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Revista Brasileira de Zootecnia
© 2006 Sociedade Brasileira de Zootecnia
ISSN impresso: 1516-3598
ISSN on-line: 1806-9290
www.sbz.org.br
R. Bras. Zootec., v.35, n.3, p.886-893, 2006
Composição do ganho e exigências de energia e proteína para ganho de
peso em bovinos Nelore puros e mestiços1
José Antônio de Freitas2, Augusto César de Queiroz3, Alecssandro Regal Dutra4, Ricardo
Augusto Mendonça Vieira5, Rogério de Paula Lana3, Fernando de Paula Leonel6, Douglas
Sampaio Henrique6, Adhemar Ventura de Lima7, Júlio César de Souza2
1Parte da tese de Doutorado em Zootecnia apresentada à Universidade Federal de Viçosa pelo primeiro autor. Apoio: CAPES
2Universidade Federal do Paraná - Palotina - PR.
3Universidade Federal de Viçosa - Viçosa - MG.
4Universidade Estadual de Goiás - Goiânia - GO.
5Professor da UENF - Campos dos Goytacazes - RJ.
6Doutorando em Zootecnia - Universidade Federal de Viçosa.
7Zootecnista.
RESUMO - Objetivou-se estimar a composição do ganho e as exigências de energia e proteína para ganho de peso em
bovinos Nelore puros e mestiços. Utilizaram-se 60 bovinos machos (Nelore, F1 Nelore x Angus, F1 Nelore x Pardo-Suíço e
F1 Nelore x Simental) não-castrados, com 10 a 11 meses de idade e peso médio inicial de 286, 309, 333 e 310 kg,
respectivamente. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro grupos genéticos, submetidos a quatro
níveis de concentrado na ração (30, 40, 60 e 70%). Três animais de cada grupo genético foram abatidos ao início do experimento
e serviram como referência na determinação da composição corporal inicial. As exigências líquidas de proteína e energia para
ganho de 1 kg de peso corporal vazio (PCV) foram estimadas pela equação Y’ = a. b. X (b-1), em que a e b são os coeficientes
das equações de regressão dos conteúdos de energia e proteína e X, o PCV dos animais. O teste de identidade de modelos não-lineares
indicou não haver diferenças entre grupos genéticos para as exigências de energia e proteína para ganho de peso. Verificou-se
decréscimo de 10,6% nas exigências de proteína e elevação de 37,8% nas exigências de energia para ganho de peso entre
250 e 550 kg, o que está relacionado à elevação do teor de gordura e à redução no teor de proteína com o acréscimo no PCV. As
exigências líquidas de proteína e energia para ganho de peso foram estimadas em 143,5 g e 4,7 Mcal para o peso vivo de 450 kg.
Palavras-chave: bovinos de corte, exigências energéticas
Gain composition and net energy and protein requirements for weight gain
in Nellore and crossbred cattle
ABSTRACT - The objectives of this trial were to estimate gain composition and energy and protein requirements for
weight gain of purebred and crossbred Nellore. Sixty young bulls averaging 10 to 11 months of age from four genetic groups:
Nellore, F1 Nellore x Angus, F1 Nellore x Brown Swiss and F1 Nellore x Simental and initial average body weights of 286,
309, 333 and 310 kg, respectively, were used in this study. A completely randomized design was adopted and bulls from the
four genetic groups were fed diets containing: 30, 40, 60 and 70% of concentrate. Three animals from each genetic group
were slaughtered at the beginning of the trial and used as reference for initial body composition. The net protein and energy
requirements for gain of 1 kg of empty body weight (EBW) were estimated by the equation Y’ = a. b. X (b-1), where a and b
are the parameters of the regression equations and X is the EBW of the animals. The identity test of the models indicated
no significant differences among genetic groups for the net energy and protein requirements for weight gain. It was observed
a decrease of 10.6% and an increase of 37.8%, respectively, in the protein and energy requirements for body weight gain between
250 and 550 kg. These changes are result of the increase in the content of fat and reduction in that of protein as EBW increased.
The net requirements of protein and energy for body weight gain were estimated as 143.5 g and 4.7 Mcal, respectively, for
a body weight of 450 kg.
Key Words: beef cattle, body protein, crossbred, energy requirements
Introdução
Após o nascimento, os bovinos iniciam uma fase de
crescimento que pode ser representada por uma curva do
tipo sigmóide, que possui inclinação crescente do nasci-
mento à puberdade e, a partir deste estádio, apresenta uma
fase de desaceleração do crescimento, caracterizada pelo
aumento na taxa de deposição de gordura e pela diminuição
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Freitas et al.
na taxa de deposição de proteína. Esse comportamento é
acompanhado pelo aumento nas exigências de energia e
redução nas de proteína para ganho de peso com a elevação
do peso do animal. Dessa forma, é importante o adequado
suprimento das exigências de energia e proteína visando
proporcionar altos índices produtivos e econômicos.
A energia e a proteína têm sido consideradas essenciais
na nutrição animal, haja vista sua importância para o desen-
volvimento e também o fato de serem responsáveis pela
maior fração do custo da alimentação nos sistemas de
produção. Geralmente, a maior proporção da energia utilizada
pelos ruminantes provém da fermentação da fibra no rúmen
(Van Soest, 1994).
As exigências de proteína para os bovinos são supri-
das pelo total de aminoácidos absorvidos no intestino
(proteína metabolizável), resultantes do somatório entre a
proteína dietética e os aminoácidos da proteína microbiana.
As exigências energéticas e protéicas em bovinos em
crescimento e terminação estão relacionadas à relação
músculo/gordura no ganho de peso e, segundo o NRC
(1996), podem variar de acordo com a raça, o peso, o
estádio fisiológico e a condição sexual dos animais, além
de outros fatores, como a taxa de ganho de peso e o uso
de hormônios anabolizantes.
O NRC (1996) postula que raças de maior tamanho à
maturidade (mais tardias para a deposição de tecido adiposo)
apresentam, a uma mesma taxa de ganho, maiores teores de
proteína (em relação à gordura) e mais altas exigências de
proteína para ganho de peso e, portanto, possuem também
menores exigências líquidas de energia e maiores de proteína
para ganho de peso. De forma semelhante, Toelle et al.
(1986) verificaram influência do grupo genético sobre as
exigências de proteína e energia para ganho de peso e
observaram que bovinos de menor peso à maturidade apre-
sentavam maior teor de gordura no ganho que os de maior
tamanho à maturidade.
Fontes (1995) constatou, em bovinos mestiços e Nelore,
redução nas exigências de proteína com o aumento do peso
corporal dos animais. Resultados semelhantes aos obtidos
por esse autor foram registrados também por Lana et al.
(1992), Pires et al. (1993), Estrada et al. (1997), Verás et al.
(2000) e Almeida et al. (2001), que verificaram decréscimos
nas exigências líquidas de proteína e elevação nos teores de
gordura no ganho e nas exigências de energia para ganho
com o aumento do peso dos animais.
Silva et al. (2002), compilando dados de 14 pesquisas
envolvendo 581 bovinos Zebu, mestiços F1 Europeu x Zebu,
mestiços leiteiros e Holandês, notaram que os zebuínos
possuem maior exigência de energia e menor de proteína
para ganho de peso.
Toelle et al. (1986) verificaram que o peso ao abate
tem grande influência sobre a composição do ganho. O
aumento nas exigências de energia para ganho de peso
com o aumento do peso de abate está relacionado à maior
deposição de gordura no ganho, que apresenta maior
equivalente calórico. Portanto, quanto maior a energia
retida no ganho, maiores as exigências de energia para
ganho de peso.
Fontes (1995), analisando resultados de várias pes-
quisas com bovinos zebuínos e mestiços Zebu x Europeu,
relatou que as exigências de proteína para ganho decres-
cem com o aumento do peso corporal vazio do animal,
enquanto o conteúdo de gordura no ganho e as exigências
de energia para ganho apresentam comportamento inverso.
Quanto à condição sexual, o autor constatou que animais
não-castrados apresentavam menor exigência líquida de
energia e maior de proteína para ganho de peso que os
animais castrados.
O NRC (1996) assume que o grande número de raças
de bovinos, a diversidade de cruzamentos, a utilização de
agentes anabolizantes, a condição sexual dos animais e os
sistemas de alimentação e de classificação de carcaça
adotados na América do Norte tornam os sistemas Europeu
(ARC) e Australiano (CSIRO), utilizados para estimar as
exigências de energia e proteína, impróprios às condições
norte-americanas. Por motivos semelhantes, os sistemas
estrangeiros para determinação das exigências de ener-
gia e proteína não são apropriados para as condições
tropicais, o que justifica o desenvolvimento de pesqui-
sas sobre as exigências nutricionais, a fim de se obter
maior número de informações para elaboração de uma
tabela de exigências nutricionais de animais nas condições
tropicais.
Desse modo, o conhecimento mais preciso da compo-
sição corporal e das exigências de energia e proteína para
ganho de peso dos animais, bem como do valor nutricional
dos alimentos, é fundamental para o balanceamento de
rações de mínimo custo, de forma a permitir melhor aprovei-
tamento do potencial genético dos animais, de maneira
economicamente viável, e, desse modo, produzir carne de
excelente valor nutritivo a um custo acessível para a maioria
da população.
Objetivou-se com este trabalho estimar o conteúdo de
gordura no ganho de peso e as exigências líquidas de
proteína e energia para ganho de peso em bovinos Nelore
puros e mestiços.
Composição do ganho e exigências de energia e proteína para ganho de peso em bovinos Nelore puros e mestiços888
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Material e Métodos
A pesquisa foi conduzida no Instituto Melon de Estudos
e Pesquisas, localizado na Fazenda Barreiro, em Silvânia,
Goiás, no período de maio a agosto de 2000. As análises
bromatógicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição
Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade
Federal de Viçosa, Minas Gerais.
O município de Silvânia localiza-se no planalto central
goiano e possui clima mesotérmico e úmido, segundo a
classificação de Köppen. A temperatura média anual é de
22oC, com variação média de 5oC ao longo do ano. A
precipitação pluviométrica anual (1.450 mm) caracteriza-se
por uma distribuição periódica, com duas estações bem
definidas, com maior concentração das chuvas no período
de novembro a março.
Adotou-se delineamento inteiramente casualizado, em
arranjo fatorial 4 x 4 (quatro níveis de concentrado e quatro
grupos genéticos), com três repetições por tratamento.
Foram utilizados 60 bovinos machos inteiros, com idade inicial
de 10 a 11 meses, sendo 15 Nelore, 15 F1 Nelore x Angus, 15
F1 Nelore x Pardo-Suíço e 15 F1 Nelore x Simental, com peso
médio inicial de 286, 309, 333 e 310 kg, respectivamente. Foram
utilizadas quatro proporções volumoso:concentrado (30:70,
40:60, 60:40 e 70:30) e três animais de cada grupo genético
por tratamento, perfazendo um total de 12 animais. Os
animais foram mantidos em baias individuais de 16 m2 (8 m2
de área concretada e 8 m2 de piso batido), parcialmente
cobertas, providas de comedouro individual (0,8 m de largura,
0,6 m de parede externa e 0,5 m de parede interna) e de um
bebedouro concretado (1,0 x 1,0 m) para cada duas baias.
As rações foram formuladas de acordo com as recomen-
dações do NRC (1996) e seu fornecimento era feito uma vez
ao dia, de modo a permitir sobras de 10 a 20% da quantidade
ofertada. Diariamente, foram registradas as quantidades de
ração fornecida e das sobras e, semanalmente, foram
coletadas amostras individuais dos alimentos e das sobras,
que, a cada sete semanas, compuseram uma amostra repre-
sentativa do período.
Nas Tabelas 1 e 2 são descritas a composição química
do feno e dos concentrados e a composição bromatológica
das rações experimentais.
Paralelamente a este ensaio, foi realizado outro, no qual
foram determinados os coeficientes de digestibilidade aparente
e total. As determinações de MS, PB, FDN, EE e minerais
foram feitas conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz
(2002). Os carboidratos totais (CT) foram obtidos pela
equação CT (%MS) = 100 – [PB (%MS) + EE (%MS) + MM
(%MS)] e os NDT pela equação NDTaparente (g/dia) = (PB
ração – PB fezes) + (CT ração – CO fezes) + 2,25 (EE ração
– EE fezes), segundo Sniffen et al. (1992).
A duração do experimento não foi pré-definida, visto
que os animais eram abatidos quando atingiam 100 ou 110%
do peso correspondente ao das fêmeas do mesmo grupo
genético. Todos os animais, independentemente do grupo
genético, foram abatidos, após jejum de 14 horas, aos 480-
510 kg de PV. A diferença no peso de abate dos animais pode
ser atribuída à variação do peso dentro dos lotes de animais
abatidos. De cada animal abatido, foram pesadas e coletadas
amostras representativas dos órgãos, das vísceras e da
carcaça. As amostras de carne (120 g), gordura ( 200 g)
vísceras (200 g) e couro (100 g), depois de moídas, foram
armazenadas em vidros com capacidade de 250 mL e mantidas
em estufa a 105oC durante 48 a 72 horas, para determinação
da matéria seca gordurosa (MSG). Em seguida, foram
submetidas a um processo de extração de gordura com éter
de petróleo, conforme descrito por Kock & Preston (1979),
obtendo-se a matéria seca pré-desengordurada (MSPD),
que, posteriormente, foi processada em moinho de bola,
Tabela 1 - Composição química do feno e dos concentrados
utilizados nas dietas experimentais, expressa na MS
Table 1 - Chemical composition of hay and concentrates used in the
experimental diets, expressed in DM basis
Nutriente Feno Tipo de concentrado
Nutrient Hay Type of concentrate
Conc.70 Conc60 Conc40 Conc30
MS (DM) 83,83 89,49 89,37 89,25 89,20
PB (CP) 7,86 29,2 25,0 19,09 17,0
FDN (NDF) 74,66 10,51 10,87 11,24 11,35
CHT (TC) 88,50 71,68 73,92 76,18 76,34
NDT (TDN) 52,90 76,90 78,17 79,39 79,65
EE (EE) 0,68 3,00 3,17 3,34 3,38
CZ (Ash) 6,34 10,44 9,65 8,96 8,72
Tabela 2 - Composição química das rações, expressas na ma-
téria seca, para as diferentes relações volumoso:
concentrado
Table 2 - Chemical composition of diets varying on forage to concentrate
ratio, expressed in dry matter basis
Nutriente Relação volumoso:concentrado
Nutrient Forage:concentrate ratio
70:30 60:40 40:60 30:70
MS (DM) 91,43 91,11 90,45 90,12
PB (CP) 14,3 14,7 14,6 14,3
FDN (NDF) 51,83 46,08 34,56 28,82
CHT (TC) 83,35 82,59 81,07 79,96
NDT (TDN) 60,1 63,0 68,8 71,6
EE (EE) 1,39 1,69 2,29 2,57
EM (ME) 2,17 2,28 2,49 2,59
CZ (Ash) 7,59 7,68 7,92 8,01
[EM] determinada – expressa em kcal/kg de MS.
Determined [ME] – expressed in kcal/kg of DM.
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antes de se proceder às análises de nitrogênio total, EE e
cinzas. As amostras de sangue (400 g) foram coletadas
imediatamente após o abate, acondicionadas em pirex,
encaminhadas à estufa de ventilação forçada (55oC), durante
48 horas, para determinação dos teores de matéria pré-seca,
sendo, posteriormente, processadas em moinho de bola. As
determinações de NDT foram feitas em aparelho semimicro
kjedahl e as de EE, em aparelho soxhlet, conforme descrito
por Silva & Queiroz (2002).
As carcaças foram pesadas no dia do abate, realizando-se
no mesmo dia a coleta de amostra representativa da meia-
carcaça esquerda, correspondente à secção da 9a à 11a costela,
de acordo com a metodologia proposta por Hankins & Howe
(1946). A partir das proporções de músculo, tecido adiposo e
ossos na seção HH, estimaram-se suas proporções na carcaça,
por meio das equações descritas por Hankis & Howe (1946).
Músculo: Y = 16,08 + 0,80 X
Tecido adiposo: Y = 3,54 + 0,89 X
Osso: Y = 5,52 +0,57 X
em que X é a porcentagem dos componentes na secção HH.
Ao início do experimento, foram abatidos 12 animais-
referência (três de cada grupo genético), para estimava da
composição corporal inicial dos animais remanescentes.
O peso de corpo vazio (PCV) dos animais foi determi-
nado pelo somatório dos pesos de carcaça, sangue, cabeça,
couro, pés, cauda, vísceras e órgãos. A relação entre o peso
de corpo vazio (PCV) e o peso vivo dos animais-referência
de cada grupo genético foi utilizada para estimativa do PCV
inicial dos animais remanescentes dos diversos grupos
genéticos. Os conteúdos corporais de gordura (GO) e pro-
teína bruta (PB) foram determinados considerando-se suas
concentrações percentuais nos tecidos, nos órgãos, no
couro, no sangue e na amostra representativa da carcaça
(corte da 9a, 10a e 11a costelas). Foram determinados nos
tecidos corporais, nos órgãos, no couro e no sangue de
cada animal os teores de matéria seca gordurosa (MSG) e
água (AG). A MSG foi tratada com éter de petróleo a fim de
se extrair parte da gordura e obter a matéria seca pré-
desengordurada (MSPD). Subtraindo-se a MSPD da MSG,
obteve-se a gordura extraída no pré-desengorduramento. A
partir da MSPD dos tecidos, amostras representativas das
carcaças (carne, gordura e osso) foram moídas, efetuando-se
as análises de nitrogênio total, extrato etéreo e cinzas,
conforme a técnica descrita por Silva & Queiroz (2002),
possibilitando determinar a composição da matéria natural.
A determinação dos conteúdos corporais de energia foi
realizada pelo produto dos conteúdos corporais de proteína
e gordura pelos seus respectivos equivalentes calóricos,
conforme a equação proposta pelo ARC (1980).
CE (Mcal) = (5,6405X + 9,3929Y)
em que CE = conteúdo de energia da carcaça, em kg;
X = proteína corporal, em kg; Y = gordura corporal, em kg.
Os conteúdos líquidos de energia, gordura e proteína
retidos no corpo dos animais foram estimados por meio do ajuste
de equações de regressão do conteúdo corporal de energia e
proteína, em função do PCV, de acordo com a equação:
Yijk = a.Xijkb + eijk
em que: Yijk = conteúdo total de energia (Mcal) ou proteína
(kg) no corpo vazio do animal j, do grupo genético i,
pertencente ao tratamento k; a = constante; b = coeficiente
de regressão dos conteúdos de gordura, energia e proteína,
em função do PCV; Xijk = peso de corpo vazio do animal j,
do grupo genético i, do tratamento k; eijk = erro aleatório
associado a cada observação.
As exigências líquidas de energia e proteína para ganho
de 1 kg de PCV foram obtidas pela derivada das equações
de predição do conteúdo corporal de energia e proteína a
partir da equação: Y’ = a. b. X(b-1), em que a e b são
coeficientes de regressão e X, o PCV dos animais.
Os dados obtidos foram analisados por meio de análises
de regressão e variância, pelo programa computacional
SAS (Statistical Analyses System, 1995), aplicando-se o
teste F a 5% de probabilidade aos coeficientes de regressão.
Na comparação entre grupos genéticos, quanto à com-
posição corporal e às exigências de energia para mantença,
utilizou-se o teste de identidade de modelos não-lineares,
de acordo com técnica proposta por Regazzi (2003), para se
verificar a possibilidade de utilização de um modelo em
comum para todos os grupos genéticos ou de um modelo
para cada grupo genético. O procedimento estatístico con-
siste no teste das seguintes hipóteses: Ho(1): a1=a2=a3=a4,
Ha(1): pelo menos um ai é diferente dos demais: Ho(2):
b1=b2=b3=b4, Ha(2): pelo menos um bi é diferente dos
demais; Ho(3): a1=a2=a3=a4 e b1=b2=b3=b4; Ha(3) pelo
menos uma igualdade é uma desigualdade.
Resultados e Discussão
Constam na Tabela 3 os parâmetros (a e b) das equações
utilizadas para estimativa dos conteúdos de gordura e
proteína (g/kg GPCV) no ganho e das exigências líquidas de
energia para ganho de 1 kg de peso corporal vazio (GPCV),
bem como seus coeficientes de determinação.
O conteúdo de gordura no GPCV e as exigências de
proteína e energia para ganho PCV encontram-se na Tabela 4.
Para conversão das exigências nutricionais de ganho de
PCV em ganho de PV, adotou-se o fator 0,8793, obtido a
partir dos dados experimentais.
Composição do ganho e exigências de energia e proteína para ganho de peso em bovinos Nelore puros e mestiços890
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O teste de identidade de modelos não-lineares proposto
por Regazzi (2003) indicou não haver diferenças entre grupos
genéticos quanto às exigências nutricionais de proteína e
energia e quanto ao teor de gordura no ganho de peso, a 5%
de probabilidade. Portanto, adotou-se uma única equação
para estimativa do conteúdo de gordura no ganho e das
exigências líquidas de proteína e energia para ganho de peso.
Foram constatados aumentos nas exigências de energia
para ganho e no conteúdo de gordura no ganho. Verificou-se
também redução nas exigências líquidas de proteína para
ganho de peso (Tabela 4), como resultado do aumento
progressivo na deposição de gordura, em detrimento da
deposição de proteína com a elevação do PCV dos animais.
Considerando a faixa de peso de 250 a 550 kg, verificou-se
elevação de 57,1% no conteúdo de gordura no ganho de
37,8% nas exigências de energia para ganho de peso.
Comportamento inverso foi verificado para exigências de
proteína para ganho de peso, as quais decresceram em
10,6%, dentro da faixa de peso supracitada.
O aumento no teor de energia no ganho de peso (energia
retida) também é influenciado pelo consumo de energia
metabolizável (CEM)e pelo ganho de peso, conforme ilus-
trado nas Figuras 1 e 2, respectivamente.
O modelo que melhor descreveu o efeito do consumo
de energia metabolizável sobre a energia retida foi o linear
(Figura 1), embora seja diferente do modelo exponencial
adotado por Ferrell & Jenkins (1998) e Véras et al. (2000), que
relataram aumento assintótico da ER decorrente do consumo
Figura 1 - Relação energia retida no ganho (kcal/kg0,75/dia) ×
consumo de energia metabolizável (kcal/kg0,75/dia)
em bovinos Nelore, puros e mestiços, com 250 e 550
kg de PV.
Figure 1 - Relationship between retained energy for gain (kcal/kg0.75/day)
and metabolizable energy intake (kcal/kg0.75/day) of purebred
and crossbred Nellore young bulls from 250 to 550 kg of body
weight.
Figura 2 - Relação energia retida no ganho (kcal/kg0,75/dia) ×
ganho de peso (kg/dia) em bovinos Nelore, puros e
mestiços, com 250 a 550 kg PV.
Figure 2 - Relationship between retained energy for gain (kcal/kg0.75/day)
and weight gain (kg/day) of purebred and crossbred Nellore
young bulls from 250 to 550 kg of body weight.
Tabela 3 - Equações de predição do conteúdo corporal de gordura
(g) no ganho e das exigências de proteína e energia
para ganho de peso de bovinos Nelore, puros e
mestiços, com 250 a 550 kg de PV
Table 3 - Prediction equations for body contents of fat (g) and protein
and energy requirements for weight gain of purebred and
crossbred Nellore young bulls from 250 to 550 kg of body weight
Componente Equação de predição r2
Component Prediction equation
Proteína (Protein) Y = 0,3444. X0,1458 0,94
Gordura (Fat)Y = 0,00447. X1,6711 0,91
Energia (Energy) Y = 0,3983. X0,41 0,93
de EM, indicando diminuição da eficiência de utilização da
energia para ganho, à medida que se elevou o CEM (Ferrell
& Jenkins, 1998).
Observou-se aumento quadrático na energia retida com
o aumento do ganho de peso, o que pode estar associado ao
maior conteúdo de gordura no ganho conforme aumentou
Tabela 4 - Conteúdo de gordura (kg/kg GPCV) e exigências de proteína (g/kg GPCV) e energia (Mcal/kg GPCV) para ganho de PCV em
bovinos Nelore, puros e mestiços, com 250 a 550 kg de PV
Table 4 - Fat content ((kg/kg EBWG) and protein (g/kg EBWG) and energy requirements (Mcal/kg EBWG) for empty body weight gain of purebred and crossbred
Nellore young bulls from 250 to 550 kg of body weight
PV (kg) PCV (kg) Proteína (g/kg PCV) Gordura (g/kg GPCV) Energia (Mcal/kg GPCV)
BW (kg) EBW (kg) Protein (g/kg EBWG) Fat (g/kg EBWG) Energy (Mcal/kg EBWG)
250 228,9 156,0 286,3 3,7
300 272,8 152,0 322,1 4,0
350 316,8 148,8 356,1 4,2
400 360,8 146,0 388,6 4,5
450 404,7 143,5 419,7 4,7
500 448,7 141,4 449,8 4,9
550 492,7 139,5 449,8 5,1
ER = 46,365x2 - 73,401x + 75,131
R2 = 0,50
0
20
40
60
80
100
120
0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
GP V (k g/dia)
LWG (kg/day )
ER (Kcal/kg0,75/dia)
RE (Kcal/kg0,75/dia)
GPV (kg/dia)
LWG (kg/day)
ER (kcal/kg0,75/dia)
RE (kcal/kg0.75/day)
ER = 0,4048x - 39,552
R2 = 0,90
20
40
60
80
100
120
200 250 300 350 400
ER (Kcal/kg0,75/dia)
RE (kcal/kg0,7 5/dia)
CEM (kcal/kg0,75/dia)
MEI (kcal/kg0.75/day)
ER (kcal/kg0,75/dia)
RE (kcal/kg0.75/day)
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Freitas et al.
o ganho de peso (Figura 2), como relatado por Berndt et al.
(2002).
Para um bovino com 400 kg de peso vivo, as exigências
líquidas de energia e proteína para ganho de peso foram
estimadas em 4,5 Mcal/kg GPCV e 146 g/kg GPCV, respec-
tivamente (Tabela 4).
O comportamento das exigências de energia e proteína
para ganho de peso pode ser explicado pelas modificações
na curva de crescimento. Segundo Owens (1993), a curva
de crescimento dos bovinos pode ser representada por uma
sigmóide com duas fases distintas, que se caracterizam por
tendências bastante diferentes. Na primeira fase, o cresci-
mento é acelerado, em razão do desenvolvimento dos teci-
dos ósseo e muscular, ativado pela liberação dos hormônios
protéicos de crescimento tiroxina e somatotropina (hormônio
do crescimento), ocorrendo maior síntese de tecido muscular
em relação ao adiposo. A segunda fase é caracterizada pela
redução na intensidade de crescimento corporal, intensifi-
cando a deposição de tecido adiposo. Essa taxa de deposi-
ção de gordura corporal é influenciada também pela condi-
ção sexual; fêmeas tendem a depositar maior quantidade de
gordura corporal com o aumento do peso e da idade,
seguidas pelos machos não-castrados e pelos machos
castrados. Comportamento inverso pode ser verificado
para a taxa de deposição de proteína (Reid et al., 1980).
Além da reduzida idade (10 a 11 meses) dos animais
utilizados neste estudo, o peso vivo inicial médio se encon-
trava acima do ponto em que, segundo Geay (1984), ocorre
a máxima deposição de proteína. Desse modo, o decréscimo
nas exigências de proteína pode estar relacionado à
desaceleração no crescimento do tecido muscular. Entre-
tanto, a redução na taxa de deposição de proteína, em
bovinos, está associada a aumentos no desenvolvimento
do tecido adiposo, que resultam em acréscimos nas exigên-
cias de energia para ganho de peso com o aumento do peso
vivo dos animais.
Elevação no conteúdo corporal de gordura e nas exi-
gências de energia e redução nas exigências de proteína
para ganho de peso com elevação do PCV foram também
verificadas por Fontes (1995), que constatou, em mestiços
zebuíno x taurino, elevação nas exigências líquidas de
energia para ganho de 3,32 a 4,03 Mcal/kg de ganho de PCV,
considerando peso vivo de 300 e 450 kg, respectivamente.
Esses resultados são inferiores aos obtidos neste trabalho,
no qual foram encontradas exigências energéticas para
ganho de peso de 4,0 e 4,7 Mcal, respectivamente, para a
mesma faixa de peso. Entretanto, para bovinos da raça
Nelore, o valor de exigência líquida para ganho de peso
neste estudo foi 5,5% inferior ao estimado por Fontes
(1995), o que pode ser explicado, em parte, pelo menor teor
de gordura corporal nos bovinos Nelore utilizados por
Fontes (1995) em relação aos avaliados nesta pesquisa.
As exigências líquidas de proteína estimadas neste
estudo foram inferiores às descritas por Fontes (1995), que,
para a faixa de peso (300 a 450 kg), obteve valores médios,
para bovinos das raças Nelore e mestiços, estimados em 171
e 160 g/kg de ganho de PCV, respectivamente.
Considerando um bovino com 450 kg, as exigências
líquidas de proteína estimadas neste trabalho (143,5 g)
foram 4% inferiores e 28% às encontradas por Fontes
(1995), para animais mestiços inteiros e castrados, respec-
tivamente. Maior exigência de proteína para bovinos intei-
ros pode ser atribuída à sua maior síntese protéica em
comparação aos animais castrados (NRC, 1996).
Comparativamente ao NRC (1996), verificou-se menor
elevação nas exigências líquidas de energia para ganho
(17,5 vs 35,6%) e nas exigências líquidas de proteína para
ganho (5,92 vs 31,1%) para peso de 300 a 450 kg. Para um
bovino de 450 kg, as exigências líquidas de energia e
proteína estimadas neste estudo foram aproximadamente
7% inferiores e 18% superiores às estimadas pelo NRC
(1996), provavelmente em decorrência da condição sexual
dos animais utilizados em ambos os estudos.
McDonald et al. (1995) constataram grande influência
do peso sobre as exigências para ganho de peso. Conside-
rando os pesos inicial e final de 50 e 500 kg, os autores
registraram decréscimo de 22,65% (181 para 140 g/kg ganho)
nas exigências de proteína e aumento de 213% (1,84 para
5,76 Mcal/kg ganho) nas exigências líquidas de energia para
ganho de peso. As exigências de proteína para ganho de
peso, considerando peso vivo de 500 kg, são bastante
próximas às obtidas neste estudo (141,1 g/kg GPCV). Entre-
tanto, para exigências de energia, observou-se que os
valores deste trabalho foram aproximadamente 15% inferiores
ao verificado por esses autores.
De Campeneere et al. (2001), trabalhando com tourinhos
inteiros de musculatura dupla (Belgian Blue), verificaram
comportamento inverso ao observado neste estudo, ou
seja, maiores exigências de proteína para ganho de peso
com o aumento do peso vivo do animal, o que, segundo os
autores, pode ser explicado pelo fato de os animais utiliza-
dos na pesquisa se encontrarem na fase ascendente da
curva de crescimento, que se caracteriza por maiores acrés-
cimos de tecido muscular em detrimento ao tecido adiposo.
Analisando dados referentes a 14 trabalhos da literatura
nacional – Lana et al. (1992), Fontes (1995), Estrada et al.
(1997), Ferreira et al. (1998), Paulino et al. (1999), Freitas et
al. (2000), Véras et al. (2000), Véras et al. (2001), Silva et al.
Composição do ganho e exigências de energia e proteína para ganho de peso em bovinos Nelore puros e mestiços892
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(2002), Veloso et al. (2002), Backes et al. (2002), Backes et
al. (2002a), Almeida et al. (2001) e Berndt. et al (2002), entre
outros – observaram-se, para um bovino de 450 kg de PV,
exigências líquidas de energia e proteína para ganho de
peso de 4,2 ± 0,7 Mcal/kg GPCV e 154 ± 27 g/kg GPCV,
respectivamente. Os valores de exigência líquida de energia
e proteína para ganho de peso obtidos neste estudo encon-
tram-se no intervalo estipulado para bovinos em condições
brasileiras. Quando comparadas as exigências obtidas neste
estudo com as estabelecidas pelo NRC (1996), verifica-se
maior discrepância, principalmente quanto às exigências de
proteína (aproximadamente 20% superiores).
Conclusões
O maior conteúdo de gordura no ganho de peso, em
comparação à proteína, está associado ao aumento das
exigências líquidas de energia e à diminuição das exigências
líquidas de proteína com a elevação do peso corporal dos
animais estudados.
Considerando-se que não houve diferenças significa-
tivas para exigências de energia e proteína para ganho de
peso, é possível formular uma única ração para os animais
Nelore puros e cruzados em condições semelhantes às
deste trabalho.
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