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Recebido em 19/12/2008 e aprovado em 5/3/2010.
Correspondências devem ser enviadas para: alberto@uenf.br
Desempenho de novilhos mantidos em pastagens de capim-elefante e
capim-mombaça
Carolina de Souza Garcia1, Alberto Magno Fernandes2, Carlos Augusto de Alencar Fontes2,3,
Ricardo Augusto Mendonça Vieira2, Nivaldo de Faria Sant’Ana1, Viviane Antunes Pimentel1
1Pós-Graduação em Ciência Animal – CCTA/UENF.
2Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – LZNA/CCTA.
3Bolsista do CNPq.
RESUMO - Foi avaliado o desempenho de novilhos mantidos em pastagens de capins elefante e mombaça no período de
outubro a dezembro de 2006. Adotou-se o sistema de pastejo rotacionado, com oferta regulada de forragem. A área experimental
consistia de duas repetições contendo 18 piquetes de 0,25 ha cada, divididos em nove piquetes formados de capim-elefante e
nove com mombaça. Os efeitos de tratamentos foram as espécies forrageiras, a repetição de área, a interação entre estes,
piquetes dentro da interação e o erro experimental. Este modelo foi usado para analisar os atributos do pasto. Para analisar
o consumo, a digestibilidade e o ganho, foram aleatoriamente alocados 24 novilhos para as respectivas interações entre
forragem vs. repetição vs. sistema de pastejo, o que totalizou três animais por interação tripla. Os sistemas de pastejo
consistiram de pastejo ad libitum (AL) e restrito (PR). O capim-elefante apresentou maior biomassa de matéria seca total (BT)
e biomassa de matéria seca verde foliar (BFV). Não houve diferença entre as forrageiras quanto à produção de biomassa de matéria
seca verde foliar, no entanto a proporção de folhas foi maior no capim-mombaça. As extrusas apresentaram composição
bromatológica semelhante. Apenas o consumo de proteína bruta diferiu entre as forrageiras, sendo este maior para o pasto
de mombaça. A alimentação à vontade possibilitou maior consumo de todos os nutrientes em ambas as pastagens. A
digestibilidade dos nutrientes foi maior para o capim-elefante, mas não diferiu entre os níveis de alimentação: apenas o teor
em proteína bruta foi maior no pasto onde o pastejo foi restrito e o teor de energia bruta do pasto foi maior para o sistema
de pastejo à vontade. Apesar das diferenças qualitativas e quantitativas entre as forrageiras, não foram encontradas diferenças
quanto ao ganho em peso por animal e por área. Entre os animais com alimentação à vontade, o ganho médio em massa corporal
foi de 850 g/dia e o ganho por área de 246 kg/ha durante o período experimental.
Palavras-chave: consumo, crescimento, digestibilidade
Performance of steers raised on pastures of Elephant and Mombasa
grasses
ABSTRACT - The performance of steers raised on elephant and mombasa grass pastures was evaluated from October
to December 2006. A rotational grazing system with a regulated forage offer was adopted. The experimental area consisted
of two repetitions containing 18 0.25-ha paddocks divided into nine paddocks with elephant grass and nine with mombasa
grass. Forage species, area repetition, the interaction among these effects, paddocks within the interaction, and the
experimental error were the effects of the treatments. This model was used to analyze pasture attributes. For analyses of intake,
digestibility and gain, 24 steers were randomly assigned to the respective interactions among forage vs. repetition vs. grazing
system, totaling three animals per triple interaction. The grazing systems consisted of ad libitum (AL) and restricted (PR)
grazing. Elephant-grass showed the highest total dry matter biomass (TB) and green leaf dry matter biomass (GLDM). There
were no differences among forage plants for production of biomass of green leaf dry matter; leaf proportion was the greatest
in mombasa grass, however. Extrusas showed similar bromatological composition. Only crude protein intake, which was the
highest for mombasa pasture, differed among forage plants. Ad libitum feeding enabled a higher intake of all nutrients from
both pastures. Digestibility of nutrients was higher for elephant-grass but it did not differ among feeding levels: only crude
protein content was the highest on pasture where grazing was restrict and gross energy content of pasture was higher for
ad libitum grazing system. Despite qualitative and quantitative differences among forage plants, differences of weight gain
per animal and per area were not found. For animal with ad libitum feeding, average body mass gain was 850 g/day and gain
per area was 246 kg/ha during the experimental period.
Key Words: digestibility, growth, intake
Revista Brasileira de Zootecnia
© 2011 Sociedade Brasileira de Zootecnia
ISSN 1806-9290
www.sbz.org.br R. Bras. Zootec., v.40, n.2, p.403-410, 2011
Garcia et al.404
R. Bras. Zootec., v.40, n.2, p.403-410, 2011
Introdução
Dotado de características climáticas e extensão
territorial favoráveis à pecuária de corte, o Brasil é um dos
maiores produtores de carne bovina, possui o maior rebanho
comercial do mundo e, nos últimos anos, vem se firmando
como o maior exportador de carne.
Entretanto, em consequência da sazonalidade e do
valor nutritivo das forrageiras, os animais ficam sujeitos a
períodos de ganho (meses chuvosos) alternados a períodos
de perda de peso (meses de seca), o que reduz a
produtividade dos rebanhos brasileiros de modo geral.
Apesar de o estado do Rio de Janeiro ser um grande
importador de carne de outros estados, as regiões norte e
noroeste do estado têm condições favoráveis à exploração
da pecuária de corte, com solos de boa fertilidade e clima
propício e rebanho zebuíno numeroso em relação às demais
regiões do estado, porém têm baixa produtividade.
Entre as forrageiras tropicais, destacam-se pela
produtividade e pelo valor nutritivo as espécies
Pennisetum purpureum e Panicum maximum, com
diversos cultivares amplamente utilizados em sistemas
de pastejo intensivo, tanto para bovinos leiteiros como
para os de corte, por exemplo, os capins elefante, mombaça
e tanzânia. Entretanto, devido ao seu hábito de
crescimento cespitoso, com rápida elevação dos pontos
de crescimento, essas espécies requerem cuidados especiais
de manejo para coleta de alta proporção de material
(Santos, 1995) de elevado valor nutritivo (Santos et al., 1999),
preservação da qualidade do pasto e persistência da
pastagem.
Em pastagens, a produtividade animal (kg/ha) é
definida pelo desempenho animal e pela taxa de lotação.
O desempenho animal é determinado pela quantidade e
qualidade da forragem consumida e pelas características
genéticas do animal sob influência do ambiente. Assim,
em estudos sobre desempenho animal a pasto, é importante
avaliar concomitantemente o consumo e a qualidade da
forragem ofertada. A taxa de lotação, comumente expressa
em unidade animal ou número de animais por hectare, não
indica por si nenhum atributo da pastagem. No entanto,
quando associada a uma oferta de forragem pré-
estabelecida, é um indicativo do potencial de produção
das pastagens (Roberts, 1980).
Objetivou-se com este estudo avaliar a produção de
biomassa, o valor nutritivo, a digestibilidade e o consumo
das forrageiras e o desempenho de novilhos em pastagem
de Panicum maximum, Jacq. cv. Mombaça, e Pennisetum
purpureum, Schum. cv. Napier.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no município de Campos
dos Goytacazes, Rio de Janeiro, situado a 21º 44' 47" de
latitude sul e a 41º 18' 24" de longitude oeste e altitude média
de 12 m em relação ao nível do mar. A classificação climática
da região segue o padrão Aw – tropical quente e úmido
(Köppen, 1948), com inverno seco e verão chuvoso.
A área experimental, de 9 ha, foi dividida em 36 piquetes
de 0,25 ha, igualmente distribuídos entre os capins mombaça
e elefante. As repetições de área foram obtidas utilizando-
se duas repetições por forrageira, com nove piquetes por
repetição. Os piquetes foram formados sobre solo aluvial de
textura argilosa no ano de 2003. O local não recebia
fertilização mineral, adubos orgânicos ou corretivos desde
2005. As forrageiras foram avaliadas, durante o período
chuvoso (outubro a dezembro de 2006), em sistema de
lotação intermitente precedido por período de adaptação
(32 dias) em que os animais foram rotacionados nos
piquetes. Os períodos de ocupação e descanso foram de
quatro e 28 dias, respectivamente, o que totalizou 32 dias
para o ciclo de pastejo e 64 dias para o período experimental
total. Anteriormente, ao início do período experimental,
procedeu-se à uniformização da área por meio de roçada
para atingir a altura do resíduo de pastejo pretendido
(30 cm). Nessa ocasião, foi aplicado superfosfato simples,
de acordo com os resultados da análise de solo. Após a
uniformização dos piquetes, e sempre após a saída dos
animais dos piquetes, foram realizadas adubações de
cobertura com sulfato de amônio (50 kg/ha de N) e cloreto
de potássio (25 kg/ha de K2O).
As variáveis analisadas foram: biomassa de matéria
seca total; biomassa de matéria seca verde foliar; proporção
de folhas; taxa de lotação; composição bromatológica e
digestibilidade in vitro das extrusas das duas forrageiras.
Foram utilizados 24 novilhos F1 Limousin–Nelore
(225 ± 38,6 kg de massa corporal), distribuídos em quatro
grupos casualizados nas quatro áreas formadas. Três
animais de cada grupo foram designados por sorteio em
dois níveis de alimentação: à vontade (pastejo durante todo
o dia nos piquetes); e pastejo restrito, com consumo de
energia próximo ao de mantença, limitando-se o período de
pastejo a 3,5 horas/dia (Fontes et al., 2005). Os animais sob
restrição alimentar ficaram alojados em baias individuais
com água e suplemento mineral à vontade quando não
estavam pastando.
A taxa de lotação foi variável (put and take),
mantendo-se a biomassa de matéria seca verde foliar em
5,0 kg/100 kg de massa corporal para o capim-elefante e
6,5 kg/100 kg de massa corporal para o capim-mombaça para
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os dois sistemas de pastejo. A biomassa de matéria seca
verde foliar foi estimada antes da entrada dos animais nos
piquetes.
Foram avaliados os consumos de matéria seca (MS),
matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), energia bruta
(EB) e fibra em detergente neutro (FDN), em kg de MS/100 kg
de massa corporal, e o ganho em massa individual e por
unidade de área.
A coleta de dados para avaliação da biomassa disponível
foi feita no dia anterior à entrada dos animais em cada
piquete, conforme metodologia descrita por Ribeiro et al
(2003). A altura do resíduo foi mantida entre 30 e 50 cm e
entre 80 e 100 cm para os capins mombaça e elefante,
respectivamente. A amostragem foi realizada de forma
sistemática, em diagonal, retirando-se dez amostras por
piquete (40 amostras por hectare), colhendo a forragem
contida no quadro metálico (1 × 1 m), com corte a 30 cm do solo.
Da biomassa contida nos quadros, retirou-se uma
amostra para obtenção da estimativa de biomassa de MS
verde foliar, de modo a orientar o ajuste da carga animal de
acordo com metodologia descrita por Ribeiro et al. (2003).
Os dados da análise estatística para biomassa de MS
total, biomassa de MS verde foliar e proporção de folhas
dos capins mombaça e elefante foram processados de
acordo com o modelo:
Yijk = μ + Fi + Rj + FRij + Pk(ij) + eijk,
em que: Yijk = observação referente ao piquete k, da repetição
de área j e forrageira i; μ = média geral; Fi = efeito da
forrageira i, em que i = 1e 2; Rj = efeito da repetição de área
j, em que j = 1, 2; FRij = efeito de interação da forrageira i e
da repetição de área j; Pk (FR) ij = efeito do piquete k, dentro
da forrageira i e da repetição de área j, em que k = 1, 2,3;
eijk = erro associado a cada observação, pressuposto
normalmente distribuído, com média zero e variância σ2.
O termo Pk(ij) foi utilizado como resíduo na análise dos
efeitos de forragem e repetição de área.
O consumo alimentar individual dos novilhos no
experimento de desempenho foi estimado ao final do primeiro
ciclo de pastejo utilizando-se o método da produção fecal
e da indigestibilidade. A produção fecal diária foi estimada
utilizando-se o indicador óxido crômico (Cr2O3), fornecido
via oral (10 g/animal/dia), em duas porções de 5 g, às 9 h e
15 h, em cartucho de papel, durante 14 dias (sete dias de
estabilização e sete dias de coleta). Amostras fecais
individuais foram coletadas no reto dos animais no momento
de fornecimento do óxido crômico. Ao final de cada dia de
coleta, as amostras eram destinadas à secagem em estufa
por 72 horas a 60ºC e moídas para formação de uma amostra
composta de fezes por animal, tomando-se 30 g de MS de
cada amostra fecal diária. A concentração de cromo nas
fezes foi determinada pelo método colorimétrico após
digestão nitroperclórica das amostras, utilizando-se o
espectrofotômetro UV visível a 440 nm (aparelho SPECOL
UV visível).
A excreção fecal foi estimada utilizando-se a seguinte
fórmula:
Na estimação do consumo de matéria seca da forragem,
foi utilizada a relação excreção fecal/indigestibilidade:
Para obtenção de amostras representativas das dietas
dos animais em pastejo, foram utilizados dois animais
fistulados no esôfago. As coletas de extrusa foram iniciadas
no dia anterior ao da coleta de fezes, durante oito dias
consecutivos. Nos dias de coleta, os animais fistulados
eram privados de alimento 12 horas antes de sua entrada
nos piquetes, buscando-se evitar a contaminação das
amostras com conteúdo ruminal pela ruminação no momento
da coleta (Holecheck, 1982). Em seguida, foram removidas
as cânulas esofágicas e colocadas as bolsas de coleta,
permitindo aos animais pastejar de 30 a 40 minutos. Os
animais fistulados foram mantidos em rodízio nos piquetes
ocupados pelos animais experimentais, cada um nas duas
repetições de cada forrageira.
As amostras diárias de extrusas foram acondicionadas
em sacos plásticos e armazenadas em freezer a –15ºC.
Após o período de coleta das extrusas, a amostras foram
secas em estufa por 72 horas a 55ºC, moídas e posteriormente
constituíram quatro amostras compostas, uma a cada quatro
dias de coleta para cada repetição de forrageira. As amostras
compostas foram formadas por 30 g de MS de cada amostra
diária e acondicionadas em frascos de vidro para análises
posteriores.
Para estimação do consumo, determinou-se a
indigestibilidade considerando a digestibilidade in vitro da
extrusa (Tilley & Terry, 1963), porém em apenas uma etapa.
Foram determinados nas amostras compostas das
extrusas e das fezes os teores de matéria seca (MS), matéria
orgânica (MO) proteína bruta (PB), energia bruta (EB), além
de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), segundo
metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002), para
estimativa do consumo e da digestibilidade desses
nutrientes (Silva & Queiroz, 2002).
O consumo de energia metabolizável (EM) foi estimado
utilizando-se a relação: EM = 0,82 × ED (NRC, 1996).
Para avaliação do ganho de massa corporal, todos os
animais experimentais foram pesados a cada 32 dias, depois
de jejum de 14 horas. O ganho de massa corporal por área
Cromo fornecido (g)
Concentração de cromo nas fezes (g/kg de MS)
Produção fecal (kg) =
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foi determinado pelo produto da taxa de lotação média de
cada forrageira pelo ganho médio diário dos animais de cada
sistema de pastejo multiplicado por 64 (dias de duração do
experimento).
Na análise estatística dos dados de digestibilidade,
consumo e ganho de massa corporal dos animais, utilizou-
se o modelo estatístico:
Yijkl = μ + Fi + Rj + Tk + FRij + FTik + RTjk + FRTijk
+
β
ijk
μ
ijll eijkl, em que:
Yijkl = observação referente ao animal l, no sistema de
pastejo k, na forrageira j da repetição de área i; μ = média
geral; Fi = efeito da forrageira i, em que i = 1e 2; Rj = efeito
da repetição de área j, em que j = 1, 2; Tk = efeito do sistema
de pastejo; FRij = efeito de interação da forrageira i e pastejo
k, em que k = 1 à vontade e 2 – pastejo restrito; da repetição
de área j; FTik = efeito de interação da forrageira i e do
sistema de pastejo k; RTjk = efeito de interação da repetição
de área j e do sistema de pastejo k; FRTijk = efeito de
interação da forrageira i, da repetição de área j e sistema de
pastejo k;
β
ijk
μ
ijll = efeito do peso vivo inicial animal l,
dentro da repetição de área j e do sistema de pastejo k, em
que l = 1, 2,3; eijkl = erro associado a cada observação,
pressuposto normalmente distribuído, com média zero e
variância
σ
2.
O termo
β
ijk
μ
ijll foi utilizado como covariável na
análise dos efeitos de repetição de área e do sistema de
pastoreio. Os resultados foram submetidos à análise de
variância utilizando-se o programa estatístico SAS,
procedimento PROC GLM.
Resultados e Discussão
O capim-elefante apresentou maior (P<0,01) produção
de biomassa total em comparação ao capim-mombaça. A
produção de matéria seca foliar não diferiu (P>0,05) entre as
forrageiras, mas a proporção de folhas do capim-mombaça
foi maior (P<0,01) que a do capim-elefante.
Não houve diferenças entre as forrageiras quanto à taxa
de lotação (Tabela 1). Maior produção de biomassa total do
capim-elefante em relação ao capim-mombaça tem sido
relatada por diversos autores: Palieraqui et al. (2006)
avaliaram a produtividade dos capins elefantes e mombaça
adubados e irrigados durante a seca em regime de lotação
intermitente e relataram produções de MS de 5.643 e
2.389 kg/ha, respectivamente; em avaliação durante as
estações seca e chuvosa, Ribeiro et al. (2009) observaram
produções de biomassa total de 6.556 e 4.426 kg/ha na época
seca e de 8.459 e 7.596 kg/ha na época chuvosa para os
capins elefante e mombaça, respectivamente.
Os resultados confirmam que o potencial de produção
de biomassa total do capim-elefante é superior ao do capim-
mombaça. De fato, o capim-elefante é considerado uma das
espécies forrageiras de maior potencial de produção de
biomassa, com produção de matéria seca de até 80 t/ha/ano
(Santos, 1995). Todavia, a superioridade do capim-elefante
em produção de biomassa total tem sido atribuída ao maior
desenvolvimento dos colmos. A predominância do
perfilhamento axilar ou lateral proporciona maior elongação
do colmo, ao contrário do observado no capim-mombaça,
cujo perfilhamento predominante é basal (Parsons, 1988).
Por outro lado, essa diferenciação quanto ao hábito de
crescimento resulta em maior proporção de folhas no capim-
mombaça. Assim, a superioridade do capim-elefante em
relação ao capim-mombaça é amenizada, ou mesmo anulada,
quando se trata da produção de biomassa de folha verde,
uma vez que o capim-mombaça apresenta maior proporção
de folhas (Ribeiro et al., 2009; Palieraqui et al., 2006). Isso
também foi observado neste trabalho, uma vez que a biomassa
de folhas verdes não diferiu entre as forrageiras, refletindo
a maior (P<0,01) proporção de folhas do capim-mombaça
(Tabela 1).
Em trabalho realizado por Ribeiro et al. (2009), foram
verificados valores de altura e densidade volumétrica de
145 cm e 0,69 kg MS/m3 e de 130 cm e 0,69 kg MS/m3 para
os capins elefante e mombaça, respectivamente. Os valores
referentes à densidade volumétrica não diferiram entre as
forrageiras; porém a maior altura observada no capim-
elefante foi atribuída ao maior porte dessa forrageira. O
capim-elefante apresentou maior densidade volumétrica
que o capim-mombaça, o que poderia favorecer o consumo
dessa forrageira. Entretanto, o capim-mombaça, além de
altura mais propícia à apreensão pelos animais, apresentou
também maior proporção de folhas (Tabela 1).
A composição bromatológica das forrageiras avaliadas
(Tabela 2) encontra-se na faixa de variação observada em
estudos anteriores na mesma área: 10 a 14% de PB; 65 a 77%
de FDN; e 50 a 65% de digestibilidade in vitro da MS
(Palieraqui et al., 2006; Lista et al., 2007; Ribeiro et al., 2009).
Os valores observados para a composição bromatológica
Forrageira
Item Capim- Capim- CV
elefante mombaça (%)
Biomassa total (kg/ha) 5204A 3457B 38,4
Biomassa de folha verde (kg/ha) 1995 2327 33,6
Proporção de folhas (%) 36,7A 74,8B 11,15
Taxa de lotação (unidade animal) 4,4 4,6 32,12
Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes nas linhas diferem a 0,05 de
probabilidade.
Tabela 1 - Disponibilidade de biomassa e características do dossel
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de ambas as forrageiras não parecem limitantes à digestão
da fibra em nível de rúmen (Van Soest, 1994), o que refletiu
no ganho alcançado pelos animais.
Os consumos de matéria seca, energia metabolizável e
fibra em detergente neutro não diferiram (P>0,05) entre as
forrageiras, exceto o de proteína bruta, que foi maior nos
animais alocados nos piquetes de capim-mombaça. No
nível de alimentação à vontade, o consumo de todos os
nutrientes foi superior ao observado nos animais sob
restrição alimentar, fato já esperado. Não houve efeito de
interação (P>0,05) forrageira × nível de alimentação sobre
o consumo de nutrientes das forrageiras (Tabela 3).
A fraca evidência de variação nos consumos de
matéria seca das duas forrageiras não pode ser explicada
exclusivamente pela maior digestibilidade de MS e FDN do
capim-elefante (Tabela 4). No entanto, o consumo de pasto
não é influenciado somente pelo valor nutritivo da forragem,
mas também por fatores como biomassa, estrutura da
pastagem e ambiente (Carvalho et al., 2001) e pela interação
entre o pasto e o animal que o consome (Ellis et al., 1999).
Em pesquisa com os capins mombaça e elefante em
regime de lotação intermitente nas épocas chuvosa e seca,
Ribeiro et al. (2008) relataram maior consumo de forragem em
novilhos pastejando capim-elefante na época chuvosa.
Palieraqui et al (2006), em condições experimentais
semelhantes às relatadas por Ribeiro et al. (2008), observaram
que o consumo de capim-mombaça foi maior que o de capim-
elefante na época seca do ano.
Em valores absolutos, Palieraqui et al. (2006) verificaram
para novilhos mestiços em pastagens de capim-elefante e
capim-mombaça, na ausência e presença de irrigação,
variações no consumo de 2,9 a 3,3% do PV. Em experimento
com novilhos nelores em pastagens cultivadas com três
cultivares de Panicum, Brâncio et al. (2003) observaram
consumos de 1,9 a 3,4% do peso vivo (PV), dependendo da
época do ano avaliada. Menores valores de consumo,
variando entre 1,7 a 1,9% do PV, foram obtidos por
Cândido et al. (2005) em pastagens de capim-mombaça.
Tabela 2 - Composição das extrusas dos capins elefante e mombaça
Forrageira
Capim- Capim-
elefante mombaça
Matéria orgânica (% MS) 90,6 90,6
Proteína bruta (% MS) 11,7 12,2
Fibra detergente neutro (% MS) 69,5 67,4
Lignina (% MS)14,1 3,8
DIVMS (%) 58,9 55,9
1 Lignina determinada em ácido sulfúrico.
Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes nas linhas e minúsculas nas colunas diferem entre si a 0,05% de probabilidade.
Nível de alimentação
Item À vontade Restrito Média CV (%)
Matéria seca (kg/animal/dia) 13,8
Capim-elefante 8,8 4,2 6,5a
Capim-mombaça 9,2 5,0 7,1a
Média 9,0A 4,6B
Matéria orgânica (kg/animal/dia) 13,8
Capim-elefante 7,9 3,8 5,9a
Capim-mombaça 8,3 4,5 6,4a
Média 8,1A 4,2B
Proteína bruta (kg/animal/dia) 13,8
Capim-elefante 1,03 0,50 0,76a
Capim-mombaça 1,12 0,61 0,87b
Média 1,07A 0,55B
Energia metabolizável (kcal/animal/dia) 13,8
Capim-elefante 17,7 8,6 13,2a
Capim-mombaça 17,8 9,6 13,7a
Média 17,7A 9,1B
Fibra detergente neutro (kg/animal/dia) 13,8
Capim-elefante 6,1 2,9 4,5a
Capim-mombaça 6,2 3,4 4,8a
Média 6,1A 3,1B
Matéria seca (% PV/dia) 15,4
Capim-elefante 2,9 1,6 2,3a
Capim-mombaça 3,2 2,0 2,6a
Média 3,0A 1,8B
Tabela 3 - Consumo de nutrientes em pastagens de capim-elefante e capim-mombaça sob pastejo restrito e à vontade
Garcia et al.408
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Neste trabalho, para os animais sob alimentação à
vontade, foi observado consumo médio de 3,0% do PV,
que está de acordo com os relatados na literatura (Brâncio
et al., 2003; Cândido et al., 2005; Palieraqui et al., 2006).
Em comparação ao capim-mombaça, o capim-elefante
apresentou maior digestibilidade de matéria seca, matéria
orgânica, energia bruta e fibra em detergente neutro. A
digestibilidade de PB foi maior nos animais sob restrição
alimentar, enquanto a de energia bruta foi maior naqueles
alimentados à vontade. A digestibilidade de MS, MO e
FDN não diferiu entre os níveis de alimentação nem foi
afetada pela interação combinação (P>0,05) entre
forrageira e nível de alimentação (Tabela 4).
No caso da digestibilidade da PB, a superioridade do
capim-mombaça pode estar relacionada à maior proporção
de folhas (Tabela 1) dessa forrageira, que apresenta
praticamente o dobro de folhas do capim-elefante. É nas
folhas que se encontra a maior proporção de tecidos de
maior digestibilidade (Akin, 1989), portanto é de se esperar
maior digestibilidade também da proteína bruta.
O consumo do animal tem sido associado negativa-
mente à digestibilidade do alimento (ARC, 1980; NRC,
2001). O efeito do consumo sobre a digestibilidade estaria
relacionado à taxa de passagem dos resíduos indigeríveis
ao longo do trato gastrintestinal (Mertens & Ely, 1979).
No entanto, neste trabalho não foi observado efeito do
nível de alimentação sobre a digestibilidade das
forrageiras.
Segundo o NRC (2001), a redução da digestibilidade
de acordo com o consumo é proporcionalmente maior para
dietas mais digestíveis e deve ser desconsiderada no caso
de dietas com coeficientes de digestibilidade inferiores a
0,60. De fato, a menor digestibilidade da dieta desfavorece
o consumo, tendo em vista a limitação física do rúmen para
processamento do alimento (Van Soest, 1994). Nesse
sentido, a digestibilidade média da matéria seca verificada
neste trabalho, abaixo de 0,60, explicaria a ausência do
efeito do nível alimentar.
O ganho de peso diferiu entre os sistemas de
alimentação, pois foi maior nos animais do sistema de
pastejo à vontade, no entanto, não apresentou diferenças
entre as forrageiras, tanto quando calculado por animal
quanto por área (Tabela 5), provavelmente porque não
houve variações no consumo dessas forrageiras (Tabela 4).
Resultados inferiores aos obtidos neste trabalho foram
observados, nas mesmas condições, em pesquisas
conduzidas na época chuvosa com novilhos mantidos em
pastagens de capim-mombaça e capim-elefante adubadas
e manejadas em lotação intermitente: de 0,62 kg/dia;
5, 0 animais/ha e 432 kg/ha, respectivamente, para ganho de
peso, taxa de lotação e ganho por área (Erbesdobler et al., 2002;
Alexandrino et al., 2005; Cândido et al., 2005).
Tabela 4 - Digestibilidade dos componentes de capim-elefante e capim-mombaça sob pastejo restrito e à vontade
Nível de alimentação
À vontade Restrito Média CV (%)
Matéria seca (%)
Capim-elefante 58 58 58a 0,26
Capim-mombaça 55 55 55b
Média 57 A 57A
Matéria orgânica (%) 1,10
Capim-elefante 53 54 54a
Capim-mombaça 51 51 51b
Média 52 A 53A
Proteína bruta (%) 0,75
Capim-elefante 60 62 61a
Capim-mombaça 64 66 65b
Média 62 A 64B
Energia bruta (%) 0,07
Capim-elefante 62,6 62,1 62,3a
Capim-mombaça 61,0 61,1 61,0b
Média 61,8A 61,6B
Fibra em detergente neutro (%) 0,89
Capim-elefante 58 ± 0,2 58 ± 0,2 58a
Capim-mombaça 53 54 54b
Média 56 A 56A
Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes nas linhas e minúsculas nas colunas diferem a 0,05% de probabilidade.
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Desempenho de novilhos mantidos em pastagens de capim-elefante e capim-mombaça
R. Bras. Zootec., v.40, n.2, p.403-410, 2011
Conclusões
Os capins elefante e mombaça apresentam diferenças
significativas de digestibilidade de alguns nutrientes como
a matéria orgânica e a fibra, além de diferenças como o
número de folhas. Entretanto, não há evidência experimental
que comprove a existência de diferenças entre os
desempenhos de bovinos mantidos em pastagens dessas
forrageiras durante o período chuvoso do ano na região
norte fluminense. Em circunstâncias de criação semelhantes
às encontradas no presente experimento, espera-se um
ganho em peso médio de 850 ± 240 g/d para animais mestiços
Limousin-Nelore, o que implica em ganho por área de
246 ± 70 kg/ha.
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Nível de alimentação
Item À vontade Restrito Média CV (%)
Ganho de peso médio (kg/animal/dia)128,41
Capim-elefante 0,85 0,32 0,59a
Capim-mombaça 0,85 0,14 0,50a
Média 0,85A 0,23B
Ganho de peso por área (kg/ha)228,41
Capim-elefante 24 2 9 0 166a
Capim-mombaça 25 0 4 1 146a
Média 246A 66B
Tabela 5 - Desempenho dos animais em pastejo nos capins elefante e mombaça1,2
1 Animais com peso vivo inicial médio de 225,0 kg.
2 Ganho de peso total em 64 dias.
Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes nas linhas e minúsculas nas colunas diferem a 0,05% de probabilidade.
Garcia et al.410
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