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Fatores associados à adiposidade em adolescentes do sexo
feminino eutróficas com adequado e elevado percentual de
gordura corporal: elaboração de um modelo de risco
RESUMO. O objetivo deste estudo foi avaliar os fatores
associados com adiposidade em adolescentes eutróficas
com adequado e elevado percentual de gordura corporal.
Foram avaliadas 118 adolescentes do sexo feminino, de 14-
19 anos, estudantes de escolas públicas do município de Vi-
çosa (Minas Gerais)/Brazil, que já haviam apresentado
menarca. As adolescentes foram divididas em 2 grupos: G1
com elevado percentual de gordura corporal e G2 com ade-
quado percentual de gordura corporal. Avaliou-se variáveis
antropométricas e de composição corporal, de estilo de vida
e história familiar de doenças crônicas não transmissíveis.
Em subamostra determinou-se o gasto energético basal por
calorimetria indireta. As adolescentes do G1 apresentaram
maiores valores da maioria das variáveis antropométricas
e de composição corporal (p<0,001). Não se observou di-
ferença (p>0,05) do metabolismo basal e metabolismo de
massa magra, hábito de fumar, consumo energético total,
de proteínas e de lipídeos entre os grupos. Ao comparar o
nível de atividade física, verificou-se que adolescentes do
G1 gastaram mais tempo com atividades sedentárias de
nível 1 e as do G2 apresentaram maior gasto calórico total
com atividades diárias (p<0,001). De acordo com os fatores
de risco analisados, as variáveis relacionadas ao estilo de
vida, com destaque para uso de adoçantes (OR=13,47),
foram as que mais contribuíram para o excesso de adiposi-
dade nas adolescentes eutróficas. A análise detalhada da
composição corporal assim como dos fatores de risco en-
volvidos com excesso de adiposidade, possibilita diagnós-
tico precoce e elaboração de medidas de intervenção mais
adequadas.
Palavras chaves: adolescência; composição corporal; adi-
posidade; modelo de risco; percentual de gordura corporal.
SUMMARY. Factors associated with adiposity in nor-
mal weight female adolescents with adequate and high
percent body fat: elaborating a risk model. This study
was carried out to evaluate the factors associated with adi-
posity in normal weight adolescents presenting appropriate
or high percent body fat, who attended the public schools
in Viçosa county- Minas Gerais/Brazil. A total of 118 female
adolescents at age range from 14 to 19 years and have alre-
ady presented the menarche were evaluated. The adoles-
cents were divided into 2 groups: G1 with high percent body
fat and G2 with appropriate percent body fat. The following
variables were evaluated: anthropometric, body composi-
tion, lifestyle and the family history of non-communicable
chronic diseases. In subsample, the basal energy consump-
tion was determined by indirect calorimetry. The G1-grou-
ped adolescents showed higher values for most
anthropometric and body composition variables (p<0.001).
No differences were observed (p>0.05) for basal metabo-
lism and metabolism of lean body mass, smoking habit,
total energy consumption and protein and lipid as well bet-
ween groups. When comparing the physical activity level,
the G1 adolescents spent more time with 1-level sedentary
activities whereas the G2 ones showed higher total caloric
consumption with daily activities (p <0.001). According to
risk factors under analysis, the variables related to lifestyle,
as distinguishing the use of sweeteners (OR=13.47), provi-
ded higher contribution to excessive adiposity in the normal
weight adolescents. The detailed analysis of the body com-
position as well as the risk factors associated with excessive
body fat makes possible the early diagnosis and the deve-
lopment of more appropriate intervention means.
Key words: adolescence; body composition, adiposity, risk
model, body fat percentage.
INTRODUÇÃO
A adolescência caracteriza-se por ser uma fase de
intensas transformações, que marca a transição entre a
infância e a vida adulta, é cronologicamente definida
como o período que vai dos 10 aos 19 anos. Eventos
importantes como estirão do crescimento e a maturação
sexual destacam-se neste momento (1).
Poliana Ribeiro Vieira, Eliane de Faria, Franciane de Faria, Naiara Sperandio, Cristiana Araújo,
Roberta Stofeles, Daniela Alves, Sylvia do Carmo Castro, Josefina Bressan, Silvia Eloiza.
Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, Brasil
ARCHIVOS LATINOAMERICANOS DE NUTRICIÓN
Órgano Oficial de la Sociedad Latinoamericana de Nutrición
Vol. 61 Nº 3, 2011
TRIPA 61#3:Maquetación 1 04/12/2011 07:58 p.m. Página 279
280 RIBEIRO VIEIRA et al.
A classificação do estado nutricional do adoles-
cente é complexa vista as alterações que ocorrem du-
rante este estágio da vida. Sendo assim, diferentes
indicadores, como antropometria, exame clínico, bio-
químico e avaliação da composição corporal devem ser
utilizados para se obter diagnóstico mais preciso (2,3).
Alguns fatores estão associados ao excesso de
adiposidade na adolescência, como hábitos alimentares
inadequados, sedentarismo e consumo excessivo de be-
bidas alcoólicas. A menarca em adolescentes com idade
inferior a 12 anos também está relacionada com maior
quantidade de tecido adiposo, aumento da pressão ar-
terial, dos lipídeos sanguíneos, insulina e glicose (4,2).
A obesidade na adolescência vem aumentando du-
rante os últimos anos e tem sido associada ao apareci-
mento precoce de doenças cardiovasculares, diabetes
mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dentre outras. Nos
34 anos decorridos de 1974-1975 a 2008-2009 no Bra-
sil, a prevalência de excesso de peso aumentou em seis
vezes nos adolescentes do sexo masculino (de 3,7 para
21,7%) e em quase três vezes no sexo feminino (de 7,6
para 19,4%) (5).
A deposição excessiva de tecido adiposo principal-
mente na região abdominal agrava essa situação. Por
isso deve-se prestar atenção ao adolescente que apre-
senta Índice de Massa Corporal (IMC) adequado, uma
vez que este pode apresentar percentual de gordura ele-
vado e também vir a apresentar riscos de morbimorta-
lidade semelhantes aos com IMC elevado. Logo,
torna-se evidente a importância de se avaliar a compo-
sição corporal nesta fase para prevenção das doenças
crônicas não transmissíveis na vida adulta (2, 4).
Este artigo objetivou avaliar os fatores associados
com adiposidade em adolescentes eutróficas com ade-
quado e elevado percentual de gordura corporal.
MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo transversal, com 118 adolescentes do sexo
feminino, de 14 a 19 anos, do município de Viçosa
(MG), tendo como critérios de inclusão: ser estudante
da rede pública de ensino, eutrófica com adequado ou
elevado percentual de gordura corporal, com menarca
há pelo menos um ano, sem uso de medicamentos, não
portadora de enfermidade crônica e não ter engravi-
dado ou estar grávida.
Com o intuito de obter um grupo mais homogêneo,
escolheu-se estudar adolescentes do sexo feminino um
ano pós-menarca, pois, espera-se que elas se encontrem
em fase semelhante de desenvolvimento puberal.
As participantes foram agrupadas em grupos di-
ferentes: grupo 1 (G1): eutróficas pelo IMC para
idade e sexo (IMC/I) (6), porém, com sobrepeso se-
gundo a classificação da percentual de gordura cor-
poral (≥30%) (7) e grupo 2 (G2): eutróficas pelo
IMC/I (6) com percentual de gordura corporal nor-
mal (> 20% e < 25%) (7).
O cálculo amostral foi realizado utilizando-se o
software Epi Info 6.04, para estudos transversais, con-
siderando-se a população do município de 4.507 indi-
víduos na faixa etária e sexo, do estudo (8), prevalência
de excesso de gordura corporal estimada em 25% (9),
com variabilidade de 10% e 95% de nível de confiança,
resultando tamanho amostral mínimo de 55 indivíduos.
Entretanto, chegou-se a 59 em cada grupo, totalizando
amostra de 118 adolescentes.
Para a seleção amostral foram escolhidas ao acaso
quatro escolas públicas localizadas na região urbana do
município. Realizou-se triagem com aferição de peso,
estatura e percentual de gordura corporal em 560 ado-
lescentes. Dessas, todas que atenderam aos critérios de
inclusão participaram da seleção por meio de sorteio.
As adolescentes sorteadas de ambos os grupos
foram submetidas à avaliação antropométrica, registro
de atividades físicas e aplicação do inquérito sobre fa-
tores de risco para o excesso de gordura corporal. Sor-
teou-se uma subamostra (n=24), correspondente a 20%
de cada grupo, para estimativa do metabolismo basal.
Avaliação Antropométrica
O peso foi obtido em balança eletrônica, com capa-
cidade de até 150 kg e subdivisão em 100 g. Para a afe-
rição da estatura foi utilizado antropômetro portátil,
com extensão de 2 m e escala de 0,1 cm. O peso e a es-
tatura foram aferidos segundo as técnicas preconizadas
por Jellife (10).
A avaliação do estado nutricional foi realizada atra-
vés do IMC para idade e sexo, utilizando-se os pontos
de corte e a referência antropométrica preconizados
pela World Health Organization (6).
O percentual de gordura corporal foi estimado
por bioimpedância elétrica bipolar (Tanita) e por pregas
cutâneas bicipital, tricipital, subescapular, suprailíaca,
utilizando-se o equipamento Lange Skinfold Caliper©,
segundo as técnicas propostas por Cameron (11).
O percentual de gordura corporal, de ambos os mé-
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281FATORES ASSOCIADOS À ADIPOSIDADE EM ADOLESCENTES
todos, foi analisado segundo a classificação proposta
por Lohman (7). Para a adolescente ser incluída no es-
tudo, o percentual de gordura corporal deveria coincidir
com a faixa de classificação pelos dois métodos.
Para localização da gordura corporal utilizou-se o
somatório das pregas cutâneas bicipital, tricipital (gor-
dura periférica – GP) e subescapular, suprailíaca (gor-
dura central – GC).
Calculou-se a relação entre a gordura central/peri-
férica (GC/GP) e os índices derivados do IMC, índice
de massa corporal de gordura (IMCG) e livre de gor-
dura (IMCLG).
A gordura corporal em quilogramas (Gord kg) foi
calculada a partir do percentual de gordura obtido pela
bioimpedância vertical e do peso da adolescente. A
massa magra em quilogramas (MM kg) foi obtida sub-
traindo-se do peso total a gordura em quilogramas.
As circunferências da cintura (CC) e do quadril
(CQ) foram aferidas com fita métrica, com extensão de
2 metros, flexível e inelástica, dividida em centímetros
e subdivida em milímetros, tomando-se cuidado para
não comprimir as partes moles. A medida da CC foi
aferida na menor circunferência e a CQ na maior pro-
eminência da região glútea. Calculou-se a Relação Cin-
tura/Quadril (RCQ) e Relação Cintura/Estatura (RCE).
Avaliação da Atividade física
Para a determinação da atividade física foi reali-
zado o registro de 24 horas, sendo convertido em
gasto calórico total com atividades, custo energético
por grupo de atividades e tempo de gasto por grupo
de atividades (12).
Inquérito sobre os fatores de risco
Avaliou-se o consumo de cigarros e de bebidas al-
coólicas (frequência e tipo), hábito alimentar, número
e tipo de refeições realizadas e uso de produtos
diet/light ou desnatados. Analisou-se a história familiar
de doenças crônicas não transmissíveis como obesi-
dade, diabetes, hipertensão e alterações na tireóide.
A composição da dieta foi analisada através de um
recordatório de 24 horas. Calculou-se o valor energé-
tico total (VET) ingerido, a quantidade de proteína (g),
carboidratos (g), lipídios (g). A adequação da contri-
buição dos macronutrientes em porcentagem do valor
energético total foi calculada com base na Faixa de Dis-
tribuição Aceitável de Macronutrientes (ADMR) do
Institute of Medicine/ Food and Nutrition Board (13).
Estimativa do Metabolismo basal
A determinação do gasto energético basal foi reali-
zada por calorimetria indireta, por meio do monitor
metabólico Deltatrac II®(14). O metabolismo basal
foi posteriormente corrigido pelo peso corporal e de-
nominado taxa metabólica basal. Foi também corrigido
pela gordura em quilogramas (Metabolismo MG) e
pela massa magra em quilogramas (Metabolismo
MM).
Software’s e análise estatística
A análise dos dados foi feita utilizando-se o soft-
ware Epi Info, versão 6.04 e o Sigma Statistic for
Windows versão 3.5. Para cálculo da composição da
dieta utilizou-se o software Diet Pro 3.0. Os testes
utilizados foram o Teste t de Student ou Mann Whit-
ney, Qui-quadrado ou teste exato de Fischer, depen-
dendo da característica das variáveis. Elaborou-se um
modelo de risco a partir das variáveis que apresenta-
ram diferenças significantes entre os grupos, sendo
analisadas a Razão de Chances ou Odds Ratio (OR)
e seus Intervalos de Confiança. O nível de rejeição
da hipótese de nulidade foi <0,05.
Utilizou-se regressão logística simples para avaliar
a associação entre o excesso de gordura corporal (va-
riável dependente) e os fatores de risco avaliados neste
estudo (variáveis independentes). As associações sig-
nificantes (p < 0,20) na análise bivariada foram utili-
zadas na regressão logística múltipla. Para análise do
ajuste dos modelos, avaliou-se a multicolinearidade
entre as variáveis independentes e o poder de predição
do modelo.
Considerações éticas
O projeto foi aprovado em 09 de abril de 2003, pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Viçosa. Os participantes maio-
res de 18 anos ou os responsáveis pelos menores assi-
naram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Participaram do estudo 118 adolescentes com idade
média de 16,4 ± 1,4 anos. A idade média da menarca
foi menor no G1 (12,2 ± 1,0 anos) quando comparado
com o G2 (12,8 ± 1,2 anos) (p = 0,003).
Ao comparar os parâmetros antropométricos e de
composição corporal, encontrou-se que as adolescentes
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do G1 apresentaram maiores valores de peso, IMC,
IMCG, circunferências da cintura e do quadril, relação
cintura-quadril e cintura-estatura, gordura subcutânea
central e periférica (p < 0,001) (Tabela 1).
Já em relação ao metabolismo basal e ao metabo-
lismo basal de massa magra, não se encontrou dife-
rença entre os grupos (p=0,75 e p=0,84,
respectivamente). Entretanto, as medianas do metabo-
lismo basal corrigido pelo peso (Taxa Metabólica Basal
– TMB) e o corrigido pela massa de gordura (TMBG)
foram maiores no G2 (TMB=30,5 kcal/kg peso/dia e
TMBG=131,5 kcal/kg de gordura/dia) quando compa-
rados com o G1 (TMB=26,5 kcal/kg peso/dia e
TMBG=83,6 kcal/kg de gordura/dia) (p < 0,001).
Não se obteve diferença entre os grupos (p = 0,69)
quanto ao hábito de fumar, sendo este presente em
3,3% da amostra total. Por outro lado, verificou-se que
31,4% das meninas consumiam bebida alcoólica, sendo
que a maioria (62,2%) pertencia ao G1 (p = 0,07). As
bebidas mais consumidas foram cerveja e vinho, sendo
este mais consumido no primeiro grupo (p = 0,001).
Do total, 46,6% realizavam cinco refeições diárias
e 34,7% substituíam o jantar por lanche, sem diferença
entre os grupos (p > 0,05). Entretanto, verificou-se que
maior número de meninas do G1(11,9%) omitia o des-
jejum (p = 0,03). O consumo de produto diet/light ou
desnatado foram mais frequentes no G1 quando com-
parado com o G2, sendo o adoçante o de maior con-
sumo (p = 0,006).
Conforme os dados apresentados na Tabela 2, não
se encontrou diferença (p > 0,05) no consumo energé-
tico total, de proteínas (em gramas) e de lipídios entre
os grupos. Porém, verificou-se que o G1 ingeriu menor
quantidade e proporção do VET de carboidratos, bem
como maior proporção de proteínas quando comparado
com o G2 (p<0,05).
Em relação à distribuição calórica dos macronu-
trientes, não se encontrou diferença no percentual de
inadequação pela AMDR (13) no consumo de carboi-
dratos (<45% ou >65% do VET), de proteínas (<10%
ou >35% do VET) e de lipídios (>35% do VET) entre
os grupos.
Ao comparar o nível de atividade física, verificou-
se que as adolescentes do G1 gastaram mais tempo
com atividades sedentárias de nível 1, que, em geral,
são caracterizadas por “dormir” ou “estar deitado” to-
talizando 9 horas por dia, enquanto que as do G2 gas-
taram 8 horas e 27 minutos por dia com essas
atividades (p < 0,05) (Tabela 3).
Ao agrupar as atividades em sedentárias (ATF1 a 3)
e não sedentárias (ATF4 a 9) não se encontrou diferen-
ças entre os grupos (p > 0,05). Entretanto, o G2 apre-
sentou média de 40 minutos a mais em atividades não
sedentárias realizadas diariamente (Tabela 3).
O gasto calórico com atividades sedentárias (ATF1,
ATF2, ATF3) foi maior no G1 comparado com o G2 (p
< 0,05). Também houve diferença em relação ao gasto
calórico total despendido com atividades realizadas
diariamente pelas adolescentes, sendo este maior no G2
(p < 0,001) (Tabela 4).
Verificou-se que 77,1% apresentavam história fa-
miliar de doenças crônicas não transmissíveis, sendo a
hipertensão arterial mais frequente no G1 (p = 0,04).
De acordo com os fatores de risco analisados neste
estudo, encontrou-se que o modelo de risco para o ex-
cesso de adiposidade em adolescentes eutróficas, apre-
senta maior contribuição de variáveis relacionadas ao
estilo de vida, com destaque para o uso de adoçantes
(Figura 1).
FIGURA 1
Modelo de risco para o excesso de adiposidade em
adolescentes eutróficas de 14 a 19 anos. Viçosa,
MG/Brasil. (adaptado de 15).
DISCUSSÃO
O IMC é utilizado para classificação do estado nu-
tricional que diferencia indivíduos em baixo peso, eu-
tróficos, sobrepesos ou com obesidade. Porém, a
literatura mostra que nem sempre aqueles considerados
baixo peso e eutróficos possuem percentual de gordura
corporal adequado, o que torna indispensável o uso de
mais instrumentos para tal avaliação. Em estudo reali-
zado com adolescentes recém ingressos em universi-
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283FATORES ASSOCIADOS À ADIPOSIDADE EM ADOLESCENTES
dade pública brasileira, dos 93% considerados eutrófi-
cos segundo o IMC, 58,7% apresentaram percentual de
gordura acima do esperado, o que reforça a necessidade
da avaliação desse parâmetro como forma de identifi-
car possíveis fatores de risco à saúde (9).
As adolescentes do G1 podem ser denominadas
como metabolicamente obesas de peso normal uma vez
que possuem alto percentual de gordura corporal, po-
dendo se comportar de modo semelhante a indivíduos
com excesso de peso. Apesar do presente estudo não ter
avaliado parâmetros bioquímicos e clínico, a literatura
mostra que o excesso de gordura corporal pode aumen-
tar os riscos de alterações metabólicas como dislipide-
mias, resistência à insulina, tolerância diminuída à
glicose e hipertensão arterial, fatores estes que quando
presentes simultaneamente em um indivíduo determi-
nam o diagnóstico da síndrome metabólica (16).
Os maiores valores das medidas antropométricas,
assim como a localização central da gordura corporal,
encontradas para o G1 confirmam a relação destas com
o excesso de adiposidade (Tabela 1). Serrano et al. (3)
também encontraram correlação forte (r > 0,67) desta
variável com peso, IMC, CC e CQ, além de similari-
dade de alterações de pressão arterial, HDL e glicemia
entre as adolescentes eutróficas com alto percentual de
gordura corporal e as com excesso de peso.
A diferença dos valores de IMC encontrada entre os
grupos de estudo (Tabela 1) pode ser atribuída à ampla
faixa desse índice utilizada para a classificação de eu-
trofia, que compreende os valores entre os percentis 3
e 85 (6), o que torna uma limitação do estudo, visto que
o G1 apresentou maior mediana de IMC e intervalos
maiores. Desta forma, sugere-se para a realização de
outros estudos, a utilização de uma faixa menor de nor-
malidade, por exemplo, entre o percentil 25-75 para
maior homogeneização da amostra.
Uma característica dessa fase de crescimento e des-
envolvimento é a maturação sexual, cujo marcador no
sexo feminino é a menarca. No grupo de estudo a oco-
rrência da menarca em idades menores foi evidenciada
para as meninas do G1, achado semelhante ao estudo
de Terres et al. (17). Isso pode ser explicado pela ne-
TABELA 1
Média, desvio padrão e mediana das variáveis antropométricas e de composição corporal
de adolescentes eutróficas de 14 a 19 anos, segundo grupos de estudo. Viçosa, MG/Brasil.
Grupos de Estudo
Parâmetros
Grupo 1 Grupo 2
Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) p
Estatura (m) 1,6 ± 0,1 1,6 ± 0,1 0,328a
Peso (kg) 56,2 ± 5,4 47,7 ± 3,9 <0,001a
Circunferência da cintura (cm) 70,6 ± 4,3 63,0 ± 3,2 <0,001a
Circunferência do quadril (cm) 95,4 ± 4,0 88,2 ± 3,4 <0,001a
Relação cintura-quadril 0,74 (0,6-0,9) 0,72 (0,6-0,8) <0,001b
Relação cintura-estatura 0,45 (0,4-0,5) 0,39 (0,3-0,4) <0,001b
Massa magra (kg) 36,9 ± 3,3 36,6 ± 3,0 <0,693a
Gordura corporal (kg) 19,3 ± 3,0 19,0 ± 3,2 <0,549a
Gordura Periférica (mm) 33,0 (22,0-50,0) 18,0 (13,0-24,0) <0,001b
Gordura Central (mm) 36,9 ± 6,6 19,0 ± 3,2 <0,001a
GC/GP 1,1 (0,7-1,9) 1,0 (0,6-1,6) 0,222b
IMC (kg/m2) 21,9 (18,9-24,7) 18,5 (16,7-21,0) <0,001b
IMCG (kg/m2) 7,4 (5,9-9,9) 4,3 (3,4-5,0) <0,001b
IMCLG (kg/m2) 14,4 (13,0-16,1) 14,2 (12,9-16,1) 0,055b
aTeste t Student bTeste de Mann-Whitney Grupo 1 = eutróficas com elevado percentual de gordura corporal; Grupo 2 = eutróficas
com adequado percentual de gordura corporal; GC/GP = Razão entre a gordura central e a gordura periférica; IMC = Índice de
Massa Corporal; IMCG = Índice de Massa Corporal de Gordura; IMCLG = Índice de Massa Corporal Livre de Gordura;
DP =Desvio Padrão Min = valor mínimo Máx = valor máximo.
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284 RIBEIRO VIEIRA et al.
cessidade de atingir um peso crítico para iniciar o esti-
rão de crescimento e as modificações inerentes à pu-
berdade, sendo que o peso deve ser constituído por no
mínimo 17% de gordura para as meninas atingirem a
menarca (18, 19).
Foram verificadas maiores inadequações dietéticas
no G1 representadas por omissão do desjejum e o uso
de produtos diet/light, além de maior percentual de in-
adequação na ingestão de carboidratos e proteínas (Ta-
bela 2). Vale ressaltar que para avaliação dietética foi
aplicado apenas um recordatório 24 horas, o que pode
limitar os resultados referentes à mesma.
A adoção de práticas que objetivam redução de peso
é comum neste grupo, cabendo destacar a restrição da
TABELA 2
Média, desvio padrão, mediana das quantidades de macronutrientes (g) e do percentual do
valor energético total do recordatório alimentar de adolescentes eutróficas de 14 a 19 anos, segundo
grupos de estudo. Viçosa, MG/Brasil.
Grupos de Estudo
Macronutrientes
Grupo 1 Grupo 2
Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) p
Carboidratos (g) 239,9 ± 76,9 288,2 ± 93,9 0,003a
Proteínas (g) 70,3 ± 22,6 66,5 ± 23,4 0,364a
Lipídios (g) 67,2 (13,05 – 180,9) 72,45 (22,7 – 155,9) 0,655b
Carboidratos (%) 50,6 ± 7,6 55,0 ± 7,9 0,003a
Proteínas (%) 15,2 (7,1 – 28,2) 12,3 (7,8 – 23,9) 0,004b
Lipídios (%) 32,6 (20,7 – 65,7) 31,7 (15,2 – 49,6) 0,163b
VET 1918,3 ± 600,8 2.067,5± 695,7 0,215a
aTeste t Student bTeste de Mann-Whitney; Grupo 1 = eutróficas com elevado percentual de gordura corporal; Grupo 2 = eutróficas
com adequado percentual de gordura corporal; VET = Valor Energético Total; DP = Desvio-Padrão; Min = valor mínimo;
Máx = valor máximo.
TABELA 3
Média, desvio padrão, mediana do tempo gasto em minutos por dia nos níveis de atividade física pelas
adolescentes eutróficas de 14 a 19 anos, segundo grupos de estudo. Viçosa, MG/Brasil.
Grupos de Estudo
Níveis de ATF
Grupo 1 Grupo 2
Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) p
ATF1 525,0 (345,0-795,0) 495,0 (255,0-780,0) 0,049b
ATF2 532,9 ± 120,8 557,5 ± 123,2 0,275a
ATF3 180,0 (0,0-420,0) 135,0 (30,0-375,0) 0,077b
ATF4 75,0 (0,0-285,0) 90,0 (0,0-450,0) 0,394b
ATF5 15,0 (0,0-330,0) 0,0 (0,0-270,0) 0,294b
ATF6 0,0 (180,0-0,0) 0,0 (285,0-0,0) 0,528b
ATF7 0,0 (15,0-0,0) 0,0 (180,0-0,0) 0,332b
ATF8 0,0 (300,0-0,0) 0,0 (300,0-0,0) 0,329b
ATF9 0,0 (0,0-0,0) 0,0 (0,00-75,00) 0,634b
ATF 1 a 3 1275,0 (1440,0-960,0) 1260,0 (1425,0-720,0) 0,256b
ATF 4 a 9 165,0 (480,0-0,0) 180,0 (720,0-15,0) 0,273b
aTeste t Student bTeste de Mann-Whitney; Grupo 1 = eutróficas com elevado percentual de gordura corporal; Grupo 2 = eutróficas
com adequado percentual de gordura corporal; ATF = Atividade Física; DP = Desvio-Padrão; Min = valor mínimo;
Máx = valor máximo.
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FATORES ASSOCIADOS À ADIPOSIDADE EM ADOLESCENTES
ingestão de carboidratos e o uso de produtos como ado-
çantes. No entanto, para compensar essa restrição, há
aumento na participação de lipídios na dieta, contri-
buindo assim para alterações na composição corporal,
como aumento da adiposidade (20). Comportamento
semelhante ocorre com a omissão de refeições, que
pode alterar o metabolismo de carboidratos e lipídios
e favorecer o aumento de gordura corporal em relação
à massa magra (9). Portanto, verifica-se que alterações
dietéticas podem, notadamente, influenciar a regulação
do peso corporal.
O consumo de bebidas alcoólicas como a cerveja e
o vinho também foi maior no G1. De acordo com Fe-
rreira et al. (21) a cerveja parece ser a bebida alcoólica
que apresenta maior associação com a gordura corporal
central. Essa associação tem origem no fato de que o
tipo, a dose e o tempo de consumo das bebidas levam
a alteração dos marcadores antropométricos de locali-
zação de gordura.
Fatores genéticos e ambientais podem influenciar a
resposta da TMB, entre eles: raça; gênero; clima e re-
gião; maturação sexual; idade; prática de atividade fí-
sica e a relação do tamanho corporal (22).
As meninas do G1 gastaram maior tempo com ati-
vidades sedentárias (Tabela 3) e o gasto energético com
atividade física foi maior no G2 (Tabela 4). O fato de
o G2 ter dispendido mais tempo com atividades de
gasto energético moderado e pesado e em média 40 mi-
nutos a mais em atividades não sedentárias, pode ter
influenciado no aumento da TMB. Além disso, a massa
magra, que apesar de ter apresentado valores de me-
dianas semelhantes nos dois grupos, representou per-
centual diferente em relação ao peso corporal (Tabela
1), contribuindo para a variação da TMB (22, 23).
Vale ressaltar também que na avaliação do risco
para saúde desses adolescentes deve-se levar em con-
sideração o histórico familiar para doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT). Este esteve presente na
maioria das avaliadas (76,2%) com associação entre a
história familiar de hipertensão e adiposidade. Gontijo
et al. (24) encontraram grande parte dos adolescentes
estudados com algum histórico familiar para DCNT,
destacando a hipertensão arterial (70,4%), hipercoles-
terolemia (57,3%), diabetes (52,3%) e obesidade
(49,2%), embora sem associação de nenhum deles com
a síndrome metabólica.
O modelo de risco para o excesso de adiposidade
construído agrupa os fatores citados anteriormente e
TABELA 4
Média, desvio padrão, mediana do gasto calórico por níveis de atividade física e gasto calórico total por
dia de adolescentes eutróficas de 14 a 19 anos, segundo grupos de estudo. Viçosa, MG/Brasil.
Grupos de Estudo
Níveis de ATF
Grupo 1 Grupo 2
Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) Média (±DP)/
Mediana (Min-Máx) p
ATF1 841,2 ± 149,9 704,6 ± 129,0 <0,001a
ATF2 834,7 (351,3-1336,9) 773,7 (405,0 -1136,8) 0,027b
ATF3 278,5 (0,0-690,4) 207,9 (34,6-510,8) 0,005b
ATF4 123,3 (0,0-561,8) 122,4 (0,0-707,2) 0,987b
ATF5 26,0 (0,0-636,5) 0,0 (0,0-583,3) 0,217b
ATF6 0,0 (0,0-266,3) 0,0 (0,0-590,5) 0,553b
ATF7 0,0 (0,0-20,1) 0,0 (0,0-388,9) 0,331b
ATF8 0,0 (0,0-419,2) 0,0 (0,0-392,0) 0,348b
ATF9 0,0 (0,0 - 0,0) 0,0 (0,0-120,6) 0,634b
ATF 1 a 3 1563,0 ± 90,9 1418,9 ± 101,4 <0,00a
ATF 4 a 9 253,0 (0,0-946,2) 236,5 (16,6-1620,2) 0,867b
Total Calórico 2227,9 (1750,6-2909,9) 1984,3 (1463,4-3240,4) <0,001b
aTeste t student, bTeste de Mann-Whitney; Grupo 1 = eutróficas com elevado percentual de gordura corporal; Grupo 2 = eutróficas
com adequado percentual de gordura corporal; ATF = atividade física; DP= Desvio-Padrão; Min = valor mínimo;
Máx = valor máximo.
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286 RIBEIRO VIEIRA et al.
confirma a contribuição de variáveis modificáveis (am-
bientais) e não modificáveis (genéticas), tendo como
base aquelas relacionadas ao estilo de vida (Figura 1).
A identificação desses fatores na adolescência fa-
vorece o diagnóstico precoce e o planejamento de
orientações específicas para correção de hábitos inade-
quados. Assim, a educação alimentar e nutricional e a
prática de atividade física é essencial para a redução
dos riscos de desenvolvimento de alterações metabóli-
cas na adolescência e para manutenção da saúde na
vida adulta.
CONCLUSÃO
Os achados do presente estudo reforçam a impor-
tância da análise da composição corporal na avaliação
do estado nutricional, uma vez que adolescentes eutró-
ficos pelo IMC/idade podem apresentar excesso de adi-
posidade, sendo metabolicamente semelhantes aqueles
com sobrepeso e obesidade.
Os fatores de risco para elevado percentual de gor-
dura corporal encontrados no estudo mostram a in-
fluência de fatores genéticos, ambientais e metabólicos
como história familiar de hipertensão arterial e obesi-
dade na infância, porém destaca-se que os maiores ris-
cos foram relacionados aos fatores comportamentais,
no que se refere a hábitos alimentares inadequados
como o uso de adoçantes e omissão do desjejum.
Diante disto, ressalta-se a importância de se avaliar
a composição corporal detalhada e não apenas a utili-
zação do IMC para classificação do estado nutricional,
bem como conhecer os fatores biológicos, sociais e
comportamentais que possam estar associados ao ele-
vado percentual de gordura corporal, possibilitando
desta forma a realização do diagnóstico precoce e de
intervenções que promovam o desenvolvimento de es-
tilo de vida saudáveis na adolescência.
Financiamento: FAPEMIG
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