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Comercialização dos produtos agrícolas e reciprocidade no Brasil

Authors:

Abstract

This article presents an analysis of reciprocity in agricultural products marketing in Brazil. The work is based on an important literature review as well as the author's field research in several countries and in three main regions of Brazil: Northeast, Amazon and the Midwest. The text is divided into two parts. The first presents the theoretical frame work about markets and reciprocity; the second is derived from four case studies in Brazil: the relations of proximity in agricultural markets, fair trade, product certification and public purchases in family farming.
Eric Sabourin ¹
Comercialização dos produtos agrícolas
e reciprocidade no Brasil
Introdução
O desenvolvimento rápido do comércio por internet, antes dos su-
permercados com seu poder impessoal de relacionamento entre con-
sumidor e vendedor (la no caixa automático, às vezes sem caixeira
e cartão de crédito) poderia pregurar de uma extensão ilimitada e
generalizada das relações de troca mercantil. Na realidade, se exa-
minarmos cuidadosamente a diversidade das relações e dos tipos de
mercados em matéria de comercialização de produtos agropecuários
e agroalimentares, veremos que essa monstruosa generalização do
mercado capitalista não aconteceu ainda por completo.
Fora de toda opção ideológica, pois deve se reconhecer a praticida-
de e comodidade das transações fundadas na troca mercantil, assim
como seu caráter irrevocável para muitas transações econômicas, o
que pode explicar essa diversidade ou até resistência dos mercados
agroalimentares?
Primeiro, o ato de se alimentar é eminentemente social, pessoali-
zado, ligado à esfera familiar ou doméstica e carregado de marcas de
identidade. Consequentemente procurar os seus alimentos, mesmo
num ambiente de hipermercados globalizados, continua sendo um
ato social, com a sua carga emocional, simbólica e as suas diversas
representações culturais e ontológicas de uma realidade material
(CERDAN et al., 2001).
Segundo, comprar seus alimentos nunca deixou de ser uma relação
social e humana, vital, quase cotidiana marcada por diversas intera-
¹ Socioantropólogo, pesquisador titular do CIRAD, UmrArt-Dev (Montpellier,
França) e professor visitante na Universidade de Brasília, Centro do Desenvolvimento
Sustentável, CDS. E-mail: sabourin@cirad.fr.
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ções entre atores humanos e não humanos, por tensões e conitos.
São, portanto, tantos elementos humanos que dicilmente podem ser
traduzidos e explicados apenas pela teoria da ação racional da eco-
nomia neoclássica, que assimila o homo economicus a um puro robô,
funcionado apenas por cálculo, de maneira a maximizar seus interes-
ses individuais e o seu lucro, num ambiente de informação perfeita
e de puro funcionamento da lei da oferta e da demanda, mediante a
expressão da livre concorrência e da competitividade dos atores em
condições igualitárias.
Precisamos, portanto, procurar em outras explicações teóricas a ra-
cionalidade do comportamento dos atores, produtores, comerciante
ou consumidores. A teoria da reciprocidade nascida da antropologia
econômica oferece, entre outros, elementos explicativos originais, que
podem ser validados empiricamente.
Este artigo apresenta uma análise pela reciprocidade da comer-
cialização de produtos agropecuários no Brasil. O trabalho baseia-se
numa importante revisão bibliográca assim como em pesquisas de
campo do autor, em diversos países e, no caso do Brasil, no Nordes-
te (CARON e SABOURIN, 2003; LUCAS e SABOURIN, 2001; SABOURIN,
2006; 2009); na Amazônia (PROJETO DIÁLOGOS, 2009; SABOURIN,
2012; SABOURIN e RODRIGUEZ, 2009) e no Centro-Oeste (ÁVILA. et al.,
2009, 2011; LANDEL et al., 2009; MOREIRA e SABOURIN, 2009).
O texto é dividido em duas partes. A primeira apresenta o referen-
cial teórico sobre mercados e reciprocidade; a segunda trata de quatro
estudos de caso no Brasil: as relações de proximidade nos mercados
agropecuários, o comércio justo e solidário, a certicação dos produ-
tos e as compras públicas na agricultura familiar.
Teoria da reciprocidade e mercados
A origem dos mercados segundo a antropologia econômica
Podemos opor a dádiva e a reciprocidade à troca, já que são dois
princípios econômicos diferenciados ou até mesmo contraditórios.
Em contrapartida, é um contrassenso opor dádiva e reciprocidade
“ao mercado”, e menos ainda “aos mercados” no plural, ou então,
convém precisar que se trata do mercado capitalista ou dos merca-
dos de troca.
Aristóteles (em A Política), de acordo com Temple (2003), dis-
tinguia a troca pelo lucro da troca ao serviço da comunidade: “na
Antiguidade o lucro era rejeitado fora dos muros da cidade ou con-
siderado como indigno de um cidadão, agora ele é justicado como
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Eric Sabourin
princípio moral, como podendo proporcionar felicidade aos ricos e
melhorar a condição dos pobres” (ver Adam Smith, 1776/1977).
Decerto, nas nossas sociedades de consumo, a generalização dos
grandes supermercados com o self-service, os caixas automáticos, o
sistema bancário e o cartão de crédito conduziram a assimilar o mer-
cado à troca. Essa naturalização é completada pela especulação em
torno do ramo imobiliário e fundiário e pelo controle dos mercados
nanceiros sobre os mercados de bens e serviços. Mas não foi sempre
assim; Polanyi e seus colaboradores (1957/1975) mostraram a diferen-
ça entre o comércio antigo e o mercado de troca.
Além das diferenças de terminologias, o parágrafo de Polanyi sobre
“a troca das equivalências” (1975, p. 111) no comércio e a troca nas
economias comunitárias anuncia a análise de Temple (2003b) sobre o
mercado de reciprocidade, conduzida a partir das tradições africanas
e andinas. Com o crescimento das comunidades autárquicas e a di-
versicação dos estatutos dos produtores, as necessidades da família
extensa passam pelo recurso ao mercado de equivalentes:
Era preciso que as pessoas se fornecessem mutuamente os
objetos que lhes faltavam... Isso equivalia a uma partilha recí-
proca... A reciprocidade na divisão se realizava pela permuta...
Os interesses da comunidade e não os do indivíduo represen-
tavam o princípio diretor... Se não se respeitasse tal princípio,
havia violação da reciprocidade e a comunidade não podia
subsistir (POLANYI, 1975, p. 112, tradução nossa).
Esse capítulo propõe um retorno à origem dos mercados, como lu-
gares de trocas, mas também como espaços de prestações ligadas ao
princípio econômico da reciprocidade.
Os antropólogos da economia que se referem a Polanyi continu-
am frequentemente confundindo a troca de bens, a troca de dádivas
recíprocas, as prestações de reciprocidade e, principalmente, a opor
sociedades de subsistência regidas pela dádiva e a reciprocidade às
sociedades cujo mercado é regido pela troca.
Meillassoux (1971) considera que não comércio dentro das so-
ciedades de subsistência, mas prestações mútuas de bens e serviços.
Segundo ele, entre comunidades vizinhas, as transações dependem
da natureza dos bens trocados e das relações sociais entre as partes,
tendendo a tomar a forma de dádivas e contradádivas mais do que de
troca mercantil.
O comércio (equivalente à troca mercantil) existe a partir dos con-
tatos entre sociedades que podem oferecer-se mutuamente bens raros
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para uma ou para a outra e entre agentes que se encontram em posi-
ções sociais onde eles são liberados das obrigações de dádivas mútuas.
A ausência de mercados em regiões onde as relações econômicas
são dominadas por relações interpessoais e onde os comerciantes
externos não estão ativos bem como a existência frequente dos mer-
cados sobre as fronteiras destas regiões com zonas econômicas com-
plementares tendem a apoiar esta hipótese (MEILLASSOUX, 1971, p.
82-83, tradução nossa).
Bohannan e Dalton (1962) distinguem três categorias de mercados
na África em função da importância relativa do lugar físico do merca-
do (marketplace) e da ausência ou presença de um princípio mercantil
nas transações.
• As sociedades sem mercado (1) e as sociedades com mer-
cados periféricos (2) são caracterizadas por economias multi-
centradas (segmentares, horizontais) onde os bens e serviços
apresentam também um valor moral;
• Nas sociedades sem mercado, as trocas são reguladas por
princípios ligados às estruturas de parentesco e às obrigações
políticas;
• Nas sociedades de economia comercial (3), o princípio mer-
cantil domina e o papel do mercado como locus (marketplace) di-
minui; a institucionalização da venda conforme a lei da oferta e
da procura pode recobrir diversas formas físicas.
Em 1973, Good publicou uma análise das referências antropológi-
cas e históricas sobre os mercados africanos e as origens do mercado.
Ele identicou os mercados periódicos que acontecem regularmente
em datas xas e reúnem comerciantes prossionais, as redes mercan-
tis que permitem o comércio de longa distância e os espaços de mer-
cados (marketplace) onde se encontram produtores e consumidores.
Entre esses mercados, ele distingue os mercados de proximidade e os
espaços de concorrência.
Os mercados de proximidade são caracterizados pela complemen-
taridade entre os atores, a intercomunicação, a sociabilidade e a pre-
ocupação com a subsistência. A subsistência não é entendida como
nível de consumo mínimo, mas como preocupação que cada um tenha
os meios para suprir suas necessidades.
Esses mercados correspondem às análises de Polanyi: constituem
respostas endógenas à demanda local e às necessidades das famílias
em alimentos e artesanato. São geralmente fundados em sistemas de
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equivalência com a ausência de formação de preço. Assim, os merca-
dos dos Ibo da Nigéria são destinados a facilitar as prestações horizon-
tais entre camponeses, ao mesmo tempo produtores e consumidores.
Os mercados de concorrência (espaço competitivo) são regulados
pela troca mercantil e se encontram dentro de sociedades comerciais
(marketorientedsocietie) que praticam a troca fundada na divisão do
trabalho e a propensão para a negociação (propencytobarter).
O comércio de longa distância é conado aos comerciantes de es-
tatuto especializado ou a redes interétnicas. Teria uma ligação entre a
existência dos grandes mercados africanos, por exemplo, os do povo
Mossi (Burkina Faso hoje em dia), e a penetração das caravanas.
Retomo essas referências e denições, pois essas categorias explica-
tivas são regularmente citadas pelos antropólogos que se interessam
pelas sociedades camponesas (HYDEN, 2007).
Mesmo que permaneçam, às vezes, abaixo das propostas de Po-
lanyi, os autores citados fazem observações indicando que sempre
existiram nas etnias africanas prestações e transações que não são
ligadas à troca. Polanyi vai mais longe, na medida em que identica
três categorias econômicas (segundo ele três modos de integração social):
a troca, a reciprocidade e a redistribuição, que determinam, cada uma,
formas de mercado diferenciadas.
Quanto à confusão entre mercado e troca mercantil, ela
permanece até hoje.
A teoria da reciprocidade nas ciências sociais
Em etnologia e antropologia, a reciprocidade designou por muito
tempo as prestações mútuas de alimentos, de bens e de serviços entre
pessoas e entre grupos (MALINOWSKI, 1922; MAUSS, 1924), em par-
ticular nas sociedades indígenas e camponesas. Lévi-Strauss (1949)
pôde, assim, propor um princípio de reciprocidade governando o
conjunto das relações e estruturas de parentesco. Do ponto de vista
antropológico, o princípio de reciprocidade corresponde, portanto,
a um ato reexivo entre sujeitos, a uma relação intersubjetiva e não
somente a uma simples permuta de bens ou de objetos.
A sociologia desde sua fundação atribuiu uma grande importância
à noção de reciprocidade considerada como o fundamento das rela-
ções sociais por autores como Simmel (1908) e Mauss, ou ainda como
uma norma social universal (GOULDNER, 1960). Em compensação,
nesses últimos anos, a sociologia se interessou pouco pela noção de
reciprocidade, talvez por causa da universalização das relações de
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troca, seja sob sua forma material ou simbólica (BOURDIEU, 1994).
Assim, é sobretudo o conceito da dádiva que foi repensado pelos soci-
ólogos antiutilitaristas (CAILLÉ, 2001; 2005) e inclusive proposto como
um terceiro paradigma, face ao individualismo e ao holismo (CAILLÉ,
2001). É provavelmente porque a dádiva se entende mais facilmente
como um princípio oposto ao da troca. De fato, a reciprocidade, se
sua denição permanece connada à gura da dádiva/contradádiva,
é frequentemente confundida com uma troca simétrica. Entretanto,
o grande mérito do renascimento dos trabalhos sobre a dádiva, em
particular dentro do quadro do Movimento Antiutilitarista em Ciên-
cias Sociais, o MAUSS, terá sido institucionalizar uma reexão crítica
sobre a naturalização da troca. Colocando em evidência a importância
da reciprocidade das dádivas (a reciprocidade positiva), vários traba-
lhos zeram emergir a necessidade de uma reexão central sobre a
reciprocidade em torno de uma teoria da dádiva.
Paralelamente à renovação das pesquisas sobre o dom moderno,
a antropologia econômica e a sociologia econômica, em particular a
partir da releitura dos trabalhos de Mauss e de Polanyi (1944, 1957),
continuaram a mobilizar a noção de reciprocidade a propósito das re-
lações de sociabilidade privada ou de sociabilidade primária (CAILLÉ,
2001) e das prestações da economia chamada de não mercantil (EME
e LAVILLE, 1996).
A reciprocidade como princípio ou categoria econômica foi assim
reabilitada recentemente a partir dos trabalhos referentes à economia
solidária (CASTEL, 2006; SERVET, 2003 e 2007; GARDIN, 2006).
A teoria da reciprocidade renovada
O primeiro elemento próprio à teoria da reciprocidade envolve a de-
nição do conceito do ponto de vista socioantropológico. O princípio de
reciprocidade não se limita a uma relação de dádiva/contradádiva entre pares
ou grupos sociais simétricos. O reducionismo dessa denição que por
muito tempo prevaleceu e ainda prevalece às vezes na antropologia
conduz, de fato, a uma confusão entre troca simétrica e reciprocidade.
Esse impasse persistirá enquanto a reciprocidade for interpretada com
a lógica binária que convém à troca. A troca, explica Chabal (2005),
pode se reduzir, no limite, a uma permuta de objetos. Temple e Chabal
(1995) propõem recorrer à lógica ternária de Lupasco (1951) a qual faz
aparecer um Terceiro incluído na relação de reciprocidade. Permite,
assim, interpretá-lo como o ser dessa relação e de dar conta dela como
da estrutura originária da intersubjetividade, irredutível à troca de
bens ou de serviços que libera do laço social ou da dívida.
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Do ponto de vista econômico, a reciprocidade constitui, portanto,
não somente uma categoria econômica diferente da troca mercan-
til como havia identicado Polanyi (1944, 1957), mas um princípio
oposto ao da troca ou mesmo antagonista da troca.
O segundo elemento da teoria, e que participa do seu caráter uni-
versal, é que a reciprocidade pode recobrir várias formas. De modo geral, a
antropologia e a etnologia consagraram sob essa terminologia apenas
a reciprocidade das dádivas: oferendas, partilhas, prestações totais,
potlatch que constituem o que Temple e Chabal (1995), designam pela
forma positiva da reciprocidade. Mas existe, igualmente, uma forma
de reciprocidade negativa, a dos ciclos de vingança. Diferentemente da
troca cujo desenvolvimento ou extensão é associado à lógica de con-
corrência e de acumulação pelo lucro, a lógica da vingança está ligada
a uma dialética da honra, assim como a da dádiva está ligada a uma
dialética do prestígio. Contudo, a sede de prestígio (fonte de autori-
dade e, portanto de poder, nas sociedades de reciprocidade) motiva o
crescimento da dádiva “mais eu dou, mais eu sou”. Entre as expressões
extremas das formas negativas e positivas da reciprocidade, as socie-
dades estabeleceram, então, diversas formas intermediárias. Trata-se,
em particular, de controlar o crescimento da dádiva, a ostentação, o
potlatch, a dádiva agonística que destruam e submetam o outro me-
diante o prestígio.
Em terceiro lugar, as relações de reciprocidade podem ser analisadas
em termos de estruturas, no sentido antropológico. Assim se declinam
segundo algumas estruturas elementares, tal como foram propostas
inicialmente por Mauss (1924), Lévi-Strauss (1949), Scubla (1985),
Temple (1998) ou Anspach (2012). Essas relações de reciprocidade
estruturadas sob sua forma simétrica geram valores éticos: a relação
de reciprocidade em uma estrutura bilateral simétrica gera um senti-
mento de amizade; a estrutura de divisão simétrica dos bens dentro
de um grupo gera a justiça. Assim, outros tipos de relação em outras
estruturas podem produzir outros valores especícos. Esse elemento
constitui, sem dúvida, a parte mais complexa da teoria da reciproci-
dade proposta por Temple e Chabal (1995). É o aspecto mais difícil de
validar, visto que ele envolve não somente a produção de bens mate-
riais, mas também a produção de sentimentos e de valores humanos.
É também o elemento mais original e interessante da teoria, aquele
que oferece a possibilidade de análises e de propostas alternativas em
matéria de economia social e solidária e em particular para bens de
consumo associados a cargas emotivas ou identidades como os pro-
dutos agroalimentares.
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O quarto elemento da teoria envolve os diferentes níveis do princípio
de reciprocidade e os modos que lhe são especícos. Existem três planos ou
níveis de reciprocidade: o real, o simbólico (a linguagem) e o imagi-
nário (as representações). No caso dos processos, mercados e modos
de consumo agroalimentares, é evidente que os planos do simbólico e
do imaginário inuem nas práticas materiais dos produtores e consu-
midores (TEMPLE, 1997, 2003).
Para resumir, existem várias estruturas fundamentais de reciprocidade
nas quais as relações geram sentimentos diferentes e, portanto, valo-
res diferentes. Existem, igualmente, várias formas de reciprocidade
que lhe conferem imaginários diferentes. O sentimento do ser originá-
rio pode ser capturado no imaginário do prestígio ou no da vingança,
dando lugar a formas de reciprocidade positivas, negativas e simétri-
cas. Estruturas, níveis, formas se articulam para formar sistemas de
reciprocidade.
Estruturas de reciprocidade e comercialização de
produtos agrícolas
Em matéria de comercialização dos produtos agropecuários, os
camponeses ou suas organizações implementaram vários tipos de “in-
terfaces,” permitindo uma coabitação, uma articulação entre práticas
de reciprocidade e práticas de troca. Alguns desses mecanismos são
antigos e, além das nações do Sul, funcionam também nos países
da Europa.
A primeira interface é a da venda direta que permite o encontro
entre produtor e consumidor, a exemplo da venda na fazenda ou
em mercados de proximidade, como os mercados de produtores da
França, da África ou do Brasil. Existe uma relação de troca, mas o
contato direto entre produtor e comprador permite redobrá-la com
uma relação de reciprocidade binária, de face a face, que gera valores
afetivos: sentimento de amizade, de reconhecimento mútuo ou valo-
res étnicos de delidade e de respeito.
Frequentemente, o produtor marca essa relação de reciprocidade
associada a da troca por uma dádiva simbólica – um punhado de
feijão, uma fruta, um tomate suplementar.
Nos mercados andinos da Bolívia, essa dádiva é chamada de yapa.
Temple (2003a, p. 384) relata como, onde se pratica a reciprocidade, o
que oferece sua produção cuida de indicar a equivalência, em segui-
da acrescenta uma parte da dádiva (yapa). A dádiva é proporcional à
importância da transação e à qualidade do cliente. Este último chama
logo seu parceiro caser, caserito ou casero (membro da casa, familiar).
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Em Guiné-Bissau, encontramos esse gesto de dádiva, chamado
de condo, mesmo quando a transação é efetuada por uma etnia es-
pecializada no comércio, como os DiolaDjila. A transação dá lugar
a discussões sobre o preço, mas igualmente sobre a vida cotidiana,
a saúde dos membros da família e a estima recíproca entre as duas
partes, conforme um ritual consagrado em crioulo: Kumadifamilia?
KumadiKurpu? Kumadifugao, KumadiMininu? (como vai a família, como
vai a saúde, como vai o lar, como vão as crianças?).
No litoral da África, onde os mercados estão confrontados com a
livre troca, a dádiva se torna simbólica, mas signica mais a lamenta-
ção de não poder se inscrever na lógica da reciprocidade do que um
convite à troca.
Mesmo nos mercados ocidentais onde a livre troca se impõe
e a concorrência faz-se lei, a dádiva de amabilidade demons-
tra muitas vezes que é tão importante para o comerciante ter
relações de amizade com seus clientes quanto satisfazer seu
interesse monetário (TEMPLE, 2003a, p. 384; tradução nossa).
É também o caso das cadeias curtas controladas socialmente por
organizações de produtores ou pelas cooperativas de consumidores.²
É o caso dos mercados ou cestos camponeses na França, e das associa-
ções mistas (agricultores e consumidores) que os geram (MUCHNIK e
SAINTE-MARIE, 2010). Do mesmo modo, os agricultores dos mercados
agroecológicos no nordeste do Brasil ou os das tribos Kanak se orga-
nizaram em associações, geralmente para garantir um apoio público
a m de melhorar as infraestruturas desses mercados (SABOURIN e
TYUIENON, 2007).
Tais situações de contato direto dão lugar a relações humanas (con-
versas e explicações em torno do produto, do trabalho, dos procedi-
mentos, das receitas) as quais geram sentimentos e valores de ami-
zade, de delidade e de conança entre produtores e consumidores.
Quando a relação direta (pelo encontro físico entre produtor e con-
sumidor) não é possível, existe a possibilidade da intermediação qua-
licada e interpessoal, da corretagem. O corretor permite estabelecer
uma relação de reciprocidade ternária pelo interconhecimento, o efeito
rede e a informação sobre a qualidade do produto e do produtor. Essa
estrutura produz a conança, a responsabilidade e a reputação (do produ-
tor e do corretor) que é fonte de prestígio.
² Ou pelos dois juntos, como é o caso no Brasil, na região de Porto Alegre, entre
cooperativas do MST e cooperativas de consumidores (EID et al, 2006).
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Os corretores são respeitados e apreciados em matéria de mercado
de arte ou de vinhos, por suas competências especícas. Paradoxal-
mente, eles são frequentemente criticados para transações com outros
produtos, agrícolas em particular.
Por que seria diferente? Na França, existem corretores para os mer-
cados muito especializados, como as trufas, as ostras (DUPONT, 2004).
O corretor não é exatamente um atravessador desonesto negociando
para obter mais lucro.
Temple (2003a) lembra que, na África, a remuneração dos corre-
tores signica que os comerciantes não tinham o direito de construir
fortunas sobre a especulação. Eles deviam obter seu benefício con-
forme regras e proporções estabelecidas entre as partes envolvidas:
“a convenção instaurando o equivalente de um preço-retorno para
os mais desfavorecidos, trata-se de um sistema de comércio fundado
na igualdade. É a lógica do roubo que está sendo dominada pelas
estruturas de reciprocidade”.
Economia solidária e comércio justo
A economia solidária, qualquer que seja a sua denição, remete
para novas regras de redistribuição dos bens e de repartição da renda.
A maioria das opções teóricas faz referência aos trabalhos de Karl
Polanyi (1944, 1957) e à reinserção do social no econômico (FRANÇA
FILHO, 2006; GAIGER, 2005).
No caso dos mercados agropecuários, a economia solidária está
invariavelmente associada ao comércio justo.
O comércio justo pode ser denido como uma parceria comercial
baseada no diálogo, na transparência e no respeito, cujo objetivo é
chegar a uma maior equidade no comércio mundial. Para Le Velly
(2006a, p. 320) esse comércio chamado equitativo “é constituído de
trocas mercantis heterogêneas atribuindo um peso mais ou menos
importante aos defeitos e às virtudes do mercado e participando mais
ou menos da ordem mercantil capitalista”.
O comércio solidário é apresentado como uma alternativa mais
justa ao comércio internacional fundado na lógica da troca mercantil
capitalista conhecida por várias alienações: exploração dos agentes
mais fracos, termos da troca desiguais entre Norte e Sul ou entre
centro e periferia, despersonalização do ato mercantil, materialização
e degradação do vínculo social, processos de exclusão.
Mas qual é a alternativa oferecida pelos promotores do comércio
justo? Do ponto de vista operacional, trata-se de garantir aos produ-
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tores um preço diferenciado que seja mais justo que o garantido pelos
cursos dos mercados nacionais ou internacionais.
Segundo Diaz Pedregal (2006), existem duas tendências no comér-
cio justo: – a primeira é a da esfera da especialização, constituída por
atores inteiramente dedicados à importação e à comercialização de
produtos provenientes do comércio justo; a segunda é a esfera do
selo, animada pelos organismos de certicação.
Decorre dessa distinção que se o conjunto dos produtos com
selo garantido por um organismo certicador vem do comér-
cio justo, todos os produtos do comércio justo não são neces-
sariamente certicados por tais organismos (DIAZ PEDREGAL,
2006, p. 157; tradução nossa).
Para o autor essa oposição se divide entre uma visão mais política e
radical (ligada a uma cultura católica e/ou marxista) e outra de inspi-
ração mais religiosa e caritativa, ao mesmo tempo moral e mercantil,
de origem anglo-saxônica.
Do ponto de vista teórico, o princípio comum a essas duas tendên-
cias é garantir: por um lado, um valor agregado humano ou ético,
traduzindo-se por uma relação privilegiada entre produtores e consu-
midores, baseada na qualidade e na origem do produto e na informa-
ção sobre a natureza do produto e suas condições de elaboração; – por
outro lado, um valor agregado material que se traduz por um preço
mais justo para o produtor e medidas de garantia de compra e de
delização dos produtores.
Vários autores (LE VELLY, 2006a e b, 2007; LAFORGA, 2005; CASTEL,
2003) observaram, com o desenvolvimento mundial do comércio soli-
dário, os limites do processo de agregação conjunta desses dois tipos
de valores: ético e material.
Diaz Pedregal (2006) lembra que os operadores convencionais
(centrais de compra de supermercados, rmas agroalimentares)
também têm investido, com as suas práticas e normas habituais, nos
produtos do comércio justo. Contudo, para ser competitivo nessas
redes, convêm garantir volumes, condições de condicionamento,
embalagem e custos que nem sempre são compatíveis com a compra
personalizada ou com o abastecimento junto a grupos associativos
ou cooperativas de pequenos produtores. Nessas condições competi-
tivas, os pequenos produtores nem sempre podem garantir volumes
importantes e constantes (por conta de variações climáticas ou eco-
nômicas). Portanto, isto limita a capacidade dos novos operadores de
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comércio justo globalizados em manter ao mesmo tempo a delidade
e a exclusividade do abastecimento.
O monitoramento da qualidade, sua certicação, o esforço de in-
formação do consumidor (e dos produtores) e de animação de redes
“solidárias” representam um custo agregado, às vezes incompatível
com as condições da grande distribuição.
A utilização dos serviços de certicação de rmas privadas rein-
troduz também mais concorrência devido ao custo e novas formas de
exclusão dos pequenos produtores pelas suas exigências (LE VELLY,
2007; LAFORGA, 2005; RENARD, 2005; , 2006).
Para manter redes de venda, os operadores do comércio justo
devem reduzir seus custos de transação e de frete, o que os leva a re-
correr aos mesmos intermediários da grande distribuição capitalista.
Arriscam assim a adotar as mesmas práticas, em nome da eciência,
até o ponto de perder o valor agregado ético: a delidade e a exclusi-
vidade do abastecimento, a qualidade da informação mútua, ou seja,
a relação humana, mesmo que indireta, entre consumidor e produtor.
Le Velly observa na evolução da iniciativa associativa Artisansdu
Monde na França o crescimento da despersonalização, típica da troca
mercantil, a partir do momento em que a rede se dotou de uma cen-
tral de compras e multiplicou os seus volumes e cifras (LE VELLY,
2006b e 2007).
No Brasil, a experiência de comércio justo começou através de ONGs
internacionais como OXFAM, cuja campanha no Brasil, a partir do caso
do café, estabelecia um vínculo entre a segurança alimentar e o comér-
cio internacional (MASCARENHAS, 2007). Deu lugar à negociação de
contratos de produtos fáceis de exportar (castanha de caju, café, arte-
sanato de sisal, guaraná) com ONGs ou redes europeias. Rapidamente,
apareceram limites em termos de volume e de exigências de certicação
que têm levado a mais institucionalização e a custos maiores.
A Fairtrade Labelling Organisation International (FLO) foi acusada no
Brasil e no México de pagar preços muito baixos aos produtores de
café e de cobrar uma taxa elevada para fornecer o seu selo. As em-
presas de certicação Agrocert (brasileira) e Certimex (mexicana) são
alvo do mesmo tipo de crítica (GT, 2006).
Por falta de alternativa à lógica da troca mercantil, os operadores
do comércio justo correm o risco de cair nos mesmos defeitos ou alie-
nações do sistema de troca capitalista. De fato, a lógica econômica
do pensamento único (mesmo disfarçada sob as suas variantes não
ortodoxas) é incapaz de justicar e operacionalizar um comércio mais
justo sem a intervenção da política.
17
Eric Sabourin
Mas qual intervenção política haveria de se promover e qual seria
a base teórica da articulação entre o político e o econômico? Como
garantir o diálogo entre sistemas de reciprocidade/redistribuição e
sistemas de troca mercantil?
Tal interface deve poder articular as vontades de reciprocidade dos
produtores, dos consumidores e de suas organizações, por um lado, e
as realidades das práticas do mercado de troca, por outro lado. Quais
pistas explorar do ponto de vista prático e teórico, a partir da teoria
da reciprocidade?
Sistemas mistos e interfaces entre troca e
reciprocidade no Brasil
A qualicação dos produtos e sua certicação
No Brasil, a despeito dos processos de mercantilização capitalista
que conhece a agricultura camponesa e familiar (CONTERATO, 2004;
PLOEG, 2006, 2008), existem ainda mercados socialmente controlados.
As feiras locais semanais (KILCHER, 2004) e os mercados de proxi-
midade (SABOURIN, 2009) conhecem um verdadeiro renascimento.
Proporcionam exemplos de mercados que produzem vínculos sociais
e mobilizam a sociabilidade, mediante relações diretas entre produto-
res e consumidores.
Há também, em torno da ideia de produtos de qualidade associa-
dos a territórios especícos, um potencial de criação de territorialida-
des socioeconômicas e culturais, por meio da relação entre homens,
produtos, culturas, identidades e regiões diversicadas.
No estado da Paraíba, no nordeste do Brasil, os mercados de pro-
dutos agroecológicos³ se inscrevem na estratégia do Polo Sindical da
Borborema (PSB) para aumentar a autonomia dos agricultores fami-
liares em face das redes clássicas que eles não controlam. A iniciativa
provém da demanda local por produtos agroecológicos e dos limi-
tes das organizações camponesas para se implantar nas centrais de
abastecimento (CEASA) das capitais regionais (João Pessoa, Campina
Grande e Recife).
Inicialmente realizado a título experimental durante as festas de
m de ano de 2001, o mercado agroecológico de Lagoa Seca se tornou
permanente. Essa iniciativa levou um grupo de agricultores a se es-
truturar mediante a criação de uma associação e a adotar regras e
normas comuns em termos de estratégia comercial.
3 Mercados de venda direta de produtos da agroecologia (forma de agricultura
ecológica com base biológica e sem insumos químicos) pelos agricultores familiares.
18
Comercialização dos produtos agrícolas e...
Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 1, 2013: 5-33
O Polo Sindical da Borborema (PSB) negociou a implantação de um
mercado agroecológico com a prefeitura de Campina Grande. Dentro
do polo urbano regional, esse mercado tem um valor de “vitrine”.
Incentiva a participação dos agricultores convertidos à agroecologia
que não são bastante numerosos em seu município, para constituir
um mercado diferenciado (FLORENTINO et al., 2007).
O público visado é de modesta condição socioeconômica e os
preços praticados não são tão diferentes dos mesmos produtos con-
vencionais encontrados nos outros mercados regionais. Eles perma-
necem inferiores aos preços dos mesmos produtos convencionais nos
supermercados.
Com a iniciativa do PSB, foi possível constituir uma associação
regional de agricultores agroecológicos e estruturar um processo de
certicação da qualidade.
A certicação dos produtos não é conada a um certicador priva-
do externo, o que aumentaria os custos e o preço de venda. Trata-se
de uma cocerticação de grupo, ou certicação mútua, garantida por
comissões de agricultores designadas pela associação dos produto-
res agroecológicos. Com cada agricultor na posição ora de avaliador,
ora de avaliado, os riscos de fraude são limitados, que o interesse
primordial consiste em manter uma clientela ainda frágil, ou seja, em
não mentir sobre a qualidade.
Esses mercados funcionam graças ao comprometimento de algu-
mas famílias que cuidam do respeito pelas regras. Outros participan-
tes, menos implicados ideologicamente, fazem prova de oportunismo.
Seu interesse pela agroecologia depende mais da emergência de uma
demanda por parte dos consumidores e do acesso a uma forma de
comercialização remunerando melhor seu trabalho que a venda aos
atacadistas.
Esse sistema de certicação mútua (ou recíproca) tem a vantagem
de ser gratuito, de não aumentar o custo de produção e de não com-
prometer os agricultores na dependência de rmas de certicação. No
processo de cocerticação, o controle da qualidade se torna inerente à
estrutura de produção se esta se vê reposicionada em um sistema de
reciprocidade.
A política de qualicação (o selo de garantia), em si, limita os
efeitos de concorrência e de especulação da troca capitalista. Quando
o nome do produtor está em jogo, são as relações de reciprocidade
que geram os valores de reputação, de honra e de responsabilidade
(BOM KONDE, 2003). São geralmente esses valores que garantem a
legitimidade e a autoridade do processo de certicação das normas
19
Eric Sabourin
de qualidade e de procedência. As empresas capitalistas identicaram
esses valores humanos para transformá-los em serviço mercantil de
vericação. Mas, de fato, para produtos agroalimentares, a sanção é
primeiro a do consumidor e a garantia de qualidade é, muitas vezes,
inerente ao processo de produção.
Portanto, no Brasil aumentam as iniciativas de implantação de sis-
temas de cocerticação ou certicação participativa entre produtores
e consumidores (MEDAETS e MEDEIROS, 2004; SABOURIN, 2012).
Essas iniciativas foram apoiadas pelo Ministério do Desenvolvi-
mento Agrário (MDA) encarregado da agricultura familiar e campo-
nesa. Um selo “Produto da Agricultura Familiar” foi instituído, além
dos selos regionais especícos (Produtos coloniais ou Gaúcho no Sul,
Sabor de Minas em Minas Gerais etc.). Os responsáveis por esses selos
consideram que eles têm um efeito alavanca para mobilizar o apoio
das políticas públicas para ações facilitando a inserção dos produtos
da agricultura familiar em um mercado até então reservado às empre-
sas agrícolas.
Qualquer processo de qualicação que garanta a origem (o nome
do produtor), a especicidade, o processo ou as normas de qualidade
de um produto contribui para reduzir os efeitos da concorrência pró-
prios à troca capitalista. No entanto, se o processo de certicação da
qualidade vem aumentar o custo, de acordo com as regras da troca,
o acesso à qualicação torna-se mais seletivo para os produtores e o
preço mais caro para os consumidores.
Mas todas as possibilidades da qualicação dos produtos rurais
ainda não foram exploradas. Temple (2003a e 2003b) propõe radicali-
zar o processo com outro tipo de interface, o da qualicação persona-
lizada; ou seja: com o nome Souza, só se pode produzir Souza.
Ninguém pode fazer concorrência a uma produção única cujo
valor intrínseco é potencialmente innito [...] simbólico ou
prosaico, o valor será sempre maior porquanto o produto seja
mais qualicado. E não é preciso fazer com que uma compe-
tência externa à produção controle a qualidade, pois a qualida-
de é inerente à estrutura de produção (TEMPLE, 2003a, p. 11).
Temple opõe a emulação para melhorar a qualidade dos produtos à
concorrência que visa acumular lucros. Ele dá o exemplo do açafrão da
Mancha, na Espanha, cuja produção e comercialização fora da área de
origem foram proibidas pelos últimos produtores, de forma a obrigar
os consumidores a ir visitá-los no local. Na região, eles construíram
a Casa do Açafrão; organizaram um mercado local, restaurantes na
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Comercialização dos produtos agrícolas e...
Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 1, 2013: 5-33
fazenda e uma produção associada de legumes, carnes, frutas e vinhos;
organizaram também serviços: hotéis e albergues, turismo rural etc.
A qualicação centrípeta e o selo personalizado constituem assim
uma das chaves do desenvolvimento rural endógeno ou autocentra-
do que satisfaça prioritariamente às necessidades das comunidades
locais.
De fato, novos espaços econômicos se abrem para os produtores
organizados a partir dessa conscientização da natureza diferente dos
sistemas de valor. Um dos papéis principais do apoio ao desenvol-
vimento local (ou territorial) é assim o de identicar e qualicar os
modos de produção e de (re) distribuição e as relações que determi-
nam uma “fronteira” entre sistemas diferentes.
Será que existem outros tipos de interface de sistema entre práticas
de troca e prática de reciprocidade no marco da comercialização dos
produtos rurais?
O Brasil apresenta o caso original de um Estado onde, por conta
das limitações das iniciativas de comércio justo dos países do Norte
“a favor” dos produtores do Sul, foi desenvolvida uma reexão crí-
tica e alternativa. Ela contempla o que poderia ser um comércio mais
justo pensado e organizado na escala de um país continental e do seu
amplo mercado interno (SENAES, 2007).
O sistema de comércio justo brasileiro
No Brasil, com base em uma reexão marxista, Paul Singer (2005)
propõe uma interface sociopolítica para articular e regulamentar a
relação entre produção da economia solidária e o quadro nacional do
mercado de troca capitalista. A lei do Comércio Justo e Solidário (CJS)
considera uma série de critérios mínimos exigidos entre uma empresa
solidária e um parceiro comercial habilitado por um organismo de
avaliação de conformidade (SENAES, 2007).
A política pública de economia solidária do governo brasileiro fa-
vorece o apoio às iniciativas de autogestão em que os meios de produ-
ção pertençam aos trabalhadores. Esta concepção inclui as empresas
recuperadas e gerenciadas por seus assalariados e as cooperativas de
produção (SENAES, 2003). De fato, esta opção, proposta por Singer
(2002) como segunda utopia socialista, fortalece, nas aparências, uma
oposição ao sistema da empresa capitalista, algo que poderia cons-
tituir um primeiro passo rumo ao reconhecimento do princípio de
reciprocidade. Todavia, como no caso da alienação da estrutura de
partilha, o círculo continua fechado: a reciprocidade funciona no
âmbito da empresa social de autogestão; mas fora, vender a produ-
21
Eric Sabourin
ção, ou seja, lograr resultados econômicos, ainda está condicionado
às leis da competitividade e concorrência do mercado de troca capita-
lista (AZAMBUJA, 2005).
A situação não é tão inelutável quando existem quadros formali-
zados de economia de reciprocidade e de redistribuição ou bem, uma
possibilidade de articulação (ou de interface) entre os dois princípios
econômicos.
Quadro 1Características do Sistema de Comércio Justo e Solidário
– SNCJS (GT, 2006)
Preço justo: é a remuneração que resulta de um equilíbrio
denido pelo diálogo e a discussão entre os atores envolvi-
dos de maneira equitativa para poder atribuir um valor aos
produtos e serviços ofertados incorporando o custo real do
produto ou do serviço e dos seus impactos socioambientais
(FBES, 2007).
Regras do SNCJS
• composição do preço transparente entre as partes
que devem dispor da informação para o equilíbrio das
negociações;
• incorporação dos custos reais de cada etapa do processo
de produção, sem apresentar aos consumidores extrapola-
ções entre o preço de venda das empresas produtoras e o
preço das empresas comerciais;
• relações de larga duração entre empresas produtoras e
comerciais;
• as empresas comerciais asseguram as informações
sobre os produtos;
• proibição de venda em consignação, de comissões
para acesso aos mercados e de pagamento com prazos
desfavoráveis aos produtores ou contribuindo para o seu
endividamento;
• garantias de qualidade de acordo com diversos méto-
dos de produção da credibilidade, de maneira a levar em
conta diferentes realidades sociais, culturais, políticas, ter-
ritoriais, institucionais, organizacionais e econômicas de
cada iniciativa, grupo ou empresa.
...
22
Comercialização dos produtos agrícolas e...
Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 1, 2013: 5-33
Um dos papéis essenciais do Estado e da ação pública é organizar
corretamente a produção de bens públicos e de interesse geral: trata-
-se, portanto, de promover políticas capazes de separar os princípios
de troca dos princípios de reciprocidade ou ainda de regulamentar
as articulações necessárias entre os dois sistemas. Os argumentos e
princípios de uma interface de sistemas regulamentada e controlada
pelo Estado estão aqui reunidos.
Isto dito, o que é um preço justo? Diversos autores examinaram
essa questão (BUCCOLO, 1999; MASCARENHAS, 2007; DIAZ PEDRE-
GAL, 2006) sem conseguir resolvê-la de um ponto de vista teórico, e
tampouco do ponto de vista operacional. Os longos debates do Fórum
Brasileiro do Comércio Justo têm levado a uma proposta provisória
que tem mais a ver com princípios do que com a operacionalidade
(Quadro 1).
O interesse da dinâmica brasileira é que, ao contrário dos sistemas
de comércio equitativo Norte/Sul, ela saia da linha da gestão por pro-
duto e cadeia cimentada em torno da noção meio vazia de “produto
equitativo” ou “produto justo”, para considerar a natureza justa (ou
não) da própria relação. De fato, um pacote de café justo continua
sendo apenas café, não é justo ou equitativo por si.
A construção do sistema brasileiro de comércio justo já
apresenta alguns avanços:
• a constituição de um espaço institucional público-pri-
vado destinado a elaborar políticas públicas e instrumen-
tos de apoio ao processo nacional;
• o caráter negociado e participativo da experiência bra-
sileira e da própria elaboração do SNCJS que implica num
pacto entre os principais atores;
• a prioridade dada ao mercado doméstico, numa pers-
pectiva de autonomia; o comércio justo Norte/Sul sendo
considerado apenas como um eventual complemento;
• a procura da inclusão social: reservado a produtores
marginalizados ou que não recorrem à mão de obra assa-
lariada (a diferença das grandes e médias empresas rurais
que se beneciam também do comércio justo internacio-
nal Norte/Sul).
23
Eric Sabourin
Para a FLO, são os produtos que são “justos” (a banana, o café) e
não os sistemas de produção, os produtores ou os consumidores; e
para que um produto entre no sistema, a FLO deve lhe atribuir um
preço. Esta lógica absurda, além de reproduzir o colonialismo e o im-
perialismo Norte-Sul, conduz a uma xação do preço calcada naquela
do mercado capitalista. Por exemplo, o preço justo xado em Bonn
pela FLO garante um preço mínimo aos produtores que, teoricamen-
te, deve corresponder ao seu “custo de produção sustentável”, a ser
pago apenas em caso do preço do mercado internacional car baixo
demais. Mas os produtores apenas recebem o preço do mercado de
troca capitalista quando este ca acima do preço mínimo.
A compra pública de produtos da agricultura familiar
No Brasil, a leitura econômica pelo prisma da produtividade e da
produção para a troca capitalista tende a homogeneizar uma visão
da agricultura familiar que não leva em conta diversas realidades e
formas locais de agricultura camponesa (GODOI. et al., 2009, WAN-
DERLEI, 2009, SABOURIN, 2009). Ela subestima a fragilidade e as utu-
ações rápidas e frequentes do mercado capitalista das grandes redes
(leite, cereais, carne etc.). Ela ignora a herança de diversos sistemas
camponeses locais que garantem ainda a produção das unidades fa-
miliares graças à sua autonomia do sistema de troca e a uma adapta-
ção às demandas de mercados diversicados.
O potencial de conquista de mercados de nicho especializados e
segmentados pelos agricultores familiares foi amplamente exagerado.
Além do mais, quando políticas de apoio especíco foram implemen-
tadas, a maioria do nanciamento foi captada ou desviada por agri-
cultores patronais.
A verdadeira diversicação passa pelo acesso a uma diversidade
de mercados, sejam eles locais, de proximidade, regionais, nacionais.
Passa também pela pluralidade das modalidades de acesso aos con-
sumidores via cadeias curtas que são mais fáceis de controlar pelos
produtores (venda direta na propriedade ou nas feiras, festas para
produtos típicos, venda às cooperativas de consumidores etc.).
O conjunto dessas práticas apresenta a característica comum de
diminuir o efeito da concorrência capitalista, reduzindo o cumpri-
mento da cadeia. Trata-se de mercados naturalmente, socialmente ou
geogracamente protegidos e territorializados. Mas nada impede o
Estado de criar também mercados politicamente protegidos.
É o caso dos mercados públicos de produtos alimentares que en-
volvem os hospitais, as cantinas das escolas, a regulação dos estoques
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nacionais ou estaduais e que podem ser implantados na escala dos
poderes municipais, regionais ou nacionais.
Uma experiência federal exemplar é paradoxalmente conduzida
no marco da Central de Abastecimento (Conab) do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (dedicado aos agricultores
patronais) em associação com o projeto Fome Zero gerenciado pelo
Ministério do Desenvolvimento Social. O Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) representa uma verdadeira ferramenta adaptada ao
fortalecimento da agricultura familiar e camponesa em despeito de
recursos ainda muito limitados (teto de 3.500 reais por família por
ano) (DELGADO. et al., 2007; SOUZA e CHMIELEWSKA, 2010).
O PAA compra a preço garantido todos os tipos de produtos da
agricultura familiar, incluindo os que não exigem o recurso ao crédito
(cultivos alimentares) e os produtos transformados na unidade (quei-
jos, doces, açúcar mascavo etc.).
Diante do sucesso desse programa, submetido a plebiscito pelas
organizações camponesas, o governo acaba de aumentar o teto por
família, multiplicar os recursos e diversicar a gama dos produtos e
das modalidades de acesso, em particular por meio das organizações
sindicais e cooperativas.
Os mercados públicos gerados pelas coletividades locais, em
interação com as organizações de agricultores, oferecem diversas
vantagens: encurtar redes, reduzir os custos de transação, facilitar o
controle de qualidade, preservando territorialidades econômicas de
reciprocidade (SABOURIN, 2006 e 2009).
Conclusão
Não é mais preciso hoje refazer a crítica da alienação ou dos riscos
de exclusão ligados ao desenvolvimento da economia de troca capi-
talista. É, portanto, importante saber qual alternativa ou qual limite
econômico podemos opor à concorrência para a competitividade e a
acumulação.
Um dos papéis essenciais do Estado e da ação pública é o de orga-
nizar a produção de bens públicos e de interesse geral. Trata-se, por-
tanto, de promover políticas capazes de separar os princípios de troca
dos princípios de reciprocidade ou ainda de regular as articulações
necessárias entre as duas lógicas.
Neste sentido, o artigo analisa vários casos de interface ou de arti-
culação entre a lógica da troca e a da reciprocidade:
• a articulação regulada pelo encontro físico direto entre pro-
dutor e consumidor no caso da venda direta ou nas feiras ou
25
Eric Sabourin
dos dispositivos manejados pelos produtores (ou entre consu-
midores e produtores);
• a mediação qualicada dos corretores ou ainda dos dispo-
sitivos de comércio justo e solidário ou dos dispositivos de
qualicação/certicação dos produtos quando respeitam as
regras da reciprocidade e se institucionalizam em estruturas
de reciprocidade ternária;
• as políticas públicas de regulação dos mercados quando ins-
tauram quotas (BARTHÉLEMY e NIEDDU, 2002), preços garan-
tidos, compras públicas ou mecanismos de comércio solidário.
Qualquer que seja a denição escolhida, a economia solidária deve
enfrentar as contradições inerentes à diferença entre as dinâmicas do
desenvolvimento econômico baseado na troca e aquelas do desenvol-
vimento econômico fundado em relações de reciprocidade (MATOS,
2006). Contudo, geralmente, à diferença da denição dada por Rous-
tang (2002, 2003), a maioria dos promotores da economia solidária
não reconhece essa tensão ou oposição dialética entre essas duas po-
laridades do comportamento humano.
Nesse sentido, surgem várias diculdades de articulação que re-
metem às dinâmicas próprias de cada uma das formas de economia
colocada em situação de hibridação, que constitui apenas uma das
formas de articulação entre lógica de troca e lógica de reciprocidade.
Trata-se da forma positiva onde opera uma complementaridade entre
relações de troca e relações de reciprocidade, como, por exemplo, no
caso dos mercados de proximidade (SABOURIN, 2006a e b; SABOURIN
e TYUIENON, 2007). Em outras situações, pode prevalecer a tensão
ou contradição entre as duas lógicas que leva a paralisar um dos dois
sistemas (TEMPLE, 2003). Podem ainda existir situações de coexistên-
cia separada: por exemplo, a coabitação de mercados de troca e de
mercados de reciprocidade nas mesmas feiras nas cidades dos países
Andinos (YAMPARA. et al., 2007; YAMPARA e TEMPLE, 2008).
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Resumo: (Comercialização dos produtos agrícolas e reciprocidade no Brasil).
Esse artigo apresenta uma análise pela reciprocidade da comercializa-
ção de produtos agropecuários no Brasil. O trabalho baseia-se numa
importante revisão bibliográca assim como em pesquisas de campo
do autor, em diversos países e no caso do Brasil no Nordeste, na
Amazônia e no Centro-Oeste. O texto é dividido em duas partes. A
primeira apresenta o referencial teórico sobre mercados e reciprocida-
de; a segunda trata de quatro estudos de caso no Brasil: as relações de
proximidade nos mercados agropecuários, o comércio justo e solidá-
rio, a certicação dos produtos e as compras públicas na agricultura
familiar.
Palavras-chave: certicação, comércio agropecuário, economia soli-
dária, reciprocidade.
33
Eric Sabourin
Abstract: (Agricultural products marketing and reciprocity in Brazil). This
article presents an analysis of reciprocity in agricultural products ma-
rketing in Brazil. The work is based on an important literature review
as well as the author’s eld research in several countries and in three
main regions of Brazil: Northeast, Amazon and the Midwest. The
text is divided into two parts. The rst presents the theoretical frame
work about markets and reciprocity; the second is derived from four
case studies in Brazil: the relations of proximity in agricultural ma-
rkets, fair trade, product certication and public purchases in family
farming.
Key words: Certication, Agri-food trade, Solidarity economics,
Reciprocity.
... Santos (2013) descreve as feiras livres como um panorama socioeconômico e cultural de algumas cidades. Pode-se acrescentar que, as feiras livres, não se configuram apenas como um ambiente de compra e venda, mas também de encontro e lazer, sendo um ambiente social, com características peculiares, onde as pessoas se encontram, trocam informações, fazem articulações políticas ou simplesmente se divertem (SABOURIN, 2013). ...
Article
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p>As feiras livres se apresentam como um espaço para a prática comercial varejista, do produtor familiar, de produtos in natura e processados, sendo um dos principais ambientes de preservação da cultura local, e interação entre o rural e o urbano, especialmente importante para a economia de cidade interioranas. O presente estudo objetivou identificar as melhores práticas utilizadas nos ambientes organizacionais da feira livre do município de Iporá (GO) e o centro de comercialização em Barra do Garças (MT), por meio da ferramenta de gestão denominada benchmarking, sendo utilizado como procedimento metodológico, entrevista com os representantes da feira de Iporá e Barra do Garças e aplicação de questionário à trinta feirantes de ambas as localidades. Constatou-se, a existência de desafios para a implantação do centro de comercialização em Iporá, quanto à percepção dos feirantes sobre a relevância da adequada estrutura física e o efetivo suporte da vigilância sanitária, para o rearranjo do ambiente. Quanto à Barra do Garças, o centro de comercialização modificou o espaço físico e padronizou os processos, reduzindo o número de frequentadores e vendas dos produtos. Conclui-se que, em ambos os locais de comercialização, quaisquer alterações no “espaço feira” devem resguardar as particularidades da modalidade tradicional de produção e venda.</p
... Na comercialização de produtos agropecuários, os camponeses (agricultores familiares) e suas organizações trabalham com distintas "faces". Uma delas é a venda direta que permite o encontro entre produtos e consumidor, como exemplo a venda na fazenda ou mercados de proximidade, com relações de troca entre o produtor e o comprador (Sabourin, 2013). ...
Article
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A preocupação por consumo de alimentos de qualidade, bem como alimentos orgânicos tem tomado grandes propor- ções, principalmente pela preocupação em manter hábitos mais saudáveis. Os alimentos orgânicos têm se destacado por não conter fertilizantes, agrotóxicos, pesticidas e outros sintéticos na sua cadeia de produção. A presente pes- quisa tem como objetivo avaliar a comercialização de produtos agrícolas convencionais e orgânicos no município de Santa Fé do Sul/SP na feira do produtor rural. Foram aplicados questionários com questões abertas e fechadas a 12 feirantes que comercializam exclusivamente produtos agrícolas. Com a análise dos dados foi possível notar que há o predomínio de pessoas do sexo masculino, com idade superior a 50 anos. A grande maioria utiliza na propriedade a mão de obra familiar, e os produtos convencionais tem um pequeno destaque em relação aos orgânicos, em ambos os sistemas de produção há o predomínio da comercialização por folhosas. Os problemas citados pelos produtores são a falta de água, prejudicando a colheita dos produtos e subsequência venda/comercialização. Como conclusão espera-se que esses comerciantes/produtores recebam uma melhor assistência técnica para suprir eventuais necessidades na propriedade, para que reflitam em melhoria na disponibilidade e comercialização dos produtos.
... A proximidade com os produtores permite que esses intermediários não quebrem as relações entre produtores e consumidores, conseguindo assim repassar informações que atribuem valores específicos aos produtos, informações adequadas sobre a produção e produtor, transmitindo, assim, confiança nesse processo. Esse tipo de intermediação é citado na literatura que estuda reciprocidade como uma corretagem (SABOURIN, 2013). Os intermediários entrevistados foram a Cooperativa Central do Cerrado, a rede de comercialização OCCA -Organização Coletiva do Cerrado Agroecológico, e o mercado Sustentável EVOLUA. ...
Chapter
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Temos o prazer de lançar o PRIMEIRO livro internacional voltado a área do desenvolvimento do ano de 2023, que tem como título Methodology focused on the area of interdisciplinarity, essa obra é editada pela Seven Publicações Ltda, tendo a composição de diversos capítulos voltados ao desenvolvimento e disseminação do conhecimento nas diversas áreas do desenvolvimento.
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Neste artigo, propomos enunciar aproximações entre as práticas presentes nas feiras-livres com elementos centrais da filosofia ameríndia do Bem Viver. Apesar da força do mercado varejista na venda de produtos alimentícios, a feira resiste com sua forma e conteúdo peculiares, sendo um importante espaço de comercialização da produção da agricultura familiar e tradicional e de acesso a alimentos saudáveis. As relações e sociabilidades que se desenrolam nesse espaço fazem da feira mais que mero mercado, sendo um lugar de ritmo, encontros, passeios, aonde se vai para comprar, para rever amigos, família, histórias de vida. Diante disso, nosso objetivo neste ensaio teórico é discutir a feira-livre como um espaço de resistência e uma experiência de Bem Viver, muito mais complexa do que a lógica economicista é capaz de compreender. Convivialidade, coletividade, pessoalidade, informalidade, confiança, vínculo territorial, saberes seculares, valorização cultural, outros modos de produção e consumo são alguns dos muitos elementos materiais e simbólicos que representam a feira-livre como um espaço plural que se expressa em uma ética e valores não exclusivamente mercadológicos. A feira é uma experiência de resistência que se materializa no cotidiano da classe trabalhadora, sejam estes produtores, feirantes ou consumidores. Defendê-la, colocando em evidência sua expressão social, que carrega símbolos contrários à modernidade ocidental, é promover a construção de caminhos para “adiar o fim do mundo” (KRENAK, 2019).
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Resumo: O potencial de inserção comercial de agricultores familiares em canais curtos de comercialização tem sido explorado por importantes estudos qualitativos. Este trabalho apresenta contribuições adicionais a esses esforços ao quantificar a participação de agricultores familiares nas feiras municipais. Verifica-se em que medida as feiras representam alternativas à inserção comercial ao proporcionar: (a) inclusão socioprodutiva dos agricultores familiares; (b) fortalecimento de canais curtos de comercialização; e (c) alternativa ao sistema agroalimentar industrial. A partir de dados quantitativos de 59 feiras, amostradas de um universo de 369 no estado de Goiás, detectou-se que 42,37% das feiras oferecem oportunidades de inclusão comercial aos agricultores familiares, 32,20% fortalecem canais curtos de comercialização e 35,59% funcionam como alternativa ao sistema agroalimentar industrial. Do total, 10,17% das feiras atendem aos três critérios supracitados concomitantemente. As regressões estatísticas revelam que: (1) quanto menor a porcentagem de atravessadores e maior a de agricultores ligados a organizações, maior é a possibilidade de a feira ter mais bancas da agricultura familiar; (2) quanto maior a relevância da feira como espaço de articulação entre agentes e para a catalisação de novos negócios entre agricultores, maior a possibilidade desse canal exercer influência na criação ou no fortalecimento de políticas públicas.
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throughout Brazil, the Familiar Agriculture Institutional Purchasing Programs for foods have brought a re-insertion in the market for the farmers and their families and the National Food for the Schools Program (PNAE) is its most significant example. It is, by far, the longest non-stop public policy in the country in this regard (since 1955); even though in 2009 new targets have been introduced, with a mandatory minimum purchase of 30% from the Familiar Agriculture (AF). The main objective of this study is to evaluate the challenges of implementing the PNAE, right after the changes occurred in 2009, over at Criciuma County, in Santa Catarina State, Brazil, starting in 2010 until 2015. From the Federal resources sent, 33% have been used to buy foods from the AF Program, though. As for the meals served in schools (menus), the majority is just inappropriate, with a high level of refined sugar been added, up to a level of 67% overall. It has been noted some factors that make things difficult for the Cooperatives to join the PNAE, even though the granted selling system has shown a fundamental element for granting a continuous income to the farmers. In the Criciuma County, the PNAE needs a bigger commitment from the public sector and a better interaction among the other involved parties, in order to contribute to the strength of the Food and Nutritional Safety Program (SAN).
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Sob o enfoque das teorias da Nova Economia Insttucional (NEI), o presente trabalho tem por objetvo verifcar a inserção comercial da agricultura familiar no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), no Território Rural Médio Araguaia, Goiás (GO), com a fnalidade de se compreender até que ponto a NEI é útl para se entender as questões e peculiaridades que envolvem os agricultores familiares. Por meio do método dialétco, da pesquisa bibliográfca e dos dados obtdos a partr da porcentagem de aquisição da agricultura familiar via Pnae dos 21 (vinte e um) municípios do Território Médio Araguaia, GO, através das sedes das subsecretarias estaduais de educação nos municípios de Iporá, Piranhas e Jussara, nos anos de 2014 e 2015, foi possível verifcar o comportamento dos agentes e dos agricultores envolvidos no Pnae, demonstrando como a racionalidade limitada e o oportunismo dos agentes, a assimetria de informação entre e dentro das organizações, os custos de transação, a especifcidade dos atvos, os contratos e a estrutura de governança podem ajudar a compreender e explicar os processos econômicos dos agricultores familiares. Assim, verifcou-se que as polítcas públicas de assessoria às organizações da agricultura familiar, como o Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (Nedet), são importantes para a efetvação da inclusão produtva dos agricultores familiares, podendo ainda problematzar as transações com uma maior precisão ao analisá-las com foco na teoria sustentada pela NEI, embora a lógica produtva dos agricultores familiares não se concentre apenas no viés econômico.
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Este artículo aborda el fenómeno enraizamiento social en tres casos de circuitos para comercialización de orgánicos, estudiados comparativamente. Feria Ecológica de Laranjeiras do Sul, Orgánicos Rio de Una y Circuito Sur de la Red Ecovida. Proponemos retomar la inmersión social sobre las organizaciones, relativo a los agricultores, cómo el mercado de trabajo para la tesis de Mark Granovetter. Visitamos las categorías del embeddedness, reflejando las expresiones desde Polanyi, seguido de los casos estudiados, por el método de entrevistas con pautas semiestructuradas, analizadas en núcleos de significados. Se destacan procesos de toma de decisiones, comunidades y participación de los agricultores. Apuntamos la superación de las limitaciones en contextos centrados en el mercado, mediante el desarrollo socio-técnico, al redefinirse canales de acceso, difusión de conocimiento, intercambio entre redes, en interacciones por la fuerza de vínculos sociales y en la medida que es preponderante para decisiones sobre transición agroecológica.
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Cet ouvrage analyse les fondements juridiques, économiques et sociologiques de la multifonctionnalité agricole. Après avoir resitué celle-ci dans une perspective historique, les auteurs s'interrogent sur le débat international et les transformations en cours (sécurité alimentaire, aménagement rural, environnement…). Ils en situent l’enjeu théorique et pratique dans la dialectique qu’ils observent entre activités marchandes et non marchandes. Les études de cas montrent qu’il faut abandonner la vision d’un mouvement unilatéral vers une société de marché – voie dans laquelle les pays dits développés seraient les plus avancés – et que l’on est en présence d’un double mouvement, complémentaire et contradictoire, vers le marché et l’identité.
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Abstract: Last years, new forms of collective action among Northeast smallholders have been developed by peasant communities and family farmer’s organisations. This is the case of seeds banks, revolving funds, farmers’ experimentation groups, alternative marketing groups. The paper analyses the origins, the growing factors, the impact of these local or regional initiatives and their relationship with social movements on one hand and with public institutions on the other hand. These small holders groups constitute collective devices for natural resources management (water, grazing, forest, seeds and bio-diversity) or for public goods production (information, training, access to innovation and to specific markets). In the Northeast, particularly in the State of Paraíba, several of these experiences have mobilised social and socio-professional networks among civil society. They led to the expression of some claims through hybrid forums or commissions (water, seeds, semi-arid) in order to get a public recognising or, better, a public support, from State institutions. The authors analyse the first teaching and limits of these new forms of interaction between rural and peasant collective action and State public policies. The notion of solidarity economy is questioned, and, especially the problem of the origin of human values associated to interpersonal relationship in this kind of collective institutional devices.
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One of the difficulties of family and peasant farming lies in access to partial and diversified markets adapted to their specific socio-economic characteristics, based on family work and the fusion between domestic and productive units. Brazilian family farmers and organized civil society have promoted initiatives to add value to products and access markets linked to forms of social organization and inscribed in specific territorial dynamics, marked by proximity and identity. These initiatives, built from experiences of direct selling or control of short chains by producers, started to include mechanisms for social construction of diversified markets and product qualification. These experiences can be analyzed in terms of relations of reciprocity associating a commercial material transaction to a specific human relationship, which adds social value to the exchange value. The economic difficulty of constructing an adapted and fair exchange value for the producer as well as for the consumer lies in the contradiction between the reciprocity system that considers people's needs and the capitalist exchange system that privileges competition for the private accumulation of profit. Recently, these collective initiatives are finding a certain echo in the public policies of fair trade and solidarity implemented by the Secretariat of solidarity economy in collaboration with the Ministry of agrarian development. These are, for example, the group qualification and certification systems, the Food Acquisition Program, the Secafes (state family farming and solidarity economy trade systems) and the national system of fair and solidarity trade. These public instruments and regulations offer legal protection and protect the family farm or solidarity economy product from the unequal competition of the capitalist exchange market. They constitute a system interface allowing the articulation of production generated by reciprocity units to a market dominated by the logic of capitalist competitiveness. Reading these experiences through the theory of reciprocity offers alternatives to capitalist exploitation, to unequal exchange and, at the same time, allows us to value the specific attributes of local territories and the human, affective and identity values generated by symmetrical reciprocal relationships. Key words: commercialization, family and peasant agriculture, reciprocity, solidarity economy, fair trade, product qualification, certification, public markets.
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Le cas « Université paysanne Unicampo » traite d’une expérience collective de formation en milieu rural mise en place depuis septembre 2003 dans la région du Cariri, État du Paraíba au Nordeste au Brésil. L’objectif du projet Unicampo est de développer des compétences locales en matière d’appui à l’agriculture familiale et au développement rural durable à travers la formation de leaders paysans. Il s’agit de stimuler leur capital technique, social et culturel à partir de méthodes de recherche-action-formation. La formation est offerte par l’Université fédérale de Campina Grande (UFCG), dans le cadre d’un partenariat articulant un pôle universitaire décentralisé dans la région du Cariri avec divers acteurs du développement régional, dont des ONG locales. Il est également porté et cofinancé par le Centre de coopération internationale en recherche agronomique pour le développement (Cirad). Pour l’ensemble des enseignants-chercheurs impliqués, ce projet a un statut d’expérimentation pédagogique et organisationnelle, visant un haut niveau d’interactions entre formateurs et formés tant sur les contenus de formation que sur le cadre socio-politique conditionnant les possibilités de développement local. Cette expérience est considérée comme la première étape vers la construction de l’Université paysanne du Brésil (Caniello et al., 2003). L’UFCG et le ministère du Développement agraire (MDA) ont déjà pris date pour créer de nouveaux sites de l’Université paysanne au Nordeste. Une reproduction à l’identique dans des situations différentes étant impossible, de par les spécificités et le caractère expérimental de la formation Unicampo, il convenait de formaliser et de systématiser méthode et contenus pour qu’ils puissent être partiellement répliqués ou réadaptés.
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Cette communication se situe dans la perspective de l’analyse de l’action publique territorialisée et participative de développement rural, dans le contexte de la création du Territoire Rural Aguas Emendadas dans le Centre Ouest du Brésil. Le cadre d’analyse est posé par l’association dans le cadre politique du Ministère du Développement Agraire brésilien (MDA) de trois processus qui ne sont ni donnés, ni du même ordre : la décentralisation des décisions, l’approche globale et territoriale du développement rural et la participation de la population. En termes de recomposition de l’action publique, la question abordée est celle de la contribution des dispositifs collectifs et des organisations de producteurs à la rénovation des politiques publiques de développement rural. La communication examine notamment l’efficacité sociopolitique des nouvelles procédures d’appui à l’agriculture familiale fondées sur la participation.
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Les productions multiples, spécifiques de la multifonctionnalité sont souvent séparées en productions marchandes et non marchandes, le contenu de ces deux notions étant rarement spécifié. Or la relation marchande crée seulement un lien temporaire, qui ne dure que le temps de l'échange. Le fonctionnement de l'économie nécessite la production ou le maintien de biens exprimant l'identité de groupes particuliers et participant de la pérennité de ceux-ci, en tant qu'éléments des patrimoines spécifiques dont ils sont titulaires : patrimoines culturels, professionnels, naturels... Ces biens identitaires, par nature extérieurs aux relations marchandes, forment le contrepoids nécessaire à la production de biens marchands. L'examen de la PAC met en évidence la création de tels biens identitaires, dont la production ou le maintien, parallèlement et distinctement à celle des biens marchands, permet de qualifier positivement la notion de non marchand et d'analyser la multifonctionnalité agricole comme refondation identitaire.
Article
Este artículo trata sobre el impacto de las normas en el comercio justo. Se presenta el fenómeno histórico de la elaboración de normas en el comercio justo: la normalización del comercio justo es un fenómeno reciente, que empieza en los 90 con la introducción de productos en las grandes cadenas comerciales. Desde el año 2000, asistimos a una multiplicación de normas en el comercio justo y a una normalización de este intercambio comercial con su introducción en los textos de ley. La segunda parte del artículo se refiere al impacto de las normas en el comercio justo, con un enfoque en la cuestión de la calidad y seguridad alimenticias. Se basa en el análisis que la normalización del comercio justo tuvo un impacto evidente sobre toda la cadena de producción. Los efectos se refieren no sólo a los modos de producir, sino también a los modos de comprar, vender y consumir. Por último, como conclusión se muestran los desafíos de la normalización sobre las normas de calidad alimenticia en el comercio justo: al querer someterse excesivamente a los preceptos de la normalización, el comercio justo corre el riesgo de perder su sentido.