Neste texto utiliza-se o caso da Inglaterra para ilustrar a articulação conceitual entre o desenvolvimento econômico e a habitação de interesse social, e esboçam-se alguns elementos para uma agenda de pesquisas sobre o tema no Brasil. Por um lado, a industrialização inglesa é o caso clássico de desenvolvimento capitalista, e, portanto, é referência para as teorias do desenvolvimento econômico.
... [Show full abstract] Por outro lado, na Inglaterra a habitação de interesse social assumiu papel relevante na construção do Estado de bem-estar ao longo do século XX. O desenvolvimento econômico, à medida que foi concomitante à concentração da população nas cidades, criou enormes problemas urbanos. Como resultado do forte influxo de migrantes do campo para as cidades, Londres, por exemplo, já contava com 2,5 milhões de habitantes em meados do século XIX, população que atingiu 4,5 milhões em 1900, e cerca de 8 milhões em 1930. A habitação precária nas grandes cidades industriais inglesas pronunciava-se como um problema social e político desde o século XIX. Como resposta a esses problemas, o Estado assumiu novas funções, e as organizações estatais – por meio do controle sobre o uso do solo, do planejamento regional e urbano, do financiamento e da gestão da habitação de interesse social – foram fundamentais para garantir a moradia digna nas cidades. Do período entre guerras até a década de 1970, as estratégias políticas adotadas pela burocracia estatal inglesa foram desde a compra compulsória de terrenos nas centralidades urbanas para construção de habitações populares, até a construção de cidades novas planejadas para reorganizar o espaço metropolitano.