição, impulsionou a construção de edifícios e delegações, realizou
congressos, etc. Devido à sua notável acção pedagógica chegou,
inclusivamente, a ser convidado para Ministro da Instrução e até para
a Assembleia Nacional, cargos que por modéstia natural entendeu
declinar. O Montepio Geral teve em preparação uma homenagem
nacional dedicada ao Dr. José Guerreiro Murta, para a qual existia já
um busto em bronze para ser inaugurado junto do edifício daquela
instituição, porém a mudança politica operada a partir de 25-4-1974,
tornou de todo impossível a sua efectivação.
Para além da sua actividade cooperativista e pedagógica, o Dr.
Guerreiro Murta foi ainda membro dos corpos gerentes da
Companhia dos Tabacos, da Companhia das Águas e, durante vários
anos, administrador do Banco Nacional Ultramarino, acerca do qual
publicou alguns estudos históricos e outros trabalhos de carácter
económico de incontestável valor.
Como jornalista, fundou e dirigiu na juventude o órgão estudantil «A
Mocidade», que se editou em Faro, e a revista «Alma Nova», para a
qual escreveu numerosos artigos de evocação algarviista, cuja consulta
é sempre proveitosa. Publicou várias obras de carácter pedagógico-
didáctico, nomeadamente, Como se Aprende a Estudar, Manual da
Língua Portuguesa, Educação Literária, Educação Científica, Como
se devem ler os Escritores Modernos, etc. A sua lista de obras, assaz
numerosa, pode colher-se nas enciclopédias, razão pela qual nos
escusamos de proceder à sua exaustiva citação.
Maurício Monteiro
1916
José Joaquim Nunes
Jose Guerreiro
Padre, Director. da antiga ‘Voz de Loule
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
135
Tavira, em 3-01-1901, pela mão de José Maria dos Santos, que o iniciou
com o nº 966 por ser a continuação oficial do antigo «Jornal de Annun-
cios» (fundado em 1-02-1883), mas agora com um carácter mais noticio-
so e uma feição política de inspiração republicana. Nele colaboraram
os mais lídimos plumitivos do país, para além de que também Manuel
Teixeira Gomes, João Chagas, Raul Proença, Ladislau Patrício e Tomás
da Fonseca assinaram presença nas suas colunas. O jornal manteve-se
na cidade do Gilão até 25-02-1912, mas dadas as novas circunstâncias
políticas o velho José Maria dos Santos vendeu a sua histórica Tipogra-
fia Burocrática de Tavira, assim como a propriedade do título ao Prof.
Lyster Franco e ao Dr. João Pedro de Sousa, que transferiram os prelos
para Faro a fim de tornar «O Heraldo» no órgão oficial do Partido De-
mocrático. Podemos afirmar sem exagero que a colecção destes dois
periódicos (que ao fim e ao cabo são apenas um) constitui a melhor e
mais credível fonte para o estudo do republicanismo no Algarve. Mas
não só, pois que também nessas colunas passaram ilustres literatos e
poetas cuja colaboração merece ser estudada e compilada em obra
de consistente fulgor científico. Saliento, por exemplo, que foi nessas
colunas, em Faro, que se deu guarida e apoio oficial ao movimento do
«Orfeu», com uma secção de poesia designada por “Gente Nova – Fu-
turismo”, palavra essa até então pouco empregue em Portugal. Nela
colaboraram o Fernando Pessoa, o Almada Negreiros e o Mário de
Sá-Carneiro, mas também alguns jovens que viriam a ser famosos, no-
meadamente Carlos Porfírio (que seria mais tarde director da famosa
revista Portugal Futurista), Mário Lyster Franco, João Rosendo e ou-
tros de que não temos segura identificação, pois que todos assinavam
os seus poemas sob pseudónimo. Lembro-me que na consulta deste
jornal me saltava quase sempre à vista a gravura na 1.ª página do Dr.
Afonso Costa, numa evidente acção propagandística do Partido De-
mocrático. Infelizmente «O Heraldo» carecia da isenção política que
lhe garantisse a idoneidade e a distância analítica dos factos sociais,
não se coibindo de contestar, por vezes de forma desabrida, os seus
adversários políticos e até mesmo os cidadãos mais impolutos, razão
pela qual era constantemente querelado. Não surpreendem, por isso,
as notícias de insultos, de altercações na via pública e sobretudo
pendências judiciais movidas contra o Dr. João Pedro de Sousa, que
usava as colunas do seu jornal para esgrimir violentos argumentos
políticos contra a administração local, tanto de Faro como de outras
localidades algarvias, sendo por isso conhecido como um polemista
inveterado e um exaltado republicano. Entre os seus alvos preferidos
figurava o semanário farense «O Algarve» e a figura política de Luís
Mascarenhas, professor do Liceu de Faro, cujas truculências políticas
se estenderam ao longo de meses, com graves desaforos que obriga-
ram o Pintor Lyster Franco a quase abandonar o jornal.17
A sua eleição como deputado ao parlamento pelo Partido Democrá-
tico levou-o para fora do Algarve, livrando-se assim o pintor Carlos
Lyster Franco, cujo cavalheirismo, espírito assisado e polido, em muito
se distanciava do seu acrisolado sócio e imprudente plumitivo. Isso
permitiu que em 1915 o jornal se assumisse como independente, dan-
do assim início àquilo a que chamou “a era da pacificação”. Todavia, a
pacificação interna do jornal teve de confrontar-se a partir daí com
uma crescente onda de greves laborais e de contestação política, que
atiçaram ainda mais a crise económica agravada a partir de 1916 com a
entrada do país na I Grande Guerra. A escassez de papel e de recursos
financeiros suscitaram a interrupção do jornal em 26-8-1917, que nunca
mais reataria a sua publicação. Em todo o caso, não podemos deixar
de acrescentar que foi o melhor jornal que se publicou no Algarve
durante os alvoroçados anos que precederam e se sucederam à im-
plantação da República, razão pela qual se deve considerar como uma
fonte primacial para o estudo desse conturbado período histórico.
O outro jornal que na capital algarvia surgiu a público como arauto
de uma força partidária republicana foi «O Sul», fundado em 24-3-
1912, sob a direcção política de Álvaro Júdice18, tendo como director
literário o Dr. Fidelino de Figueiredo, ao tempo professor do Liceu
de Faro, e que viria a tornar-se num dos mais conceituados literatos
e estudiosos da literatura portuguesa. Como redactor principal sur-
giu a figura de Mário Gonçalves19, um jovem muito activo e talento-
17 O caso que suscitou maior celeuma na vida do jornal foi precisamente a polémica ofensiva e injuriosa
contra «O Algarve», e particularmente o seu director Luís Mascarenhas, à qual era alheio o pintor Lyster
Franco que como sócio fundador de «O Heraldo» tomou uma posição desfavorável não só ao seu colega
Dr. João Pedro de Sousa como até ao Partido Democrático, de que fora um dos três fundadores em Faro,
retirando-se da direcção e edição daquele jornal. A partir de 1915, com a edição n.º 300, tudo mudaria na
vida de «O Heraldo», figurando como único Director o pintor Lyster Franco, deixando por completo a sua
orientação político-partidária, sem contudo abandonar a sua incontornável feição republicana.
18 Jurista e político republicano, natural de Tavira, onde faleceu a 27-3-1929. Na altura do seu falecimento
desempenhava as funções de oficial do Registo Civil em Portimão. Foi um distinto e muito conceituado
militante republicano do partido Evolucionista, no qual se filiou à data da sua fundação. Era casado com D.
Maria Luiza Ribeiro Júdice, filha do capitão Filipe de Aragão Ribeiro, de quem teve dois filhos. Pouco antes
de falecer publicou um livro sobre a legislação do Registo Civil, considerado muito útil e oportuno nos
meios da especialidade.
19 Político republicano e talentoso jornalista, nasceu em Faro em 1892 e faleceu em Lisboa, a 16-4-1930, com
apenas 38 anos de idade. Ainda muito jovem assumiu a direcção do semanário farense «O Sul» que era, no
Algarve, o órgão do Partido Evolucionista. Foi, portanto, um incansável lutador a favor da República, a qual
serviu nos primeiros anos da sua implantação na cidade de Faro, com denodado estoicismo. Aliás cabe ao
quase imberbe jornalista Mário Gonçalves a honra de haver fundado nesta cidade o partido erigido pelo
Dr. António José de Almeida, de quem foi admirador e amigo, falecido seis meses antes do seu inditoso
e precoce passamento. Desiludido com o rumo político dos evolucionistas acabou depois por aderir ao
partido nacionalista que o convidou a aceitar o lugar de Administrador do Concelho e de Comissário
de Polícia de Faro, do qual tomou posse a 4-12-1923, tendo na mesma cerimónia sido empossado como
136
so, que apesar de republicano era bastante conservador, tendo por
isso especial admiração e até afeição pessoal pelo Dr. António José
de Almeida, fundador do Partido Republicano Português, que após
a implantação do novo regime tratou de atrair para o seu partido a
franja eleitoral menos convicta e politicamente mais moldável do
antigo Partido Regenerador. Ao processo, mais ou menos insidioso,
de aquiescência política dos monárquicos ao novo regime chamou-
se “adesivagem”, atitude veementemente criticada na imprensa da
época, e ridicularizada pelos caricaturistas, que ilustravam a forma-
ção dos novos partidos políticos como uma espécie de alfaiatarias
onde os monárquicos iam virar as suas antigas casacas e jaquetas em
simples paletós operários, para assim se parecerem mais de acordo
com os novos tempos. Os regeneradores tornaram-se na principal
fonte de recrutamento do Partido Evolucionista, de que é exemplo
a fundação deste semanário farense «O Sul», herdeiro natural de um
outro com o mesmo nome, fundado em 5-12-1903, órgão oficial do
Partido Regenerador-Liberal, que teve como director político João
Franco Pereira de Matos20 e como director literário o famoso poeta
Governador Civil de Faro o capitão de fragata José Mendes Cabeçadas. Mário Gonçalves foi casado com
D. Maria da Piedade Correia Gonçalves, de quem teve três filhas, que deixou ainda menores à data do seu
falecimento.
20 João Franco Pereira de Matos, médico, deputado e banqueiro, nasceu em Faro em Junho de 1870
e faleceu nesta cidade a 29-4-1943, com 72 anos de idade. Formou-se em Medicina em 1896, foi médico
municipal, subdelegado de Saúde e director da Casa de Saúde de Faro. Ainda estudante esteve no Porto
durante o Centenário do Infante D. Henrique, representando a Academia de Lisboa, fez parte da comissão
encarregada de receber os briosos militares que vinham de combater o célebre chefe tribal, Gungunhana,
foi eleito presidente da Caixa de Socorros a estudantes pobres, etc. Após a licenciatura dedicou-se à
política e foi por duas vezes eleito deputado pelo Círculo do Algarve, sem esquecer que também aqui
exerceu funções de Governador Civil do Distrito. Dedicou-se também ao jornalismo, dirigindo o semanário
farense «O Sul» e colaborando em vários outros, evidenciando sempre o seu forte espírito liberal,
lutando contra a indigência e mendicidade, que considerava como um dos maiores defeitos da sociedade
portuguesa. Em 1915 fundou uma das mais acreditadas casas bancárias do Algarve, que teve a designação de
Matos & Baião, Ld.ª, visto ter-se associado com outro grande empresário, o Dr. Filipe César Augusto Baião.
Ambos tiveram papel de relevo no crédito às pescas e às indústrias locais. Em 1921 foi eleito Presidente
da Associação Comercial e Industrial de Faro e, pouco depois, elegeram-no representante do Algarve no
Conselho Superior da Política Monárquica a cujos princípios sempre se manteve fiel, embora tivesse depois
simpatizado com o Estado Novo.
21 João Lúcio Pousão Pereira, poeta e jurista, nasceu na vila de Olhão a 4-7-1880 e faleceu na sua terra natal
a 27-10-1918. Era filho de João Lúcio Pereira, político e proprietário olhanense, e de sua segunda esposa D.
Maria Helena de Araújo Pousão Pereira, irmã do pintor Henrique Pousão.
Estudou no liceu de Faro, estreando-se na imprensa em 1892, com apenas 12 anos de idade, no semanário
«O Olhanense» e pouco depois fundaria «O Echo da Academia» que se editava em Faro, extinguindo-se
rapidamente. Em Tavira, juntamente com António dos Santos, fundou o quinzenário «Reyno do Algarve»
que ao fim de pouco mais de uma dezena de números suspenderia a sua publicação. De 1903 até 1905
fundou e dirigiu o semanário farense «O Sul». Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se formou
em Direito, regressando 1902 a Olhão, de onde não mais sairia, apesar das suas esporádicas viagens pela
Espanha, Marrocos, França, Itália, Grécia, Turquia e Palestina. Abriu banca de advogado em Olhão, mas
defendeu causas por todo o Algarve, distinguindo-se pela eloquência, poder de argumentação e dotes de
oratória. Profundo conhecedor dos códigos e tratados jurídicos conquistou fama e consideração entre os
seus pares. Atraído pela política ingressou no seio do Partido Regenerador-Liberal, afecto ao conselheiro
olhanense João Lúcio21.
Importa dizer que «O Sul» foi um dos mais polémicos e controversos
semanários da imprensa algarvia, que em Faro tinha como principal
opositor político «O Heraldo», pois que sendo o primeiro arauto do
Partido Evolucionista, o segundo defendia com intransigente denodo
o Partido Democrático. Em todo o caso, à parte a truculência dos ata-
ques e polémicas contra os seus adversários políticos, não podemos
deixar de elogiar os inquéritos à vida económica e ao desenvolvimen-
to sócio-cultural do Algarve que alguns dos mais destacados vultos
da intelectualidade regional publicaram em «O Sul», os quais consti-
tuem hoje fonte de grande interesse para o estudo e conhecimento
da época. Igualmente de interesse são também os artigos em que se
apelava à união dos republicanos em torno da conservação do regi-
me, pois temia-se que as lutas partidárias levassem à auto-destruição
da República. De entre as várias secções que compunham as colunas
de «O Sul», uma porém impõe-se que aqui destaquemos, trata-se de
«Coisas Antigas do Algarve», da autoria do autodidata Honorato San-
tos, um dos plumitivos que mais se interessou pela História Regional,
o qual neste jornal publicou 130 artigos de grande interesse e valor
informativo. Para além disso, há ainda um outro aspecto que gostaría-
mos de salientar, é que nunca a imprensa algarvia teve tão grandes e
notáveis colaboradores como no período de afirmação republicano,
isto é, nas primeiras décadas do século XX, cujos directores, editores
e colaboradores constituíam a verdadeira nata da inteligência regio-
nal. Repare-se inclusivamente no exemplo dos dois jornais que acaba-
mos de analisar. Enquanto em «O Sul» pontificava a figura intelectual
de Fidelino de Figueiredo, grande literato e professor universitário
cuja obra científica todo o país conheceu e admirou, em «O Heraldo»
distinguia-se a elegância, o aprumo, a honradez e a expressividade
João Franco, que em 1906 o elegeu deputado pelo Algarve. Mais tarde, já implantada a República, voltou
a alcandorar-se ao areópago da política nacional em representação da minoria monárquica. Na sua terra
natal também desempenhou notável acção política chegando a ser eleito, por unânime conjugação de
esforços dos monárquicos e republicanos, para a presidência da Câmara Municipal de Olhão onde
promoveu alguns melhoramentos de vulto, usando muitas vezes para os levar a efeito os seus particulares
meios de fortuna. Mas a sua acção pública não se ficou por aqui, pois chegou ainda a presidir a várias
instituições de benemerência, educativas e de recreio, nomeadamente a Comissão Protectora do Hospital
de Nossa Senhora da Conceição, a Comissão Directora do Corpo de Bombeiros Voluntários e a Sociedade
Recreativa Olhanense, que havia sido fundada por seu pai. Nesta Sociedade, realizou vários concertos,
recitais, conferências, concursos literários, comemorações de centenários, como por exemplo o de Almeida
Garrett que obteve tanto sucesso que João Lúcio foi convidado como orador na sessão de encerramento
que teve por palco o Teatro Nacional de Lisboa.
João Lúcio faleceu com apenas 38 anos de idade, vitimado pela epidemia da pneumónica. Publicou vários
livros de poesia, reunidos em volume pela Câmara Municipal de Olhão.
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
137
literária do artista Carlos Lyster Franco, pro-
fessor, escritor e cidadão da melhor socieda-
de farense. Compare-se isto com os tempos
presentes e veja-se quão desolador é actual-
mente o panorama intelectual da nossa im-
prensa regional.
Acresce dizer ainda que a cidade de Faro,
no período de afirmação da República, entre
1912 e 1918, era no contexto nacional uma das
que mais periódicos oferecia aos seus cida-
dãos, editando em simultâneo os semanários
«O Algarve», «Districto de Faro», «O Heral-
do» e «O Sul», não falando já no quinzenário
«Boletim do Algarve», órgão da diocese algar-
via, fundado em 15-1-1910, que depois se trans-
formaria, em 19-6-1914, no actual semanário
«Folha do Domingo»22. Esta situação poderá
explicar-se pelo facto de se tratar de uma
capital de distrito, com todas as actividades
económico-socio-culturais que lhe estavam
adstritas, mas também se explica pela cres-
cente expansão demográfica do concelho,
cuja população avaliada em 35.834 habitan-
tes evidenciava um crescimento de 57,3 hab
por km2 no cômputo da última centúria. Aliás
entre 1820 e 1890 a população algarvia cres-
ceu 90,1% enquanto a média nacional foi de
54,6%, sendo que na década entre 1890 e 1911
apenas aumentou 19,3%. Mas estes números
tornam-se mais claros se acrescentarmos que
só nas duas freguesias urbanas de Faro (Sé
e São Pedro) a população em 1911 totalizava
12.680, ou seja, quase metade da população
concelhia concentrava-se na cidade, poden-
do por isso considerar-se como um concelho
tendencialmente burguês, cuja economia era
propensa ao sector terciário.
Não obstante termos referenciado os jornais
22 Veja-se a propósito do «Boletim do Algarve» e do seu sucedâneo
«Folha do Domingo», o que escrevi na minha História da Imprensa do
Algarve, 2 vols., Faro, CCRA, 1988-1989, vol. I, p. 185-188, e pp. 304-307,
respectivamente,
que, em Faro, mais intensa actividade política
desenvolveram no período de afirmação da
República, o certo é que outros existiram não
nesta cidade, como noutras localidades
algarvias.
alguns
inusitadOs
periódicOs
republicanOs
de FarO
Não querendo ser exaustivos, por que a tanto
não nos sobeja o espaço, importa ainda lem-
brar aqui a existência de outros periódicos
que no Algarve se distinguiram durante a vi-
gência do regime republicano. Assim, e ainda
em Faro, lembramos, o aparecimento do pri-
meiro jornal anarquista de que há memória
no Algarve, com o sugestivo título de «O Li-
bertário», fundado em 13-10-1912 por António
de Sousa Palma e José Franco, dois jovens
empregados do comércio, hoje praticamente
ignorados. O jornal veio a público em memó-
ria de Francisco Ferrer, o grande educador
racionalista e fundador da Escola Moderna
de Barcelona, comemorando-se nesse ano o
3.º aniversário da sua execução. É importante
acrescentar que o jornal vivia exclusivamente
dos donativos dos seus simpatizantes, razão
pela qual se publicaram apenas seis números,
editados por ocasião do 1.º de Maio, então,
como hoje, considerado Dia Mundial do Tra-
balhador. A falta de recursos ditou a sua ex-
tinção em 1-5-1915. Porém, constitui uma fon-
te imprescindível para o estudo das células
anarquistas e comunistas, que então existiam
João de Deus de Alte
José Guerreiro Murta
138
minimamente organizadas, no seio da indústria corticeira algarvia, no-
meadamente em Faro, Olhão, Monchique Loulé, Messines e Silves.23
O seu sucedâneo natural foi o quinzenário anarquista «A Ideia», fun-
dado em Faro a 5-3-1916 pelo jovem marçano António Neves Anacle-
to24, a quem também chamaram o “Gorki português”, devido aos
seus dotes literários e muito especialmente ao seu irrefreável espírito
revolucionário. Devido aos apelos que fazia à união dos trabalhadores
contra o patronato, ao incitamento às greves que por quase todo o
Algarve despontavam, e sobretudo à invocação da violência contra
os comerciantes açambarcadores que faziam inflacionar os preços, o
jornal depressa se tornou alvo das perseguições policiais e até da sus-
pensão do título. Embora os seus raros colaboradores assinassem os
artigos sob pseudónimo, sei de viva voz que o jovem estudante liceal
José Neves Júnior25, que mais tarde se tornaria num conceituadíssi-
mo professor do próprio Liceu de Faro, era um dos mais contunden-
tes plumitivos de «A Ideia», assim como o Dr. Rita da Palma, que aliás
ensinara o próprio Neves Anacleto a ler e escrever, pois que quando
chegou a esta cidade para trabalhar como caixeiro comercial era um
simples e inqualificado analfabeto.26 Curiosamente este pequeno jor-
23 A propósito das lutas operárias dos corticeiros de Silves, nomeadamente sobre a organização do seu
sindicato e das células anarquistas e anarco-sindicalistas que grassavam por todo o barlavento algarvio;
sobre as manifestações do 1.º de Maio, as perseguições da polícia, detenções e deportação dos operários,
veja-se o importantíssimo livro-fonte da autoria de José dos Reis Sequeira,
Relembrando e Comentando (memórias de um operário corticeiro) 1914-1938, Lisboa, A Regra do Jogo
Edições, 1978.
24 Advogado, político e escritor, nasceu no sítio da Amorosa, freguesia de São Bartolomeu de Messines,
a 8-2-1897 e faleceu em Lisboa a 25-2-1990. Quase adulto era ainda analfabeto, mas dedicando-se ao
estudo habilitou-se aos exames da instrução primária, do curso liceal e depois da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa, onde se formou em 1926. Editou, em 1920, o quinzenário estudantil «Alma
Académica», órgão da academia do Liceu de Faro, após o que fundou e dirigiu o quinzenário anarquista «A
Ideia», e dez anos depois tomou a seu cargo o semanário «Alma Algarvia», que se havia fundado a 7-11-1926
na vila de Loulé e que em Faro fez reatar com a veemência e frontalidade que lhe era peculiar. Adepto
das ideias anarquistas esteve por várias vezes preso, acabando por ser deportado para Moçambique onde
exerceu a advocacia. Grande parte dos seus proventos financeiros investiu-os na cidade de Faro, no sector
imobiliário, chegando a ser um dos principais proprietários da Av. 5 de Outubro. Com o «25 de Abril» e a
consequente descolonização retornou à pátria fixando-se em Lisboa onde permaneceu até à morte. O Dr.
Francisco Sá Carneiro convidou-o para figurar nas listas do PPD ao parlamento, para o qual foi eleito por
Lisboa. Colaborou em vários jornais diários, demonstrando-se desencantado com o andamento da política
nacional. Publicou vários livros de entre os quais destacamos, pela sua polémica feição, apenas os últimos:
A Inventona do 28 de Setembro (Quem a fez?), Lisboa, 1976, e O Traidor Otelo, Lisboa, 1976. Mas a sua obra
mais notável é ao fim e ao cabo o seu próprio livro de memórias que tem por titulo A Minha Longa Luta
– preso algemado e deportado, Lisboa, 1975.
25 Veja-se acerca da vida e obra desse grande professor, historiador e geógrafo o livro de Maria Armanda
Mesquita, O Homem e o Pedagogo – José Neves Júnior, Faro AJEA Edições, 1999.
26 Veja-se da autoria do Dr. Joaquim Rita da Palma os livros: Cinzas do meu Pensamento, ed. Autor, 1981, e
Memórias de um Advogado, ed. Autor, 1980. Dos dois só o primeiro contém evocações e vários episódios da
sua vida estudantil no Liceu de Faro, mas ambos merecem ser lidos como fonte de estudo para a vida social
e cultural do Algarve desde os primórdios até quase à eclosão do século XX.
nal anarquista mostrava-se bastante agressivo para com os partidos
republicanos, tendo como alvo preferencial a figura de Afonso Costa
e do Partido Democrático, o que suscitou em «O Heraldo» mais uma
das suas viperinas polémicas.
Outro jornal republicano de inusitada proveniência foi «O Algarvio»,
fundado em 18-5-1919, pelos jovens estudantes do Liceu de Faro,
Mário Lyster Franco27 e José Centeno Castanho28, em cujas colunas
sustentaram a autonomia do Algarve, mercê da sua viabilidade finan-
ceira, reivindicando a igualdade do estatuto que pouco antes fora
concedido pelo governo aos Açores e Madeira. A sustentabilidade
autonómica do Algarve não constituía novidade na época, já que no
ano anterior o ex-ministro Tomás Cabreira publicara uma obra em
que detalhadamente demonstrava «que o Algarve paga muito mais
ao Estado do que dele recebe e que, por consequencia tem todas
as condições para possuir uma completa autonomia administrativa».
E acrescenta: «Tanto a balança commercial como as balanças das
finanças individuaes ou estadoaes dão, ao velho reino do Algarve,
todas as caracteristicas de uma região que pode contar com os seus
proprios recursos para ter uma vida mais larga e intensa». Como al-
garvio «dos mais fanáticos pela sua terra natal», Tomás Cabreira con-
cluiu de forma muito esperançosa e positiva que «o Algarve pode ter
um futuro brilhantíssimo e ser a região mais rica de Portugal».29 Foi
com base na obra de Tomás Cabreira, e inspirados no espírito maçó-
nico da loja «Pró-Pátria» de Faro, que os jovens estudantes criaram
27 Mário Lyster Franco, advogado, jornalista e escritor, nasceu em Faro a 19-2-1902 e faleceu em Lisboa a
20-8-1984. Estreou-se nos jornais aos 8 anos, e aos 15 já fazia parte do grupo de poetas futuristas do jornal
«O Heraldo». Aos 17 funda o jornal «O Algarvio» e aos 25 era advogado com banca em Faro. Dedicou-se
depois ao jornalismo dirigindo durante quarenta anos o semanário farense «Correio do Sul» e em 1946
tinha já concluída para publicação a sua obra-mestra, Algarviana – Subsídios para uma bibliografia do
Algarve e dos autores algarvios, de que apenas se publicou o volume inicial em 1982. Para mais informes
consulte-se os meus livros: História da Imprensa do Algarve, 2 vols., Faro, CCRA, 1988-1989, vol. I, p. 245;
Confidências e Revelações de Mário Lyster Franco, Faro, AJEA Edições, 2005; e ainda o meu blogue
http://algarvehistoriacultura.blogspot.com.
28 José Centeno Castanho, advogado, diplomata e empresário de artes gráficas, nasceu em Olhão e faleceu
em Lisboa a 16-5-1961. Era filho do Dr. José Ribeiro Castanho, que foi Ministro do Interior no tempo da
implantação da ditadura nacionalista e morreu Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
Estudou no Liceu de Faro e foi companheiro dilecto do, então quintanista, Mário Lyster Franco, com
quem fundou «O Algarvio», em 1919, que se dizia de propaganda autonomista. Possuidor de reconhecidos
dotes de inteligência era, contudo, uma personalidade inconstante e sempre insatisfeita. Matriculou-se na
Universidade de Lisboa e depois de tentar vários cursos acabou por se formar em Direito. Evidenciava,
desde muito jovem, fortes convicções nacionalistas, mas evitava aproveitar-se dos velhos amigos de seu
pai, que eram pessoas muito próximas do Prof. Salazar, para se impor na vida. Ainda tentou a carreira
diplomática, chegando a ser colocado à frente do consulado de Aiamonte, mas em breve se desencantaria
das suas novas funções, regressando a Lisboa.
Depois de ter ocupado vários cargos públicos, resolveu tornar-se sócio-gerente de uma empresa ligada à
indústria de tipografia, sedeada em Lisboa.
29 Tomaz Cabreira, O Algarve Economico, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1918, pp. 285-286.
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
139
a «Sociedade Pró-Algarve», de que o jornal
era órgão oficial, única e exclusivamente para
propagandearem “urbi et orbi” a autonomia
administrativa do Algarve. Foi-nos confiden-
ciado pelo próprio Mário Lyster Franco que
o tal “fanatismo regionalista”, de que se ar-
vorava Tomás Cabreira, o havia fortemente
influenciado, pois que ainda jovem, de ape-
nas treze anos, teve a honra e a feliz opor-
tunidade de conviver de perto com aquele
garboso militar e notável político republicano
no decurso do I Congresso Regional Algarvio,
realizado na Praia da Rocha em 1915.30 Infe-
lizmente este revolucionário gesto de since-
ro e convicto regionalismo, expresso com a
fundação de «O Algarvio», cessaria com o n
23 de 16-11-1919. Devo acrescentar que nunca
mais existiu no Algarve qualquer outro perió-
dico que pudesse equiparar-se-lhe, não só na
difusão do espírito autonomista como ainda
no romantismo regionalista.31
Por fim, merece particular referência, até
pela surpresa do seu aparecimento público,
o semanário «O Combatente», órgão do Cen-
tro Socialista de Faro, fundado em 11-12-1919,
pela mão de Eduardo Martins Seromenho,
que julgo ter sido professor primário. O jornal
embora se considerasse republicano socia-
lista-marxista e defensor da classe operária,
pareceu-me mais próximo dos jovens anar-
quistas que haviam criado os dois periódicos
anteriormente citados, do que propriamente
do Partido Comunista, então recém-criado.
30 José Carlos Vilhena Mesquita, Confidências e Revelações de
Mário Lyster Franco, Faro, AJEA Edições, 2005, p. 37.
31 Aquilo a que chamo o “romantismo regionalista” encontra-se
expresso no artigo de fundo da edição inaugural de «O Algarvio», no
qual se manifesta a vontade de promover «por todas as formas, por
todos os meios ao seu alcance, os progressos morais e materiais, deste
torrão ubérrimo, deste jardim de fadas, deste recanto abençoado
que é o nosso Algarve, terra amada do sol, terra onde a luz invade
a paisagem, terra sagrada dos olhos negros e das paixões ardentes,
terra querida do luar, onde o lirismo tem a mais alta expressão».
Apesar de se dizer inspirado nas doutrinas
de Karl Marx, e de supor que nesses contur-
bados tempos do fim da I Guerra Mundial
a revolução socialista estaria eminente32, o
certo é que os seus textos não evidencia-
vam uma inspiração socialista, de carácter
marxista, mas ao invés uma forte inclinação
anarco-sindicalista, realçada na existência de
inúmeras células operárias na indústria algar-
via que sempre existiram organizadas sob a
bandeira anarquista. Este jornal, que foi uma
ténue imitação de «O Combate» de Lisboa,
acabaria por se extinguir ao cabo de 34 edi-
ções a 29-8-1920.
a «escOla de
lagOs», alFObre
da imprensa
republicana
algarvia
Já aqui dissemos que a cidade de Lagos foi
o berço do republicanismo algarvio, onde
despontou aquilo a que chamamos a “Escola
de Lagos”, designação com que pretendemos
distinguir a magnífica plêiade de homens de
letras que na segunda metade de Oitocentos
desenvolveu naquela urbe um verdadeiro
movimento político-cultural, materializado na
fundação de vários e sucessivos órgãos de
comunicação social, a maioria dos quais se
identificava com as novas ideias libertárias e
32 Essa é aliás a mensagem contida no artigo de fundo que inaugurou
a vida do próprio jornal, do qual
extratamos a seguinte passagem: «Após a guerra, os proletários de
todo o mundo, compreendendo bem o caminho a seguir para se
emanciparem da tirania das classes dominantes, teem-se agrupado
em volta da bandeira socialista, cheios de fé e de entusiasmo ardente,
tocados dos mais generosos sentimentos que lhes inspiram as sãs
doutrinas do puro socialismo que tem por divisa – Não há deveres
sem direitos, nem direitos sem deveres.»
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
Postal de Lagos
?????????????
140
republicanas, que aliás despontavam por quase toda a Europa ociden-
tal. Nessa “Escola de Lagos” a figura que lhe serviu de charneira foi
o Dr. Bartolomeu Salazar Moscoso33, um intelectual de elevadíssimo
nível científico e de grande sensibilidade cultural, e ao mesmo tempo
um poeta da mais fina têmpera parnasiana, inspirado no naturalismo
literário, resultante dessa herança genética que é o lirismo algarvio.
Em sentido cronológico, surgiu primeiramente o «Diário do Algarve»,
sob a égide de António Joaquim Corrêa Júnior, cuja alma-mater era
o seu chefe de redacção, o famoso José Joaquim da Costa Macedo,
vulgo o Macedinho34. Não tenho a certeza da data de fundação, mas
33 Bartolomeu Salazar Moscoso nasceu na freguesia de Santa Maria, da cidade de Lagos, a 9-1-1856, e
faleceu em Santarém a 21-10-1933; filho de D. Francisco Salazar Moscoso e de D. Vitória Rita Baraona da
Veiga, ambos fidalgos da melhor estirpe. Estudou em Lisboa na Escola Académica e concluiu o seu Curso
Superior de Letras com elevada distinção, fazendo parte duma magnífica tertúlia literária ao lado de Fialho
de Almeida, Guilherme de Azevedo, Joaquim de Araújo, Coelho de Carvalho e Marcelino Mesquita,
com quem fundara um jornal estudantil intitulado «O Académico». Foi sócio fundador, com o n.º 26, da
Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, fundada em Lisboa em 1880, tomou parte em comícios
republicanos e foi um dos signatários do manifesto académico de 26-1-1882 em que se reivindicava um
Instituto de Ensino Livre; participou nas comissões executivas do Centenário Pombalino e do Centenário
de Camões, filiando-se então no Partido Republicano de que foi sócio num centro político que existia
na Rua da Rosa. Pouco depois voltava à terra natal onde se radicou com funções de solicitador e de
advogado de provisão, tendo esporadicamente ocupado os cargos de administrador do concelho de Olhão
e procurador por Vila do Bispo à então Junta Geral do Distrito. Como jornalista e homem de letras foi
redactor do «Notícias do Algarve», director da «Folha Democrática» e redactor do semanário «Pró-Lago
que se publicaram todos em Lagos, de 1883 até 1894. Com José Bourquin Brak-Lamy fundou o primeiro
centro republicano do Algarve, gérmen de vários outros que mais tarde se espalharam por toda a província.
Colocado como professor interino no Liceu Nacional de Faro, Salazar Moscoso revelou-se então como um
inveterado boémio que o vulgo tolerava em face do seu invulgar génio de poeta e orador. A insatisfação
do seu carácter levou-o novamente para Lisboa onde, mercê de inesperadas privações, teve de se fazer
redactor efectivo dos jornais, percorrendo deste modo as redacções de «O Dia», da «Capital», do «Paiz»
e de «A Vanguarda» até que a convite do seu amigo Dr. Manuel Ribeiro Alegre foi para Santarém, onde
desempenharia as funções de ajudante da Conservatória do Registo Predial e, pouco depois, de professor
da Escola Primária Superior. Velho e cansado, minado pelo álcool, dedica-se no fim da vida à leccionação
particular, que mesmo assim não o libertará da miséria. Morreu praticamente na indigência, apesar de
amparado pelos amigos escalabitanos, que lhe chegaram inclusivamente a pagar o funeral. Foi um poeta de
génio, que publicou em pequenos folhetos, dezenas de sonetos do mais fino e eloquente lirismo, sobre os
quais podemos encontrar detalhadas referências no estudo de Mário Lyster Franco, Salazar Moscoso – um
poeta algarvio esquecido, Faro, separata do «Correio do Sul», 1979.
34 José Joaquim da Costa Macedo nasceu em Faro em 1859 e nesta cidade veio a falecer em 6 de Abril
de 1910. Estudou em Faro revelando desde muito cedo elevada inteligência, a ponto do Eng.º Macário dos
Santos, responsável pela rede de estradas que em 1870 se haviam iniciado nesta província, lhe entregar a
responsabilidade de alguns estudos do terreno, assim como a vigilância dos trabalhos efectuados. Teve vida
aventurosa e bastante boémia. Quando se preparava para contrair matrimónio fugiu para lugar incerto só
voltando vinte anos depois, para se refugiar das autoridades militares que o acusavam de ter tomado parte
da célebre revolução do «31 de Janeiro de 1891». Apesar disso, Costa Macedo seguiria a carreira das armas
chegando ao posto de 1.º sargento de engenharia e só não progrediu por ser um empertigado republicano,
que não se inibia de nos quartéis propagandear o novo regime que, infelizmente, e por escassos meses,
nunca chegaria a ver implantado em Portugal.
Deixou o exército para se radicar em Faro, mas toda a vida sofreu dificuldades económicas, mitigadas
pelos parcos rendimentos auferidos pelas explicações de matemática e de português que dava aos alunos
do Liceu, ou pelo que os jornais lhe pagavam pela colaboração que mantinha em quase tudo o que se
publicava a sul do Tejo, sob a bandeira ideológica da República, é claro. Foi também o principal redactor
do jornal «Progresso do Sul», que durante anos sobreviveu à sombra da sua pena. A boémia e o álcool
arruinaram-lhe a saúde e apesar de vir a morrer já regenerado ainda hoje se fala das diatribes do seu
presumo que deve ter ocorrido nos finais de Dezembro de 1872. Ape-
nas vi um único exemplar deste jornal, e receio mesmo que não exista
mais nenhum. Embora se mostrasse intrinsecamente republicano na
abordagem dos poucos assuntos focados nas suas colunas, era con-
tudo mais literário do que político. Não obstante, coube-lhe a honra
de ter sido, supostamente, o primeiro órgão com periodicidade diária
que se publicou no Algarve. Acresce dizer que este jornal foi como
que o continuador do «Echo do Algarve», de 1868, que já abordamos
no início deste trabalho, cujo elo de ligação era precisamente o Antó-
nio Corrêa Júnior, proprietário da Tipografia Lacobrigense.
Seguiu-se-lhe a «Gazeta do Algarve», fundada no ano seguinte, em
1-1-1873, pela mão de duas figuras de proa da intelectualidade laco-
brigense, Augusto Feio Soares de Azevedo35, e o capitão João Pedro
Correia Tello, notável oficial militar e figura de primeiro plano nos qua-
dros políticos regionais. Apesar deste semanário ter sobrevivido até
ao n.º 261 de 25-12-1877, parece que a ambos faltaram forças físicas e
financeiras para manterem o jornal, que sem sombra para dúvidas foi
o melhor do seu tempo, constatando-se, pela sua leitura, que possuía
correspondentes nas principais cidades e vilas do Algarve, o que ates-
ta a sua enorme expansão e tiragem, que deve ter rondado os dois
mil exemplares. A consulta da «Gazeta» permite-nos conhecer não
apenas as principais personagens da sociedade lacobrigense do últi-
mo quartel do século XIX, como ainda ler notícias, artigos e estudos
sobre as causas do atraso económico do Algarve, desde a silvicultura
às pescas passando até pela referência aos diversos surtos epidémi-
cos que assolaram a região. Nas suas colunas podem colher-se precio-
sas informações sobre a indústria pesqueira, as armações do atum, as
greves operárias nas fábricas conserveiras, os preços dos géneros de
primeira necessidade, os cataclismos naturais, os surtos epidémicos
(particularmente sobre o colera-morbus), o aparecimento de peixes
passado aventureiro. Constituiu família de que ainda existem descendentes, tendo um dos seus filhos
chefiado as oficinas tipográficas do antigo «Diário do Algarve, que se editou em Faro de 1932 a 1933.
Registe-se que José Joaquim da Costa Macedo foi um dos primeiros conservadores da Biblioteca Municipal
de Faro.
35 Augusto Feio Soares de Azevedo, médico, nasceu em Coimbra em 1838 e faleceu em Lisboa a 2-9-1907,
vitimado por uma enterite, com 69 anos de idade. Veio ainda jovem para a cidade de Lagos, onde exerceu
clínica durante catorze anos, tendo aqui fundado de parceria com João Pedro Correia Tello o semanário
«Gazeta do Algarve», um dos primeiros que nesta província defendeu as ideias republicanas. Saiu de Lagos
para a ilha Graciosa, nos Açores, de onde regressaria pouco depois à metrópole embarcando de seguida
para África, estabelecendo-se na Catumbela e depois no Ibo, aí dirigindo os postos médicos da Companhia
do Niassa. Voltou mais tarde para Lisboa a fim de tomar posse do lugar de facultativo do Lazareto, onde se
manteve até à reforma. Regressou ao Algarve, ainda que por breve espaço de tempo, para exercer o seu
múnus no Compromisso Marítimo de Olhão. Era amigo muito próximo de Fontes Pereira de Melo, e por isso
militou no Partido Regenerador, sendo eleito deputado na legislatura de 1880-1881.
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
141
monstruosos, as festividades populares, e até
a crítica teatral, lembrando que todas as pe-
ças levadas à cena no Teatro Lethes de Faro
eram aqui descritas até ao mais pequeno
pormenor, sem esquecer a composição dos
respectivos elencos, o mesmo acontecendo
em relação ao Teatro Gil Vicente de Lagos.
Por tudo isto há que reconhecer que a «Ga-
zeta do Algarve» é a principal fonte para o es-
tudo do declinar do século XIX na cidade de
Lagos, exigindo-se por isso que se proceda
à sua urgente recuperação da Biblioteca Na-
cional pelos mais modernos meios informá-
ticos, por forma a facilitar a sua consulta na
biblioteca Júlio Dantas e no Arquivo Distrital
de Faro.
Pouco depois surgiu a «Folha Democrática»,
fundada em 18-1-1883, em cujo cabeçalho se
dizia claramente: «semanário republicano».
Era seu director Bartolomeu Salazar Mosco-
so, o mais lídimo propugnador do ideário re-
publicano no Algarve, durante o século XIX.
Teve vida efémera, editando-se apenas sete
números (pelo menos não vi mais nenhum),
extinguindo-se a 1-3-1883. Mas, apesar disso,
foi demasiado cáustico e, por vezes, excessi-
vamente insultuoso para com a Família Real,
acusando a monarquia de anacrónica, caci-
queira e corrupta. Alguns dos seus artigos,
presumo que da autoria de Salazar Moscoso,
tinham um forte recorte irónico, com cons-
tantes citações literárias e vários francesis-
mos, sendo, por outro lado, muito curiosos os
neologismos com que se ridicularizavam os
chefes políticos locais, sobretudo os do Par-
tido Regenerador. As referências que nele se
fazem às eleições e ao modus operandis dos
caciques políticos são dignas de criteriosa e
muito proveitosa análise para os historiado-
res deste período.
No início da década seguinte veio a púbico
«O Lacobrigense», fundado em 5-4-1891 por
outra das grandes figuras da “Escola de La-
gos”, o Dr. José Joaquim Nunes36, um homem
a todos os títulos brilhante, investigador emé-
rito da cultura portuguesa e notável profes-
sor da Universidade de Coimbra, autor de
vastíssima e relevantíssima obra de grande
notoriedade científica. Tinha a seu lado, igual-
mente como director de «O Lacobrigense»,
o funcionário aduaneiro Affonso Cañet de
Castro, também ele um republicano convic-
36 José Joaquim Nunes, filólogo, escritor e pedagogo, nasceu em
Vila Nova de Portimão a 4-12-1859 e faleceu em Lisboa a 20-7-1932.
Fez a instrução primária na sua terra natal, após o que se transferiu
para o Seminário de S. José, em Faro, onde se ordenou padre e
foi de imediato colocado na freguesia de Alferce, no concelho de
Monchique. Em 1889, por concurso público, ascendeu a capelão
militar no Regimento de Infantaria n.º 15, aquartelado na cidade de
Lagos, onde pouco depois fundaria um colégio para o ensino liceal.
Mais tarde, transferiu-se para Caçadores n.º 7, em Santarém, em cuja
cidade exerceu o magistério particular e se estreou como publicista
da filologia portuguesa ao publicar na «Revista Lusitana» (vol. III de
1895), um trabalho intitulado «Fonética Histórica Portuguesa». Porém,
já em 1888 se haviam dado à estampa as suas primícias literárias
escondidas sob o pseudónimo de Júlio Ventura e com o livro Contos
do Lar. Seguidamente foi para Beja, onde se incorporou em Infantaria
n.º 17 e exerceu o cargo de professor interno no Liceu de Beja e
no Seminário local. Implantada a República, foi nomeado Reitor do
Liceu de Beja e deixou praticamente, a partir dessa altura, a vida
eclesiástica, passando a dedicar-se exclusivamente ao ensino. No ano
seguinte tomou parte, como vogal secretário, na Comissão de Reforma
Ortográfica, aprovada ainda em 1911. Transferiu-se, pouco depois, para
o Liceu de Santarém e em 1912 para o Liceu Camões, em Lisboa, onde
leccionou também no Colégio Militar. Em 1914 foi contratado como
professor extraordinário da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa e em 1917, por análise curricular, obteve o doutoramento. Na
Faculdade de Letras regeu as cadeiras de Latim e Grego, tornando-se
num dos mais célebres filólogos portugueses da sua geração. Por
unanimidade do corpo docente foi eleito director da respectiva
Faculdade, onde se jubilou a 4-12-1929. Foi sócio correspondente
da Academia das Ciências de Lisboa, desde 1913, passando a sócio
efectivo em 22-4-1926, tendo aí apresentado e publicado no respectivo
«Boletim» grande número dos seus importantes trabalhos de
investigação. Falava e escrevia correctamente em latim, grego, francês,
italiano, espanhol, inglês e alemão, relacionando-se com os maiores
sábios do seu tempo, espalhados por todo o mundo. Proferiu várias
conferências em Portugal e no estrangeiro e, para além da filologia, foi,
ainda, um conceituado investigador nos domínios da Onomatologia.
Afastado do múnus sacerdotal desde a implantação da República,
consorciou-se civilmente, mas em 1931, já viúvo, reconciliou-se com
a Igreja e voltou à vida eclesiástica, retirando-se em penitência para
o seminário franciscano do Varatojo, onde, aliás, não viria a sentir-se
bem em face da sua adiantada idade. Faleceu no ano seguinte, com 73
anos de idade, depois de uma vida intensamente dedicada ao estudo.
Da sua lista de obras fazem parte dezenas de títulos, cuja menção não
cabe no espaço aqui disponível.
João Lucio
142
to, particularmente vocacionado para o jornalismo que em Feverei-
ro desse mesmo ano havia fundado, sem êxito, «O Echo de Lagos».37
Impõe-se referir que Affonso de Castro foi outro ilustre membro do
escol intelectual lacobrigense, ligado não só à fundação de vários ór-
gãos da imprensa local, como ainda colaborava nos principais arautos
da província. A colecção deste jornal constitui uma fonte privilegiada
para o estudo da cidade de Lagos, mostrando-se a sua consulta bas-
tante proveitosa pela variedade de assuntos nele tratados, nomeada-
mente melhoramentos camarários, greves, lutas operárias, preços dos
géneros alimentares, epidemias, catástrofes climatéricas, desastres
marítimos, pesca do atum, procissões, festas populares, etc. O estilo
crítico dos seus artigos e notícias, as influências ideológicas dos seus
colaboradores, leva-nos a considerá-lo como um órgão de inspiração
republicana, desalinhado dos partidos e sem apoios institucionais que
garantissem a sua sobrevivência financeira, razão pela qual teve vida
efémera, extinguindo-se provavelmente no declinar de 1891.
Mas pouco tempo depois, juntaram-se o Salazar Moscoso, o Affonso
de Castro, o Joaquim João Serpa, e o José Joaquim Nunes para fun-
darem, em 17-1-1892, «O Imparcial», que não obstante o ambicioso pro-
jecto de criar um grande jornal para a cidade de Lagos, acabaria por
se extinguir ao cabo de vinte edições, em 29-5-1892. Causou uma certa
estranheza a sua precoce suspensão pois possuía todas as condições
e meios materiais para alcançar o almejado sucesso, nomeadamente
oficinas próprias, que pertenciam ao João Serpa. Apesar de afirma-
rem, na sua edição inaugural, que seguiam um jornalismo ecléctico38, a
verdade é que perfilhavam uma filosofia política na esteira de um re-
publicanismo brando, moderado e intelectualizado. Tal como lhe com-
petia, deu particular relevo ao noticiário local e aos artigos de opinião,
fazendo constantes apelos ao investimento nas pescarias, nomeada-
mente ao incremento das armações do atum e ao desenvolvimento
da indústria conserveira. Também insistia amiúde no aperfeiçoamento
da produção agrícola, principalmente na exportação de vinho, cortiça,
palma, esparto, azeite e frutos secos para os mercados europeus. Pu-
37 Creio que «O Echo de Lagos», que tinha o aspecto e as dimensões de um simples folheto, veio a público
unicamente para desagravo da infrutífera revolução republicana do «31 de Janeiro», ocorrida na cidade
do Porto. A única entidade que figurava no cabeçalho era a do corajoso e persistente combatente pela
liberdade Affonso Cañet de Castro, que tendo comprado os prelos da velha Tipografia Burocrática de
Tavira, tratava de lhe dar uso imprimindo os vários jornais que em seu torno concitaram um valioso escol
de intelectuais a que chamei “Escola de Lagos”. À semelhança de todos os outros jornais também este não
durou mais do que as “Rosas de Malherbe”… suspendeu logo após a edição inicial.
38 «Somos pois, admitasse-nos a expressão, ecclecticus sem temermos o erro desse processo, pois que
o nosso ecclectismo, se modificará pela discussão e pela demonstração com o ecclecticismo dos mais.
Affigura-se-nos ser esta a unica, a verdadeira doutrina admissivel.», in «O Imparcial», n.º 1 de 17-1-1892 (artigo
de fundo).
blicaram-se nessas colunas vários artigos de inflamado antagonismo
britânico, no fundo respingos suscitados pelo “Ultimatum Inglês” que
ainda perduravam na memória dos republicanos algarvios.
A última tentativa de sucesso jornalístico, levada a efeito pelo escol intelectual que deu corpo e alma ao
republicanismo lacobrigense, surgiu em 23-9-1894 sob o título de «Pró-Lagos», dirigido por Bartolomeu
Salazar Moscoso e gerido por Joaquim António Socorro Júnior, que era não só o proprietário do título
como também da tipografia, que nessa altura tinha o nome de Guadiana, a mesma que anos mais tarde
transferiu para Vila Real de Santo António rebaptizando-a como Tipografia Socorro. Ainda vi alguns dos seus
velhos prelos, que receio bem já tenham ido parar à sucata. Este jornal, tal como todos os outros, teve vida
efémera, pois que suspendeu ao n.º 4 de 18-4-1894. O que se lamenta pois, ao contrário dos anteriores, tinha
bom aspecto gráfico, estava bem paginado e tinha um papel de razoável qualidade. Possuía uma índole mais
literária do que política, mas não perdoava críticas aos regeneradores nem ao governo. Não lhe vi artigos
assinados, nem trabalhos de grande interesse. Pareceu-me um projecto falhado à nascença.
Após a implantação da República surgiu, em 11-6-1916, o primeiro (e último) jornal oficialmente republicano,
sob o título de «A Verdade», dirigido por Eduardo Rafael Pinto Júnior, que se dizia isento de ideologias
políticas e de credos religiosos, desejando fazer da transmissão da verdade o seu leitmotiv jornalístico. A
liberdade e a isenção contra as influências, a chantagem e a hipocrisia dos partidos, era o lema do jornal,
que não tendo recebido o apoio nem o interesse dos lacobrigenses, através de um satisfatório número
de assinantes que lhe garantisse a sobrevivência, decidiu suspender a publicação em 1-10-1916, isto é, dois
meses depois de ter sido fundado. E isto demonstra bem o que foi, e até mesmo o que tem sido, ao longo
dos tempos o drama da imprensa naquela cidade, onde apenas vingou o «Jornal de Lagos», criado em 2-4-
1931 por Francisco da Conceição Paula, que talvez devido à época em que nasceu teve uma vida longa, pois
que apenas suspendeu em 30-4-1968, ou seja, quase quarenta anos depois. Actualmente falta à histórica e
lindíssima cidade de Lagos um grande jornal para se poder impor no contexto regional. Infelizmente ainda
poucos se aperceberam que a afirmação das terras e dos povos depende da forma efectiva e positiva como
se impõem os seus meios de comunicação. Sem eles os povos ficam mudos e esquecidos.
cOncluindO…
Ao fim e ao cabo, o período histórico aqui sumariamente analisado,
corresponde à época áurea, isto é, à Idade de Ouro da imprensa, a
qual se inicia nos anos de 1870 e termina com a 1ª Guerra Mundial. É
um período marcado pelos grandes acontecimentos políticos de fim
de século, mas também pelos grandes inventos técnicos de que a cen-
túria seguinte se irá aproveitar para o desenvolvimento de uma nova
revolução industrial. É, por outro lado, o período das grandes altera-
ções mentais e das mudanças comportamentais, tendo como exemplo
o movimento feminista e sufragista que acompanhou a libertação da
mulher e o desenvolvimento da moda – como arte e como indústria.
Mas também é o período do exacerbamento da honra, durante o
qual a mais ligeira ofensa deveria ser lavada com sangue, tendo como
exemplo, no plano individual, os duelos em que os homens se batiam
com sabre ou revolver até que o mais ligeiro derramamento de sangue
lhes pudesse desagravar a honorabilidade; no plano colectivo (isto é,
o da inviolabilidade da honra), decorreu um período aparentemente
sossegado, mas não pacífico, a que se convencionou chamar de “paz
armada”, que iria confluir na barbárie da I Guerra Mundial. O palco
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
143
preferencial para a transmissão imediata das ideias e das opiniões era
a Imprensa, particularmente os jornais de grande expansão nacional
e as agências de informação internacional, que se transformariam no
proscénio público das hostilidades em que se desenrolaram os dois
planos que acabamos de abordar. Curiosamente foi também nesse pe-
ríodo que o jornal deixou de ser o único meio de comunicação social,
pois que no fim de século surgiu a novidade da rádio como alternativa
mais popular e com um discurso jornalístico menos exigente, que irá
revolucionar não só as técnicas de informação como ainda a cultura
de massas. Note-se, porém, que a extensão das audiências, e conse-
quente influência, dos meios de comunicação vieram agravar e até de-
teriorar os principais triunfos suscitados pela liberdade de imprensa:
a venalidade e a difamação. A primeira agudizou-se com as influências
económicas e políticas que através do controle da imprensa amea-
çaram não só a verdade dos factos, como a isenção ou a pureza das
ideias. A segunda, feriu e vexou a reputação das pessoas que viram
os seus nomes expostos nas colunas dos jornais de forma humilhante
e inverosímil, por certos órgãos que escapando às sanções da justiça,
sob a capa da liberdade de imprensa, se acostumaram impunemente a
destruir a honra do mais impoluto cidadão.39
Enfim, passemos a realidades mais concretas.
Depois de tudo isto, parece-nos ter ficado demonstrado que a impren-
sa republicana no Algarve teve as suas origens na cidade de Lagos, mer-
cê do surgimento de uma plêiade de homens de letras, a que chamei a
“Escola de Lagos”, que fizeram da imprensa o seu campo de batalha e
a caixa de ressonância das suas ideias democráticas e libertadoras da
exploração humana. Lembre-se que nessa altura o país, e sobretudo
o Algarve, atravessava uma fase de grande crescimento económico e
industrial, mercê do investimento externo em novas unidades fabris
de transformação de matérias-primas e de recursos naturais. No caso
do Algarve assistiu-se ao desenvolvimento dos sectores corticeiro e
conserveiro, este último de grande sucesso no mercado externo. Isto
fez com que aumentasse o índice de concentração da mão-de-obra
na zona litoral, sobretudo nas vilas e cidades servidas por bons portos
marítimos, para facilitar a exportação para os mercados estrangeiros.
Este fenómeno litoralizou a nossa economia e conduziu ao esvaimen-
to demográfico do interior agrícola. A sociedade laboral clivou-se em
duas grandes massas, a dos camponeses (interior agrícola) e a dos ope-
rários (litoral urbano e industrial). Nas urbes despontou uma burguesia
39 Ver a esse propósito a obra de Eugênio Bucci, Sobre Ética e Imprensa, Lisboa, Companhia das Letras,
2000, 245 páginas.
comercial e industrial, que investiu na educação dos seus descenden-
tes, enviando-os para a Universidade de Coimbra, que era no século
XIX o principal (mas não único) pólo de transmissão científica do país.
Na lusa Atenas despontavam as ideias revolucionárias da Comuna de
Paris, da filosofia de Proudhon, do Manifesto Comunista, dos sagrados
ideais da Revolução Francesa e da República, do hermetismo maçóni-
co, do anarquismo e até do Socialismo utópico. Tudo ali fervilhava num
imenso caldeirão de pensamentos, de reflexões e de ideologias.
Com o retorno dessas novas gerações, foi como se retornassem tam-
bém as naus dos vetustos descobrimentos, pois que esses jovens vi-
nham cheios de riquezas espirituais, de ideias inovadoras e modernas
concepções de vida, querendo construir uma sociedade mais justa e
igualitária. Nas cidades surgiu uma nova intelligentsia, uma vanguarda
intelectual que clamava por uma nova reestruturação da sociedade,
com mais reformas políticas, mais direitos sociais, mais educação e me-
lhores condições de vida para os operários. A cidade tornou-se numa
espécie de crisol da revolução, do anti-clericalismo e da República, en-
quanto o interior agrícola cristalizava na paz bucólica do campo, sob o
império do privilégio, da credulidade religiosa, do analfabetismo e da
dependência.
Existiam pois duas mentalidades e dois horizontes sociais, numa luta
incessante entre o passado e o futuro, entre a Monarquia e a Repú-
blica, entre o privilégio e a equidade. Os ventos eram de mudança,
por isso é que quer na cidade do Porto quer em Faro (e Lagos), duas
cidades portuárias com prósperas burguesias mercantis, e óptimas
relações externas (sobretudo britânicas), acolheram de bom grado
os ideais republicanos, dando guarida a lojas maçónicas e a projectos
conspiratórios para derrubar a monarquia.40 É curioso notar que no
40 Existiram lojas e triângulos maçónicos em Faro desde 1822, com a famosa Loja Fraternidade. A esta
sucederam as Lojas Lealdade I e Lealdade II, que juntamente com a Loja Decisão formaram a chamada
“Maçonaria do Sul”, intimamente ligada à Junta Governativa que dirigiu os destinos da região durante a
guerra-civil da Patuleia. Numa conveniente fusão, para apagar as dissenções ideológicas e partidárias,
surgiu a Loja União Farense, que foi a última a obedecer ao Grande Oriente Lusitano, a qual em 1872 seria
substituída pela Loja Democracia, n.º 70 do Ritual Francês, que perdurou com mais dois triângulos (n.º 19 e
n.º 60) até 1911, quando deu lugar à grande Loja Pró-Pátria II, n.º 319 do Ritual Escocês Antigo e Aceite, a que
pertenceram as mais gradas figuras da intelectualidade farense, que subsistiu até à entrada de Portugal na
I Guerra Mundial. A partir daí a maçonaria farense abrandou e desarticulou-se, reanimando-se porém em
1923 com o triângulo n.º 258 do ritual escocês, cujo número de novos aderentes suscitou a criação em 1924
da Loja Gil Eanes, n.º 413 do constante Ritual Escocês Antigo e Aceite. Esta Loja já não existia em 1930 por
causa da lei que proibia os servidores do Estado de pertencerem às associações secretas. Não querendo
aqui referir nomes, devo acrescentar que convivi com pessoas que pertenceram às lojas maçónicas de
Faro, ou eram descendentes de antigos membros. Curiosamente esses descendentes confidenciaram-me
que nas vésperas da revolução do 5 de Outubro só existia a Loja Pró-Pátria de Faro, que superintendia
ou controlava as acções de propaganda e conspiração dos Triângulos de Olhão, Albufeira e Lagos, sendo
que Loulé tinha dois Triângulos formados por jovens artesãos, operários e empregados do comércio. Em
1911, com a febre da República a maçonaria cresceu muito, até porque as ordens que tinham recebido de
Magalhães Lima vinham no sentido de se aumentarem os recrutamentos de quadros superiores: médicos,
144
último quartel do século XIX, na esteira da famosa “Geração de 70”, a
burguesia mercantil vai tomando as rédeas da industrialização e avan-
çar para uma nova fase do capitalismo, em contraposição ao nosso
tradicional capitalismo agrário, polarizado no Douro vinhateiro, nas
lezíria do Tejo e no azeiteiro vale de Santarém.41o admira pois que
essa burguesia mercantil e industrial tivesse despontado, no caso do
Algarve, nas cidades de Lagos e Faro e nas vilas de Portimão e de Vila
Real de Santos António, onde despontaram as principais figuras do
republicanismo algarvio. É pois de notar que a República no Algarve,
tal como no resto do país, emergiu do insulto patriótico consequen-
te ao «Ultimatum», cujos principais insurgentes foram claramente as
gerações novas e a burguesia emergente, numa onda de nacionalis-
mo positivista. Os jornais, de índole nacional e regional, fizeram eco
da pátria ofendida, clamando a sua revolta contra a impotência do
governo e do próprio regime. A partir daí a monarquia tinha os dias
contados.
As mentalidades evoluíram na proporção directa do potencial edu-
cativo e intelectual da burguesia, alma e sangue do republicanismo.
Como já se disse, a transmissão pública dos valores e categorias que
enformavam o ideário republicano foram preferencialmente propala-
dos pela imprensa, sobretudo de âmbito regional. E nesta conformida-
de foi, sem sombra de dúvida, a “Escola de Lagos” a grande impulsio-
nadora dos novos ideais, tendo na personalidade do Dr. Bartolomeu
Salazar Moscoso, o seu principal dirigente e promotor. Figura essa
hoje esquecida e até ignorada pelos seus conterrâneos, cuja acção
política, cívica e cultural merecia maior divulgação, especialmente a
sua obra poética que, embora não sendo de grande tomo, é incontes-
tavelmente de grande sensibilidade lírica e até de comprovado valor
educativo, nomeadamente para as crianças. Os poemas que intitulou
«A Voz dos Frutos» mereciam ser lidos e recitados pelas crianças das
nossas escolas, espicaçando-lhes a memória, a inteligência e sobre-
advogados, juízes e professores. Surgiram, por isso, mais duas novas Lojas, uma em Olhão e outra em Lagos,
mantendo-se logicamente a de Faro como charneira dos novos Triângulos de Tavira, Albufeira e Loulé, que
curiosamente abateu um dos que possuía no ano anterior. Creio que até 1915 o Algarve manteve três Lojas e
três Triângulos, todos do Ritual Escocês Antigo e Aceite. A maçonaria no Algarve, como certamente no resto
do país, era a base secreta e conspiratória do Partido Democrático, que decaiu muito após a chamada União
Sagrada com o Partido Evolucionista por causa da entrada de Portugal na Grande Guerra. Digamos que a
partir daí, esvaeceu-se o radicalismo dos Democráticos que nos anos seguintes praticamente empalmaram
o eleitorado Evolucionista, ficando Afonso Costa rei e senhor duma grande franja eleitoral que ia do centro
à esquerda radical. A maçonaria a partir daí perde muita da sua influência política e até da sua necessidade
prática e funcional.
41 A título de curiosidade, lembramos o Barão de Forrester e a D. Antónia no Douro vinhateiro, os Condes
de Palmela e outros argentários que tomaram de assalto a Companhia das Lezírias, e por fim, o estranho
caso de Alexandre Herculano, um dos pais da pátria liberal, que no fim da vida se transformou num grande
empresário da olivicultura.
tudo a sensibilidade, de forma a combater-se o facilitismo analfabeti-
zante que actualmente impera no nosso ensino básico.
Se a cidade de Lagos teve a honra de ter promovido e difundido
no Algarve o espírito republicano, inspirado nos valores humanistas
que enformam a democracia, o certo é que coube à cidade de Faro
a responsabilidade de lhe dar eficiência política e consistência elei-
toral, tendo como principal suporte a imprensa, sobretudo através
dos novos órgãos que se sucederam à implantação da República. Não
houve no caso da capital algarvia uma plêiade de republicanos com
um único líder, como aconteceu em Lagos, embora possamos afirmar
que o pintor e professor Carlos Lyster Franco foi uma figura de proa
do republicanismo em Faro, que abraçou não só a carreira das letras,
como a das artes e a da educação, já que foi jornalista, escritor, artista
plástico e docente em várias escolas, nas quais ensinou diferentes
matérias científicas.
O facto da cidade de Faro tomar o pendão republicano arvorado em
Lagos só vem demonstrar a importância que o centro passou a ter
em relação à periferia, sobretudo com a implantação do novo regime,
de tal forma que a imprensa regional foi reduzindo a sua importân-
cia com o decorrer dos anos, para dar lugar à crescente afirmação e
consequente domínio da imprensa nacional, corporizada nos grandes
jornais diários da capital. O regionalismo de que tanto se falou nos
anos da República, e que na maioria dos casos se confundia com o
conceito actual de regionalização e de autonomia administrativa, deu
lugar, por razões de predomínio político, ao centralismo e à hegemo-
nia de Lisboa sobre todo o espaço nacional, descaracterizando os
particularismos locais e regionais, que apodaram de “provincianismo”,
como tradução de atraso cultural em relação ao centro.
O que se passou a seguir foi que uma imprensa fraca tornou fracas as
fracas gentes, como diria o poeta. O republicanismo esvaiu-se lenta-
mente do seu idealismo e a própria República deixou amorrinhar-se
nos velados interesses daqueles que a levaram ao seu descrédito e
completa subjugação, abrindo alas a uma ditadura que se prolongaria
por quase meio século de obscurantismo.
AIMPRENSAREPUBLICANANOALGARVE
145
bibliOgraFia
Alves, José Augusto dos Santos. O Poder da Comunicação.
A história dos media dos primórdios da imprensa aos dias da
Internet, Lisboa, Editorial Notícias, 2005.
Balzac, Honoré de. Os Jornalistas, São Paulo, Abril Cultural, 1981.
Boyce, George; CURRAN, James; WINGATE, Pauline (editors).
Newspaper History: from the Seventeenth Century to the Present
Day, London, Constable and Beverly Hills, C.ª, Sage Publications,
1978.
Bucci, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa, São Paulo, Companhia das
Letras, 2000.
Cabreira, Tomaz. O Algarve Economico, Lisboa, Imprensa Libanio
da Silva, 1918.
Catroga, Fernando. O Republicanismo em Portugal, da formação
ao 5 de Outubro de 1910, 2.ª ed., Lisboa, Editorial Notícias, 2000.
Douglas, George. The Golden Age of Newspapers, London,
Greenwood Press, 1999.
Franco, Mário Lyster. Salazar Moscoso, um poeta algarvio
esquecido – notas bio-bibliográficas e breve antologia, Faro,
separata do «Correio do Sul», 1979.
Franco, Mário Lyster. Algarviana – Subsídios para uma bibliografia
do Algarve e dos autores algarvios, Faro, Câmara Municipal de
Faro, 1982.
Jeanneney, Jean-Noël. Uma História da Comunicação Social,
Lisboa, Ed. Terramar, 1996.
Le Goff, Jacques (org.). A História Nova, 2ª ed., São Paulo, Martins
Fontes, 1993.
Magalhães, Joaquim Romero. Vem aí a República, Coimbra,
Livraria Almedina, 2009.
Martins, Rocha. Pequena História da Imprensa Portuguesa, Lisboa,
Editorial Inquérito, 1942.
Mesquita, José Carlos Vilhena. História da Imprensa do Algarve, 2
vols., Faro, co-edição da Comissão de Coordenação da Região do
Algarve e da Secretaria de Estado da Comunicação Social, 1988-
1989.
Mesquita, José Carlos Vilhena. Estudos de História do Algarve,
Faro, AJEA Edições, 2002.
Mesquita, José Carlos Vilhena. Confidências e Revelações de
Mário Lyster Franco, Faro, AJEA Edições, 2005.
Mesquita, Maria Armanda. O Homem e o Pedagogo – José Neves
Júnior, Faro AJEA Edições, 1999.
Néré, Jacques. Le Boulangisme et la Presse, Paris, Armand Colin,
col. «Kiosque», 1964.
Pereira Augusto Xavier da Silva. Diccionario Jornalístico
Portuguez, 13 vols., Manuscritos, Série Azul n.º 445-457, secção dos
Reservados, Academia das Ciências de Lisboa, 1861-1889.
Pereira, Augusto Xavier da Silva. O Jornalismo Portuguez – Resenha
chronologica de todos os periodicos portuguezes impressos e
publicados no reino e no estrangeiro desde o meiado do seculo XVI
até á morte do saudoso Rei Senhor D. Luiz I, bem como dos jornaes
em lingua estrangeira publicados em Portugal durante o mesmo
tempo, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1896.
Pereira, Augusto Xavier da Silva. Os Jornaes Portuguezes, sua filiação
e metamorphoses – Noticia supplementar alphabetica de todos os
periódicos mencionados na Resenha chronologica do Jornalismo
Portuguez recentemente publicada pelo mesmo auctor e agora
correcta e augmentada, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1897
Quintero, Alejandro Pizarroso. História da Imprensa, Lisboa,
Planeta Editora, 1996.
Rocha, Manoel João Paulo. Monographia – As forças militares de
Lagos nas guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela
Liberdade, Porto, 1910.
Rosas, Fernando. Pensamento e Acção Política – Portugal século
XX (1890-1976), Lisboa, Editorial Notícias, 2004.
Sequeira, José dos Reis. Relembrando e Comentando (memórias
de um operário corticeiro) 1914-1938, Lisboa, A Regra do Jogo
Edições, 1978.
Sousa, José Manuel Motta de; VELOSO, Lúcia Maria. História da
Imprensa Periódica Portuguesa: subsídios para uma bibliografia,
Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1987.
Tengarrinha, José. História da Imprensa Periódica Portuguesa,
Lisboa, Portugália, 1965 (reimpressão em 1989 pela editorial
Caminho).
Tengarrinha, José. «A Oratória Política de 1820 a 1910», in Estudos
de História Contemporânea de Portugal, Lisboa, Editorial
Caminho, 1983, pp. 129-180.
Tengarrinha, José. Imprensa e Opinião Pública em Portugal,
Coimbra, Edições MinervaCoimbra, 2006.
Traquina, Nelson. Jornalismo: Questões, Teorias e «Estórias»,
Lisboa, Editorial Veja, 1993.
Traquina, Nelson. A Tribo Jornalística – uma comunidade
transnacional, Lisboa, Editorial Notícias, 2004.
ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.
Rocha, Manoel João Paulo. Monographia – As forças militares de Lagos nas guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela Liberdade
  • Alejandro Pizarroso Quintero
  • História Da Imprensa
  • Planeta Lisboa
  • Editora
Quintero, Alejandro Pizarroso. História da Imprensa, Lisboa, Planeta Editora, 1996. Rocha, Manoel João Paulo. Monographia – As forças militares de Lagos nas guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela Liberdade, Porto, 1910. Rosas, Fernando. Pensamento e Acção Política – Portugal século XX (1890-1976), Lisboa, Editorial Notícias, 2004. Sequeira, José dos Reis. Relembrando e Comentando (memórias de um operário corticeiro) 1914-1938, Lisboa, A Regra do Jogo Edições, 1978.
Sobre Ética e Imprensa
  • Eugênio Bucci
Bucci, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
Jornalismo: Questões, Teorias e «Estórias»
  • José Tengarrinha
  • Imprensa E Opinião Pública Em Portugal
  • Edições Coimbra
  • Minervacoimbra
Tengarrinha, José. Imprensa e Opinião Pública em Portugal, Coimbra, Edições MinervaCoimbra, 2006. Traquina, Nelson. Jornalismo: Questões, Teorias e «Estórias», Lisboa, Editorial Veja, 1993. Traquina, Nelson. A Tribo Jornalística – uma comunidade transnacional, Lisboa, Editorial Notícias, 2004.
Estudos de História do Algarve
  • José Carlos Mesquita
  • Vilhena
Mesquita, José Carlos Vilhena. Estudos de História do Algarve, Faro, AJEA Edições, 2002.
Pereira Augusto Xavier da Silva. Diccionario Jornalístico Portuguez, 13 vols., Manuscritos, Série Azul n
  • Jacques Néré
  • Le Boulangisme
  • La Presse
  • Armand Paris
  • Colin
Néré, Jacques. Le Boulangisme et la Presse, Paris, Armand Colin, col. «Kiosque», 1964. Pereira Augusto Xavier da Silva. Diccionario Jornalístico Portuguez, 13 vols., Manuscritos, Série Azul n.º 445-457, secção dos Reservados, Academia das Ciências de Lisboa, 1861-1889.
O Jornalismo Portuguez – Resenha chronologica de todos os periodicos portuguezes impressos e publicados no reino e no estrangeiro desde o meiado do seculo XVI até á morte do saudoso Rei Senhor D. Luiz I, bem como dos jornaes em lingua estrangeira publicados em Portugal durante o mesmo tempo
  • Augusto Pereira
  • Xavier
  • Silva
Pereira, Augusto Xavier da Silva. O Jornalismo Portuguez – Resenha chronologica de todos os periodicos portuguezes impressos e publicados no reino e no estrangeiro desde o meiado do seculo XVI até á morte do saudoso Rei Senhor D. Luiz I, bem como dos jornaes em lingua estrangeira publicados em Portugal durante o mesmo tempo, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1896. Pereira, Augusto Xavier da Silva. Os Jornaes Portuguezes, sua filiação e metamorphoses – Noticia supplementar alphabetica de todos os periódicos mencionados na Resenha chronologica do Jornalismo Portuguez recentemente publicada pelo mesmo auctor e agora correcta e augmentada, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1897
Salazar Moscoso, um poeta algarvio esquecido -notas bio-bibliográficas e breve antologia, Faro, separata do «Correio do Sul
  • Mário Franco
  • Lyster
Franco, Mário Lyster. Salazar Moscoso, um poeta algarvio esquecido -notas bio-bibliográficas e breve antologia, Faro, separata do «Correio do Sul», 1979.
Algarviana -Subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos autores algarvios
  • Mário Franco
  • Lyster
Franco, Mário Lyster. Algarviana -Subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos autores algarvios, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1982.
O Homem e o Pedagogo -José Neves Júnior
  • Maria Mesquita
  • Armanda
Mesquita, Maria Armanda. O Homem e o Pedagogo -José Neves Júnior, Faro AJEA Edições, 1999.
Pequena História da Imprensa Portuguesa
  • Rocha Martins
Martins, Rocha. Pequena História da Imprensa Portuguesa, Lisboa, Editorial Inquérito, 1942.