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Suzely Adas Saliba Moimaz*
Najara Barbosa Rocha**
Orlando Saliba***
Cléa Adas Saliba Garbin****
O acessO de gestantes aO tratamentO OdOntOlógicO
THE ACCESS OF PREGNANTS TO DENTISTRY TREATMENT
resumO
Introdução: A gestação é um período peculiar na vida feminina, no qual a mulher é receptível a informações
que possam trazer benefícios a ela e seu bebê, o que poderá ser traduzido em mudanças de comportamen-
to favoráveis à saúde. Uma das diculdades do acesso das gestantes ao tratamento odontológico reside
no conito entre hábitos antigos e novos conceitos adquiridos. Assim os autores objetivaram vericar se
gestantes foram ou não submetidas à assistência odontológica durante a gravidez e os motivos que dicul-
taram o acesso a esse serviço. Métodos: Foram entrevistadas 100 gestantes, que buscaram atenção pré-natal
nas Unidades Básicas de Saúde de Araçatuba – SP. Utilizou-se formulário contendo questões sobre acesso
das gestantes ao serviço odontológico e os motivos pelos quais elas procuraram o serviço. A idade média
das gestantes foi de 23,51 anos, sendo que 26% encontravam-se entre 14 a 20 anos. Resultados: Do total,
73% não procuraram tratamento odontológico durante a gravidez, tendo sido vericados como motivos:
sem necessidade de tratamento (32,9%); crendices e mitos (16,4%), falta de dinheiro/vontade ou tempo
(15,1%), medo (8,2%) e outras razões (27,4%). Entre as gestantes que procuraram serviço odontológico
(27), 40,7% não foram atendidas, e citaram como principal motivo: problemas relacionados com servi-
ços públicos de Saúde como demora no atendimento, falta de dentista, diculdade para marcar consulta
(45,4%). Conclusão: Pode-se concluir pouca procura das gestantes aos serviços odontológicos, em função
principalmente da crença e mito. A falta de informação demonstra a necessidade de as gestantes serem
priorizadas nos programas de atenção odontológica. Os prossionais devem promover o aprendizado
sobre saúde bucal na gravidez.
descritOres
: Saúde Bucal - Assistência odontológica - Gravidez.
abstract
Introduction: Pregnancy is a special moment in the female period of life, when the woman is open to receive
information that can bring benets to her and her baby, what could be translated into behavior changes
towards good health. One of the difculties of the pregnant women access to dental treatment is the con-
ict between old habits and new acquired concepts. The authors aimed to verify if pregnant women had
or not been submitted to dental care during pregnancy and the reasons that had made difcult the access
to this service. Methods: One hundred pregnant women looking for prenatal care in the Public Health
Center of Araçatuba - SP were interviewed. A form assessment was used with questions about the access
of pregnant women to dental service and the reasons they had looked for the service. The mean age of the
pregnant women was 23.51 years, 26% of them were between 14- 20 years-old. Results: Of the total, 73%
didn’t looked for dental treatment during pregnancy, and the reasons for that were: no needs of treatment
(32.9%); beliefs and myths (16.4%), lack of money/wish or no time available (15.1%), dental fear (8.2%)
and other reasons (27.4%). Between the pregnant women that looked for dental treatment (27), 40.7%
were not treated and they cited as main reasons problems related to public health services, as the delay for
the treatment, absence of dentists, and difculty for booking a visit to the dentist (45.4%). Pode-se con-
cluir pouca procura das gestantes aos serviços odontológicos, em função principalmente da crença e mito.
A falta de informação demonstra necessidade das gestantes serem priorizadas nos programas de atenção
odontológica. Os prossionais devem promover aprendizado sobre saúde bucal na gravidez. Conclusion: It
can be concluded there was a low rate of women looking for dental treatment, due to beliefs and myth.
The lack of information demonstrates the needs of pregnant women being prioritized in dental care pro-
grams. The health professionals must promote oral health education during the pregnancy.
descriptOrs
: Oral health - Dental care - Pregnancy.
* ProfessoraAdjunto do Departamento de Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Universidade Estadual Paulista
- Unesp .
** Aluna da graduação da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – Universidade Estadual Paulista - Unesp.
*** Professor Titular do Programa de Pós Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Universidade Estadual
Paulista - Unesp
**** Professora Adjunto do Departamento de Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Universidade Estadual Paulista
- Unesp
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Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo
2007 jan-abr; 19(1):39-45
40
Moimaz SAS, Rocha NB, Saliba O, Garbin CAS O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de Odontologia da Universi-
dade Cidade de São Paulo 2007 jan-abr; 19(1):39-45
intrOduçãO:
A gestação é um estado único e valioso no ciclo de
vida da mulher. É nesse contexto que a mulher se en-
contra mais susceptível e sensível para receber informa-
ções que possam levar melhorias à sua vida e à de seu
bebê. (Costa
5
1998, Lavel
11
1976, Maeda et al.
12
2001, Me-
nino
13
1995, Moura et al.
15
2001, Rossel
17
1998, Scavuzzi
et al.
21
1998). Portanto, essa é uma época ideal e propícia
para criar um novo senso crítico sobre determinados
assuntos, como a própria saúde, e assim desenvolver a
habilidade para a aquisição de novos hábitos saudáveis,
visando o bem-estar da própria gestante e de seu futuro
bebê. Moura et al.
15
(2001).
As gestantes são consideradas pacientes especiais por
serem um grupo de risco para doenças bucais, e também
pelo fato de apresentarem alterações físicas, biológicas e
hormonais que acabam por criar condições adversas no
meio bucal. (Dualibi
7
1985, Rossel
17
1998).
Nessa expectativa de poder melhorar a qualidade de
vida da gestante, encaixa-se a necessidade de uma educa-
ção capaz de reestruturar seu modo de agir com seu cor-
po e em conseqüência proporcionar mais saúde a ele.
Segundo Garcia Hoz
9
(1960), educar tem o signi-
cado primário de conduzir a uma determinada direção,
com uma nalidade preconcebida e esse processo termi-
na com a aquisição de novas formas de comportamento
social.
É relevante que um programa educativo tenha como
referência o contexto social, cultural e econômico no
qual a população-alvo esteja inserida, objetivando trans-
por as barreiras sociais e criar estímulos motivacionais
fortes que serão incorporados ao cotidiano dessas mu-
lheres, situando assim os problemas, necessidades e as
demandas do grupo-alvo (Garcia Hoz
9
, Rossel
17
1998,
Scavuzzi et al.
21
1998).
Vários autores concordam com a necessidade de um
programa de atenção odontológica voltado às gestantes
considerando ser um grupo estratégico devido às caracte-
rísticas psicossociais inerentes ao processo reprodutivo e,
fundamentalmente, em razão do papel que as mães pos-
suem na promoção de uma melhor saúde bucal de seus
lhos. (Costa
5
1998, Garcia Hoz
9
1960, Lavel
11
1976, Mo-
reira et al.
14
2004, Rossel
17
1998, Sartorio
18
2001 Savasta-
no
19
1981, Scavuzzi et al.
21
1998 Scavuzzi et al.
22
1999).
A educação individual para as gestantes, fora de um
contexto social, não é suciente. Ela deve ser efetuada
no local em que essas mulheres vivem para que haja co-
operação entre os grupos de conhecimento social, fun-
cionando como um ponto de intensicação no que se
refere às mudanças de comportamento. (Pinto
16
1992).
Porém, a educação individual é imprescindível para con-
duzir à mudança de hábito, porque permite trabalhar
questões pessoais mais direcionadas. Sendo assim, uma
forma de trabalho reforça a outra e devem ser realizadas
concomitantemente. (Maeda et al.
12
2001).
É sabido que quanto maior for atitude positiva da
mãe com relação à sua própria saúde, melhor será a saú-
de bucal de seus lhos. (Costa
et al.
5
1998).
Apesar de haver vários trabalhos publicados de-
fendendo o tratamento odontológico para essa parcela
populacional e de haver estudos voltados à esse tema,
é grande o tabu em torno do atendimento, tanto pelas
próprias gestantes, quanto por parte dos cirurgiões-den-
tistas. Devido a vários adágios populares sem suporte
cientíco, medos e falta de informação, ocorre uma não
procura de atendimento odontológico durante a gravi-
dez. Padrões comportamentais dessa natureza advêm de
traços culturais repassados através de gerações, por isso,
apresentam-se como pontos sensíveis e merecedores de
tratamento cuidadoso. (Menino
13
1995, Moreira et al.
14
2004, Moura et al.
15
2001 Pinto
16
1992, Sartorio
18
2001,
Savastano
19
1981, Scavuzzi et al.
21
1998, Scavuzzi et al.
22
1999).
Por outro lado, existe a recusa pura e simples de boa
parte dos cirurgiões-dentistas em prestar serviços quan-
do solicitados, por falta de conhecimento e informação
sobre o assunto. (Moreira et al.
14
2004, Rossel
17
1998, Sar-
torio
18
2001).
Tal falta de informação gera insegurança nas gestan-
tes e também nos prossionais. (Rossel
17
1998), Con-
siderando os aspectos abordados, torna-se de essencial
importância a introdução de métodos educacionais no
período gestacional, almejando substituir o medo e a an-
siedade, geralmente com auxílio de CDs, por meio de
informações e motivação e para a promoção de saúde
bucal. Essas gestantes podem ser adequadamente mo-
tivadas sendo de grande importância a sua introdução
na ação de agentes multiplicadoras de hábitos saudáveis
a seu bebê e a sua família, justicando a recomendação
de programas desse âmbito nos serviços públicos e pri-
vados. (Maeda et al.
12
2001, Sartorio
18
2001, Savastano
19
1981, Scavuzzi et al.
22
1999). São consideradas ideais
para a aplicação de programas de saúde, pois existe uma
predisposição das futuras mamães em adquirir novos
41
Moimaz SAS, Rocha NB, Saliba O, Garbin CAS O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de Odontologia da Universi-
dade Cidade de São Paulo 2007 jan-abr; 19(1):39-45
conhecimentos que possam beneciar seus lhos, mos-
trando uma boa receptividade em relação a um progra-
ma educativo de saúde bucal. (Costa
5
1998, Maeda et al.
12
2001, Moreira et al.
14
2004, Rossel
17
1998, Scavuzzi et al.
20
1998, Scavuzzi et al.
21
1998). A gestante passa então a ser
encarada como uma promotora da saúde, pois quando
bem informada torna-se elemento chave na quebra da
cadeia da transmissibilidade da cárie dentária. (Costa
5
1998, Maeda et al.
12
2001, Menino
13
1995, Scavuzzi et al.
22
1999).
Moura
15
(2001) cita que não só as gestantes preci-
sam de motivação, os cirurgiões-dentistas também, por-
que muitas vezes alguns se sentem despreparados para
atender às gestantes, pois considera que elas são sempre
pacientes de risco que devem ser alertadas sobre a ação
preventiva da Odontologia. Assim torna-se importante
a necessidade de se modicar esse discurso, inserindo
maiores informações sobre o assunto nos currículos de
graduação e nos meios de comunicação do prossional,
a m de se alcançar uma ampla cobertura, desmistican-
do-se a crença e promovendo-se o aprendizado.
É necessário enfatizar a responsabilidade da Odon-
tologia como formadora da consciência da saúde bucal
nas pessoas, num contexto inserido na saúde geral, e
como formadora da consciência da cidadania, enfocan-
do-se a manutenção da saúde e a prevenção de doenças
transmissíveis, investigando-se hábitos e costumes de
indivíduos, para orientá-los na promoção da saúde e na
prevenção de hábitos que os levam à condição de doen-
tes, (King et al.
10
1983). Sendo assim, é necessária a par-
ticipação do cirurgião-dentista numa equipe de pré-natal
para orientação e tratamento das gestantes. (Menino
13
1995, Moreira et al.
14
2004, Moura et al.
15
2001).
Assim, os autores, nesta pesquisa, tiveram como ob-
jetivos:
1. Vericar se as gestantes foram submetidas ao tra-
tamento odontológico durante a gestação;
2. Analisar, por meio de relato das gestantes, se hou-
ve recusa ao atendimento odontológico;
3. Analisar os motivos que porventura tenham leva-
do o cirurgião-dentista e/ou a gestante a recusar o tra-
tamento.
Material e Método:
A coleta de dados nesta pesquisa, do tipo quanti-
qualitativa, foi realizada em 2 UBS (Unidades Básicas de
Saúde: UBS1-Aristides Troncoso; UBS2-Alfredo Dan-
tas), no município de Araçatuba – São Paulo, as quais
foram selecionadas por terem apresentado maior núme-
ro de gestantes matriculadas no Programa Pré-Natal do
serviço local de Saúde.
Inicialmente foi feito contato com a Secretaria da
Saúde do município e trabalhadores das UBS (médico,
enfermeira-chefe e auxiliar, conjuntamente com o gru-
po do PSF) para obtenção da permissão para realização
da pesquisa e o projeto foi encaminhado ao Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) e aprovado.
Foi elaborado e validado, em estudo piloto, um ins-
trumento para a coleta de dados com questões abertas
sobre o acesso das gestantes ao serviço odontológico e
os motivos que as levaram a procurar ou não o servi-
Tabela 1 - Distribuição das gestantes entrevistadas nas Unidades
Básicas de Saúde, segundo as características físicas,
educacionais e socioeconômicas: cor da pele, renda familiar,
escolaridade e ocupação, Araçatuba 2005.
Características físicas, socioeconômicas (n=100)
Cor n %
Branca 44 44
Parda 54 54
Negra 2 2
Escolaridade n %
analfabeto 2 2
1º grau incompleto 36 36
1º grau completo 11 11
2º grau incompleto 20 20
2º grau completo 31 31
3º grau incompleto 0 0
3º grau completo 0 0
Renda Familiar n %
abaixo de 2 salários mínimos 70 70
de 2 a 5 salários mínimos 29 29
acima de 5 salários mínimos 1 1
Ocupação n %
autônoma 1 1
desempregada 3 3
doméstica/faxineira/cozinheira 16 16
industriária 4 4
comerciante 3 3
do lar 62 62
estudante 6 6
Outros 5 5
Total 100 100
42
Moimaz SAS, Rocha NB, Saliba O, Garbin CAS O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de Odontologia da Universi-
dade Cidade de São Paulo 2007 jan-abr; 19(1):39-45
Tabela 2 - Distribuição das gestantes entrevistadas nas Unidades Básicas de Saúde, de acordo com as respostas sobre as questões, Araçatuba 2005.
Perguntas: Sim Não Total
Percebeu alguma alteração na boca durante esta gestação? n % n % n %
Procurou o CD durante esta gravidez? 46 46 54 54 100 100
Se percebeu alterações na boca, procurou o CD? 27 27 73 73 100 100
Se procurou o dentista, foi atendida? 22 47,8 24 52,2 46 100
Se foi atendida, o tratamento odontológico foi concluído? 16 59,3 11 40,7 27 100
Procurou o CD nas gestações anteriores? 6 37,5 10 62,5 16 100
Foi orientada a procurar o CD durante a gravidez? 23 37,1 39 62,9 62 100
Percebeu alguma alteração na boca na gestação anterior? 25 25,0 75 75,0 100 100
38 %
36 %
3%
3%
20 %
P rim ig es ta
2ª
3ª
4ª
5ª
26 %
37 %
21 %
13 %
2%
1%
15 -| 19
20 -| 24
25 -| 29
30 -| 34
35 -| 39
40 -| 44
19 %
42 %
39 %
1º trim e stre
2º trim e stre
3º trim e stre
Gráco 1 – Distribuição percentual das gestantes entrevistadas nas
Unidades Básicas de Saúde, segundo a faixa etária,
Araçatuba 2005.
Gráco 2 – Distribuição percentual das gestantes entrevistadas nas
Unidades Básicas de Saúde, segundo o período gesta-
cional, Araçatuba 2005.
ço. Variáveis como: etnia, comportamento, classe social,
idade, renda familiar, escolaridade e ocupação; foram
também registradas.
Cem gestantes que procuraram o atendimento no
Programa Pré-Natal das 2 UBS foram entrevistadas por
um único pesquisador, após consentimento livre e es-
clarecido.
O cálculo do tamanho da amostra foi efetuado (Fon-
seca
8
1996), com nível de signicância a 5%, chegando-
se a um valor de n=85 gestantes. Para maior segurança
foram entrevistadas 100 gestantes.
Os dados coletados categorizados foram analisados,
de forma quanti-qualitativa, utilizando-se o Programa
EpiInfo 6.04.
discussãO:
O Gráco 1 apresenta a idade das gestantes entrevis-
tadas. Nota-se que a maioria (63%) encontrava-se com
menos de 25 anos. A idade média das gestantes foi de
23, 51 anos, período relatado na literatura como o mais
fértil da mulher. Esses dados são próximos aos obtidos
por vários autores, Costa
5
1998, Moreira et al.
14
(2004).
Mães mais jovens, devido a vários fatores, têm maior
abertura para incorporar hábitos saudáveis, podendo ser
mais facilmente inuenciáveis e motivadas a freqüenta-
rem reuniões e palestras educativas.
Concordando com Badeia
2
(1991) que, para se
considerar um perl epidemiológico de um grupo po-
pulacional, é necessário que o mesmo esteja inserido
no seu contexto social, econômico e cultural. A partir
dessa inserção devemos situar os problemas, as neces-
sidades e as demandas dos grupos. Assim, esta amostra
foi caracterizada, do ponto de vista educacional, social
e econômico, como uma população jovem, de nível de
escolaridade baixo (69% não completaram o 2º grau),
baixo poder aquisitivo (70% sobrevivem com menos de
Gráco 3 - Distribuição percentual das gestantes entrevistadas nas
Unidades Básicas de Saúde, segundo o nº de gestações,
Araçatuba 2005.
Nota: A idade média das gestantes foi de 23,51 anos.
43
Moimaz SAS, Rocha NB, Saliba O, Garbin CAS O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de Odontologia da Universi-
dade Cidade de São Paulo 2007 jan-abr; 19(1):39-45
Motivos n %
Não apresentaram necessidade de
tratamento
24 32,9
Problemas nos postos de saúde 7 9,6
Mitos, crendices e tabus 12 16,4
Medo 6 8,2
Ida ao dentista antes da gravidez 8 11
Falta de dinheiro, vontade e/ou tempo 11 15,1
Orientação do médico a não tratar 1 1,4
Sem motivo 2 2,7
Outras 2 2,7
Total 73 100
Medos, crendices e tabus n %
Medo:
“tenho medo”
“morro de medo”
“tenho medo, não posso mexer nos dentes
devido à gravidez”
“não fui ao dentista, tive medo que a anes-
tesia iria prejudicar meu bebê”
8 44,4
Falta de informação sobre a possibilidade
de realizar tratamento odontológico du-
rante a gestação:
“não sabia que podia tratar, todo mundo
fala que não pode”
“não posso tratar os dentes por causa da
criança”
“não posso tratar, sou gestante e preciso de
autorização do médico”
“não posso arrancar dente devido à gravi-
dez” “falam que não posso ir ao dentista”
“as pessoas dizem que não pode tratar
durante a gravidez, pois dá hemorragia”
10 55,6
Total 18 100
Por quem foi orientada durante a
gravidez?
n %
dentista 4 16
médico 2 8
Família/amigos/marido 6 24
cartazes no posto 3 12
funcionárias do posto 10 40
Total 25 100
Tabela 3 - Motivos alegados pelas gestantes para não buscarem
atendimento odontológico durante a gravidez. Araçatuba
2005.
Tabela 4 – Respostas das pacientes gestantes entrevistadas em relação
a medos, crendices e tabus, Araçatuba 2005.
Tabela 5 - Respostas das gestantes entrevistadas sobre a
orientação para a procura do atendimento odontológico
durante a gravidez, Araçatuba 2005.
2 salários mínimos), e 62% têm como principal ocupa-
ção os afazeres do lar (Tabela 1). Resultados semelhan-
tes foram encontrados por Araújo et al.
1
(2005); Costa,
44
16
2
2
0
10
20
30
40
50
Problema s ge ng iv a is /
s an gr ame nto
Do r d e de nte
Ma u hálito
Sens ib ilida de na
líng ua /adorme c imen to
Gráco 4 - Alterações bucais percebidas pelas gestantes entrevistadas
durante a gravidez, Araçatuba 2005.
Nota: Algumas gestantes relataram que apresentavam 2 ou mais alterações.
et al.
5
(1998); Menino e Bijella
13
(1995) e Scavuzzi, et al.
22
(1999 ).
De acordo com o Gráco 2, apenas 19% das ges-
tantes encontravam-se no primeiro trimestre da gra-
videz, período mais crítico da gestação. Isso pode ser
justicado pelo fato de que muitas mulheres demoram
a comprovar o estado gestacional, podendo estar rece-
osas de uma atenção prossional nessa fase ou ignoram
a importância desse período para a formação do feto.
42% das gestantes encontravam-se no segundo trimes-
tre e 39% no terceiro trimestre, sendo que 39% do total
(n=100) das gestantes estavam em sua primeira gravidez
(Gráco 3).
Na pergunta sobre ocorrência de alguma alteração
na boca percebida durante a gestação, de acordo com
Tabela 2, 46% perceberam alterações, sendo que destas
respostas, as principais alterações alegadas foram san-
gramento/problemas na gengiva e dor de dente (Grá-
co 4).
Menino e Bijella
13
(1995) relataram que 43,3% de
150 gestantes entrevistadas apresentavam sangramento
gengival e que 100% delas apresentavam algum grau de
doença periodontal. Sartorio e Machado
18
(2001) rela-
taram que 56,6% de um total de 60 pacientes gestantes
44
Moimaz SAS, Rocha NB, Saliba O, Garbin CAS O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de Odontologia da Universi-
dade Cidade de São Paulo 2007 jan-abr; 19(1):39-45
apresentavam sangramento gengival, de diversos graus.
Em relação à pergunta sobre a procura de atendimen-
to odontológico durante o período gestacional (Tabela
2), 73% responderam que não procuraram o cirurgião-
dentista, contra 27% que procuraram. Esses resultados
evidenciam a pouca procura das gestantes por tratamen-
to odontológico, como foi descrito semelhantemente
por Costa, et al.
5
(1998), Maeda et al.,
12
(2001) Sartorio
e Machado
18
(2001). As causas principalmente relatadas
por essa não procura pelo tratamento, conforme Tabela
3, foram: não havia necessidade de tratamento (32,9%),
mitos, crendices e tabus (16,4%), falta de dinheiro, von-
tade e /ou tempo (15,1%), medo (8,2%), ida ao dentista
antes da gravidez (11%), problemas nos postos de saúde
(9,6%), orientação do médico a não tratar (1,4%), não
teve motivo (2,7%) e outros (2,7%).
Podemos constatar que mesmo a maioria (61% - Grá-
co 3) das gestantes não estando na primeira gravidez,
não sabem a importância de cuidar de sua saúde bucal
e preservá-la, ocorrendo pouca procura ao atendimento
odontológico.
Esses resultados mostram a insegurança e o medo
das gestantes quanto ao tratamento odontológico, ba-
seados em crenças antigas e argumentos sem qualquer
fundamentação cientíca, mas reforçados pela tradição
leiga, conforme relata Cozzupoli
6
(1981).
Em estudo realizado por Scavuzzi, et al.
20
(1998),
com 204 gestantes, também foi vericada a presença de
crenças e mitos relacionados à Odontologia e gravidez.
Das 46 gestantes que perceberam alterações na boca,
somente 22 (47,8%) procuraram o CD para realizar tra-
tamento odontológico (Tabela 2). Assim pode-se perce-
ber que mesmo quando existe uma real necessidade de
tratamento, devido às alterações percebidas pelas ges-
tantes, elas sugerem pouca valorização ou certo confor-
mismo sobre suas condições bucais de saúde.
Bernd et al.
3
(1992) realizaram uma entrevista com
um grupo de gestantes, identicaram nesta, o relato de
dois níveis de diculdades que devem ser superadas para
se chegar ao dentista. O primeiro é interno, subjetivo e
diz respeito a seus medos, traumas e fantasias. O segun-
do é externo e objetivo e se relacionam com as dicul-
dades de marcação de consultas, esperas prolongadas e
interferências do cotidiano.
Torna-se real a necessidade das gestantes serem prio-
rizadas nos programas de assistência odontológica, de-
vido a essa falta de informação, fundamentalmente pelo
seu papel exercido na saúde bucal de seus lhos, confor-
me relata Scavuzzi, et al
22
(1999).
Dualibi e Dualibi
7
(1985) concordam em que não há
problemas em se prestar assistência odontológica às ges-
tantes e qualquer procedimento pode ser feito em qual-
quer fase da gestação, desde que para isso se tomem os
devidos cuidados: seções curtas, uso criterioso de medi-
camentos e anestésicos e exposição à radiação somente
quando necessário. Apesar de 23 pacientes procurarem
o cirurgião-dentista somente 40,7% foram atendidas
(Tabela 2), alegando como motivos: problemas nos ser-
viços públicos de saúde (45,4%), aguarda atendimento
(27,3%) e recusa do CD a tratar (27,3%). Na opinião de
Scavuzzi et al.
20 e 21
1998, isso é bastante grave, pois essa
crença de que o tratamento odontológico prejudica o
feto está bastante arraigada e sua origem, possivelmen-
te, na própria concepção do prossional. Há necessida-
de, portanto de se modicar esse discurso, por meio da
inserção de maiores informações sobre o assunto nos
currículos de graduação e nos veículos de comunicação
prossional, a m de se alcançar uma ampla cobertura,
desmisticando-se a crença e promovendo-se o apren-
dizado.
Conforme Tabela 2, das gestantes que foram aten-
didas, apenas 37,5% tiveram seu tratamento concluído.
Eram primigestas 39% das gestantes, e dentre as que
já tinham lhos, 62,9% não procuraram o atendimento
odontológico em gestações anteriores (Tabela 2). Das
37,1% que procuraram o dentista na gestação anterior,
alegaram como principais motivos da procura: dor e ur-
gência (73,9%), rotina (13%) e prevenção (8,7%).
Como agravante do quadro encontrado no grupo
de gestantes estudado nesta pesquisa, na Tabela 2, evi-
dencia-se que 75% das gestantes não haviam recebido
qualquer orientação sobre a importância do atendimen-
to odontológico durante a gestação. Das 25 (25%) que
a receberam, responderam que foram orientadas (Tabe-
la 5), principalmente, pelas funcionárias do postos de
saúde (40%), família, amigos e marido (24%), dentista
(16%), cartazes no posto (12%) e médico (8%). Esse re-
sultado mostra a importância dos prossionais dos pos-
tos de saúde (agentes comunitários de saúde e auxiliares
de enfermagem) orientarem as gestantes sobre aspectos
de promoção da saúde bucal.
Torna-se evidente a necessidade da inserção do cirur-
gião-dentista na equipe Pré-Natal, capacitando-se assim
a equipe, para fornecer informações básicas na área de
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odontologia, agindo como uma equipe multidisciplinar
de atendimento às gestantes através da utilização de mé-
todos educativos e preventivos.
cOnclusões:
Com a análise dos resultados, conclui-se que:
1 - A procura por atendimento odontológico não foi
prioridade no grupo, mesmo quando problemas reais
como dor e sangramento gengival estavam presentes;
2 - Houve recusa de atendimento odontológico por
parte dos cirurgiões-dentistas, mostrando-se a necessi-
dade de capacitação de prossionais e ênfase de conteú-
dos relacionados aos temas nos cursos de formação;
3 - As crenças e os mitos foram evidenciados pelas
gestantes como motivo para a não procura de atendi-
mento odontológico durante a gestação;
4 - A falta de informação das gestantes sobre atenção
odontológica demonstra a necessidade de as gestantes
serem priorizadas nos programas de assistência odonto-
lógica, fundamentalmente devido ao papel que exercem
na promoção de saúde bucal de seus lhos.
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Recebido em: 26/06/2006
Aceito em: 02/02/2007