Resumo: O essencialismo biológico e o androcentrismo são ainda estruturais nas sociedades contemporâneas aonde persistem várias formas de desigualdade entre homens e mulheres, assim como vários tipos de violência contra as mulheres. No cenário brasileiro, a cada cinco minutos uma mulher é agredida, vítima de violência doméstica (Waiselfisz, 2012). No Rio Grande do Norte, houve um crescimento de quase 100% das taxas de homicídio de mulheres entre 2006 e 2013, sendo o segundo pior estado brasileiro neste ranking (Waiselfisz, 2015). Entre outras problemáticas que urge questionar atualmente, situamos o debate, por um lado, em torno do papel e da importância que tem tido a mídia na revelação destes fenômenos, assim contribuindo para elevar o grau de reflexividade dos sujeitos sociais acerca desta problemática, e por outro, na sua desconstrução efetiva, contribuindo para a mudança de comportamentos e atitudes. Assim, fazendo uma análise à cobertura jornalística dos casos de violência contra as mulheres presentes no jornal Tribuna do Norte desde a Lei Maria da Penha até à atualidade, procuramos evidenciar a tipologia de casos relatados, assim como o sentido e os significados construídos no próprio processo discursivo de narração e, por vezes, de espetacularização característica nestas situações. Contamos com o alinhamento teórico diverso, nomeadamente a partir das análises de gênero e mídia e outros relacionados com a construção social da desigualdade e discriminação. Palavras-chave: Violência contra as mulheres.Mídia. Evolução Legislativa. Cobertura Jornalística. Rio Grande do Norte. Introdução Diariamente milhares de pessoas, de todos os continentes, sofrem algum tipo de violência. Isto se acentua se pensamos em grupos quese mantiveram por séculos subordinados e/ou vulneráveis a outros grupos dominantes. Afirmam Bandeira e Batista que "Até há pouco, bater em mulheres, negros e homossexuais [...] era uma prática corriqueira, mas despercebida como uma forma de violência na sociedade. Os alvos da violência escondiam-se no próprio sofrimento sem poder nomeá-lo, denunciá-lo ou compreendê-lo" (2002, pp. 119-120).Hermes expõe que o preconceito tem definido o direcionamento da violência ao longo dos séculos "de um determinado grupo maior sobre os pequenos grupos, com a formação desse grupo abrangendo diversos espectros dessa cadeia de mortes e agressões, como a etnia, a religião, os times de futebol e o gênero" (2015, p. 14). O século XX foi marcado por profundas transformações ambientais, econômicas, tecnológicas, sociaise culturais, mas este tipo de violência, profundamente relacionado com os costumes e a cultura, ainda permanece comum no século XXI. Hobsbawn (1988 apud Araújo, 2013, p. 14) defende que a cultura se (re)territorializa por meio da circulação das pessoas pelo mundo. Wieviorka (2006 apud Araújo, 2013, p. 15) aponta que com o processo e circulação global de