O campo de pesquisa em ensino de Geografia tem se consolidado nas últimas décadas. Há, no momento, centrada preocupação e investimento quanto ao desenvolvimento de ações didático-pedagógicas que favoreçam a superação de aulas convencionais e de métodos ditos tradicionais. Neste contexto, identificamos pesquisadores preocupados com um certo modus operandi da Geografia que visa o desenvolvimento e a compreensão de processos cognitivos ligados à ordem espacial das coisas e dos fenômenos. Por conseguinte, termos como Raciocínio Geográfico, assim como outros conceitos análogos, são hoje objetos de pesquisas. Concomitantemente, registra-se em vários países movimento de adequação de seus sistemas de ensino e normativas que regem a educação básica onde é possível perceber tais tendências. Partindo dessa premissa, a presente tese teve como objetivo realizar uma análise das normativas curriculares que regem as etapas do Ensino Fundamental, no Brasil, e do
Primo Ciclo di Istruzione, na Itália, a partir da utilização de método comparativo e da teoria fundamentada em dados na investigação dos pressupostos da educação geográfica na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e na normativa italiana – Indicazioni Nazionali per il curricolo del Primo Ciclo –, em que pese o comprometimento com o desenvolvimento do Raciocínio Geográfico. Para tal nos ancoramos na proposta de Roque Ascenção e Valadão (2014, 2016, 2017a, 2017b) e Roque Ascenção, Valadão e Silva (2018), que se baseia no desenvolvimento do Raciocínio Geográfico por meio da mobilização de conceitos fundantes da ciência geográfica e de seu tripé metodológico, a partir da análise de uma situação geográfica. Com vistas a atingir os objetivos desta pesquisa, o que aqui se investiga se fundou em pauta de trabalho que envolveu: (i) a identificação de questões da epistemologia da ciência geográfica e do desenvolvimento da Geografia como disciplina escolar, que nos levou a considerações quanto à importância do desenvolvimento do Raciocínio Geográfico; (ii) a apresentação de propostas destinadas à elucidação do Raciocínio Geográfico, que nos levou
à identificação de seus possíveis elementos constituintes; (iii) a apresentação do contexto histórico e da estrutura dos documentos normativos analisados, que permitiu caracterizações e generalizações de seu conteúdo e significado; e a (iv) a identificação, análise e interpretação dos elementos constituintes do Raciocínio Geográfico nos documentos normativos, que nos levou a diagnosticar aproximações e distanciamentos em relação às referências previamente estabelecidas. À vista disso, verificou-se que a BNCC/Geografia contempla, em grande medida, o desenvolvimento do Raciocínio Geográfico, o que sugere que essa normativa vai ao encontro de questões contemporâneas do campo de pesquisa do ensino de Geografia. Por
outro lado, verificou-se que a Indicazioni Nazionali/Geografia não contempla plenamente os elementos constituintes do Raciocínio Geográfico conforme as referências preconizadas previamente. Registra-se que, no cotejo das informações e dados aqui discutidos, foi possível perceber que tanto no Brasil, como na Itália, ainda há um longo caminho a perquirir com vistas à evolução do ensino de Geografia, seja no campo das normatizações propriamente ditas, seja no campo de sua prática efetiva na escola e em sala de aula.