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RESUMO
Este estudo buscou descrever e analisar o perl sociodemográco das pessoas com deciência residentes
nos trinta e dois municípios de abrangência da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS). A pesquisa
é descritiva, de caráter quantitativo. Foram analisados dados secundários do último censo do Instituto
Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) - edição de 2010, por deciência: Visual, Motora, Intelectual/
Mental, Auditiva e por dois graus de complexidade correspondentes: grau não consegue de modo algum
e grau grande diculdade. Os itens analisados foram: frequência por deciência, alfabetização, renda,
zona/moradia, faixa etária, gênero e raça/etnia. Os dados revelam maior freqüência de pessoas com
deciência visual, que possuem 70 anos ou mais, de cor branca, residentes de zona urbana e que
apresentam demandas quanto à ampliação do acesso a renda, alfabetização e serviços que contemplem
o cuidado às pessoas com deciência na rede de atenção à saúde.
Descritores: Perl de Saúde; Pessoas com Deciência; Características da População.
Cristhian Ricardo Schieck1, Natália Ody dos Santos1, Taísa Gomes Ferreira2
1 Graduado(a) em Terapia
Ocupacional pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil.
2 Mestre em Ciências da
Reabilitação pela Universidade de
São Paulo (USP), São Paulo,
SP, Brasil.
Terapia Ocupacional
Santa Maria, v. 43, n.1, p. 269-277, jan./abr. 2017
PERFIL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA REGIÃO DA ª
COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
PROFILE OF PEOPLE WITH DISABILITY IN THE REGION
OF TH REGIONAL HEALTH COORDINATOR
ABSTRACT
This study had as a goal to describe and analyze the sociodemographic prole of people with disabilities
living in thirty two cities in 4th Regional Coordination of Health (4ª CRS). This is a descriptive research,
of quantitative character. We analyzed secondary data from the latest census of the Brazilian Institute
of Geography and Statistics (IBGE) - 2010 edition, by disability: Visual, Motor, Intellectual / Mental,
Hearing and for two corresponding levels: a person/he can’t in any way; and, a great degree of difculty.
The items were analyzed: frequency disability, literacy, income, region / housing, age, gender and race
/ ethnicity. The data revealed higher frequency of visually impaired people, who have 70 years or more,
white, residents of urban areas and that present demands on the expansion of access to income,
literacy and services that address the care of people with disabilities in network of health care.
Descriptors: Health Prole; People with Disabilities; Characteristics of the Population.
270 Saúde (Santa Maria), Vol. 43, n. 1, p. 269-277, Jan./abr, 2017
PERFIL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA REGIÃO DA ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
Introdução
Os estudos sobre a população permitem conhecer a realidade e evidenciam a necessidade da criação de políticas
públicas que facilitem o acesso das pessoas com deciência aos direitos básicos e consequentemente melhores
condições de vida1,2.
A prevalência de pessoas com deciência no mundo já ultrapassa o número de um bilhão de pessoas e esse
número aumenta consideravelmente por diferentes motivos, entre eles, o envelhecimento da população, acidentes, os
conitos armados, a violência social, o uso abusivo de álcool e outras drogas, os desastres naturais, a desnutrição, a
marginalização de determinados grupos sociais e a pobreza extrema3,1.
Segundo a convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deciência da ONU4:
A deciência é um conceito em evolução e que a deciência resulta da interação entre
pessoas com deciência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a
plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas. (BRASIL, 2009)
As pessoas com deciência vivenciam mais diculdades de acesso aos serviços de saúde, educação, emprego
e serviços sociais (incluindo habitação e transportes). Estes obstáculos podem ter várias origens, como por exemplo, a
legislação, políticas e estratégias inadequadas, oferta insuciente de serviços, problemas no fornecimento de serviços,
ignorância e incompreensão da deciência, atitudes e discriminação negativa, acessibilidade limitada, nanciamento
inadequado e baixa participação das pessoas com deciência nas decisões que afetam diretamente suas vidas5,6.
Em 2008, o Brasil raticou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deciência, adotada pela ONU,
bem como seu Protocolo Facultativo. A Convenção prevê defender e garantir direitos às pessoas com deciência a
m de proporcionar condições de vida digna, assim como monitoramento periódico, avançando na consolidação dos
direitos humanos7. Se baseia no modelo social da deciência, que pressupõe a singularidade, potência das ações,
transformação do contexto social com o objetivo de aumentar a participação social das pessoas com deciência. É
considerado contraponto ao modelo biomédico da deciência que compreende a pessoa com deciência como objeto
de avaliações, intervenções e busca a reabilitação exclusiva do corpo8, sendo que apesar da convenção datar quase 10
anos, muitos serviços ainda são organizados sob essa concepção.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deciência impulsionou a criação do Plano Nacional dos Direitos
das Pessoas com Deciência - Viver Sem Limite, por meio do Decreto nº 7.612, em 2011, ressaltando o compromisso do
Brasil com as prerrogativas da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas Com Deciência. O Plano Viver Sem
Limite é executado pela União, em colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios e com a sociedade. Subdivide-
se em 04 eixos: Educação, Saúde, Inclusão Social e Acessibilidade7.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deciência9 visa a inclusão das pessoas com deciência em toda
a rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e caracteriza-se por reconhecer a necessidade de implementar
respostas às complexas questões que envolvem a atenção à saúde das pessoas com deciência no Brasil. Suas principais
diretrizes são: a promoção da qualidade de vida, a prevenção de deciências, a atenção integral à saúde, a melhoria dos
mecanismos de informação, a capacitação de recursos humanos e a organização e funcionamento dos serviços.
A Política Nacional da Pessoa com Deciência encontra-se no eixo Saúde, o qual hierarquicamente estrutura-se
de forma descentralizada (municípios - secretarias municipais da saúde, estados - secretaria estadual da saúde e União -
Ministério da Saúde). No Rio Grande do Sul (RS) existem 19 Coordenadorias Regionais de Saúde, divididas de acordo com
a região. Santa Maria e região fazem parte da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), abrangendo 32 municípios10.
O plano Viver Sem Limite obteve baixa adesão pelos municípios do RS. Conrmando este dado, dos trinta e dois
municípios que compreendem a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, apenas dois municípios aderiram ao Plano Viver
Sem Limite, sendo eles município de São Sepé e de Restinga Seca, ambos pertencentes à sub-região Verdes Campos7.
A 4ª CRS subdivide-se em dois grupos: Verdes Campos e Entre Rios. A sub-região Verdes Campos abrange 21
municípios (Pinhal Grande, Quevedos, Toropi, São Pedro do Sul, Dilermando de Aguiar, Júlio de Castilhos, São Martinho
da Serra, Formigueiro, São Sepé, Vila Nova do Sul, Restinga Seca, Agudo, Itaara, Ivorá, Nova Palma, Silveira Martins,
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Faxinal do Soturno, Dona Francisca, São João do Polêsine, Paraíso do Sul e Santa Maria). A sub-região Entre Rios é
composta por 11 municípios (Cacequi, São Vicente do Sul, Mata, Jaguari, Jari, Capão do Cipó, Santiago, Unistalda,
Itacurubi, São Francisco de Assis e Nova Esperança do Sul)10.
Em 2013, a partir do Plano Viver sem Limite, a Secretaria Estadual da Saúde elaborou um Plano Estadual de
Cuidado às Pessoas com Deciência, o qual apresenta a estrutura em nível estadual acerca da Reabilitação Auditiva,
Reabilitação Física, Reabilitação Intelectual (APAES), Reabilitação Visual e metas de implantação de novos Centros
Especializados de Reabilitação (CER’s) no Estado até 2016, sendo dois destes serviços (CER II - Reabilitação Física e
Intelectual e CER II - Reabilitação Auditiva e Física) para a 4ª Região de Saúde do RS, a qual abrange Santa Maria e
região10. O Plano Estadual ainda prioriza a criação de serviços de atenção secundária, vinculando as necessidades desta
população à atenção em reabilitação.
Vale ressaltar que a portaria 793 (2012), que institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deciência, pressupõe
que sejam realizados estudos para conhecer a população e suas características com o objetivo realizar ações pontuais
e efetivas, evitando o gasto excessivo de dinheiro público em ações que tenham pouca efetividade11 . Ainda estabelece
que, para implementar a Política e a Rede, existe a necessidade da criação de um grupo condutor que realize estudos de
prevalência e das características das pessoas com deciência nos municípios da região de saúde.
Assim, os inquéritos populacionais são considerados instrumentos utilizados para a formulação e avaliação de
políticas públicas desde a década de 60, nos países desenvolvidos. Caracterizam-se como métodos e instrumentos
de coleta de dados bastante ecazes, com o propósito de identicar através de meios rápidos informações importantes
sobre as características da situação de saúde da população1,2.
O Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) é responsável pela realização do censo que identica os
indicadores sociodemográcos brasileiros e responde às demandas da população. As deciências são classicadas de
acordo com a percepção das próprias pessoas entrevistadas a respeito de sua funcionalidade quanto à natureza física,
visual, auditiva e intelectual/mental. As perguntas são realizadas considerando a utilização de dispositivos de auxílio,
como por exemplo, óculos, bengalas e órteses. Os dados são registrados através do preenchimento de um questionário
realizado por domicilio pelo recenseador ou via Internet.
Este artigo tem como objetivo apresentar o perl sociodemográco das pessoas com deciência residentes na 4ª CRS.
O estudo permite conhecer as características da população e a partir disso, apoiar a formulação de uma política regional para
a pessoa com deciência, contemplando as necessidades e demandas das pessoas com deciência nesta região de saúde.
Metodologia
A pesquisa é descritiva, de caráter quantitativo, onde foram analisados dados secundários do último censo do Instituto
Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) - edição de 2010, por deciência: Visual, Motora, Intelectual/Mental e Auditiva,
utilizando os graus de complexidade: não consegue de modo algum e grau grande diculdade. Conforme IBGE12:
• Visual: Foi pesquisado se a pessoa tinha diculdade permanente de enxergar (avaliada com o uso de óculos ou
lentes de contato, no caso da pessoa utilizá-los), de acordo com a seguinte classicação: não consegue de modo algum -
para a pessoa que declarou ser permanentemente, incapaz de enxergar; grande diculdade - para a pessoa que declarou
ter grande diculdade permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes de contato.
• Motora: Foi pesquisado se a pessoa tinha diculdade permanente de caminhar ou subir escadas (avaliada com
o uso de prótese, bengala ou aparelho auxiliar, no caso da pessoa utilizá-lo), de acordo com a seguinte classicação:
não consegue de modo algum - para a pessoa que declarou ser permanentemente incapaz, por deciência motora,
de caminhar e/ou subir escadas sem a ajuda de outra pessoa; grande diculdade - para a pessoa que declarou ter
grande diculdade permanente de caminhar e/ou subir escadas sem a ajuda de outra pessoa, ainda que usando prótese,
bengala ou aparelho auxiliar.
• Intelectual/Mental: Foi pesquisado se a pessoa tinha alguma deciência mental ou intelectual permanente
que limitasse as suas atividades habituais, como trabalhar, ir à escola, brincar etc. A deciência mental é o retardo no
desenvolvimento intelectual e é caracterizada pela diculdade que a pessoa tem em se comunicar com outros, de cuidar
de si mesma, de fazer atividades domésticas, de aprender, trabalhar, brincar etc. Em geral, a deciência mental ocorre
na infância ou até os 18 anos de idade. Não se considerou como deciência mental as perturbações ou doenças mentais
como autismo, neurose, esquizofrenia e psicose.
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PERFIL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA REGIÃO DA ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
• Auditiva: Foi pesquisado se a pessoa tinha diculdade permanente de ouvir (avaliada com o uso de aparelho
auditivo, no caso da pessoa utilizá-lo), de acordo com a seguinte classicação: não consegue de modo algum - para a
pessoa que declarou ser permanentemente incapaz de ouvir; grande diculdade - para a pessoa que declarou ter grande
diculdade permanente de ouvir, ainda que usando aparelho auditivo.
O estudo utilizou os graus ‘não consegue de modo algum’ e ‘grande diculdade’, os quais classicam as pessoas
com deciência severa. A pesquisa utilizou essa população, pois as pessoas com deciência severa constituem os
principais alvos das políticas públicas voltadas para as pessoas com deciência12.
A análise incluiu os 32 municípios de abrangência que compõem a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio
Grande do Sul e os itens analisados foram: frequência por deciência, alfabetização, renda, zona/moradia, faixa etária,
gênero e raça/etnia.
Os procedimentos estatísticos realizados foram distribuição de frequência e cálculo dos percentuais. Os resultados
foram organizados em grácos e tabelas. Após essa análise geral, foram ltrados os dados por graus de deciência e
assim construído o perl das pessoas com deciência de cada tipo de deciência.
Esse estudo não necessita avaliação por comitê de ética, pois utilizou banco de dados secundário, não entrevistando
as pessoas de forma direta.
Resultados e Discussão
Segundo o IBGE (2010), o total de pessoas com deciência no Brasil é de 45.606.048, assim distribuídos: visual
35.774,392 (58%), motora 13.265,599 (22%), auditiva 9.717,318 (16%) e intelectual/mental 2.611,536 (4%). Já no estado
do Rio Grande do Sul existem 2.549.672 pessoas com deciência sendo destas 1.900,634 (54%) com deciência visual,
819.050 (23%) com deciência motora, 617.244 (18%) com deciência auditiva e 162. 792 (5%) com deciência intelectual.
A região da 4ª CRS segue os padrões nacional e estadual, sendo que do total de 182.772 pessoas com deciência, há
maior frequência de pessoas com deciência visual 94.926 (52%), seguida de pessoas com deciência motora 45.644
(25%), auditiva 33.546 (18%) e intelectual/mental 8.656 (5%), respectivamente (Gráco 1). Apenas o gráco 1 utilizou
os 03 graus de complexidade analisados pelo IBGE (grau ‘alguma diculdade’, ‘grande diculdade’ e ‘não consegue de
modo algum’), com o objetivo de apresentar o número total de pessoas com deciência. O restante do estudo utilizará
somente os dois graus de maior complexidade (grau ‘grande diculdade’ e grau ‘não consegue de modo algum’).
Assim, na 4ª CRS existe um total de 48.608 pessoas com deciência severa, sendo 36,80% (17.825) de pessoas
com deciência visual, seguida de pessoas com deciência motora 30,91% (15.593), intelectual/mental 17,69% (8.989)
e auditiva 14,60% (7.503), respectivamente. Destaca-se que a deciência visual apresenta o maior número de pessoas
na região de saúde em questão (tabela 1).
Estudos apontam que a deciência visual é geralmente relacionada às doenças, tais como catarata, glaucoma,
retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade (DMRI), a qual é considerada a principal causa de
cegueira em pessoas na faixa etária acima de 50 anos13,14,15. O envelhecimento e as causas congênitas aparecem como
segunda e terceira causa da prevalência de pessoas com deciência visual15.
58%
54% 52%
16% 18% 18%
22% 23% 25%
4% 5% 5%
Brasil RS 4ª CRS
Gráfico 1 - Distribuição Total de Deficiências
Def. Visual Def. Auditiva Def. Motora Def. Intelectual Total
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Cuidar da visão não é uma prática comum entre as pessoas. Em geral, busca-se atendimento quando há alguma
diculdade especíca, como cegueira e baixa visão. A saúde ocular é uma área que exige tecnologia de alto custo e
manutenção contínua, com prossionais especializados – evidenciando diculdades na garantia do acesso16.
É importante salientar que os maiores percentuais de deciência visual, motora e auditiva encontram-se na faixa
etária de pessoas com 70 anos ou mais (tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição das pessoas com deficiência da 4ª CRS por faixa etária
Fonte: IBGE. Microdados do Censo Demográfico 2010.
Os dados revelam a relação entre envelhecimento e deciência. Acidentes de todos os tipos e negligência dos
familiares e/ou aqueles responsáveis por dar assistência nas instituições ou na comunidade, além das mudanças naturais
associadas ao envelhecimento, como por exemplo, presbiacusia, descondicionamento, perda de força e equilíbrio são
fatores determinantes para compreender a prevalência de deciências nesta faixa etária3,1,17.
Silva1 aponta que o envelhecimento está diretamente ligado às incapacidades e doenças crônicas, como hipertensão
arterial sistêmica e diabetes. Os hábitos de vida são considerados os principais fatores de riscos para estas doenças,
evidenciando que ações de promoção e proteção de saúde são imprescindíveis na luta contra as incapacidades.
Esses dados revelam que os serviços precisam ser organizados para responder a essas necessidades. Vale ressaltar
que os modelos de cuidado ainda são estruturados à semelhança do adulto jovem, apesar do país apresentar uma população
de pessoas idosas com uma maior carga de doenças e de incapacidades e utilizar com mais frequência os serviços de
saúde. Assim sendo, os modelos vigentes de atenção à saúde do idoso se mostram inecientes e de alto custo18.
Como pode ser observado na tabela 2, a população com deciência visual é a que possui maior renda, principalmente
na faixa dos que recebem “mais de 5 salários mínimos”. A respeito da deciência intelectual/mental 31,10% (2.552) do
total (8.205) não tem renda. Essa concentração de pessoas sem renda pode ser associada ao acesso limitado aos
direitos, como educação, trabalho, assistência social e saúde.
Tabela 2 – Distribuição das Pessoas com Deficiência da 4ª CRS por faixa de renda
Fonte: IBGE. Microdados do Censo Demográfico 2010.
Faixa Etária Deficiência
Visual
Deficiência
Auditiva
Deficiência
Motora
Deficiência
Intelectual
Até 9 anos 456 160 355 421
9 a 19 anos 1074 341 253 1216
20 a 29 anos 1158 346 402 1115
30 a 39 anos 1021 300 709 1190
40 a 49 anos 3425 720 1379 1405
50 a 59 anos 3649 1030 2634 1348
60 a 69 anos 2874 1032 2969 969
70 anos ou mais 4168 3574 6892 1325
Total 17825 7503 15593 8989
Renda Deficiência
Visual
Deficiência
Auditiva
Deficiência
Motora
Deficiência
Intelectual
Sem Renda 3024 877 1811 2552
Até 1 Salário Mín. 7951 3106 7555 3943
de 1 a 5 Salário Mín. 5657 2522 4551 1505
Mais de 5 Salário Mín. 894 437 683 205
Total 17526 6942 14600 8205
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PERFIL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA REGIÃO DA ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
As pessoas com deciência visual e motora, em sua maioria, apresentam uma faixa de renda de até 01 salário
mínimo. Pode-se relacionar o rendimento médio de até 01 salário mínimo com o Benefício de Prestação Continuada
(BPC), que compreende um benefício mensal de 01 salário mínimo nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993
assegurado ao idoso e às pessoas com deciência. As pessoas que não se enquadram nos requisitos para concessão do
BPC podem estar relacionadas a outros benefícios que abarque 01 salário mínimo, tais como a aposentadoria, pensões
por morte, auxílios, rendas mensais vitalícias, maternidade, entre outros19,20.
Vale ressaltar, que as pessoas com deciência mesmo quando empregadas, na maioria das vezes, possuem
menor rendimento, além de possuírem menos oportunidades para alcançar uma ocupação. São identicados como
obstáculos que dicultam o desenvolvimento socioeconômico desta população: a discriminação no trabalho, acesso
limitado ao transporte e a falta de acesso aos recursos para promover o trabalho autônomo e/ou ocupações que
garantam sua subsistência. Quanto maior a gravidade das deciências, maiores são os resultados negativos em relação
ao desemprego e rendimento baixo, ou seja, pessoas com maiores graus de limitação experimentam condições menos
favoráveis no acesso ao trabalho, e obtenção de renda, com barreiras mais severas no processo de inserção social21.
O alto número de pessoas com deciência intelectual/mental sem renda pode estar associado à alfabetização21.
As pessoas com deciência intelectual são aquelas que possuem menor acesso à renda e também menor acesso à
alfabetização (Tabela 3).
Tabela 3 – Distribuição das Pessoas com Deficiência da 4ª CRS por alfabetização
Fonte: IBGE. Microdados do Censo demográfico 2010.
Como pode-se observar, 43% (3.637) das pessoas com deciência intelectual não são alfabetizadas. Os dados
sobre a deciência visual apresentaram um percentual de 83,18% (14.774) pessoas alfabetizadas, seguida da deciência
auditiva que apresentou um percentual de 77,62% (5.489) pessoas alfabetizadas e a deciência motora com um percentual
de 76,63% (11.385) pessoas alfabetizadas.
Há a necessidade de ampliar estratégias que promovam a inclusão escolar, a formação e capacitação de pessoas
com deciência e de acessibilidade no ambiente escolar, construindo junto com a sociedade mudanças nos espaços
públicos e privados, removendo barreiras físicas e de comunicação que dicultam a inserção e a permanência das
pessoas com deciência no ambiente escolar21.
O Plano Nacional de Educação (PNE) apresentou 20 metas para a próxima década que possuem o objetivo de
diminuir as desigualdades e as diculdades encontradas para o acesso e a permanência na educação em todo país,
considerando as especicidades da população. Entre as metas que estruturam o PNE, destaca-se a meta 04 (Educação
Especial/Inclusiva):
Universalizar o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado
para as crianças e adolescentes com deciência (04 a 17 anos), preferencialmente na rede
regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
Somente por essa via será possível diminuir as diferenças relativas ao grau de instrução
entre as pessoas com e sem deciência, reduzindo consequentemente a diferença entre
a remuneração no mercado de trabalho22. (BRASIL, 2014)
A tabela 4 revela que a frequência de deciências por sexo na região da 4ª CRS é maior no sexo feminino,
seguindo o padrão nacional e estadual. Aproximadamente 56% (27.528) das pessoas com deciência da região estudada
são do sexo feminino e 44% (21.207) do sexo masculino.
Alfabetização Deficiência
Visual
Deficiência
Auditiva
Deficiência
Motora
Deficiência
Intelectual
Sim 14774 5489 11385 4885
Não 2988 1583 3473 3637
Total 17762 7072 14858 8522
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PROFILE OF PEOPLE WITH DISABILITY IN THE REGION OF TH REGIONAL HEALTH COORDINATOR TERAPIA OCUPACIONAL
Tabela 4 – Distribuição das pessoas com deficiência por sexo (nacional, estadual e regional).
Fonte: IBGE. Microdados do Censo Demográfico 2010.
Os dados da tabela 4 corroboram com o Relatório Mundial sobre a Deciência (OMS, 2011), que estima que a
prevalência grave e moderada de deciências são 11% mais altas entre as mulheres do que entre os homens, inserindo
as mulheres entre os grupos vulneráveis à deciência. Reetem assim, incidências especícas da idade, de alguma forma
superiores entre as mulheres, como também o maior número de mulheres idosas na população do que de homens idosos5.
As mulheres com deciência são duplamente vulneráveis, tem a sua posição social diminuída e menores espaços/
oportunidades de participação social e política, assim como o acesso à saúde, educação, justiça, ao trabalho formal, ao
lazer, à cultura, bem como aos benefícios sociais que possam promover igualdade de gênero e o aumento da participação/
diminuição da desigualdade para/com as pessoas com deciência23.
Ao que se refere à saúde, o maior número de mulheres com deciência indica uma problemática da saúde coletiva
e saúde da mulher. Estes segmentos não apresentam ações que abrangem as especicidades das mulheres nos serviços
de atenção primária em saúde e não abarcam as características referentes aos direitos sexuais e reprodutivos23.
Vale ressaltar que o processo de constituição social das mulheres está relacionado a uma multiplicidade de
determinantes sociais, entre os quais se destacam as questões de gênero que atribuem à mulher um lugar frágil e indefesa;
o padrão hegemônico de corpo, que exclui e marginaliza as pessoas idosas, obesas e com alguma deciência; o mito de
que alguma pessoa com deciência não teria as mesmas necessidades que uma pessoa sem deciência (principalmente
as relacionadas a dimensão da sexualidade). Sustenta-se também, nesses contextos, a crença de que as mulheres com
deciência seriam incapazes de cumprir os papéis tradicionais de dona de casa, esposa, trabalhadora e mãe8.
Assim sendo, essas discussões devem ser incluídas no processo de trabalho dos serviços e se destinam à pessoa
com deciência. É necessário que prossionais de saúde ampliem alcance técnico de suas ações para contemplar as
necessidades das mulheres com deciência, desmisticando questões que diminuem a potencialidade pertencente a
elas e que se sobreponham às atitudes preconceituosas vivenciadas pelas mulheres com deciência todos os dias23.
Os dados referentes à cor e raça revelam que na 4ª CRS predomina-se a cor branca, diferentemente do padrão
nacional12. Mesmo existindo grande diferença no percentual quanto a raça das pessoas com deciência nessa região,
se faz necessário que as políticas públicas contemplem as especicidades de cada raça, considerando as diferenças
culturais existentes.
Aproximadamente 76% (36.402) da população com deciência da Região de Saúde residem na zona urbana e
apenas 24% (11.236) na zona rural, proporção semelhante aos dados nacionais, onde 84% das pessoas com deciência
residem em Zona Urbana e 16% em Zona Rural12.
Na zona rural os maiores entraves se dão pela falta de transporte para acessar os serviços e pela baixa escolaridade
dos acompanhantes. Na zona urbana, os maiores problemas são relacionados à renda baixa, ao fato dos responsáveis
trabalharem e haver a necessidade de pedir para terceiros acompanharem a pessoa com deciência até o serviço24.
Ao considerar a concentração das pessoas com deciência em zona urbana, entende-se a necessidade da
concentração dos serviços de apoio em nessas áreas. Mas, destaca-se a importância de existirem serviços para
contemplar as especicidades das pessoas com deciência nas áreas rurais.
O acesso das pessoas com deciência aos serviços de assistência é inuenciado por fatores ambientais, estruturais,
socioeconômicos, transporte, disponibilidade de acompanhante e escolaridade do cuidador24.
Os dados revelam que a Região de Saúde possui alta frequência de pessoas com deciência e que existe a
necessidade da criação de uma política regional pelo grupo condutor, que esteja de acordo com o perl e as especicidades
das pessoas com deciência desta região de saúde, que foram apresentadas neste estudo. É importante ampliar a
constituição dessa rede, de forma intersetorial, elencando serviços de acesso a renda, escola e assistência social na
zona urbana, assim como na zona rural.
Sexo Brasil RS 4ª CRS
Masculino 44% 43% 44%
Feminino 56% 57% 56%
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PERFIL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA REGIÃO DA ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
Considerações Finais
Com o estudo, foi possível perceber que a utilização de dados de inquéritos populacionais são uma importante
ferramenta para o delineamento do perl sociodemográco de pessoas com deciências de uma região de saúde.
O perl identicado aponta que as pessoas com deciência residentes na área de abrangência da 4ª CRS possuem
idade superior a 50 anos e em sua maioria possuem deciência visual. Pessoas com um alto grau de complexidade de
deciência experimentam os piores resultados em relação a acesso ao trabalho e renda. Assim, as pessoas com deciência
intelectual apresentaram a pior frequência ao acesso à alfabetização, ao trabalho e à renda entre as demais deciências
da região de saúde pesquisada. Em contraponto, a frequência das pessoas com deciência visual alfabetizadas foi
superior a 80%. Identicou-se também que, entre as pessoas com deciência da 4ª CRS, a frequência por sexo é maior
no sexo feminino e que a raça/cor com maior incidência na Região foi a branca. A maior frequência entre moradia em
zona urbana ou rural foi de residentes em zona urbana.
Neste estudo, a deciência está diretamente ligada ao envelhecimento, às doenças crônicas e a maior exposição a
fatores de risco e, portanto, sugere-se que haja uma integração entre as políticas da pessoa com deciência e a política
de saúde do idoso a m de ampliar as possibilidades de satisfação das necessidades de saúde.
Para contemplar as diferentes necessidades e demandas apresentadas pelas pessoas com deciência, é de
extrema relevância que os serviços de saúde atuem em rede e não se concentrem apenas em serviços de atenção
secundária. Os dados revelam que há uma necessidade de constar, no próximo Plano Regional de Saúde da 4ª CRS,
ações voltadas ao cuidado das pessoas com deciência nos três níveis de atenção à saúde e que sejam intersetoriais
abarcando a estabelecimentos educacionais, de assistência social e de acesso à renda.
Apesar de algumas limitações, tais como a discriminação da escolaridade por deciência e também da raça por
idade, se pode armar que esta metodologia pode ser utilizada por grupos condutores como apoio na construção de
planos e planejamento de ações de saúde tanto regionais como municipais.
Assim sendo, a realização de pesquisas que identiquem o acesso aos serviços, à qualidade de vida e os motivos
da aquisição de deciências severas, como também estudos que esclareçam a relação renda e deciência podem revelar
a condição atual das pessoas com deciência na região e auxiliar os serviços de saúde na atenção às necessidades de
maneira ampliada.
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Cristhian Ricardo Schieck
Endereço para correspondência – Av: Borges de Medeiros, n° 768,
Bairro: Centro, CEP: 96540-000, Agudo, RS, Brasil.
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Natália Ody dos Santos – natyody@yahoo.com.br
Taísa Gomes Ferreira – taisa.ferreira@gmail.com
Enviado em 28 de janeiro de 2016.
Aceito em 22 de março de 2017.