Escrever sobre reabilitação enquanto campo de prática clínica e sua integração com a pesquisa é uma tarefa mais complexa do que pode parecer. O livro que ora apresentamos nasceu de uma iniciativa dos organizadores, a partir da busca por um enfoque da reabilitação clínica e da integração com a pesquisa realizada no PPG Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. A tarefa, que parecia simples, de coadunar colegas especialistas em diferentes áreas da reabilitação para escreverem sobre tema de sua produção teórica e científica mostrou-se um trabalho extenso. O trabalho compreendeu vastas revisões dos especialistas em cada um dos temas. O cuidado dos autores dos capítulos apresentados neste livro é típico de pesquisadores, cientistas de um campo com aplicações clínicas de amplo espectro e que têm visualização clara sob a matéria. Nos dezesseis capítulos são exploradas temáticas presentes nas três linhas de pesquisa do programa: reabilitação musculoesquelética, reabilitação cardiorrespiratória e reabilitação neurológica. No primeiro capítulo, as autoras Michele Rocha e Maria Cristina Cardoso apresentam os métodos de avaliação dos distúrbios da deglutição e exploram a prática clínica aliada à pesquisa, através da comparação dos diferentes processos de avaliação das disfagias que, quando presentes, podem desencadear quadros clínicos de desidratação, desnutrição e distúrbios pulmonares aspirativos. No mesmo caminho, no segundo capítulo, Camila Lucia Etges, Lisiane de Rosa Barbosa e Maria Cristina Cardoso tratam do diagnóstico de distúrbios de deglutição em pediatria no ambiente hospitalar, apresentando uma atualização dos dados para o diagnóstico de distúrbios de deglutição em pediatria, tema constantemente carente de informações empíricas e ensaios clínicos. No terceiro capítulo, Camila Maria de Paula da Silva, Cecília Cristine Pohren Dhein, Eveline de Lima Nunes, Patrícia Keitel da Silva, Samara Regina Fávero e Maria Cristina Cardoso apresentam a aplicabilidade clínica da auscultação cervical, indicando uma atualização quanto ao uso da auscultação cervical nas avaliações de beira de leito nos distúrbios da deglutição, cujo perfil é subjetivo, mas com possibilidades objetivas. No quarto capítulo, Bruno Barcellos Hervé, Janice Luisa Lukrafka Tartari, Mariane Borba Monteiro, Fernanda Machado Balzan, Wagner da Silva Naue, Paulo Roberto Stefani Sanches, Danton Pereira da Silva Junior e André Frotta Müller discutem dados sobre a exploração da avaliação da assincronia paciente-ventilador na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) em ventilação não invasiva (VNI), visto que a assincronia é uma das complicações decorrentes da interação entre o paciente e o ventilador. No quinto capítulo, Isadora de Oliveira Lemos, Gabriela da Cunha Pereira e Mauriceia Cassol discorrem sobre a avaliação e a reabilitação frente aos quadros clínicos de distúrbio voz, que são tão frequentes quanto debilitantes. No sexto capítulo, Giesse Albeche Duarte e Maria Cristina Cardoso propõem ações fonoaudiológicas nas fissuras labiopalatinas, que são exploradas através de uma visão geral das possibilidades clínicas junto a uma das malformações mais frequentes que acometem o ser humano e que comprometem o indivíduo como um todo. No sétimo capítulo, as autoras Chenia Caldeira Martinez e Mauriceia Cassol apresentam evidências científicas sobre ansiedade e depressão relacionadas aos distúrbios vocais em pacientes com problemas de saúde mental (ansiedade e depressão), comuns em nossa sociedade. Na sequência, as autoras do oitavo capítulo, Thayse Steffen Pereira, Fabiana de Oliveira e Maria Cristina Cardoso, abordam a saúde bucal a partir da interferência dos hábitos orais viciosos continuados e de difícil eliminação. No nono capítulo, Sabrina Braga dos Santos e Mauriceia Cassol exploram o uso de uma técnica específica para distúrbios de voz, junto a uma população crescente na nossa sociedade, a de idosos. No décimo capítulo, as principais intervenções em escrita e leitura na perspectiva da saúde coletiva e da atenção primária focando a prevenção e a promoção de saúde são abordadas por Caroline Tozzi Reppold, Léia Gonçalves Gurgel e Flavia Amaral Machado. Os modelos das intervenções neuropsicológicas no processo de aprendizagem de crianças em idade escolar são o foco do décimo primeiro capítulo. Caroline Tozzi Reppold, Flavia Amaral Machado e Léia Gonçalves Gurgel, novamente, fazem uma análise voltada para o aprimoramento e para a reabilitação da aprendizagem em âmbito escolar, além de discutirem a importância das funções executivas nesse processo.
A elaboração de instrumentos de avaliação do desenvolvimento motor em crianças com paralisia cerebral é o tema do décimo segundo capítulo. Esse é um campo dominado por escalas que concedem pouca ou nenhuma atenção às habilidades motoras finas. Priscilla Pereira Antunes, Daniela Centenaro Levandowski, Fabiana Rita Camara Machado e Alcyr Alves de Oliveira Jr. exploram outras escalas motoras e sua utilização na avaliação de pacientes com paralisia cerebral. No décimo terceiro capítulo, são apresentados os avanços e a aplicação da tecnologia computacional interativa de videogames para o tratamento de habilidades motoras através de jogos interativos na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Os autores Fabiana Rita Camara Machado, Daniela Centenaro Levandowski e Alcyr Alves de Oliveira Jr. revisam o tema considerando a facilidade de acesso aos equipamentos e aos jogos, aliada ao baixo custo, o que torna possível uso desses aparatos como ferramentas domésticas para o treinamento motor de crianças com paralisia cerebral. A qualidade de vida dos cuidadores de crianças com paralisia cerebral é o foco do décimo quarto capítulo, já que o nível de sobrecarga encontrada nas famílias desses pacientes é considerável. Os autores Jandara de Moura Souza, Daniela Centenaro Levandowski e Alcyr Alves de Oliveira Jr. tratam do desenvolvimento neuromotor dessas crianças durante o processo de reabilitação. Um dos pontos importantes da temática é a expectativa parental sobre o filho recém-chegado e a sobrecarrega advinda quando a criança não atende às expectativas. No décimo quinto capítulo, Juliana de Lima Cordeiro e Alcyr Alves de Oliveira Jr. apresentam um breve levantamento bibliográfico sobre a doença de Parkinson, enfocando nas características motoras e em suas influências no comprometimento cognitivo. Concluem que o rendimento das funções cognitivas na
doença de Parkinson pode ser um fator tão importante quanto os visíveis prejuízos motores. Por fim, no décimo sexto capítulo, Marlon Francys Vidmar, Verônica Bidinotto Brito, Gilnei Lopes Pimentel, Carlos Rafael de Almeida, Luis Henrique Telles da Rosa e Marcelo Faria Silva tratam da suplementação com ômega-3 em processos inflamatórios e do estresse oxidativo em processos pós-lesões do joelho. Abordam as possíveis alterações no metabolismo celular produzido pelo estresse oxidativo que podem conduzir ao agravamento de lesões de joelho e a um maior dano nas estruturas articulares. Assim, nesses dezesseis capítulos, os autores apresentam brevemente uma série de produtos, frutos de pesquisas conduzidas por profissionais e acadêmicos atuantes no PPG em Ciências da Reabilitação e em outros programas parceiros.