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einstein. 2013;11(4):507-13
ARTIGO ORIGINAL
Perfil acadêmico, crenças e autoeficácia em pesquisa de
enfermeiros clínicos: implicações para o Programa de
Pesquisa de Enfermagem de um Hospital na Jornada Magnet
®
Academic profile, beliefs, and self-efficacy in research of clinical nurses:
implications for the Nursing Research Program in a Magnet Journey™ hospital
Eliseth Ribeiro Leão
1
, Olga Guilhermina Farah
1
, Elisa Aparecida Alves Reis
1
,
Claudia Garcia de Barros
1
, Cristina Satoko Mizoi
1
Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
1
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Eliseth Ribeiro Leão – Avenida Albert Einstein, 627/701 – Morumbi – CEP: 05652-900 – São Paulo, SP, Brasil – Tel: (11) 2151-1032 – E-mail: eliseth.leao@einstein.br
Data de submissão: 24/7/2013 – Data de aceite: 9/11/2013
Conflitos de interesse: não há.
RESUMO
Objetivo: Descrever o perfil acadêmico, a experiência em pesquisa, as
crenças e a autoeficácia em pesquisa dos enfermeiros clínicos de um
hospital em Jornada Magnet
®
. Métodos: Estudo descritivo, tipo survey,
para avaliar perfil acadêmico, experiência em pesquisa, crenças e
habilidades de pesquisa dos enfermeiros clínicos. A análise foi dividida
em características demográficas; perfil acadêmico/científico (titulação
acadêmica, participação em grupos de pesquisa, envolvimento em
publicações, atividades de ensino, conferências científicas e apresentação
de posteres); crenças relacionadas à Pesquisa em Enfermagem
(habilidades, benefícios para a carreira, reputação da instituição, para o
cuidado do paciente, satisfação no trabalho); e autoeficácia em pesquisa
(conduzir revisão de literatura, avaliar a qualidade dos estudos, usar
teoria; compreender as evidências e escrita científica: facilidade para
colocar as ideias no papel, reconhecer e adaptar o texto para o leitor,
escrever obedecendo os padrões requeridos pela ciência, escrever com
objetividade, clareza e precisão; inserir as referências apropriadamente,
usar corretamente a ortografia e gramática; escrever textos em inglês).
Resultados: A maioria dos enfermeiros clínicos tinha pouca experiência
em pesquisa, todavia, demonstraram crenças positivas e percepção
de habilidades de pesquisa bem desenvolvidas. Conclusão: Nossos
achados devem contribuir para a elaboração de programas de pesquisa
que objetivem facilitar o engajamento dos enfermeiros clínicos no
desenvolvimento de projetos científicos.
Descritores: Pesquisa em enfermagem clínica; Pesquisa em enfermagem;
Pesquisa em avaliação de enfermagem
ABSTRACT
Objective: To describe the academic profile, research experience,
beliefs, and self-efficacy in research of clinical nurses in a Magnet
Journey™ hospital. Methods: Quantitative descriptive designed
to assess research experience of clinical nurses. The survey was
divided into demographics characteristics; scientific/academic
profile (Nursing degree; membership in academic research groups,
involvement in papers, teaching activities, scientific conferences,
and posters presented); beliefs related to nursing research (about
skills, benefits to career, reputation of institution, patient care; job
satisfaction level); and Research Self-Efficacy (conducting literature
review; evaluating quality of studies; using theory; understanding
evidence; and scientific writing: putting ideas on paper easily;
recognize and adapt the text to the reader; write to the standards
required by science; write with objectivity, logical sequence,
coherence, simplicity, clarity, and precision; insert the references
in the text correctly; write the references appropriately; use correct
spelling and grammar; write texts in English). Results: Most clinical
nurses had low research experience, yet had positive beliefs in and
perception of well-developed research skills. Conclusion: Our findings
should contribute to the preparation of research programs aimed at
facilitating the engagement of clinical nurses in the development of
scientific projects.
Keywords: Clinical nursing research; Nursing research; Nursing evaluation
research
INTRODUÇÃO
Os cuidados de enfermagem caracterizam-se por com-
petência técnica e humanística, bem como conhecimen-
to científico nesse campo. A alta qualidade do atendi-
mento depende de todas essas dimensões.
Uma maneira bem estabelecida de promover tais
habilidades é por meio de apoio e motivação da pes-
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508
Leão ER, Farah OG, Reis EA, Barros CG, Mizoi CS
quisa em enfermagem. O contato com informações
cientificamente estruturadas permite que a equipe de
enfermagem fique atualizada nesse campo de forma
constante, que avalie as suas práticas e ajude a crescer
em termos profissionais, incorporando novas maneiras
de pensar e cuidar de seus pacientes
(1)
.
Vários fatores contribuíram para a implantação de
programas de pesquisa em enfermagem em instituições
privadas, e muitos estão relacionados à necessidade de
estabelecer padrões de qualidade internacional nesses
centros. Um caso de apoio crescente ao desenvolvi-
mento da pesquisa em enfermagem refere-se aos requi-
sitos associados à designação do Magnet
®
. O Programa
de
Reconhecimento Magnet
®
foi desenvolvido pelo
American
Nurses Credentialing Center (ANCC) para
reconhecer as organizações de assistência à saúde que
possuem excelência em serviços de enfermagem
(2)
. Em
hospitais com designação Magnet
®
e hospitais da Jornada
Magnet
®
, as unidades de pesquisa são criadas para faci-
litar o desenvolvimento da pesquisa. Mas esse é apenas
um primeiro passo no processo. É sempre preciso ter o
apoio de um enfermeiro-pesquisador (cientistas de en-
fermagem com doutorado)
(3)
.
Desenvolver uma cultura de pesquisa fora do mun-
do acadêmico não é uma tarefa fácil, especialmente
para profissionais com dedicação total aos cuidados de
enfermagem. A pesquisa em enfermagem é, em geral,
ainda muito restrita às universidades, e os enfermeiros
clínicos têm muitas dificuldades para desenvolver pro-
jetos de pesquisa. Em primeiro lugar, como implantar
programas de pesquisa que promovam o engajamento
de enfermeiros clínicos na pesquisa em enfermagem?
Para tanto, é necessário conhecer o passado acadêmico
dos enfermeiros, assim como suas crenças e autoeficácia
em pesquisa, para adotar as estratégias mais apropria-
das. Além disso, ainda não há um consenso sobre o me-
lhor modelo de treinamento e apoio à pesquisa, ou como
engajar de maneira eficaz os enfermeiros clínicos na
pesquisa. Desse modo, é necessário um programa abran-
gente e multifacetado para preencher essa lacuna entre
pesquisa e prática
(4)
. Isso é possível somente por meio
de um diagnóstico detalhado do passado, experiências e
crenças dos enfermeiros clínicos em relação à pesquisa.
Neste estudo, relatamos os resultados de uma ava-
liação detalhada do perfil acadêmico, experiência em
pesquisa, crenças e autoeficácia em pesquisa de en-
fermeiros clínicos funcionários do Hospital Israelita
Albert Einstein (HIAE), em São Paulo, Brasil, que é a
primeira instituição na América Latina a se candidatar
à designação Magnet
®
. A compreensão do perfil e das
idiossincrasias dessa população de enfermeiros capa-
citou a preparação de um programa de pesquisa, com
o objetivo de facilitar o engajamento de enfermeiros
clínicos no desenvolvimento de projetos científicos. O
conhecimento dos fatores associados à implantação
bem-sucedida das práticas de pesquisa em centros não
acadêmicos, particularmente naqueles que buscam a
designação Magnet
®
, pode inspirar outras organizações
em outros contextos a iniciar ou consolidar essa ativida-
de nos cuidados à beira do leito.
OBJETIVO
Diagnosticar o perfil acadêmico, a experiência em pes-
quisa, as crenças e a autoeficácia na pesquisa de enfer-
meiros clínicos em hospital na Jornada Magnet
®
.
MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa eletrônica descritiva utili-
zando-se uma amostra de conveniência de 165 enfer-
meiros clínicos (20% do total de enfermeiros clínicos
até janeiro de 2012) do HIAE, hospital privado, loca-
lizado em São Paulo e primeira instituição da América
Latina aceito na Jornada Magnet
®
em outubro de 2011.
O convite para participar e responder aos questionários
foram enviados por e-mail. A participação foi voluntá-
ria, e os dados foram processados em setembro de 2012.
Todos os participantes assinaram o Formulário de Con-
sentimento Informado para este estudo.
A pesquisa foi dividida em quatro subseções: (1)
Dados Demográficos (7 perguntas); (2) Perfil Acadêmico/
Científico (18 perguntas); (3) Crenças Relacionadas à
Pesquisa em Enfermagem (8 perguntas; Escala Likert),
com base nas declarações propostas por Apleton et al.
(5)
;
e (4) Autoeficácia em Pesquisa (22 itens, escala de 5 pon-
tos) proposta por Sweson-Britt e Reineck
(6)
. As ativida-
des listadas na Escala de Autoeficácia em Pesquisa
de Enfermagem foram traduzidas para o português
e foram adicionados um item relacionado à pesquisa
literária em bases de dados na América Latina e um
item relacionado à redação em inglês (oito itens: colo-
car as ideias facilmente no papel; reconhecer e adaptar
o texto para o leitor; redigir com os padrões exigidos
pela ciência; redigir com objetividade, sequência lógica,
coerência, simplicidade, clareza e precisão; inserindo
cor retamente as referências no texto; redigir corretamente
as referências; usar ortografia e gramática corretas; redigir
textos em inglês). Esse instrumento não classifica pontos,
não requerendo validação, pois serve apenas como guia
para a simples quantificação das habilidades.
As variáveis categóricas foram descritas como fre quên-
cias absolutas e porcentagens. As variáveis qualita tivas fo-
ram expressas como variações medianas. As compara
ções
509
Perfil acadêmico, crenças e autoeficácia em pesquisa de enfermeiros clínicos
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entre as medidas de crenças e habilidades em diferentes
categorias de variáveis de perfis foram realizadas com a uti-
lização dos testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis.
Para as pontuações de crenças e habilidades, foram
adicionadas as respostas aos itens, e os valores das pon-
tuações foram os seguintes: pontuação mínima = 1 x
número de itens = acordo ou crença máxima; pontua-
ção máxima = 5 x número de itens = acordo ou cren-
ça mínima. Assim, as pontuações padronizadas míni-
mas e máximas foram zero e 10 (independentemente
do número de itens adicionados), representando, res-
pectivamente, os níveis máximos e mínimos de acordo
ou crença. Os testes estatísticos foram realizados com
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão
17. A significância foi considerada como p≤0.05.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, sob número 36.268.
RESULTADOS
Perfil acadêmico dos participantes
Dos 165 participantes da pesquisa, a maioria (87,3%)
era formada por enfermeiros clínicos, seguida por ges-
tores de enfermagem (6,1%), administradores de en-
fermagem (5,5%), e enfermeiros pesquisadores (1,2%).
Embora todos os participantes fossem graduados em
enfermagem, a maioria (72,7%) tinha concluído a gra-
duação há 5 anos ou mais antes da entrevista. A maioria
dos participantes (85,5%) também tinha um título de
especialização, sendo um total de 12,7% com título de
mestrado e 3%, de doutorado.
A análise da experiência em pesquisa revelou que
somente 13,3% participavam de grupos de pesquisa
acadêmica. Ainda, a maioria dos participantes relatou
uma experiência razoável e boa (40% e 17,6%, respec-
tivamente), com apenas 8,5% e 33,9% tendo relatado
nenhuma ou muito pouca experiência em pesquisa.
De maneira semelhante, a análise mostrou que apenas
17,6% apresentaram resultados de pesquisa em congres-
sos científicos e 9,7% tinham publicado um manuscrito
nos 2 anos antes da entrevista. A maioria (77,5%) dos
respondentes esperava participar de atividades de pes-
quisa. A participação nas atividades de docência foi re-
latada por cerca de um terço (34,5%) dos respondentes.
Crenças dos enfermeiros clínicos e o impacto na pes-
quisa em enfermagem
A tabela 1 mostra que a maioria dos enfermeiros clínicos
tinha crenças positivas sobre os benefícios da pesquisa em
enfermagem, predominantemente sobre o impacto da
pesquisa na imagem da empresa, no desenvolvimento do
trabalho em equipe e em assistência aos pacientes.
Autoeficácia em pesquisa de enfermagem
A figura 1 mostra pontuações mais altas nas habilida-
des relacionadas ao uso do conhecimento teórico, com-
preensão de evidências e capacidade de conduzir revi-
sões literárias. A capacidade de analisar criticamente
ar tigos científicos em outros idiomas foi pouco avaliada.
A análise das habilidades em pesquisa global dessa
população indicou que tais habilidades dependiam do
grau de complexidade de cada atividade de pesquisa. As
taxas de concordância (respostas ‘concordo’ e ‘concordo
totalmente’) relacionadas com a capacidade de revisar a
literatura variaram entre 51,2 e 87,3% (média de 68,7%).
As pontuações atribuídas às habilidades de análise críti-
ca variaram entre 38,1 e 60,6% (média 49,5%) e aquelas
atribuídas à prática baseada em evidência e em conhe-
cimentos teóricos variaram entre 75,1 e 89,7% (média
82,2%). As habilidades de redação científica tiveram
pontuações que variaram entre 67,3 e 84,2% (média de
73,6%). A maioria dos respondentes acreditava que era
capaz de ler e compreender um artigo científico redigido
em inglês ou espanhol (70,9 e 69,1%, respectivamente).
Tabela 1. Crenças relacionadas ao impacto da pesquisa em enfermagem na qualidade dos cuidados ao paciente e na vida profissional
Crenças
Acredito
totalmente
n (%)
Acredito
n (%)
Não acredito nem
desacredito
n (%)
Não acredito
n (%)
Não acredito
totalmente
n (%)
Total
n (%)
Garante que os padrões de cuidados aos pacientes sejam aprimorados 84 (50,9) 75 (45,5) 6 (3,6) 0 (0) 0 (0) 165 (100)
Beneficia a equipe em termos de desenvolver suas habilidades 83 (50,3) 78 (47,3) 4 (2,4) 0 (0) 0 (0) 165 (100)
Ajuda a melhorar a maneira como a equipe trabalha junto 76 (46,1) 83 (50,3) 6 (3,6) 0 (0) 0 (0) 165 (100)
Eleva o perfil e a reputação da unidade 89 (53,9) 68 (41,2) 6 (3,6) 2 (1,2) 0 (0) 165 (100)
Eleva o perfil e a reputação do centro 97 (58,8) 65 (39,4) 3 (1,8) 0 (0) 0 (0) 165 (100)
Ajuda a aprimorar meu desenvolvimento profissional/carreira 103 (62,4) 56 (33,9) 5 (3,0) 1 (0,6) 0 (0) 165 (100)
Promove o envolvimento do paciente e dos cuidados prestados de
mostrando como o departamento é organizado e como funciona
63 (38,2) 77 (46,7) 17 (10,3) 7 (4.2) 1 (0,6) 165 (100)
Torna meu trabalho mais prazeroso 79 (47,9) 68 (41,2) 12 (7,3) 6 (3,6) 0 (0) 165 (100)
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Leão ER, Farah OG, Reis EA, Barros CG, Mizoi CS
Entretanto, poucos enfermeiros eram capazes de redigir
um artigo nesses idiomas (23,6 e 7,9%, respectivamente).
Apenas 2,4% eram capazes de ler e compreender francês
e nenhum era capaz de redigir naquele idioma.
Capacidades ainda menores para redigir estavam
significativamente associadas ao maior tempo decor-
rido desde a graduação (p=0,008). Como esperado,
a melhor capacidade de redação estava associada aos
pós-graduados (p=0,022), sendo que o título de douto-
rado estava associado a uma melhor capacidade geral
(p=0,044) e a uma melhor capacidade para pesquisa
(p=0,018). A docência também favoreceu positivamen-
te a capacidade geral para pesquisa desses enfermeiros
(p=0,011), assim como a capacidade de buscar infor-
mações e utilizar as habilidades de práticas baseadas em
evidência e de uso de conhecimentos teóricos (p=0,004;
0,031, e 0,002, respectivamente). A instituição acadêmi-
ca de origem (pública ou privada), a participação em
cursos de treinamento em pesquisa e apresentação dos
resultados de suas pesquisas em publicações ou eventos
não foram estatisticamente significativos em relação às
habilidades de pesquisa.
Os enfermeiros com título de mestrado tinham
crenças mais positivas sobre os benefícios da pesquisa e
melhores habilidades para pesquisa (Tabela 2). A partici-
pação em grupos de pesquisa foi o fator de maior influên-
cia nesse aspecto (Tabela 3). Do mesmo modo, ter apre-
sentado resultados de pesquisa em eventos científicos
influenciou positivamente as crenças dos enfermeiros
em relação à pesquisa (p=0,001), independentemente
de serem investigador principal (p=0,002) ou coautores
(p=0,032). Um total de 77,5% dos respondentes espera-
vam realizar alguma pesquisa no futuro e 37,5% demons-
traram interesse em processos de inovação.
DISCUSSÃO
Neste estudo, estabelecemos um perfil detalhado da
experiência em pesquisa, crenças e autoeficácia na pes-
quisa de enfermeiros clínicos no primeiro hospital ad-
mitido na Jornada Magnet
®
na América do Sul.
Graus variáveis de experiência em pesquisa foram
relatados pelos 165 respondentes. De modo geral, os
enfermeiros clínicos foram positivos em suas crenças,
assim como na percepção de suas próprias habilidades
de pesquisa, que foram mais positivas do que as rela-
tadas na literatura
(6,7)
. Observou-se que os enfermeiros
que fizeram cursos de especialização tinham uma maior
percepção das dificuldades associadas à redação cien-
tífica. Talvez decorrentes de uma visão mais crítica de
suas próprias limitações por terem sido expostos a essa
experiência. Por outro lado, algumas barreiras, como
tempo insuficiente para realizar pesquisa, podem ter
prejudicado a capacidade desses profissionais para fa-
Figura 1. Pontuações das habilidades em pesquisa relatadas por 165 enfermeiros
clínicos do Hospital Israelita Albert Einstein com a utilização da Escala de
Autoeficácia em Pesquisa de Enfermagem (NURSES adaptada). São Paulo, Brasil.
Setembro de 2012
Tabela 2. Associação entre crenças/habilidades e título de mestrado
Crenças e habilidades
Título de
mestrado
Sem título
de mestrado
Valor
de p
Mediana Mediana
Crenças (0-10) 10 8,4 <0,001
Habilidades gerais (0-10) 7,4 6,5 0,011
Idiomas (0-10) 3,3 3,3 0,001
Revisão de literatura (0-10) 7,5 6,9 0,018
Compreensão da literatura de pesquisa e
avaliação da qualidade dos estudos (0-10)
6,7 5,8 0,121
Uso de teoria (0-10) 7,5 7,5 0,033
Compreensão de evidências (0-10) 7,5 7,5 0,051
Tabela 3. Associação entre crenças/habilidades e participação de enfermeiros
clínicos no grupo de pesquisa acadêmica
Sim Não
Valor
de p
Mediana Mediana
Crenças (0-10) 10 8,4 <0,001
Habilidades gerais (0-10) 7,1 6,6 0,049
Idiomas (0-10) 3,3 3,3 0,062
Revisão da literatura (0-10) 7,5 6,9 0,017
Compreensão da literatura de pesquisa e
avaliação da qualidade dos estudos (0-10)
6,3 5,8 0,679
Uso de teoria (0-10) 8,3 7,5 0,006
Compreensão de evidências (0-10) 10 7,5 <0,001
Redação científica (0-10) 7,1 7,5 0,488
511
Perfil acadêmico, crenças e autoeficácia em pesquisa de enfermeiros clínicos
einstein. 2013;11(4):507-13
zer e publicar pesquisas
(8,9)
. Além disso, como a partici-
pação em publicações reforçou essas crenças positivas,
mas não a percepção de suas próprias habilidades de
pesquisa, esses resultados indicam que os enfermeiros
clínicos podem não ter sido os investigadores principais
dos estudos publicados.
Outro aspecto que pode ter contribuído para a baixa
produção científica é a dificuldade em analisar critica-
mente textos e artigos científicos escritos em outros
idiomas. Na realidade, a capacidade de análise crítica
de textos científicos escritos em inglês foi pouco avalia-
da pelos respondentes. Inglês é o idioma internacional
da ciência
(10)
, mas, para os autores cuja língua materna
não é o inglês, a redação de manuscritos científicos re-
presenta um grande desafio.
Já foi sugerido que os enfermeiros clínicos são alta-
mente motivados para participar de pesquisas, mas que
não têm confiança para iniciar e implementar projetos
de pesquisa
(11)
. Com poucas exceções, a pesquisa em
enfermagem não tem sido uma parte característica das
atividades da enfermagem clínica. É raro ter uma equi-
pe com habilidades e formação acadêmica necessárias
para facilitar as pesquisas
(7)
. Muitos enfermeiros clínicos
sentem-se intimidados pela pesquisa. As pesquisas rea-
lizadas anteriormente estão em conformidade com este
estudo, tendo sido relatado que os enfermeiros clínicos
têm “medo do desconhecido”, “falta de capacitação ou
confiança para realizar pesquisas”, ou “a crença de que
não possuem habilidades para realizar pesquisas, o que
impede a realização de projetos de pesquisa”
(12)
.
Neste estudo, a maioria dos enfermeiros percebeu
que as seguintes habilidades eram bem desenvolvidas:
a capacidade de procurar informações de maneira efi-
caz, habilidades teóricas, prática baseada em evidência,
capacidade de redação e leitura, e a compreensão de
inglês e espanhol. A conclusão de mestrado ou douto ra -
do, assim como a participação em grupos de pesqui sa
e docência, também teve influência positiva na per-
cep ção dos enfermeiros sobre suas habilidades. A au-
topercepção dos enfermeiros clínicos sobre as habilida-
des de pesquisa foi, na verdade, maior do que relatada
anteriormente
(6,7)
. Entretanto, nossos resultados indi-
caram que essas habilidades pareciam favorecer mais
a prática baseada em evidência do que a pesquisa em
enfermagem. A baixa produção científica relatada aqui
reforça essa ideia, em conformidade com a noção de
que apenas enfermeiros isolados realizam pesquisas e
de que as publicações são raras
(13)
.
Nossos achados também indicaram que o principal
impacto da pesquisa em enfermagem percebido pelos
respondentes está associado à melhora da imagem ins-
titucional. Esse valor é fortemente reconhecido pelos
funcionários dessa instituição. Isso pode ser explicado
pelo fato de que o hospital é reconhecido pela exce-
lência na qualidade de cuidado aos pacientes, sendo
uma instituição do mais alto nível no Brasil. Em 2012,
o HIAE foi reconhecido com a premiação SciVal Brazil
(Elsevier), que consagra as instituições brasileiras de
pesquisa com excelência notável na produção científi-
ca. O HIAE recebeu o prêmio na categoria “Citações
por documento”. Nossos achados contrastaram com os
estudos anteriores
(5)
, indicando que as respostas mais
positivas dos enfermeiros clínicos sobre suas visões do
impacto da pesquisa estão associadas aos padrões de
cuidados com os pacientes e o desenvolvimento de ha-
bilidades específicas.
A condução e a aplicação de pesquisas não têm sido
uma prioridade para os enfermeiros em geral, apesar
da crença amplamente aceita de que a pesquisa em
enfermagem é relevante. Enquanto a maior parte dos
enfermeiros clínicos busca a prática baseada em evidên-
cia, são aparentemente relutantes e apáticos quanto à
condução de pesquisa em enfermagem
(13)
. Na realidade,
os enfermeiros de instituições de saúde acadêmicas e
não acadêmicas mencionaram pouco a médio interesse
em pesquisa, sugerindo que este seja um aspecto pre-
sente universalmente
(4)
. Nossos resultados apoiam essa
noção, como pode ser evidenciado pelo fato de que o ní-
vel espontâneo de adesão dos enfermeiros clínicos para
responder os questionários foi baixo. Para a maioria dos
enfermeiros, o tema da pesquisa parecia muito distante
e despertava pouco interesse. A recente contratação de
um enfermeiro pesquisador, a falta de familiaridade
com um novo departamento − o Núcleo de Pesquisa
em Enfermagem e Multiprofissional −, que não existia
na instituição, também podem ter contribuído para isso.
A observação de que a pesquisa em enfermagem não é
uma prioridade para os enfermeiros clínicos é incompre-
ensível, uma vez que os enfermeiros que trabalham em
hospitais são bem posicionados para identificar proble-
mas da prática clínica encontrados diariamente à beira
do leito e podem ajudar a construir evidências para suas
práticas
(12)
. Observou-se pouca participação nos grupos
de pesquisa e, consequentemente, pouca experiência
em pesquisa. Isso é consistente com análises realizadas
anteriormente, mostrando que os enfermeiros desejam
firmar parcerias com escolas de enfermagem para fazer
pesquisas
(14)
. Porém, há vários desafios, como dificul-
dade em negociar propostas de pesquisa de interesse
comum ao corpo docente da universidade e aos enfer-
meiros clínicos. Alguns enfermeiros preferem liderar
suas próprias pesquisas a firmar parceria com faculda-
des de enfermagem
(15)
. Particularmente, os enfermeiros
clínicos relatam que desejam conduzir estudos que se
traduzam em benefícios para a vida real.
einstein. 2013;11(4):507-13
512
Leão ER, Farah OG, Reis EA, Barros CG, Mizoi CS
Em geral, nosso diagnóstico do perfil acadêmico e
científico dos enfermeiros clínicos registrados no HIAE
indicou alta heterogeneidade de perfis, assim como al-
gumas idiossincrasias e crenças nessa população, que
deveriam ser consideradas na implantação de um pro-
grama destinado ao desenvolvimento das práticas de
pesquisa em enfermagem. Entretanto, uma limitação
desse estudo foi o fato de que os respondentes podem
não representar o perfil dos enfermeiros clínicos da ins-
tituição. Os participantes que optaram por completar
a pesquisa podem ter tido uma maior percepção da re-
levância e do valor da pesquisa em enfermagem para a
prática da atividade.
Ainda há vários desafios ao desenvolvimento de
melhores estruturas institucionais para apoiar e inte-
grar a pesquisa no ambiente clínico, e mostrar que os
achados de pesquisa são relevantes para os clínicos. Os
modelos mais comuns incluem a presença de um conse-
lho de enfermagem do hospital orientado por pesqui-
sadores acadêmicos; um enfermeiro pesquisador com
titulação acadêmica contratado; um enfermeiro pesqui-
sador em período parcial; e um enfermeiro pesquisador
em pe ríodo integral
(16)
. O último modelo é adotado em
nossa instituição. O Núcleo de Pesquisa e Enfermagem
e Multiprofissional foi criado para promover e apoiar as
práticas de pesquisa e o treinamento entre os enfermei-
ros clínicos e a equipe multidisciplinar do hospital. No
HIAE, o enfermeiro pesquisador tem várias funções:
pesquisador independente, docente/orientador, consul-
tor e mentor, como relatado de maneira semelhante em
outras instituições no mundo todo
(17)
.
O diagnóstico do perfil acadêmico dos enfermeiros
identificados aqui indica que são necessários diferentes
tipos de treinamento. Portanto, propomos o seguinte
programa de treinamento: nível básico, com cursos de
metodologia científica (8 horas), pesquisa bibliográfica
(programas regulares da biblioteca) e redação científica
(16 horas). Para os níveis de experiência intermediário
e avançado, recomendamos a análise crítica dos artigos
e a redação científica (40 horas). Para formação con-
tínua, propomos a implantação de reuniões mensais.
Além disso, nosso programa oferece um prêmio de pes-
quisa para as contribuições científicas em enfermagem
clínica e implementação de estratégias para maior visi-
bilidade. Tais contribuições científicas são avaliadas por
meio de indicadores quantificáveis (artigos publicados,
citações, propostas de inovações, patentes e projetos
colaborativos).
O aprimoramento das habilidades de pesquisa dos
enfermeiros clínicos é discutido no mundo todo. Em-
bora esse estudo tenha sido conduzido em um hospi-
tal privado no Brasil, nossos achados podem ser úteis
para outras organizações com perfis semelhantes em
diferentes regiões e países. De maneira semelhante,
nosso programa proposto com base em dados também
pode contribuir para discussões futuras sobre a implan-
tação da pesquisa em enfermagem em instituições não
acadêmicas, especialmente aquelas que buscam obter
a designação Magnet
®
. A compreensão da experiência
em pesquisa, as habilidades e as crenças da equipe de
enfermagem clínica de uma instituição podem ajudar
na implantação de projetos de pesquisa, assim como na
escolha das melhores estratégias de treinamento. Essa
análise é sempre necessária para reduzir o risco de im-
portar ações inapropriadas de outros estudos, o que
pode não corresponder à realidade institucional. Não
há um modelo ideal descrito na literatura para aumen-
tar o envolvimento dos enfermeiros clínicos na pesquisa
em enfermagem. Entretanto, é importante refletir sobre
as maneiras que levam ao desenvolvimento eficaz dos
enfermeiros clínicos na pesquisa em enfermagem e con-
siderar o perfil de enfermeiros que realizam pesquisa
à beira do leito. Nem todo enfermeiros clínicos têm o
desejo e a aptidão para essa tarefa. Além disso, até o
momento, não há um estudo disponível que possibilite
a identificação da proporção ideal de enfermeiros pes-
quisadores para a equipe de enfermeiros clínicos. No
futuro, pode-se reconhecer a necessidade de contratar
mais enfermeiros pesquisadores, não apenas para supor-
te ou orientação, mas também para desenvolver pesquisa
de alta qualidade. Essa será uma transformação real na
produção de conhecimento científico pelos enfermeiros
hospitalares e possibilitará a avaliação e os acompanha-
mentos adequados da vocação de cada enfermeiro.
Nossos achados devem contribuir para a elaboração
de uma proposta de programa de pesquisa adequada ao
nível de experiência acadêmica dessa população.
CONCLUSÕES
Neste estudo, estabelecemos um perfil detalhado da
experiência em pesquisa, crenças e autoeficácia na pes-
quisa de enfermeiros clínicos no primeiro hospital da
América do Sul a ser admitido na Jornada Magnet
®
.
Os enfermeiros clínicos relataram graus variáveis de
experiência em pesquisa. Foram observadas crenças e
percepções positivas sobre as habilidades de pesquisa.
Contudo, a percepção positiva não se traduziu em efeti-
va produção científica.
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