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Produção de mudas de espécies das Restingas do Município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Authors:

Abstract and Figures

The impact of human activities on the Restingas has been so intense in recent decades that there is now an urgent need for conservation of remnant patches and restoration of degraded areas. The production of seedlings is an important phase in the restoration process. Phenological data obtained for 72 species showed a wide variation in the timing and duration of fruiting. Therefore, seed harvest should take place continuously throughout the year in order to cover a high diversity of species. Fifty per cent of the 72 species showed no restrictions for seedling production. The necessary timing for the beginning of shoot emergence and for maximum germination percentage were compared for 44 species. The large amplitude of intra- and interspecific variation suggests the occurrence of distinct types of dormancy. The great viability of seedling production of Restinga plants may further incentive ongoing initiatives of restoration of degraded Restingas and of recuperation of natural populations of threatened species.
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Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004
Produção de mudas de espécies das Restingas do
município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil1
Luiz Roberto Zamith2,4 e Fábio Rubio Scarano3
Recebido em 15/07/2002. Aceito em 03/08/2003
RESUMO – (Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Os impactos antrópicos sobre as
Restingas vêm se intensificando de tal forma nas últimas décadas que hoje é prioritária a conservação dos poucos remanescentes existentes
e a restauração de áreas degradadas. A produção de mudas é etapa importante neste processo. Dados fenológicos obtidos para 72 espécies
mostraram grande variação na época e na duração da frutificação, indicando que a colheita de sementes deve ser realizada ininterruptamente
ao longo do ano, para que seja obtida diversidade expressiva de espécies. Cinqüenta por cento destas espécies não apresentaram qualquer
restrição para a produção de mudas. O tempo necessário para o início da emergência da parte aérea e/ou a percentagem máxima de germinação
foram comparados para 44 espécies e as grandes amplitudes de variação intra- e interespecíficas encontradas sugerem a ocorrência de vários
tipos de dormência. Os resultados indicam a grande viabilidade da produção de mudas destinadas a futuros plantios como estratégia a ser
utilizada para a recuperação das populações naturais de espécies ameaçadas e para a restauração de Restingas degradadas.
Palavras-chave: fenologia, germinação, produção de mudas, restauração ambiental, Restinga
ABSTRACT – (Seedling production of Restinga species of Rio de Janeiro Municipality, RJ, Brazil). The impact of human activities on the
Restingas has been so intense in recent decades that there is now an urgent need for conservation of remnant patches and restoration of
degraded areas. The production of seedlings is an important phase in the restoration process. Phenological data obtained for 72 species
showed a wide variation in the timing and duration of fruiting. Therefore, seed harvest should take place continuously throughout the year
in order to cover a high diversity of species. Fifty per cent of the 72 species showed no restrictions for seedling production. The necessary
timing for the beginning of shoot emergence and for maximum germination percentage were compared for 44 species. The large amplitude
of intra- and interspecific variation suggests the occurrence of distinct types of dormancy. The great viability of seedling production of
Restinga plants may further incentive ongoing initiatives of restoration of degraded Restingas and of recuperation of natural populations of
threatened species.
Key words: phenology, germination, seedling production, restoration, Restinga
Introdução
A necessidade de recomposição de ecossistemas
degradados demanda o desenvolvimento de tecnologias
de produção de mudas nativas, envolvendo a
identificação botânica das espécies, métodos de colheita,
beneficiamento e armazenamento de sementes,
mecanismos de dormência e germinação de sementes,
embalagens, substrato e manejo de mudas. O
desenvolvimento destas técnicas é complexo devido à
grande diversidade intra- e interespecífica, aliada à pouca
informação científica existente sobre este assunto
(Vásquez-Yanes & Orozco-Segovia 1993; Davide et al.
1995).
Dentro de um programa de produção de mudas, o
conhecimento do tempo necessário para a germinação
de uma espécie tem grande importância por permitir
planejamento da utilização dos espaços, geralmente
limitados nos canteiros destinados à germinação das
plântulas. Entretanto, as características da germinação
das espécies nativas são pouco conhecidas,
representando menos de 0,1% das prescrições e
recomendações de sementes florestais nas Regras para
Análises de Sementes – RAS (Oliveira et al. 1989).
Experiências anteriores quanto à produção de
mudas visando a recuperação de áreas degradadas para
ecossistemas brasileiros como Amazônia (Bozelli &
Esteves 2000), Mata Atlântica (Rodrigues & Leitão-
1Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro Autor
2Fundação Parques e Jardins, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Rua Ângelo Agostini 16/304,
CEP 20521-290, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3Universidade Federal do Rio de Janeiro CCS, IB, Departamento de Ecologia, C. Postal 68.020, CEP 21941-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
4Autor para correspondência
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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Filho 2000) e Mangue (Eysink et al. 1998) indicam o
freqüente sucesso destas iniciativas. No entanto, faltam
experiências análogas para o bioma Restinga. De fato,
Lucas & Frigeri (1990) ressaltaram que apesar das
pressões de devastação a que vem sendo submetida, a
flora de Restinga tem sido escassamente estudada no
que se refere à propagação sexuada. Os estudos
existentes acerca da fenologia (Freire 1983; Fialho &
Furtado 1993; Castellani et al. 1999; Garcia 1999;
Godinho & Mello Filho 1999), biologia de germinação
(Freire 1983; Lucas & Frigeri 1990; Fialho & Furtado
1993; Figueira et al. 1994; Lucas & Togneri 1994;
Garcia 1999), e crescimento de plântulas (Dummer &
Lucas 1994; Lucas & Togneri 1994), na sua maioria
discutiram estes aspectos desvinculadamente do objetivo
de recuperação de áreas degradadas. Araujo & Peixoto
(1977) e Cirne & Scarano (1996; 2001) discutiram a
recuperação espontânea de áreas e/ou espécies de
Restinga após fogo induzido pelo homem, destacando
rebrotamento e reprodução assexuada como
importantes componentes no sucesso deste processo.
Este artigo apresenta uma síntese dos principais
resultados obtidos ao longo de oito anos de produção de
mudas de Restinga dentro das atividades do Projeto Flora
do Litoral, desenvolvido no Horto Carlos Toledo Rizzini
(Fundação Parques e Jardins, Secretaria Municipal de
Meio Ambiente, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro),
onde as mudas se destinavam à recuperação de áreas
degradadas de Restinga no município do Rio de Janeiro.
As várias etapas de produção de mudas, desde a colheita
de sementes no campo até a repicagem das plântulas
para embalagens plásticas, são analisadas neste estudo.
O objetivo central do artigo foi avaliar a viabilidade da
produção de mudas de espécies nativas de Restinga
em viveiro.
Material e métodos
Áreas de estudo - as sementes foram colhidas entre
os anos 1992 e 2000 nas Restingas remanescentes do
município do Rio de Janeiro, nas seguintes unidades de
conservação: Áreas de Proteção Ambiental (APA) de
Grumari e do Parque Ecológico de Marapendi, Parques
Arruda Câmara e Chico Mendes e na Restinga da
Marambaia, localizadas entre as coordenadas 22º59’ -
23º03’S e 43º22’ - 43º35’W. O clima da cidade do Rio
de Janeiro é quente e úmido, tipo Aw de Köppen, com
temperatura média de 23,7ºC, máxima absoluta de
38,2ºC, mínima absoluta de 11,1ºC, precipitação média
anual de 1.172,9mm e média anual de umidade relativa
do ar de 79%, de acordo com dados do Instituto Nacional
de Meteorologia (DNMET 1992) para o período entre
1973 e 1990. Também foram colhidas sementes
provenientes de indivíduos localizados em terrenos
particulares ou áreas públicas dos bairros da Barra da
Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes.
Todas as etapas da produção de mudas, incluindo
o beneficiamento dos frutos, armazenamento, semeadura
e monitoramento da germinação, da repicagem e do
desenvolvimento das mudas foram implementadas a
partir de 1994 no Horto Carlos Toledo Rizzini. O Horto
possui 7.000m2 de área total e localiza-se no Parque
Arruda Câmara, município do Rio de Janeiro.
Seleção de espécies e fenologia de frutificação -
como o destino prioritário das mudas produzidas seria o
plantio em áreas degradadas em unidades de
conservação localizadas na Baixada de Jacarepaguá,
a principal orientação para a seleção das espécies foi a
listagem das espécies ocorrentes nesta área (Araujo &
Henriques 1984). Também foram levados em conta a
disponibilidade de sementes, o grau de raridade e/ou
ameaça de extinção, a presença em outras formações
vegetais de Restinga (Lacerda et al. 1993), além da
presença de espécies encontradas em áreas de
regeneração natural (Kageyama & Gandara 2000).
Para o registro dos períodos de frutificação foram
considerados indivíduos das várias populações nas
diferentes áreas de estudo, não sendo acompanhados
necessariamente os mesmos indivíduos, conforme
sugerem Morellato & Leitão-Filho (1996). Este método
é indicado quando algumas espécies não têm padrões
de sincronicidade de floração e frutificação (Justiniano
& Fredericksen 2000), caso de algumas espécies
ocorrentes nas Restingas. Os dados da fenologia de
frutificação apresentados são o resultado da soma das
observações realizadas entre os anos de 1992 e 2000,
em visitas de periodicidade variável em todas as áreas
estudadas. Neste estudo, cada observação de
frutificação de uma espécie em determinado mês, em
determinado ano, em qualquer uma das áreas, foi
considerada como um evento de frutificação. Devido a
diferença observada quanto aos padrões de frutificação,
para a análise dos períodos de dispersão, as espécies
foram separadas em dois grupos: espécies de dispersão
anemocórica e não anemocórica.
Colheita de sementes - a princípio, as colheitas de
sementes foram realizadas a partir de caminhadas
aleatórias nas áreas de estudo, quando foram registradas
as espécies em floração e frutificação. A continuidade
das visitas possibilitou a elaboração de fenogramas de
frutificação para as diferentes espécies, permitindo a
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criação de planos mensais de colheita para as diferentes
áreas, direcionando e otimizando esta etapa da produção
de mudas.
Uma vez maduros, os frutos e as sementes eram
colhidos manualmente ou com o auxílio de “podões” ou
tesouras de poda. Em alguns casos, frutos já liberados
e encontrados sobre o solo abaixo dos indivíduos foram
também aproveitados. Em cada evento de colheita, para
cada uma das espécies estudadas, procurou-se obter
sementes do maior número possível de indivíduos nas
diferentes populações, visando assegurar um mínimo de
variabilidade genética dentro dos lotes de plântulas a
serem produzidas.
A listagem das espécies estudadas segue a
classificação de Cronquist (1988), com exceção de
Leguminosae que, de acordo com o critério adotado por
Araujo (2000), foi tratada como uma única família. Os
nomes dos autores das espécies seguem as abreviações
reconhecidas por Brummit & Powell (1992).
Tratamento das sementes - após a colheita dos
frutos, as sementes foram retiradas por maceramento
e lavagem sob água corrente, abertura natural ou
forçada, ou permaneciam nos frutos, dependendo da
espécie. Caso as sementes não fossem imediatamente
semeadas, passavam por período de secagem ao ar livre
e eram armazenadas em sacos plásticos em sala à
temperatura ambiente.
Anteriormente à semeadura, as sementes eram
pesadas em balança de precisão para a estimativa da
quantidade total de sementes do lote a ser semeado,
para futura apuração das taxas de germinação. Todo o
lote de sementes colhido era disponibilizado para a
semeadura, sem a separação prévia das sementes
potencialmente inviáveis.
Para espécies cujos percentuais de germinação
eram baixos e a germinação ocorria naturalmente após
60 dias foram conduzidos diferentes tratamentos para a
quebra de dormência, principalmente imersão em água
à temperatura ambiente por 24 ou 48h, imersão em água
fervente, lavagem sob água corrente para a retirada do
arilo, e escarificação mecânica.
Semeadura e tempo de germinação - as
semeaduras foram realizadas em canteiros ao ar livre,
contendo areia de Restinga como substrato. Este
substrato foi escolhido principalmente por minimizar
problemas relacionados à infestação por fungos,
conforme constatado através de experimentos
preliminares, e por não trazerem sementes de ervas
daninhas e serem de fácil drenagem (Davide et al.
1995). Estes canteiros foram cobertos com telas
removíveis de poliolefinas de cor preta (sombrite)
capazes de reduzir a radiação luminosa em 50%, e
irrigados diariamente por microaspersão pela manhã e
ao final da tarde, em quantidade suficiente para manter
o substrato úmido. A ocorrência de chuvas suspendia a
irrigação para aquele dia.
Para a obtenção de plântulas de Melocactus
violaceus, espécie rara (Araujo & Maciel 1998),
ameaçada de extinção (PCRJ 2000) e com baixos
percentuais de germinação nas condições de viveiro, as
sementes foram colocadas em caixas plásticas (Gerbox)
sobre areia de Restinga previamente esterilizada em
estufa a 150ºC por 2 horas, em câmaras de germinação
com temperaturas alternadas de 20-35ºC (noite e dia) e
fotoperíodo de 12 horas.
Para o acompanhamento do início da germinação,
as sementeiras foram visitadas de 2 em 2 dias. Foi
considerado como germinação a emissão de parte aérea
pela plântula. No caso de Melocactus violaceus a
protrusão da radícula foi considerada como indício da
germinação, uma vez que as sementes estavam sobre o
substrato, permitindo a verificação desta etapa da
germinação.
Repicagem e percentagem de germinação - as
plântulas foram preferencialmente repicadas após a
emissão do primeiro par de folhas, sendo então
removidas para embalagens individuais de polietileno
preto previamente encanteiradas em telados revestidos
por telas sombrite 50%. O critério para a escolha do
tamanho da embalagem foi o desenvolvimento pretérito
de plântulas da espécie dentro de cada recipiente. A
percentagem de germinação do lote foi obtida através
do seguinte cálculo: % Germ = RT × 100/S, onde:
% Germ = percentagem de germinação do lote; RT =
número total de plântulas repicadas, resultado do
somatório de todas as plântulas repicadas ao longo das
repicagens parciais; e S = número total de sementes
estimadas através da pesagem anterior à semeadura.
Para o cálculo da percentagem média e máxima de
germinação foram desprezados os lotes nos quais não
ocorreu germinação, pois assumiu-se que problemas
relacionados à inadequação do período de colheita,
duração e condições de armazenamento, substrato,
luminosidade e irrigação poderiam ter inviabilizado a
germinação.
Após cerca de 40 dias de permanência no telado,
as plântulas de espécies que em observações anteriores
apresentaram resistência à exposição à luz solar direta,
foram transportadas para canteiros a pleno sol. Nestes
foram mantidas até atingirem cerca de 50cm alt., quando
eram consideradas aptas para a utilização nos plantios.
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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As espécies de sub-bosque, ou ao menos aquelas
exigentes de sombra por período maior de
desenvolvimento, eram mantidas no interior do telado.
No momento do transporte das mudas para os
canteiros a pleno sol, as plântulas eram contadas e
através da comparação com o número de plântulas
repicadas, eram obtidos os percentuais de sobrevivência
à repicagem, de acordo com a fórmula: % SOB = PS ×
100/RT, onde: % SOB = percentagem de plântulas
sobreviventes à repicagem; PS = número de plântulas
transportadas do telado para os canteiros a pleno sol; e
RT = número total de plântulas repicadas.
Resultados e discussão
Fenologia de frutificação - a listagem das espécies
mencionadas neste artigo, com o nome dos autores e o
nome vulgar, está em ordem alfabética por família na
Tabela 1. Foi registrada a ocorrência de frutificação
para 95 espécies; no entanto, para a elaboração do
fenograma de frutificação (Tab. 2) e demais análises,
só foram consideradas as 72 espécies que tiveram no
mínimo 4 eventos de frutificação distintos no período
acima. Das 23 espécies com menos de quatro eventos
observados, 10 (Abarema sp., Abutilon esculentum,
Desmoncus orthacanthos, Dichorisandra
thyrsiflora, Ficus hirsuta, Ilex sp., Lantana sp.,
Psychotria sp., Sapium glandulatum e Sideroxylon
obtusifolium) são raras nas áreas de coleta. As outras
13 espécies não foram priorizadas para a produção por
ocorrerem em grande número nas áreas a serem
recuperadas (Dalbergia ecastophyllum, Tibouchina
clavata, Tibouchina trichopoda), ou por exigirem
infra-estrutura para a produção de mudas não disponível
no período de estudo (Aechmea nudicaulis, Amaryllis
sp., Allagoptera arenaria, Anacardium occidentale,
Bromelia antiacantha, Cereus fernambucensis,
Cyrtopodium polyphyllum, Ficus clusiifolia, Smilax
rufescens e Vriesea neoglutinosa), sendo portanto
pouco acompanhadas quanto à frutificação.
Observou-se regularidade na oferta de frutos ao
longo do ano, sendo este padrão comum para vegetações
tropicais em geral (Fenner 1985). Em 10 meses, o número
de espécies em frutificação variou de 37 a 43, com
redução em junho (28) e pequeno aumento em outubro
(46). Este resultado foi fortemente influenciado pelas
espécies de dispersão não anemocórica, e principalmente
as zoocóricas, sugerindo relativa constância na
disponibilidade de recursos alimentares para a fauna.
Lacerda et al. (1993) referiram-se à capacidade das
comunidades de Restinga interna abrigarem grande
variedade de espécies animais, por causa do
florescimento e frutificação contínuo ao longo do ano,
fornecendo abundante e variada fonte de recursos
alimentares. Morellato (1991) obteve resultados
semelhantes estudando uma floresta tropical
semidecídua no sudeste do Estado de São Paulo, onde
observou a produção de bagas por árvores e arbustos
ao longo de todo o ano. Castellani et al. (1999),
estudando a vegetação de dunas frontais da Praia de
Joaquina, Santa Catarina, também observaram espécies
frutificando ao longo de todo o ano, porém encontraram
maior número frutificando no período quente e
super-úmido, de fevereiro a maio, e menor número em
julho e agosto. Machado et al. (1997) obtiveram
resultados similares na caatinga de Pernambuco.
Descrevendo características de sementes dispersas
pelo vento, Fenner (1985) ressaltou que qualquer padrão
estrutural que reduza a velocidade de queda de uma
semente após a liberação do fruto aumenta as
possibilidades delas serem transportadas lateralmente
pelos ventos, o que é facilitado pela presença de
apêndices; como asas, pêlos ou plumas. Das 72 espécies,
observou-se que 7 (9,7%) apresentaram estes
apêndices; Arrabidaea conjugata, Aspidosperma
parvifolium, Lundia cordata e Tabebuia cassinoides
possuem sementes aladas dispostas em frutos
deiscentes; Heteropterys sp. e Machaerium
lanceolatum têm frutos do tipo sâmara e
Pseudobombax grandiflorum apresenta sementes
envolvidas por paina que facilita a flutuação após a
liberação do fruto. Com exceção de T. cassinoides que
dispersa sementes durante todo o ano, sendo espécie
de frutificação contínua (Newstrom et al. 1994), todas
as demais espécies anemocóricas dispersam seus frutos
entre maio e outubro (Fig. 1A), confirmando a tendência
deste tipo de dispersão ocorrer durante a estação mais
seca. Em outros ecossistemas brasileiros este padrão
foi relatado para árvores e arbustos (Morellato 1991); e
trepadeiras (Morellato & Leitão-Filho 1996) da floresta
semidecídua tropical no Estado de São Paulo; árvores
do Cerrado (Braz et al. 2000) e em árvores e arbustos
da Caatinga de Pernambuco (Machado et al. 1997),
sendo também descrito para florestas neotropicais e
subtropicais (Justiniano & Fredericksen 2000).
Contrariamente às espécies de dispersão
anemocórica que apresentaram pico de frutificação na
estação mais seca, as 65 espécies com outros tipos de
dispersão (Fig. 1B) apresentaram distribuição da
frutificação mais homogênea. De outubro a maio, meses
de maior precipitação, este número variou de 37 a 41
espécies, havendo decréscimo mais acentuado em junho
Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004 165
AMARYLLIDACEAE
Amaryllis sp.
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L. cajueiro
Schinus terebinthifolius Raddi aroeira
Tapirira guianensis Aubl. pau-pombo
ANNONACEAE
Annona glabra L.
APOCYNACEAE
Aspidosperma parvifolium A. DC. pequiá, peroba-da-praia
AQUIFOLIACEAE
Ilex amara (Vell.) Loes.
Ilex sp.
ARECACEAE
Allagoptera arenaria (Gomes) guriri
Kuntze
Bactris setosa Mart. tucum
Desmoncus orthacanthos Mart. jacitara
BIGNONIACEAE
Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart.
Lundia cordata DC.
Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. pau-de-tamanco, caixeta
BOMBACACEAE
Pseudobombax grandiflorum embiruçu
(Cav.) A. Robyns
BROMELIACEAE
Aechmea nudicaulis (L.) Griseb
Bromelia antiacantha Bertol. gravatá
Vriesea neoglutinosa Mez gravatá
BURSERACEAE
Protium icicariba (DC.) Marchand incenso
CACTACEAE
Cereus fernambucensis Lem. cardeiro
Melocactus violaceus Pfeiff. coroa-de-frade
Pilosocereus arrabidae (Lem.) mandacarú
Byles & G.D. Rowley.
CAPPARACEAE
Capparis flexuosa (L.) L. feijão-de-boi
CELASTRACEAE
Maytenus obtusifolia Mart. carne-de-anta
CHRYSOBALANACEAE
Couepia ovalifolia (Schott) Benth. oiti-da-praia
CLUSIACEAE
Clusia fluminensis Planch. & Triana abaneiro
C. lanceolata Cambess. cebola-da-praia
Garcinia brasiliensis Mart. bacopari
COMMELINACEAE
Dichorisandra thyrsiflora Mikan. trapoeraba-azul
CONNARACEAE
Connarus nodosus Baker
CONVOLVULACEAE
Ipomoea pes-caprae (L.) Sweet salsa-da-praia
ERICACEAE
Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) loureiro-de-jardim
Meisn.
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum ovalifolium Peyr. fruta-de-pomba
EUPHORBIACEAE
Alchornea triplinervia (Spreng.) tapiá-mirim
Müll. Arg.
Pera glabrata Baill. sete-cascas
Sapium glandulatum (Vell.) Pax
GOODENIACEAE
Scaevola plumieri (L.) Vahl mangue-da-praia
HUMIRIACEAE
Humiria balsamifera (Aubl.)
A.St.-Hil. umiri
LAURACEAE
Ocotea sp. canela
LEG.-CAESALPINIOIDEAE
Chamaecrista ensiformis (Vell.)
H.S. Irwin & R.C. Barneby
C. ramosa (Vogel)
H.S. Irwin & R.C. Barneby
Senna australis (Vell.) fedegoso-nativo
H.S. Irwin & R.C. Barneby
S. pendula (Willd.) canudo-de-pito
H.S. Irwin & R.C. Barneby
Zollernia glabra (Spreng.) Yakovlev pau-santo
LEG.-FABOIDEAE
Abarema sp. bordão-de-velho
Andira legalis (Vell.) Toledo angelim-da-praia
Canavalia rosea (Sw.) DC. feijão-da-praia
Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub.
Machaerium lanceolatum (Vell.)
J. F. Macbr.
Ormosia arborea (Vell.) Harms olho-de-cabra
Sophora tomentosa L. comandaíba, rosário
LEG.-MIMOSOIDEAE
Inga laurina Willd. ingá
I. maritima Benth. ingá
I. subnuda Salzm. Ex Benth. ingá
MALPIGHIACEAE
Byrsonima sericea DC. murici
Heteropterys sp.
MALVACEAE
Abutilon esculentum A. St.-Hil.
MARCGRAVIACEAE
Norantea brasiliensis Choisy rabo-de-arara
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin jacatirão
M. staminea (Desr.) DC.
Tibouchina clavata (Pers.) Wurdack quaresminha
T. trichopoda (DC.) Baill. quaresminha
MORACEAE
Ficus clusiifolia Schott figueira-vermelha
F. hirsuta Schott molembá
MYRSINACEAE
Myrsine umbellata Mart. capororoca
Myrsine sp. capororoca
continua
Tabela 1. Listagem das famílias, espécies e nomes populares (classificação de Cronquist 1988, com exceção de Leguminosae) das plantas
ocorrentes nas Restingas estudadas no Estado do Rio de Janeiro.
Família/Espécie Nomes populares Família/Espécie Nomes populares
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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(23) e mais discreto de julho a setembro (30-32), período
mais seco.
Observou-se grande heterogeneidade nos padrões
anuais de frutificação, ocorrendo variações significativas
na época e na duração da dispersão das sementes entre
as espécies estudadas (Tab. 2). Newstrom et al. (1994)
propuseram uma classificação para a fenologia de
árvores tropicais considerando a freqüência,
regularidade, duração, amplitude e período das
fenofases. Apesar dos autores basearem seu estudo nos
padrões de floração, sugeriram que outras características
fenológicas, como frutificação e rebrotamento, podem
ser contempladas nesta classificação. Para estes
autores, espécies que frutificam ao longo do ano com
esporádicas interrupções são consideradas de
frutificação contínua. Nesta classe pode-se incluir
Alchornea triplinervia, Melocactus violaceus,
Ouratea cuspidata, Sophora tomentosa, Tabebuia
cassinoides e Vitex polygama. Espécies que
apresentam ciclos de frutificação em intervalos maiores
que um ano são denominadas de supra-anuais;
provavelmente Eugenia copacabanensis, E.
ovalifolia, E. sulcata, Garcinia brasiliensis, Protium
icicariba e Tapirira guianensis podem ser classificadas
nesta categoria. Espécies apresentando um ciclo de
frutificação por ano são classificadas como anuais.
Newstrom et al. (1994) propuseram três categorias de
duração para esta classe: breve (menos que um mês),
intermediária (de 1 a 5 meses) e estendida (mais de 5
meses). No período de estudo nenhuma espécie frutificou
em menos de um mês, 24 frutificaram entre 3 e 5 meses
e 27 espécies frutificaram durante mais de 5 meses.
Andira legalis, Canavalia rosea, Chamaecrista
ramosa, Clusia lanceolata, Coccoloba arborescens,
Eugenia uniflora, Humiria balsamifera, Myrsine
umbellata e Myrsine sp. não se enquadraram em
nenhum dos tipos propostos, provavelmente devido ao
número insuficiente de observações para estas espécies.
Possivelmente maior número de observações ocasionará
alterações na classificação de algumas espécies.
Esta heterogeneidade nos padrões de frutificação
entre as espécies estudadas indica que, para a produção
de mudas com diversidade necessária para um programa
de restauração de Restingas degradadas, é indispensável
a disponibilidade de recursos humanos e de infra-
estrutura para a colheita de sementes ao longo de todo
o ano.
Colheita de sementes - para espécies florestais
nativas, Davide et al. (1995) ponderaram que não se
tem informações seguras a respeito do número de
indivíduos dos quais se deve obter sementes para que
Tabela 1 (continuação)
Família/Espécie Nomes populares Família/Espécie Nomes populares
MYRTACEAE
Calyptranthes brasiliensis Spreng. guamirim
Eugenia copacabanensis Kiaersk. cambuí-amarelo-grande
E. neonitida Sobral pitangão
E. ovalifolia Cambess. murtinha
E. rotundifolia Casar. aperta-goela
E. sulcata Spring. ex Mart. pitanga-preta
E. uniflora L. pitanga
Myrcia sp.
Myrciaria floribunda (H. West ex cambuí-amarelo
Willd.) Legrand
Myrrhinium atropurpureum Schott mirtilo
Neomitranthes obscura (DC.) Silveira cambuí-preto
Psidium cattleyanum Sabine araçá
NYCTAGINACEAE
Guapira sp. maria-mole
OCHNACEAE
Ouratea cuspidata (A. St.-Hil.) Engl. jabotapita
ORCHIDACEAE
Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) sumaré
Pabst ex F. Barros
PASSIFLORACEAE
Passiflora sp. maracujá
POLYGONACEAE
Coccoloba arborescens (Vell.) How. baga-da-praia
RUBIACEAE
Psychotria sp.
Tocoyena bullata Mart. araçarana
SAPINDACEAE
Allophylus puberulus Radlk. fruta-de-saíra
Cupania emarginata Cambess. camboatá
Paullinia coriacea Casar. cipó-timbó
P. weinmanniaefolia Mart.
SAPOTACEAE
Manilkara subsericea maçaranduba-da-praia
(Mart.) Dubard
Sideroxylon obtusifolium (Roem. quixabeira
& Schult.) T.D. Penn
SMILACACEAE
Smilax rufescens Griseb.
THEACEAE
Ternstroemia brasiliensis Cambess.
VERBENACEAE
Lantana sp. camará
Vitex polygama Cham. maria-preta
Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004 167
Tabela 2. Fenograma de frutificação de 72 espécies de Restinga em quatro unidades de conservação no município do Rio de Janeiro, na
Restinga da Marambaia e em duas praças e terrenos particulares no bairro Recreio dos Bandeirantes. Dados obtidos através da soma das
observações entre os anos de 1992 a 2000. (N = numero de eventos de frutificação, isto é, o número de vezes em que uma espécie foi colhida
num determinado mês em qualquer uma das áreas num determinado ano).
Espécie Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez N
Alchornea triplinervia XXXXXXXXXXXX 29
Allophylus puberulus XXXXX XXXX 11
Andira legalis XXXX XX 7
Annona glabra XXXXXX XX 11
Arrabidaea conjugata XXXXX 17
Aspidosperma parvifolium XXXX 13
Bactris setosa XX XXX 11
Byrsonima sericea XXXXX 17
Calyptranthes brasiliensis XXX 8
Canavalia rosea XXXXX8
Capparis flexuosa XXXX XXXX 12
Chamaecrista ensiformis XXXXXX 7
C. ramosa XX X XX6
Clusia fluminensis XXXXX 11
C. lanceolata X XXX XXXXX 13
Coccoloba arborescens XXXX XXXXXX 19
Connarus nodosus XXXXX 11
Couepia ovalifolia XXXXX XXX 10
Cupania emarginata XXXXXX 20
Erythroxylum ovalifolium XX XX 11
Eugenia copacabanensis XXXXXX 12
E. neonitida XX XXX 26
E. ovalifolia XXXX 11
E. rotundifolia XXXXXX 23
E. sulcata XXX 7
E. uniflora X X XXXXXX 14
Garcinia brasiliensis XXXXX X XX X 20
Gaylussacia brasiliensis XXXX XXXXX 21
Guapira sp. XXXXX XXXX 16
Heteropterys sp. XXXX 10
Humiria balsamifera XXXXXXX12
Ilex amara XXXXX X 12
Inga laurina XXXXXX 4
I. maritima XXXX 10
I. subnuda XXXXX XXXX 9
Ipomoea pes-caprae XXXXXXXXXX 13
Lundia cordata XXXX 10
Machaerium lanceolatum XXXX 5
Manilkara subsericea XXX X 17
Maytenus obtusifolia XXX XX 11
Melocactus violaceus XXXXXXXXXXXX 34
Miconia cinnamomifolia XX XXXX 9
M. staminea XXXXXX X 13
Myrcia sp. XXXX X 9
Myrciaria floribunda XX XXX 13
Myrrhinium atropurpureum XXX XX 8
Myrsine umbellata XXXX X7
Myrsine sp. X X X 4
Neomitranthes obscura XX XXXXX 17
Norantea brasiliensis XXXXX XXXX 18
Ocotea sp. XXXXXX 20
Ormosia arborea X XXXXXXXXX 26
Ouratea cuspidata XXXXXXXXXXXX 37
Passiflora sp. XXXXXXXX 11
continua
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
168
variabilidade genética mínima seja assegurada. Porém,
baseando-se nas recomendações para Eucalyptus e
Pinus, sugeriram que se deve procurar colher sementes
de no mínimo 25 árvores por espécie, e por procedência.
Kageyama & Gandara (2000) destacaram a necessidade
de utilização dos conceitos de tamanho efetivo de
população (Ne) nas colheitas de sementes para que as
características genéticas de uma população sejam
mantidas ao longo de muitas gerações. Estes autores
propuseram que, para a obtenção de um tamanho efetivo
adequado (Ne=50), deve-se colher sementes de 12 a
13 árvores de uma população natural grande, ou reunir
sementes de várias populações pequenas, somando-se
os Ne individuais.
Devido às grandes variações existentes entre as
espécies quanto ao número de indivíduos localizados em
frutificação e na quantidade de frutos produzidos, nem
sempre foi possível seguir estas recomendações. Desta
forma, o número de sementes colhidas foi muito variável.
A ocorrência de número reduzido de indivíduos
frutificados, muitas vezes encontrados em apenas uma
das áreas de colheita, permite-nos supor que o adiantado
estado de degradação está eliminando muitas das
espécies. Esta problemática foi enfatizada por Davide
et al. (1995) na produção de mudas de espécies de
matas ciliares.
Um dos fatores determinantes da pouca
disponibilidade de sementes de algumas espécies é a
pouca representatividade das unidades de conservação
existentes em relação às comunidades protegidas.
Harper (1977) sugeriu que a ocorrência e a abundância
Tabela 2 (continuação)
Espécie Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez N
Paullinia coriacea XXXXXXX 11
P. weinmanniaefolia XXXXXX 7
Pera glabrata XXX X X X 7
Pilosocereus arrabidae XXXXXXXXX 13
Protium icicariba XXX X 16
Pseudobombax grandiflorum XXXXX 20
Psidium cattleyanum XXXXXXX X 24
Scaevola plumieri XXXXXX 8
Schinus terebinthifolius XXXX XX 10
Senna australis XXX 10
S. pendula XXXXXX 8
Sophora tomentosa XXXXXXXXXXXX 12
Tabebuia cassinoides XXXXXXXXXXXX 21
Tapirira guianensis XXXX 15
Ternstroemia brasiliensis XXXXX 15
Tocoyena bullata XXXX 13
Vitex polygama XXXXXXXXXXXX 27
Zollernia glabra XXXX 10
Figura 1. Freqüência de espécies de Restinga em frutificação ao longo
do ano. Os dados representam a soma de observações entre os anos
de 1992 a 2000 para as espécies observadas no mínimo em quatro
eventos distintos. Por evento entende-se uma observação numa
determinada área, num determinado mês e num determinado ano.
Uma espécie foi considerada em frutificação num determinado mês
quando qualquer indivíduo das diferentes populações foi encontrado
frutificando em ao menos um ano. A) sete espécies com dispersão
anemocórica; B) sessenta e cinco espécies com dispersão não
anemocórica.
Mês
Mês
Freqüência de frutificação das
espécies de dispersão não
anemocóricas (%)
Freqüência de frutificação das
espécies de dispersão
anemocóricas (%)
A
B
Jan Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
0
20
40
60
80
100
Jan Fev
Mar
Abr
Mai
Jun Jul Ago
Set
Out
Nov
Dez
0
20
40
60
80
100
Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004 169
de uma dada espécie num local é regulada por
combinação de preferência pelo ambiente abiótico,
interações ecológicas entre as espécies, e fatores
históricos e biogeográficos. As poucas unidades de
conservação protegendo remanescentes de Restinga no
município estão contemplando principalmente áreas
perilagunares ocupadas por comunidades sujeitas a
diferentes graus de inundação, tais como herbácea em
pontos baixos do relevo, matas periodicamente e
permanentemente inundadas, e vegetação arbustiva
aberta em pontos baixos do relevo, segundo terminologia
adotada por Araujo (2000). Formações que se
desenvolvem em solos mais bem drenados, onde o lençol
freático é mais profundo, como as vegetações arbustivas
aberta e fechada dos cordões interno e externo, e
raramente mata seca do cordão interno, estão pouco
representadas em escassos fragmentos, colocando em
risco as espécies que ainda persistem nestas áreas.
Para estas formações, a área melhor preservada é
a Restinga da Marambaia que permitiu colheitas
exclusivas de frutos de Connarus nodosus, espécie
endêmica do Estado do Rio de Janeiro (Araujo et al.
1998), Eugenia copacabanensis, Machaerium
lanceolatum e Myrrhinium atropurpureum. Foi
também a principal área de colheita de Arrabidaea
conjugata (66% das colheitas realizadas),
Aspidosperma parvifolium (75%), Capparis flexuosa
(90%), Norantea brasiliensis (93%) e Scaevola
plumieri (89%).
No município do Rio de Janeiro, Scaevola plumieri
só é atualmente encontrada na Restinga da Marambaia
e na Praia do Recreio dos Bandeirantes, onde pequena
população ainda resiste ao uso intensivo da praia por
banhistas (Araujo 1989). Steinke & Lambert (1985)
referiram-se aos mesmos problemas nas populações
existentes na África do Sul. Recentemente, populações
desta espécie têm sofrido grandes reduções em
abundância provocadas por ressacas no litoral sudeste
(observação pessoal).
Dentro do período de estudo, frutos de Miconia
staminea, Myrcia sp. e Myrsine sp. foram colhidos
exclusivamente no Parque Arruda Câmara, e de Clusia
lanceolata, Ficus hirsuta e Melocactus violaceus, na
APA do Parque Ecológico de Marapendi, sendo os frutos
de F. hirsuta colhidos de apenas um indivíduo. Frutos
de Humiria balsamifera foram colhidos de
pouquíssimos indivíduos localizados na Restinga da
Marambaia e na APA de Marapendi. Estes fatos
ressaltam a importância destas unidades para a
manutenção de fragmentos da diversidade da flora das
Restingas no município e como fonte de sementes e
material vegetativo a ser utilizado em programas de
recuperação.
Apesar de pouquíssimos indivíduos de
Chamaecrista ensiformis serem também encontrados
na APA do Parque Ecológico de Marapendi, 83% das
colheitas foram realizadas em um único indivíduo
localizado em terreno particular do bairro do Recreio
dos Bandeirantes, porque quase a totalidade das
sementes dos indivíduos daquela unidade de conservação
são freqüentemente predadas por insetos antes da
maturação. Possivelmente isto se deve à presença de
predadores protegidos nas unidades de conservação e
eliminados destes terrenos cercados de áreas
urbanizadas. Porém, por não se tratarem de áreas
protegidas, indivíduos nestas condições estão
profundamente ameaçados de desaparecimento. Esta
situação repete-se para outras leguminosas como Senna
pendula e S. australis que, embora tenham
representantes dentro das unidades de conservação, seus
indivíduos praticamente não contribuem com sementes
viáveis devido à predação. Johnson & Slobodchikoff
(1979) citam que Cassia bicapsularis, atualmente
classificada como Senna pendula, é especialmente
suscetível a ter suas sementes destruídas por coleópteros
bruquídeos, sendo infestada por pelo menos sete
espécies ao longo de sua ocorrência entre América
Central e México e Estados Unidos. Em várias Restingas
do Estado do Rio de Janeiro, Macêdo et al. (1994)
encontraram cinco espécies de bruquídeos e uma
espécie de lepidóptero atacando frutos de S. pendula,
e duas espécies de bruquídeos e uma espécie de
lepidóptero atacando frutos de S. australis. Em Barra
de Maricá, Pimentel (1997) observou taxa de predação
de sementes de S. australis por bruquídeos que variou
de 26,1 a 94,2% em período de três anos. A maior parte
das sementes destas espécies foi colhida de indivíduos
ainda presentes em terrenos particulares ou em praças
onde a vegetação nativa remanescente foi preservada,
sendo que 89% das colheitas de sementes de S.
australis foram provenientes de indivíduos
remanescentes existentes em praça no bairro Recreio
dos Bandeirantes.
Tempo de germinação e dormência - durante o
período de estudo, sementes de 56 espécies (79%)
germinaram; no entanto, para as análises comparativas
do tempo necessário para o início da emergência da
parte aérea só foram consideradas as 38 espécies com
dados registrados para no mínimo quatro semeaduras
distintas. A amplitude de variação, o tempo médio e o
desvio padrão e o coeficiente de variação obtidos para
estas espécies (Tab. 3) apontaram grande variação intra-
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
170
e interespecíficas.
O tempo de germinação de uma semente pode ser
crucial para a sobrevivência e futura reprodução, sendo
caráter com ampla variação fenotípica. Diferenças no
comportamento da germinação de sementes produzidas
pela mesma planta, denominado de heteromorfismo de
germinação, parecem ser comuns e estão
correlacionados com a variação no tamanho das
sementes e nas exigências para a germinação
(Silvertown 1984). Este heteromorfismo de germinação
confere vantagem seletiva em hábitats cujas condições
para o sucesso do estabelecimento de plântulas variam
de ano para ano (Silvertown & Lovett Doust 1993).
As grandes amplitudes de variação encontradas
para as espécies com emergência do epicótilo lenta e
muito lenta (Tab. 3, Fig. 2) sugerem a ocorrência de
heteromorfismo e/ou de vários tipos de dormência
(Scarano 1998). Os principais fatores ambientais que
Tabela 3. Amplitude de variação do tempo necessário para o início da emergência da parte aérea, tempo médio, desvio padrão e coeficiente
de variação, das 38 espécies de Restinga com um mínimo de quatro germinações observadas.
Espécie Amplitude de Tempo médio em dias ± dp CV
variação em dias (número de germinações observadas) %
Germinação rápida
Pseudobombax grandiflorum 5 - 15 8,2 ± 3,9 (5) 48
Tabebuia cassinoides 5 - 20 12,8 ± 5,0 (6) 39
Myrcia sp. 5 - 22 13,6 ± 4,6 (9) 34
Aspidosperma parvifolium 5 - 27 13,8 ± 6,1 (9) 45
Clusia fluminensis 6 - 34 16,4 ± 8,9 (8) 54
Heteropterys sp. 7 - 22 16,4 ± 6,4 (5) 39
Inga maritima 8 - 23 14,4 ± 5,6 (5) 39
Inga laurina 9 - 16 13,5 ± 3,1 (4) 23
Alchornea triplinervia 11 - 30 18,2 ± 5,2 (12) 29
Paullinia coriacea 11 - 30 20,4 ± 9,1 (5) 45
Tapirira guianensis 12 - 22 16,8 ± 4,6 (4) 27
Maytenus obtusifolia 12 - 35 25,8 ± 10,6 (4) 41
Lundia cordata 13 - 20 16,8 ± 3,3 (5) 19
Machaerium lanceolatum 13 - 24 18,3 ± 4,5 (4) 25
Arrabidaea conjugata 13 - 30 19,2 ± 4,7 (12) 24
Zollernia glabra 13 - 31 25,3 ± 6,9 (7) 27
Cupania emarginata 13 - 39 23,8 ± 10,0 (5) 42
Neomitranthes obscura 15 - 39 27,9 ± 7,9 (14) 28
Ternstroemia brasiliensis 15 - 40 23,7 ± 7,4 (9) 31
Eugenia uniflora 18 - 34 29,4 ± 5,5 (7) 19
Connarus nodosus 21 - 40 29,4 ± 7,2 (5) 24
Vitex polygama 27 - 43 33,8 ± 6,1 (6) 18
Germinação lenta
Eugenia neonitida 11 - 73 58,6 ± 20,4 (8) 35
Protium icicariba 12 - 73 36,4 ± 24,7 (7) 68
Ormosia arborea 14 - 97 34,8 ± 26,7 (8) 77
Ouratea cuspidata 15 - 47 30,8 ± 8,1 (18) 26
Psidium cattleyanum 17 - 61 32,2 ± 12,7 (11) 40
Eugenia sulcata 25 - 62 37,8 ± 16,6 (4) 44
Coccoloba arborescens 30 - 61 46,6 ± 12,7 (5) 27
Manilkara subsericea 34 - 83 55,1 ± 16,1 (7) 29
Eugenia rotundifolia 36 - 90 61,6 ± 15,0 (12) 24
Tocoyena bullata 37 - 94 61,8 ± 14,2 (13) 23
Byrsonima sericea 39 - 99 56,3 ± 19,5 (8) 35
Ocotea sp. 46 - 97 67,9 ± 15,8 (10) 23
Eugenia ovalifolia 54 - 112 88,8 ± 24,3 (5) 27
Germinação muito lenta
Eugenia copacabanensis 26 - 204 124,7 ± 73,4 (6) 59
Ilex amara 35 - 220 91,5 ± 86,7 (4) 94
Garcinia brasiliensis 47 - 171 113,6 ± 47,1 (5) 41
Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004 171
influenciam a germinação de sementes são a
temperatura, que influencia na absorção de água pela
semente e nas reações bioquímicas que regulam o
metabolismo necessário para iniciar o processo de
germinação (Carvalho & Nakagawa 1988), a umidade
do substrato, luz e oxigênio (Mayer 1986; Eira et al.
1993). Porém, mesmo com condições ideais para estes
parâmetros, sementes viáveis de muitas espécies não
germinam, sendo consideradas sementes dormentes.
A dormência das sementes provavelmente evoluiu
em resposta à variabilidade e à imprevisibilidade
ambiental (Evans & Cabin 1995). Muitas sementes de
árvores tropicais perdem a viabilidade em poucos dias
e, segundo Fenner (1985), isto estaria relacionado com
a previsibilidade de seus hábitats, onde as oportunidades
para a reprodução ocorrem freqüentemente. No entanto,
Scarano (2000) argumentou que as Restingas, assim
como outros hábitats marginais do complexo
vegetacional atlântico, estão sujeitas a condições
ambientais muito mais extremas que a floresta mésica
montana. Adversidades como seca, salinidade e escassez
de nutrientes conferem às Restingas circunstâncias de
grande imprevisibilidade ambiental, o que pode estar
relacionado com a dormência encontrada nas sementes
de muitas das espécies estudadas.
Se do ponto de vista ecológico a dormência tem
vantagem seletiva para a planta por permitir que o
tempo de germinação coincida com as condições
favoráveis para a sobrevivência das plântulas
(Popinigis 1977; Carvalho & Nakagawa 1988;
Bianchetti 1991; Silvertown & Lovett Doust 1993),
para a produção de mudas ela se transforma em fator
complicador, induzindo grande desuniformidade entre
as mudas e maior demanda de tempo na sua produção,
além de maior risco na perda de sementes por
deterioração, uma vez que estas permanecem mais
tempo no solo antes da germinação (Eira et al. 1993).
Os grandes períodos de dormência observados para
as sementes de Byrsonima sericea, Eugenia
copacabanensis, E. neonitida, E. ovalifolia,
E. rotundifolia, Garcinia brasiliensis, Ilex amara,
Manilkara subsericea, Ocotea sp., Ormosia
arborea, Protium icicariba, Psidium cattleyanum e
Tocoyena bullata constituem sério problema para a
produção de mudas destas espécies, indicando a
necessidade de investigações adicionais relativas ao
ponto de maturação e época de colheita dos frutos,
beneficiamento e tratamento pré-germinativo destas
sementes, exigências de substrato, umidade,
temperatura e luminosidade para a germinação, que
porventura possam quebrar a dormência das sementes,
homogeneizando o período necessário para a
germinação.
Davide et al. (1995) sugeriram que sementes
dormentes cujos processos de superação não são ainda
conhecidos devem ser semeadas logo após a colheita,
em sementeiras e em grande quantidade, pois sua
germinação será desuniforme e a repicagem deverá ser
efetuada gradativamente.
Ao se considerar o tempo médio necessário para o
início da emergência da parte aérea das 38 espécies
(Tab. 3), obteve-se que 55% germinaram em até 30 dias.
Percentuais de germinação e viabilidade das
sementes - dentre as 56 espécies que germinaram
(77,8% do total das espécies estudadas), as 39 espécies
com dados registrados para no mínimo quatro
semeaduras distintas foram analisadas quanto ao
percentual de germinação. As percentagens máximas
de germinação obtidas indicam o potencial para a
produção de mudas, uma vez superadas as restrições
quanto ao ponto de colheita (maturação),
beneficiamento, condições de armazenamento, substrato,
irrigação, temperatura e luminosidade (Tab. 4).
Obteve-se percentagem máxima de germinação acima
de 80% para 12 espécies (30,8%), de 41 a 79% para 19
espécies (48,7%) e menos de 40% apenas para
Arrabidaea conjugata, Byrsonima sericea,
Machaerium lanceolatum, Norantea brasiliensis,
Protium icicariba, Senna australis, Tabebuia
cassinoides e Ternstroemia brasiliensis (20,5%).
Figura 2. Amplitude de variação do tempo necessário para a
emergência da parte aérea dos três grupos formados a partir da análise
das 38 espécies de Restinga com o mínimo de quatro germinações
observadas.  Emergência do epicótilo rápida; – – – Emergência
do epicótilo lenta; -.-.- Emergência do epicótilo muito lenta.
Dias
Número de espécies
0 50 100 150 200 250
0
10
20
30
5 43
11 112
26 220
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
172
Tabela 4. Percentagem máxima de germinação, amplitude de variação, percentagem média de germinação, desvio padrão e coeficiente de
variação das 39 espécies de Restinga cuja germinação foi registrada por no mínimo quatro vezes.
Espécie Percentagem Amplitude Percentagem média CV
máxima de variação (n. de semeaduras nas quais %
a percentagem foi registrada)
Germinação alta
Eugenia neonitida 100 11 - 100 57 ± 34 (10) 59
Ouratea cuspidata 100 4 - 100 49 ± 30 (19) 62
Aspidosperma parvifolium 97 12 - 97 46 ± 33 (9) 71
Pseudobombax grandiflorum 95 10 - 95 51 ± 29 (8) 55
Eugenia sulcata 94 35 - 94 61 ± 28 (5) 42
Zollernia glabra 94 28 - 94 70 ± 24 (7) 35
Myrcia sp. 91 17 - 91 52 ± 23 (9) 44
Neomitranthes obscura 90 17 - 90 63 ± 20 (12) 32
Eugenia uniflora 87 58 - 87 75 ± 11 (5) 14
Connarus nodosus 85 34 - 85 51 ± 22 (5) 44
Eugenia rotundifolia 84 37 - 84 60 ± 15 (11) 25
Dalbergia ecastophyllum 82 42 - 82 65 ± 16 (4) 25
Germinação média
Inga laurina 75 15 - 75 53 ± 27 (4) 50
Ormosia arborea 74 1 - 74 34 ± 28 (9) 83
Manilkara subsericea 72 4 - 72 33 ± 27 (8) 82
Psidium cattleyanum 70 3 - 70 40 ± 21 (11) 51
Inga maritima 70 2 - 70 33 ± 29 (6) 87
Paullinia coriacea 70 17 - 70 48 ± 25 (5) 51
Calyptranthes brasiliensis 69 27 - 69 48 ± 15 (5) 32
Alchornea triplinervia 69 6 - 69 34 ± 20 (12) 59
Maytenus obtusifolia 68 6 - 68 48 ± 28 (4) 59
Coccoloba arborescens 67 15 - 67 43 ± 28 (4) 66
Eugenia ovalifolia 67 13 - 67 33 ± 23 (5) 69
Vitex polygama 67 10 - 67 33 ± 22 (6) 68
Cupania emarginata 65 1 - 65 37 ± 28 (5) 77
Senna pendula 63 38 - 63 46 ± 11 (4) 24
Heteropterys sp. 59 1 - 59 28 ± 29 (4) 104
Clusia fluminensis 56 13 - 56 33 ± 19 (4) 57
Tocoyena bullata 56 6 - 56 28 ± 14 (11) 52
Lundia cordata 52 18 - 52 30 ± 14 (5) 45
Ocotea sp. 49 7 - 49 22 ± 14 (9) 65
Germinação baixa
Machaerium lanceolatum 40 0 - 40 11 ± 19 (4) 167
Ternstroemia brasiliensis 34 1 - 34 10 ± 11 (9) 109
Protium icicariba 31 0 - 31 6 ± 10 (8) 164
Arrabidaea conjugata 30 2 - 30 13 ± 9 (12) 66
Tabebuia cassinoides 25 2 - 25 14 ± 10 (7) 71
Byrsonima sericea 18 0 - 18 6 ± 7 (9) 123
Senna australis 11 2 - 11 7 ± 4 (5) 52
Norantea brasiliensis 11 3 - 11 6 ± 3 (5) 52
Netto & Faiad (1995) apontaram como uma das
causas do insucesso na obtenção de mudas de espécies
nativas a qualidade sanitária das sementes, cujos
microrganismos podem causar anormalidades e lesões
nas plântulas, bem como deterioração das sementes.
Carneiro (1986) afirmou que os maiores problemas
ligados a doenças ocorrem durante a germinação e
formação de mudas em viveiros e, geralmente, são
causados por fungos. De fato, foram observados níveis
consideráveis de infestação por fungos em sementes de
Byrsonima sericea e Ternstroemia brasiliensis
semeadas tanto no viveiro como em câmaras de
Acta bot. bras. 18(1): 161-176. 2004 173
germinação. Os baixos percentuais de germinação
obtidos para Norantea brasiliensis podem ser
explicados pelo alto índice de aborto das sementes (85%)
encontrado por Pinheiro et al. (1995). Para Arrabidaea
conjugata, Machaerium lanceolatum, Senna
australis e Tabebuia cassinoides a explicação possível
é a grande predação de suas sementes e frutos.
A metodologia empregada, que não separou
previamente as sementes potencialmente inviáveis dos
lotes utilizados, a irregularidade dos pontos de maturação
das sementes provenientes de diferentes indivíduos
dentro de uma mesma colheita, os lotes de sementes
produzidos em diferentes anos e as variações ambientais
existentes quando as sementes são semeadas em
canteiros em condições naturais podem ser apontadas
como algumas das causas das grandes amplitudes de
variação da percentagem de germinação encontradas
para a grande maioria das espécies.
Uma das alternativas para alcançar melhores
percentuais de germinação é a obtenção de plântulas
em câmaras de germinação, onde condições
controladas de temperatura, umidade e luminosidade
podem ser fornecidas, e posterior repicagem em
embalagens no viveiro. Através deste procedimento,
sementes de Melocactus violaceus, com germinação
praticamente nula em viveiro, alcançaram
percentagens superiores a 85% sob temperaturas
alternadas de 20-35ºC e fotoperíodo de 12 horas.
Figueira et al. (1994) observaram que sementes de
Melocactus violaceus obtidas de fezes de lagartos
começam a germinar seis dias depois do início dos
experimentos, atingindo 36% de germinação em 36
dias. Embora túrgidas e viáveis, nenhuma das sementes
coletadas diretamente dos frutos germinaram sob as
mesmas condições experimentais.
Os resultados de sobrevivência para plântulas
germinadas em sementeiras e repicadas para
embalagens plásticas foram obtidos para 24 espécies,
com no mínimo quatro observações (Fig. 3), indicando
a resposta favorável deste tratamento para estas
espécies.
A grande maioria das espécies estudadas suporta
as condições de crescimento em canteiros a pleno sol a
partir de cerca de 15cm de altura (observação pessoal),
podendo ser consideradas como heliófitas. No entanto,
algumas apresentaram sinais de estresse e entraram em
decrepitude (e.g., Miconia cinnamomifolia, Bactris
setosa) sob esta condição. Quando removidas para
canteiros sombreados, estas espécies recuperavam-se
e retomavam o crescimento, indicando a necessidade
> 90 80 a 90 70 a 79
0
10
20
30
40
50
60
70
Figura 3. Percentual de espécies ocorrentes em classes
representando diferentes faixas de percentagem média de
sobrevivência à repicagem para 24 espécies de Restinga cuja
sobrevivência foi registrada no mínimo por quatro vezes. Espécies
com mais de 90% de sobrevivência: Eugenia ovalifolia, Maytenus
obtusifolia, Ormosia arborea, Ouratea cuspidata e Zollernia
glabra; de 80 a 90: Alchornea triplinervia, Arrabidaea conjugata,
Aspidosperma parvifolium, Eugenia neonitida, E. rotundifolia,
E. uniflora, Lundia cordata, Myrcia sp., Neomitranthes obscura,
Ocotea sp., Pseudobombax grandiflorum, Psidium cattleyanum,
Tapirira guianensis e Tocoyena bullata; de 70 a 79% de
sobrevivência à repicagem: Cupania emarginata, Eugenia sulcata,
Inga maritima, Ternstroemia brasiliensis e Vitex polygama.
% de sobrevivência à repicagem
% de espécies (n = 24)
de permanecerem por mais tempo nestas condições.
Os resultados apresentados para a germinação e
sobrevivência à repicagem indicam a viabilidade da
estratégia de produção de mudas a partir da germinação
de sementes em viveiro. Das espécies estudadas, 50%
não apresentaram qualquer tipo de restrição para a
produção de mudas. A produção de mudas de algumas
espécies foi dificultada pelo alto índice de predação
de frutos e sementes, a raridade de algumas espécies
nas áreas de coleta, a baixa produção de frutos por
indivíduo de algumas espécies, e o desaparecimento
de algumas formações de Restinga com suas espécies
características (Tab. 5). Pesquisas adicionais
referentes à maturação, beneficiamento, armazenagem
e tratamentos de quebra de dormência, serão
necessárias para que maior diversidade de espécies
seja disponibilizada para plantios de restauração. A
possibilidade de produção de mudas de espécies
ameaçadas de extinção no município do Rio de Janeiro
abre uma alternativa para a recuperação das
populações naturais de muitas destas espécies.
Zamith & Scarano: Produção de mudas de espécies das Restingas do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
174
Tabela 5. Viabilidade de produção de mudas e utilização das espécies de Restinga em programas de restauração de áreas degradadas.
Ocorrência das espécies nas áreas de estudo, produção e predação de frutos e sementes e germinação. 1Espécies que de certa forma
compensam a restrição produzindo muitos frutos.
Restrições para a produção de mudas Espécies
Espécies encontradas com facilidade na maioria das áreas com grande número de indivíduos
Sem restrições Alchornea triplinervia, Calyptranthes brasiliensis, Canavalia rosea, Chamaecrista ramosa,
Cupania emarginata, Eugenia neonitida, E. uniflora, Ipomoea pes-caprae, Lundia cordata,
Maytenus obtusifolia, Miconia cinnamomifolia, Ouratea cuspidata, Passiflora sp., Paullinia
coriacea, P. weinmanniaefolia, Pilosocereus arrabidae, Pseudobombax grandiflorum,
Psidium cattleyanum, Schinus terebinthifolius, Senna pendula e Sophora tomentosa
Baixos percentuais de germinaçãoArrabidaea conjugata1, Bactris setosa e Byrsonima sericea
Frutos e sementes muito predados Arrabidaea conjugata1, Tabebuia cassinoides e Tapirira guianensis
Produção de sementes supra-anual Tapirira guianensis
Produção de poucos frutos por indivíduo Tabebuia cassinoides
Espécies encontradas em apenas algumas áreas de estudo
Sem restrições Allophylus puberulus, Clusia fluminensis, Coccoloba arborescens, Couepia ovalifolia,
Eugenia rotundifolia, Guapira sp., Heteropterys sp., Ilex amara, Inga subnuda, Manilkara
subsericea, Myrsine umbellata, Myrsine sp., Neomitranthes obscura, Ocotea sp., Tocoyena
bullata e Vitex polygama
Baixos percentuais de germinaçãoClusia lanceolata, Gaylussacia brasiliensis, Myrciaria floribunda, Myrrhinium
atropurpureum, Pera glabrata, Protium icicariba, Ternstroemia brasiliensis e Senna australis
Frutos e sementes muito predados Aspidosperma parvifolium1, Eugenia ovalifolia, Inga laurina, I. maritima, Ormosia arborea,
Senna australis1 e Zollernia glabra
Produção de sementes supra-anual Erythroxylum ovalifolium, Eugenia sulcata e Garcinia brasiliensis
Produção de poucos frutos por indivíduo Annona glabra e Zollernia glabra
Ocorrem em apenas uma área de colheita Miconia staminea
Espécies raramente encontradas em todas as áreas de estudo
Baixos percentuais de germinaçãoAndira legalis, Eugenia copacabanensis, Humiria balsamifera, Norantea brasiliensis e
Scaevola plumieri
Frutos e sementes muito predados Capparis flexuosa, Chamaecrista ensiformis e Machaerium lanceolatum
Produção de sementes supra-anual Eugenia copacabanensis
Ocorrem em apenas uma área de colheita Connarus nodosus, Eugenia copacabanensis, Machaerium lanceolatum, Melocactus
violaceus e Myrcia sp.1
Em vias de desaparecimento regional Chamaecrista ensiformis, Connarus nodosus, Eugenia copacabanensis, Machaerium
lanceolatum, Melocactus violaceus, Myrcia sp.1 e Scaevola plumieri
Agradecimentos
Os Autores são gratos a Tania Sampaio Pereira,
Eduardo Arcoverde de Mattos, Dorothy Sue Dunn
de Araujo e Francisco de Assis Esteves, pelos
comentários em versão preliminar do manuscrito; ao
CNPq, por concessão de bolsa de produtividade;
Dorothy Sue Dunn de Araujo e Márcia Botelho
Rodrigues Silva, pelo auxílio na identificação das
espécies; à Fundação Parques e Jardins - Secretaria
Municipal de Meio Ambiente - Prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro, pelo apoio na estruturação e
funcionamento do Projeto Flora do Litoral; a todos
os colegas do Projeto Flora do Litoral, em especial a
Vera Dalmaso, Manoel Rodrigues, Luciano Silva,
Paulo Otávio e Jorge Suzano; e ao Campo de Provas
da Marambaia, pela permissão de colheita de
sementes na Restinga da Marambaia.
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Versão eletrônica do artigo em www.scielo.br/abb
... Dentre os principais fatores ambientais que influenciam a germinação de sementes, a temperatura é uma das principais, que interferem nas reações bioquímicas que regulam o metabolismo necessário para iniciar o processo de germinação (Zamith;Scarano, 2004). sementes coletado em 2012 com grau de umidade de 7,8%, e para o terceiro experimento, foi usado outro lote de sementes coletado em 2013 com grau de umidade de 7,5%. ...
... Dentre os principais fatores ambientais que influenciam a germinação de sementes, a temperatura é uma das principais, que interferem nas reações bioquímicas que regulam o metabolismo necessário para iniciar o processo de germinação (Zamith;Scarano, 2004). sementes coletado em 2012 com grau de umidade de 7,8%, e para o terceiro experimento, foi usado outro lote de sementes coletado em 2013 com grau de umidade de 7,5%. ...
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Passiflora setacea, também conhecida como maracujá-do-sono, faz parte do grupo dos maracujás doces. Por apresentar frutos saborosos com grande potencial comercial, a Embrapa Cerrados lançou em 2013 a primeira cultivar dessa espécie, a BRS Pérola do Cerrado. Contudo, essa espécie apresenta muitos problemas na germinação de sementes, o que dificulta a formação de mudas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a seleção de sementes por densidade, os reguladores de crescimento ácido giberélico nº 4 e 7 + benziladenina (GA4+7 + BA) em tratamento pré-germinativo e as condições de semeadura no intuito de melhorar a germinação de sementes de P. setacea. Os resultados mostraram que a seleção das sementes com eliminação das que flutuaram não afetou a porcentagem de germinação. Foi possível armazenar as sementes com teor de água de 7,8% por quatro anos a 7 °C. Em câmara de germinação no escuro, com alternância de temperatura de 20 °C/30 °C, após embebição em GA4+7 + BA a 300 mg L-1 por 24 horas, a dormência foi superada na maioria das sementes de P. setacea, com aumento na porcentagem de germinação de 1% para 84%. Em condições de casa de vegetação, o uso de reguladores de crescimento pode ou não resultar no aumento da emergência de plântulas, dependendo da época do ano em que se realiza a semeadura. Para a produção de mudas de P. setacea, recomenda-se pré-embebê-las em GA4+7 + BA a 300 mg L-1 por 24 horas, germiná-las em uma câmara de germinação no escuro, com alternância de temperatura de 20 °C/30 °C e transplantá-las para uma casa de vegetação.
... Paullinia weinmanniifolia Mart., característica da vegetação de restinga do Sudeste, pode, por exemplo, ocorrer como liana, quando possui suporte para se apoiar, ou como arbusto escandente, quando isolada formando 'moitas' (Somner, 2001). Nas restingas cariocas, frutifica de abril a setembro (Zamith & Scarano, 2004). ...
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O tiê-sangue, Ramphocelus bresilia (Linnaeus, 1766), é uma ave endêmica da Mata Atlântica, com distribuição restrita ao Brasil oriental. Entre 2010 e 2015, sua dieta foi estudada na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, o remanescente de manguezal mais importante da baía de Guanabara, Rio de Janeiro. As aves foram capturadas com redes de neblina e suas fezes, coletadas e armazenadas em frascos com álcool a 70%, resultando em 51 amostras de 40 indivíduos. Em 62,7% das amostras, havia itens vegetais e animais, em 21,6%, apenas itens vegetais e em 13,7%, somente itens animais. Em 2% das amostras, não havia material identificável. Sementes de três espécies foram identificadas: Schinus terebinthifolius Raddi (n = 9), Tapirira guianensis Aubl. (n = 2) e Tilesia baccata (L.) Pruski (n = 1); de outras seis sementes, apenas o gênero foi identificado, sendo os mais frequentes Miconia Ruiz & Pav. (n = 10) e Alchornea Sw. (n = 6). Entre os itens animais, foram encontrados artrópodes, principalmente insetos das ordens Coleoptera (n = 24), Hymenoptera (n = 10) e Odonata (n = 7). Um registro possivelmente inédito foi a presença, em uma amostra, de uma vértebra e dois fragmentos de ossos de um filhote de ave, uma provável predação oportunista.
... Seeds 2.5-3 × 2-4 mm long, black. . Protium icicariba has been pointed as a potential species to be used in the recovery of restinga forest areas degraded by anthropization (Zamith & Scarano 2004). The species inhabit places that suffer a great anthropic influence. ...
Article
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The current study aims to contribute to the knowledge the genus Protium occurring in the state of Rio de Janeiro. Collections deposited in national herbaria were examined and field collections were carried out, in addition to research in specialized literature and consultations in online international herbaria. Seven species were cataloged for the state of Rio de Janeiro. Descriptions, illustrations, comments, as well as information on phenology, ecology, conservation, and distribution maps for all species are presented.
... Uma longa duração na frutificação também foi observada em O. notata, o que parece ser, no entanto, resultado do tempo de maturação dos frutos formados e não da contínua produção de flores como em H. balsamifera (figura 7.7). A ocorrência de frutificação longa ou contínua em espécies zoocóricas é importante para que se mantenha uma distribuição continuada de recursos para fauna ao longo do ano (Zamith e Scarano 2004). ...
Chapter
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O clima é um dos fatores determinantes das taxas de produtividade, mas suas consequências no funcionamento das plantas, na produção e na perda de componentes vegetais em restingas ainda é pouco explorado. Este capítulo dedicou-se a avaliar tendências temporais bem como o efeito das variações climáticas, nos regimes de precipitação e temperatura, nas taxas de produção e perda de folhas, galhos, flores, frutos e sementes em áreas de formação aberta arbustiva de Clusia do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Para isso, foram realizados acompanhamentos mensais do aporte de folhiço (por cinco anos), galhos e estruturas reprodutivas a serapilheira e o levantamento do número de folhas (bimensalmente), flores e frutos (quinzenalmente) em algumas espécies, ao longo de dois anos. Foi constatado que a duração dos períodos secos e os aumentos de temperatura foram determinantes para a ocorrência de maiores perdas de folhas, afetando tanto as espécies dominantes quanto as subordinadas. Isso é esperado uma vez que reduções na disponibilidade de água provocam respostas fisiológicas que aceleram a abscisão foliar. Enquanto a contribuição de galhos pouco varia intra-anualmente, a floração e a frutificação apresentam uma variação sazonal para a maioria das espécies dominantes e, embora tendam a ser mormente dirigidas pelo fotoperíodo, podem ser retardados pelo prolongamento dos períodos de chuvas e/ou de estiagem. Essas variações sazonais também repercutem no padrão de dispersão de sementes. Logo, as variações climáticas exercem um papel regulador da dinâmica de produção e abscisão dos componentes vegetais. O aumento na duração dos períodos secos, aliado a aumentos de temperatura previstos em cenários climáticos futuros, pode resultar em um incremento de aporte de folhiço, na desregulação dos ritmos de produção de flores e frutos e no recrutamento das espécies, com sérias implicações para o balanço de carbono e energia na restinga, uma vez que os ciclos de produção vegetal podem ser alterados.
... For example, physiological dormancy (PD) can be broken during the dry season in tropical regions, and seeds germinate as soon as it rains Baskin 2014, Baskin andBaskin 2022). However, some seeds with PD of various species from dry tropical forests in Brazil required 47 to 113 days for initiation of germination on a moist substrate (Zamith and Scarano 2004); while seeds of Adina cordifolia in India germinated over a 7-week period (Beniwal and Singh 1989). In species with physical dormancy (PY), i.e. a water-impermeable seed/fruit coat, a period of warm dry weather can make the seeds sensitive to dormancy-breaking conditions (e.g. ...
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In degraded forest ecosystems, reintroduction of keystone-woody species is an important step for restoration because it provides regeneration niches. However, lack of information on how to propagate species restricts the use of native species; specially in tropical dry forests where seed germination is seasonal and is synchronized with the onset of the wet season. We evaluated the dormancy-breaking and germination requirements of nine keystone-woody species from Dry Chaco Forest. Most fresh viable seeds of the keystone species are nondormant, but viability decreases during dry-cold storage restricting the use of some species. Seeds of three keystone species germinated to higher percentages in light than darkness and those of five species germinated equally well in light and darkness; seeds of Castela coccinea germinated to higher percentages in darkness than in light. Alternating vs. constant temperatures had no effect on germination in seven species. Seeds of Aniso-capparis speciosa and Cynophalla retusa were nondormant and remained viable for only 1 month during cold-dry storage; and 62-95% of the seeds of the other seven species were nondormant. Dormancy-break was studied in five of the seven species; seeds of four species had physiological dormancy and one had physical dormancy. Dormancy-breaking was promoted by environmental conditions in the habitat, i.e. warm stratification, after seed dispersal. Castela coccinea, Achatocarpus praecox, Mimosa detinens, and Capparicordis tweedieana are the most suitable keystone species for the restoration of overgrazed areas in the Dry Chaco Forest because their seeds germinate to a high percentage and retain viability during dry storage at low temperatures. Seeds of Mimosa detinens and Capparicordis tweedieana required mechanical scarification and 6-weeks of warm stratification, respectively , for dormancy-break.
... As comunidades vegetais da restinga tem o solo como o principal fator limitante, mas são muito influenciadas pela proximidade com o mar e apresentam adaptações morfológicas e fisiológicas para lidar com a alta salinidade, elevadas temperaturas, exposição severa à incidência solar, as ações dos ventos, solos pobres em nutrientes e um elevado déficit hídrico (Sultan 2000, Zamith & Scarano 2004). ...
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Mudanças climáticas têm o potencial de aumentar o nível dos oceanos e destruir habitats das linhas costeiras. Esse processo aumenta o risco de extinção local das espécies que ocorrem exclusivamente nos solos arenosos da restinga e impõe urgência para entender se essas espécies especialistas apresentam plasticidade para ocupar diferentes condições de solo. Melocactus violaceus Pfeiff (Cactaceae) é uma espécie ameaçada de extinção da restinga com ocorrência restrita para solos arenosos. Neste estudo, foi medido o crescimento de plântulas de M. violaceus em solos arenosos, areno-argiloso e argiloso para avaliar sua plasticidade ambiental. Plântulas de M. violaceus cresceram melhor em solos arenosos. Mesmo assim, elas apresentaram plasticidade para se estabelecerem em solos argilosos. Os resultados possuem potenciais práticos para conservação da espécie e acrescentam evidências de que a família Cactaceae pode ser incorporada na hipótese do trade-off de crescimento de táxons especialistas de solos arenosos.
... Individuals of this species have a high capacity to exude aromatic and volatile resins used in traditional medicine (Rüdiger et al., 2007). Their reproductive phase is related to the wetter periods of the year and can vary from September to March (Braz & Mattos, 2010;Ferreira et al., 2010;Zamith & Scarano, 2004). Populations of P. icicariba can be found both in non-flooded and periodically flooded restinga forests (Lourenço Júnior et al., 2021;Magnago et al., 2013). ...
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Climate changes have the potential to increase sea level and to destroy habitats from coast lines. This process increases the risk of local extinction to species that naturally occur only in white-sand soils of restinga and imposes urgency to understand whether they present plasticity to occupy different soils habitats. Melocactus violaceus Pfeiff (Cactaceae) is an endangered species from restinga with restricted occurrence to whitesand soils. In this paper, we measure the growth of seedlings of M. violaceus under whitesand soil, white-sand clay, and clay soils to evaluate the environmental plasticity of this species. Seedlings of M. violaceus grew best in sand soils. However, they present plasticity to adapt to clay soils. Our results have practical potential for the species conservation and add evidence that the Cactaceae family can be incorporated into the trade-off hypothesis of sand-white soils specialists. Keywords: clay soils; Ecology; plasticity; Restinga; white-sand soils
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The study of the reproductive phenology of plant species is fundamental to understanding the dynamics of ecosystems and is currently used to monitor climate change. This chapter aims to review the current knowledge of the reproductive phenology of the angiosperm species that are typical of mangroves in Brazil. We address methodological issues and describe the flowering and fruiting patterns of Avicennia germinans (L.) Stearn, Avicennia schaueriana Stapf & Leechm. ex Moldenke, Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. f., Rhizophora harrisonii Leechman, Rhizophora mangle L., and Rhizophora racemosa G. F. Mayer. The data showed that direct observation methods are used most, and the number of sampled individuals and the frequency of observations of reproductive phenophases have been adequate in most studies. The formation of flowers and fruits by the mangrove species presents seasonal (annual or sub-annual) or continuous patterns. Information is still insufficient to establish a general pattern for the Brazilian coast since the species present a lot of variation in phenological patterns and were not studied throughout their geographic distribution. Long-term studies in different latitudes will contribute to understanding the responses of mangrove species to climate changes and establishing the reproductive phenological pattern of Brazilian mangrove forests.KeywordsFlowering mangrovesFruiting mangrovesMangrove propagulesPhenological events
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Objetivou-se com o trabalho avaliar a presença de dormência física em sementes de Psidium cattleianum (araçá), obtidas de frutos de diferentes estádios de maturação. Os frutos foram coletados em 15 plantas matrizes no município de Lages-SC e classificados, de acordo com a tabela de cores de Munsell, em vermelho amarelado (5YR5/7), vermelho (10R5/6) e vermelho escuro (10R3/6). Após o beneficiamento, com auxílio de peneira e água corrente, as sementes dos frutos das três colorações foram avaliadas quanto: teor de água, massa seca, primeira contagem de germinação, germinação, plântulas anormais, sementes mortas, primeira contagem de emergência, emergência, dias para iniciar a emergência, índice de velocidade de emergência, curva de embebição em água e embebição em azul de metileno. Os teores de água estavam em 22,02; 23,53 e 23,08% para as sementes das colorações 1, 2 e 3, respectivamente. Não houve diferença significativa entre as sementes dos frutos das três colorações para todas as variáveis analisadas, exceto para o índice de velocidade de emergência, em que sementes de frutos da coloração 2 demonstraram-se mais vigorosas em relação às sementes das demais colorações. O processo de embebição em água foi caracterizado por uma curva trifásica, com início da protrusão radicular em 275, 323, 323 horas, para sementes de frutos de colorações 1, 2 e 3, respectivamente. Observou-se entrada do azul de metileno nas sementes já no primeiro dia, com absorção completa em 371 h (16 dias). Com base nos resultados obtidos, verifica-se que as sementes das três colorações do fruto já estavam na maturidade fisiológica, com resultados semelhantes em relação à massa seca. Conclui-se que sementes maduras de Psidium cattleianum Sabine não possuem dormência física, independente da coloração dos frutos estudados.
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Growth of Scaevola plumieri (L.) Vahl, a coastal dune pioneer species, showed seasonal variations in leaf appearance and abscission. Generally more leaves were produced and shed in the warmer months than in the cooler months. However, rate of leaf appearance exceeded rate of leaf abscission in summer, while in winter the reverse applied. Leaves produced in winter showed greater longevity than summer leaves. Flowering commenced in October and all ripe fruits had been shed by March. Maximum seed germination appears to take place during December/January.
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Jacquinia brasiliensis Mez (Theophrastaceae) is an endemic shrub from the Brazilian coast recently classified as vulnerable, with distribution limited to a thin range close to the sea. Seed germination using NaCl solutions with concentrations of 0, 30, 60, 120 and 240 mM were tested. The seeds were submitted to three different salinity treatments: permanently in saline solution, pretreatment in distilled water and pretreatment in saline solution, all under continuous light and darkness. J. brasiliensis seeds tolerate salinity up to the concentration of 120 mM NaCl; 240 mM NaCl completely inhibited the germination, in light as in darkness. Pretreatment in NaCl solutions (priming) increased the germination percentage, without difference between the treatments. The positive response to priming suggests that salinity is an important factor in this species distribution.