ArticlePDF Available

A comunicação social de informações sobre tempo e clima: o ponto de vista do usuário

Authors:

Abstract

Este artigo discute problemas ligados à comunicação social das informações meteorológicas. O texto sugere a necessidade do estudo e compreensão dos contextos de uso das informações disseminadas, das formas habituais de interpretação de mensagens meteorológicas e das associações entre a informação meteorológica e outros temas localmente relevantes. A mensagem deve ser construída buscando levar esses fatores em consideração, e procurando evitar associações que deslocam o significado da informação para outros campos interpretativos. O trabalho de comunicação social, desta forma, deixa de ser meramente burocrático e ganha a dimensão de pesquisa, o que sugere a necessidade da colaboração interdisciplinar sistemática entre a meteorologia e as ciências sociais e da comunicação. Apesar de essa ser uma posição amplamente aceita nas pesquisas das dimensões humanas das mudanças climáticas, parece não haver reconhecimento institucional, até o momento, da necessidade do estudo sistemático das dimensões humanas do clima e do tempo, onde a comunicação social tem papel central.
76
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
A COMUNICAÇÃO SOCIAL DE INFORMAÇÕES SOBRE
TEMPO E CLIMA: O PONTO DE VISTA DO USUÁRIO1
Renzo Taddei
Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Antropologia
Caixa Postal 6110, Campinas - SP, 13081-970
E-mail: taddei@unicamp.br
RESUMO
Este artigo discute problemas ligados à comunicação social das informações meteorológicas. O texto
sugere a necessidade do estudo e compreensão dos contextos de uso das informações disseminadas,
das formas habituais de interpretação de mensagens meteorológicas e das associações entre a
informação meteorológica e outros temas localmente relevantes. A mensagem deve ser construída
buscando levar esses fatores em consideração, e procurando evitar associações que deslocam o
signi cado da informação para outros campos interpretativos. O trabalho de comunicação social,
desta forma, deixa de ser meramente burocrático e ganha a dimensão de pesquisa, o que sugere
a necessidade da colaboração interdisciplinar sistemática entre a meteorologia e as ciências
sociais e da comunicação. Apesar de essa ser uma posição amplamente aceita nas pesquisas das
dimensões humanas das mudanças climáticas, parece não haver reconhecimento institucional, até
o momento, da necessidade do estudo sistemático das dimensões humanas do clima e do tempo,
onde a comunicação social tem papel central.
Palavras-chave: Comunicação, contexto, recepção, sociedade, Meteorologia.
ABSTRACT
This article discusses problems associated to the social communication of meteorological
information. The text suggest that there is the need to study and understand the contexts where
the information will be used, habitual forms of interpretation and other locally relevant themes.
The message should be constructed taking these factors in consideration, and trying to avoid
associations that displace the meaning of the information to other interpretive elds. The work of
social communication therefore cannot be seen as merely bureaucratic, and gains the dimension
of research, what suggests the need for a systematic interdisciplinary collaboration between
meteorology and social and communication sciences. Despite of the fact that this is an approach
widely accepted in the research about the human dimensions of climate change, there seems to
be no institutional recognition, to this moment, of the need of systematic study of the human
dimensions of climate and weather, where social communication plays a central role.
Keywords: Communication, context, reception, society, Meteorology.
1 Este trabalho foi apresentado no XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, em 28 de agosto de 2008, em
São Paulo. A pesquisa que deu origem a este artigo foi nanciada, em momentos distintos, pelo CNPq, Wenner-Gren
Foundation, International Research Institute for Climate and Society (IRI), e Landes Memorial Fund/Comitas Institute
for Anthropological Studies. Muitas pessoas pacientemente dedicaram parte valiosa de seu tempo ajudando este autor a
entender aspectos conceituais e institucionais ligados à Meteorologia no Brasil e no exterior, dentre as quais merecem
menção Antonio Divino Moura, Francisco de Assis de Souza Filho, Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins, Antônio
Geraldo Ferreira, Namir Giovani da Silva Melo, David Ferran Moncunill, Alexandre Araújo Costa, Pedro Leite da Silva
Dias, Steve Zebiak, Walter Baethgen, Lisa Goddard, e Liqiang Sun. O autor é o único responsável pelas limitações deste
trabalho.
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
77
1. INTRODUÇÃO
Com o trabalho do IPCC e o debate internacional
sobre o aquecimento global, a questão da relação
entre o que a Meteorologia produz e a maneira
como a sociedade recebe, interpreta e utiliza essas
informações nunca esteve tanto em evidência. São
poucos, até o momento, os trabalhos que buscam
entender, de forma sistemática, os problemas ligados
à disseminação de informações meteorológicas,
especialmente em seus aspectos sociais (pode-se citar
como trabalhos representativos nessa área Broad et
al., 2002; Lemos et al., 2002; Lemos e Dilling, 2007;
Orlove e Tosteson, 1999; Pennesi, 2007; Rayner et
al., 2005; e Roncoli et al., 2004). Foco maior tem sido
dado aos problemas de aplicação de tais informações
em usos estritamente econômicos e produtivos (como
em Alves et al., 2008; Baethgen et al., 2004; Bravo et
al., 2005; Collischonn et al., 2005; Lall e De Souza,
2004; Meinke et al., 2001; e Meza et al., 2008). Neste
trabalho, abordaremos esta questão a partir de uma
perspectiva ligada às ciências sociais, e focaremos
nossa atenção na forma como os usuários recebem
e interpretam as informações meteorológicas que
recebem.
Este texto está estruturado da seguinte forma:
inicialmente discute-se a presença da comunicação
dentro das instituições que produzem informações
meteorológicas e, a partir da forma como se dá essa
presença, podemos deduzir como a Meteorologia
entende a questão da comunicação. Em seguida,
apresentam-se algumas contribuições das teorias
da comunicação, em especial no que diz respeito
aos estudos de recepção de mensagens no processo
comunicativo; e conclui-se o texto discutindo
as implicações da discussão teórica para a
prática da comunicação social nas organizações
meteorológicas.
Os estudos de recepção no processo comunicativo
podem contribuir com a análise da comunicação
social na Meteorologia na medida em que trazem
para o centro da discussão o contexto em que o
usuário recebe e faz uso das informações. Este texto
defende que uma análise mais pormenorizada do
processo comunicativo, da forma como praticado
atualmente por um grande número de agências
meteorológicas, revela, à luz das contribuições
advindas de teorias comunicacionais, possíveis razões
para a baixa e ciência comunicativa das mensagens
meteorológicas, e sugere uma nova abordagem para a
questão da comunicação social em meteorologia.
Esse trabalho é resultado de uma pesquisa de
mais de seis anos, fruto de uma parceria entre o
International Research Institute for Climate and
Society (IRI) e a Fundação Cearense de Meteorologia
e Recursos Hídricos (FUNCEME). Os dados foram
coletados em pesquisa de campo, no estado do Ceará,
onde foram realizadas mais de 150 entrevistas com
cientistas, políticos, agricultores e técnicos. O autor
participou como observador nos fóruns regionais de
previsão climática, além de outros eventos ligados
à ciência meteorológica, entre os anos de 2002 e
2008; e os processos de disseminação de outras
formas de informação climática (como as produzidas
pelos chamados “Profetas da Chuva” do sertão,
por exemplo) foram também estudados (Taddei,
2005, 2006). Além disso, o autor se baseou na sua
experiência como Pesquisador Associado do IRI,
desde o ano de 2002, onde participou de diversas
discussões sobre as relações entre a Meteorologia e
a sociedade.
1.1. O lugar da comunicação na Meteorologia
Partimos do pressuposto de que a análise da
comunicação no fazer meteorológico é essencial para
entender os problemas da comunicação do resultado do
trabalho da Meteorologia. Isso demanda uma análise
organizacional das instituições meteorológicas,
buscando entender onde e quando a comunicação
social ganha relevo e importância. Institucionalmente
falando, a comunicação é um aspecto do trabalho
meteorológico que foi, de certa forma, historicamente
negligenciado. Uma avaliação da presença da
comunicação dentro dos institutos de meteorologia e
agências que produzem informação de clima revela
que, em geral, a comunicação tem o mesmo status
78
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
dos departamentos de recursos humanos ou jurídico,
restringindo-se a um assessor de imprensa produzindo,
de forma quase mecânica, material a ser enviado aos
meios de comunicação. Ainda que a preocupação a
respeito da forma como os usuários interpretam as
informações meteorológicas exista e se manifeste
freqüentemente entre meteorologistas (como, por
exemplo, na atenção que dedicam à escolha das
palavras e termos que serão usados na disseminação
de previsões meteorológicas), não há reconhecimento
institucional nesse sentido, ou seja, as instituições
meteorológicas que fazem a “operação”, isto é,
produzem informações para distribuição a usuários,
e que por essa razão moldam a imagem pública da
Meteorologia, pautam-se por valores herdados de
outra faceta da disciplina, a pesquisa cientí ca,
concentrando esforços nas áreas de desenvolvimento
teórico e tecnológico, e tratando a comunicação
social como um aspecto menor e burocrático da sua
atividade. Meteorologistas têm mais status dentro
da Meteorologia se vistos como pesquisadores
competentes do que como comunicadores e cientes.
Há também a crença, marcante em diversas áreas da
pesquisa cientí ca, de que para ser bom comunicador
é preciso ser bom pesquisador, ou seja, a comunicação
cientí ca é entendida como subsidiária da pesquisa
cientí ca (cf. Gregory e Miller, 1998), e não como
atividade que possui suas complexidades e desa os
próprios.
Como a estrutura das organizações muda mais
lentamente do que as idéias e valores das pessoas
que nelas desenvolvem duas atividades, a atenção
limitada dada institucionalmente à comunicação não
re ete o pensamento de boa parte dos meteorologistas
da atualidade. Na década de 1990 houve uma certa
mobilização internacional no sentido de expandir
o escopo da pesquisa climática, e o International
Research Institute for Climate and Society (IRI) foi
criado, em Nova York, para estudar a interação entre
a Meteorologia e a sociedade; não como uma agência
meteorológica, mas como uma agência de estudos
do espaço existente entre quem produz a informação
sobre o clima e quem a usa, ou poderia usar, mas não
o faz. Foi isso, na verdade, que motivou a criação do
IRI e da abordagem “ponta-a-ponta”: a constatação,
após a previsão dos El Niños de 1993 e 1997/1998,
de que a disseminação da informação meteorológica,
mesmo quando feita de forma e caz, não se traduz
imediatamente em benefício social. Ainda assim,
atualmente dentro do IRI o peso da produção de
conhecimento meteorológico é maior do que o dos
estudos sobre como as informações meteorológicas
são aplicadas na prática2; e nos estudos de aplicação,
o estudo de processos econômicos, como agricultura
e gestão de água, além de questões ligadas à saúde
pública, prevalecem sobre os estudos sobre a
comunicação propriamente dita.
Também não há mudanças signi cativas no que diz
respeito à formação dos pro ssionais de Meteorologia.
Os currículos de graduação em Meteorologia não
incluem disciplinas sobre as dimensões humanas
do tempo e do clima, e menos ainda sobre a
comunicação climática. Um dos problemas que disso
decorre é o fato de que uma parte signi cativa dos
pro ssionais de Meteorologia vai eventualmente se
tornar gestor das instituições de pesquisa e previsão.
Esses pro ssionais ocuparão cargos de direção, e a
comunicação social é parte integrante das funções do
cargo de gestor. Como resultado, o meteorologista-
gestor se vê obrigado a improvisar, a aprender na
prática, por tentativa e erro; responsabilidade demais
é transferida ao assessor de imprensa, que na maioria
das vezes é um jornalista e entende bem da mídia,
mas não dos usos que se faz da informação no nível
das comunidades e grupos especí cos de usuários,
nem dos problemas econômicos ligados ao clima.
A duras penas, o meteorologista-gestor intui que
a comunicação é algo mais amplo e complexo que
a assessoria de imprensa, mas em geral não tem
clareza a respeito de quais são os outros recursos à
sua disposição.
Do ponto de vista de quem tenta entender o usuário
da informação do clima, a existência de modelos
atmosféricos espetacularmente bons deixa de fazer
2 A distribuição de previsões climáticas em forma
de tercis é talvez a contribuição mais visível e reconhecida
do IRI, apesar do grande número de pesquisas em saúde
pública, agricultura, pesca e recursos hídricos.
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
79
diferença se essa informação se perde no caminho
da disseminação. À medida que a informação viaja
pela sociedade, a cada momento ela encontra o
desa o da compreensão e da aplicabilidade: se essa
informação não for compreendida, ou se os usuários
não souberem como aplicá-la às suas atividades e
seus problemas, isso é equivalente à inexistência da
informação. Do ponto do vista do usuário, receber
uma informação que não é entendida é a mesma coisa
que não receber informação. (Na verdade isso não é
inteiramente verdade, porque, entre alguns usuários,
a não compreensão da informação gera o sentimento
de frustração e a acusação de que há arrogância
por parte do emissor da mensagem. Essas reações
emocionais diminuem ainda mais a e ciência do
processo comunicativo.) Por isso a importância da
incorporação de discussões sobre a comunicação nas
atividades cotidianas da Meteorologia.
Esta discussão não é, de forma alguma, uma
novidade histórica: no século 19, na Inglaterra, já
havia controvérsia entre cientistas a respeito da
conveniência de se fazer e disseminar previsões
meteorológicas (Anderson, 2005). O foco do debate
não era os méritos do estudo da Meteorologia, mas
sim a conveniência de se produzir prognósticos e
disseminá-los, justamente em razão de todos os
efeitos e expectativas sociais que isso podia acarretar.
Quando o autor deste texto iniciou suas pesquisas
no Ceará, no ano de 2002, existiam pessoas no alto
escalão do governo estadual que defendiam (e ainda
defendem) a idéia de que a FUNCEME não deveria
disseminar publicamente prognósticos para o semi-
árido. Isso não ocorre porque o prognóstico é bom
ou ruim; como é sabido, ele nunca foi tão bom, em
razão dos avanços no conhecimento meteorológico
e na capacidade computacional ocorrida nos últimos
20 anos. O problema encontra-se justamente no que
acontece do outro lado do processo de comunicação:
as chuvas, bem como informações sobre elas, têm
impactos econômicos, sociais e políticos. No semi-
árido, crises de ansiedade coletiva em relação à
estação de chuvas são comuns, e essas crises podem
ser ocasionadas pela disseminação de informações
climáticas (Martins, 2006; Taddei, 2005). Isso é
algo que coloca problemas complexos aos governos
locais. Mas é importante que se diga que esse não
é necessariamente um aspecto incontornável da
questão. No Brasil e no exterior, muitas vezes o
fracasso em processos de distribuição e uso de
informações cientí cas (especialmente em projetos de
desenvolvimento econômico) é diagnosticado como
tendo ocorrido em razão de “questões culturais”. Essa
expressão, “questões culturais”, é usada, no discurso
destes cientistas, como causa mortis irremediável. Ao
mesmo tempo, as Ciências Sociais, e a Antropologia
em particular, se dedicam integralmente a isso: a
entender problemas culturais e a aprender a lidar com
eles. Por essa razão, uma ponte entre a Meteorologia
e as Ciências Sociais têm o potencial de produzir
avanços consideráveis na questão da comunicação
meteorológica.
1.2. O que é comunicação?
A comunicação é, de certa forma, como a
atmosfera: invisível, mas bastante complexa. Um
indicador dessa complexidade é a quantidade de
departamentos e programas de pesquisa que estudam
a comunicação em uma universidade de grande porte:
além do jornalismo, da lingüística e da semiótica, há
estudos de comunicação em psicologia, em educação,
em propaganda, em antropologia, em sociologia, em
loso a, e em engenharia. O que podemos deduzir
disso é que a comunicação não é algo trivial, e por
isso merece uma atenção especial.
O que se diz e o que se entende depende da
forma como a comunicação ocorre. E como é que
a comunicação ocorre? Existem diversos modelos
que descrevem o processo comunicativo (Duck,
1994; Jakobson, 1979; Kellerman, 1992; Shannon e
Weaver, 1949). Um modelo simpli cado do processo
de comunicação, proposto por Roman Jakobson
(1979), pode nos ajudar. De acordo com este autor,
a comunicação ocorre de acordo com o diagrama
abaixo:
Contexto
Mensagem
Emissor Receptor
Contato
Código
80
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
Há quatro dimensões essenciais no processo,
conforme esse modelo. Todo processo de comunicação
tem um contexto, uma mensagem, o contato (por
onde a mensagem trafega, como o ar ou cabos
de bra ótica), e existe um código (como a língua
portuguesa). Além disso, tipicamente o processo de
comunicação tem um emissor e um receptor. Como
o processo de comunicação é interativo, emissor e
receptor estão, a todo momento, trocando de papéis.
No caso da comunicação meteorológica, em geral
o emissor é quem produz e inicia o processo de
disseminação da informação climática, e o receptor
é quem recebe essa informação - mídia, agências
do governo, comunidades rurais. Este processo não
é unidirecional: a atividade meteorológica é afetada
por expectativas sociais (Fine, 2007; Taddei, 2005),
e meteorologistas fazem o esforço de adequarem
seus produtos ao que percebem como demandas dos
usuários. Desta forma, ao emitir a sua mensagem,
a meteorologia já recebeu e processou mensagens
anteriores enviadas pela sociedade.
O que nos interessa nesta análise é o contexto, e
como este afeta a comunicação. O contexto afeta e
de ne, de certa forma, os signi cados que vão ser
atribuídos às informações, ou seja, como elas serão
entendidas. A palavra chuva, por exemplo, tem
signi cados diferentes em contextos diferentes. Na
Bíblia há uma grande quantidade de passagens em
que a palavra chuva aparece, especialmente no velho
testamento. O mesmo ocorre com a palavra água. No
contexto religioso, as conotações, os signi cados, as
reações que as pessoas tem à idéia de chuva e de água
são muito diferentes das que teriam numa discussão
sobre desenvolvimento econômico, por exemplo,
quando as idéias de chuva e água são mencionadas.
Apesar do termo ser o mesmo, o contexto tem
in uência sobre como as pessoas vão entender a
mensagem, e como vão reagir a ela, ou seja, como
isso afetará suas ações. Chuva num contexto religioso
pode evocar a idéia de punição divina, como ocorreu
em algumas comunidades do vale do Jaguaribe
durante as inundações de janeiro de 2004 (Taddei,
2005), e isso induz as pessoas a adotarem uma postura
de humildade e resignação3; num contexto dominado
pelo otimismo técnico e desenvolvimentista, a chuva
pode ser vista como algo passível de ser produzida
ou controlada por seres humanos, como no caso da
nucleação arti cial de nuvens, o que foi realizado no
Nordeste brasileiro no passado recente e continua
sendo feito em lugares como Espanha e Israel.
São duas posturas radicalmente opostas ligadas ao
mesmo fenômeno atmosférico, induzidas pelas idéias
e valores que marcam cada contexto.
E o que é o contexto da comunicação? O contexto
é a situação de uso da informação, e inclui objetivos,
intenções, expectativas, valores, idéias, e também
tecnologias, recursos, calendários, instituições, e
formas de tomada de decisões. Como o contexto
“emoldura” a mensagem, e desta forma dá-lhe sentido e
signi cado, nenhuma mensagem mantém o signi cado
original num contexto diferente. À medida que uma
mensagem sai do seu ponto de origem e começa a
ser disseminada - sai da assessoria de imprensa de
um instituto meteorológico e chega à redação de um
jornal, por exemplo -, o que ocorre é que a informação
é descontextualizada e recontextualizada. Ou seja,
ao chegar a lugares onde as pessoas têm objetivos,
agendas, formas de trabalhar e calendários distintos
daqueles onde foi produzida, a informação ganha
novas dimensões, valores e signi cados. É por isso
que raramente uma manchete de jornal baseada em
previsão climática agrada aos meteorologistas. Isso
é especialmente o caso no Nordeste, onde previsões
climáticas têm mais relevância do que em outras
regiões do país. Ao atravessar o processo jornalístico,
é comum que o caráter probabilístico da informação
desapareça ou seja desvalorizado. Para muitos
meteorologistas, a mensagem, depois de re-elaborada
e simpli cada no processo jornalístico, tende a perder
3 Como a rmado em outro lugar (Taddei, 2008 a),
o conceito de punição divina, mesmo quando existente de
forma subjacente a atitudes não religiosas, se associado à
idéia de aquecimento global, pode induzir à resignação,
e conseqüentemente, à inação. A maneira como formas
estruturadas e subjacentes de pensamento e compreensão
da realidade (como a visão religiosa) geram atitudes
especí cas com relação a questões ambientais demanda
pesquisas mais aprofundadas.
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
81
parte importante do seu conteúdo, e, por essa razão,
empobrece em precisão e qualidade. Do ponto de
vista jornalístico, não há perda de conteúdo, mas,
inversamente, há ganho em clareza, uma vez que ao
jornalista cabe a tarefa de depurar a mensagem de
todo jargão cientí co e da opacidade da linguagem
técnica. Como podemos ver, objetivos diferentes
induzem meteorologistas e jornalistas a entenderem
o mesmo processo, a simpli cação da informação,
sua condensação e tradução da linguagem técnica à
linguagem jornalística, de formas opostas em termos
do valor que a informação passa a ter.
O importante é entendermos que a mudança
de contexto irá sempre resultar em mudanças de
signi cado. Quando se “engessa” a mensagem para
que ela mantenha o sentido original, negando o
processo natural de adaptação a novos contextos, o
que ocorre é que a mensagem tende a perder o sentido,
e torna-se ininteligível para o receptor. No processo
de comunicação meteorológica, isso ocorre quando
o meteorologista usa seu acesso à TV ou rádio para
enviar a mensagem original, sem transformações, ao
público nal, sem dar-se conta que não apenas o jargão
técnico, mas também as escalas espaciais e temporais
usadas na informação são ininteligíveis para grande
parte da audiência que recebe as informações. Uma
tira humorística publicada na Inglaterra exempli ca
isso: nela o repórter meteorológico, em frente ao
mapa das ilhas britânicas, diz: “e agora, sem razão
nenhuma, eu vou mostrar o mapa isobárico, como
de costume”. Ou seja, o mapa isobárico é uma
informação que tem muita relevância em um outro
contexto; no contexto do jornalismo meteorológico,
ela é irrelevante porque a audiência não é capaz de
entendê-la.
1.3. O Contexto e a Informação Meteorológica
Com relação à disseminação da informação,
vimos que a informação viaja através da sociedade,
e em cada ponto em que chega ela ganha novos
contextos e novas nuances. Desta forma, uma
conclusão lógica é que o processo comunicativo será
mais e ciente se quem emite a mensagem conhece
o receptor o su ciente para adequar a mensagem às
suas necessidades e particularidades. Na realidade,
fazemos isso todo o tempo quando nos comunicamos:
aumento o volume de minha voz se percebo que a
pessoa com quem falo ouve mal, ou procuro adequar
a formalidade das frases que uso em função da
aparente solenidade da pessoa à qual me dirijo (ou ao
contexto da conversa, como no caso de estarmos, eu e
meu interlocutor, em tribunal ou igreja, por exemplo).
O foco da atenção de quem comunica deve ser o
contexto onde a informação vai chegar. Na verdade,
em geral, quando há baixa e cácia comunicativa na
comunicação meteorológica, isso se deve ao fato de
que essas questões são tratadas de forma intuitiva ou
simplesmente desconsideradas. Quem depende do
comportamento da audiência – políticos e emissoras
de televisão são os exemplos mais conhecidos – faz
pesquisas para conhecer seu público e muda suas
formas de ação em virtude dos resultados encontrados.
Quando a meteorologia não conhece o seu público, e
o público não conhece a meteorologia, o resultado é
que cada um cria estereótipos e mitos a respeito do
outro, o que não raro conduz a expectativas irreais
e frustração. Uma outra tira humorística publicada
na Inglaterra exempli ca isso: nela um jornalista
meteorológico, em frente às câmeras de TV e com
o mapa das ilhas britânicas ao fundo, diz “e agora,
o tempo para o m de semana”, enquanto insere sua
mão em um recipiente rotulado “balde da sorte”. Esse
tipo de humor surge do fato de que o público em geral
tem uma idéia muito tênue do que a Meteorologia
faz.
Uma das características mais importantes do
contexto de recepção das mensagens no processo de
comunicação é o fato de que este é dinâmico e re ete a
organização social e cultural locais. Ou seja, entender
o contexto em que a informação é recebida não se
resume em inventariar idéias, valores, objetivos,
expectativas, recursos, calendários, e problemas, mas
sim entender como essas coisas funcionam e fazem a
vida social funcionar. Quando a informação chega a
um grupo de pessoas ou comunidade, ela não encontra
indivíduos dispostos a interromper suas atividades
cotidianas para analisar racionalmente a informação,
como se o entorno não fosse relevante naquele
momento. O que a informação encontra é uma miríade
82
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
de processos sociais acontecendo – disputas políticas,
problemas de produção econômica, controvérsias
morais ou religiosas, e todas essas coisas conectadas
umas às outras – e o que ocorre é que a informação
é sugada para dentro desse turbilhão social. No caso
da disseminação de informações meteorológicas,
a melhor das hipóteses é a em que essa informação
conecta-se às discussões sobre produção econômica,
a estratégias de proteção da vida e da infra-estrutura
física, e a debates políticos sobre a distribuição
de recursos, de modo que a e ciência produtiva
aumente, a vulnerabilidade aos impactos climáticos
diminua, e os con itos por recursos sejam reduzidos.
Infelizmente, nem sempre isso acontece. Um caso já
notório de uso de informações climáticas ocorrido
no Ceará pode exempli car como as coisas podem
ocorrer de forma diversa.
No nal da década passada, a Secretaria de
Agricultura do Estado do Ceará (naquela época com o
nome de Secretaria de Desenvolvimento Rural) decidiu
que a distribuição de sementes selecionadas, resistentes
a baixos níveis de chuva, aos agricultores familiares do
estado, estaria vinculada à medição de umidade do solo
e à previsão de chuvas produzida pela FUNCEME. O
fato é que tais sementes são caras, e o hábito de fazer
o plantio após as primeiras chuvas da estação, comum
entre os agricultores do sertão, ocasiona a perda de uma
grande quantidade de sementes. O uso das informações
vindas da FUNCEME tinha como objetivo reduzir a
despesa do Estado e evitar a perda das sementes no
início da estação (uma vez que as primeiras chuvas
são em geral irregulares demais para que o cultivo se
mantenha). A idéia do governo era que os agricultores
desta forma passariam a usar a previsão meteorológica
como informação relevante para a decisão de quando
iniciar o plantio.
Os produtores rurais manifestaram seu desagrado
logo no início do uso da previsão meteorológica; após
alguns anos de reclamações e con itos, o governo
decidiu desvincular a distribuição de sementes da
previsão climática. Dentre os principais problemas
encontrados nesse episódio está o fato de que os modelos
meteorológicos têm pouca habilidade para prever as
chuvas de pré-estação no Nordeste Setentrional, e em
geral previsões climáticas fazem referência às chuvas
trazidas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT),
e não às chuvas trazidas por frentes frias vindas do sul,
vórtices ciclônicos dos altos níveis ou ondas de leste.
As chuvas de pré-estação, no entanto, quando intensas
o su ciente para unir-se com as chuvas trazidas pela
ZCIT, podem resultar em duas safras de feijão e milho
verdes, o que signi ca, para o agricultor de sequeiro,
a duplicação de seus ganhos anuais. Isso raramente
ocorre; no entanto, se o agricultor esperar pelas chuvas
vindas no norte (decorrentes da atuação da ZCIT),
perderá essa oportunidade quando ela eventualmente
se manifestar. Os agricultores então fazem seus cultivos
sempre que a umidade do solo alcança cerca de um
palmo de profundidade – ou seja, independentemente
de qualquer previsão climática. Ao fazerem isso, estão
minimizando a perda da oportunidade da chuva, ainda
que desperdiçando sementes. Isso é compreensível, dado
o fato de que sementes estão disponíveis no mercado,
enquanto a chuva não está.
Na percepção dos produtores locais, o que houve
foi a desconsideração tácita e irresponsável de
estratégias locais de plantio, e o desrespeito a formas
locais de conhecimento sobre o clima. Até mesmo
a reunião anual de Profetas da Chuva do sertão,
realizada na cidade de Quixadá, teve como uma de
suas motivações, de acordo com seu idealizador4,
gurar como reação à atitude do governo com relação
ao calendário de distribuição de sementes, buscando
dar visibilidade ao conhecimento climático local
que estava sendo ignorado pelo governo. O episódio
foi então interpretado como mais uma ação de um
governo que priorizava outras formas de atividade
econômica – a indústria, o turismo e o agronegócio
– e que via a agricultura familiar como um fardo.
Ou seja, a informação climática acabou sugada para
dentro do redemoinho político daquele momento,
e identi cada com um governo que, em muitas
localidades rurais, era visto como tendo agendas
antagônicas com as da comunidade. Desta forma,
a informação meteorológica era naquele momento
entendida como ferramenta produzida pelo governo
para tomar controle sobre as atividades de produção
4 Helder Cortes, comunicação pessoal.
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
83
locais. Por essa razão, a informação meteorológica
era rechaçada de antemão, sem sequer ser analisada.
Como evitar esse tipo de situação? Alguns
trabalhos sobre a comunicação social de informações
cientí cas podem oferecer subsídios nesse sentido.
Cash e seu grupo, por exemplo, sugerem que a
disseminação de informações tem mais chance de
ganhar um uso efetivo se a informação tiver saliência,
credibilidade e legitimidade (Cash et al., 2002; Cash
et al., 2003; Cash e Buizer, 2005). Taddei (2008 b)
propôs a expansão deste conjunto de características
para saliência, relevância, autoridade e legitimidade.
Cash identi ca saliência com relevância, enquanto
estas características são claramente distintas. Saliência
refere-se à capacidade, por parte dos receptores da
informação, de detectarem detalhes importantes
para a compreensão da mensagem. Em alguns casos,
esses detalhes não são percebidos, e a interpretação
da mensagem é prejudicada. Na meteorologia, o caso
mais notório é a distinção entre tempo e clima. Uma
mensagem baseada implicitamente nesta distinção
será entendida de forma incorreta se as pessoas que a
receberem não souberem da distinção em questão. Por
essa razão, eventos de tempo são geralmente usados
para avaliar (incorretamente) previsões de clima.
Adicionalmente, a linguagem técnica, em geral,
reduz a saliência da informação. Outro elemento que
possui baixa saliência é a informação probabilística:
por questões cognitivas e culturais, o aspecto
probabilístico da informação é de difícil retenção, e
é o primeiro elemento a desaparecer no processo de
disseminação da informação meteorológica.
Relevância, por sua vez, refere-se à aplicabilidade
da informação nos processos produtivos, culturais,
ou políticos de quem a recebe. Informações
meteorológicas de boa qualidade técnica, mas em
escalas espaciais distintas das em que os usuários
operam, perde relevância. O mesmo de dá com
relação a calendários decisórios: a informação
certa na hora errada é irrelevante. A informação
meteorológica, quando chega aos locais de uso, se
acopla a tentativas locais de resolução de problemas.
A chance de um uso e caz da informação aumenta
se esse acoplamento for facilitado. Por essa razão, a
compreensão dos problemas e das formas locais de
tentativa de solução destes é importante.
Autoridade é resultado da credibilidade atribuída
à informação, e à con ança depositada em sua fonte.
De acordo com Gregory e Miller (1998), devido à
própria especialização do conhecimento cientí co e
técnico e à complexidade informacional do mundo
em que vivemos, é comum que os indivíduos sejam
mais ativos na busca de relações de con ança do
que na busca da compreensão dos fatos e elementos
técnicos. Em situações de risco, por exemplo, mais
do que entender com detalhes o que está acontecendo,
pesquisas sugerem que indivíduos buscam sinais que
indiquem se podem ou não con ar nas autoridades
responsáveis pela gestão da situação (Gregory e
Miller, 1998, p. 193).
Um dos problemas ligado à autoridade consiste no
fato de que emissor e receptor da mensagem podem
de nir autoridade de forma diferente. Na opinião
da comunidade cientí ca, o que atribui autoridade
a determinada informação é o rigor metodológico
através do qual ela foi gerada. Como a população
em geral não entende como a ciência funciona
internamente, esse critério não se aplica fora das
paredes das instituições de pesquisa. Em outros setores
da população, a autoridade está ligada ao acesso restrito
ao conhecimento, a recursos e a poder decisório.
Em algumas comunidades, há formas culturais de
atribuição de autoridade: em determinados lugares, a
autoridade quem tem é o padre; em outros lugares, é a
pessoa mais velha; em outros, é quem tem a arma de
fogo; em outros ainda, é o representante da família que
tradicionalmente detém o poder, como nas monarquias.
O fato de que a população não entende a autoridade
cientí ca da mesma forma como o fazem os cientistas
foi constatado numa série de pesquisas feita nos Estados
Unidos, buscando medir o grau de compreensão que a
população tinha, na época em que as pesquisas foram
feitas, do trabalho da ciência. Ao serem perguntados
“o que signi ca estudar algo cienti camente?”, em
1957, apenas 12% dos americanos entrevistados
mencionaram experimentação e teste de hipóteses.
Em 1979, essa proporção era de 14%; em 1985, 5%
(Gregory e Miller, 1998, p. 5). Isso não signi ca que
essas pessoas não atribuíssem autoridade aos cientistas,
84
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
mas que essa autoridade não era necessariamente
atribuída em virtude do uso do método cientí co.
E legitimidade refere-se à adequação da informação
aos valores, formas de vida e perspectivas locais. A
mensagem e a sua forma de disseminação, quando
legítimas, não se confrontam frontalmente com
valores locais. Quando há esse confronto, em geral
não são os valores locais os perdedores, mas sim a
informação cientí ca. Numa comunidade em que os
valores religiosos são importantes, por exemplo, se a
informação cientí ca chegar fazendo menção, mesmo
que indiretamente, de que existe uma polaridade, uma
oposição entre ciência e religião, quem vai perder
legitimidade é a ciência. Não é esse tipo de embate
que faz com que a religião deixe de ter legitimidade.
O mesmo ocorre com polaridades como urbano
versus rural, agendas o ciais versus agendas locais,
pequena agricultura versus agronegócio.
Podemos ver todos esses elementos em ação no
caso da distribuição de sementes. Inicialmente, a
distinção feita pela meteorologia entre as chuvas de
pré-estação (trazidas por frentes frias vindas do sul)
e chuvas de estação (trazidas pela ZCIT) não possui
saliência para grande parte da população rural, e a
razão da retenção das sementes até a con guração
das chuvas ligadas à ZCIT não foi entendida pelos
agricultores. Ao mesmo tempo, con gurações
ideológicas (desprezo pelo conhecimento rural
tradicional) e institucionais (maior atenção dada
a áreas de nidas como estratégicas pelo governo,
como o agronegócio voltado à exportação) zeram
com que formas locais de organização produtiva
fossem invisíveis aos olhos do governo. Ou seja,
formas locais de produção não tinham saliência junto
ao governo. Adicionalmente, a estratégia de uso da
informação meteorológica resultou não apenas numa
situação irrelevante para os produtores locais, em
função do choque entre o calendário de produção local
e o imposto pelo governo, mas também dani cou a
con ança depositada pelos produtores nas agências
governamentais (dentre as quais a FUNCEME), o
que resultou na perda da autoridade destas agências.
E, por m, a ação do governo foi entendida como
autoritária e desrespeitosa, e desta forma, ilegítima.
2. CONCLUSÃO
O que este texto pretendeu mostrar é que, como
em qualquer processo de divulgação cientí ca, a
e ciência da comunicação depende da atenção dada
ao contexto em que a informação será recebida, e
não o em que a informação é emitida. Desta forma,
a informação meteorológica, para ser e caz em seu
propósito comunicativo, deve estar estruturada, em
termos de conteúdo e de estratégias de disseminação,
em função das formas de pensamento e ação que
caracterizam o seu público alvo, e não das formas
de conhecimento que caracterizam o grupo que a
produz. No entanto, entender de forma detalhada
os contextos culturais, sociais e políticos em que
as informações de clima serão recebidas é tarefa
complexa, até mesmo para quem se dedica a isso em
tempo integral. Por essa razão, não há sentido em
sugerir que a Meteorologia absorva integralmente
esse desa o, mas é preciso fomentar e fortalecer a
cooperação entre quem produz a informação de tempo
e clima e especialistas em comunicação e cultura.
Desta discussão, algumas implicações mais
salientes se convertem em recomendações. A primeira
é que, se a comunicação depende da construção de
autoridade e legitimidade, ela é a outra face da gestão
da imagem social e pública da Meteorologia. Sendo
assim, convém que gestores e líderes desta atividade
participem, de forma mais incisiva, de debates sociais
onde negociem com a sociedade quais são os graus de
previsibilidade que a Meteorologia pode oferecer, e o
que a sociedade deve esperar. O ajuste de expectativas
sociais é necessário para que não se chegue em
situações em que os gestores políticos decidam censurar
a disseminação da informação meteorológica, ou em
que à meteorologia seja atribuída culpa por supostos
“erros” de prognósticos, quando na verdade são as
expectativas sociais que se mostram irrealistas.
Em segundo lugar, muitas vezes é necessário
que se reduza a quantidade de intermediários entre
a Meteorologia e seu público alvo. Por outro lado,
existem intermediários estratégicos, pessoas – nas
comunidades ou instituições - que são mais capazes
de fazer as traduções de linguagem e culturais, e desta
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
85
forma é preciso identi car e solicitar a colaboração
dessas pessoas.
Em terceiro lugar, é preciso fazer concessões
terminológicas. Cientistas e meteorologistas precisam
acostumar-se com a idéia de que as de nições e
conceitos devem ganhar o mundo de forma exibilizada,
e que a manutenção da precisão e do caráter técnico da
informação implica em perda de saliência e relevância,
diminuindo a chance de seu uso.
E, por m, é preciso fazer pesquisas sistemáticas
sobre as estratégias comunicativas. Em campo e em
situações experimentais de laboratório, é preciso
construir conhecimento sobre quais formas de
comunicação, em termos de forma e de conteúdo, são
mais e cazes em diferentes contextos e para populações
diversas. É conveniente aproveitar o impulso dado aos
estudos sobre as mudanças climáticas e criar condições
para que se desenvolvam estudos sobre as relações
entre a Meteorologia e a sociedade. Se o clima é a
integral do tempo no tempo, piada meteorológica que
o professor Pedro Leite da Silva Dias costuma contar
aos seus alunos, é preciso derivar no tempo os estudos
das dimensões humanas das mudanças climáticas, de
modo a chegarmos nas dimensões humanas do tempo
e do clima.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, J. M. B.; VIEIRA, V. P. P. B.; CAMPOS,
J. N. B. Uma Análise de Sustentabilidade Agro-
Hidrometeorológica no Estado do Ceará. Revista
Brasileira de Meteorologia, v. 23, p. 103-114, 2008.
ANDERSON, K. Predicting the Weather:
Victorians and the Science of Meteorology. Chicago:
University of Chicago Press, 2005.
BAETHGEN, W.E., H. MEINKE, A. GIMENEZ.
Adaptation of agricultural production systems to
climate variability and climate change: lessons learned
and proposed research approach. IN: Insights and
Tools for Adaptation: Learning from Climate
Variability, NOAA-OGP, Washington, D.C., 2004.
BRAVO, J. M.; COLLISCHONN, W.; PILAR, J.
V.; SILVA, B. C.; TUCCI, C. E. M. Operação de um
reservatório com múltiplos usos com base na previsão
de curto prazo. Revista Brasileira de Energia, v. 11,
p. 85-110, 2005.
BROAD, K., A.S.P. PFAFF, e M. H. GLANTZ.
Effective and Equitable Dissemination of Seasonal-
to-Interannual Climate Forecasts: policy implications
from the Peruvian shery during El Niño 1997-98.
Climatic Change 54: 415-438, 2002.
CASH, D. W. and J. BUIZER. Knowledge-
Action Systems for Seasonal to Interannual Climate
Forecasting - Summary of a Workshop. Washington:
The National Academies Press, 2005.
CASH, D. W., W. C. CLARK, F. ALCOCK, N.
M. DICKSON, N. ECKLEY, D. H. GUSTON, J.
JAGER, and R. B. MITCHELL. Knowledge systems
for sustainable development. PNAS, July 8, 2003, vol.
100, no. 14, pp. 8086–8091.
CASH, D., W. CLARK, F. ALCOCK, N. M.
DICKSON, N. ECKLEY, and J. JAGER. Salience,
Credibility, Legitimacy and Boundaries: Linking
Research, Assessment and Decision Making. John F.
Kennedy School of Government, Harvard University,
Faculty Research Working Papers Series, RWP02-046,
November 2002
COLLISCHONN, W.; TUCCI, C. E. M.;
CLARKE, R. T.; DIAS, P. L. S.; SAMPAIO, G. O.
Previsão sazonal de vazão na bacia do rio Uruguai 2:
Previsão Climática-Hidrológica. Revista Brasileira
de Recursos Hídricos, v. 10, n. 4, p. 60-72, 2005.
DUCK, S. W. Meaningful Relationships: Talking,
Sense, and Relating. Thousand Oaks: SAGE, 1994.
86
Boletim SBMET ago.-dez. 2008
FINE, G. A. Authors of the Storm. Meteorologists
and the Culture of Prediction. Chicago: The
University of Chicago Press, 2007.
GREGORY, J. e S. MILLER. Science in Public.
Communication, Culture, and Credibility. London:
Basic Books, 1998.
JAKOBSON, R. Lingüística e Comunicação. São
Paulo: Cultrix, 1979.
KELLERMAN, K. Communication: Inherently
strategic and primarily automatic. Communication
Monographs, 59, 288-300, 1992.
LALL, U., and F. A. SOUZA FILHO. Water
Resource Management under Changing Climate: Role
of Seasonal Forecasts. Water Resources Impact 6(3),
July 2004, 7-10
LEMOS, M. C. and L. DILLING. Equity in
forecasting climate: can science save the world’s poor?
Science and Public Policy, 34(2), March 2007, pages
109–116
LEMOS, M. C., T. J. FINAN, R. W. FOX, D. R.
NELSON, and J. TUCKER. 2002. The Use of Seasonal
Climate Forecasting in Policymaking: Lessons from
Northeast Brazil. Climatic Change 55: 479-501.
MARTINS, K. P. H. Profetas da Chuva. Fortaleza:
Tempo d´Imagem, 2006.
MEINKE, H.; W.E. BAETHGEN, P.S. CARBERRY,
M. DONATELLI , G.L. HAMMER, R. SELVARAJU,
and C.O. STOCKLE. Increasing pro ts and reducing
risks in crop production using participatory systems
simulation approaches. Agric. Systems 70:493-513,
2001.
MEZA, F.J., HANSEN, J.W., OSGOOD, D.
Economic value of seasonal climate forecasts for
agriculture: review of ex ante assessments and
recommendations for future research. Journal of
Applied Meteorology and Climatology 47:1269-
1286, 2008.
ORLOVE, B. S. e J. L. TOSTESON. The Application
of Seasonal to Interannual Climate Forecasts Base don
El Niño-Southern Oscilation (ENSO) Events: Lessons
from Australia, Brazil, Ethiopia, Peru and Zimbabwe.
Berkeley Workshop on Environmental Politics,
Working Paper 99-3, Institute of International Studies,
University of Califórnia, Berkeley, 1999.
PENNESI, K. (2007). Improving Forecast
Communication - Linguistic and Cultural
Considerations. Bulletin of the American
Meteorological Society, 88(7):1033-1044, July 2007.
RAYNER, S., D. LACH, and H. INGRAM.
Weather Forecasts are for Wimps: why water resource
managers do not use climate forecasts. Climatic
Change (2005) 69: 197–227
RONCOLI, C., INGRAM, K., P. KIRSHEN, and
C. JOST. Meteorological Meanings: Understandings
of Seasonal Rainfall Forecasts by Farmers of Burkina
Faso. In S. STRAUSS and B. ORLOVE eds. Weather,
Climate, and Culture, Berg, 2004, pp. 181-202.
SHANNON, C. E. e W. WEAVER. A Mathematical
Model of Communication. Urbana, IL: University of
Illinois Press, 1949.
TADDEI, R. Of clouds and streams, prophets
and pro ts: The political semiotics of climate and
water in the Brazilian Northeast. Tese de doutorado,
Columbia University, Nova York, 2005.
TADDEI, R. Oráculos da Chuva em Tempos
Modernos: Mídia, Desenvolvimento Econômico, e as
Transformações na Identidade Social dos Profetas do
Sertão. In MARTINS, K. (org.), Profetas da Chuva.
Fortaleza: Tempo d´Imagem, 2006.
TADDEI, R. Blame: the hidden (and dif cult) side
of the climate change debate. Anthropology News,
Vol. 49, No. 8, November 2008a.
TADDEI, R. Forecasting meanings: the
communication between climate scientists and
rural communities in Northeast Brazil. Manuscrito
(em revisão), 2008b.
... Regarding communication processes, Taddei (2008) states that the effectiveness of communication depends on the attention given to the context in which the information will be received, and not to the context in which the information is issued. Therefore, in order to be effective for communicative purposes, climate information must be structured regarding content and dissemination strategies, based on the ways of thinking and acting of its target audience, and not on the knowledge of the group that produces it. ...
... Therefore, in order to be effective for communicative purposes, climate information must be structured regarding content and dissemination strategies, based on the ways of thinking and acting of its target audience, and not on the knowledge of the group that produces it. One key challenge for implementing effective communication is understanding in detail the cultural, social and political contexts in which climate information will be received (Taddei, 2008). At the same time, Holloway and Ilbery (1996) point out that, although farmers in an economic or geographical area operate under similar economic and political conditions, their individual responses to the political-economic structure, and other factors such as environmental change, will vary as a result of their different attitudes and behaviors. ...
... In times of water deficit or the occurrence of other adverse phenomena implying high levels of uncertainty, climate information is disclosed in an environment of political tension between official agents and some social sectors (Taddei, 2012). Therefore, the fact that this profile is formed by individuals from different sectors shows a shared acceptance of available climate information, and that it affects different levels within the decision-making process, although its use is not necessarily the one motivating its preparation and dissemination, which also tells us that the communicative process is not unidirectional (Taddei, 2008). The interpretation of the results obtained with the Q methodology and supplemented with the interviews carried out, allowed us to detect that, even showing a general agreement with government policies (+1 in Fig. 2a for statement No. 5), the uses of climate information may be diverse and be based on the needs of the different stakeholders. ...
Article
Full-text available
The ability to implement climate risk management measures is associated with the availability and effectiveness of climate services to inform decision making. Using the case of agricultural droughts in livestock systems of Uruguay, this paper analyzes the extent in which available climate information is being used for adaptation to droughts. Semi-structured interviews and The Q methodology was applied to farmers, public policy makers and academic researchers. Four different profiles of the use of climate information were obtained: convinced, pragmatic, pessimistic and skeptical. The need of understanding the specific contexts of use of climatic information for tailored climate services elaboration is noted. Translation of information is also necessary, since the lack understanding of the message results in unused information. There was consensus that preventive measure should be taken to minimize the impacts of drought and therefore, developing effective climate services should prioritize preventive measures.
... La investigación llevada a cabo en el marco del proyecto CRN3035 nos ha permitido sumergirnos en diversos espacios donde se produce, circula y usa el conocimiento climático para analizar la complejidad del proceso desde que se emite el pronóstico trimestral por consenso, la comunicación de este, hasta su recepción por parte de algunos usuarios del sector agropecuario. Tal como lo afirman una gran cantidad de investigaciones, el análisis de los diferentes contextos en los cuales la información climática es producida y utilizada permite mejorar su uso (Kirchhoff, Lemos y Dessai, 2013;Dilling y Lemos, 2011;Peterson et al., 2010;Taddei, 2008; Lemos y Morehouse, 2005) y puede aportar a una "comprensión contextualizada" de aquellos factores que la limitan y potencian ( Barnes et al., 2013). Asimismo, comprender el entramado social e institucional de cada uno de los contextos permite identificar las restricciones en el uso de la información como también los aspectos sustantivos involucrados en las dinámicas de construcción de conocimiento. ...
... La observación participante en estas reuniones y las entrevistas que llevamos a cabo nos permitieron identificar que los desafíos relacionados a la circulación de la información son amplios y refieren no solo a la complejidad del pronóstico en sí mismo, a la incertidumbre y el lenguaje técnico que contiene, sino también a las expectativas de aquellos que lo reciben y deben tomar decisiones con esa información. Varios estudios (Srinivasan, Rafisura y Subbiah, 2011;Baethgen, Carriquiry y Ropelewsk, 2009;Taddei, 2008;Tarhule y Lamb, 2003) han revelado las dificultades que conlleva la articulación de la información climática emitida por instituciones oficiales con las expectativas y significados involucrados en la interpretación y uso que se hace de ella. Un ejemplo emblemático es la capacidad de las ciencias climáticas de brindar información de tipo probabilística, mayores o menores niveles de probabilidad de ocurrencia, cuando en muchos casos los usuarios esperan información de tipo determinística -si va a llover o no, cuándo, en qué localidad y/o cuantos milímetros-. ...
... En efecto, la pregunta por la comunicación del conocimiento climático conlleva varias aristas en cada uno de los niveles, desde lo global a lo local y desde lo institucional hasta lo individual; dimensiones estas que se entrelazan para conformar una inquietud común dentro de las ciencias del clima. A pesar de ello, tal como lo indica Taddei (2008), cuando se hacen análisis organizacionales sobre el rol de la comunicación en la meteorología se puede identificar este aspecto como históricamente desatendido por las instituciones meteorológicas. El MMSC convoca al fortalecimiento de los procesos de interfaz con los usuarios y plantea a la comunicación, traducción e interpretación de la información climática como ejes prioritarios. ...
Article
Full-text available
En el presente, la conciencia social sobre las problemáticas relativas al clima ha redundado en una mayor demanda al sector científico y operacional de “servicios climáticos”, es decir, de información meteorológica y climática oportuna en cantidad y calidad suficiente para asistir la toma de decisión de diversos sectores sensibles al clima. El abordaje de esta complejidad trasciende la cuestión disciplinar, y vuelve imprescindible examinar las “dimensiones humanas” de la producción, circulación y uso de la información climática. Basados en la experiencia de un proyecto interdisciplinario e intersectorial sobre servicios climáticos y el relevamiento de la literatura antropológica y especializada en el tema, nos proponemos identificar aquellas contribuciones que puede hacer la antropología a la comprensión de estos procesos. Al mismo tiempo, identificamos cómo el monitoreo y la reflexión conjunta y sistemática sobre las prácticas de producción de conocimiento son clave para el fortalecimiento de una ciencia más amplia y participativa.
... At that time, the most important research results suggested that scientists and other stakeholders should learn to craft their messages in ways that were in line with what anthropology, political science, psychology, and communication studies suggested gave relevance, authority, and legitimacy to statements. I explained that to Brazilian meteorologists (Taddei 2008) and helped some American colleagues create a manual for efficient climate change communication (Shome and Marx 2009). ...
... The difference between the BARA-UFC research and the IRI-Columbia-FUNCEME research, despite convergent results, is the fact that the latter was developed under the auspices of two climate institutions (IRI and FUNCEME) and with the mandate to explore difficulties and challenges in communication and the use of climate information, particularly the probabilistic nature of climate predictions used to express uncertainties. Also, in this case, some of the researchers associated with the research effort would later push forward the agenda of usable science and co-production (Broad et al., 2007, Orlove et al., 2011, Peterson et al., 2010, Taddei, 2008, Taddei, 2013, Taddei, 2019. ...
Article
Full-text available
From the devastating effects of the 1877–1879 Great Drought in the Northeast region to the creation of the Center for Weather Forecast and Climate Studies (CPTEC) at the National Institute for Space Research (INPE) in the early 1990s, Brazil went from a total absence of meteorological expertise to becoming a member of a select group of nations with the infrastructure and technical expertise to build and run a global general circulation model. This article reviews the most important moments in the development of climate services in Brazil, addressing the development of its infrastructure for observation, monitoring, modelling and prediction, the still incipient efforts in systematically understanding users’ perspectives and needs, and the work needed to incorporate the usable science and co-production paradigms into the main Centres of production of climate information. Advances and challenges are analysed, and actions for the strengthening of the climate services framework are proposed.
... A pesar de los amplios avances de la meteorología en la producción de mejores pronósticos, aún se identifica una brecha entre la producción de conocimiento y su uso y apropiación social por un amplio rango de actores sociales (Funtowicz e Hidalgo, 2008). La subutilización de la información climática responde a múltiples factores relevados por una variada literatura internacional (Agrawala, Broad, y Guston, 2001;Baethgen et al., 2009;Cash y Buizer, 2005;Dilling y Lemos, 2011;Kirchhoff, Lemos, y Dessai, 2013;Lemos y Morehouse, 2005;Peterson et al., 2010;Rayner, Lach, y Ingram, 2005;Srinivasan, Rafisura, y Subbiah, 2011;Taddei, 2008;Vaughan y Dessai, 2014). Algunos factores responden a componentes de tipo organizacionales: voluntad y cultura institucional, disponibilidad de recursos humanos y financieros para la implementación de políticas y estrategias de interacción con sectores sociales diversos, nivel de compromiso individual y colectivo para diseñar y establecer procesos interdisciplinarios y colaborativos. ...
Article
Full-text available
El siguiente trabajo tiene como objetivo documentar un espacio de coproducción de conocimiento conocido como reunión de tendencia climática trimestral, organizada por el Servicio Meteorológico Nacional (SMN) de Argentina. En la reunión se construye el pronóstico climático de manera participativa entre diversas instituciones operativas, gubernamentales y científicas, a su vez productoras y usuarias de diversos aspectos de la información dirigida a asistir la toma de decisión. El artículo comienza exponiendo los inicios y la evolución de las reuniones, mostrando cómo la apertura del SMN a la participación de los usuarios le brinda un marco de legitimidad, reconocimiento y autoridad a las prácticas de producción de conocimiento del organismo. Luego se describe la organización de las reuniones y se pone de manifiesto cómo estas instancias de intercambio promueven la constitución de redes colaborativas, a través de acuerdos de integración formal que consolidan la coproducción de conocimiento. Finalmente, se abordan algunas tensiones y reflexividades que emergen producto de la interacción sistemática y frecuente entre instituciones de diversa índole para coproducir conocimiento socialmente relevante.
... ). Tal como lo indicaTaddei (2008), cuando se hacen análisis organizacionales sobre el rol de la comunicación en la meteorología se puede identificar este aspecto como históricamente desatendido. Indagar en el panorama interinstitucional permite identificar cuáles son aquellas organizaciones dentro de la comunidad científica y operativa que consideran el abordaje de las dimensiones humanas un eje prioritario. ...
Article
Full-text available
El Servicio Meteorológico Nacional de Argentina (SMN) es una de las instituciones científico-técnicas más importantes del país, su transferencia del ámbito militar a la esfera civil ha disparado mÚltiples transformaciones enmarcadas dentro del autodenominado "nuevo paradigma" que experimenta la institución. El siguiente artículo tiene como objetivo analizar y describir las mÚltiples dimensiones que abarca este cambio - institucionales, socio-culturales, políticas - cristalizadas en la apertura del SMN a la sociedad, teniendo como horizonte su (re)posicionamiento como autoridad meteorológica dentro del entramado social e institucional.
... ). Tal como lo indicaTaddei (2008), cuando se hacen análisis organizacionales sobre el rol de la comunicación en la meteorología se puede identificar este aspecto como históricamente desatendido. Indagar en el panorama interinstitucional permite identificar cuáles son aquellas organizaciones dentro de la comunidad científica y operativa que consideran el abordaje de las dimensiones humanas un eje prioritario. ...
Article
Full-text available
El Servicio Meteorológico Nacional de Argentina (SMN) es una de las instituciones científico-técnicas más importantes del país, su transferencia del ámbito militar a la esfera civil ha disparado múltiples transformaciones enmarcadas dentro del autodenominado “nuevo paradigma” que experimenta la institución. El siguiente artículo tiene como objetivo analizar y describir las múltiples dimensiones que abarca este cambio – institucionales, socio-culturales, políticas - cristalizadas en la apertura del SMN a la sociedad, teniendo como horizonte su (re)posicionamiento como autoridad meteorológica dentro del entramado social e institucional.
... A partir del estudio de los usos y creencias asociadas a los almanaques en esta porción del territorio archipelágico, es posible afirmar que una mejor comprensión de la cultura y del contexto social y político local permite a los investigadores del clima y a los mediadores entre ellos y los usuarios del conocimiento mejorar los procesos de comunicación. Como dice Taddei (2008), la eficiencia de la comunicación meteorológica, y científica, no depende tanto del contexto en el cual la información es emitida sino de la atención que preste-mos al contexto en el cual es recibida, y eso puede implicar hacer concesiones terminológicas, identificar intermediarios capaces de hacer traducciones lingüísticas y culturales de la información técnica y hacer investigaciones sistemáticas sobre estrategias comunicativas eficaces en contextos distintos y para poblaciones diversas, dejando de lado las divisiones tajantes entre formas de conocimiento científicas y locales. ...
Article
Full-text available
This article characterizes the uses of Bristol and Mac Donald almanacs between Raizal People of of Providencia and Santa Catalina islands. The ethnographic research in these Caribbean islands shows how these publications blur the borders between scientific and local knowledge and how they articulate natural and cultural dimensions of the lived world. The beliefs associated with these calendars and its use in everyday life reveal political and historical conflictive aspects of the islanders relations with mainland Colombia. These links have been overlooked in the many ethnographies made in the area.
Chapter
Full-text available
The purpose of this paper is to analyze an inter-institutional collaborative process implemented in Argentina to foster the creation of interactive spaces among climate information providers and different types of users. It has started addressing three different user groups belonging to the agricultural sector: (1) intermediate institutions – governmental, academic and technical institutions (2) Large farmer associations (3) small goat producers and rural students from vulnerable areas of Santiago del Estero. The fieldwork carried out in Argentina between 2013 and 2017 shows that the challenge of providing effective Climate Services shaped a so-called “new paradigm” for Argentinean institutions, led by the National Weather Services. This process has framed a self- reflexive process in the changing identities, activities and representations of its role in society, as is being experienced by scientists, stakeholders and well established institutions such as the National Weather Services and other relevant institutions that provide information to different type of users. Implementing Climate Services has led to a renewed interest on how to create and improve interactive spaces to exchange information with end-users. Anthropologists immersed in these spaces have identified different issues in the implementation of new paradigm. During the process of planning and organizing roundtable meetings with users, academia and government agencies became aware of their own the lack of knowledge on how to identify the audience to address. Although it may seem odd, a proper identification and categorization of who the ‘users’ are or how they use and understand climate products is something yet to be defined. Findings from this research indicate that effective interface experiences require a deep understanding of user communities. This can only be achieved through face to face interactions and inter-institutional engagement. The possibility of better science that meet user’s needs can only be achieved ‘taking ownership” of the problem of knowledge co-production. Something that can only be done by making sense of climate science and information within a context of institutions opened to dialogue and collaboration.
Article
Full-text available
For the past ten years, the role of seasonal climate forecasting (SCF) in decreasing the vulnerability of poor populations in many countries to climate variability and change has been discussed in the scholarly literature and policy circles. This paper reviews the literature on climate forecasting information and explores three main equity implications of SCF use. First, while investment in SCF as a decision-support tool has been justified in social terms, many examples of application show that the most vulnerable are unable to benefit from SCF information and may be harmed by it. Second, the usability of SCF as a decision-making tool has been constrained by accessibility and communication issues. Third, there may be opportunity costs in the sense that focus on SCF displaces political, human and financial capital from other more effective alternatives for decreasing the vulnerability to disaster among the poor. This review argues that, without attention to specific mechanisms to counter pre-existing inequities, the distribution and use of SCF is not likely to ameliorate the conditions of those most in need.
Article
Full-text available
The development of seasonal-to-interannual climate predictions has spurred widespread claims that the dissemination of such forecasts will yield benefits for society. Based on the use as well as non-use of forecasts in the Peruvian fishery during the 1997–98 El Niño event, we identify: (1) potential constraints on the realization of benefits, such as limited access to and understanding of information, and unintended reactions; (2) the need for an appropriately detailed definition of societal benefit, considering whose welfare counts as a benefit among groups such as labor, industry, consumers, citizens of different regions, and future generations. We argue that consideration of who benefits, and an understanding of potential socioeconomic constraints and how they might be addressed, should be brought to bear on forecast dissemination choices. We conclude with examples of relevant dissemination choices made using this process.
Article
Full-text available
One goal of weather and climate forecasting is to inform decision making. Effective communication of forecasts to various sectors of the public is essential for meeting that goal, yet studies repeatedly show that forecasts are not well understood by lay people. Using a case study from northeast Brazil, this article discusses some of the communication difficulties faced by forecasters and outlines an approach for adapting forecast language to users' needs and expectations. Analysis is based on data collected during 14 months of fieldwork, including interviews, a survey, and observations of meteorologists and local "rain prophets," whose predictions are derived from empirical observations. The anthropological approach emphasizes the importance of language. For example, findings indicate that forecast communicators should look for multiple definitions of key terms that have common as well as technical meanings. Distinctions salient to meteorologists may be meaningless to the public, even when terms are clearly defined. In some cases, it may be more helpful to work with lay concepts when communicating forecasts rather than dismissing such understandings as "incorrect." Meteorologists should also recognize that scientific concepts are not accepted by everyone as the only correct way to think. This is especially relevant where scientific forecasts are competing with alternatives, such as those based on traditional knowledge. Finally, forecast communicators should develop the format and content of the forecast within each application. it is important to learn what people expect from forecasts and which communication styles are preferred.
Article
Full-text available
Conflicts often arise for reservoirs with multiple water uses, such as power generation, irrigation and flood control. While high levels are desired to store water that will be used during the dry season, low levels in the reservoirs can reduce flood damages. Inflow forecasting can be used to improve reservoir management, minimizing conflicts in multipurpose reservoir operation. Benefits are dependent on the skill of the forecasts itself and on how these forecasts are taken into account during the process of decision concerning the reservoir operation. This study presents an application of a simulation model that considers available forecast in the reservoir operation. The Três Marias dam, on the São Francisco river basin, was selected as a study case, mainly because of the availability of short-term forecast data from previous work. Results are promising and show that short-term forecasts can be introduced in operation simulation and can improve the efficiency of operation rules in multipurpose reservoirs.
Article
Full-text available
Advanced information in the form of seasonal climate forecasts has the potential to improve farmers' decision making, leading to increases in farm profits. Interdisciplinary initiatives seeking to understand and exploit the potential benefits of seasonal forecasts for agriculture have produced a number of quantitative ex-ante assessments of the economic value of seasonal climate forecasts. The realism, robustness, and credibility of such assessments become increasingly important as efforts shift from basic research toward applied research and implementation. This paper surveys published evidence about the economic value of seasonal climate forecasts for agriculture, characterizing the agricultural systems, approaches followed, and scales of analysis. The climate forecast valuation literature has contributed insights into the influence of forecast characteristics, risk attitudes, insurance, policy, and the scale of adoption on the value of forecasts. Key innovations in the more recent literature include explicit treatment of the uncertainty of forecast value estimates, incorporation of elicited management responses into bioeconomic modeling, and treatment of environmental impacts, in addition to financial outcomes of forecast response. It is argued that the picture of the value of seasonal forecasts for agriculture is still incomplete and often biased, in part because of significant gaps in published valuation research. Key gaps include sampling of a narrow range of farming systems and locations, incorporation of an overly restricted set of potential management responses, failure to consider forecast responses that could lead to "regime shifts," and failure to incorporate state-of-the-art developments in seasonal forecasting. This paper concludes with six recommendations to enhance the realism, robustness, and credibility of ex-ante valuation of seasonal climate forecasts.
Article
Full-text available
Short-term climate forecasting offers the promise of improved hydrologic management strategies. However, water resource managers in the United States have proven reluctant to incorporate them in decision making. While managers usually cite poor reliability of the forecasts as the reason for this, they are seldom able to demonstrate knowledge of the actual performance of forecasts or to consistently articulate the level of reliability that they would require. Analysis of three case studies in California, the Pacific Northwest, and metro Washington DC identifies institutional reasons that appear to lie behind managers reluctance to use the forecasts. These include traditional reliance on large built infrastructure, organizational conservatism and complexity, mismatch of temporal and spatial scales of forecasts to management needs, political disincentives to innovation, and regulatory constraints. The paper concludes that wider acceptance of the forecasts will depend on their being incorporated in existing organizational routines and industrial codes and practices, as well as changes in management incentives to innovation. Finer spatial resolution of forecasts and the regional integration of multi-agency functions would also enhance their usability.
Article
Full-text available
This article examines the use of seasonal climate forecasting in public and private efforts to mitigate the impacts of drought in Cear, Northeast Brazil. Here, forecasts have been directed towards small scale, rainfed agriculturalists as well as state and local level policymakers in the areas of agriculture, water management, and emergency drought relief. In assessing possibilities and constraints of forecast application in Cear, the present analysis takes into account three types of variables: (a)characteristics of the forecasts; (b) policymaking systems; and (c)institutional environments. We conclude that, on the one hand, several factors in the Cear case have limited the effectiveness of seasonal climate forecast use. First, the current level of skill of the forecasts is inadequate for the needs of policy development and farmer decisionmaking. Second, forecast information application has been subject to distortion, misinterpretation and political manipulation. Third, focus on the forecast as a product until recently neglected to take into account end users' needs and decisionmaking behavior. On the other hand, climate forecasting has the potential to offer a dramatic opportunity for state and local level bureaucracies to embark on a path of proactive drought planning.