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A Depressão em Trabalhadores de uma Frente de Trabalho

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Abstract

Depression today is a psychological disorder of major incidence on the population. A number of studies have been made showing a surprising range of people subjected to it. On account of such diversity the present study shows an investigation made with laborers taking part in a program sponsored by São Paulo State Government in which temporary labor contracts are offered to workers who had faced unemployement for at least one year. 50 people, 25 men and 25 women participated of the sttudy. Beck Depression Inventory was used along with a Questionnaire to collect socio-demographic data. The instrument was applied to small groups at the site of works. Only 2% of participants presented a score equivalent to a severe level of depression; 8% presented moderate level; 22% light and 68% minimum level. Concerning to genders it was found that severe and moderate levels of depression prevailed among women, the light level was even for both sexes and the minimum level was dominant among men. The results confirmed the literature that states that unfavorable life conditions are determining factors on the incidence of depressive symptoms, as a way of reaction against environmental stressors.
A Depressão em Trabalhadores de uma Frente de Trabalho
Revista de Psicologia da UnC, vol. 2, n. 2, p. 93-102
www.nead.uncnet.br/revista/psicologia
A Depressão em Trabalhadores de uma Frente de Trabalho
Cláudio Garcia Capitão1
Karina Lucena de Mesquita2
Resumo
Atualmente a depressão é um dos transtornos psicológicos de maior incidência na população. Diversos estudos
têm sido realizados e cada vez mais é surpreendente a diversidade de pessoas acometidas. Justamente por esta
diversidade, este estudo teve como objetivo investigar pessoas vinculadas à Frente de Trabalho, denominação
dada a um programa do Governo do Estado de São Paulo, em que são oferecidos contratos temporários de
trabalho para cidadãos desempregados há mais de um ano. Participaram do estudo 50 trabalhadores, 25 homens
e 25 mulheres. Foram utilizados o Inventário de Depressão Beck e um Questionário para coleta de dados sócio-
demográficos. A aplicação do instrumento se deu em pequenos grupos e no local de trabalho dos participantes.
Apenas 2% dos participantes apresentaram escore equivalente a nível grave de depressão, 8% apresentaram
nível moderado, 22% nível leve e 68% nível mínimo. Quanto às diferenças entre gêneros, constatou-se que os
níveis graves e moderados prevaleceram entre as mulheres; o nível leve foi de igual prevalência entre os sexos e
o nível mínimo foi dominante entre os homens. Os resultados obtidos confirmaram a literatura, que afirma que
as condições de vida desfavoráveis são fatores determinantes à ocorrência de sintomas depressivos, como forma
de reação a estressores ambientais.
Palavras-chave: Depressão; Frentes de trabalho; Inventário de Depressão Beck.
The Depression in Laborers of a Labor Front
Abstract
Depression today is a psychological disorder of major incidence on the population. A number of studies have
been made showing a surprising range of people subjected to it. On account of such diversity the present study
shows an investigation made with laborers taking part in a program sponsored by São Paulo State Government
in which temporary labor contracts are offered to workers who had faced unemployement for at least one year.
50 people, 25 men and 25 women participated of the sttudy. Beck Depression Inventory was used along with a
Questionnaire to collect socio-demographic data. The instrument was applied to small groups at the site of
works. Only 2% of participants presented a score equivalent to a severe level of depression; 8% presented
moderate level; 22% light and 68% minimum level. Concerning to genders it was found that severe and
moderate levels of depression prevailed among women, the light level was even for both sexes and the
minimum level was dominant among men. The results confirmed the literature that states that unfavorable life
conditions are determining factors on the incidence of depressive symptoms, as a way of reaction against
environmental stressors.
Keywords: Depression; Labor fronts; Beck Depression Inventory.
1 Doutor pela Unicamp. Pós-doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Professor da Universidade São Francisco. E-mail:
cgcapitao@uol.com.br
2 Psicóloga pela Universidade Brás Cubas. E-mail: karina.mesquita@terra.com.br
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Os transtornos depressivos, enquanto manifestação
de sintomas relacionados às condições psicológicas,
orgânicas, hereditárias e sociais, vêm apresentando
índices bastante elevados, ocasionando sofrimento
que interfere significativamente na vida das
pessoas. Atingem crianças, adolescentes, adultos e
idosos, rompendo os limites de idade, condição
socioeconômica, raça e localização geográfica.
As pessoas, de uma forma geral, apresentam
flutuações de afeto nas respostas aos
acontecimentos da vida diária. No entanto, em um
número considerável delas, tais respostas assumem
uma forma intensa e persistente, podendo
caracterizar a ocorrência de um transtorno afetivo.
A mais freqüente forma clínica assumida por esse
transtorno é geralmente denominada de depressão,
que envolve uma série de sintomas como tristeza,
autodepreciação, abandono, desvalia, culpa, entre
tantos outros afetos.(Graef & Brandão, 1993; OMS,
1993).
Holmes (2001) considera a depressão como um
estado emocional caracterizado por sentimento de
intenso desânimo que contagia diferentes áreas da
personalidade da pessoa, como o pensamento, o
humor, os sentimentos e várias sensações
relacionadas ao corpo. Tal sentimento modifica,
inclusive, a maneira como a pessoa se alimenta e
dorme, nos sentimentos em relação a ela mesma, no
modo como encara as coisas da vida, refletindo-se,
ainda, nas suas relações pessoais.
Ballone, Ortolani e Pereira Neto (2002) avaliam ser
a depressão uma doença crônica, recorrente, que
influencia de forma contundente a visão da pessoa
em relação aos eventos da vida. Os sintomas podem
desaparecer, tornarem-se imperceptíveis, mas, com
grande freqüência podem retornar.
As manifestações da depressão têm sido estudadas
desde os primórdios de nossa civilização. Para João
(1987), no século IV a.C. Hipócrates já teria
diferenciado quatro tipos de temperamento, sendo
um deles denominado “melancólico”, equivalente
ao que identificamos hoje como depressão. Na
Idade Média, a depressão era considerada resultante
de uma “força mística”, provocada por alguma
entidade misteriosa.
Para Angst (1999), a depressão é uma enfermidade
caracterizada por episódios de longa duração, alta
cronicidade, recaídas e recorrências, com alto risco
de suicídio. Dois milhões de novos deprimidos
surgem, em média, a cada ano no mundo. Em nosso
país, por volta de 10 milhões de pessoas sofrem de
depressão, podendo ser esta considerada uma
grande ameaça à saúde da sociedade, em termos
epidemiológicos.
Solomon (2001) define a depressão como uma
imperfeição no amor. Assinala que, quando ela
chega, de uma forma geral pode degradar o eu da
pessoa e obnubilar toda a sua capacidade no ato de
dar ou de receber afeição. O enfrentamento da
depressão varia de pessoa para pessoa. Algumas são
de fato corajosas, enquanto que outras, mais fracas,
podem chegar, inclusive, a matar-se. Porém, se de
certa forma todos possuem uma certa capacidade
para suportar determinados níveis de depressão,
outros conseguem suportá-la em muitas
circunstâncias, podendo tratar-se e continuar a sua
vida de uma forma prazerosa e digna. A depressão é
a principal causa de incapacitação nos Estados
Unidos e no restante do mundo, para pessoas acima
de cinco anos de idade, consome mais anos da vida
produtiva do que a guerra, o câncer e a Aids juntos.
De acordo com dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS, 2001, citado por Baptista, 2004), a
depressão grave responde por 12% do total de
afastamentos de atividades profissionais e
educacionais em todo o mundo, fazendo desse
transtorno a principal causa de incapacitação e
responsável por um grave impacto econômico nas
sociedades, além do envolvimento de tantas pessoas
(portadores de transtorno e as que convivem com os
mesmos), em um estado de sofrimento e
infelicidade. A prevalência é de duas mulheres
afetadas para cada homem.(APA, 1995; Cooper,
Campbell & Day, 1988; Cordás, Nardi, Moreno &
Castel, 1997; Cox, Murry & Chapman, 1993; Ebert,
Loosen & Nurcombe, 2002; Kaplan, Sadock &
Grebb, 1997; Kumar, 1990; O’Hara, Zekoski &
Phillips, 1990; Olson & Von Knorring, 1997).
Segundo Cordás (2002), a depressão se caracteriza
pela ocorrência, num período de duas semanas, de
pelo menos cinco sintomas, como ansiedade,
diminuição da libido, dificuldade de concentração,
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fadiga constante, sensação de desânimo, perda ou
excesso de apetite, inquietação e irritabilidade,
insônia ou sonolência excessiva, perda de interesse
por atividades consideradas prazerosas, culpa,
autodesvalorização, idéias de morte ou de suicídio,
dores de cabeças e vários distúrbios do sistema
digestivo.
Zimerman (1999) comenta que o estado depressivo
nem sempre se manifesta no plano afetivo, e nem
mesmo por um humor rebaixado. Os sintomas são
substituídos e mascarados por equivalentes de
sintomas, ou seja, por uma fuga maníaca, alguma
forma de adição, somatizações, conduta masoquista,
e por atitudes que podem colocar a vida em risco de
destruição.
Respaldando as idéias de Zimerman (1999), Lafer,
Almeida e Fráguas Júnior (2000) acrescentam que
embora a característica mais marcante dos estados
depressivos seja a presença de sentimentos de
tristeza ou de vazio, esta característica pode estar
ausente em um número considerável de pacientes.
Essa peculiaridade, muitas vezes, dificulta um
diagnóstico precoce ou preciso de um transtorno
depressivo que já esteja em pleno desenvolvimento.
Quanto à faixa etária de ocorrência, Kaplan, Sadock
e Grebb (1997) apontam para a idade de 40 anos em
média, com início de manifestações entre 20 e 50
anos. Em relação ao estado civil, existe uma
prevalência em pessoas que não têm relações
interpessoais íntimas ou são divorciadas ou
separadas.
Olson e Von Knorring (1997) acentuam que os
transtornos depressivos recorrentes são de 50 a 75%
mais diagnosticados em mulheres do que nos
homens, porém com causas desconhecidas para tal
constatação. Existem apenas hipóteses em torno de
influências hormonais, de uma predisposição
genética relacionada ao cromossomo X, de um
“aprendizado de reações depressivas” culturalmente
mais observado em mulheres, ou, mesmo, na maior
predisposição que elas têm em procurar tratamento,
justamente por sua maior facilidade em demonstrar
os sentimentos.
O DSM-IV (American Psychiatric Association,
1995), sem fazer qualquer consideração sobre a
etiologia das depressões, classifica, de uma forma
geral, as depressões da seguinte forma: Transtorno
Depressivo Maior, Transtorno Distímico,
Transtorno Ciclotímico, Transtorno do Humor
Devido a um Problema Médico de Ordem Geral. O
Transtorno Depressivo Maior pode ser precedido
pelo Transtorno Distímico e os sintomas típicos se
desenvolvem ao longo de dias a semanas, sendo
comuns os sintomas prodômicos (p.ex., ansiedade
generalizada, ataques de pânico, sintomas
depressivos subliminares). Embora algumas pessoas
tenham um único episódio, com um completo
retorno ao funcionamento pré-mórbido,
aproximadamente 50% das que apresentam esses
episódios terão outros, ocasião em que então
preencherão os critérios para depressão recorrente.
Ebert, Loosen e Nurcombe (2002) comentam que
apesar das intensas tentativas para estabelecer as
suas bases etiológicas e fisiopatológicas, a causa
precisa dos transtornos depressivos ainda é
desconhecida. Existe um certo consenso de que
múltiplos fatores etiológicos – genéticos,
bioquímicos, psicodinâmicos e sócio-ambientais –
podem interagir de maneiras complexas e que a
compreensão do fenômeno depressivo requer um
entendimento sofisticado das relações entre vários
fatores.
Bowlby (1997) afirma que em estudos recentes e
bem controlados, com alto grau de confiabilidade,
verificou-se que a depressão é um dos transtornos
com maior incidência em indivíduos que tiveram
vínculos desfeitos durante a infância. Na mesma
vertente, para Dalgalarrondo (2000), as síndromes e
reações depressivas surgem com muita freqüência
após perdas significativas, como a de uma pessoa
muito querida, de um emprego, de um local de
moradia, do status socioeconômico, ou de algo
puramente simbólico.
Cordás, Nardi, Moreno e Castel (1997) postulam
que, numa síndrome como a depressão, os fatores
biológicos estão sempre presentes e são
determinantes, e os fatores psicológicos
apresentam-se como desencadeantes ou mesmo
agravantes. Esses fatores provocam reações
diferentes em cada pessoa frente aos episódios
estressores do cotidiano, e assim, dependendo da
predisposição biológica, pequenos motivos, como
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decepções ou sonhos íntimos desfeitos, podem
tomar a proporção de algo tão intenso quanto a
morte de um ente querido e desencadear um quadro
de depressão.
Kaplan, Sadock e Grebb (1997), norteados por
pesquisas e estudos de indivíduos acometidos de
transtornos depressivos, assinalam que a variação
no nível dos neurotransmissores, especialmente da
norepinefrina, serotonina e dopamina são fatores
predominantes no desenvolvimento da síndrome.
Atualmente sabe-se que todos os antidepressivos
clinicamente eficazes aumentam as concentrações
dos neurotransmissores nos locais dos receptores
pós-sinápticos, inibindo a sua recaptação (para
dentro do neurônio pré-sináptico) a partir da fenda
sináptica. Esses dados reforçam a hipótese de que a
depressão seja causada por uma deficiência do
neurotransmissor e de que o antidepressivo exerça a
sua ação clínica tratando esse desequilíbrio.
Muitos teóricos da psicanálise enfatizam o conceito
de dependência interpessoal desregrada, na qual a
auto-estima da pessoa depende excessivamente da
aprovação, do reasseguração, da atenção e do amor
de outros. Assim, quando a preocupação
interpessoal dos outros se desvanece ou termina,
surgem estados depressivos.
Freud (1996) procurou estabelecer um paralelo
entre o luto e a melancolia. O luto foi então
considerado como uma reação normal a uma perda
consciente, desaconselhando, inclusive, qualquer
intervenção psicoterapêutica, uma vez que o
processo chega ao seu término quando a pessoa se
desliga dos investimentos no ente perdido. Pode-se
encontrar, entre as características principais da
melancolia, uma depressão profunda, a perda de
interesse pelas coisas da vida, uma redução drástica
na capacidade de amar, o empobrecimento de toda
atividade física, e o rebaixamento dos sentimentos
de auto-estima até um ponto de intensa auto-
reprovação, auto-injúria, chegando até a um desejo
delirante de punição.
Fenichel (2000), ampliando a abordagem freudiana,
assinala que os pacientes melancólicos possuem um
severo superego, fato este relacionado à culpa por
ter demonstrado agressão em direção aos objetos
amados. Os pacientes melancólicos realmente
agiriam como se fossem os objetos amados
perdidos, embora não assumam todas as
características do objeto. O ego, então, é sentido
como objeto mau, e eventualmente este objeto
interno mau ou o objeto amado perdido é
transformado em superego sádico. O ego passa a ser
uma vítima do superego, tão desamparado e sem
poder quanto uma criança pequena torturada por sua
cruel e poderosa mãe.
Para que a depressão seja tratada é necessário
compreender a experiência de um profundo
sofrimento mental, o modo de ação dos
medicamentos e as mais variadas formas de
psicoterapia, psicanálise, comportamental,
cognitiva. Pesquisadores trabalham em quatro
direções de tratamento: terapias preventivas,
aumento da especificidade da medicação, drogas
com ação mais rápida e uma maior especificidade
da sintomatologia, com o objetivo de abolir o ensaio
de acertos e erros na prescrição de medicamentos. O
sofrimento que acarreta e o custo social envolvidos
são consideráveis, especialmente porque são poucas
as pessoas acometidas por algum transtorno do
humor que possuem acesso a um diagnóstico e a
tratamentos adequados (Ambrosini, 2000; Hayman,
2000; Lafer, Almeida e Fráguas Júnior, 2000; Post,
1992; Williams, 1996).
Campos (2004) relata que desde o início da
civilização o homem se define por sua relação com
o trabalho, o qual será responsável por dignificá-lo,
singularizá-lo e fazê-lo sentir-se único em relação à
transformação da natureza. O trabalho, para a
pessoa, pode ser sentido como uma ação consciente
na luta pela sobrevivência. O cansaço
proporcionado por essa luta pode levar muitas
pessoas a perderem o sentido da vida e a razão de
viver.
Dejours (1992) aponta-nos, com aguda precisão,
que executar uma tarefa sem envolvimento material
ou afetivo exige um esforço de vontade que em
outras circunstâncias só é suportado pelo jogo da
motivação e do desejo. A vivência depressiva em
relação ao trabalho e a si mesmo alimenta-se da
sensação de adormecimento intelectual, de esclerose
mental, de paralisia da fantasia e da imaginação. Na
verdade, marca de alguma forma, o triunfo do
condicionamento em relação ao comportamento
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produtivo e criativo. Para o autor, a relação do
homem com o conteúdo significativo do trabalho,
pode ser resumida em dois componentes: o
conteúdo significativo em relação ao sujeito e o
conteúdo significativo, podemos assim dizer, em
relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço
dessa relação são bloqueados por algum motivo ou
circunstância, observamos a incidência do
sofrimento.
Capitão (2004) assinala existir um quase terrorismo
praticado contra a grande massa de trabalhadores
em quase todo o planeta. Esta ameaça, com objetivo
certeiro, faz com que milhares de pessoas acordem
ou durmam sobressaltadas, pois a única coisa que
de fato possuem, sua força de trabalho, pode ser
dispensada a qualquer momento. O desprezo assola
o universo do trabalho, trazendo conseqüências
drásticas para a saúde física e mental das pessoas.
A OMS, através do The Whoqol Group (1995),
definiu qualidade de vida como a percepção do
indivíduo da sua posição na vida no contexto do
sistema cultural e de valores vivenciados, e em
relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações. A pobreza pode ser um fator de
muita relevância na explicação do aparente aumento
dos transtornos do humor, pois estes estão
associados a muitas condições sociais, como
desemprego, baixo nível de instrução, falta de
moradia e alimentação inadequada ou insuficiente.
Tais condições, sozinhas ou combinadas, podem
aumentar as chances de uma pessoa desenvolver um
estado de desesperança, que tem como efeito
imediato a redução de sua capacidade para lidar
com situações estressoras de maneira adequada,
reduzindo a sua disposição para suportar fatos
adversos e frustrantes. Assim, a desesperança pode
propiciar o estabelecimento de estados depressivos,
ansiedade e redução drástica da auto-estima.
(Seligman, 1977).
A pobreza não é exclusividade de países do terceiro
mundo ou em desenvolvimento. Huston, McLoyd e
Coll (1994), analisando o censo de 1991 dos
Estados Unidos, apontam que 21,8% das crianças
viviam em famílias pobres, resultado direto de
inúmeros fatores sociais, tais como a recessão
econômica, baixos salários, filhos de mães solteiras,
nível educacional baixo. As conseqüências da
pobreza atingem crianças e adolescentes, deixando
marcas significativas em seu desenvolvimento,
propiciando uma formação de personalidade sem
muitos recursos para transformar a realidade e as
condições de suas próprias vidas.
Em estudos divulgados pelo Radar Social (Ipea,
2005), o Brasil tem uma das piores distribuições de
renda do mundo. Menos de 1% dos brasileiros
detêm parcela de renda semelhante à de metade dos
brasileiros mais pobres. O número de pobres, com
renda abaixo de meio salário mínimo, atingiu a cifra
de 53,9 milhões de pessoas em 2003. Desses, 21,9
milhões seriam indigentes.
Em virtude do agravamento das condições sociais
propiciadas pelos altos índices de desemprego, o
Governo do Estado de São Paulo vem
desenvolvendo um programa de promoção de
emprego temporário, denominado Frente de
Trabalho. Os critérios de seleção para o ingresso na
Frente de Trabalho são: estar desempregados há
mais de um ano e residir, pelo menos, há dois anos
no estado de São Paulo, tendo preferência os com
maiores encargos familiares, tais como mulheres
arrimo de família, os desempregados há mais tempo
e os mais idosos.
As funções desempenhadas pelos trabalhadores do
Programa são restritas à complementação de mão de
obra já existente no serviço público, variando de
acordo com as necessidades de cada local de
trabalho. A remuneração é de R$ 210,00 acrescida
de vale transporte e de cesta básica no valor de R$
46,60.
Olson e Von Knorring (1997) assinalam que a
prevalência de depressão na mulher, a partir da
adolescência, é descrita com uma proporção de duas
mulheres atingidas para cada homem, porém são
raros os estudos que enfatizam a sua ocorrência em
situações especificas de trabalho, em que as
condições de vida dos trabalhadores estão nos
limites de uma intensa pobreza, caso dos
participantes da Frente de Trabalho descrita acima.
Metodologia
Objetivo
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O objetivo do presente estudo foi o de levantar, por
meio do Inventário de Depressão Beck, a freqüência
de indicadores de depressão em trabalhadores
vinculados a um programa de promoção de
emprego temporário do Governo de São Paulo
(Frente de Trabalho).
Participantes
Participaram da pesquisa 50 sujeitos, 25 homens e
25 mulheres com idades entre 19 e 60 anos, todos
vinculados ao Programa Frente de Trabalho do
Governo do Estado de São Paulo, com ocupações
relacionadas à manutenção e funcionamento de um
parque ecológico, tais como: recepção e
monitoramento de visitantes, faxina das instalações,
carpintaria e algumas ocupações administrativas.
Trata-se de um estudo transversal, com
participantes escolhidos por meio de amostra não-
aleatória, dentro de um contexto específico, ou seja,
pertencentes ao Programa Frente de Trabalho.
Instrumento
Foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck –
Beck Depression Inventory (BDI), desenvolvido por
Beck e seus colaboradores no Center for Cognitive
Therapy (CCT), com versão em português por
Cunha (2001). O inventário é uma escala de auto-
relato composta de 21 itens. Cada item apresenta
quatro alternativas com escores que vão de 0 a 3, o
maior escore possível é 63. Os escores totais
demonstram graus crescentes de gravidade de
sintomas depressivos, isto é, mínimo (escores 0 -
11), leve (escores 12 - 19), moderado (escores 20 -
35), grave (escores 36 - 63). A validade do
Inventário foi analisada por um grupo de peritos,
escolhidos como juízes, para chegar a uma versão
consensual em português. Os conteúdos dos itens
foram analisados segundo os critérios diagnósticos
do DSM-IV (APA, 1995). Os estudos de validade
do instrumento foram considerados satisfatórios.
Procedimentos
Após a assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido pelos responsáveis e pela
coordenação dos trabalhadores, foram agendados
dias e horários para a aplicação do Inventário. Os
participantes foram abordados antes do início de
suas atividades ou nos intervalos, conforme
transitavam pela sala de recreação (espaço com
mesas e cadeiras, artefatos artísticos e audiovisuais,
onde os trabalhadores eventualmente recebem
cursos de reciclagem, conscientização ambiental e
criações artísticas). Após os objetivos da pesquisa
terem sido explicados, foi solicitado a todos que
concordaram em participar, para que assinassem o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As
aplicações foram em grupos de 15 a 20 pessoas e
demoraram em média 30 minutos.
Resultados e Discussão
O grau de escolaridade dos participantes variou
entre (8%) analfabetos, (66%) com ensino
fundamental e (26%) com ensino médio. Quanto ao
estado civil, foram classificados em (54%) solteiros,
(38%) casados, (2%) desquitados/divorciados, (2%)
viúvos, e (4%) outros. A título de uma melhor
visualização da população investigada, a idade dos
participantes variou entre 19 e 60 anos ( DP=11,33).
A ocorrência e a gravidade dos sintomas apurados
por meio da aplicação do BDI, podem ser
visualizados na Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição do número de trabalhadores entre os níveis de depressão
Níveis de depressão F % Média Desvio padrão
Mínimo (escore 0-11)
Leve (escore 12-19)
Moderado (escore 20-35)
Grave (escore 36-63)
34
11
4
1
68
22
8
2
4,53
13,64
25,00
36,00
2,84
1,80
6,78
0,00
Total 50 100 8,80 7,89
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Verificou-se a prevalência da ocorrência de
depressão em seu grau mínimo em 68% dos
participantes, 22% grau leve, 8% moderado e 2%
grave. Foi possível observar a prevalência em
mulheres dos graus leve (14%) e grave (2%),
enquanto que em homens, esses níveis não
ultrapassaram 8% detectados apenas no grau leve,
dados estes que podem ser visualizados na Tabela 2.
Tabela 2. Distribuição dos níveis de depressão entre homens e mulheres
FF
Níveis de depressão Homens % Média Desvio
Padrão Mulheres % Média Desvio
Padrão
Mínimo (escore 0-11) 19 38 3,89 2,96 15 30 5,33 2,66
Leve (escore 12-19) 4 8 13,75 1,50 7 14 13,57 2,07
Moderado (escore 20-
35) 2 4 22,50 0,71 2 4 27,50 10,61
Grave (escore 36-63) 0 0 0,00 0,00 1 2 36,00 0,00
Total 25 50 6,96 6,36 25 50 10,64 8,79
Os dados apurados corroboram os encontrados na
literatura especializada. Fenichel (2000), Freud
(1996), Lafer, Almeida e Fráguas Júnior (2000)
afirmam ser a depressão decorrente da perda da
auto-estima ou de provisões que, na expectativa da
pessoa, garantiriam ou aumentariam a auto-estima.
Tal perda está relacionada ao bem ou mal estar
físico e mental de uma pessoa, o que vem ao
encontro com as condições de vida da população
investigada, com poucas habilidade profissionais,
longo tempo de desemprego, idade de difícil
empregabilidade.
Cordás, Nardi, Moreno e Castel (1997), Dejours
(1992), Huston, McLoyd e Coll (1994) alertam para
a grande probabilidade de desenvolvimento de
síndromes psiconeuróticas em decorrência das
condições de trabalho pouco satisfatórias do ponto
de vista psicossocial, caso este da população
investigada.
Outra variável a ser considerada na avaliação dos
resultados é o fato de que os participantes possam
ter ocultado as suas condições reais de saúde,
procurando proteger-se de possíveis prejuízos
quanto à garantia de suas posições empregatícias,
supondo que o empregador poderia ter acesso aos
dados e dar preferência a funcionários saudáveis,
embora tenham sido previamente esclarecidos
quanto a isto.(Capitão, 2004; Dejours,1992; OMS,
1993; Seligman, 1997).
Já quanto à prevalência de transtorno depressivo em
mulheres, conforme afirmado por Cooper,
Campbell e Day (1988), Cordás, Nardi, Moreno e
Castel (1997), Cox, Murry e Chapman (1993),
Ebert, Loosen e Nurcombe (2002), Kaplan, Sadock
e Grebb (1997), Kumar (1990), O’Hara, Zekoski e
Phillips (1990), Olson e Von Knorring (1997), esta
se confirmou na pesquisa, especialmente quando
consideramos a presença de indicadores de
depressão entre os níveis leve a grave, mostrando
que a depressão é realmente mais recorrente em
mulheres do que em homens.
Conclusão
Os resultados obtidos apontam que as condições de
trabalho podem estar relacionadas diretamente ao
rebaixamento da auto-estima, fator este presente na
ocorrência de estados depressivos. Esse
rebaixamento seria uma forma de reação (negativa)
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aos fatores estressores presentes na condição de
trabalho. A população investigada está dependente
de um contrato temporário de trabalho,
condicionada a sobreviver de uma renda mísera, que
não chega sequer ao valor de um salário mínimo.
Muitas pessoas encontram-se depressivas durante
uma fase de suas vidas, ou por estarem vivendo em
alguma circunstância desfavorável, sofrível, ou por
conseqüência de um único fato, ou, ainda, como
resultado de uma somatória de eventos traumáticos.
Mesmo sem um histórico de transtorno depressivo,
elas podem estar apresentando uma depressão
reativa às circunstâncias desfavoráveis desta fase.
A Organização Mundial de Saúde vem alertando,
desde a década de 90, sobre a posição de destaque
ocupada pela depressão entre os problemas de
Saúde Pública, considerada a quarta doença mais
onerosa entre todas as doenças. Paralelamente
também se observa que as condições de vida da
grande maioria da população da Terra vêm se
deteriorando, enquanto uma concentração brutal de
renda vai se dando em torno de uma pequena
minoria, que investe em ganhos de capital e não
mais na produção, que poderia gerar melhores
condições de trabalho e com isso uma vida digna
para muitos. A depressão, apesar da sua
multiplicidade etiológica, ganha uma base segura de
sustentação em nossa sociedade pós-moderna,
especialmente em um país com tanta desigualdade
social, como é o caso do Brasil.
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Recebido em: 7/3/2005
Aceito em: 9/5/2005
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Análise da Saúde Mental de professores universitários brasileiros atuantes no ensino superior das Universidades Federais do Estado do Pará, em 2023. Linha de pesquisa em epidemiologia em saúde mental. A partir desta pesquisa, procura-se observar quais as possíveis causas que estão afetando a saúde mental desses professores e quais as possíveis relações neste transtorno e se isso pode afetar seu desempenho profissional e como é possível sustentar essa descompensação de saúde mental na profissão docente hoje, ano de 2023, considerando a intersetorialidade entre saúde e educação. Avaliar se o estado emocional dos professores está relacionado à carga de estresse na profissão e quais os fatores que podem ser os agentes causadores desse estresse; se há um alto índice de ataques de pânico ao atuar como professor e se isso interfere na sua vida privada; medir o nível de ansiedade e o nível de depressão; e observar o uso de medicamentos controlados para crises que afetam a saúde mental. Conclui-se que a “população” de professores universitários está adoecida, se evidenciando um caso de saúde pública, na educação. Diante de todos esses pontos vê-se a necessidade de uma política pública diretamente relacionada a saúde mental de professores, pois o lugar que estes ocupam, de formação de outros profissionais, reflete em pessoas, e estas irão atuar em toda sociedade. Trata-se de construção de futuro, com cuidado no presente.
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RESUMO Realizou-se estudo transversal do sofrimento mental com 1.021 professores do ensino público do Paraná. Utilizou-se o Self-Report Questionnaire para distúrbios psíquicos menores, os inventários de ansiedade e depressão de Beck, e questionário sociodemográfico e de morbidade autorreferida. Os testes Qui-quadrado, Exato de Fisher e Kruskal-Wallis foram utilizados na análise dos dados obtidos. Foram encontrados distúrbios psíquicos menores em 75%, depressão em 44% e ansiedade em 70% das pessoas observadas no presente estudo, havendo associação significativa (p<0,05) destes sintomas com o sexo feminino, outras doenças, o fato de levarem trabalho para casa e de trabalharem com o ensino fundamental. O sofrimento mental esteve presente em grande parcela da amostra estudada, apresentando relação com as condições de trabalho.
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Este estudo tem como objetivo apresentar os níveis de Estresse e Depressão nas mulheres do setor do vestuário da cidade de Brusque, Santa Catarina. Para avaliar o índice de Depressão foram utilizadas as Escalas Beck, constituídas de medidas escalares de Depressão (BDI), Ansiedade (BAI), e Desesperança (BHS). Para apurar dados do Estresse utilizou-se o Inventário de Sintomas de Stress (ISSL). Os instrumentos foram aplicados em 145 mulheres de diferentes funções e empresas da área têxtil de Brusque. Encontrou-se um índice expressivo de trabalhadoras com sintomas de estresse e depressão. 66,7% das trabalhadoras apresentaram algum índice de estresse, considerando que, destas, 72,9% encontravam-se na fase de resistência, caracterizada principalmente pelo desgaste físico generalizado. 51,2% das trabalhadoras apresentaram algum índice de depressão, 54,4% de ansiedade e 36,9% de desesperança. Os maiores índices de depressão (t = 4,989; p < 0,001), ansiedade (t = 4,021, p < 0,001) e desesperança (t = 2,450. p = 0,016) foram encontrados nas trabalhadoras que relataram dificuldades no sono. Os índices de estresse mostraram uma alta correlação com os índices de depressão (r = 0,591; p < 0,001), ansiedade (r = 0,656; p < 0,001) e desesperança (r = 0,446; p < 0,001). Os resultados sugerem fortemente uma grave situação da condição de saúde e da qualidade de vida para as mulheres vestuaristas.
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To identify the prevalence of burnout syndrome (BS) dimensions and their relationship with sociodemographic data, working variables, psychosocial variables, job satisfaction, hardiness, self-efficacy, and common mental disorders among health professionals of a public hospital. This cross-sectional study assessed 234 health professionals working at a public hospital in southern Brazil. Participants answered the Maslach Burnout Inventory, the Job Satisfaction Questionnaire, the Hardiness Scale, The General Self-Efficacy Scale, the Self-Reporting Questionnaire, and a questionnaire specifically designed for the present study to assess sociodemographic and variables related to work. Data were analyzed using descriptive and inferential statistics. An association was identified between the three dimensions of BS and sociodemographic data, variables related to work, psychosocial variables, hardy personality traits, and common mental disorders. The study allowed to define a risk profile for BS, namely male, young, undergraduate workers, with a low income, who see a large number of patients per day, physicians, government employees, absence of commitment, control and challenge (hardy personality traits), low self-efficacy, job dissatisfaction, presence of common mental disorders, and intention to change career, institution, or position at current institution.
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A controlled prospective study was undertaken to determine the extent to which pregnancy and the puerperium are associated with increased risk for minor and major depression, depressive symptom-atology, and poor social adjustment. A large sample of childbearing (CB) women were recruited during the second trimester of pregnancy along with an equal sized, matched sample of nonchild-bearing (NCB) women. Ss were assessed multiple times during pregnancy and after delivery by questionnaire and through personal interview on measures of depression and other mood states and marital and social adjustment. There were no differences between CB and NCB Ss with respect to rates of minor and major depression during pregnancy or after delivery. However, CB women experienced significantly higher levels of depressive symptomatology and poor social adjustment than NCB women during late pregnancy and the early puerperium.
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The psychiatric state of 483 women was examined antenatally and at 3, 6, and 12 months postpartum. Comprehensive assessments were made of all women antenatally and of subgroups of the full sample postnatally. Psychiatric state was assessed using the General Health Questionnaire, the Present State Examination and the Montgomery and Asberg Depression Rating Scale. In terms of PSE criteria, the point prevalence of non-psychotic psychiatric disorder antenatally was found to be 6.0%; and postnatally it was estimated to be 8.7% at 3 months, 8.8% at 6 months and 5.2% at 12 months after delivery. These prevalence rates were compared to the rate in a general population sample of non-puerperal women and found to be no greater. In a subgroup of the full sample, the incidence of psychiatric disorder in the year following delivery was estimated to be 15.1%, which is close to a figure previously reported for women in the community. The onset of psychiatric disturbance was soon after delivery in most instances; and, for the majority, the episode of disturbance lasted for 3 months or less. The distribution of PSE Catego classes and syndromes among the antenatal and postnatal samples were found to be similar to those in the non-puerperal comparison sample. Thus, the prevalence, incidence, and nature of non-psychotic psychiatric disorder in the 12 months following delivery do not appear to distinguish it from such disorders arising at other times.
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The state-of-the-art research in this volume is based on complex, multidimensional conceptions of poverty. Current research goes beyond description to emphasize analysis of processes by which effects occur and variations in effects associated with race, gender, and ethnicity. Child care, school, neighborhood, and community are studied as well as family contexts. The child outcomes investigated include both intellectual development and socioemotional functioning. It is multidisciplinary, using a broad range of analytic frameworks and research methods from economics, sociology, health, psychology, and other disciplines. In this introduction, the overall research trends are described, and new questions for future research are identified.
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In a two-stage screening procedure using the Edinburgh Postnatal Depression Scale and Goldberg's Standardised Psychiatric Interview, 232 women six months after delivery were compared with control women individually matched for age, marital status and number of children, obtained from general practitioner lists, who were not pregnant nor had had a baby in the previous 12 months. No significant difference in the point prevalence of depression at six months was found between the postnatal (9.1%) and control women (8.2%) nor in the six-month period prevalence (13.8% postnatal, 13.4% controls), but a threefold higher rate of onset of depression was found within five weeks of childbirth. The possible explanations relate to the long duration of depression in women with young children, and the stressful effect of childbirth and its psychosocial sequelae.
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This paper describes the World Health Organization's project to develop a quality of life instrument (the WHOQOL). It outlines the reasons that the project was undertaken, the thinking that underlies the project, the method that has been followed in its development and the current status of the project. The WHOQOL assesses individuals' perception of their position in life in the context of the culture and value systems in which they live and in relation to their goals, expectations, standards and concerns. It has been developed collaboratively in several culturally diverse centres over four years. Piloting of the WHOQOL on some 4500 respondents in 15 cultural settings has been completed. On the basis of this data the revised WHOQOL Field Trial Form has been finalized, and field testing is currently in progress. The WHOQOL produces a multi-dimensional profile of scores across six domains and 24 sub-domains of quality of life