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Raízes de sucesso agrícola: explorando caminhos para a qualidade, produção e satisfação

Authors:

Abstract

A presente obra é uma adaptação em livro que surgiu a partir da tese de doutoramento defendida por Elsa Barbosa Simões, sob a orientação de Margarida Saraiva, na Universidade de Évora – Portugal, em julho de 2020. Esta pesquisa, baseada num estudo exploratório realizado no perímetro de rega da Barragem do Poilão, Ilha de Santigo – Cabo Verde, tem como objetivo principal ser um contributo para o debate local sobre a qualidade, satisfação e produção hortofrutícola nas unidades de produção agrícola cabo-verdianas. Ao focar nessa realidade específica, busca-se oferecer insights e informações relevantes que possam alimentar discussões e reflexões sobre a sustentabilidade do setor agrícola, em que a promoção da eficiência, produtividade e sustentabilidade na agricultura é vista como um passo crucial para alcançar um futuro melhor, designadamente em Cabo Verde.
RAÍZES DE SUCESSO AGRÍCOLA: EXPLORANDO
CAMINHOS PARA A QUALIDADE, PRODUÇÃO E
SATISFAÇÃO
ELSA BARBOSA SIMÕES E MARGARIDA SARAIVA
Editora Amplla
Campina Grande, outubro de 2023
II
2023 - Editora Amplla
Copyright da Edição © Editora Amplla
Copyright do Texto © Os autores
Editor Chefe: Leonardo Pereira Tavares
Design da Capa: Editora Amplla
Diagramação: Juliana Ferreira
Revisão: Os autores
Raízes de sucesso agrícola: explorando caminhos para a qualidade, produção e satisfação está
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ISBN: 978-65-5381-161-4
DOI: 10.51859/amplla.osa614.1123-0
Editora Amplla
Campina Grande PB Brasil
contato@ampllaeditora.com.br
www.ampllaeditora.com.br
2023
III
CONSELHO EDITORIAL
Alexander Josef Sá Tobias da Costa Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Andréa Cátia Leal Badaró Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Andréia Monique Lermen Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Antoniele Silvana de Melo Souza Universidade Estadual do Ceará
Aryane de Azevedo Pinheiro Universidade Federal do Ceará
Bergson Rodrigo Siqueira de Melo Universidade Estadual do Ceará
Bruna Beatriz da Rocha Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
Bruno Ferreira Universidade Federal da Bahia
Caio Augusto Martins Aires Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Caio César Costa Santos Universidade Federal de Sergipe
Carina Alexandra Rondini Universidade Estadual Paulista
Carla Caroline Alves Carvalho Universidade Federal de Campina Grande
Carlos Augusto Trojaner Prefeitura de Venâncio Aires
Carolina Carbonell Demori Universidade Federal de Pelotas
Cícero Batista do Nascimento Filho Universidade Federal do Ceará
Clécio Danilo Dias da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Dandara Scarlet Sousa Gomes Bacelar Universidade Federal do Piauí
Daniela de Freitas Lima Universidade Federal de Campina Grande
Darlei Gutierrez Dantas Bernardo Oliveira Universidade Estadual da Paraíba
Denilson Paulo Souza dos Santos Universidade Estadual Paulista
Denise Barguil Nepomuceno Universidade Federal de Minas Gerais
Dinara das Graças Carvalho Costa Universidade Estadual da Paraíba
Diogo Lopes de Oliveira Universidade Federal de Campina Grande
Dylan Ávila Alves Instituto Federal Goiano
Edson Lourenço da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
Elane da Silva Barbosa Universidade Estadual do Ceará
Érica Rios de Carvalho Universidade Católica do Salvador
Fernanda Beatriz Pereira Cavalcanti Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Fredson Pereira da Silva Universidade Estadual do Ceará
Gabriel Gomes de Oliveira Universidade Estadual de Campinas
Gilberto de Melo Junior Instituto Federal do Pará
Givanildo de Oliveira Santos Instituto Brasileiro de Educação e Cultura
Higor Costa de Brito Universidade Federal de Campina Grande
Hugo José Coelho Corrêa de Azevedo Fundação Oswaldo Cruz
Isabel Fontgalland Universidade Federal de Campina Grande
Isane Vera Karsburg Universidade do Estado de Mato Grosso
Israel Gondres Torné Universidade do Estado do Amazonas
Ivo Batista Conde Universidade Estadual do Ceará
Jaqueline Rocha Borges dos Santos Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Jessica Wanderley Souza do Nascimento Instituto de Especialização do Amazonas
João Henriques de Sousa Júnior Universidade Federal de Santa Catarina
João Manoel Da Silva Universidade Federal de Alagoas
João Vitor Andrade Universidade de São Paulo
Joilson Silva de Sousa Instituto Federal do Rio Grande do Norte
José Cândido Rodrigues Neto Universidade Estadual da Paraíba
Jose Henrique de Lacerda Furtado Instituto Federal do Rio de Janeiro
Josenita Luiz da Silva Faculdade Frassinetti do Recife
Josiney Farias de Araújo Universidade Federal do Pará
Karina de Araújo Dias SME/Prefeitura Municipal de Florianópolis
Katia Fernanda Alves Moreira Universidade Federal de Rondônia
Laís Portugal Rios da Costa Pereira Universidade Federal de São Carlos
Laíze Lantyer Luz Universidade Católica do Salvador
Lindon Johnson Pontes Portela Universidade Federal do Oeste do Pará
Lisiane Silva das Neves Universidade Federal do Rio Grande
IV
Lucas Araújo Ferreira Universidade Federal do Pará
Lucas Capita Quarto Universidade Federal do Oeste do Pará
Lúcia Magnólia Albuquerque Soares de Camargo Unifacisa Centro Universitário
Luciana de Jesus Botelho Sodré dos Santos Universidade Estadual do Maranhão
Luís Paulo Souza e Souza Universidade Federal do Amazonas
Luiza Catarina Sobreira de Souza Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central
Manoel Mariano Neto da Silva Universidade Federal de Campina Grande
Marcelo Alves Pereira Eufrasio Centro Universitário Unifacisa
Marcelo Williams Oliveira de Souza Universidade Federal do Pará
Marcos Pereira dos Santos Faculdade Rachel de Queiroz
Marcus Vinicius Peralva Santos Universidade Federal da Bahia
Maria Carolina da Silva Costa Universidade Federal do Piauí
Maria José de Holanda Leite Universidade Federal de Alagoas
Marina Magalhães de Morais Universidade Federal do Amazonas
Mário Cézar de Oliveira Universidade Federal de Uberlândia
Michele Antunes Universidade Feevale
Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues Logos University International
Milena Roberta Freire da Silva Universidade Federal de Pernambuco
Nadja Maria Mourão Universidade do Estado de Minas Gerais
Natan Galves Santana Universidade Paranaense
Nathalia Bezerra da Silva Ferreira Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Neide Kazue Sakugawa Shinohara Universidade Federal Rural de Pernambuco
Neudson Johnson Martinho Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso
Patrícia Appelt Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Paula Milena Melo Casais Universidade Federal da Bahia
Paulo Henrique Matos de Jesus Universidade Federal do Maranhão
Rafael Rodrigues Gomides Faculdade de Quatro Marcos
Reângela Cíntia Rodrigues de Oliveira Lima Universidade Federal do Ceará
Rebeca Freitas Ivanicska Universidade Federal de Lavras
Renan Gustavo Pacheco Soares Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns
Renan Monteiro do Nascimento Universidade de Brasília
Ricardo Leoni Gonçalves Bastos Universidade Federal do Ceará
Rodrigo da Rosa Pereira Universidade Federal do Rio Grande
Rubia Katia Azevedo Montenegro Universidade Estadual Vale do Acaraú
Sabrynna Brito Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais
Samuel Miranda Mattos Universidade Estadual do Ceará
Selma Maria da Silva Andrade Universidade Norte do Paraná
Shirley Santos Nascimento Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia
Silvana Carloto Andres Universidade Federal de Santa Maria
Silvio de Almeida Junior Universidade de Franca
Tatiana Paschoalette R. Bachur Universidade Estadual do Ceará | Centro Universitário Christus
Telma Regina Stroparo Universidade Estadual do Centro-Oeste
Thayla Amorim Santino Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Thiago Sebastião Reis Contarato Universidade Federal do Rio de Janeiro
Tiago Silveira Machado Universidade de Pernambuco
Virgínia Maia de Araújo Oliveira Instituto Federal da Paraíba
Virginia Tomaz Machado Faculdade Santa Maria de Cajazeiras
Walmir Fernandes Pereira Miami University of Science and Technology
Wanessa Dunga de Assis Universidade Federal de Campina Grande
Wellington Alves Silva Universidade Estadual de Roraima
William Roslindo Paranhos Universidade Federal de Santa Catarina
Yáscara Maia Araújo de Brito Universidade Federal de Campina Grande
Yasmin da Silva Santos Fundação Oswaldo Cruz
Yuciara Barbosa Costa Ferreira Universidade Federal de Campina Grande
V
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Design da Capa: Editora Amplla
Diagramação: Juliana Ferreira
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Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos CRB-8/9166
S593r
Simões, Elsa Barbosa
Raízes de sucesso agrícola: explorando caminhos para a qualidade, produção e
satisfação / Elsa Barbosa Simões, Margarida Saraiva. Campina Grande/PB:
Amplla, 2023.
Livro em PDF
ISBN 978-65-5381-161-4
DOI 10.51859/amplla.osa614.1123-0
1. Agricultura. I. Simões, Elsa Barbosa. II. Saraiva, Margarida. III. Título.
CDD 630
Índice para catálogo sistemático
I. Agricultura
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2023
VI
PREÂMBULO
A presente obra é uma adaptação em livro que surgiu a partir da tese de
doutoramento defendida por Elsa Barbosa Simões, sob a orientação de Margarida
Saraiva, na Universidade de Évora, em julho de 2020. Nessa adaptação buscou-se
encontrar um equilíbrio adequado, preservando a essência do trabalho original, mas
eliminando alguns detalhes técnicos para torná-lo mais acessível aos leitores.
A intenção foi manter o cerne da tese de doutoramento, mantendo os principais
conceitos e ideias, mas sem sobrecarregar o texto com informações demasiadamente
complexas ou específicas.
Ao fazer essa adaptação, as autoras procuraram preservar a integridade e a
qualidade da pesquisa original, ao mesmo tempo tornaram o conteúdo mais acessível e
compreensível para um público mais amplo.
É importante ressaltar que, mesmo após a adaptação, o texto final da obra é
baseado na tese de doutoramento original, o que pode resultar numa certa densidade em
alguns aspetos. Além disso, é possível que alguns conteúdos tenham se tornado datados
ao longo do tempo, devido à cronologia dos trabalhos de pesquisa correspondentes.
Embora existam atualizações e alguns conteúdos possam ter sido ajustados para
se adequarem a um formato mais acessível, é importante reconhecer que a obra é
fundamentada na tese de doutoramento e reflete os resultados e conclusões alcançados na
época em que o trabalho foi desenvolvido. Apesar das possíveis limitações temporais,
acredita-se que as conclusões continuem a ser relevantes e contribuam para o
conhecimento na área de pesquisa abordada.
A finalidade desta pesquisa é buscar respostas para a pergunta sobre a insatisfação
do agricultor, apesar dos avanços e conquistas alcançados no setor. Em vez de adotar a
reação comum de atribuir a falta de reconhecimento ao agricultor pelos esforços
realizados, o objetivo é compreender melhor as razões subjacentes a essa insatisfação. Ao
seguir essa abordagem, procura-se ir além das aparências e explorar as motivações e
perspetivas dos agricultores, a fim de compreender de forma mais profunda os fatores que
podem contribuir para a insatisfação. Reconhecendo a importância do princípio de que "o
cliente tem sempre razão", busca-se compreender e dar voz às experiências e perceções
VII
dos agricultores, a fim de encontrar soluções mais efetivas para atender às suas
necessidades e aspirações.
Tal como referiu Correia e Silva (1996), “É preferível lançar uma hipótese sobre
um problema para o qual não se tem resposta cabal a deixar um espaço vazio”. Assim,
para alcançar as respostas desejadas, esta obra utilizou abordagens de gestão da qualidade,
que auxiliam na descoberta e no entendimento da situação. Além disso, adotou-se uma
abordagem participativa, envolvendo os agricultores no processo. Uma das técnicas
utilizadas foi a realização de Grupos Focais, nos quais os agricultores tiveram a
oportunidade de serem parte ativa na construção do conhecimento e na busca por soluções
para os seus problemas e desafios.
Através dos Grupos Focais, os agricultores puderam compartilhar suas
experiências, perspetivas e opiniões, contribuindo para a compreensão mais aprofundada
das questões que os afligem. Essa abordagem permitiu que os agricultores se tornassem
guias nesse processo, liderando o caminho rumo à identificação de respostas e soluções
que sejam mais adequadas e relevantes para suas necessidades específicas.
Ao adotar essa abordagem participativa, buscou-se valorizar e respeitar o
conhecimento e a experiência dos agricultores, reconhecendo que são eles os principais
atores na busca por soluções efetivas para os desafios enfrentados no setor agrícola.
Apesar das dificuldades enfrentadas ao longo do processo, incluindo o impacto
das secas em Cabo Verde, que resultou na redução do nível da barragem, é importante
destacar o prazer encontrado no trabalho desenvolvido com os agricultores, alunos e
técnicos.
Mesmo com as adversidades e imprevistos, o prazer encontrado no trabalho é um
indicativo de que houve dedicação, envolvimento e compromisso por parte dos
envolvidos. O fato de terem dado o primeiro passo e enfrentado as dificuldades ao longo
do caminho é digno de reconhecimento.
Essas experiências compartilhadas com os agricultores, alunos e técnicos
trouxeram aprendizagens valiosas e fortalecimento de laços entre as partes envolvidas.
Apesar das circunstâncias adversas, o trabalho realizado proporcionou momentos de
satisfação e colaboração, demonstrando o comprometimento em buscar soluções para os
desafios enfrentados no setor agrícola.
Com essa convicção em mente, a pesquisa apresentada não como um fim em si
mesma, mas como um pequeno passo para abrir caminhos no conhecimento sobre o
importante papel das abordagens de gestão da qualidade na melhoria da eficiência e
VIII
eficácia dos recursos investidos. O objetivo é promover o aumento da produção e
produtividade agrícola em Cabo Verde, seguindo uma perspetiva de melhoria contínua e
integrada.
Ao aplicar essas abordagens, busca-se contribuir para a segurança alimentar,
melhorar a qualidade de vida dos agricultores e das populações rurais, além de destacar a
agricultura como um setor económico de importância primordial. Esse enfoque visa
impulsionar um desenvolvimento equitativo e sustentável da sociedade cabo-verdiana.
Através da disseminação do conhecimento e das práticas relacionadas às
abordagens de gestão da qualidade, pretende-se inspirar ações que levem a melhorias
concretas no setor agrícola, beneficiando tanto os agricultores como a sociedade em geral.
A promoção da eficiência, produtividade e sustentabilidade na agricultura é vista como
um passo crucial para alcançar um futuro melhor em Cabo Verde.
Esta pesquisa baseada num estudo exploratório realizado no perímetro de rega da
Barragem do Poilão, tem como objetivo principal ser um contributo para o debate local
sobre a qualidade, satisfação e produção hortofrutícola em contextos específicos em Cabo
Verde. Ao focar nessa realidade específica, busca-se oferecer insights e informações
relevantes que possam alimentar discussões e reflexões sobre a sustentabilidade do setor
agrícola.
Ao abordar questões relacionadas à qualidade, satisfação e produção
hortofrutícola, visa-se trazer à tona aspetos importantes que impactam diretamente na
realidade local. Essa abordagem específica permite uma análise mais aprofundada e
contextualizada dos desafios e oportunidades enfrentados no setor agrícola em Cabo
Verde.
A intenção é que as informações e conclusões apresentadas sejam uma fonte de
referência para os debates locais, ajudando a promover ações e iniciativas que visem a
melhoria contínua da qualidade, satisfação e produção agrícola. Ao contribuir para a
sustentabilidade do setor, busca-se impulsionar o desenvolvimento equilibrado e
duradouro da agricultura cabo-verdiana.
IX
SUMÁRIO
X
XI
ÍNDICE DE FIGURAS
XII
ÍNDICE DE TABELAS
XIII
XIV
LISTA DE ABREVIATURAS
ACTUAR Associação para a Cooperação e Desenvolvimento
BH Bacia Hidrográfica
CAADP Comprehensive Africa Agriculture Development Program
CEE Comunidade Económica Europeia
DSERAN Direção de Serviço de Extensão Rural e Agro-negócio
EBI Ensino Básico Integrado
ECOWAP Regional Agricultural Policy for West Africa
ECRP Estratégia de Crescimento e de Redução da Pobreza
ECV Escudos Cabo-Verdiano
ENSAN Estratégia Nacional de Segurança Alimentar
E-W East-West
FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
FG Focus Group
GovCV Governo de Cabo Verde
ICAAM Instituto Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas
INE Instituto Nacional de Estatísticas de Cabo Verde
INIDA Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário
MAA Ministério da Agricultura e do Ambiente
MAAP Ministério da Agricultura Ambiente e Pescas
MAHOT Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território
MDR Ministério do Desenvolvimento Rural
MTIE Ministério do Turismo Indústria e Energia
ONGs Organizações Não-Governamentais
PAENCE/CV Programa de Apoio a Estratégia Nacional de Criação de Emprego em Cabo
Verde
PEMSMAA Programa de Emergência para Mitigação da Seca e do Mau Ano Agrícola
PIB Produto Interno Bruto
PNIA Plano Nacional de Investimento Agrícola
PNLP Programa Nacional de Luta contra a Pobreza
PNSA Programa Nacional de Segurança Alimentar
RGA Recenseamento Geral Agrícola
SE-NW Southeast-Northwest
SERVPERF Service Performance
SERVQUAL Service Quality
SGQ Sistemas de Gestão da Qualidade
SIDS Small Islands Developing States
SQual4Agri S que significa satisfação||SERVPERF||Serviço; Qual=Qualidade; 4=for=para;
Agri=Agricultura
TQM Total Quality Management
USD United States Dollars
WBG Word Bank Group
15
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
INTRODÃO
“O espaço que nos interessa é aquele em que o homem é elemento central. Derivado da sua
própria condição, diríamos, da humanidade enquanto emergência histórica, o homem, para
se reproduzir enquanto ser biológico, e social, tem de reestruturar o espaço, introduzindo-lhe
elementos novos, extinguindo-lhe outros, criando novas relações, etc.” (Correia e Silva,
1996, p.128)
Este capítulo tem como objetivo contextualizar o setor agrícola cabo-verdiano, com destaque
para a importância da Barragem do Poilão, localizada na ilha de Santiago, Cabo Verde. Será
apresentada a relevância dessa barragem para a região e para o arquipélago como um todo, além de
caracterizar a produção agrícola local.
Para realizar essa pesquisa, foram utilizadas diferentes fontes de informação, incluindo
estudos académicos, relatórios governamentais, artigos científicos e dados estatísticos. Também
foram considerados dados e informações provenientes de órgãos responsáveis pela gestão da
barragem e do setor agrícola em Cabo Verde.
A metodologia empregada para a recolha de informações incluiu a revisão bibliográfica de
estudos relevantes sobre o setor agrícola cabo-verdiano, a análise de relatórios e documentos oficiais,
bem como a consulta a fontes confiáveis de dados estatísticos. Além disso, foram considerados
estudos de caso e experiências práticas relacionadas com a Barragem do Poilão.
1.1. Setor Agrícola Cabo-Verdiano
A agricultura desempenha um papel fundamental em Cabo Verde, sendo um dos setores que
mais contribui para a subsistência das famílias. Além de garantir o sustento, a agricultura também
desempenha um papel importante na criação de rendimentos para a população.
No entanto, é importante destacar que o setor agrícola cabo-verdiano enfrenta desafios
significativos devido à escassez de recursos hídricos e solos, bem como aos efeitos das mudanças
climáticas. A agudização das secas cíclicas e o aumento das temperaturas são fenómenos que afetam
diretamente a agricultura em Cabo Verde, tornando-a mais vulnerável e sujeita a dificuldades
adicionais.
Esses desafios ambientais e climáticos impõem limitações ao desenvolvimento agrícola e
exigem esforços contínuos para a adaptação e mitigação dos impactos. É necessário investir em
práticas agrícolas sustentáveis, gestão eficiente dos recursos hídricos e solos, bem como em
tecnologias e técnicas adequadas que possam ajudar a superar esses desafios e fortalecer a resiliência
do setor agrícola.
16
INTRODUÇÃO
Dessa forma, reconhecer a importância da agricultura como meio de subsistência e geração
de rendimento em Cabo Verde também implica enfrentar os desafios associados à escassez de
recursos e às mudanças climáticas, trabalhando para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento
resiliente do setor agrícola.
A ilha de Santiago, sendo a maior e uma das mais ilhas agrícolas de Cabo Verde, abriga a
Barragem do Poilão. A construção dessa barragem tem como objetivo principal promover a conversão
da agricultura de sequeiro (dependente apenas da chuva) em agricultura de regadio, ou seja, utilizando
recursos hídricos provenientes da barragem para irrigação das terras.
Essa reconversão da agricultura tem como finalidade aumentar a produção e produtividade
agrícola, possibilitando um aproveitamento mais eficiente dos recursos hídricos disponíveis. Ao
permitir o acesso à água de forma controlada, a agricultura de regadio pode contribuir para reduzir a
dependência das condições climáticas imprevisíveis, como a variabilidade das chuvas e as secas
cíclicas.
A expectativa é que o aumento da produção agrícola, através do regadio, possa contribuir para
diminuir a pobreza no país, uma vez que a agricultura é uma importante fonte de subsistência e
geração de rendimento para a população rural cabo-verdiana. O aumento da produção agrícola pode
proporcionar maior e melhor segurança alimentar, fortalecer a economia local e melhorar as
condições de vida das comunidades rurais.
É importante ressaltar que essa conversão da agricultura de sequeiro para a agricultura de
regadio requer planeamento adequado, gestão eficiente dos recursos hídricos e adoção de práticas
sustentáveis, a fim de garantir o uso racional da água e minimizar possíveis impactos ambientais.
Cabo Verde, localizado no oceano Atlântico, a aproximadamente 450 km da costa ocidental
do Senegal, é um arquipélago composto por 10 ilhas. Essas ilhas estão divididas em duas regiões
geográficas: as ilhas do Barlavento, que incluem Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau,
Sal e Boa Vista, e as ilhas do Sotavento, que incluem Maio, Santiago, Fogo e Brava.
Apesar de sua beleza e diversidade geográfica, é importante notar que apenas cerca de 10%
da área total de Cabo Verde, que corresponde a cerca de 4.033 km², é considerada potencialmente
arável. Isso significa que apenas uma pequena parte do território do país é adequada para atividades
agrícolas.
Essa limitação de áreas aráveis em Cabo Verde está relacionada à sua geografia e ao clima
árido que predomina nas ilhas. A escassez de água e a falta de solos férteis são desafios significativos
enfrentados pelo setor agrícola em todo o arquipélago. Isso torna ainda mais importante a adoção de
práticas agrícolas sustentáveis e o uso eficiente dos recursos disponíveis para maximizar a produção
e a produtividade agrícola nas áreas utilizáveis.
17
INTRODUÇÃO
Enquanto país arquipelágico e saheliano, Cabo Verde é extremamente vulnerável aos
fenómenos naturais, particularmente às secas. Apesar disso, o sector agropecuário, mesmo com as
suas fragilidades estruturais, tem desempenhado um papel importante no país, permitindo a
subsistência de um importante número de famílias, cujos rendimentos e sustento estão estreitamente
ligados à terra. A população agrícola representava, em 2015, 34,8% do total da população residente
e com quase paridade do sexo feminino (50,9%) e, maioritariamente, na ilha de Santiago (INE, 2017).
O carácter essencialmente familiar da agricultura cabo-verdiana era, em 2015, constituído por
45.399 explorações agrícolas, das quais 33.309 em regime de sequeiro e 8.580 em regime de regadio.
A superfície total das unidades de exploração é de 36.456 ha, dos quais 31.692 ha são dedicados ao
sequeiro e 3.913 ha dedicados ao regadio (RGA, 2015).
O sequeiro com a produção de milho, feijão, raízes e tubérculos nas zonas altas é, no entanto,
o maior sistema de produção agrícola no país e que permite um importante contributo da pecuária
familiar e extensiva.
A Figura 1 apresenta a distribuição das atividades agrícolas cabo-verdianas, segundo o
Ministério da Agricultura e do Ambiente (MAA, 2015).
Figura 1 - Distribuição percentual das atividades agrícolas.
O anterior recenseamento geral agrícola (RGA, 2004) registava 44.450 explorações agrícolas.
Constata-se assim um aumento das explorações agrícolas durante este período (2004-2015), muito
devido ao regadio, face ao aumento de disponibilidade de água para rega, proporcionado através da
implementação das políticas públicas de water harvesting, de conservação de solos e água,
implementados pelos sucessivos governos e uma aposta na modernização da agricultura.
Contudo, a estrutura fundiária é pequena, fragmentada e coloca grandes desafios, não só em
toda a cadeia produtiva, mas também no que tange a obtenção de dados e informações, que permitam
o melhor conhecimento e, consequente, gestão dos serviços públicos para este setor.
A agricultura em Cabo Verde tem constituído, desde o descobrimento do arquipélago, num
fator de sustento das famílias e de desenvolvimento, malgrado os inúmeros fatores que a limitam.
18
INTRODUÇÃO
Desde logo, a falta de recursos hídricos, caracterizada por padrões erráticos e imprevisíveis de
precipitação, a falta de solos aráveis, a insularidade e a orografia das ilhas (MAAP, 2005). Este
quadro, confrontado com as alterações climáticas, cujos impactos em pequenos estados insulares se
preveem devastadores, reclama por uma maior capacidade de planificação, previsão e preparação
para prevenir e mitigar os seus resultados.
Estima-se que a agricultura contribui com 7,4% do PIB (INE, 2013). A economia do país é
essencialmente orientada para serviços. Apesar disso, 38% da população reside nas zonas rurais, onde
a incidência de pobreza é maior. Apesar deste quadro de fragilidades da produção agrícola e da pesca,
estas desempenham um papel importante, para assegurar a alimentação e a estabilização dos preços
dos produtos alimentares, num país que ainda detém um índice nacional de pobreza de 27 % (The
World Bank Group, 2016) da população, que vive com menos de 1USD, por dia. A insegurança
alimentar e a pobreza estão intimamente ligadas, dado que o baixo rendimento dificulta o acesso das
famílias a alimentos essenciais.
A pobreza em Cabo Verde decorre essencialmente da fragilidade do tecido produtivo e da sua
fraca capacidade de gerar emprego, rendimentos e bem-estar às populações.
Os indicadores demográficos estimam, em 2018, uma população de 543.767 (WBG, 2019)
sendo 51,7% mulheres e que 60% da população total tem idade inferior a 25 anos. O índice de
fecundidade é de 2,88 crianças por mulher. A ilha de Santiago tem cerca de metade da população do
país, cabendo à cidade da Praia (capital do país) cerca de 25% do total (GovCV, 2009).
O sector agrícola posiciona-se como sector estratégico no combate à pobreza, pois 70% dos
pobres vivem nas zonas rurais. As conclusões de um exercício de modelização realizado, em 2009,
no âmbito do Programa Compreensivo para o Desenvolvimento Agrícola em África (CAADP) e do
Programa Agrícola para os Países da Comunidade da África Ocidental (ECOWAP), indicam que para
cada 1% de redução da pobreza em Cabo Verde, ¾ resulta do crescimento do sector agrícola (MDR,
2012).
Esta informação motivou esforços públicos de investimentos na construção de pequenas (e.g.
reservatórios) e grandes (e.g. barragens) infraestruturas de armazenamento de águas superficiais. O
aumento da água disponível para a rega tem permitido a transição de uma agricultura de subsistência,
praticada essencialmente em sequeiro na produção de milho e feijões, para uma produção de regadio,
fundamentalmente na produção de hortofrutícolas, raízes e tubérculos, cuja produção é
essencialmente canalizada para os mercados internos, portanto, para o consumo alimentar interno
(MAAP, 2005).
Apesar dos avanços registados nas construções destas obras hidráulicas, visando o aumento
da água disponível para a produção agrícola, não tem havido, a par disso, os necessários investimentos
no ensino das ciências agrárias e ambientais, na capacitação de técnicos, agricultores/produtores, na
19
INTRODUÇÃO
investigação e extensão rural, na melhoria dos processos de pós-colheita e embalagem, na criação de
condições logísticas para o escoamento da produção, das zonas de produção para os mercados de
consumo e em sistemas de seguimento, facto que, entre outros, tem culminado em recorrentes
reivindicações por parte de agricultores e produtores.
Apesar do crescimento do mercado nacional, que também tem registado maiores níveis de
exigências a nível alimentar, o aumento da oferta e da diversificação do sector hortofrutícola, tem
dado uma resposta satisfatória a nível interno no abastecimento do mercado doméstico. Fica, contudo,
ainda o desafio deste sector inserir-se no mercado hoteleiro turístico em crescimento (MTIE, 2013).
A oportunidade que este mercado representa só poderá ser conquistada com uma forte aposta
na qualidade. Não apenas na qualidade do produto, mas numa qualidade total, que traga os benefícios
em toda a cadeia de valores da produção agrícola e do desenvolvimento integrado e sustentável, que
se preconiza. Pelo que, nessa ótica, o estabelecimento de normas nacionais de qualidade para produtos
agropecuários advenientes de uma agricultura familiar, como é a de Cabo Verde, deveria ser
construída junto dos agricultores, de forma a permitir a adoção de normas aplicáveis e inclusivas dos
saberes tradicionais e do modo de vida dos seus atores (Cruz & Schneider, 2010).
Para que, os investimentos possam refletir de forma eficaz o seu potencial no aumento da
disponibilidade de água para a agricultura, tendo em vista o aumento da produção e da produtividade
e que estes possam equitativamente ter efeitos significativos, não só, no nível de vida, como na
qualidade de vida do agricultor/produtor, mudanças e melhorias consideráveis devem ser introduzidas
e a aposta na qualidade pode ser uma delas, pois permitirá uma melhor rentabilização económica do
investimento realizado (MTIE, 2013).
É assim, nessa perspetiva, que se afigura a necessidade de uma forte liderança nesta matéria,
dado que, se a liderança significa desenvolver uma visão do futuro e estratégias para o realizar, então
os serviços públicos, no sector agrícola em Cabo Verde, para a sua melhor adequação à realidade
local, devem ser suportadas em dados estatísticos, investigação, casos de estudo e sistemas de
seguimento, que funcionem como mecanismos de aferimento das sua pertinência e desempenho.
1.2. Barragem do Poilão, Ilha de Santiago Cabo Verde
A Barragem do Poilão, situa-se na ilha de Santiago em Cabo Verde. Esta ilha, a primeira em
área (991 K), a maior em população, com cerca 56% (INE, 2010), foi também a primeira a ser
povoada e a que detém a maior participação na produção agrícola, aspetos que largamente justificam
a decisão e o investimento realizado nesta infraestrutura.
A ilha de Santiago situada no sentido SE-NW, alonga-se uns 55 km e no sentido E-W alarga-
se em 37 km. Do seu relevo destacam-se as achadas, zonas planálticas, as vertentes com inclinações
constantes, que conduzem aos topos das montanhas, os vales das ribeiras, os montes-colinas, que
20
INTRODUÇÃO
testemunham as atividades vulcânicas, e dois maciços montanhosos, a do Pico de Antónia e a da Serra
Malagueta, que definem os microclimas e os sistemas hidrológicos da ilha (Diniz & Matos, 1986).
Segundo dados do Banco Mundial (The World Bank, 2019), Cabo Verde possui uma
população aproximadamente de 520.500 habitantes, que se encontra distribuída por uma ampla área
marítima, que, de certa forma, limita o seu crescimento e desenvolvimento.
Quanto ao clima, este é influenciado pelo relevo montanhoso do arquipélago, que influi nos
diversos tipos de clima, que vão desde o tropical seco até ao árido e semiárido, ou seja, o clima pode
ter períodos secos entre 8-9 meses, períodos reduzidos e descontínuos de chuva, temperaturas
moderadas (25-27ºC de agosto a outubro) ou temperaturas baixas (18-20ºC de janeiro a abril) (Araújo,
Hernandez, Fonseca & Matos, 2014; Neves, Silva, Almeida, Sousa, & Silva, 2011; Rodrigues, 2014).
Contudo, é essencialmente um arquipélago saheliano sofrendo de ciclos recorrentes de secas.
Apenas 10% do território é considerado como terra arável. Tendo em conta que o escoamento
é superficial, a erosão dos solos é significativa, limitando este recurso natural (Rodrigues, 2014).
Por esse motivo, é crucial que as entidades competentes (Governo) ponderem sobre a criação
de infraestruturas, que permitam captar e conservar as águas pluviais, enquanto é realizada uma
gestão eficiente dos recursos naturais (Rodrigues, 2014).
A gestão eficiente dos recursos naturais irá contribuir para o aproveitamento da água e da
energia, assim como, para melhorar o fornecimento de serviços (água, energia, saúde e educação) e
diferenciar o sector turístico (The World Bank, 2019).
É, neste contexto, que surge a construção de barragens e de diques para captação e
armazenamento de água para a agricultura e para o abastecimento das populações (Rodrigues, 2014;
Shahidian, Serralheiro, Serrano & Sousa, 2014).
A Barragem do Poilão, que se insere na Bacia Hidrográfica (BH) da Ribeira Seca, divide-se
em 3 sub-bacias: Ribeira de Montanha, Ribeira de Mendes Faleiro Cabral/São Cristóvão e a Ribeira
Seca. Situada na ilha de Santiago, na faixa oriental da ilha abarca três Concelhos: 1) São Lourenço
dos Órgãos (65% da bacia); 2) Santa Cruz (25% da bacia) e 3) São Domingos (10% da bacia). A
barragem construída em S. Lourenço dos Órgãos, na sub-bacia da Ribeira Seca, constitui o principal
curso de água da referida bacia e alimenta a sua albufeira.
Esta Bacia Hidrográfica, com uma área total de 71,5 km² e 15,7 km de comprimento, é a maior
na ilha de Santiago. A chuva distribui-se de forma irregular tanto no tempo como no espaço. A
precipitação média anual é estimada em 323 mm; a temperatura média em 22°C; humidade média
anual em 75% e a velocidade do vento é mais moderada no topo e no meio de Ribeira Seca, com um
valor médio de 1,2 m/s (MDR, 2015).
A Barragem do Poilão, a primeira do seu género a ser construída no país, pretende
essencialmente criar um lago artificial capaz de reter e conservar as águas pluviais, permitindo o
21
INTRODUÇÃO
desenvolvimento da horticultura e fruticultura de regadio e assim estendendo o período da produção
e aumentando os ciclos de produção. A Figura 2 mostra a barragem ao longo de três anos e os efeitos
da seca.
Figura 2 - Barragem do Poilão (2016-2018)
Esta barragem foi uma doação do governo chinês ao governo cabo-verdiano, tendo sido
projetada, financiada e construída entre 2004 e 2006. Com 153 metros de comprimento e 26 metros
de altura máxima e 19 metros de altura útil, a área deste perímetro é de 774 hectares (Afonso, 2006).
A barragem pode potencialmente reter 1,7 milhões de metros cúbicos de água, mas a sua capacidade
útil é de 1.200.000 , cuja área estimada de rega seria de 63 hectares (Teixeira, 2011). A albufeira
tem uma área de 17 hectares e atinge um comprimento máximo de 1.235 metros. Foi construída em
12 meses, com um custo estimado em 4 milhões de dólares americanos e a sua inauguração aconteceu
em 3 julho de 2006.
Posteriormente, em 2010, deu-se início à implantação do sistema de adução e distribuição de
água para o perímetro de rega, cuja construção e instalação foi concluída em dezembro de 2011, bem
como o fornecimento de água às unidades de exploração agrícola.
A localização da Barragem do Poilão, numa zona de declives e desníveis, juntamente com a
insuficiência de sistemas sanitários adequados e da escassez de zonas com valas, sebes ou zonas
húmidas, contribui para o aparecimento de erosão, o escoamento superficial, a drenagem dos
nutrientes, a acumulação de sedimentos, a presença de azoto nas águas e a diminuição da qualidade
da água (Fonseca, Hernandez, Pinto, Araújo & Pinho, 2014).
O perímetro de rega foi estruturado em talhões e estes em parcelas, conforme se pode
visualizar na Figura 3. No total, existem 10 talhões, sendo um a montante da barragem e os restantes
(nove) a jusante, distribuídos por um universo de 265 parcelas, com uma média de 26,5 parcelas por
talhão, numa área total atualizada de quase 90 hectares, atingindo uma área média de 3000 /parcela
(MDR, 2015). Os solos são pedregosos, arenosos e arenosos finos, predominando os litossolos e os
litólicos (Madeira & Ricardo, n.d.).
22
INTRODUÇÃO
Figura 3 - Os talhões no perímetro de rega da Barragem do Poilão
Fonte: MDR (2015)
Face às condições criadas pelo projeto da barragem e à disponibilidade da água, tem-se
verificado uma procura crescente pelos terrenos no perímetro. Contudo, face à exiguidade de terrenos
agrícolas, uma pressão no aumento do parcelamento dos atuais, de forma a acomodar maior
número de produtores, criando assim outros problemas.
A Barragem do Poilão faz parte dos instrumentos de políticas públicas em Cabo Verde,
visando a reconversão da agricultura de sequeiro em agricultura de regadio, o aumento da produção,
da produtividade e na redução da pobreza no país. Contudo, o potencial de rega do projeto inicial não
foi ainda atingido por várias razões de ordem técnica e política (e.g. maior taxa de uso de rega gota a
gota, acesso a crédito adequado, conhecimentos adequados ao novo sistema de produção).
Antes da construção da barragem, a área agrícola associada à mesma era de sequeiro, com
raras exceções para as pessoas que usufruíam da água dos furos e dos poços e que praticavam a
agricultura de regadio (MDR, 2015). É esta realidade, de produtores de sequeiro, que cabe
transformar em agricultores de regadio, na produção intensiva de frutas e legumes, raízes e tubérculos,
para fornecer ao mercado da ilha e das outras ilhas, usando os insumos de uma agricultura moderna,
com sistemas de rega por gota-a-gota, planificação da produção, cadeias de valor capazes de
contribuir para a segurança alimentar e contribuir para o desenvolvimento social e económico do país.
Com uma população residente de 484.437 habitantes, Cabo Verde é essencialmente um país
jovem, a população jovem com menos de 35 anos representa 70% e com uma taxa de crescimento de
1,2% (INE, 2010). Este quadro de crescimento demográfico, nos próximos anos, e uma aposta dos
governos substancialmente no desenvolvimento do sector do turismo, colocam o sector agrícola sobre
forte pressão para aumentar a sua produção (MTIE, 2013).
23
INTRODUÇÃO
O cidadão nacional, jovem e escolarizado, e o turista igualmente exigente, são consumidores
que colocarão claros desafios aos agricultores nacionais na produção de produtos de qualidade. Esta
qualidade do produto agrícola, para além de ser uma necessidade de produção, visando usar de forma
mais eficiente os escassos recursos em água e solos, deve igualmente refletir-se num processo de
qualidade total, que inclua os processos de produção e gestão das explorações agrícolas e dos recursos
públicos disponibilizados, de forma a refletir na almejada redução da pobreza e melhoria do nível de
vida do agricultor/produtor.
A formalização das questões relativas à qualidade é muito recente em Cabo Verde, havendo
assim uma abordagem, nesta área, muito direcionada na reprodução de sistemas e normas
padronizadas e aplicadas noutros contextos geográficos, sociais e económicos diferentes dos
existentes em Cabo Verde. Para além disso, a visão tem-se centrado essencialmente nas empresas, na
qualidade do produto final e não na qualidade do processo, o que salvaguardaria os benefícios de
quem compra e de quem produz (Simões, 2013; Simões & Saraiva, 2014; Simões, 2018). É nesta
ótica, que esta pesquisa se centra, compreendendo, a produção, a qualidade na perspetiva dos
processos de gestão da unidade de produção agrícola e da satisfação dos agricultores/produtores, em
relação aos serviços públicos de suporte, que lhes são destinados.
A empresarialização do sector agrícola e o denominado agronegócio têm sido palavra corrente
nos discursos públicos de políticos e dirigentes nacionais, estando dessa forma as bacias hidrográficas
definidas como unidades de gestão e as barragens como parte integrante deste modelo de
desenvolvimento agrícola que se pretende. Parece, portanto, incontornável a necessidade, de a curto
prazo, se construir conhecimentos, que possam permitir potenciar os resultados, para os quais estas
infraestruturas foram preconizadas.
A construção de barragens para armazenamento de água para uso na produção agrícola,
visando aumentar a produção de hortícolas, frutas, raízes e tubérculos, é claramente uma medida de
política pública que tem sido implementada na última década. Contudo, os esforços têm-se
concentrado na construção das barragens e os aspetos ligados à produção, ao ensino, à pesquisa,
capacitação de técnicos e agricultores/produtores e à modernização têm ficado aquém da ambição do
desenvolvimento agrícola almejado, colocando em risco a viabilidade económico-financeira e
ambiental dos investimentos já consentidos (INIDA, 2016).
Pelo que, com esta pesquisa pretende-se concorrer para ampliar e melhorar o conhecimento
sobre o perímetro de rega da Barragem do Poilão, contribuindo concretamente nos aspetos da
estimativa da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos, nestas unidades de produção agrícola,
relacionando a produção e o modo em que é feita e o nível de satisfação destes produtores em relação
aos serviços conexos, que lhes deverá ser prestado. Os aspetos da qualidade na gestão destas unidades
24
INTRODUÇÃO
de produção são analisados, visando contribuir de forma eficiente para os objetivos propostos do
aumento da produção e da produtividade, da redução da pobreza e da melhoria na qualidade de vida.
Tanto assim é, que em face do frágil ecossistema cabo-verdiano, o modelo de
desenvolvimento preconizado, cujo principal catalisador é o uso intensivo de insumos agrícolas, não
tem de todo demonstrado a sua eficiência e eficácia.
Segundo Medaets (2003, p. 2):
“A produção agrícola mundial se baseia nos dias atuais, majoritariamente, [sic] em um
modelo tecnológico fundamentado no uso de sementes híbridas, mecanização agrícola,
fertilização e controle de pragas e doenças por produtos químicos denominada “revolução
verde”. Apesar de ter trazido resultados positivos importantes para a sociedade em âmbito
global, sua [sic] tem causado, em diversas situações e diferentes intensidades, impactos
negativos ao meio ambiente, à saúde dos produtores que aplicam os produtos recomendados
e à saúde dos consumidores que ingerem os resíduos de tais produtos. O questionamento de
tal modelo não é recente e tem-se intensificado nos últimos anos. O aumento da consciência
do consumidor quanto ao impacto ambiental negativo da produção”.
Deste modo, a análise do cenário agropecuário e rural cabo-verdiano recomenda a aquisição
de conhecimentos endógenos, baseados na observação, na pesquisa e que devam ser conducentes a
contribuir para um crescimento económico e um desenvolvimento equilibrado, inclusivo e capaz de
criar sustentabilidade, refletindo-se não apenas na qualidade do produto, mas também na qualidade
de vida dos produtores/agricultores e do consumidor.
O acesso a água pela população cabo-verdiana é considerado como sendo um elemento
essencial para a sua sobrevivência, tornando-se num desafio do século XXI, uma vez que a mesma é
escassa e afeta o desenvolvimento da região e do arquipélago. Apesar de, por um lado a água não
apresentar as melhores condições, em muitos casos, por outro lado, o receio de ficar sem ela leva a
uma exploração intensiva de poços e furos, provocando a salinização da mesma (Morais et al., 2018).
Nesta perspetiva, Shahidian et al. (2014) sugerem que seja reduzido o assoreamento das
albufeiras, através de obras que regulem as águas pluviais e os diques, maximizando dessa forma o
período de vida útil das mesmas.
Os mesmos autores defendem a otimização do uso da água e o aumento da eficiência, no que
se refere aos sistemas de adução e de transporte da água, implementando para isso, métodos que
garantam uma boa gestão da rega. Para além disso, também deverão ser definidas políticas e medidas,
que garantam a melhoria da qualidade de água, a formação dos agricultores na gestão da rega e a
utilização consciente e sustentável do território e da água (Shahidian et al., 2014).
Outras recomendações são enumeradas por Morais et al. (2018), onde se destacam a melhoria
da qualidade da água, de modo a evitar situações que coloquem em risco a saúde pública e animal; a
promoção e divulgação de ações de sensibilização em praticas sustentáveis, que tornem a população
mais consciente sobre as atividades/tarefas do dia-a-dia, relacionadas com a água; a definição de
relações entre as entidades responsáveis por esta área (Governo, empresas de fornecimento de
serviços, entre outras), onde seja assegurada uma boa comunicação sobre a gestão dos reservatórios,
25
INTRODUÇÃO
dos solos, da energia e da biodiversidade e a integração da população nestas medidas, de modo a que
exista um maior envolvimento e preocupação, quer a nível ambiental e sustentável, quer a nível social
e económico.
1.3. Propósito da Pesquisa
Este trabalho tem como propósito a construção de uma metodologia e de uma ferramenta de
diagnóstico, que relacione os fatores que estão na base dos modelos teóricos estudados e a realidade
empírica do perímetro de rega da Barragem do Poilão, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Deste estudo poderá resultar um melhor entendimento dos aspetos cujas melhorias são
reclamadas pelos produtores e que podem resultar em ganhos na produção agrícola, através do uso
mais eficiente e eficaz dos recursos atualmente disponibilizados.
Esta proposta visa desenvolver uma ferramenta de diagnóstico híbrido que avalie a qualidade
na gestão das unidades de produção agrícola e a satisfação dos agricultores, contribuindo como um
instrumento eficaz, para obter melhorias na gestão da propriedade rural e informações que permitam
melhorias e ajustes nos serviços públicos destinadas a estes agricultores.
Este estudo, por ser pioneiro em Cabo Verde, é de particular interesse quer pelo que representa
para o desenvolvimento científico, em geral, quer pela sua aplicação prática, que poderá ser útil para
as organizações do sector. O presente estudo foi implementado no perímetro de rega da Barragem do
Poilão, na ilha de Santiago em Cabo Verde, em 144 unidades de produção agrícola.
Cabo Verde dispõe de avultados investimentos na infraestruturação do sector agrícola,
realizados com recursos, essencialmente, da ajuda internacional ou a empréstimos concessionais.
Tendo o país, desde 2008, sido graduado a país de rendimento médio baixo, deixou de ter acesso a
algumas fontes de financiamento para o seu desenvolvimento.
Assim, para além do esforço em se continuar a investir na infraestruturação e sua
modernização, é preciso que os atuais investimentos possam produzir os resultados na economia, pois
é, nesta perspetiva que uma metodologia de diagnóstico integrado Qualidade, Produção e Satisfação
poderá produzir informações, que permitem melhorar a eficiência e a eficácia no uso de recursos e
na prestação do serviço público aos agricultores, e com isso contribuir para uma cultura da qualidade
na produção agrícola.
Assim, com este trabalho pretende-se obter um diagnóstico integrado da estimativa da
produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos, da qualidade na gestão da exploração e da satisfação
dos agricultores, do perímetro de rega da Barragem do Poilão, no Concelho de S. Cruz na ilha de
Santiago, Cabo Verde. Igualmente, com esses resultados, pretende-se também propor um modelo
conceptual, cuja aplicação possa ser sistematizada, visando avaliar e fornecer informações, para
26
INTRODUÇÃO
melhorias de eficiência e eficácia na produção agrícola e na prestação de serviços públicos aos
agricultores.
Durante a investigação e, através, do modelo conceptual que se propõe apresentar, procurar-
se-ão as respostas aos seguintes objetivos:
1. Adequar uma abordagem de qualidade, através da abordagem 5 Sensos (5S) às condições
específicas das pequenas unidades de produção agrícola de regadio.
2. Desenvolver uma metodologia para a estimativa da produção, ao longo do ano, de hortícolas,
frutícolas, raízes e tubérculos.
3. Adequar o modelo SERVPERF (Service Performance) para avaliar a satisfação dos
agricultores/produtores, em relação a sua atividade profissional e aos serviços públicos de que
são beneficiários.
4. Desenvolver um modelo híbrido (SQual4Agri), que junte os três parâmetros: Qualidade-
Produção-Satisfação e com base nos resultados desenvolver um modelo conceptual que possa
ser replicável noutros perímetros de rega.
Com base nos objetivos anteriormente definidos procurar-seconstruir uma metodologia,
que recolha evidências empíricas, através de um Questionário denominado SQual4Agri, com vista à
organização de subsídios para melhorias na eficiência e eficácia dos recursos disponibilizados para a
produção agrícola. Para tal, foram enunciadas quatro proposições, para as quais se procuram
evidências teóricas e empíricas, que permitam testar a sua adequação e generalização analítica.
Pelo que, pretende-se aferir:
1. Se a maturidade da gestão de qualidade, por parte dos agricultores, para a definição de
políticas agrárias ponderadas na eficiência e na eficácia, pode ser diagnosticada através da
abordagem da qualidade 5S;
2. Se o conhecimento e avaliação de práticas locais, de pequena produção agrícola pode
contribuir, no sentido de progressão, para uma agricultura moderna e sustentável;
3. O nível de satisfação dos agricultores em face aos atuais programas implementados de
desenvolvimento agrícola, através das dimensões do SERVPERF adaptado (Tangibilidade,
Confiabilidade/Fiabilidade, Celeridade/Capacidade de Resposta, Garantia/Confiança-
Segurança, Empatia, Satisfação geral) pode dar indicações sobre os aspetos específicos que
carecem de melhorias e;
4. Se uma metodologia SQual4Agri que integre a estimativa da produção agrícola, a gestão da
qualidade e a satisfação dos agricultores com os serviços prestados pelas instituições públicas
de que são beneficiários, permite o desenvolvimento de uma cultura de qualidade.
27
INTRODUÇÃO
1.4. Recolha de Informação
As organizações e as instituições apresentam, por vezes, necessidades específicas que não são
respondidas por abordagens de qualidade, criadas em determinado contexto, ou pela própria evolução
do negócio, ou pelo facto da organização solicitar informações que as metodologias existentes e
testadas não conseguem produzir. Por um lado, a própria dinâmica da gestão da qualidade pressiona
que estes instrumentos sejam continuamente testados e adequados às necessidades das organizações,
do ambiente cultural e do negócio em pauta. Assim surgem propostas de sistemas de qualidade
híbridos (Awasthi, Chauhan, Omrani, & Panahi, 2011; Mota & Nascimento, 2011; Udo, Bagchi, &
Kirs, 2011; Yaya, Marimon, & Fa, 2012) cuja replicabilidade ajuda a determinar sua confiabilidade
e validade, de modo a então poderem permitir dar resposta às mudanças de contexto e às necessidades
das organizações. É, neste sentido, que este estudo pretende dar resposta a algumas carências da
prestação do serviço público no sector agrário cabo-verdiano.
A preparação de um diagnóstico, a partir do qual seja possível recolher informações e
sugestões para uma proposta de metodologia, baseada na estimativa da produção e nos aspetos de
qualidade na gestão da propriedade, considerando a perspetiva do agricultor, a importância de se
aprofundar o conhecimento sobre os aspetos da produção e da qualidade no processo da produção
agrícola, de modo a obter informações, que permitam adequar os serviços públicos, nomeadamente
na otimização da produção, na satisfação do consumidor, no aumento das receitas dos produtores, na
diminuição de impactos ambientais negativos e na partilha equitativa do bem-estar social.
O agricultor e produtor agropecuário cabo-verdiano, assim como outros em todo o mundo
(Mota & Nascimento, 2011), encontra-se inserido numa cadeia de valores e de relações onde ora é
fornecedor/servidor ora é cliente/consumidor/beneficiário. Pelo que, conhecer o seu grau de
satisfação, enquanto cliente/consumidor de políticas e de serviços públicos, é importante para ajudar
as organizações do sector em causa (Simões & Saraiva, 2014; Simões, 2018) a melhor ajustarem os
seus serviços.
Assim, pretende-se indicar caminhos em que as ferramentas da qualidade, com resultados
comprovados positivos, poderão contribuir para a otimização dos recursos, assim como para o
aumento da produção e da produtividade, a melhoria da comunicação, a responsabilização e a
satisfação, no contexto difícil (secas cíclicas, escassez de recursos, investimentos avultados no
aumento da água) da agricultura de regadio em Cabo Verde e dessa forma permitir que a agricultura
contribua para o desenvolvimento económico, para os objetivos do desenvolvimento sustentável e
para a melhoria na qualidade de vida dos produtores.
Com base no arrolamento das parcelas e dos regantes do perímetro de rega da Barragem do
Poilão, elaborado pela Direção Geral da Agricultura, em 2015, constatou-se existir 265 parcelas, que
pertencem a 218 agricultores, numa área total de 90 ha. Para efeitos dos sistemas de rega e
28
INTRODUÇÃO
organização da distribuição da água para rega, estas parcelas encontram-se organizadas em 10 talhões
ou blocos (DSERAN-MDR, 2015). Em função da tendência, devido à falta de água e
consequentemente à existência de menos parcelas e menos agricultores a trabalhar, conseguiu-se
somente 144 respostas. Inicialmente, como população para o inquérito, definiu-se um total de 200
agricultores o que permitiria uma margem de erro de 2%. No entanto, face à tendência mencionada
obteve-se 72% do inicialmente proposto, que permitirá uma margem de erro de 5%. Assim o processo
de recolha das informações ficou aquém do previsto, devido à extrema seca que o país sofreu e à
escassez de água na Barragem, o que levou a que muitos agricultores tivessem abandonado as suas
explorações.
O modelo que se propõe visa ser uma ferramenta capaz de fazer o diagnóstico integrado da
estimativa da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos, da qualidade na gestão da exploração e
da satisfação dos agricultores do perímetro irrigado da Barragem do Poilão, no Concelho de S. Cruz
na ilha de Santiago - Cabo Verde, cuja aplicação possa ser sistematizada, visando avaliar e fornecer
informações para melhorias nas políticas e serviços públicos implementados.
A mesma foi construída usando uma abordagem participativa, construindo-se uma ferramenta
híbrida para obter o diagnóstico de Qualidade-Produção-Satisfação. Para o efeito desenvolveu-se uma
metodologia para a estimativa da produção, ao longo do ano, de hortícolas, frutícolas, raízes e
tubérculos, adequou-se a abordagem 5S às condições específicas das pequenas unidades de produção
agrícola de regadio, assim como o SERVPERF para avaliar a satisfação dos agricultores/produtores,
em relação a sua atividade profissional e aos serviços públicos de que são beneficiários.
Estas três componentes permitiram-nos construir um modelo híbrido, juntando os três
parâmetros: Qualidade-Produção-Satisfação cujos resultados de sua aplicação constituem o modelo
conceptual, que aqui se apresenta no final desta pesquisa. Assim, construiu-se uma metodologia, com
evidências empíricas, para avaliar as práticas locais, de pequena produção agrícola e de como ela
poderá contribuir, no sentido de progressão, para uma agricultura moderna e sustentável, reconhecer
a maturidade da gestão de qualidade por parte dos agricultores para a definição de serviços públicos
no sector agrário ponderados na eficiência e na eficácia, e avaliar o nível de satisfação dos agricultores
em face aos atuais programas implementados de desenvolvimento agrícola.
Seguiu-se uma abordagem integrada Qualidade/Satisfação/Produção, numa primeira fase e
através de Focus Group (FG) e da abordagem Participativa, através da qual foi construído o
questionário, que obedeça a um processo de três fases:1) Teste piloto, proposto a 20 inquiridos, 2)
Teste, proposto a 50 inquiridos, 3) 3º Teste, proposto a 74 inquiridos.
Este processo permitiu ajustar a semântica e adequar-se às necessidades específicas dos
beneficiários. Os dados recolhidos foram tratados, alguns ajustes, no 1º e no 2º Teste, foram feitos,
nas questões enunciadas, de modo a ficarem mais esclarecedoras e compreensíveis.
29
INTRODUÇÃO
Usou-se a abordagem 5S, que é uma ferramenta do pensamento lean, que ajuda a criar a
cultura da disciplina, e pelo SERVPERF para a satisfação, suportado pela ferramenta da Qualidade
SERVQUAL, do qual originou. É suportado por outros estudos, designadamente por Fonseca et al.
(2014), sobre a Estimativa da Produção Hortícola Potencial, no Concelho de Montemor-o-Novo e o
Estudo Sócio Económico dos Produtores/Irrigantes do Perímetro Irrigado da Barragem de Poilão,
realizado em 2015 pelo Ministério do Desenvolvimento Rural de Cabo Verde.
De modo a recolher os dados das culturas, dos sistemas de produção e de mercado, tal como
foi efetuado por Fonseca et al. (2014), foram utilizadas como base experiências anteriores do
Ministério da Agricultura, em Cabo Verde, no levantamento de informações nas explorações
agrícolas, e recorrendo-se à memória retrospetiva dos agricultores, dos últimos 12 meses. Para a
quantificação da produção foi inventariado as unidades de medidas usadas na comercialização dos
produtos e a sua quantificação, assim como foi feito por Fonseca et al. (2014).
Para obter o diagnóstico da qualidade nas explorações agrícolas, recorreu-se ao estudo
diagnóstico da aplicação da abordagem 5S na Ilha de S. Nicolau e na Ilha de Santiago em Cabo Verde
(Simões & Saraiva, 2014; Simões, 2018), com os devidos melhoramentos, introduzidos com a
participação dos agricultores.
A satisfação dos agricultores foi avaliada através da adaptação do SERVPERF, estruturado
num total de 43 itens, em vez dos 22 do SERVPERF, dado o carácter específico do sector agrícola, e
foi acrescentado mais uma dimensão a da satisfação geral.
Com esses três parâmetros (Produção, Qualidade e Satisfação) foi criado e testado um modelo
híbrido, denominado de SQual4Agri - Questionário de Experiência ao Serviço de Qualidade para a
Agricultura (ver Apêndice I).
O instrumento SQual4Agri (S que significa satisfação||SERVPERF||Serviço; Qual=Qualidade;
4=for=para; Agri=Agricultura) é constituído por 93 perguntas, organizadas em três parâmetros: 1)
Produção 2) Diagnóstico dos 5 Sensos e 3) Avaliação da satisfação dos agricultores SERVPERF
Adaptado.
Com vista à construção do instrumento de recolha dos dados, a aplicar no estudo empírico,
partiu-se de uma abordagem participativa, usando um Focus Group de 15 agricultores, todos
produtores agrícolas do perímetro de rega da Barragem do Poilão e que participaram em duas sessões
de trabalho, uma na preparação do primeiro questionário e outra após a realização do teste piloto
(Berg, 2001; Morgan, 1996).
Considerando que a finalidade de realização do Focus Group é melhorar a compreensão de
como as pessoas sentem ou pensam sobre uma ideia, questão, produto ou serviço (Krueger e Casey,
2009), durante estas sessões discutiu-se os tópicos e a sua relevância para os agricultores e cada item
do questionário foi submetido para validação do produtor, visando saber se o item era relevante para
30
INTRODUÇÃO
a sua atividade e se o produtor compreende a sua formulação. Fez-se a sensibilização prévia dos
produtores do Focus Group, no sentido de os informar sobre o estudo e como este pode trazer
informações relevantes para ajudar a resolver os problemas por eles enfrentados.
Assim, o SQual4Agri constituído por 93 itens, resultou do alargamento e melhoria de um
instrumento inicial, construído a partir do questionário diagnóstico dos 5S, de caracterização das
explorações, da produção e do mercado e a Satisfação dos agricultores, face aos serviços públicos de
que são beneficiários, através da adaptação do SERVPERF.
Tal como Pedroso, Pilatti, Gutierrez e Picinin (2014) referem, a opção por esta abordagem
visou selecionar, para a versão final deste instrumento, as melhores perguntas para cada uma das
partes do questionário. O questionário implementado foi o resultado do trabalho deste Focus Group
de 15 agricultores, todos com unidades de produção na Barragem do Poilão, e que, em 2 sessões de
trabalho, ajudaram na sua construção e validação.
O cálculo da Satisfação do agricultor seguiu as recomendações de Zeithaml, Parasuraman e
Berry (1990). Assim, a pontuação média da avaliação de Satisfação, ao longo de cada dimensão, foi
obtida por meio das duas etapas:
1. Para cada respondente, adicionou-se as pontuações do SERVPERF nas respostas pertencentes
à dimensão e depois a soma foi dividida pelo número de perguntas, que compõem as
dimensões;
2. A pontuação obtida na etapa 1 foi adicionado a todos os 144 (N) respondentes e o total
dividido por 144 (N). Os itens 90 a 93 são destinados à avaliação global da satisfação.
As variáveis definidas para este estudo são a produção, na qual se levantam as informações
para caracterizar as unidades de produção, as culturas praticadas, as áreas, quantidades e mercados; a
qualidade onde se avalia o nível de implementação da ferramenta da Qualidade 5S e a satisfação,
através do SERVPERF adaptado, para avaliar o nível de satisfação dos agricultores relativamente aos
serviços públicos de que são beneficiários.
O modelo SERVPERF foi utilizado como base para a construção do questionário SQual4Agri,
para a variável Satisfação. Mantiveram-se as 5 dimensões propostas pelos autores (Zeithmal et al.,
1990), designadamente: Tangibilidade, Fiabilidade, Celeridade/Capacidade de resposta, Garantia e
Empatia, e acrescentou-se mais uma dimensão Satisfação Geral, visando averiguar essencialmente a
sua satisfação de forma geral, o seu compromisso com a atividade e vontade de contribuir para as
melhorias. O número de perguntas em cada dimensão foi substancialmente modificado, quase
dobrado em número de perguntas, pois resultou de um trabalho conjunto com os agricultores. Esta
mudança visou refletir todos os aspetos pertinentes às suas atividades produtivas, num sistema de
policultura e de pequena agricultura familiar. Assim, exceto a dimensão Fiabilidade, que manteve 5
perguntas, e na dimensão Empatia, que registou uma diminuição de perguntas, nas outras três
31
INTRODUÇÃO
dimensões houve um aumento de questões, refletindo as discussões e sugestões dos agricultores
envolvidos no estudo.
A recolha de dados em três fases permitiu adequar a ferramenta às especificidades do
perímetro de rega da barragem e as sucessivas fases permitiram construir a base de dados, que integra
as três fases desta pesquisa.
A Tabela 1 apresenta a correspondência entre cada parte do questionário e os objetivos
específicos (OE) definidos para esta pesquisa.
Tabela 1 - Correspondência entre as perguntas do questionário SQual4Agri e os objetivos específicos da pesquisa
Dimensão
Questões
Objetivos das Questões
Objetivos Específicos da Pesquisa
PARTE I
Caracterização
1, 2, 3, 4, 5, 6,
7, 8, 9, 11
Caracterizar o respondente, a
Unidade de
Produção Agrícola e
recolher informações
da
produção
OE1 - Desenvolver uma metodologia para a
estimativa da produção, ao longo do ano, de
hortícolas, fruteiras, raízes e tubérculos.
Estimativa da
Produção
agrícola em
Policultura
10, 12, 13, 14
PARTE II
Diagnóstico da
Qualidade da
Gestão da
Unidade de
Produção
15 a 50
Conhecer o nível de
preocupação
e de
implementação de
cuidados
na Utilização
de materiais
equipamento e insumos pelo
produtor agrícola
OE2 - Adequar uma metodologia de qualidade,
através da ferramenta 5S, às condições
específicas das pequenas unidades
de produção
agrícola de regadio.
PARTE III
Diagnóstico da
Satisfação dos
Agricultores
51 a 93
Conhecer como o
produtor
agrícola avalia a Tangibilidade
dos serviços prestados
pelo
Ministério da Agricultura
OE3 - Adequar a metodologia de qualidade
SERVPERF para avaliar a satisfação dos
agricultores/produtores, em relação a sua
atividade profissional e aos serviços públicos de
que são beneficiários.
O objetivo específico 4 (OE4), em que se pretende desenvolver uma metodologia para a
construção de um modelo híbrido, que junte os três parâmetros: Qualidade-Produção-Satisfação e
com base nos resultados desenvolver um modelo conceptual, que possa ser replicável noutras
barragens, será respondido após análise conjunta dos dados do questionário.
Resumindo, a implementação da metodologia EstProAgri (Estimativa da Produção Agrícola),
aplicado de forma contínua, durante algum tempo, e por ciclos de produção, permite obter estimativas
da produção e da produtividade agrícola das várias culturas neste sistema de produção. A
sistematização das informações e a sua digitalização por períodos de ciclos produtivos podem permitir
fazer estimativas, que reflitam as secas cilícicas do país e, dessa forma, permitir antecipar os deficits
e melhorar as ações de mitigação e aumento da resiliência.
Na primeira parte do instrumento de investigação, apresenta-se a dimensão da Qualidade,
através das variáveis dos 5S, designadamente: os Sensos da utilização, da organização, da limpeza e
zelo, de saúde e da autodisciplina, educação e compromisso.
Na segunda parte, apresenta-se a dimensão da Produção com as variáveis para a caracterização
da unidade de produção e a estimativa da produção agrícola.
32
INTRODUÇÃO
Na terceira parte apresenta-se a dimensão da Satisfação, através do modelo SERVPERF
adaptado, onde se considerou 6 dimensões da Satisfação, designadamente: a Tangibilidade, a
Fiabilidade, a Capacidade de Resposta, a Garantia, a Empatia e a Satisfação Geral.
33
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
CAPÍTULO II
QUALIDADE COMO ELEMENTO
DIFERENCIADOR
“A institucionalização de um sistema de valores da qualidade total, implica alterar,
significativamente, os mecanismos de trabalho e de resolução de problemas, privilegiando o
trabalho pluridisciplinar e as relações interpessoais” (Pires, 2012, p. 68)
A Barragem do Poilão é uma importante infraestruturas hídricas localizada em Cabo Verde,
que desempenha um papel crucial no abastecimento de água para a região e no desenvolvimento da
agricultura local. Sua relevância para o arquipélago de Cabo Verde reside no fato de que a água
proveniente da barragem é utilizada tanto para consumo humano quanto para irrigação agrícola.
No contexto da produção agrícola, a disponibilidade de água proveniente da Barragem do
Poilão é fundamental para o cultivo de diversas culturas, contribuindo para aumentar a produção e
diversificar a agricultura na região. A água fornecida pela barragem permite a implementação de
sistemas de irrigação mais eficientes, possibilitando o crescimento de culturas durante todo o ano e
reduzindo a dependência das condições climáticas.
A produção agrícola em áreas beneficiadas pela Barragem do Poilão é diversificada e inclui
uma ampla gama de culturas, como cereais, frutas, hortaliças e plantas forrageiras. A disponibilidade
de água regular e controlada proveniente da barragem aumenta a produtividade das culturas e
contribui para o desenvolvimento económico da região.
Quanto à qualidade e satisfação na agricultura, a aplicação dos princípios dos cinco sensos
(5S) pode desempenhar um papel importante. Os cinco sensos (5S) - Seiri (utilização), Seiton
(ordem), Seiso (limpeza), Seiketsu (padronização) e Shitsuke (disciplina) - são uma abordagem de
gestão que visa promover um ambiente de trabalho organizado, limpo e eficiente.
Ao aplicar os 5S na agricultura, os agricultores podem otimizar o uso de recursos, melhorar a
organização do espaço de trabalho, manter a limpeza dos equipamentos e ambientes agrícolas,
estabelecer padrões e procedimentos claros e promover a disciplina em todas as etapas da produção.
Isso pode resultar numa maior eficiência operacional, redução de desperdícios, melhoria da qualidade
dos produtos agrícolas e satisfação tanto dos agricultores quanto dos consumidores.
2.1. Qualidade nas Unidades de Produção Agrícola
A estimativa da produção agrícola em Cabo Verde, entre outros aspetos, visa essencialmente
permitir conhecer a capacidade de produção interna dos produtos com vistas ao fornecimento do
mercado doméstico e a garantia da segurança alimentar e nutricional das populações. Para a gestão
34
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
das políticas publicas necessidade premente de obter estimativas mais realistas da produção
agrícola de modo a permitir saber qual a contribuição deste sector para o PIB global, pois, ainda
segundo esta instituição, existe a perceção que o peso da agricultura no PIB (8%) tem sido
subestimado (MDR, 2007-2010). Contudo e não menos importante é conhecer as principais culturas
praticadas, sua importância socioeconómica e, numa segunda perspetiva, conhecer a sua
rentabilidade.
Nesta pesquisa foi importante que em paralelo com as questões da Qualidade houvesse a
estimativa da produção, já que, os aspetos da Qualidade tem um impacto direto na eficiência de uso
de recursos, concomitantemente a avaliação dos progressos da produtividade da produção agrícola
podem também ser corelacionados às melhorias que os programas de Qualidade podem trazer à
produção agrícola, através da melhoria das práticas agrícolas conducentes a um melhor uso dos
recursos mas que façam parte da gestão corrente das explorações agrícolas e portanto parte integrante
das atitudes e ações diárias dos agricultores.
A conjugação dos desafios do desenvolvimento sustentável 1 (Eliminar a Pobreza) e 2 (Fome
Zero), num contexto de escassez de recursos naturais muito especialmente de recursos hídricos e de
solos, obrigam a que os mesmos possam ser utilizados de forma a maximizar os resultados por cada
unidade investido na produção de modo a poder resultar numa maior produção e produtividade
gerando alimentos em quantidade e qualidade que contribuam para a segurança alimentar e
nutricional ao mesmo tempo que resulte em rendimentos para as famílias, contribuindo para a redução
da pobreza.
2.1.1. Qualidade como Diferencial Competitivo
Ao longo do tempo, os aspetos da qualidade têm estado sempre presentes, mesmo na sua
ausência formal, tendo apenas assumido um papel de destaque a partir da segunda metade do século
XX (Davies, 2003). O mesmo autor afirma que existem cinco elementos-chave da qualidade:
Precisão, Permutabilidade, Inspeção, Feedback e Padronização, os quais têm sido desenvolvidos com
o passar do tempo e com a motivação pela satisfação do consumidor.
A qualidade, enquanto palavra polissémica, apresenta significados diferentes para diferentes
indivíduos, sendo avaliada em função da perceção das pessoas e medida em função das suas próprias
experiências.
Para Zeithaml et al. (1990), qualidade corresponde ao conjunto de características essenciais
que satisfazem as expectativas e as necessidades do consumidor, ou seja, qualidade significa fazer
bem à primeira e satisfazer as expectativas dos consumidores com o menor custo possível, apesar da
sua adequada implementação, exigir investimentos na formação e auditorias regulares (Lamprea,
Carreno, Sanchez, 2015).
35
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Desse modo, a qualidade é um elemento diferenciador, que as empresas devem maximizar,
pois a mesma contribui para a sobrevivência, para a melhoria dos processos produtivos (normas e
padrões socioambientais ou sistema e controlo de processos) e para a satisfação dos clientes, que se
devem sentir recompensados quando consomem ou obtêm o respetivo produto/serviço (Godoy, 2009;
Leme & Pinto, 2018).
Segundo Jain e Gupta (2004) e Fragoso e Espinoza (2017), a qualidade engloba uma vantagem
estratégica, através da qual as empresas baseiam a sua tomada de decisão, aumentam a eficiência
operacional, melhoram o desempenho e oferecem produtos/serviços de excelência e personalizados.
Para além disso, a qualidade também contribui para que as empresas possam maximizar as
suas capacidades e recursos, enquanto definem uma cultura laboral e um compromisso com os
membros e os restantes stakeholders (Hilton & Sohal, 2012).
Isto significa que, existirá qualidade na empresa e nos produtos/serviços, se as empresas
conseguirem satisfazer as necessidades e as expetativas dos seus colaboradores, aos quais cabe a
incumbência de reunirem esforços para satisfazer os clientes (Legcevic, 2008).
Esta junção de esforços refere-se às atividades pelas quais as empresas orientam e controlam
a qualidade dos seus processos ou dos produtos/serviços, estendendo-se desde o planeamento e
controlo, até à garantia e melhoria da qualidade. Este conjunto é o que se pode designar por Gestão
da Qualidade (de Carvalho & Paladini, 2012).
Na Gestão da Qualidade, as empresas deverão corresponder às imposições dos clientes,
baseando a sua atuação numa gestão participativa, que lhes assegure a sua sobrevivência, num
mercado cada vez mais competitivo e concorrencial (Soleti & Alves, 2013).
Para isso, as empresas deverão ultrapassar algumas limitações, no que concerne à
implementação dos sistemas de gestão da qualidade, tais como: falta de controlo, ausência de
inspeções no sistema de gestão, desconhecimento das leis e normas vigentes, resistência à mudança
por parte dos colaboradores, existência de falhas de comunicação, difícil acesso às informações, entre
outras (Grael & Oliveira, 2010).
No entanto, a limitação evidenciada por Jain e Gupta (2004) prende-se com a difícil
identificação e mensuração da qualidade, ou seja, as empresas não sabem reconhecer adequadamente
se os seus produtos/serviços apresentam níveis de qualidade que os permitam diferenciar dos
restantes. É, neste contexto, que aparece a necessidade de se estabelecer sistemas de gestão da
qualidade (SGQ), úteis e válidos, para que as empresas possam tomar decisões sobre a qualidade dos
seus produtos/serviços.
De acordo com Kobayashi, Fisher e Gapp (2008), os sistemas de gestão da qualidade variam
de país para país, comunidade ou organização, na forma como são entendidos, na forma como são
36
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
implementados e no seu desempenho, pelo que, em cada um desses contextos, o SGQ deve ser
adequado e adaptado.
Apesar desta necessidade de adaptação, os resultados de experiências em vários países e
contextos têm demonstrado a sua pertinência (Ablanedo-Rosas, Alidaee, Moreno, & Urbina, 2010).
Como se pode observar em diversos estudos (Boca, 2015; Davies, 2003; Jaca, Viles, Paipa-Galeano,
Santos, & Mateo, 2014; Kobayashi et al., 2008), a implementação de uma gestão de qualidade total
melhora a qualidade, aumenta a produtividade, diminui os custos, melhora a rentabilidade, diminui a
preocupação com a saúde e aumenta a qualidade de vida das pessoas.
2.1.2. Qualidade na Cadeia de Produção Agroalimentar
A maior preocupação do consumidor com a saúde e a qualidade tem incrementado a procura
por produtos biológicos, por alimentos “funcionais”, a adesão e o crescimento de movimentos (como
o Slow food), a procura por produtos tradicionais, por produtos produzidos localmente,
testemunhando assim uma mudança de comportamento dos consumidores, em busca de produtos de
qualidade, com características especiais ou produzidos a partir de métodos especiais, considerando
uma maior busca por produtos locais e sazonais, preocupações socioambientais e qualidade
nutricional (CCE, 2008).
A apreensão com a segurança e a qualidade dos alimentos é um dos aspetos de competitividade
das cadeias de produção agroalimentares, na medida em que estas carecem de instrumentos, que
contribuam para a melhoria da gestão da qualidade, ou seja, para além da garantia da qualidade
esperada dos produtos e da qualidade percebida pelo mercado, também é de realçar a qualidade de
conformidade, no que concerne à diminuição de custos de falhas e de perdas, durante a cadeia de
produção agroalimentar (Borrás & De Toledo, 2007).
A qualidade na cadeia de produção agroalimentar é relevante, desde à qualidade objetiva até
à qualidade subjetiva, ou seja, desde às características inerentes ao produto (físicas, nutricionais e
higiénicas) a às necessidades e preferências dos clientes, as quais devem ser satisfeitas pelas
empresas (Santos & Antonelli, 2011).
No mercado da agricultura, o mesmo também ocorre, pelo que, este deve tentar adaptar-se aos
constantes desafios e inovações tecnológicas, passando de uma perspetiva reduzida para uma
perspetiva global, onde o âmago do negócio passe pela qualidade e pela segurança alimentar e onde
subsistam boas relações entre os agricultores e os clientes (Leme & Pinto, 2018).
No contexto de Cabo Verde, face aos constrangimentos naturais, que enfrenta no domínio da
produção agrícola, deve ser realizada uma aposta no conhecimento, de modo a facilitar o processo de
tomada de decisão atempada e coerente à realidade local, nomeadamente o conhecimento da
quantidade de produção, assim como de que forma e em que local é realizada a produção, pois só
37
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
assim se poderão aproveitar as oportunidades de mercado e a otimização dos insumos investidos na
produção agrícola.
Em Cabo Verde predomina a agricultura familiar, cujo desafio passa por valorizar a produção,
a competitividade, a sustentabilidade e a inserção no mercado. Pelo que, estas devem traduzir-se em
aspetos de gestão que antecedam o produto final, nomeadamente em sistemas de gestão da qualidade
(SGQ), que garantam mercados e reduzam as perdas, enquanto proporcionam a sustentabilidade da
produção (Lourenzani, Pinto, Carvalho, & Carmo, 2008).
O trabalho agrícola, de forma geral, encontra-se associado, tal como em qualquer outra
profissão, com doenças e mazelas, que derivam da sua (má) prática. Estas mazelas derivam da
sobrecarga física e mecânica, do corpo humano, tendo efeitos negativos a nível físico e fisiológico,
derivado de intoxicações e contaminações provenientes de químicos e do contacto com parasitas, as
quais irão diminuir a eficiência e eficácia na atividade produtiva, situação que poderá ser revertida
(Ramos, Márquez, Gonzáles, & Mermot 2014).
Desse modo, torna-se importante que os sistemas produtivos na agricultura familiar
considerem estes aspetos, que irão permitir o cumprimento do papel que lhes está destinado numa
produção mais sustentável, que preserve o ambiente, dignifique o agricultor/produtor, os saberes
locais e tradicionais e tenha reflexos na qualidade de vida de todos (Azevedo, 2008).
Assim, para Cruz e Schneider (2010), os alimentos são mais do que meros itens de consumo,
uma vez que refletem estilos de vida e incorporam aspetos simbólicos e imateriais. Este aspeto, aliado
a casos mediatizados de contaminação alimentar, como a crise das vacas loucas, os corantes tóxicos
e Escherichia coli O157:H7, têm contribuído para uma mudança do consumidor, em direção à
valorização de produtos tradicionais, regionais e artesanais.
Como referem Pasche e Ferreira (2010), se a qualidade dos produtos alimentares não for
garantida, então poderá colocar em risco a saúde dos clientes. Pelo que, é fundamental a promulgação
de normas e regras sanitárias, que as empresas deverão cumprir se pretenderem obter vantagens
competitivas e diferenciação, perante as restantes empresas. Este novo cenário pressiona o Estado no
seu papel regulador, a tentar legalizar estes produtos para, posteriormente, submetê-los a normas e
regras sanitárias, que restringem a produção para os pequenos produtores, uma vez que as mesmas
são aplicadas em escalas e contextos de produção diferentes.
Segundo Ploeg (2011, p. 123):
“Os novos mercados emergentes centram-se, muitas vezes, na demanda e na distribuição de
produtos e serviços, que acrescentam um diferencial. Eles diferem dos demais que circulam
nos mercados de “commodities”: a qualidade é superior; a origem é conhecida (se comparada
aos produtos anónimos dos mercados de commodities”); a sua produção é diferente e
incorpora características específicas no produto; incorporam relações diferentes entre
produtores e consumidores; representam diversos graus de acessibilidade; etc. Além disso,
na sua maior parte, os mercados emergentes implicam novos circuitos, novas (e muitas vezes
radicalmente diferentes) infraestruturas físicas e arranjos sociais”.
38
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
No caso da pequena agricultura familiar urge moderar a tentativa hegemónica da
industrialização e repensar as relações na cadeia agroalimentar, de modo a preservar, nesses processos
normativos, os saberes e as tradições locais. Esta posição foi defendida por Wilkinson (2003), que
salienta que os produtos e práticas tradicionais podem promover as estratégias de desenvolvimento
sustentável e que a transição para uma economia da qualidade, que valorize critérios ligados à tradição
e a pequena produção, e essa liderança e normatização deve partir dos governos centrais e locais,
associação de qualidade dos alimentos, produtores, organizações não-governamental, através de redes
e plataformas de coordenação.
2.1.3. Estudos da Gestão da Qualidade em Organizações Agrícolas
No contexto brasileiro, nomeadamente no Município de São Carlos, os autores Lima e Toledo
(2003) realizaram um estudo, com o objetivo de identificar a relevância da perceção e da adoção de
boas práticas de gestão da qualidade, por parte de agricultores. A amostra do estudo é constituída por
33 agricultores familiares de hortaliças e baseada na pesquisa quantitativa, uma vez que foram
aplicados questionários. Os principais resultados mostram que 52% dos agricultores não conhecem
as necessidades dos clientes, o que pode ser influenciado pelo desconhecimento das exigências legais
e da utilização de determinados aspetos, tais como: agrotóxicos, embalamento, descarte de lixo e
reflorestamento. Para 64% dos agricultores inquiridos, as empresas fornecedoras de insumos são o
principal meio de obter informações técnicas sobre a produção (sementes, adubos, etc), sendo que
48% dos agricultores têm como padrão a experiência pessoal, a tradição familiar, enquanto 42%
procuram inovar através da utilização de outras fontes (meios/redes sociais, experiência dos vizinhos,
empresas de pesquisa). Quanto à inspeção dos insumos adquiridos, 70% dos agricultores não realizam
esta tarefa, o que mostra que têm uma relação de confiança com os fornecedores, a qual se reflete na
definição de um padrão de qualidade, que é cumprido por 36% dos agricultores. Na qualidade da
água, 73% dos agricultores não controlam nem realizam análises da água (apenas visualmente), assim
como do solo, que apenas é realizado frequentemente por 24% dos agricultores, o que pode justificar
a perda de produção na ordem dos 10-25%, devido ao não cumprimento das recomendações técnicas,
às doenças, às adversidades naturais e à qualidade de sementes. No que se refere à qualidade dos
produtos, 63% dos agricultores afirmam que oferecem produtos em conformidade com o solicitado,
sendo apenas 35% os agricultores que garantem oferecer produtos com qualidade superior à
solicitada. Isto pode dever-se ao facto de os agricultores pensarem que é necessário um elevado
investimento para a melhoria da qualidade dos seus produtos, aliado à um baixo rendimento e
pagamento por parte dos clientes.
Também no Brasil, na região de Sertãozinho-SP, os autores Borrás e De Toledo (2007)
realizaram um estudo, com o objetivo de abordar a coordenação da qualidade nas cadeias de produção
agroalimentares. Para o efeito, elaboraram um Método para Coordenação da Qualidade (MCQ) e uma
39
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Estrutura para Coordenação da Qualidade (ECQ), os quais foram aplicados num workshop, onde
estiveram presentes 9 representantes da média gerência de 3 fábricas e 4 produtores rurais
fornecedores de cana-de-açúcar. Os principais resultados mostram que o MCQ/ECQ servem para
diminuir as diferenças entre os atributos de qualidade percebidos e os efetivamente realizados,
nomeadamente na organização da cadeia de produção agroalimentar, na correta identificação dos
requisitos de qualidade dos clientes e do ambiente de trabalho, na definição de um sistema de
informações de confiança e eficácia, na visão partilhada de objetivos, na atuação equilibrada do
agente coordenador e integrador dos interesses coletivos.
Lourenzani et al. (2008), também no Brasil, tinham como objetivo descrever a experiência de
um projeto de extensão de capacidades de gestão de agricultores familiares na região Alta Paulista.
Para isso, os autores contaram com uma amostra de 150 produtores em 7 municípios da região, tendo
observado uma boa capacitação de produtores familiares nas práticas associadas à gestão integrada
da propriedade rural, assim como que a difusão de conhecimento e de ferramentas permitem uma
maior integração dos produtores rurais nos mercados locais e regionais; a promoção da troca de
informações entre investigadores e produtores rurais melhoram o modelo de gestão; o apoio da equipa
interinstitucional contribui para o desenvolvimento, sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida
nas áreas rurais.
O estudo de Pasche e Ferreira (2010) serviu para identificar as etapas/fases da qualidade nas
agroindústrias de Marau-RS, assim como para identificar as ações realizadas por estas empresas, no
que se refere à gestão da qualidade e as respetivas ferramentas utilizadas. Para o efeito, os autores
elaboraram uma pesquisa exploratória em 15 agroindústrias, do setor dos lacticínios, das carnes, da
moagem de farinha fina de milho, da moagem de farinha de trigo e de produção de ração. As
principais conclusões mostram que as agroindústrias privilegiam ações direcionadas para a qualidade
dos seus produtos e das matérias-primas, sendo realizadas pelos órgãos fiscalizadores, à exceção das
empresas de grande dimensão. Nas etapas/fases da qualidade, estas empresas situam-se na garantia
da qualidade (60%), seguidas da gestão estratégica (20%). Para além disso, estas empresas tentam
seguir as regras e normas relacionadas com a inspeção dos sistemas, no setor das carnes e, com a
manutenção da higiene no local de trabalho, em todos os outros setores, adotando dessa forma,
algumas ferramentas de qualidade (boas práticas de fabricação, controlo estatístico de processo, folha
para recolha de dados, PDCA, círculos de controlo da qualidade (CCQ), matriz de prioridades, 5S,
diagrama de causa-efeito, fluxograma, histograma, gráfico de controlo, diagrama de atividades,
normas ISO 9000:2000, ISO 14000, OSHAS 18000). Com a aplicação destas ferramentas, as
empresas conseguem produzir mais produtos e vender para mais mercados, sobretudo externos.
No estudo de Santos e Antonelli (2011), os autores pretendiam identificar quais as ferramentas
e técnicas estatísticas mais utilizadas nas indústrias de alimentos de média e grande dimensão, no
40
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
estado de São Paulo, Brasil, para controlar a qualidade e a segurança alimentar. Para isso, aplicaram
um questionário de autopreenchimento, onde obtiveram os seguintes resultados: o nível de
maturidade da gestão da qualidade carece de melhorias, para que as ferramentas e técnicas mais
complexas, sejam maximizadas, bem como a aplicação do Seis Sigma contribui de forma positiva
para o crescimento dos profissionais, uma vez que permite que estes consigam uma melhoria da
produtividade, ganhos financeiros, aumento da satisfação dos clientes e mudança de cultura.
No estudo de Gobis e Campanatti (2012), os autores tinham como objetivo analisar as
principais abordagens de gestão da qualidade: Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos
Padrões de Higiene Operacional (PPHO), Implementação do Sistema-Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controlo (APPCC)), nas indústrias do setor alimentar, do Brasil. Para o efeito, os autores
elaboraram uma revisão bibliográfica, de modo a evidenciar a necessidade das indústrias na
implementação de um sistema de gestão da qualidade. Como principais conclusões, enumera-se a
necessidade de adaptação para a prestação de um serviço de qualidade; maximização de recursos;
evolução na capacidade produtiva, de operação e de gestão; melhores condições de segurança
alimentar, comerciais e sanitárias; diminuição de riscos e prejuízos.
2.2. Abordagem 5S no Setor Agrícola
O desenvolvimento de uma economia de qualidade obriga necessariamente a uma aposta na
Qualidade, que “pode ser encarada como sendo a cultura da empresa que permite fornecer produtos
e serviços capazes de satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes” (Pires, 2012, p. 67), cuja
implementação deverá partir da base e, de forma transversal, permitindo a sua apropriação por todos
os intervenientes.
Para que tal se realize, as empresas devem apostar em formação, na sensibilização e em
ferramentas de gestão da Qualidade, o que será determinante para o sucesso. Segundo Borrás e De
Toledo (2007), as ferramentas de gestão da qualidade devem considerar o desenvolvimento de
métodos de apoio à coordenação da qualidade, assim como, capacitar os membros das empresas a
estabelecer, aceitar, processar, divulgar e utilizar informações, que permitam orientar as estratégias
de qualidade.
Estas estratégias irão permitir que as empresas evidenciem a qualidade dos seus
produtos/serviços perante as restantes, enquanto atraem e fidelizam mais clientes, através da
satisfação das suas necessidades e expetativas. Ou seja, as empresas deverão estar conscientes da
obtenção e da manutenção dos benefícios, que irão receber com estas estratégias (De Carvalho &
Paladini, 2012).
Nesta perspetiva, surgem diversas ferramentas de gestão da qualidade, das quais Rossato,
Boligon e Medeiros (2016) destacam:
41
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Action), as empresas devem Planear, Fazer, Verificar e Agir
consoante as mudanças e processos que pretendem ver implementados;
Seis Sigmas, contribui para a melhoria do desempenho das empresas, assim como, para a
satisfação dos clientes, através de uma estratégia de gestão baseada na eliminação das falhas
nos produtos/serviços;
Benchmarking, ocorre quando as empresas comparam os processos, com o objetivo de
aperfeiçoar os mesmos;
Diagrama de causa e efeito ou Diagrama de Ishikawa, define a relação entre o efeito e a causa
do processo que exercem influência sobre os resultados da empresa;
Kaizen, pode ser aplicada desde a maquinaria, equipamento, recursos, processos até à
qualidade do produto/serviço;
Kanban, serve como forma de controlo da produção e dos materiais, nomeadamente no just-
in-time;
Quality Function Deployment (QFD), passa por quatro fases: planeamento do produto,
desenvolvimento dos elementos, planeamento do processo e planeamento da produção;
Círculos de Controlo de Qualidade (CCQ), ocorre quando os colaboradores se reúnem para
debater temáticas relacionadas com a qualidade na empresa, para posteriormente proceder à
respetiva implementação;
Service Quality (SERVQUAL) e Service Performance (SERVPERF), ambas abordagens da
qualidade evidenciadas nesta pesquisa;
Cinco Sensos (5S), como uma das principais abordagens da gestão da qualidade.
2.2.1. Abordagem Evolutiva dos 5S
Os 5 Sensos são uma das abordagens de gestão da qualidade, com o objetivo de avaliar a
qualidade dos serviços e implementar melhorias nas empresas, que permitam que as mesmas criem
um ambiente de trabalho limpo e com boas relações entre todos os colaboradores, o que irá traduzir-
se no aumento do desempenho, no aumento da satisfação dos clientes, numa maior qualidade dos
produtos/serviços e numa maior motivação dos colaboradores (Mannes, Pitz, Fraga & Martins, 2018).
Os 5S têm sido aplicados com sucesso em empresas e indústrias de diversos ramos e com
contribuições para a produção sustentável, através da otimização dos recursos. Esta atuação, no
contexto de escassez de recursos, no panorama cabo-verdiano, pode contribuir para a promoção da
pequena agricultura, incentivando a eficiência e a eficácia na utilização dos recursos disponíveis,
desenvolvendo os aspetos da sustentabilidade e aumentando a satisfação do agricultor e,
consequentemente, do cliente.
42
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
O conceito dos 5S teve a sua origem no Japão, baseando-se na filosofia de vida e da cultura
japonesa, defensora dos valores da cooperação, do respeito, da confiança e da harmonia, os quais
contribuíram para a assimilação dos 5S nas práticas operativas desse país (Jaca et al., 2014).
Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão perdeu inúmeros recursos e apresentava uma
situação económica devastada, a qual foi recuperada rapidamente devido à forte aposta na qualidade,
o que se refletiu na diminuição do desperdício, na reestruturação do país, na necessidade de
organização e maximização de espaço físico (Marek, 2015).
A formalização do termo 5S deu-se em 1980, por Takashi Osada (Lamprea et al., 2015), que
pretendia implementar uma abordagem precursora da Gestão de Qualidade Total (TQM), uma vez
que esta prática de origem japonesa pode ser implementada em qualquer organização, ou em diversos
aspetos de vida, devido à sua simplicidade e obtenção de resultados positivos na alteração de
comportamentos e na diminuição de custos (Chen, 2009; Ferreira, Lagoeiro, Gugliotti, Vendrame, &
da Silva, 2014).
Contudo, a obtenção de resultados positivos depende da interpretação adequada da
implementação da metodologia, ou seja, para que exista mudança é necessário definir bases de
qualidade para a melhoria contínua (Simões, 2018).
Os 5S são Seiri (Utilização), Seiton (Ordenação), Seiso (Limpeza ou Zelo), Seiketsu (Saúde e
Padronização) e Shitsuke (Autodisciplina e Compromisso).
O Seiri refere-se ao processo de utilizar, o que requer que a equipa remova todos os elementos
não pertencentes ao mesmo, deixando apenas os elementos necessários para a respetiva
tarefa/processo. Alguns dos benefícios do Seiri englobam a melhoria do processamento no ambiente
de trabalho, a diminuição do custo, a resolução do problema do stock e melhoria da área do trabalho
(Shaikh, Alam, Ahmed, Ishtiyak & Hasan, 2015).
O Seiton consiste na ordenação da desordem, no ambiente de trabalho, de forma eficiente, os
elementos necessários que permanecem depois da eliminação da desordem, recorrendo a princípios
ergonómicos e de organização. Os seus benefícios passam por aumentar a eficiência e eficácia da
produção, limitar o tempo na procura dos elementos necessários para a tarefa/processo e melhorar a
segurança no ambiente de trabalho (Shaikh et al., 2015).
O Seiso corresponde à limpeza ou zelo do ambiente de trabalho, das ferramentas, máquinas e
outros equipamentos, de modo a assegurar que tudo permaneça como sendo quase novo. Os seus
benefícios passam pela limpeza do ambiente de trabalho, pelo aumento da eficiência das máquinas,
pela procura de falhas no ambiente de trabalho e pela eliminação de acidentes (Shaikh et al., 2015).
No Seiketsu, o que se pretende é garantir que as três etapas anteriores sejam padronizadas, ou
seja, garantir que todas as tarefas/processos seguem um determinado padrão de trabalho. Por isso, os
seus benefícios englobam o aumento da segurança do ambiente de trabalho, a diminuição da poluição
43
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
gerada pela indústria e a manutenção do hábito de limpeza do ambiente de trabalho entre os
colaboradores da empresa (Shaikh et al., 2015).
Por último, o Shitsuke refere-se à autodisciplina e compromisso, levando a que a empresa
continue os seus processos de melhoria contínua, recorrendo aos restantes 4S, ou seja, os 5S devem
integrar a cultura do negócio e incentivar o sentido de responsabilidade de todos os colaboradores na
empresa. Com isto, os colaboradores tornam-se mais conscientes, a nível individual e de equipa,
assim como, diminuem as falhas derivadas das equipas e melhora as relações entre todos na empresa
(Shaikh et al., 2015).
Os 5S apresentam duas abordagens que remontam ao período da Segunda Guerra Mundial,
uma delas apresentada por Osada (1989 e 1991) e outra apresentada por Hirano (1995, 1996). A sua
aplicação pode ser considerada uma filosofia de vida, na perspetiva de Osada (1991), ou uma
ferramenta de aplicação mais prática, na perspetiva de Hirano (Ho, 1999).
Na Tabela 2 apresenta-se o significado da abordagem 5S e as suas diferenças, nas perspetivas
e nas estruturas desenvolvida por Osada (1989 e 1991) e Hirano (1995 e 1996).
Tabela 2 - Significado dos 5S e as suas diferenças nas perspetivas de Osada e Hirano
5S
(significado
em Inglês)
5S
(significado em
Português)
Takashi Osada
(uma filosofia para a
vida e para os negócios)
Hiroyuki Hirano
(uma ferramenta
para a eliminação
de resíduos)
Sort
Utilização
Distinguir entre o
necessário e
desnecessário, eliminar o
lixo.
Distinguir claramente
os itens necessários
de itens
desnecessários e
eliminar as últimas.
Set in order
Ordenação
Colocar em ordem,
organização. Arrumação
no lugar certo. Isto evita
procuras inúteis.
Arrumação no lugar
certo, o que permite
encontrá-las
facilmente.
Shine
Limpeza e Zelo
Autoinspeção e limpeza é
enfatizada para criar um
local de trabalho
impecável.
Manter o espaço de
trabalho limpo.
Standardise
Saúde e
Padronização
Manter permanentemente
o nível alcançado dos
primeiros 3 S.
Esta é a condição que
é assegurada quando
os três primeiros
sensos são mantidos.
Sustain
Autodisciplina,
Compromisso
Incutir a capacidade de
fazer o que é suposto ser
feito. Este é o Senso mais
crítico e complexo de
implementar.
Faça um hábito de
manter os
procedimentos
estabelecidos.
Fonte: Adaptado de Ho (1999) e Jaca et al. (2004)
44
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Ambos os autores, Osada (1991) e Hirano (1999), propõem a mesma estrutura dos 5S, com
ligeiras diferenças que, no entanto, se complementam. A abordagem de Osada (1991) é mais
conceptual, encarada como estratégia organizacional para o desenvolvimento da aprendizagem e da
mudança, orientada para a melhoria da eficiência e das condições de trabalho. Por outro lado, a
abordagem de Hirano (1999) é mais prática/operativa, dado que é um instrumento que serve para
diminuir desperdícios e diferenciar as empresas dos seus concorrentes (Jaca et al., 2014). Para Osada
(1991), os 5S devem ser considerados como uma filosofia de vida, sendo a metodologia apenas um
exemplo, através da qual as organizações podem aprender. Por isso, para esse autor, o senso de maior
importância é o Shitsuke (disciplina), dado que adota uma abordagem bottom-up, defendendo a sua
aplicação em qualquer ambiente, como uma estratégia para melhorar resultados. Por outro lado,
Hirano (1999) enfatiza os dois primeiros sensos: Seiri (utilização) e Seiton (ordenação), ou seja, a
necessidade de uma aprendizagem sistematizada, através de manuais e outros meios de
aprendizagem, adotando uma abordagem top-down e limitando o uso dos 5S a oito caminhos, todos
relacionados com sistemas de gestão da qualidade, quer na produção, na manufaturação, quer nas
vendas e em auditorias (Kobayashi et al., 2008). Ainda, segundo estes autores, as pesquisas feitas no
Japão, no Reino Unido e nos Estados Unidos, sugerem que os 5S aumentam a produtividade e a
eficiência em todas as empresas envolvidas, realçando que esta abordagem lida com aspetos da
qualidade e da segurança.
Esta metodologia é amplamente utilizada nas indústrias e na manufaturação, por exemplo, as
grandes empresas, como a Toyota e a Boeing, usam os 5S para estabelecer as bases e os padrões para
a resolução dos problemas e a criação de um ambiente de trabalho adequado para as suas equipas
(Ablanedo-Rosas et al., 2010).
O conceito original, desenvolvido por Osada (1991), considera os 5S uma prática válida para
vários ambientes e dimensões da vida. No Japão, este método é considerado um método para a
melhoria do estilo de vida, pois considera que as suas atividades e ações moldam as bases da moral e
da ética, em espaços partilhados, tais como: casa, escola, trabalho (Kobayashi et al., 2008).
As diferenças em termos de abordagem dos 5S não se limitam às existentes entre os seus dois
investigadores, observando-se também entre as interpretações que esta metodologia tem na sua
aplicação entre o Japão, de onde é originária, e o Ocidente (Kobayashi et al., 2008). A Tabela 3
apresenta um resumo das diferenças na interpretação e aplicação das abordagens dos 5S nestes dois
ambientes.
45
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Tabela 3 - Diferenças entre as abordagens dos 5S no Japão e no Ocidente
Abordagem 5S
PRINCÍPIOS
JAPÃO
OCIDENTE
Abordagem
Considerada como uma filosofia
Considerada como um processo,
sistema, instrumento sem uma filosofia
ou propósito definido para o seu uso
Finalidade
Uma plataforma para mudanças e
desenvolvimento com aspetos de
aprendizagem
Um processo organizacional ou
instrumento para atingir mudanças ou
desenvolvimento
Relacionado com
o trabalho
Não é estritamente relacionado
ao trabalho
Diretamente relacionado ao trabalho
Importância
Percebido como necessário e
importante
Reconhecido como importante, mas não
necessário
Benefícios
Para o benefício da organização e
do consumidor
Não consideram que existem benefícios
evidentes com a aplicação dos 5S
Fonte: Adaptado de Kobayashi et al. (2008)
Assim, os sistemas de qualidade e o respetivo valor de avaliação variam de país para país, de
comunidade para comunidade, ou mesmo de organização para organização, tanto na forma como são
interpretadas, como na forma de implementação e do seu próprio desempenho (Ablanedo-Rosas et
al., 2010). Por esse motivo, a abordagem da qualidade 5S deve ser adequada e adaptada a cada um
destes ambientes, como se comprova nos resultados de diversas experiências, em que se mostra a sua
relevância e significância, apesar da parte mais difícil ser a introdução nos aspetos diários dos
indivíduos (Jaca et al., 2014).
Desse modo, é importante conhecer os princípios que suportam os 5 Sensos (5S), para que a
sua aplicação seja compreendida de forma holística, pelos benefícios obtidos nas organizações e não
apenas como a aplicação mecanizada de uma série de atividades, sem conexões, que têm como
finalidade a qualidade total (Jaca et al., 2014; Kobayashi et al., 2008).
A implementação dos 5S tem demonstrado contribuir para a criação de ambientes onde
subsiste a qualidade total. No entanto, exige capacitação das pessoas, no que se refere à
implementação das suas próprias soluções (Ho, 1999). Uma abordagem equilibrada entre o conceito
filosófico e metodológico de Osada (1991) e a abordagem técnica ou instrumental de Hirano (1999),
podem ser a estratégia para atingir os objetivos dos 5S, nomeadamente na obtenção da excelência no
local de trabalho e nos processos produtivos (Kobayashi et al., 2008).
Os 5S, considerados um instrumento Lean da qualidade (Delisle & Freiberg, 2014), são
amplamente utilizados como precursores de sistemas de Total Quality Management (TQM) (Delisle
& Freiberg, 2014; Ho, 1999), tendo provado a sua contribuição no aumento da produtividade, da
qualidade, da segurança e melhorias do ambiente de trabalho, com resultados rápidos e a custos de
implementação baixos. Todavia, o seu sucesso, incide sobre a compreensão da filosofia que a suporta
(Ablanedo-Rosas et al., 2010; Lamprea et al., 2015).
46
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Marek (2015) enumera alguns benefícios dos 5S, onde se destacam: libertação de espaço
físico, reaproveitamento de recursos, diminuição de custos, gestão de tempo, diminuição do cansaço
físico e mental, facilidade no controlo de objetos, melhoria da aparência do local de trabalho,
manutenção e conservação dos equipamentos, prevenção de acidentes, criação de um ambiente de
trabalho mais saudável e agradável, entre outros.
Para além disso, Wazed e Shamsuddin (2009) defendem que os 5S previne a existência de
defeitos e acidentes, assim como a diminuição do desperdício do tempo na pesquisa das melhores
ferramentas, documentação e processo de fabricação. Com isto, o ambiente de trabalho permanece
devidamente organizado, limpo, com eficácia de utilização e de qualidade, com menos falhas a nível
de equipamentos, com mais segurança e higiene no trabalho.
Como referem Wakjira e Singh (2012), se a implementação dos 5S não for bem-sucedida,
então a mesma levará a 5Ds (Delays, Deffects, Dissatisfied customers, Declining profits, Demoralized
employees), ou seja, atrasos na realização das tarefas/processos, que poderão levar a que os
produtos/serviços sejam realizados com defeitos, o que, consequentemente, refletir-se na
insatisfação dos clientes, na diminuição dos lucros e na desmoralização dos colaboradores.
Esta metodologia insere-se, ainda, no conceito Kaizen (Imai, 1986). Kaizen é uma palavra
japonesa, que significa mudança para melhor (ou melhoria contínua), seja em que esfera da vida se
situar. No contexto empresarial, o conceito Kaizen significa diminuir os custos, melhorar a
produtividade e aumentar a rentabilidade (Davies, 2003).
A produtividade engloba a eficiência de utilização dos recursos de um negócio/organização.
Pelo que, pode definir-se como sendo a relação entre a quantidade produzida e os recursos usados
para os produzir, ou seja, a produtividade estende-se desde a eficiência na produção, até ao aumento
da qualidade, que permite a diminuição do trabalho mal feito.
Em suma, o sucesso dos 5S passa pela mudança cultural dos indivíduos envolvidos, assim
como pela aceitação e participação no processo de qualidade, na medida em que todas as pessoas são
elementos-chave na implementação desta abordagem e na obtenção dos resultados previamente
definidos (Marek, 2015). A Figura 4 mostra as cinco fases para que a implementação dos 5S sejam
bem-sucedidos, segundo Sidhu, Kumar e Bajaj (2013).
47
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Figura 4 Fases para uma implementação bem-sucedida dos 5S
Fonte: Adaptado de Sidhu, Kumar e Bajaj (2013)
2.2.2. Estado da Arte dos 5S em Organizações Agrícolas
Santos (2011) elaborou um estudo com o objetivo de analisar a aplicação dos 5S na gestão de
uma propriedade rural, no Brasil. As principais conclusões mostram que a aplicação dos 5S é válida
na obtenção de melhorias na gestão da propriedade rural, uma vez que permite uma melhor
organização, higienização e manutenção da ordem, enquanto maximiza o tempo, os recursos e
aumenta a capacidade produtiva. Para colocar em prática o 1.º senso - Seiri, o autor separou os
elementos necessários dos supérfluos, o que conferiu um ambiente mais espaçoso, mais limpo, com
melhor controlo de stock, mais eficiente, mais produtivo e com mais aproveitamento dos
equipamentos e máquinas. No Seiton (2.º senso), o autor eliminou os elementos supérfluos e ordenou
os restantes, de modo a ter maior acessibilidade e mais segurança no manuseamento dos
equipamentos e máquinas. No Seiso (3.º senso), o autor procedeu à limpeza do ambiente físico, o que
criou um ambiente mais limpo, saudável e com condições para o trabalho em equipa. As principais
limitações encontram-se associadas com a manutenção dos sensos de padronização e disciplina (4.º
e 5.º sensos), as quais deverão ser seguidas pelos colaboradores, de modo que exista mais melhorias
ao longo do tempo.
O estudo de Sidhu, Kumar e Bajaj (2013) teve como objetivo analisar a implementação dos
5S numa indústria da agricultura de pequena escala, de modo a compreender se a mesma permite a
diminuição dos desperdícios, de custos e processos, enquanto aumenta o processo de tomada de
decisão. Os resultados mostram que a implementação dos 5S é válida neste tipo de indústria, pois são
obtidas vantagens decorrentes da mesma, onde se destacam a melhoria contínua do processo
produtivo; a remoção do material residual e o conhecimento sobre cada tipo de material, ferramentas
e equipamentos utilizados (Seiri); a organização dos elementos em cada departamento, a diminuição
da necessidade de inventariação e a diminuição do tempo e do trabalho (Seiton); a limpeza do
48
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
ambiente de trabalho e das máquinas e o aumento de tarefas/processos padronizados (Seiso); o
incentivo moral dos colaboradores, a distribuição de tarefas e responsabilidades por todos os
colaboradores de cada departamento, que ficam a conhecer as suas funções e responsabilidades
(Seiketsu); a integração dos colaboradores na empresa e a existência de recompensas consoante o
desempenho dos colaboradores (Shitsuke).
No estudo de Rojasra e Qureshi (2013), os autores pretendiam observar a implementação dos
5S, numa indústria de pequena escala do sector dos plásticos, localizada em Gujarat (Índia). As
principais conclusões mostram que a implementação dos 5S contribuiu para a eficiência do sistema
produtivo, o qual passou de 67% para 88,8%. Também foram visíveis, a melhoria do desempenho
ambiental, nomeadamente através da diminuição de desperdícios durante a fabricação de produtos,
assim como, a melhoria de limpeza no armazém de matérias-primas e produtos acabados, a melhoria
da utilização da área de trabalho e do ambiente de trabalho, a diminuição de acidentes, a diminuição
da poluição, o aumento do sentido de disciplina e consciência nos colaboradores, a melhoria da
comunicação e das inter-relações humanas, a diminuição de falhas através da prova de erro.
O estudo de Simões e Saraiva (2014) foi realizado na ilha de S. Nicolau, Cabo Verde, com o
objetivo de elaborar um diagnóstico através da implementação dos 5S, no contexto de cinco
explorações agrícolas. Os resultados foram, genericamente muito positivos, tendo o senso
(Utilização) e o 3º senso (Limpeza e Zelo) a menor pontuação, principalmente nos aspetos de remoção
de material desnecessário a atividade e da higienização e saneamento, o que significa que ainda
existem muitas melhorias a serem implementadas. Por sua vez, os sensos com maior pontuação foram
o 2º senso (Ordenação) e o senso (Saúde e Padronização), o que incentiva a implementação de uma
abordagem da qualidade, como o 5S, nas explorações agrícolas em Cabo Verde.
No estudo de Shaikh et al. (2015), o objetivo dos autores passava por analisar a implementação
dos 5S, tendo concluído que os 5S permitem a organização do ambiente de trabalho, levando a
eficiência, a diminuição do desperdício, a otimização da qualidade e da produtividade. Com esta
implementação, as empresas poderão alcançar os seus objetivos, através de processos de melhoria
contínua e de desempenho elevado.
O estudo de Rossato, Boligon e Medeiros (2016) teve como objetivo desenvolver estratégias
para a implementação dos 5S, numa cooperativa do segmento do agronegócio, no Brasil. Os
principais resultados mostram que os 5S contribuem para a melhoria das comunicações internas, do
aproveitamento dos espaços, da eliminação de elementos supérfluos, do aumento de limpeza no
ambiente físico, na padronização dos processos e na economia de tempo e de esforço levado a cabo
pelos colaboradores. No 1º senso (Seiri), os autores criaram um lugar para colocar os elementos não
utilizados, assim como uma prateleira para organizar os papéis e os documentos que o são
frequentemente consultados e elaboraram um fluxograma de classificação dos dados e dos objetos
49
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
necessários e supérfluos. No 2º senso (Seiton), os autores procuraram melhorar o layout das mesas e
das cadeiras, enquanto padronizavam os locais, através de portas, placas, e da elaboração de um
quadro de frequência de uso. No 3º senso (Seiso), os autores enumeraram algumas tarefas para manter
limpo e agradável o ambiente físico, assim como para aumentar a motivação e a produtividade. No
senso (Seiketsu), os autores elaboraram um plano de melhorias, com o intuito de recolher
informações para melhorar as atividades. Por último, no 5º senso (Shitsuke), os autores evidenciaram
a importância da saúde no ambiente de trabalho, a qual se repercute na diminuição de acidentes de
trabalho e na melhoria da qualidade de vida dos colaboradores.
No contexto brasileiro, Batista (2018) analisou a implementação dos 5S, numa propriedade
rural, tendo concluído que a sua aplicação contribuiu para a melhoria da organização, higienização,
maximização do tempo, melhoria da saúde física dos colaboradores e aumento da qualidade do
produto final. As principais limitações foram o facto da gestão nas propriedades rurais não ser
realizada de forma periódica, uma vez que estas não são encaradas como empresas, pelos seus
proprietários, bem como existir resistência à mudança e o facto dos 5S ser ainda pouco explorada
pelos proprietários rurais.
Também no contexto brasileiro, Silva (2018) elaborou um estudo com o objetivo de descrever
a gestão da qualidade, em três empresas de lacticínios, através da implementação de questionários,
baseados nos 5S. Os principais resultados mostram que as três empresas possuem os programas de
qualidade requeridos pelos órgãos competentes, apesar destes serem alvos de resistência por parte
dos colaboradores, assim como pela falta de tempo, pela falta de delegação de responsabilidades pelas
diversas atividades e pela falta de incentivo por parte dos gestores. Contudo, os programas de
qualidade contribuíram para a melhoria do ambiente de trabalho, nomeadamente na limpeza,
organização, segurança, diminuição de acidentes e de desperdícios, acessibilidade dos materiais e
aumento da produtividade. Com estas mudanças, os colaboradores adotaram novos hábitos,
receberam menos reclamações, mostraram-se mais satisfeitos, com menor stress, maior segurança e
mais produtivos.
Em Cabo Verde, Simões (2018) realizou um estudo com o objetivo de diagnosticar o nível de
implementação dos 5S, nos municípios de S. Cruz, S. Domingos e Ribeira Grande, na ilha de
Santiago. Para o efeito, a autora aplicou 34 entrevistas aos proprietários agrícolas, tendo concluído
que o 1º Senso (Utilização) e o 4º Senso (Saúde) foram os menos pontuados. Por sua vez, o 5º Senso
(Autodisciplina) foi o mais pontuado, mostrando dessa forma o interesse dos agricultores na
implementação dos 5S, assim como a sua relevância na introdução de melhorias na gestão,
organização, higienização e eficiência das propriedades rurais alvo de estudo.
50
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
2.3. Aplicação dos 5S como Instrumento de Análise nas Unidades
de Produção Cabo-Verdianas
A implementação dos princípios dos 5S nas unidades de produção agrícola pode trazer
diversos benefícios e contribuir para a melhoria dos processos produtivos. Os 5S são uma abordagem
de gestão que busca promover a organização, limpeza, eficiência e disciplina no ambiente de trabalho.
Ao aplicar os 5S na agricultura, é possível otimizar a utilização dos recursos, melhorar a
produtividade e garantir a qualidade dos produtos agrícolas, em que:
Seiri (utilização): O primeiro "S" refere-se à utilização, ou seja, eliminar o que não é
necessário. Nas unidades de produção agrícola, é importante identificar e eliminar os materiais,
equipamentos e ferramentas desnecessários. Isso contribui para reduzir desperdícios, liberar espaço e
facilitar o acesso aos recursos essenciais para as atividades agrícolas.
Seiton (ordem): O segundo "S" diz respeito à ordem e organização do ambiente de trabalho.
Na agricultura, isso envolve organizar as ferramentas, equipamentos, insumos e demais elementos
utilizados na produção. Ao manter tudo em seu devido lugar, é possível melhorar a eficiência e a
produtividade, reduzir o tempo de busca por materiais e evitar acidentes ou danos aos equipamentos.
Seiso (limpeza): O terceiro "S" refere-se à limpeza do ambiente de trabalho. Na agricultura,
manter a limpeza é fundamental para garantir a saúde das plantas e dos animais, prevenir doenças,
eliminar focos de pragas e melhorar a qualidade dos produtos agrícolas. Além disso, a limpeza
adequada dos equipamentos agrícolas prolonga sua vida útil e contribui para o bom funcionamento.
Seiketsu (padronização): O quarto "S" diz respeito à padronização dos processos. Na
agricultura, estabelecer padrões e procedimentos claros ajuda a garantir a qualidade e a consistência
das atividades agrícolas. Isso inclui padronizar as práticas de plantio, irrigação, colheita,
armazenamento e manejo dos produtos agrícolas. A padronização também facilita a transferência de
conhecimento entre os membros da equipa e contribui para a eficiência operacional.
Shitsuke (disciplina): O quinto "S" envolve a disciplina e o comprometimento com a
aplicação contínua dos 5S. Nas unidades de produção agrícola, é essencial que todos os envolvidos
adotem e sigam os princípios dos 5S de forma consistente. Isso requer treino, conscientização e
envolvimento dos colaboradores. A disciplina assegura a manutenção dos padrões estabelecidos e a
melhoria contínua dos processos produtivos.
A aplicação dos 5S nas unidades de produção agrícola pode resultar em benefícios como o
aumento da eficiência, a redução de custos, a melhoria da qualidade dos produtos agrícolas, a
valorização do ambiente de trabalho e o aumento da satisfação dos colaboradores. É importante que
os gestores e agricultores estejam comprometidos em promover a cultura dos 5S e proporcionar as
condições necessárias para sua implementação efetiva.
51
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
No diagnóstico da implementação dos 5S usou-se a seguinte escala: Conforme (C),
Parcialmente Conforme (PC), Não Conforme (NC) e Não Aplicável (NA), tal como é apresentado no
estudo de Simões & Saraiva (2014).
Para avaliar as questões de cada variável/Senso usou-se genericamente o seguinte critério de
pontuação: Conforme (C) 2 pontos; Parcialmente Conforme (PC) 1 ponto; Não Conforme (NC)
0 pontos, de modo a classificar e quantificar cada Senso.
Igualmente nas questões de escolha múltipla do questionário (ver Apêndice I) foi necessário
atribuir esse mesmo critério de pontuação, de modo a obter-se uma pontuação para cada Senso,
através da seguinte fórmula:
Pontuação = (Soma Pontos x 5) / (N.º Questões do Senso),
para facilitar a análise individual de cada variável/Senso e classificá-lo, numa escala
qualitativa: Mau: 0-2; Insuficiente: 2-4; Suficiente: 4-6; Bom: 6-8; Muito Bom: 8-10.
De seguida apresentar-se-ão os resultados obtidos por cada um dos 5 Sensos.
2.3.1. Senso de Utilização (Seiri)
Para o 1.º Senso de Utilização (Seiri), efetuaram-se catorze perguntas, correspondentes às
questões Q15 a Q19 do Questionário aplicado (conforme Tabela 4).
Tabela 4 - Resultados do diagnóstico do 1º Senso (Seiri)
1.º SENSO DE UTILIZAÇÃO (SEIRI)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q15 - As ferramentas/equipamentos/insumos agrícolas necessários ao
trabalho tem local próprio para sua armazenagem
PC
Q16 - Facilidade de acesso as ferramentas/equipamentos/insumos
agrícolas necessários ao trabalho
PC
Q17 - Estado de conservação das ferramentas/equipamentos/insumos
agrícolas necessários para o trabalho
PC
Q18 - Não existe materiais e objetos em excesso ou desnecessários na
propriedade (sobras de materiais, tubos de rega, bidons, máquinas não
utilizadas, outros)
PC
Q19 - Qual o principal modo de evacuação dos materiais (lixo) na limpeza
PC
PONTUAÇÃO PARCIAL = (soma pontos x 5) / (n.º questões do senso)
5
CLASSIFICAÇÃO
SUFICIENTE
Nesta variável/Senso verifica-se as seguintes conformidades:
No que se refere a ter um local próprio para armazenagem de ferramentas/ equipamentos/
insumos agrícolas: 47,5% está “Conforme”, 19,9% “Não Conforme” e 32,6% “Parcialmente
Conforme” (Q15);
52
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Quanto a facilidade de acesso as ferramentas/equipamentos/insumos agrícolas necessários ao
trabalho: 53,8% tem acesso fácil e 46,2% não tem acesso fácil aos mesmos (Q16);
Para 43,7% dos entrevistados, o estado de conservação das suas ferramentas é adequado,
14,1% “Não está Conforme” e 42,4% está “Parcialmente Conforme” (Q17);
Quanto a existência de material e objetos desnecessários na propriedade observa-se que 49,3%
está “Conforme”, 16,7% está “Parcialmente Conforme” e 34% “Não Conforme” (Q18);
Na evacuação dos materiais (lixo) na limpeza: 49,3% é feito enterrando e/ou queimando o
lixo, e outros 49,3% são evacuados na natureza (Q19).
A avaliação desta última questão (Q19), foi formulada em escolhas múltiplas tendo sido
considerado os seguintes critérios e conformidades: Contentores públicos e/ou contentores privados
C; Enterrados e/ou Queimados PC; Natureza e/ou Outro NC.
Assim, na avaliação do 1.º Senso de Utilização (Seiri) constata-se haver uma avaliação de
SUFICIENTE, com um nível de conformidade de 5, média simples, numa escala de 1 a 10.
Demonstra, assim, um amplo espaço para melhorias desta variável (e.g. evacuação do lixo, existência
de materiais desnecessário e conservação das ferramentas), conforme se pode constatar pela avaliação
das questões particulares.
2.3.2. Senso de Ordenação (Seiton)
Para o 2.º Senso de Ordenação (Seiton), efetuaram-se catorze perguntas, correspondentes às
questões Q20 a Q34 (Tabela 5).
Tabela 5 - Resultados do diagnóstico do 2º Senso (Seiton)
2.º SENSO DE ORDENAÇÃO (SEITON)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q20 - A propriedade esta demarcada e/ou identificada
C
Q21 - As várias sub-parcelas dentro da propriedade estão bem demarcadas
e identificadas
C
Q22 - Existência de tubos de água e/ou outros fios/tubos expostos
impedindo a passagem ou possibilitando acidente
PC
Q23 - Existência de material sucateado na área
PC
Q24 - Objetos de uso pessoal são guardados em local especificado
PC
Q25 - O espaço de circulação permite o tráfego de pessoas e equipamentos
sem perigo de incidentes
C
Q26 - Existência de local próprio para o armazenamento de pesticidas
PC
Q27 - O produtor agrícola verifica os prazos de validade dos pesticidas
C
Q28 - Existência de local adequado para o armazenamento de combustível
PC
Q29 - O produtor agrícola verifica os prazos de validade dos adubos
C
Q30 - O produtor agrícola verifica os prazos de validade das sementes
C
53
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
2.º SENSO DE ORDENAÇÃO (SEITON)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q31 - Existência de equipamento defeituoso aguardando reparo (enxadas,
cultivadoras, pulverizadores, motobombas etc.)
PC
Q32 - Existência de motobomba e tipo de combustível
NC
Q33 - Motobomba está protegida
C
Q34 - Se a motobomba esta protegida, qual tipo de proteção
PC
PONTUAÇÃO PARCIAL = (soma pontos x 5) / (n.º questões do senso)
7
CLASSIFICAÇÃO
BOM
Na avaliação do 2.º Senso de Ordenação (Seiton) verifica-se o seguinte cenário:
A maioria (72,2%) das propriedades está demarcada e/ou identificada; 13,2% não está (Q20);
A mesma tendência também se observa em relação ao parcelamento interno das unidades de
produção, onde se constata que 75% das propriedades tem o parcelamento interno das suas
unidades de produção; 7,6% não têm (Q21);
Relativamente a existência de tubos de água e/ou outros fios/tubos expostos, impedindo a
passagem ou possibilitando acidente, observa-se 24,3% de “Não conformidades” e 52,2% de
situações de “Conformidade” (Q22);
No que refere à existência de material sucateado na área, constata-se 52,6% de
“Conformidade”, 26,7% de “Parcialmente Conforme” e 20,7% de “Não Conformidade”
(Q23);
42,4% dos respondentes informaram ter um local específico, para que objetos de uso pessoal
sejam guardados e 57,7% não tem um local específico para guardar objetos de uso pessoal
(Q24);
Relativamente a espaço de circulação, que permita o tráfego de pessoas e equipamentos, sem
perigo de incidentes, 59% estão “Conforme” e 41% “Não estão Conforme” (Q25);
Relativamente a espaço adequado para o armazenamento de pesticidas, 51,1% responde ter
espaço adequado e 48,9% não tem espaço adequado para armazenar os pesticidas (Q26);
A maioria dos agricultores (83,9%) verifica os prazos de validade dos pesticidas e 16,1% não
faz esta verificação (Q27);
Para os agricultores que utilizam combustível: 57,4% tem um local adequado para a sua
armazenagem e 42,6% não têm (Q28);
A verificação dos prazos de validade dos adubos segue a mesma tendência da dos pesticidas:
73,6% fazem a verificação, no entanto, 26,5% não o faz (Q29);
Esta tendência continua a ser observada na verificação dos prazos de validade das sementes:
87,1% fazem esta verificação e 12,9% não o faz (Q30);
54
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Em termos de equipamentos defeituoso aguardando reparação: 48,8% não os têm e 51,2%
têm equipamento defeituoso a aguardar reparação (Q31);
Dos respondentes, 75,7% não tem motobombas e 24,3% tem (Q32); e 75% usa combustível
fóssil (gasóleo, gasolina, petróleo);
Dos que têm motobombas: 82,9% protegem as suas motobombas e 17,1% não o faz (Q33);
Das motobombas protegidas: 13,8% tem casa de bloco, 6,9% é protegido com chapas de bidon
e 79,3% com palha ou outro (Q34). Para a avaliação desta questão (Q34), foi formulada em
escolhas múltiplas, tendo sido considerado os seguintes critérios e conformidade: Casa de
blocos C; Chapas de bidon PC; Palha ou Outro NC.
Face a estes resultados do 2º Senso de Ordenação (Seiton), obteve-se a pontuação de 7, média
simples, numa escala de 1 a 10, e uma classificação de BOM. Assim como no anterior Senso,
espaço para melhorias (e.g. situações que possibilitam acidentes, local adequado para armazenamento
dos vários produtos e objetos, material sucateado e proteção da motobomba).
2.3.3. Senso de Limpeza e Zelo (Seiso)
Para o 3.º Senso de Limpeza e Zelo (Seiso) efetuaram-se oito perguntas, que correspondem às
perguntas Q35 a Q42 (Tabela 6).
Tabela 6 - Resultados do diagnóstico do 3º Senso (Seiso)
3.º SENSO DE LIMPEZA E ZELO (SEISO)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q35- Existência de ferramentas e material disponível na propriedade para
fazer a limpeza da mesma.
PC
Q36- Com que frequência o produtor faz a limpeza da propriedade e dos
seus anexos
PC
Q37 - Com que frequência o produtor faz a manutenção/limpeza das
ferramentas de trabalho
PC
Q38.1 - Em relação casa de banho, na propriedade tem
C
Q39 - Quais são as principais fontes de sujeiras na propriedade
PC
Q40 - Qual é a principal fonte de energia que o proprietário utiliza para
iluminação
NC
Q41 - Qual o principal modo de evacuação das águas residuais
NC
Q42 - Qual a principal fonte de abastecimento de água
NC
PONTUAÇÃO PARCIAL = (soma pontos x 5) / (n.º questões do senso)
4
CLASSIFICAÇÃO
INSUFICIENTE
55
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Na avaliação do 3.º Senso de Limpeza e Zelo (Seiso) verifica-se que:
Relativamente a ferramentas e material para fazer a limpeza da propriedade: 34,6% dispõe de
material, 24,1% não dispõe e 41,4% não dispõe do material adequado (Q35);
Quanto a frequência da limpeza: 45,8% faz a limpeza a cada quinze dias, 15,3% faz uma vez
por semana e 38,9% usa diferentes frequências (Q36);
No que se refere a frequência da manutenção/limpeza das suas ferramentas: 44,4% está
“Conforme”, 30,6% “Parcialmente Conforme” e 25% “Não Conforme” (Q37);
Em relação à existência de casa de banho na propriedade: 88,9% não tem casa de banho e
11,1% tem casa de banho com retrete (Q38);
Quanto a principal fonte de energia utilizada na iluminação, as respostas variam. No entanto,
80% não usa nenhuma fonte de iluminação, 12,9% usa energias renováveis, 2,9% usa vela,
2,9% usa eletricidade e 1,4% usa petróleo. Assim, verifica-se que 15,7% está “Conforme” e
82,9% “Não está Conforme” (Q39);
A agricultura é a principal fonte de sujeira na propriedade: 87,1% é devido aos restos da
agricultura e 12,9% de outra fonte (Q40);
A evacuação das águas residuais faz-se 100% na natureza (Q41);
A principal fonte de abastecimento de água para consumo é a barragem (75,7%), segue-se o
poço (12,9%), apenas 2,9% tem água canalizada da rede pública. Assim, observa-se 92,8% de
“Não Conformidades” (Q42);
A avaliação das questões Q36, Q37, Q38, Q39, Q41, Q42 foi formulada em escolhas
múltiplas, tendo sido considerado os seguintes critérios:
Q36 e Q37: Todos os dias até uma vez por semana C; de quinze em quinze dias PC;
Superior a quinze dias NC.
Q38: Casa de banho com retrete C; Casa de banho sem retrete PC; Retrete/latrina NC.
Q39: Eletricidade ou energias renováveis C; Gás ou Petróleo PC; Vela ou nenhum NC.
Q41: Esgoto C; Fossa séptica PC; Redor de casa ou Natureza NC.
Q42: Água canalizada de rede pública ou Chafariz C; Autotanque ou cisterna PC; Poço,
Nascente, Levada, Barragem NC.
Face a estes resultados, o Senso de Limpeza e Zelo obteve-se a pontuação de 4, média
simples, numa escala de 1 a10, uma classificação de INSUFICIENTE, demonstrando grande
necessidade de melhorias (e.g. material para limpeza da propriedade, casas de banho e evacuação de
águas residuais e do lixo, energia para a propriedade e água para consumo doméstico).
56
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
2.3.4. Senso de Saúde/Padronização (Seiketsu)
Relativamente ao 4.º Senso de Saúde/Padronização (Seiketsu) efetuaram-se cinco perguntas,
correspondentes às questões Q43 a Q47 (Tabela 7).
Tabela 7 - Resultados do diagnóstico do 4º Senso (Seiketsu)
4.º SENSO DE SAÚDE/PADRONIZAÇÃO (SEIKETSU)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q43- A higiene pessoal do produtor demonstra asseio
PC
Q44- Observam-se condições inseguras suscetíveis de causarem
acidente na área de trabalho
PC
Q45- Os horários de descanso do trabalho e para alimentação são
cumpridos
C
Q46- O produtor protege-se com vestuário adequado quando se
encontra no local de trabalho
PC
Q47- O produtor protege-se com calçado adequado quando se
encontra no local de trabalho
PC
PONTUAÇÃO PARCIAL = (Soma Pontos x 5) / (N.º Questões do
Senso)
7
CLASSIFICAÇÃO
BOM
Na avaliação do 4.º Senso de Saúde/Padronização (Seiketsu) verifica-se que:
Relativamente ao aspeto de higiene pessoal: 46,5% está “Conforme”, 22,2% “Não Conforme”
e 31,3% estão “Parcialmente Conforme” (Q43);
Em relação de situações suscetíveis de causarem acidente, observou-se: 49,3% de
“Conformidade”, 29,7% de “Parcialmente Conforme” e 21% de “Não Conforme” (Q44);
O cumprimento do horário de descanso não é respeitado pela maioria dos proprietários
(75,7%): 15,3% cumpre parcialmente e 9% não cumpre o horário de descanso (Q45);
O uso de vestuário adequado, regista uma “Conformidade” de 50% e os outros 50% precisam
melhorar a sua conformidade neste aspeto (Q46);
Dos respondentes, 44,4% usa calçado adequado no local de trabalho e 55,6% precisa de
melhorias (Q47).
Neste senso, 4º Senso da Saúde/Padronização, obteve-se uma pontuação de 7, média simples,
numa escala de 1 a 10, e uma classificação de BOM. Apesar desta pontuação existem aspetos cujas
melhorias podem contribuir para um ambiente de trabalho mais saudável para o agricultor (e.g. na
higiene pessoal, cumprimento horário descanso, situações suscetíveis de causar acidentes, vestuário
adequado).
57
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
2.3.5. Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso (Shitsuke)
Quanto ao Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso (Shitsuke), efetuaram-se três
perguntas, que correspondem às perguntas Q48 a Q50 (Tabela 8).
Tabela 8 - Resultados do diagnóstico do 5º Senso (Shitsuke)
5º SENSO DE AUTODISCIPLINA, EDUCAÇÃO E
COMPROMISSO (SHITSUKE)
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q48- De forma geral, o produtor considera que os pontos referidos no
questionário são importantes para o bom funcionamento na propriedade
PC
Q49- O produtor estaria disposto a assumir a responsabilidade por
algumas das tarefas referidas no questionário, se isso significasse melhoria
do seu bem-estar e da rendibilidade do seu trabalho.
C
Q50- Qual a motivação para a implementação de um programa de gestão
da qualidade?
C
PONTUAÇÃO PARCIAL = (soma pontos x 5) / (n.º questões do senso)
8
CLASSIFICAÇÃO
BOM
Na avaliação do 5.º Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso (Shitsuke) verifica-se
que:
Os agricultores questionados se consideram que os pontos referidos no questionário o
importantes para o bom funcionamento na propriedade: 56,3% respondeu “Sim” e 32,6%
respondeu “Não”, 11,1% “Não sabe” ou “Não responde”. Este resultado pode espelhar a
necessidade de maior sensibilização e formação dos agricultores em relação as questões de
qualidade (Q48);
No entanto, quando pedido se estariam dispostos a assumir a responsabilidade por algumas
das tarefas referidas no questionário, se isso significasse melhoria e rendibilidade do seu
trabalho: 97,9% respondeu “Sim” (Q49);
A maioria (62,5%) diz ter muita motivação para a implementação de um programa de gestão
de qualidade, 21,5% diz ter alguma motivação, 11,8% tem elevada motivação e 4,2% tem
pouca ou nenhuma motivação (Q50).
Este senso, Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso (Shitsuke), obteve uma
pontuação de 8, média simples, numa escala de 1 a 10, e uma classificação de BOM. No entanto, há
ainda muito trabalho de sensibilização e capacitação do agricultor para as vantagens de ter um
programa de qualidade na sua unidade de produção agrícola.
2.3.6. Considerações sobre a Aplicação Eficaz dos 5S
Assim, pode-se constatar que, relativamente ao 1º Senso de Utilização, importantes melhorias
podem ser introduzidas no sentido da armazenagem e acesso às ferramentas, à sua conservação, à
58
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
eliminação ou reciclagem de materiais desnecessários na propriedade e à evacuação do lixo. Estas
melhorias, para além de melhorarem a organização do espaço de trabalho, podem também diminuir
os custos (Shaikh et al., 2015). Estes resultados assemelham-se aos resultados obtidos por Sidhu et
al. (2013) e Simões & Saraiva (2014).
O Senso de Ordenação, apesar de mais bem avaliado que o anterior, reflete aspetos que
requerem melhorias, nomeadamente algumas situações passíveis de causar acidentes na propriedade,
a existência de material sucateado e/ou a precisar de reparação, circuitos de circulação dentro da
propriedade mal indicados, inexistência de espaços adequados para o armazenamento de insumos e
objetos de uso pessoal. As melhorias neste Senso permitiriam eliminar a desordem, facilitar o acesso
as ferramentas, limitar o tempo na sua procura, melhorar a segurança, aumentar eficiência e eficácia
da produção (Shaikh et al., 2015). Estes resultados assemelham-se aos obtidos por Sidhu et al. (2013),
Simões & Saraiva (2014), Simões (2018). Concomitantemente e conforme os estudos de Rojasara e
Qureshi (2013), estas melhorias contribuem para a eficiência do sistema produtivo, melhoria do
ambiente, diminuição de desperdícios, aumento da limpeza, melhoria da utilização da área de trabalho
e do ambiente de trabalho, diminuição de acidentes, diminuição da poluição, aumento do sentido de
disciplina e consciência nos colaboradores, a melhoria da comunicação.
No que se refere ao 3º Senso de Limpeza e Zelo constata-se uma baixa avaliação, a mais baixa
dos 5 Sensos avaliados. Constata-se, nesta avaliação, a necessidade de melhorias consideráveis nos
aspetos do saneamento (acesso a água potável, energia, evacuação de águas residuais e construção de
casas de banho), que exigem uma atenção mais especifica relativamente à higienização/limpeza das
ferramentas/máquinas de trabalho e da propriedade, para se dar adequado tratamento aos resíduos da
agricultura. Estas melhorias aumentariam a eficiência das ferramentas/máquinas e contribuiriam para
a eliminação de acidentes (Rios, 2016; Shaikh et al., 2015). Tal como se verificou nos estudos de
Sidhu et al. (2013), Simões e Saraiva (2014), Simões (2018), estas melhorias podem, para além dos
já expostos, contribuir para a saúde humana, animal e vegetal e contribuir para uma produção mais
sustentável.
O 4º Senso de Saúde, cuja avaliação se compara a do 2º Senso de Ordenação, apesar de mais
bem avaliado que os outros sensos, apresenta ainda aspetos que carecem de melhorias, nomeadamente
o cumprimento dos horários de descanso, o uso de vestuário adequado a atividade, aspetos de higiene
pessoal (e.g. higiene pessoal depois das atividades laborais) e condições suscetíveis de causar
acidentes.
Com a implementação de um programa de qualidade, através dos 5S, poder-se-ia criar as
condições de padronização das melhorias nos 3 sensos anteriores e, desta forma, melhor garantir a
segurança do ambiente de trabalho, o hábito de limpeza do espaço de trabalho e dos agricultores e
melhorar a gestão dos resíduos produzidos (Simões & Saraiva, 2014; Shaikh et al., 2015). Estas
59
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
melhorias aumentam o comprometimento na melhoria da qualidade, na implementação da
abordagem, no aumento da eficiência na diminuição de riscos, na melhoria do ambiente de trabalho,
na mudança de cultura, no aumento da autoestima dos agricultores e cria as condições de base para a
implementação de programas de qualidade (Rios, 2016).
Por último, o Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso, cuja avaliação foi a
melhor, os respondentes demonstram motivação para implementar um programa de qualidade e que
estariam dispostos a assumir as suas responsabilidades nas tarefas do programa. Contudo, constata-
se igualmente que existe necessidade de se fazer maior sensibilização, de modo a promover maior
responsabilização e uma prática de melhoria contínua. Esse processo contribuiria para uma maior
conscientização dos agricultores, um aumento da perspetiva de trabalho de grupo/equipa e melhorias
do negócio agrícola e na relação com o Estado (Shaikh et al., 2015; Simões, 2018; Simões & Saraiva,
2014).
Estes resultados, que variaram numa pontuação de 4-8, numa escala de 0-10, espelham, por
um lado, que apesar das diferenças de pontuação entre os 5 Sensos, existe já na gestão do agricultor
alguma preocupação sobre os aspetos da qualidade avaliada pela abordagem da qualidade 5S. Mas,
que face à não existência de uma prática de qualidade, nestas unidades de produção, é preciso fazer
uma campanha de sensibilização e um quadro de gestão que valorize a qualidade na gestão destas
pequenas unidades familiares de produção agrícola.
De forma geral, numa escala de 0 a10, as pontuações obtidas para cada variável/Senso, junto
dos 144 agricultores respondentes, na barragem do Poilão, variaram dentro do mesmo senso e entre
os sensos, mesmo quando a classificação é de BOM, constata-se que há muitos itens que podem ser
melhorados. Assim, tal como foi observado no diagnóstico elaborado por Simões & Saraiva (2014) e
Simões (2018), existe necessidade de sensibilização e informação dos agricultores sobre as vantagens
de melhorias, no que se refere às questões de qualidade, nas unidades de produção agrícola em estudo.
Em resumo, os resultados obtidos evidenciam que o 3.º Senso de Limpeza e Zelo (4 -
INSUFICIENTE) demonstra a menor pontuação, o Senso de Utilização (5 - SUFICIENTE)
apresenta a segunda menor pontuação e o 2º Senso de Ordenação, o 4º Senso de Saúde/Padronização
e o 5º Senso de Autodisciplina, Educação e Compromisso foram avaliados com a mesma classificação
(BOM - 7 e 8 na pontuação, respetivamente) foram os mais bem avaliados. A Tabela 9 resume e
apresenta uma visão geral dos diferentes Sensos.
60
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Tabela 9 - Resumo dos resultados quantitativos e qualitativos dos 5 Sensos
Sensos
Pontuação
Classificação
1.º Senso de utilização (seiri)
5
SUFICIENTE
2.º Senso de ordenação (seiton)
7
BOM
3.º Senso de limpeza e zelo (seiso)
4
INSUFICIENTE
4.º Senso de saúde/padronização (seiketsu)
7
BOM
5.º Senso de autodisciplina, educação e compromisso (shitsuke)
8
BOM
Algumas situações constatadas e que carecem de melhorias são:
1. Modo de evacuação do lixo da propriedade e das águas residuais, que se faz maioritariamente
na natureza e que, por ter implicações ambientais e na saúde da população, devem ser
equacionadas;
2. A existência de materiais sucateados em excesso também merecem um trabalho de
esclarecimento junto do público-alvo (e.g. motobombas e pulverizadores avariados ou
inoperantes, bidons velhos e enferrujados, tubos de rega velhos);
3. Aspetos suscetíveis de causar acidentes (e.g. tubos de rega suspensos colocados, no chão ou
aéreo sem sinalização, embalagens metálicas velhas e enferrujadas);
4. Manutenção das ferramentas de trabalho (e.g. enxadas com cabos gastos, pulverizadores com
falta de borrachas);
5. Aspetos de limpeza e higiene na propriedade e higiene do próprio agricultor, pelos impactos
que podem ter na saúde humana, vegetal a animal;
6. O fornecimento de energia para iluminação e o abastecimento de água para consumo
doméstico.
Apesar destes aspetos, que carecem de melhorias significativas, em qua a Figura 5 ilustra
alguns destes aspetos, no entanto, os resultados globais indicam já alguma atenção do agricultor que,
provavelmente, reflete a sua boa motivação (62,5%) para implementar a abordagem 5S.
61
QUALIDADE COMO ELEMENTO DIFERENCIADOR
Figura 5 Diagnóstico dos 5S em fotografia
62
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
CAPÍTULO III
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E
PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGCOLA
“A confiança, ingrediente determinante ao desenvolvimento das economias, depende da
qualidade de todas as relações” (António, Teixeira, & Rosa, 2019, p. 17)
O parâmetro da produção agrícola apresenta informações cruciais sobre diversos aspetos
relacionados à atividade agrícola, que incluem a localização geográfica das unidades de produção, as
pessoas envolvidas na produção, a origem da água utilizada, além de dados específicos sobre os
agricultores.
No que diz respeito à localização, é importante compreender a área geográfica onde ocorre a
produção agrícola, pois isso pode influenciar fatores como o clima, o tipo de solo e as práticas
agrícolas adotadas. Essas informações são relevantes para entender as particularidades de cada região
e a adaptação das culturas às condições locais.
Além disso, conhecer as pessoas envolvidas na produção agrícola é fundamental para
compreender a estrutura social e organizacional das unidades de produção. Isso pode incluir
informações sobre os proprietários das terras, os trabalhadores agrícolas e outros colaboradores
envolvidos nas atividades agrícolas.
A origem da água utilizada na produção também é um aspeto relevante, principalmente em
regiões onde a disponibilidade hídrica é limitada. Conhecer a fonte de água utilizada, como rios,
lagos, poços ou sistemas de irrigação, permite entender a dependência da agricultura em relação ao
abastecimento de água e os desafios associados a esse recurso.
No levantamento das culturas e da produção, são obtidas informações sobre as culturas
cultivadas, a quantidade produzida e os rendimentos obtidos. Esses dados são essenciais para avaliar
a produtividade das unidades de produção agrícola, identificar as principais culturas e monitorizar as
variações ao longo do tempo.
Além disso, é relevante considerar os custos associados à produção agrícola. Isso pode incluir
informações sobre insumos, mão de obra, equipamentos e outros gastos necessários para manter a
atividade agrícola em funcionamento. O conhecimento desses custos auxilia na análise económica da
produção e na tomada de decisões relacionadas à gestão dos recursos disponíveis.
Por fim, a inclusão de informações sobre o acesso ao mercado é fundamental para
compreender o destino dos produtos agrícolas. Saber onde e a quem os agricultores vendem seus
63
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
produtos permite avaliar a procura, identificar oportunidades de mercado e orientar a formulação de
políticas públicas para o setor agrícola.
Em resumo, o parâmetro da produção agrícola fornece informações valiosas sobre a
localização, as pessoas envolvidas, a origem da água, as culturas, a produção e os custos associados,
bem como o acesso ao mercado. Esses dados são essenciais tanto para os produtores, que buscam
melhores estratégias de produção e comercialização, quanto para a formulação de políticas públicas
que visem apoiar e desenvolver o setor agrícola.
3.1. Culturas, Produção e Tendências do Setor Agrícola
Cabo Verde possui um setor agrícola desafiador, uma vez que é um país insular com recursos
naturais limitados e condições climáticas adversas. No entanto, a agricultura desempenha um papel
significativo na economia cabo-verdiana, fornecendo emprego e alimentos para a população local.
As culturas agrícolas em Cabo Verde variam de acordo com as diferentes ilhas e condições
climáticas. Algumas das principais culturas cultivadas no país incluem:
1. Milho e feijões: O milho é uma cultura importante em Cabo Verde, amplamente cultivada em
diversas regiões do país. É uma das principais fontes de carboidratos para a população local.
2. Cana-de-açúcar: A cana-de-açúcar é cultivada principalmente em algumas ilhas, como Santo
Antão, Santiago e São Nicolau, e é usada para a produção de grogue e mel de cana.
3. Raizes e tubérculos: Especialmente a mandioca e a batata-doce, culturas comuns, nas áreas
rurais. São uma fonte essencial de alimento e contribuem para a segurança alimentar.
4. Frutas: Diversas frutas tropicais são cultivadas em Cabo Verde, incluindo banana, papaia,
manga, goiaba e muitos outros.
5. Hortaliças: O cultivo de hortaliças, como tomate, cebola, pimentão e outros, produzidos tanto
para o consumo doméstico como para abastecer o mercado local.
A produção agrícola em Cabo Verde enfrenta desafios significativos devido à escassez de
água, solos pobres e a dependência de importações de alimentos. A maioria das ilhas possui uma
escassa disponibilidade de recursos hídricos, tornando o cultivo dependente de sistemas de irrigação
eficientes e conservação da água.
Além disso, a desertificação e a degradação do solo são questões ambientais sérias que afetam
a produtividade agrícola. A dependência de chuvas irregulares torna o setor altamente vulnerável às
mudanças climáticas e eventos climáticos extremos, como secas.
Cabo Verde tem buscado promover o desenvolvimento sustentável do setor agrícola e reduzir
sua dependência das importações de alimentos. Algumas das tendências e iniciativas recentes
incluem:
64
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
1. Investimento em tecnologias agrícolas: Há um esforço para introduzir tecnologias modernas
na agricultura, como sistemas de irrigação eficientes, práticas de conservação do solo e uso
de sementes resistentes à seca.
2. Diversificação de culturas: O país tenta diversificar as culturas para reduzir a dependência de
poucos produtos agrícolas e melhorar a segurança alimentar e nutricional.
3. Agricultura sustentável e orgânica: Iniciativas para promover a agricultura sustentável e
orgânica têm ganhado destaque, com a adoção de práticas amigas do meio ambiente e o
incentivo à produção local de alimentos saudáveis.
4. Apoio à produção local: O governo cabo-verdiano tem incentivado a compra de produtos
agrícolas locais para fortalecer a economia rural e reduzir a dependência de importações.
3.1.1. Agricultura de Sequeiro, Regadio e Familiar
No que se refere à produção agrícola, esta é normalmente classificada em agricultura de
sequeiro (produção que depende do período das chuvas), na qual se praticam as culturas do milho e
do feijão, e a agricultura de regadio (não depende das chuvas, a sua produção depende do
fornecimento de água através de poços, furos artesianos ou nascentes), onde se pratica a produção de
hortícolas, frutícolas, raízes e tubérculos. A agricultura do regadio é considerada a mais rentável,
que a sua produção pode ser feita ao longo do ano, permitindo que o agricultor e o mercado
apresentem resultados mais estáveis (MAAP, 2005).
A passagem da agricultura de sequeiro, vista como de subsistência, para uma agricultura de
regadio, vista como mais rentável e verdadeiramente de mercado, exige uma forte aposta na
qualidade, cuja avaliação depende muito da perceção das pessoas, uma vez que esta é medida em
função das suas próprias experiências (PAENCE/CV, 2017).
Uma alternativa de produção de qualidade adequada para regiões com escassos recursos
hídricos é a produção em estufa, nomeadamente da cultura hidropónica, que carece de uma forma
intensiva e efetiva de produção, ou seja, sem uso do solo, utilizando apenas água e nutrientes não-
orgânicos (Atab, Smallbone & Roskilly, 2016; Putra & Yuliando, 2015).
Algumas das vantagens da cultura hidropónica, segundo Putra e Yuliando (2015), passam pela
melhoria do rendimento, aumento da produção (10 vezes mais do que na cultura tradicional),
oportunidade de cultivar sem solos (apenas 10% do território em Cabo Verde é arável) e respeito
pelas políticas ambientais (diminuição do uso de fertilizantes, eliminação da lixiviação de nutrientes).
Outra alternativa de produção recomendada para regiões com déficit hídrico passa pelo
desenvolvimento, através da biologia molecular ou transgénica, de plantas resistentes aos escassos
recursos hídricos e a elevadas temperaturas, que possuam maior eficiência na utilização da água.
Também podem ser reutilizadas as águas residuais, devendo estas serem devidamente tratadas para o
efeito (Filho et al., 2014).
65
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Para além disso, as zonas de produção agrícola de regadio em Cabo Verde são caracterizadas
por apresentarem unidades de produção agrícola (UPA), que se assemelham a sistemas de produção
agrícola familiar de pequena escala.
A relevância da produção agrícola familiar levou a que as Nações Unidas determinassem o
ano de 2014 como o ano Internacional da Agricultura Familiar, em Cabo Verde 60% da população
total dedica-se a produção agropecuária em unidades familiares tradicionais . Para além disso,
também é essencial o papel que a agricultura familiar desempenha na segurança alimentar mundial e
na preservação de alimentos tradicionais, assim como a sua contribuição para uma alimentação
equilibrada, a proteção da agrobiodiversidade, o uso sustentável de recursos, o impulso que pode dar
às economias locais e os seus efeitos positivos na proteção social e no bem-estar das comunidades,
desde que salvaguardadas em políticas públicas específicas (ACTUAR, 2014; FAO, 2019).
Estima-se que existam 570 milhões de explorações agrícolas em todo o mundo, das quais mais
de 500 milhões podem ser considerados como sendo de agricultura familiar, destas 475 milhões de
explorações agrícolas têm menos de 2 hectares (Lowder, Skoet, & Singh, 2014). De modo a que a
agricultura familiar seja produtiva e geradora da rendimentos, alguns países definem instrumentos de
política pública, a que os agricultores podem recorrer, como é o caso da Estratégia Nacional de
Segurança Alimentar (ENSAN), Programa Nacional de Segurança Alimentar (PNSA), Estratégia de
Crescimento e de Redução da Pobreza (ECRP), Plano Nacional de Investimento Agrícola (PNIA),
Programa Nacional de Luta contra a Pobreza (PNLP), o Programa Nacional de Nutrição e o Programa
Nacional de Alimentação Escolar.
Com estas políticas e instrumentos, as entidades responsáveis pela sua implementação
esperam observar uma melhoria das condições de processamento, conservação e transporte dos
produtos agrícolas excedentes e distribuí-los nos mercados locais e indústria hoteleira, enquanto são
delineadas ações que garantam uma gestão participativa dos recursos naturais existentes (água, solos,
reflorestação, entre outros). Esta gestão adequada dos recursos é realizada através de financiamentos
a fundo perdido, microcrédito e linhas de apoio destinadas à agricultura familiar (ACTUAR, 2014).
3.1.2. Hortas como Unidades de Produção Familiares
As explorações agrícolas de regadio familiares em Cabo Verde são diversificadas, uma vez
que são constituídas essencialmente por hortícolas, frutícolas, raízes, tubérculos e cana-de-açúcar, em
sistema de policultura e em dimensões que variam de 0,2 hectares a 2 hectares. Nestas dimensões,
estas unidades de exploração podem ser consideradas “hortas” (Fonseca et al., 2014).
Segundo Kumar e Nair (2004), as hortas consistem em parcelas pequenas dedicadas ao
cultivo, parcial ou total, de ervas, frutas ou vegetais para autoconsumo. Apesar das suas dimensões,
diversos estudos (Nair, 2001; Reyes-Garcia et al., 2012; Smith & Jehlicka, 2013) sobre hortas
66
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
tropicais, têm demonstrado que elas cumprem funções ecológicas, económicas e sociais e ajudam a
explicar a manutenção desses ecossistemas (Reyes-Garcia et al., 2012).
A nível ecológico, as hortas permitem a melhoria do ciclo de nutrientes e a conservação da
diversidade genética das espécies (Kabir & Webb, 2008; Kumar & Nair, 2004; Scales & Marsden,
2008).
A nível económico, as hortas contribuem para o aumento da produtividade e da segurança
alimentar, levando a que exista uma maior eficiência monetária e maiores fluxos de energia (Cai,
Luo, & Nan, 2004; Wezel & Bender, 2003).
O estudo realizado por Fonseca et al. (2014) sobre a estimativa de produção hortícola no
concelho de Montemor-o-Novo, esclarece que as hortas servem como um complemento da reforma
ou poupança para os agricultores e respetivos filhos, na medida em que apenas compram o que não
conseguem cultivar ou o que fica mais dispendioso no seu cultivo.
Por sua vez, a nível social, as hortas estreitam as relações sociais e familiares, devido à troca
de produtos agrícolas com as suas famílias ou com os seus vizinhos, enquanto melhoram a saúde e
qualidade de vida das famílias, ou seja, as pessoas sabem o que consomem, pois, são elas ou os seus
familiares que plantam essas colheitas (Fonseca et al., 2014; Shillington, 2008).
Também os estudos realizados por Reyes-Garcia et al. (2012), feito na Península Ibérica, na
zona montanhosa dos Pirenéus, informa que a produção destas hortas se destina essencialmente ao
autoconsumo. Não obstante, não é este o caso da produção em Cabo Verde em sistemas similares,
dado que, por um lado, a produção é destinada ao mercado, sem excluir o consumo da família. Por
outro lado, estes sistemas assemelham-se ao sistema de produção em Cabo Verde, no que concerne à
aplicação de métodos químicos para controlo de pragas e sistemas de rega. No perímetro da Barragem
do Poilão, a mão-de-obra utilizada é a mão-de-obra familiar associada à assalariada ocasionalmente.
A estratégia dominante das explorações agrícolas baseia-se na produção para a venda, sendo esta
última conjugada com a preocupação de autossuficiência alimentar da família (DSERAN-MDR,
2015).
Como exposto numa notícia, no Land Portal Foundation (2017), a respeito da segurança
alimentar das hortas em Cabo Verde, verifica-se que tem vindo a aumentar o número de agricultores
interessados neste sistema de produção, devido, em grande parte, aos apoios disponibilizados pela
FAO e pelo Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde. Estes apoios podem ser justificados
pelo facto da maioria das famílias urbanas pobres despenderem aproximadamente de 80% do seu
rendimento na alimentação, tornando-se vulneráveis quando ocorre a subida do preço dos alimentos
ou a diminuição dos seus rendimentos. Desse modo, com essa ajuda, os agricultores poderão oferecer,
de forma contínua, alimentos frescos e nutritivos aos seus clientes, enquanto diminuem os seus gastos
com a alimentação, pois praticam o autoconsumo da sua produção.
67
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Segundo Schneider (2016), subsistem quatro tipos de mercado, onde se enquadram os
agricultores familiares:
1. No mercado de proximidade são estabelecidas relações de troca direta, que incidem sobre a
autogestão e subsidiariedade, sendo os mais frequentes as iniciativas de economia solidária
ou venda direta face-a-face ou porta-a-porta;
2. O mercado local e territorial, caracteriza-se pela existência de trocas, pela distribuição e
circulação dos produtos e mercadorias, realizada por um intermediário e pelo cumprimento
de mecanismos de controlo e regulação (certificação de produtos, diferenciação de preços,
entre outros);
3. O mercado tradicional, caracteriza-se pelo elevado risco e incerteza, assim como, pela
dificuldade no controlo e regulação;
4. O mercado público e institucional, caracteriza-se pela existência de uma elevada
regulamentação e controlo formal, pelos elevados preços comparativamente ao mercado
tradicional, tendo como exemplo, o comércio justo.
No contexto do comércio justo, aparecem diversas teorias do desenvolvimento, com os seus
respetivos pontos fortes, a nível mundial, mas também os seus pontos fracos. Um dos conceitos que,
tem trazido novas formas de pensar o desenvolvimento, é o desenvolvimento sustentável, que traz
para a realidade a necessidade de uma avaliação do desenvolvimento, não apenas do seu ponto de
vista do crescimento quantitativo, Produto Interno Bruto (PIB), mas também qualitativo (redução da
pobreza e melhoria da qualidade de vida), levando a que a agricultura familiar apresente, nos últimos
anos, um novo impulso na contribuição dada ao desenvolvimento sustentável (Ramos et al., 2014;
Sousa, Khan, & Passos, 2004).
3.1.3. Sustentabilidade na Produção Agrícola
Na implementação de mudanças, evidenciam-se a adoção do conceito de quiet sustainability
(sustentabilidade silenciosa), que, segundo Smith e Jehlicka (2013), se refere à valorização das
práticas da sustentabilidade, quer ambientais, quer sociais, independentemente das transações de
mercado, ou seja, são as práticas diárias que englobam a partilha, a reparação e a troca de produção
agrícola, terras ou infraestruturas básicas.
Para que exista uma quiet sustainability é essencial a análise das práticas e motivações da
produção agrícola para o autoconsumo, o qual tem sido negligenciado na Europa Oriental,
relacionando-a com sinais de qualidade e sustentabilidade pelos seus impactos sociais e ambientais,
assim como a necessidade de mudanças de comportamento dos decisores económicos, no sentido de
se considerar outras dimensões da vida social e no desenvolvimento de políticas ambientais. Assim,
a aposta na qualidade da produção agrícola familiar (ou da pequena agricultura), para além dos
68
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
importantes ganhos económicos que pode propiciar, poderá, de igual modo, desempenhar um
importante papel social e cultural.
Esta aposta na quiet sustainability deverá considerar algumas políticas de planeamento, que
estimulem a jardinagem produtiva, assim como atenuem os impostos sobre equipamentos de
jardinagem e sementes e sejam representados por figuras públicas capazes de influenciar as outras
pessoas (Smith & Jehlicka, 2013).
Neste sentido, Ferreira (2016) acrescenta que a agricultura também deverá ser modernizada e
reconvertida, através de novas formas de embalamento, distribuição e transporte, bem como pelo
aumento da indústria da transformação e por um estreitamento de relações entre os agricultores e o
Governo, que permita uma cooperação e participação dos diversos atores envolvidos neste processo.
Nesta linha de pensamento, MAHOT (2014) delineou sete prioridades a nível nacional, que
foram publicadas na Estratégia Nacional e Plano de Ação para a Conservação da Biodiversidade
2015-2030:
1. Envolvimento da sociedade na conservação da biodiversidade, onde se engloba a população,
as organizações públicas e privadas, organizações não-governamentais (ONGs) e outras
associações. É importante este envolvimento, uma vez que permite reconhecer qual a
disponibilidade dos alimentos e dos recursos, que irão ser imputados nas mais diversas
atividades económicas, saúde, lazer, entre outros;
2. Integração da biodiversidade na estratégia, planos, políticas e programas de ação, de modo a
identificar os benefícios e os custos da deterioração e privação da biodiversidade, assim como,
estimular os investimentos e suscitar o interesse das empresas no momento de implementar
os projetos;
3. Diminuição das pressões e ameaças sobre a biodiversidade marinha e terrestre, nomeadamente
sobre a exploração em excesso dos recursos marinhos e terrestres, a degradação de habitats, a
presença de espécies invasoras, a má gestão organizacional e legislativa;
4. Conservação de habitats prioritários e gestão sustentável dos recursos naturais, incidindo
sobre as espécies em vias de extinção e sobre o património genético de espécies de valor
económico e cultural relacionados à agricultura e pecuária;
5. Valorização e aumento da resiliência dos ecossistemas, que irão influenciar a alimentação, a
matéria-prima para a economia, saúde e lazer e os restantes recursos, pelo que, deverá ser
realizado um esforço na preservação dos ecossistemas em detrimento do elevado investimento
na sua recuperação;
6. Aumento do conhecimento, monitorização e avaliação da biodiversidade, de modo a perceber
se a conservação está a ser realizada adequadamente, quais os resultados obtidos e se carece
de reajustamentos;
69
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
7. Mobilização de fundos, através de recursos internacionais e nacionais (fundos multilaterais,
cooperações bilaterais e de ONG) que assegurem a implementação da Estratégia Nacional e
Plano de Ação para a Conservação da Biodiversidade.
3.1.4. Estudos, Pesquisas e Tendências da Produção Agrícola
No estudo realizado por Nair (2001), o autor pretendia elaborar uma abordagem sobre o ciclo
de nutrientes nos sistemas agrícolas e florestais, de modo a compreender qual o grau de
insustentabilidade nos mesmos. As principais conclusões obtidas mostram que os sistemas
contribuem para o sustento das famílias dos agricultores, apesar de existir uma preocupação com os
mesmos, no que se refere a questões de queima, escassez de alimentos, problemas ambientais,
desmatamento, erosão dos solos, entre outros.
O estudo realizado por Wilkinson (2003), tinha como objetivo analisar as alterações ocorridas
na organização económica e institucional do sistema agroalimentar na América Latina, de modo a
avaliar as oportunidades e os desafios apresentados para a agricultura familiar e as comunidades rurais
tradicionais. Os principais resultados mostram a existência de reinserção de grupos de pequenos
produtores, baseada em inovações organizacionais e tecnológicas, assim como a passagem para uma
economia de qualidade, uma maior relação entre a pequena produção e o meio ambiente e o ambiente
rural.
No estudo realizado por Lima (2005), no Rio Grande do Sul (Brasil), o autor pretendia analisar
o processo de conversão agroecológica na agricultura, sobretudo as condições socioeconómicas,
tecnológicas e ambientais. Para o efeito, foi aplicada a Teoria e Método de Sistemas Agrários, em 4
microrregiões agrícolas e, em 2 formas de agricultura (convencional, produzida por agricultores
familiares e patronais e, agroecológica, produzida por pequenos agricultores familiares). A conversão
deu-se através da substituição dos sistemas produtivos mais intensivos por práticas baseadas em
processos biológicos. As principais conclusões mostram que a conversão agroecológica passa por
uma alternativa económica para os agricultores, garantindo-lhes resultados económicos maiores,
comparativamente aos anteriores sistemas praticados.
O estudo realizado por Miller, Jr, & Leeuwen (2006), tinha como objetivo analisar, de que
forma, sobreviveram as hortas e outras práticas agrícolas tradicionais depois da conquista europeia
da Amazónia. Os principais resultados mostram as consequências resultantes desta conquista:
epidemias, guerras, escravidão. Para além disso, os autores verificaram que existem hortas que
sobreviveram, as quais foram cultivadas com árvores frutíferas asiáticas, assim como, que as hortas
próximas dos centros urbanos servem para gerar rendimentos, enquanto as que se encontram
próximas das áreas rurais, servem para subsistência das famílias e para o cultivo de novas espécies
de árvores e aplicação de técnicas de cultivo. Com isto, as hortas servem para desenvolver os sistemas
agroflorestais e como alternativas para o desenvolvimento agrícola na Amazónia.
70
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
No estudo de Montagnini (2006), o autor pretendia analisar as hortas existentes na
Mesoamérica, tendo concluído que estas hortas contribuem para criar produtos de elevado valor, para
promover a segurança alimentar, para utilizar técnicas de gestão de resíduos, para incentivar a
reciclagem, a conservação de nutrientes e a sustentabilidade das hortas na região.
O estudo realizado por Peyre, Guidal, Wiersum, & Bongers (2006), tinha como objetivo
analisar a dinâmica estrutural e funcional de 30 hortas, em Kerala, Índia, de modo a avaliar as
tendências de sustentabilidade socioeconómica e de sustentabilidade ecológica. As principais
conclusões mostram a existência de 6 tipos diferentes de hortas, desde as tradicionais até as mais
modernas, sendo que 50% das hortas apresentavam características tradicionais, enquanto 33%
apresentavam características modernas, tais como: diminuição da diversidade de árvores/arbustos,
limitação de espécies de culturas comerciais, aumento de plantas ornamentais, homogeneização
gradual da estrutura da horta e aumento do uso de insumos externos.
No estudo realizado por Guilhoto, Azzoni, & Silveira (2007), no Brasil, os autores pretendiam
avaliar a importância do agronegócio familiar. Para isso, os autores utilizaram um método baseado
na avaliação do Produto Interno Bruto (PIB), numa amostra de 27 unidades de insumo-produto inter-
regional, do setor agropecuário e de outros setores relacionados com a agropecuária. As principais
conclusões mostram que o agronegócio participa com 10% para o total do PIB nacional, assim como
que as características regionais (desempenho da pequena e larga escala de produção) exercem
influência no tipo de atividade, do produto e da distribuição do território. Também se verifica que a
agricultura familiar contribui para a mitigação do êxodo rural e da desigualdade social, entre o campo
e a cidade, na medida em que permite criar riqueza em todos os níveis do país.
O estudo de Maroyi (2009) tinha como objetivo analisar dados sobre a contribuição de hortas
domésticas para a subsistência dos residentes nas áreas rurais, em Nhema, no Zimbábue. Para isso, o
autor procedeu a recolha de dados através de inventários de plantas, observações diretas e aplicação
de questionários e entrevistas a 18 famílias. Os principais resultados mostram que existem 69 espécies
de plantas, quer para uso doméstico, quer para uso comercial, nomeadamente tubérculos, legumes e
árvores frutíferas. Para além disso, também se observou que as hortas domésticas serviam de
ocupação para a população rural, nas quais investiam aproximadamente 48 horas de trabalho/família
mensalmente. Desse modo, essas hortas contribuíam para um rendimento extra, que permitia
melhorar a qualidade de vida das pessoas, diminuir a pobreza e estimular o crescimento económico e
a sustentabilidade.
A Direção Geral de Planeamento, Orçamento e Gestão (MDR, 2011) elaborou um relatório
sobre as estimativas de produção do sector agropecuário, no período de 2007-2010. Para isso,
implementou uma revisão e avaliação das metodologias utilizadas anteriormente nos diferentes
subsectores, assim como uma análise de relatórios de estudos e inquéritos existentes, uma recolha de
71
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
dados no terreno pelas Delegações do Ministério do Desenvolvimento Rural e outras estruturas, uma
análise de fontes administrativas, cálculos, comparação e verificação da consistência com os dados
de diferentes fontes e a subsequente validação dos resultados. Os principais resultados mostram que
no sector hortícola, a maior parte da semente comercializada durante um ano é utilizada ao longo
desse ano, apesar das vendas de sementes permitirem a produção do ano seguinte. Nas árvores
frutíferas, o peso (toneladas) da produção das frutas manteve-se estável, durante o período 2007-
2010. Quanto ao café, a sua produção anual variou entre 26-36 toneladas, sobretudo, do café do Fogo
(71-85% da produção total). Apesar do café de S. Antão ter aumentado a sua produção de 5.4
toneladas para 8.5 toneladas, ou seja, 58% de crescimento. Na vinha, a quantidade de uva utilizada
pelas 2 unidades de produção é de aproximadamente 75% da produção total de uva. Já a produção de
cana-de-açúcar, tem sido considerada estável, apesar de alguns sectores da cana-de-açúcar terem sido
transformados em culturas hortícolas. Por último, a cultura de sequeiro atingiu o patamar, em 2008,
com 13.4369 toneladas, tendo diminuído em 2009 (12.065 toneladas) e aumentado, em 2010, com
12.581 toneladas.
O estudo realizado por Ploeg (2011), tinha como objetivo elaborar uma reflexão crítica sobre
os processos de desenvolvimento rural, no Brasil, na União Europeia e na China. Desta reflexão
retiraram-se as seguintes ilações: os processos de desenvolvimento rural servem como capacidade de
respostas às falhas de mercado, onde se pretende que exista uma construção ativa do agrupamento de
novos mercados.
No estudo realizado por Ventura e Andrade (2011), no Brasil, os autores tinham como objetivo
apresentar a policultura no semiárido, a qual foi concebida pelo Instituto de Permacultura da Bahia.
Para o efeito, foram aplicadas tecnologias sociais simples, que envolveram o conhecimento popular
e de técnicos, numa amostra de 65 comunidades rurais, em quatro municípios do Estado da Bahia. Os
principais resultados mostram que os agricultores implementaram mudanças nas propriedades da
terra, levando a um maior respeito pelo ambiente, a eliminação de técnicas destrutivas (queimadas),
a harmonização entre produção e natureza, maior consciencialização sobre o clima, empoderamento
das comunidades no processo de tomada de decisões, alterações sociais, económicas e ambientais.
Para além disso, este projeto de policultura no semiárido, pode ser facilmente replicável, uma vez que
é simples e de baixo custo. Contudo, para tal, foi essencial o apoio do Instituto de Permacultura da
Bahia, organização não-governamental, já que permitiu o envolvimento dos agricultores familiares,
em todas as atividades realizadas.
O estudo realizado por Reyes-García et al. (2012) tinha como objetivo descrever as hortas
domésticas em três áreas rurais da Península Ibérica, assim como apresentar as respetivas motivações
e os benefícios financeiros das culturas. Para isso os autores, observaram 252 hortas domésticas, as
quais contavam com 202 gerentes (121 homens e 81 mulheres), em 58 aldeias. Os principais
72
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
resultados confirmam que as motivações para a cultura nas hortas, devem-se mais ao modo de vida
dos inquiridos (hobby, tradições, etc.) do que aos motivos económicos, o que pode ser justificado
pelo facto de estas estarem reformadas ou não trabalharem no sector primário. Para além disso, os
inquiridos gostam de manter o controlo sobre os alimentos que ingerem, nomeadamente na
quantidade de produtos químicos utilizados em frutas e legumes, bem como na qualidade e sabor dos
mesmos, em detrimento dos produtos comercializados nos mercados.
No estudo de Smith e Jehlicka (2013), os autores pretendiam observar estilos de vida
sustentáveis, no que se refere aos sistemas alimentares, na Polónia e na República Checa. Para isso,
elaboraram uma pesquisa quantitativa e qualitativa, durante o período 2005-2011, tendo concluído a
existência de sustentabilidade silenciosa, ou seja, práticas comuns que originam resultados sociais ou
ambientais com benefícios, que não estão relacionados de forma direta ou indireta, com as transações
de mercado, nem com os seus profissionais. Também se verificou que as ações e políticas procuram
proteger e alargar as práticas e os espaços de sustentabilidade silenciosa, pelo que se aconselha a sua
constante revisão e atualização.
O relatório elaborado por Fonseca et al (2014), sobre a estimativa da produção hortícola
potencial no concelho de Montemor-o-Novo, tinha como objetivo contribuir para aumentar os
conhecimentos sobre a visibilidade da produção alimentar. Para isso, a equipa do ICAAM realizou
um estudo exploratório, numa amostra de 116 explorações agrícolas, de modo a saber quais as
necessidades da população local e qual o grau de autonomia alimentar do concelho. Os principais
resultados mostram que para a maioria dos inquiridos, o destino da produção da horta é para consumo
próprio ou da família, para troca com vizinhos e conhecidos ou para doação a instituições de
solidariedade social e lares de idosos. Quanto à venda dos produtos, esta é realizada por poucas
pessoas, uma vez que não se querem comprometer a garantir determinadas quantidades de produtos.
As pessoas que desejam vender, por vezes, não o fazem devido à falta de terreno, de água, de terem
produção reduzida ou desconhecerem os canais de escoamento. Para isso, algumas pessoas reuniram-
se e montaram redes, ou seja, uma pessoa reúne a produção das outras e vende tudo no mercado, ou
então optam por vender a particulares e conhecidos.
No estudo realizado por Lowder et al. (2014), os autores pretendiam fornecer uma estimativa
do número total de explorações agrícolas, a nível mundial e regional. Para isso, foram utilizados dados
do Censo Mundial da Agricultura, tendo concluído que existem pelo menos de 570 milhões de
explorações agrícolas, das quais 500 milhões, pertencem à agricultores familiares. Para além disso,
também se verificou que a distribuição das terras agrícolas era inferior nos países de baixo e médio
rendimento.
O estudo realizado por Martins, Alvalá e Tomasella (2014), tinha como objetivo analisar os
principais modelos agrometeorológicos, utilizados a nível mundial, assim como, as aplicações,
73
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
vantagens e limitações, que permitem subsidiar o planeamento e controlo da cultura agrícola,
sobretudo, a agricultura de sequeiro. Os principais resultados mostram que as perdas agrícolas são
um fator preocupante nos países, pelo que exigem ações rápidas, de modo a evitar prejuízos
económico-sociais. Por isso, estes modelos devem ser considerados como valiosas ferramentas, em
períodos de crise, pelo que devem englobar um esforço multidisciplinar, com peritos de diversas
áreas, no processo de tomada de decisão.
No estudo realizado por Oliveira, Azevedo, Araújo e Mantovani (2016), os autores pretendiam
avaliar a produtividade de áreas irrigadas sob o cultivo da cultura de milho, através de imagens de
satélite e de um modelo multiespectral, de modo a comparar os dados de produtividade com os dados
reais de campo. As principais conclusões mostram que existe um elevado nível de precisão na
resolução espacial, sendo este modelo eficiente para prever a produtividade da cultura, quer de forma
espacial, quer de forma temporal.
O estudo realizado por Sapkota et al. (2016) tinha como objetivo elaborar uma síntese sobre
os métodos mais modernos de estimativa do rendimento de cultura, assim como das suas vantagens
e desvantagens. Os autores concluíram que os modelos de colheita e de controlo remoto são
ferramentas valiosas na estimativa de produção, devendo ser validadas antes da sua utilização, por
parte dos pequenos agricultores, nos seus sistemas de produção. Para além disso, a estimativa do
rendimento de cultura na agricultura de pequena dimensão enfrenta diversos desafios, tais como: o
desempenho em desigual proporção das culturas, o plantio contínuo, a cultura mista, o
amadurecimento por fases de muitas culturas, um período de colheita alargado, áreas plantadas não
são iguais às áreas onde se realiza a colheita e o rendimento da colheita, nos pequenos agricultores.
3.1.5. Desafios e Potencialidades da Produção Agrícola Cabo-
Verdiana
A FAO, em conjunto com o Governo de Cabo Verde e com outros parceiros, estabeleceu um
Quadro Programático do País (QPP) para o período de 2018 a 2022, com o objetivo de delimitar as
prioridades das grandes políticas nacionais de desenvolvimento. O QPP baseia a sua atuação em três
pilares:
1. Reforço da segurança alimentar e nutricional, nomeadamente nos grupos mais
desfavorecidos;
2. Garantir o aumento dos rendimentos da população ativa, através do crescimento em setores
económicos-chave (Economia Verde e Economia Azul);
3. Desenvolver abordagens integradas e inovadoras para a gestão sustentável e participada dos
recursos naturais.
74
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Outras iniciativas levadas a cabo pela FAO, no contexto de Cabo Verde, referem-se a um
projeto sobre agricultura urbana e periurbana, um projeto de floresta urbana e periurbana e o Programa
de Emergência para Mitigação da Seca e do Mau Ano Agrícola (PEMSMAA). Todos estes projetos
têm como finalidade garantir a sustentabilidade da agricultura, diminuir a dependência da importação,
melhorar a segurança alimentar, diminuir a pobreza, criar empregos e prevenir os efeitos das
mudanças climáticas e das chuvas erráticas.
No que concerne à estimativa de produção noutro tipo de sistemas, destacam-se os sistemas
de monocultura em orografias planas e extensas, a qual é realizada com recurso à deteção remota
através de imagens de satélite. A dificuldade coloca-se na estimativa da produção em sistemas de
policultura, na pequena produção e em orografias montanhosas.
Esta última corresponde a sistemas de produção característicos do cenário agrícola cabo-
verdiano, assemelha-se em muito aos sistemas agroflorestais nos trópicos, aparentemente rentáveis e
sustentáveis, apesar de ainda pouco conhecidos. No entanto, contrariamente aos sistemas
agroflorestais tropicais, que são naturais, a paisagem agrícola cabo-verdiana é toda ela o produto de
um constructo do Homem, marcado pelos vários períodos da sua História, desde o seu descobrimento.
De facto, Correia e Silva (1996, p. 134) refere que em Cabo Verde “…a localização diferencial de
atividades económicas (pecuária extensiva, agricultura extensiva, comércio, etc.) no espaço, isto é, a
sua repartição pelas várias ilhas e regiões não é casual nem tão pouco resultado de escolha livre e
arbitrária dos homens.”
Contudo e apesar da sua aparente fragilidade, estes sistemas assim como os sistemas
agroflorestais tropicais fornecem o sustento para milhares de famílias e ainda abastece o mercado
interno de frescos, ao longo do ano, desafiando desta forma o paradigma da superioridade do mercado
da economia neoclássico (Nair, 2001).
Um dos desafios em Cabo Verde passa por vencer a dispersão dos 40.000 hectares de terra
arável (10% do território nacional), situados nas diferentes ilhas, cuja orografia é essencialmente
montanhosa, enquanto se compreende e estima a produção em sistema de policultura em pequenas
parcelas, que irão permitir a diminuição da volatilidade dos preços e desenvolver a escala em termos
de oferta, quer para o mercado interno, quer para a exportação (Gomes, Robaina, Peiter, Soares, F. &
Parizi, 2014).
A respeito da volatilidade dos preços, Moreira (2018) destaca a dificuldade dos agricultores
em conseguirem apostar em novas técnicas de rega, devido à baixa condição económica e
rendimentos dos mesmos, ou seja, os agricultores, ao não terem acesso a uma linha de crédito, que
lhes permita investir e modernizar na agricultura, poderão tornar a sua produção obsoleta.
A juntar a estes fatores, é de realçar a dificuldade por parte dos agricultores em adotarem o
sistema de rega gota-a-gota, assim como, a dificuldade em aceder aos mercados por terem uma
75
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
logística ineficiente, uma reduzida capacidade institucional e humana, uma inexistência/ escassez de
produtos certificados (qualidade, origem e biológico) e lidarem com a massificação do sector do
turismo (PAENCE/CV, 2017).
A certificação, dos produtos agrícolas produzidos em Cabo Verde, nomeadamente os
resultantes da agricultura familiar, pode contribuir para acrescentar valor e proporcionar o acesso ao
mercado de turismo, assim como, para melhorar a eficiência e eficácia do processo de qualidade, na
rotina dos colaboradores e nos produtos (Chen, 2009; Godoy, Belinazo, & Pedrazzi, 2001; Simões &
Saraiva, 2014).
É de realçar, ainda, o desconhecimento da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos, o
que pode contribuir para a implementação de serviços públicos, que nem sempre são adequadas ou
coerentes com as necessidades do desenvolvimento da região, refletindo-se nos baixos investimentos
na investigação, no ensino e na capacitação e remetendo para o eterno paradoxo entre o “peso fraco”
da agricultura e o seu “peso imprescindível” nas economias nacionais (Cuvillier, 2006).
Apesar destes desafios, é essencial satisfazer os desejos dos consumidores, pelo que, as
abordagens de qualidade devem atribuir esta responsabilidade a todos os elementos da empresa
(Ablanedo-Rosas et al., 2010; Ho, 1999; Mota & Nascimento, 2011).
Durante os últimos tempos, têm-se observado que os agricultores não estão satisfeitos,
conforme noticiado pelo Jornal A Nação (2018), onde se expressa que existe uma má gestão de água,
resultante de um inadequado sistema de rega por alagamento e sem pagamento, da seca registada em
2017 e da falta de investimento em sistemas de rega gota-a-gota, o que levou ao esgotamento de água
da Barragem de Poilão e, consequentemente, a uma inadequada produção agrícola e a diminuição do
rendimento dos agricultores. Assim, se a parte que fornece o serviço (agricultores) está insatisfeita,
então essa insatisfação será repercutida na relação com os representantes dos serviços públicos, na
comunicação com os mesmos e na sua motivação profissional, com impactos na produção e no uso
eficiente de recursos disponibilizados.
Por esse motivo, a qualidade de vida dos agricultores e, por inerência de toda a população,
que se sustenta desta cadeia de valor, depende do padrão da produção agrícola de Cabo Verde, pelo
que, devem ser implementadas mudanças significativas, quer a nível social, quer a nível ambiental
(Ramos et al., 2014).
3.2. Estimativa da Produção Agrícola no perímetro de rega da
Barragem do Poilão
A estimativa de produção agrícola, a produção de cereais, oleaginosas, açúcar, carnes e
lacticínios tem sido feita através de técnicas de previsão numérica, baseada na agrometeorologia
76
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
(Gomes et al., 2014), em modelos matemáticos (Oliveira et al., 2016) e, desde 1970, através da
deteção remota (Lobell, Thau, Seifert, Engle, & Little, 2015).
Estas estimativas encontram-se disponibilizadas pela FAO, nos seus relatórios e sistema
estatísticos. A FAO também disponibiliza estimativas de produção referente à produção de hortícolas,
frutas, raízes e tubérculos, através de dados que recolhe dos países membros. No entanto, a recolha
destas informações é feita de acordo com os critérios de cada país, não havendo uma metodologia
única que seja utilizada por todos, ou alternativas de metodologias, que possam responder aos
desafios de cada sistema agrícola praticada pelos diferentes países.
Visando conhecer melhor a realidade no perímetro de rega da Barragem do Poilão Cabo
Verde, desenvolveu-se uma ferramenta de diagnóstico, denominada SQual4Agri, que foi organizada
de modo a conhecer os aspetos da Produção, da Qualidade nas unidades de produção e a Satisfação
dos agricultores.
O parâmetro da produção apresenta informações sobre a localização, as pessoas envolvidas e
a origem da água, as informações do agricultor, as informações relativas aos últimos 12 meses, para
efetuar o levantamento das culturas, da produção e de alguns custos. Face à importância do mercado,
para estes produtores e para a política pública deste sector, introduziuse informações sobre o acesso
ao mercado, onde se procura saber onde e a quem o produtor vende os seus produtos.
Este parâmetro estrutura-se em 14 perguntas, das quais 10 são referentes à caracterização geral
dos produtores e 4 ao levantamento dos dados da produção, incluindo o acesso ao mercado. A Tabela
10 apresenta as variáveis da dimensão Produção.
Tabela 10 - Variáveis da dimensão Produção
VARIÁVEIS
SIGNIFICA
Caracterização da unidade de
produção Agrícola
Localização, nº pessoas envolvidas, origem da água
Estimativa da produção
agrícola em Policultura
Áreas, culturas produzidas e quantidades, consumo familiar e
custo da água e onde comercializam os seus produtos
As áreas das parcelas dos agricultores foram obtidas com recurso a aparelhos de Global
Positioning System (GPS), que foram usados pelos inquiridores.
Para a estimativa da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos nestas unidades de
produção, os aspetos que serão avaliados são a produção (quantidade) e a produtividade (quantidade
produzido/área da produção). Definiu-se a primeira como toneladas ou quilos de produtos produzidos,
ao longo de um ano, e a segunda, para efeitos deste estudo, apenas como o quociente entre as
quantidades de produtos hortofrutícolas, raízes e tubérculos produzidos, ao longo do ano, e a área em
77
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
que foi produzido, conforme definido pela Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1950. Outras
dimensões da produtividade não serão consideradas para quantificar a produção, que os agricultores
normalmente não utilizam balanças, fez-se então a identificação, caracterização e quantificação das
unidades de medida utilizadas para a comercialização dos produtos.
Tendo em conta que a policultura é o sistema de produção maioritariamente utilizado no
regadio em Cabo Verde, o número de culturas, em cada unidade de produção agrícola, é por vezes
elevado. Por isso, para simplificação, as culturas serão agregadas em três diferentes grupos: 1)
hortícolas; 2) frutícolas; 3) raízes e tubérculos, conforme a divisão proposta pelos serviços do
Ministério de Desenvolvimento Rural de Cabo Verde (MDR). Assim, ter-se-á dentro desta agregação
as culturas conforme discriminado na Tabela 11.
Tabela 11 - Classificação das Culturas
Classificação
Culturas que a compõe
Hortícolas
Tomate, pimentão, repolho, cenoura, alface, couve, cebola, melancia, pepino,
beringela, beterraba, abóbora, abobrinha, coentro, salsa, outros
Frutícolas
Banana, papaia, manga, outros
Raízes e
tubérculos
Batata-doce, batata comum, mandioca, outros
As estimativas da produção apresentadas pelo Ministério de Agricultura de Cabo Verde são
realizadas com base em trabalhos de grupos de especialistas, que, através da consulta de fontes de
informação suscetíveis (e.g. relatórios, quantidade de sementes vendidas, etc.) permitem estimar a
produção e elaborar projeções. Pelo que, estas projeções não beneficiam de uma metodologia para
aferição com os dados reais do campo e, principalmente, em culturas hortofrutícolas, tubérculos e
raízes de regadio, essencialmente, em policultura.
Com esta estimativa da produção, nas unidades de produção agrícola da Barragem do Poilão,
em Santiago, pretende-se, por um lado, desenvolver um instrumento metodológico de seguimento e
recolha de informações da produção, nestas pequenas unidades de produção, já que, atualmente, não
existe, e, por outro, com base nos dados obtidos, perceber a sua contribuição social e económica
(Costa, Gomes, Lírio, & Braga, 2013).
À semelhança da metodologia seguida por Fonseca et al. (2014), para estimar a produção
hortícola no concelho de Montemor-o-Novo (Portugal), o questionário, apresentado no Apêndice I,
foi adaptado às condições do perímetro da barragem e na estimativa da produção, devido a dados
específicos, que se procuram, as perguntas são fechadas.
78
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
3.2.1. Caracterização das Unidades de Produção
Os agricultores respondentes que participaram neste estudo iniciaram as suas atividades no
domínio da produção agrícola, no perímetro de rega da Barragem do Poilão após a construção da
mesma. A água armazenada por esta infraestrutura destina-se exclusivamente para a produção
agropecuária, com maior relevância para a produção de hortícolas, frutícolas, raízes e tubérculos, em
regime de policultura, e consorciação inseridas em explorações agrícolas pequenas e familiar. A
Tabela 12 apresenta resumidamente os dados socioeconómicos obtidos para a maioria dos
respondentes, de modo a permitir caracterizar as unidades de produção, alvo deste estudo.
Tabela 12 - Resumo da caracterização da unidade de produção
Unidade de produção
Dados socioeconómicos
Q1 - Identificação
144 entrevistados
Q2 - Género
67,4% Masculino / 32,6 Feminino
Q3 - Idade
56,3% mais de 45 anos a)
Q4 - Estado civil
69,4% solteiro
Q5 - Nº elementos do agregado familiar
5,44 (média)
Q6 - Nº trabalhadores sazonais
3,18 (média)
Q7 - Habilitações literárias
81,2% EBI+Secundário
Q8 - Se tem outra profissão para além de agricultor
54,2% não tem outra profissão
Q9 - Área e localização das propriedades:
69,3% em Poilão e Ribeira Seca
Q9.1 - Número de parcelas por agricultor
1,28 parcelas/agricultor
Q9.2 - Área das parcelas do agricultor
1802,75
Q9.5 - Forma de exploração da terra
66% é dono
Q9.6 - Sistema de rega usado
57% gota a gota; 25% misto (alagamento e gota a
gota); 18% alagamento
Q11 - Origem da água de rega
96,5% água da barragem
Q12 - Água para rega
Q12.1 - Média mensal do consumo em
196,42 (média)
Q12.2 - Média mensal do consumo em ECVa)
3 499,85 ECV (média)
Q12.2 - Custo médio água
36,7 ECV/
Quantidade de água () /Área () cultivada
0,199
a) Divisão etária normalmente usada nas estatísticas nacionais
b) 1 Euro equivale a 110,265 Escudos Cabo-Verdiano (ECV), paridade fixa
Conforme se pode constatar, a maioria desta população depende exclusivamente da sua
atividade agrícola, são maioritariamente homens solteiros, com mais de 45 anos e com o nível de
escolaridade entre os 6 e12 anos. Apesar de formalmente estes agricultores não serem casados têm,
no entanto, família e agregado familiar próprio. Para além disso, 45,8% tem outra profissão.
79
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
As unidades de produção agrícola, no perímetro de rega da Barragem do Poilão, são unidades
pequenas, cujo tamanho médio é de 3000 /parcela (DSERAN-MDR, 2015) e exploradas em regime
de exploração familiar.
Pode-se constatar que a mão-de-obra contratada é sazonal e relativamente baixa. O agricultor
conta prioritariamente com a mão-de-obra da família ou com o sistema de djunta-non”, que significa
ajuda mútua, partilhar a sua mão-de-obra com os colegas para fazer diferentes trabalhos, obtendo em
retorno o mesmo tratamento quando necessita.
Apesar dos grandes investimentos já feitos pelo governo para adução e distribuição da água
da barragem para cada parcela, o número de agricultores que usa a rega gota-a-gota é baixo (57%), o
que leva a consideráveis desperdício de água e de produtividade. Constata-se também um aumento
de fragmentação das parcelas, pois que, segundo os dados do levantamento feito, em 2015, pela
Direção Geral da Agricultura era de 3000/parcela. Atualmente, é de 1803 /parcela. Este
fenómeno é devido ao aumento de interesse pela atividade agrícola, nesse perímetro, o que tem levado
alguns proprietários a dividirem as suas parcelas para alugar ou vender a outros. No conceito de Nair
e Kumar (2006), pode-se considerar estas unidades de produção hortas (homegardens), pois o
espaços que representam a combinação de vários estratos de cultivos, desde árvores (de fruta ou
outros), culturas de ciclo longo ou de ciclo curto, associado a criação de animais, muito parecido com
sistemas agroflorestais (Maroyi, 2009). Deste modo, este conceito tem evoluído para incluir contextos
urbanos, assim como orientações comerciais.
O consumo mensal de água para rega varia muito entre os agricultores desde logo porque uma
grande parte não usa o sistema de rega gota a gota e, mesmo entre os que usam este sistema de rega,
a aplicação adequada do débito de água para as culturas não é observado, contribuindo para o
desperdício deste recurso. O resultado obtido espelha alguma incongruência quando comparado com
os valores tabelados para a venda da água para rega no perímetro de rega da Barragem do Poilão,
dado que, os valores cobrados para água, quando aplicado em sistema de rega gota-a-gota, é de 15
ECV/ de água e de 25 ECV/ de água quando a rega é por alagamento. No entanto, considerando
os dados recolhidos e a média de custo de água calculado, constata-se que o valor é de 36,7 ECV/,
que denota que o agricultor não fornece os dados reais, já que não efetua registo dos mesmos.
As unidades de produção agrícola, do perímetro de rega da Barragem do Poilão, dedicam-se
essencialmente à produção de hortícolas, frutas, raízes e tubérculos, que abastecem os mercados da
ilha. A sua comercialização é feita principalmente pelos rabidantes, que são na sua maioria mulheres,
que se encarregam de fazer a sua distribuição. Esta produção faz-se em regime de policultura, o que
torna a sua quantificação difícil. Os dados que aqui se apresentam refletem as informações de
memória do agricultor, da sua produção, nos últimos 12 meses. A Tabela 13 resume as principais
culturas produzidas neste perímetro de rega, as quantidades produzidas, as áreas utilizadas, os preços
80
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
dos produtos quando vendidos na propriedade e o consumo médio da família (autoconsumo) por
produto e uma estimativa da produtividade.
Tabela 13 - Resumo dos dados da produção das principais culturas
Q10.1 - Culturas
(nome comum)
Quant.
Produzida
(kg)
Área da
produção
()
Produtividade
(kg/)
Preço prod.
na
Propriedade
(ecv/kg)
Consumo da
família (%)
HORTÍCOLAS
Tomate
1 071
1 413
0,8
76
9
Pimentão
1 397
1 479
0,9
84
15
Repolho1
633
607
1,0
95
18
Cenoura
1 382
960
1,4
81
8
Couve2
100
.
70
5
Cebola
826
1 335
0,6
84
21
Pepino
1275
1065
1,2
46
80
Abobora
1 100
2 220
0,5
80
20
Abobrinha3
897
436
2,1
70
1
Milho
324
689
0,5
36
29
FRUTAS
Banana
53 051
997
53,2
36
9
Papaia
2 965
945
3,1
51
3
Morango
1 125
3 106
0,4
225
.
Pinhão4
5 000
4 800
1,0
40
10
Melancia
583
2 291
0,3
60
8
RAIZES E
TUBERCULOS
Batata
inglesa
860
1 448
0,6
70
7
Batata-doce
525
1 297
0,4
82
6
Mandioca
592
751
0,8
78
15
Outros
Cana-de-
açúcar
5348
1 481
3,6
8
5
1 Brassica olerácea var. capitata; 2 Brassica olerácea var. capitatacostata; 3 Cucurbita pepo (Courgette); 4 Annona
muricata L.
Relativamente às hortícolas, neste período específico, constata-se que os produtos em maior
quantidade foram a banana, o pinhão, apesar de um caso único, a papaia e o pimentão. No que se
refere à produtividade é o pepino, que foi vendido a um preço médio de 46 ECV e que foi
essencialmente consumido pela família, não se trata de uma situação típica, pois ela seria
normalmente produzida para o mercado. Estes dados deixam antever o que geralmente acontece na
pequena produção familiar, que é o facto de os produtores não programarem as suas produções e
acabam por produzir todos o mesmo produto, causando a saturação do mercado e o abaixamento do
preço.
No que se refere às frutas, a banana apresenta a maior produtividade, o que reflete a realidade
e o seu preço médio de 36 ECV também reflete os preços praticados. No âmbito da produção das
81
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
raízes e dos tubérculos não existem diferenças significativas na produtividade, destaca-se apenas o
consumo deste grupo de produto, que se efetua na família (6 - 15%).
3.2.2. Estimativa da Produção e da Produtividade Agrícola
Os dados da estatística descritiva da estimativa da produção em termos médios (Tabela 14) e
da produtividade (Tabela 15) deixam perceber claramente a dispersão dos dados em algumas culturas.
Isso reflete a necessidade de um trabalho mais prolongado e sistematizado para avaliar a
produtividade, já que a memória do agricultor nem sempre reflete de forma correta as informações,
quer por esquecimento, quer por não querer partilhar informações sobre os seus rendimentos, com
medo de que isso possa afetar o nível de colaboração e ajudas que recebe do serviço público. Assim,
os valores aqui apresentados podem não refletir a realidade e devem ser considerados apenas como
indicativos, carecendo de um acompanhamento de vários ciclos de produção, para que valores mais
ajustados às realidades possam ser encontrados.
Tabela 14 - Estatística descritiva da estimativa da produção (média)
82
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Tabela 15 - Estatísticas descritivas da estimativa da produtividade
Kg/
classificação
culturas
casos
(n)
média
ci -95%
ci + 95%
mediana
mínimo
máximo
desvio.
padrão
média erro
padrão
Hortícolas
Tomate
26
0,8
0,73
3,39
0,79
0,01
16,69
3,46
0,68
Pimentão
22
0,9
0,36
3,97
0,56
0,02
5,98
4,33
0,92
Repolho
7
1,0
0,07
5,97
1,00
0,10
10,09
4,08
1,54
Cenoura
14
1,4
0,20
9,36
0,54
0,10
31,50
9,13
2,44
Cebola
18
0,6
0,10
2,30
0,47
0,
10,24
2,38
0,56
Pepino
4
1,2
6,59
21,15
0,29
0,04
28,51
14,15
7,08
Abóbora
1
0,5
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,00
0,00
Abobrinha
3
2,1
0,32
3,39
0,93
0,29
3,39
1,64
0,94
Milho
7
0,5
0,12
0,99
0,25
0,06
1,69
0,58
0,22
Frutas
Banana
1
53,2
26,82
94,67
0,27
21,60
420,63
96,37
17,31
Papaia
13
3,1
7,26
27,12
0,05
0,13
114,55
31,62
8,77
Morango
2
0,4
0,06
0,53
0,18
0,30
0,42
0,17
0,12
Pinhão
1
1,0
1,04
1,04
1,04
1,04
1,04
0,00
0,00
Melancia
3
0,3
0,49
1,87
0,11
0,06
1,89
1,04
0,60
Raízes e
Tubérculos
Batata
inglesa
48
0,6
0,60
1,16
0,55
0,01
4,39
0,99
0,14
Batata-doce
32
0,4
0,32
0,90
0,29
0,01
4,06
0,84
0,15
Mandioca
20
0,8
0,58
1,39
0,69
0,16
3,45
0.93
0,21
Outros tipos de
cultura
Cana-de-
Açúcar
46
3,6
4,02
10,06
3,37
0,07
48,00
10.46
1,54
A Tabela 16 apresenta um quadro comparativo entre a produtividade das culturas encontradas
neste estudo e as que são consideradas pelo Instituto de Investigação Agrícola de Cabo Verde para as
hortícolas, raízes e tubérculos. Para as frutícolas, a referida instituição não disponibiliza estes
parâmetros, assim são calculados fazendo uma aproximação com informações disponíveis, quer a
nível nacional, quer internacional, sustentados nos relatórios do Ministério da Agricultura e artigos
científicos em zonas geográficas similares a Cabo Verde (Silva & Garcia, 1999; Freitas, Vilasboas,
Pires, & José, 2013; MDR, 2015).
83
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Tabela 16 Comparação do rendimento das culturas
Observa-se que efetivamente estes agricultores, para além do carácter comercial da atividade
que desenvolvem, parte da produção vai para o autoconsumo da família. Estes valores variam entre
os produtos, consegue-se perceber, no entanto, que o morango é um produto essencialmente
produzido para o mercado. A couve pela forma como é produzida, normalmente como uma produção
secundária no meio de outras culturas, não se conseguiu fazer a quantificação da área onde é
produzida.
3.2.3. Unidades de Medida na Comercialização dos Produtos
Agrícolas
Para efeitos da quantificação da produção, à semelhança do estudo realizado por Fonseca et
al. (2014), foi inventariado as unidades de medidas utilizado pelo agricultor, para comercializar as
culturas que ele declarou produzir. A Tabela 17 apresenta estas denominações e os valores das
pesagens que foram utilizadas para calcular o valor médio das mesmas.
84
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Tabela 17 - Unidades de medida usadas na comercialização
LISTA DAS UNIDADES DE MEDIDA
DESCRIÇÃO
AMOSTRAS PESADAS (KG)
ESTATÍSTICA
UNIDADE DE MEDIDA
1
2
3
Média
Desvio
Padrão
Cacho banana
45
55
60
53
6,24
Caixa morango
10
caixinha de
morango em
que cada um
pesa 0,5 kg =
5 kg
12
caixinha de
morango = 6
kg
20
caixinha de
morango = 10
kg
Feixe de cana-de-açúcar
120
120
120
120
0,00
Grade batata-doce
60
60
60
60
0,00
Pixinguinhac) abobrinha
27
25
27
26
0,94
Pixinguinha batata-doce
40
38
40
39
0,94
Pixinguinha batata inglesa
27
25
28
27
1,25
Pixinguinha cebola
30
30
40
33
4,71
Pixinguinha cenoura
20
22
20
21
0,94
Pixinguinha de abóbora
23
25
-
24
1,00
Pixinguinha de abóbora butternut
25
30
-
28
2,50
Pixinguinha de banana
40
35
40
38
2,36
Pixinguinha de pinhão
20
25
-
23
2,50
Pixinguinha mandioca
45
42
40
42
2,05
Pixinguinha papaia
38
35
36
36
1,25
Pixinguinha pepino
40
40
40
40
0,00
Pixinguinha pimentão
21
19
20
20
0,82
Pixinguinha tomate
30
32
30
31
0,94
Saco batata doce
40
40
45
42
2,36
Saco batata comum
35
27
30
31
3,30
Saco cebola
30
25
30
28
2,36
Saco cenoura
50
45
50
48
2,36
Saco de abobora
45
53
-
49
4,00
Saco mandioca
50
70
60
60
8,16
Saco melancia
70
60
70
67
4,71
Saco milho
50
50
50
50
0,00
Saco pimentão
30
35
35
33
2,36
Saco repolho
50
50
50
50
0,00
Trouxa de couve
35
40
-
38
2,50
Pixinguinha refere-se a grandes alguidares de plástico, normalmente de cor preta, usada pelos agricultores e pelos
intermediários como unidade de venda dos produtos
A Figura 6 apresenta-se um catálogo ilustrativo destas unidades de medida.
85
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Figura 6 - Catálogo ilustrativo das unidades de medida
86
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
87
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
88
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
89
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
3.2.4. Contributos para a Análise Prática
A consolidação dos produtos cultivados nas pequenas parcelas familiares e a sua colocação
no mercado é um dos grandes desafios da pequena agricultura, praticada em Cabo Verde, e enfrentado
pela pequena agricultura familiar, em todo o mundo (Mota, Schmitz & Freitas, 2007; Guilhoto et al.,
2007; Ploeg, 2011; Guanziroli, Buainain & Di Sabbato, 2012).
90
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Apesar deste desafio, esta pequena agricultura familiar representa 90% da agricultura mundial
e fornece 80% dos alimentos no mundo em termos de valor e, cuja contribuição para a segurança
alimentar, para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza é significativa e tem sido
promovida pela FAO (http://www.fao.org/portugal/noticias/detail/pt/c/1196022/).
Estas pequenas unidades de produção agrícola familiar, para além da sua contribuição acima
exposta, fornecem um importante contributo para uma produção agrícola sustentável, pelo seu
potencial social, económico, ecológico e institucional que promove modos de vida sustentáveis (Nair,
2006). A Tabela 18 resume as questões do acesso ao mercado, inserido no questionário aplicado neste
estudo de investigação.
Tabela 18 - Resumo dos dados de acesso ao mercado
Item do questionário
Mercados
Q13 - Onde vende os seus produtos
86,1% dos agricultores vende na propriedade
Q14 - A quem vende os seus produtos
93,8% dos agricultores vende a rabidantes
Estes resultados confirmam as perceções relativamente ao circuito de comercialização e às
informações que os agricultores haviam partilhado, e confirma também os resultados obtidos no
estudo do MDR (2015), de que esta produção é virada para o mercado, contrariamente aos estudos
de Reyes-Garcia et al., (2012) e de Fonseca et al. (2014).
A maioria (86,1%) dos agricultores não leva os seus produtos para o mercado, vende na sua
propriedade a intermediários (93,8%), que os visitam nas suas parcelas e fazem a compra diretamente.
Estes encarregam-se de fazer os produtos chegar ao mercado central da cidade da Praia ou enviam
para outras ilhas. Apenas 4,2% dos agricultores vende ao consumidor final e destes apenas 0,7% é
vendido diretamente para hotéis ou restaurantes. Esta cadeia de valores é dominada pelo intermediário
que é quem, também, muitas vezes define o preço do produto. Apesar desta realidade pode-se
considerar que se trata de um “circuito-curto” de comercialização (Paulino, 2008), pois esta produção,
por enquanto, abastece os mercados locais e muito pouco ainda consegue chegar ao mercado hoteleiro
turístico das cadeias turísticas, que operam no país. Não obstante esta produção melhora o estado
nutricional e a saúde das famílias, garante a segurança alimentar, melhora o nível económico das
famílias e é identificado como uma forma potencial de redução da pobreza (High & Shackleton, 2000;
Moroy, 2009).
De forma geral este parâmetro EstProAgri (Estimativa da Produção Agrícola) permitiu fazer
a caracterização das unidades de produção, no que concerne:
O perfil dos recursos humanos envolvidos: homens com mais de 45 anos, com o nível de
escolaridade do ensino básico e elementar, com um agregado familiar médio de 5 elementos;
91
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Os sistemas de produção: pequenas parcelas, cultivo em policultura e consorciação, e ainda
uma baixa taxa de utilização de sistemas de rega gota a gota;
As culturas: essencialmente hortofrutícolas com predominância da produção da banana;
A produção e produtividade: ambas estimadas em função das unidades de medidas utilizadas
nas unidades de exploração para a comercialização;
A memória do agricultor sobre a sua produção nos últimos 12 meses, que apesar da produção
estar direcionada ao mercado, parte dela vai para o autoconsumo.
Estas informações assemelham-se às obtidas no Estudo Socioeconómico realizado pelo
Ministério da Agricultura em 2015. Os valores da produção e da produtividade obtidas não permitem
uma comparação, pois os dados recolhidos carecem de mais ciclos de produção, no entanto, à
semelhança do que ocorreu no estudo de Fonseca et al. (2014), foi possível inventariar as unidades
de medida utilizadas pelo agricultor na comercialização e estabelecer uma metodologia para a recolha
de dados de produção semelhantes a este estudo.
Em resumo, pode-se constatar que os dados obtidos neste estudo, quando comparados para as
variáveis em análise com o estudo socioeconómico do MDR (2015) mostram algumas diferenças,
que podem ser indicativas de situações de melhoria (e.g. nível de escolaridade, diminuição da rega
por alagamento) e outras menos positivas (e.g. aumento do parcelamento das terras, menos pessoas a
depender apenas desta atividade, maior dependência em relação ao intermediário-rabidante) (Tabela
19).
Tabela 19 - Comparação entre os resultados deste estudo e o de MDR (2015)
Variáveis
Estudo socioecónomico
(MDR, 2015)
Atual estudo
Média da idade
47,5
45
Número elementos do
agregado familiar
5
5,44
Trabalhador sazonal/ano
63,76% usa mão de obra familiar conjunto
c/ a assalariada e a Entreajuda
3,18
Habilitações literárias
61% EBI + Secundário
81,2% EBI + Secundário
Profissão
87,2% não tem outra profissão
54,2% não tem outra profissão
Área da parcela
3.124,5
1802,75
Sistema de rega usado
60,4% gota a gota; 6,4% misto
(alagamento e gota a gota);
29,1% alagamento
57% gota a gota; 25% misto
(alagamento e gota a gota);
18% alagamento
Onde vende os seus
produtos
78,3% vende na propriedade
86,1% vende na propriedade
A quem vende os seus
produtos
56,5% vende a rabidantes
93,8% vende a rabidantes
Por outro lado, pode-se observar algumas diferenças e alguns aspetos que podem indicar
necessidade de melhorias (aumento do parcelamento das terras, baixa taxa de rega gota a gota, aspetos
92
DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPETIVAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
de comercialização dos produtos). As baixas taxas de uso de sistemas de rega gota a gota confirmam
os resultados de Moreira (2018), onde este autor apresenta como causa a falta de acesso a linhas de
crédito adequadas à atividade.
93
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
CAPÍTULO IV
QUALIDADE DO SERVO AGCOLA E
SATISFÃO DO AGRICULTOR
“A política e os objetivos, definidos a cada momento devem apresentar coerência e serem
consistentes com o sistema da qualidade”. (Pires, 2012, p. 97)
A satisfação do agricultor é um aspeto crucial no setor agrícola, uma vez que reflete a sua
perceção em relação à qualidade do serviço agrícola recebido. A análise abrangente da qualidade do
serviço agrícola contribui para compreender os fatores que impactam a satisfação dos agricultores e
auxilia na identificação de áreas que necessitam de melhorias.
Ao realizar uma análise abrangente da qualidade do serviço agrícola, é importante considerar
múltiplos aspetos. A qualidade do serviço pode abranger desde o suporte técnico e consultoria
oferecidos aos agricultores até a disponibilidade de recursos e infraestrutura adequados. A
comunicação efetiva, a capacidade de resposta às necessidades dos agricultores e a transparência nas
relações também são elementos-chave na determinação da qualidade do serviço agrícola.
Além disso, esta análise abrangente deve levar em conta as diferentes etapas do ciclo agrícola,
desde o planeamento e preparação do solo até o armazenamento e comercialização dos produtos
agrícolas. Cada uma dessas etapas desempenha um papel fundamental na satisfação geral dos
agricultores, e a qualidade do serviço prestado em cada uma delas é essencial para garantir o sucesso
da atividade agrícola.
Outro aspeto relevante na análise abrangente é considerar as necessidades específicas dos
agricultores, levando em conta a diversidade de culturas, tamanhos de propriedades e contextos
regionais. Cada agricultor pode ter expectativas diferentes e é fundamental adaptar o serviço agrícola
às suas particularidades.
Ao identificar os pontos fortes e as áreas de melhoria na qualidade do serviço agrícola, é
possível implementar ações corretivas e estratégias de aprimoramento. Isso pode incluir
investimentos na formação técnica para os profissionais agrícolas, melhorias na infraestrutura
agrícola, estabelecimento de canais eficientes de comunicação e ampliação do acesso a recursos
agrícolas, como insumos e tecnologias.
Uma abordagem abrangente e contínua na análise da qualidade do serviço agrícola contribui
para o desenvolvimento sustentável do setor agrícola, promovendo a satisfação dos agricultores, a
produtividade e a rentabilidade das atividades agrícolas. Essa análise é fundamental tanto para os
agricultores, que dependem de serviços de qualidade para obter resultados satisfatórios, quanto para
94
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
a formulação de políticas públicas que visem fortalecer o setor agrícola e impulsionar o
desenvolvimento rural.
4.1. Avaliação da Qualidade e Desempenho do Serviço
O modelo SERVPERF também pode ser aplicado na agricultura para avaliar a qualidade do
serviço prestado aos agricultores e a satisfação geral com a atividade agrícola. O SERVPERF é um
modelo de avaliação de desempenho de serviços que se baseia nas dimensões de confiabilidade,
capacidade de resposta, segurança, empatia e tangíveis.
Ao aplicar o modelo SERVPERF na agricultura, é possível avaliar fatores como a
confiabilidade do fornecimento de água da barragem, a capacidade de resposta dos órgãos
responsáveis pela gestão da barragem em atender à procura dos agricultores, a segurança das
instalações e equipamentos relacionados à irrigação, a empatia e o suporte oferecidos aos agricultores,
bem como a tangibilidade dos resultados obtidos.
Essas avaliações podem fornecer insights valiosos para a melhoria contínua da qualidade e
satisfação na agricultura, permitindo ajustes e aprimoramentos nas práticas agrícolas, na gestão da
barragem e nos serviços relacionados ao setor agrícola.
4.1.1. Avaliação da Qualidade do Serviço - SERVQUAL
O SERVPERF teve origem do modelo SERVQUAL (Service Quality). Este modelo da
qualidade, proposto por Zeithaml et al. (1990), tem como objetivo avaliar a satisfação dos clientes,
em relação ao serviço prestado pelas empresas, e que se baseia numa escala de 22 itens, que se
relacionam e que medem cinco dimensões da qualidade do serviço: tangibilidade, confiabilidade,
celeridade, garantia e empatia (Awasthi et al., 2011; Zeithaml et al., 1990), avaliando inicialmente o
serviço esperado e posteriormente o serviço percebido.
Nesta perspetiva, o conceito de satisfação encontra-se relacionado com a qualidade percebida
do produto/serviço, cuja avaliação é influenciada pela relação entre a expetativa, no momento da
compra/consumo, e a perceção adquirida, após o momento da compra/consumo. Para além disso, a
satisfação também está associada de forma direta e positiva com a lealdade dos clientes, ou seja, se
os clientes ficam satisfeitos com a compra/consumo, então estarão mais predispostos a serem leais e
fiéis a essa empresa (Oliveira, da Silva, Rodrigues, & Lopes, 2015). Numa situação inversa, quando
o cliente fica insatisfeito, este irá ponderar refletidamente sobre o local da próxima compra, existindo,
neste caso, uma má recomendação e uma má publicidade da empresa, que fornece o produto/serviço
(Zeithaml, Bitner & Gremler, 2011)
Na Figura 7 encontram-se expostas as 5 dimensões da escala SERVQUAL, as quais englobam
a tangibilidade (aspetos relacionados com a aparência das instalações, do equipamento e do material);
a confiabilidade (traduz a qualidade do serviço comparativamente à capacidade de prestação do
95
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
serviço prometido, baseada na confiança, tempo oportuno e preciso); a celeridade (reflete a
disponibilidade dos colaboradores no atendimento aos clientes); a garantia (traduz a segurança no
atendimento, a capacidade de conhecimento e técnica dos colaboradores) e a empatia (representa o
interesse e a atenção personalizada na resolução de problemas).
Figura 7 - Dimensões da escala SERVQUAL
Fonte: Adaptado de Mota e Nascimento (2011)
Nesta lógica, sob proposta de Zeithaml et al. (1990), surge o conceito de qualidade do serviço,
que corresponde à diferença (gap) entre as expectativas dos clientes e a prestação do serviço recebido.
Para os autores Korda e Snoj (2010), a qualidade percebida do serviço engloba o resultado do
julgamento subjetivo dos clientes sobre a oferta de serviços e a respetiva entrega final.
Segundo Abdel-Ghany e Diab (2015), a qualidade do serviço consiste na capacidade de a
empresa prestadora de serviços fornecer os serviços prometidos, a partir da qual o cliente avalia o
desempenho dos serviços efetivamente prestados e as expetativas perante o mesmo.
A pontuação da perceção da qualidade (QP), segundo Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985),
é calculada da seguinte forma:
QP = SP SE,
onde SP = serviço percebido e SE = serviço esperado.
No caso de SE > SP, a qualidade percebida é menor do que a qualidade esperada, ou seja, o
cliente considera que o serviço não possui a qualidade desejada.
No caso de SE < SP, a qualidade percebida é maior do a qualidade esperada, ou seja, o cliente
considera que o serviço possui uma boa qualidade.
Por fim, se o SE = SP, a qualidade percebida é igual à qualidade esperada, o que leva a que a
qualidade seja satisfatória, pois, nenhum cliente adquire um serviço sabendo que este tem uma
reduzida qualidade (esperada).
96
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Quanto às vantagens do SERVQUAL, Parasuraman, Zeithaml e Berry (1994) salientam que
a avaliação das expetativas individuais é mais útil e valiosa do que a avaliação apenas do desempenho,
como o caso do SERVPERF, uma vez que são diagnosticadas lacunas no âmbito da satisfação dos
clientes, baseada nas cinco dimensões anteriormente mencionadas (tangibilidade, confiabilidade,
celeridade, garantia e empatia).
Estas cinco dimensões podem ser aplicadas em qualquer atividade e setor, sendo
maximizadas, no caso de serem estabelecidas medidas concretas para cada tipo de atividade e setor,
pois, permitem uma melhor e mais adequada tomada de decisão a nível estratégico, ou seja, a decisão
de como fidelizar e satisfazer os clientes, garantir maior lucro e assegurar a sobrevivência e
continuidade da empresa (Parasuraman et al., 1994).
No contexto agrícola, a qualidade do serviço é influenciada pelo investimento tecnológico,
pelo processo de gestão, pelas exigências de produtividade, pela resistência a pragas e doenças e pelo
valor nutricional, qualquer que seja a dimensão da empresa ou do terreno (Marek, 2015).
Shahin e Janatyan (2011) acrescenta que o SERVQUAL contribui para que as empresas
reconheçam a avaliação dada pelos clientes, no que se refere a cada dimensão e a cada atributo, assim
como para hierarquizar as prioridades definidas pelos clientes, com o intuito de obter um serviço de
qualidade e personalizado.
Para isso, é essencial que ocorra uma boa experiência na compra de um serviço ou de um
produto, o que irá constituir o mecanismo mais importante de fidelização do cliente, pois, é com este
conhecimento que as empresas investem em mecanismos, que lhes permitam conhecer o seu cliente,
assim como, antecipar as suas necessidades, através da sua superação ou satisfação (Boca, 2015).
Por sua vez, as desvantagens do SERVQUAL passam pelo facto desta ferramenta não
acompanhar as alterações das expetativas dos clientes durante toda a experiência, ou seja, foca-se
apenas no momento da experiência (Cronin & Taylor, 1992; Teas, 1993).
Buttle (1996) realça o facto do SERVQUAL considerar apenas a forma como o serviço é
prestado, não permitindo avaliar o resultado obtido ao longo da experiência, nem a atitude dos clientes
perante o serviço. Isto pode criar ambiguidade, pois, os clientes podem deturpar os padrões de serviço
com as suas expetativas no momento de avaliar a qualidade do serviço.
Esta avaliação torna-se difícil, uma vez que envolve critérios subjetivos, pelo que, a forma
mais adequada passa por considerar a qualidade, enquanto perceção do cliente e não pelas
especificações técnicas do seu processo produtivo, o que resulta na importância de escutar e perceber
as necessidades e expectativas do cliente (Mota & Nascimento, 2011).
Para além disso, a extensão do questionário faz com que a sua aplicação seja mais morosa e
complexa, pois, os clientes inquiridos necessitam de preencher um questionário referente às
expetativas e outro questionário referente às perceções (Buttle, 1996; Shahin & Janatyan, 2011).
97
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Outras desvantagens são apresentadas por Feijoo (2014), nomeadamente o facto de a
experiência do serviço alterar as expetativas, o que pode levar a que as respostas dos clientes sejam
enviesadas, após a prestação de serviço, em que as mesmas devem ser obtidas antes da prestação do
serviço. Os autores também evidenciam o facto de determinados setores e atividades poderem carecer
de outros atributos, pelo que, as cinco dimensões deverão ser alvo de adaptabilidade.
Recapitulando, o SERVQUAL contribui para avaliar a qualidade percebida pelos clientes, ou
seja, a qualidade subjetiva que os mesmos manifestam perante a prestação de um serviço. Este tipo
de qualidade difere da qualidade objetiva, pois é uma forma de atitude relativa, mas não equivalente
a satisfação, e resulta da comparação entre as expectativas e a perceção de desempenho.
4.1.2. Avaliação do Desempenho do Serviço Prestado - SERVPERF
O SERVPERF (Service Performance) é um modelo da qualidade, concebido por Cronin e
Taylor (1992), com o objetivo de avaliar a perceção do cliente, pois esta exerce menor influência nas
intenções de compra do que a satisfação do cliente, ou seja, o que é importante neste instrumento são
os desempenhos resultantes da satisfação.
O SERVPERF baseia-se numa escala de 22 itens, que se relacionam e que medem cinco
dimensões da qualidade do serviço: tangibilidade, confiabilidade, celeridade, garantia e empatia, as
quais incidem apenas sobre os itens do desempenho (Cronin & Taylor, 1992).
Neste modelo da qualidade não são consideradas as expetativas dos clientes, usado no
SERVQUAL, pois o que Cronin e Taylor (1994) pretendem é que a avaliação da qualidade fosse mais
transparente e credível, baseando-se apenas no desempenho do serviço prestado, ou seja, para os
autores o desempenho menos expectativa é uma base inadequada para medir a qualidade do serviço,
apesar de concordarem com Zeithaml et al. (1990), de que a satisfação do cliente é um elemento
importante a ser avaliado.
Isto significa que, existe uma diferença fundamental entre a qualidade do serviço e a satisfação
do cliente, uma vez que a primeira é uma atitude a longo prazo e a segunda corresponde a um
julgamento transitório, baseado na prestação de um determinado serviço. Pelo que, Cronin e Taylor
(1994) não concordam que as expectativas do cliente sejam incluídas na avaliação da qualidade do
serviço.
A pontuação do SERVPERF, segundo Ibarra e Medina (2015), é calculada da seguinte forma:
SERVPERF = ∑ Pj
ou seja, o somatório das pontuações das perceções dos clientes (Pj). O que sugere que quanto
maior a qualidade do serviço, maior a soma dessas perceções.
Algumas das vantagens que o SERVPERF apresenta encontram-se relacionadas com a fácil
interpretação do conceito, uma vez que são retirados os itens das expetativas, sendo consideradas
apenas as perceções dos clientes; auxílio das perceções na previsão do comportamento das empresas
98
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
fornecedoras de produtos/serviços; menor tempo despendido com a aplicação do instrumento; as
medidas de avaliação baseiam-se mais na satisfação do que na diferença e interpretação; maior
facilidade na análise dos dados obtidos; diminuição dos itens em 50%, pois os itens das expetativas
foram extraídos (Fragoso & Espinoza, 2017; Ibarra & Medina, 2015).
Segundo Salomi, Miguel e Abackerli (2005), o SERVPERF apresenta mais vantagens quando
comparado com o SERVQUAL, destacando-se a diminuição do número de itens que os participantes
devem responder, o que facilita a operacionalização da investigação, levando a que os participantes
estejam mais motivados e com mais vontade de colaborar no estudo.
Quanto às diferenças existentes entre o SERVQUAL e o SERVPERF, é que o último é uma
versão mais recente, dinâmica e mais confiável do que o SERVQUAL, na medida em que não reflete
as expetativas prévias do cliente perante a prestação de um serviço (Carrillat, Jaramillo & Mulky,
2007).
No desempenho percecionado pelos clientes, para além da experiência do serviço, também se
englobam os aspetos emocionais e cognitivos, tornando mais válida e credível a respetiva perceção
sobre o serviço, uma vez que não considera as expetativas prévias dos clientes (Cronin & Taylor,
1994).
Isto significa que o SERVPERF permite obter resultados mais sólidos, através apenas da
avaliação do desempenho, em detrimento do SERVQUAL, onde são avaliadas as diferenças entre as
expetativas e o desempenho (Parasuraman et al., 1994).
Contudo, o SERVPERF também apresenta algumas desvantagens, onde se destaca a
possibilidade de distorção, devido à existência de diversos termos, quer sociais e culturais, quer
económicos, em mercados multifacetados, que podem diferir de região para região, ou de segmento
para segmento (Marchetti, Prado & Silva, 1998).
Para além disso, o SERVPERF, segundo Cronin e Taylor (1992), carece de justificação
teórico-prática, que permita colmatar lacunas entre as expetativas e o desempenho; não mostra
preocupação com a formação da atitude, mas sim com a sua avaliação num determinado momento;
não é tão pormenorizado quanto o SERVQUAL, pois, não indica as áreas a melhorar na empresa.
Sintetizando, apesar do SERVQUAL e do SERVPERF serem ambos aplicados em diversos
contextos e sectores, tem-se verificado, durante os últimos tempos, uma maior aposta na
implementação de melhorias nas empresas que utilizam o SERVPERF, como forma de avaliar a
qualidade percebida dos clientes. Tal facto pode dever-se ao SERVPERF focar-se apenas no
desempenho para avaliar a qualidade do serviço, assim como à satisfação do cliente ser um precedente
da qualidade percebida, pois, exerce influência significativa nas intenções de voltar a adquirir um
determinado serviço (Cronin & Taylor, 1992).
99
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Por esse motivo, a escolha do SERVPERF, como instrumento de recolha de dados na presente
pesquisa, deve-se ao facto de este se focar apenas no desempenho para a avaliação da qualidade do
serviço.
4.1.3. Estado da Arte sobre SERVQUAL e Qualidade no Sector
Agrícola
No estudo de James, Emmanuel e Robert (2012), os autores tinham como objetivo reconhecer
se o modelo SERVQUAL pode ser aplicado na avaliação da qualidade do serviço prestado aos
agricultores por parte dos fornecedores agroquímicos. Para isso, foram aplicados questionários a 200
agricultores, da região de Kumasi, em Gana. Os resultados obtidos permitem concluir que o modelo
SERVQUAL pode ser aplicado neste contexto, assim como que os agricultores estão insatisfeitos
com a qualidade dos serviços prestados pelos fornecedores agroquímicos, com uma pontuação global
no modelo de -0,86.
O estudo de Rana, Reddy e Sontakki (2013) pretendiam analisar a qualidade percebida das
empresas do sector público e privado na agricultura, através do modelo SERVQUAL, tendo sido
aplicados questionários a 360 agricultores da região de Andra Pradexe, na Índia. As principais
conclusões mostram que o sector público está a efetuar esforços para melhorar a qualidade dos
serviços, pelo que, devem ser realizados mais investimentos em infraestruturas e nos recursos
humanos, de modo a alargar os serviços à maioria das pessoas.
No estudo de Sais e Bergue (2013), o objetivo passava por avaliar o modelo SERVQUAL, no
que se refere ao tipo, frequência, forma, comportamento e impacto da comunicação na Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Para isso, foi realizado um estudo de caso e aplicadas
entrevistas semiestruturadas na empresa, tendo sido concluído que o Centro de Pesquisa da Embrapa
foi qualificado de forma positiva, na sua área de comunicação e negócios, assim como que a qualidade
percebida e as expetativas sobre o serviço são satisfatórias.
O estudo de Kontogeorgos, Tselempis e Karipidis (2014) tinha como objetivo identificar as
perceções e expetativas dos agricultores, no que se refere à qualidade do serviço prestado pelo
Ministério do Desenvolvimento Rural e Alimentação da Grécia, nomeadamente na Macedónia. Para
o efeito, foram aplicados questionários a 146 agricultores que participaram numa medida da Política
Agrícola Comum, do Pilar II. As principais conclusões mostram que a qualidade dos serviços
prestados pelo Ministério não é satisfatória, nomeadamente no que se refere às habilidades sociais
dos colaboradores, tais como a confiança e a atenção, sendo por esse motivo, essencial que os
colaboradores do Ministério implementem um plano de melhoria da qualidade, de modo a satisfazer
as necessidades dos agricultores.
100
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
No estudo de Abdel-Ghany e Diab (2015), os autores tinham como objetivo medir a qualidade
do serviço de extensão agrícola, através do modelo SERVQUAL e da perceção dos colaboradores e
dos agricultores da região de Nubaria, no Egito. Para isso, foram aplicados questionários a 26
colaboradores e 159 agricultores. Os resultados obtidos indicam que as perceções dos colaboradores
são superiores às dos agricultores; os colaboradores devem colmatar a lacuna do planeamento e da
implementação dos programas e atividades de extensão baseadas nas perceções e necessidades dos
agricultores.
O estudo de Simpson e Calitz (2015) pretendia medir a disponibilização de informações de
um serviço de extensão agrícola, através do modelo SERVQUAL, na África do Sul. Para o efeito, foi
realizado um estudo de caso, onde se mostra que as cinco dimensões apresentam uma elevada
frequência entre -0.5 e 0,5, bem como que uma minoria dos participantes considera que a empresa
excede as expetativas de serviço prestado.
O estudo realizado pelos autores Nogueira e Damasceno (2016) teve como objetivo avaliar a
implementação de um sistema de gestão integrada de qualidade (5S, 5W2H, Matriz GUT,
Benchmarking, Brainstorming, Diagrama de causa-efeito, Fluxograma, Gráfico de Pareto,
Histograma e Seis Sigma), de modo a garantir um sistema eficaz que englobe os riscos da cadeia
produtiva e maximize os resultados numa indústria de lacticínios do Brasil. Para isso, os autores
elaboraram um estudo de caso, tendo concluído que a junção de dois sistemas de gestão (sistema de
gestão integrada de qualidade e segurança de alimentos) é eficiente, uma vez que são indissociáveis
ao longo da cadeia agroalimentar, enquanto permite diminuir a burocracia e maximizar os resultados.
Para além disso, também se verificou que a qualidade permite obter melhorias no retorno de
investimentos e no aumento das vendas, que apesar de se refletir num elevado investimento inicial,
contribui para que os resultados sejam maximizados a longo prazo.
O estudo de Alvarenga, Bittencourt e Rodriguez (2017) foi realizado numa amostra de 10
micro e pequenas empresas produtoras de lacticínios, localizadas no Paraná (Brasil), com o objetivo
de descrever a realidade da gestão da qualidade. Para isso, os autores aplicaram um questionário
semiestruturado, tendo concluído que as empresas possuem entre 7-32 colaboradores, mantêm a
atividade aberta mais de cinco anos, existe um membro responsável pela coordenação da qualidade
nas atividades produtivas com níveis avançados de conhecimento técnico e que existe facilidade de
implementação de ferramentas, que permitam o desenvolvimento de produtos com as características
requeridas pelos clientes.
No estudo de Gomes, Costa e Fiorotto (2017), os autores tinham como objetivo identificar a
interação do homem com a máquina e o meio-ambiente, numa área agrícola de 18 colheitas de cana-
de-açúcar, no Brasil, onde trabalham 274 colaboradores. Para isso, os autores aplicaram algumas
ferramentas de qualidade (PDCA, 5S, diagrama de causa-efeito), tendo concluído que existem áreas
101
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
de melhoria, nomeadamente o desempenho dos equipamentos, a velocidade de colheita das máquinas,
os consumos de combustível face à produção, a manutenção das máquinas, a prevenção de acidentes
e o aumento da eficiência da produção.
O estudo de Leme e Pinto (2018) teve como objetivo analisar os pilares da qualidade em
quatro certificações brasileiras relacionadas com o setor do café (Programa de Qualidade do Café
PQC, certificação do café do Cerrado, certificação Rainforest Alliance e certificação Utz Certified).
Para isso, os autores realizaram uma pesquisa qualitativa exploratória com análise documental, tendo
concluído que os pilares da qualidade são valiosos na sistematização dos aspetos relacionados com a
certificação e a qualidade do agronegócio do café, assim como a existência de uma relação entre a
qualidade e os atributos sensoriais do produto; a influência das normas associadas à qualidade no
processo produtivo na qualidade final do produto; os ganhos secundários do processo de certificação,
que permitiram diminuir custos de produção e aumentar a produtividade.
No estudo de Mannes, Pitz, Fraga e Martins (2018), o objetivo passava por analisar a
existência do sistema de gestão da qualidade numa câmara frigorífica de uma empresa, através de
uma pesquisa qualitativa baseada na elaboração de um estudo de caso e na aplicação de uma entrevista
estruturada. As principais conclusões mostram que a empresa disponibiliza diversos benefícios e
apoio à gestão aos seus colaboradores, assim como que os colaboradores são estimulados a dar
sugestões e ideias, apesar da empresa não estabelecer planos de carreira. Para além disto, a empresa
não acompanha as mudanças no mercado, no que se refere à gestão, uma vez que o pretende
implementar outras abordagens, sem ser ISO 9000, o que a pode tornar menos competitiva e dificulta
o seu crescimento e sobrevivência. Não obstante, a empresa reconhece que apresenta qualidade no
seu produto, recorrendo à gestão da qualidade nos seus processos e no controlo que os colaboradores
devem ter sobre a temperatura da câmara frigorífica e no pH da carne, de modo a evitar erros de
produção.
O estudo de Mwangi, Kabare e Wanja (2018) teve como objetivo analisar a qualidade de
serviço percebida na satisfação dos consumidores de lacticínios em 15 grandes redes de
supermercados, localizadas no Quénia. A amostra do estudo era constituída por 384 consumidores,
cujo instrumento de recolha de dados engloba uma pesquisa qualitativa e quantitativa, através da
aplicação de um questionário autoadministrado. Os resultados mostram a existência de uma relação
positiva e significativa entre a qualidade do serviço percebida e a satisfação dos consumidores, ou
seja, os consumidores apresentam uma elevada perceção da qualidade do serviço prestada pelos
produtores de lacticínios, o que irá influenciar a sua satisfação, a retenção e atração de clientes e a
repetição de compra do mesmo produto.
No estudo de Lousas (2018), o autor elaborou um estudo, cujo objetivo passava por descrever
a implementação de diversos aspetos na melhoria contínua, numa empresa de venda de produtos e
102
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
serviços agrícolas (oficina de automóveis, máquinas, peças e equipamentos), em Portugal. Para o
efeito, foi adotada uma metodologia baseada nas técnicas Lean (just-in-time e 5S), onde se concluiu
que após a sua aplicação, foi possível obter uma melhor organização dentro da empresa,
nomeadamente através de uma melhor gestão de inventário, diminuição dos custos diários,
diminuição de espaço e de desperdícios, maior eficiência e eficácia, aumento da motivação e
satisfação dos colaboradores, melhor prestação de serviços e atendimento ao cliente. Contudo,
também se verificaram algumas limitações, tais como: resistência à mudança por parte dos
colaboradores, falta de tempo para a implementação das medidas e criação de um sistema de incentivo
para motivar os colaboradores.
Também em Portugal, Santos (2018) realizou um estudo com o objetivo de analisar a melhoria
do serviço de manutenção de uma empresa do ramo alimentar, em Portugal (Paço de Arcos), tendo
utilizado algumas ferramentas de qualidade, tais como: 4M, 5W2H, Kaizen, Ciclo PDCA, Diagrama
Ishikawa e gestão visual, os quais deram origem a um modelo, o IASVP (Identificação do problema,
Análise do problema, Solução do problema, Verificação de resultados e Padronização). Os resultados
mostram que o modelo IASVP contribui para a identificação e resolução de avarias no desempenho
dos equipamentos, tal como também se verificou uma diminuição no número de intervenções e de
horas gastas na manutenção corretiva no setor alimentar.
No estudo de Rashid, Gao e Alam (2018), os autores tinham como objetivo verificar a
qualidade do serviço de diversas empresas de serviços públicos e privados de extensão agrícola,
através da aplicação do modelo SERVQUAL. A amostra do estudo era constituída por 318
colaboradores de 9 empresas, a qual foi aplicada entrevistas e realizado um debate em Focus Group.
O resultado mostra que todas as empresas apresentam uma diferença negativa nas cinco dimensões
do SERVQUAL.
4.1.4. Estudos e Pesquisas sobre SERVPERF no Sector Agrícola
No estudo de Jain e Gupta (2004), os autores tinham como objetivo avaliar duas escalas de
qualidade de serviço, SERVQUAL e SERVPERF, em 8 restaurantes de fast-food localizados em Deli
(Índia). Para isso, os autores aplicaram um questionário a 300 estudantes e leitores de diferentes
escolas e departamentos da Universidade de Deli. Os resultados mostram que o SERVPERF atribui
uma validade mais coerente com a qualidade do serviço em detrimento do SERVQUAL, e que o
SERVPERF justifica uma maior variância da qualidade geral do serviço, através de uma única escala.
No entanto, o SERVQUAL é mais valorizado, na medida em que identifica as áreas que carecem de
qualidade de serviço e de uma intervenção por parte da gestão da empresa.
O estudo de Huang (2011), foi realizado, em Taiwan, com o objetivo de identificar os atributos
do serviço que contribuem para aumentar a satisfação e a fidelidade dos turistas, assim como
comparar os modelos SERVQUAL e SERVPERF, na indústria do enoturismo. O autor aplicou
103
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
questionários a 316 turistas que visitaram 5 adegas, tendo concluído que a maioria dos turistas
pertence ao género feminino (55%), com idades compreendidas entre 25-44 anos (56,9%), frequenta
a universidade (54,6%), trabalha na indústria comercial ou de serviços (29,5%) ou são funcionários
públicos (28,8%). Para além disso, os itens da confiabilidade e da tangibilidade são essenciais para a
satisfação e fidelidade dos turistas, os quais se refletem na motivação da experiência dos turistas, bem
como os gestores devem disponibilizar formação aos seus colaboradores, de modo que estes saibam
gerir as adegas, tenham uma atitude mais profissional e personalizada perante os turistas, tenham uma
boa apresentação e aparência pessoal e aumentem a qualidade do serviço. Também se verificou que
o SERVPERF é o modelo mais adequado para justificar a satisfação e a lealdade dos turistas, pois,
foca-se apenas na perceção dos mesmos.
Kirchner, Stumm, Benetti, Benetti, Boaro e Souza (2012) realizaram um estudo numa empresa
agrícola brasileira, cuja amostra é constituída por 72 participantes, com o objetivo de avaliar a
qualidade dos serviços prestados na perspetiva do cliente, recorrendo ao SERVPERF. Os principais
resultados mostram que a maioria dos participantes é do género masculino, possui idades
compreendidas entre 30-50 anos, tem o ensino fundamental incompleto (35,56%), seguido do ensino
médio completo (25%). A maioria é proprietária de terrenos com 200-299 hectares (73,31%). Quanto
à empresa, esta apresenta qualidade nos serviços prestados, apesar de existir a necessidade de
melhoria no serviço de exposição dos produtos, o que se irá refletir na subsequente organização e
satisfação do cliente.
No estudo de Abdel-Ghany e Abdel-Salam (2012), os autores tinham como objetivo avaliar a
qualidade do serviço, através da aplicação de um questionário baseado no SERVPERF, numa amostra
de 119 agricultores pertencentes a 17 centros de extensão agrícola, localizados em Assiut (Egito). As
principais conclusões mostram que os agricultores apresentam uma perceção sobre os centros, que
não alcança a pontuação máxima nas cinco dimensões da qualidade do serviço, ou seja, os agricultores
não estão satisfeitos e procuram mais qualidade de serviço do que aquela que os centros têm para
oferecer. Por esse motivo, os autores sugerem que esses centros implementem melhorias que
colmatem as necessidades e desejos dos agricultores. Também se verificou que as pontuações mais
elevadas se situam na dimensão da limpeza (4,05), da realização do serviço bem-feito à primeira
(4,41), da vontade dos colaboradores em ajudar e na vontade de cuidar dos interesses dos agricultores
(4,22), sendo as mais baixas, a inovação no equipamento (3,32), o cumprimento de prazos (3,74), a
falta de resposta imediata aos pedidos dos agricultores (3,77), a formação e conhecimento dos
colaboradores (3,86), a falta de cuidado e de personalização no tratamento aos agricultores (3,65).
O estudo de Saravanan e Kannan (2012), tinha como objetivo avaliar a qualidade de serviço
dos retalhistas rurais, numa amostra de 385 pessoas residentes em Tamil-Nadu (Índia), recorrendo ao
SERVPERF. Os resultados mostram que a maioria dos participantes é do género masculino (57,4%),
104
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
com idade inferior a 20 anos, que está insatisfeita com os serviços prestados pelos retalhistas rurais,
apesar destes assumirem um papel relevante na sociedade, uma vez que ao terem lojas podem
contratar colaboradores, o que irá criar mais postos de trabalho e aumentar a economia do país. Em
contrapartida, os retalhistas rurais que não estiverem organizados, podem não apresentar pontuações
elevadas na tangibilidade, confiabilidade e empatia, pelo que, deverão otimizar esses aspetos, de
modo a satisfazer os seus clientes.
No estudo de Spina, Giraldi e Borges de Oliveira (2012), os autores pretendiam avaliar a
relação existente entre a qualidade e a satisfação dos clientes, através da aplicação de um questionário,
baseado no SERVPERF, a 33 clientes de uma empresa no sector do controlo de pragas. Como
resultados, os autores observaram que as dimensões da qualidade do serviço, que exercem maior
impacto na satisfação dos clientes, referem-se ao conhecimento, documentação, atendimento e
apresentação, o que mostra que a qualidade do serviço influencia de forma positiva a satisfação dos
clientes.
O estudo de Adil (2013), pretendia analisar a eficácia do SERVPERF, numa amostra de 473
clientes de bancos de retalhos rurais, na Índia. As principais conclusões mostram que os clientes
manifestam elevados níveis de qualidade de serviço em todas as cinco dimensões do SERVPERF.
Contudo, apenas a escala melhorada e mais breve de 13 itens é que foi a mais adequada no contexto
rural indiano.
No estudo de Ferreira, Picchiai e Albertini (2013), os autores tinham como objetivo avaliar a
perceção da qualidade do serviço prestado por empresas da agroindústria brasileira, nomeadamente
por 49 produtores de frango de corte. Para isso, os autores aplicaram um questionário baseado no
SERVPERF, tendo aferido que os produtores apresentam uma perceção positiva relativamente aos
serviços prestados pela empresa, existindo uma relação positiva entre a confiabilidade, o volume de
produção e a intenção dos produtores em permanecerem nesta indústria, assim como entre a
confiabilidade, presteza e empatia e a intenção de aumentarem o volume de produção. Também se
verificou que os produtores possuem uma idade média de 50 anos, trabalham nesta indústria
aproximadamente 20 anos e não concluíram o ensino básico, o que pode levar a resistência à
mudança, no que concerne à inovação e automatização tecnológica. Para além disso, os produtores
recorrem com menos frequência à contratação fixa ou temporária de colaboradores, enquanto
desenvolvem atividades complementares à criação de frangos (sobretudo à produção de leite bovino),
que lhes permita obter um maior rendimento.
No contexto de Bangkok (Tailândia), Bootudom e Kessuvan (2015) realizaram um estudo
com o objetivo de analisar os fatores de marketing e o desempenho do serviço que influenciam as
decisões dos consumidores no momento de escolha entre uma cadeia de restaurantes e restaurantes
independentes. A amostra era constituída por 800 consumidores (400 para cada tipo de restaurante),
105
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
a qual foi aplicado um questionário baseado no SERVPERF. A maioria dos participantes pertence ao
género feminino, com cerca de 30 anos, detentores de ensino superior (bacharelato e outros). Quanto
ao comportamento de consumo, este difere uma vez que nos restaurantes independentes, os
consumidores frequentam o mesmo mais de uma vez por semana, ouviram publicidade boca-a-boca,
valorizam o produto, o preço, a evidência física e o processo, exigindo confiabilidade e celeridade.
Por sua vez, os consumidores de cadeia de restaurantes frequentam os mesmos menos de uma vez
por mês, conhecem o restaurante através da televisão e os meios/redes sociais, valorizam o produto,
lugar, promoção e processo, exigindo tangibilidade. De modo geral, o programa de melhoria contínua
deve ser realizado frequentemente, com o intuito de aumentar o desempenho, a motivação, as
competências e a formação dos colaboradores, o que irá atrair e fidelizar mais clientes.
O estudo de Kunkel, Andrioli e Visentini (2015) teve como objetivo identificar de que forma
os agricultores percebem a estrutura comercial no sector de máquinas agrícolas. Para isso, aplicaram
um questionário baseado no SERVPERF a 65 agricultores brasileiros, tendo concluído que a maioria
das propriedades é de média dimensão, possuindo entre 30-50ha, onde são cultivados milho, soja e
trigo, recorrendo ao trator, ao pulverizador, a plantadora e ao distribuidor de fertilizante. Também se
verificou que a maioria dos agricultores (60%) prefere realizar a manutenção das máquinas nas suas
propriedades do que em concessionárias, sendo que os agricultores que frequentam as concessionárias
fazem-no por motivos de qualidade dos produtos e do atendimento oferecido. Isto significa que as
concessionárias devem melhorar a sua oferta de produtos e serviços, de modo que mais agricultores
recorram aos seus serviços.
4.2. Avaliação da Satisfação do Agricultor através do SERVPERF
A implementação de abordagens de qualidade (5S, SERVPERF, entre outras) contribui para
a melhoria do sistema produtivo, que repercutir-se a nível global na empresa, desde o cargo
hierárquico de topo até ao cargo operacional de base.
Estes efeitos, também se refletem no sector da agricultura, onde é essencial que os agricultores
satisfaçam as necessidades e desejos dos consumidores, através de uma produção sustentável,
responsável, de qualidade e personalizada.
Para isso, os agricultores devem interiorizar conhecimentos sobre a qualidade do serviço,
nomeadamente desde as características que os produtos deverão ter para satisfazer os seus
consumidores, passando pela prestação de um serviço dedicado, zeloso, personalizado, até a um apoio
pós-venda (conselhos sobre qual a melhor fruta e legumes da época, entre outros).
Se os consumidores estiverem satisfeitos, então irão divulgar e recomendar os produtos
oferecidos pelos agricultores aos seus familiares, amigos e conhecidos, o que poderá vir a ser uma
106
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
valiosa publicidade boca-a-boca, que neste contexto da agricultura, é o mais frequente e valorizado
pelos consumidores.
Para avaliar as variáveis da Satisfação do agricultor seguiu-se as recomendações de Zeithaml,
Parasuraman e Berry (1990). No questionário, aplicado junto dos agricultores no perímetro de rega
da Barragem do Poilão, mantiveram-se as 5 dimensões propostas por esses autores, seguindo o
modelo SERVPERF, designadamente: Tangibilidade, Fiabilidade, Celeridade/Capacidade de
resposta, Garantia e Empatia, e acrescentou-se mais uma dimensão: Satisfação Geral, visando
averiguar essencialmente a sua satisfação de forma geral, o seu compromisso com a atividade e
vontade de contribuir para as melhorias.
O número de perguntas em cada dimensão foi substancialmente modificado, quase dobrado
em número de perguntas, pois resultou de um trabalho conjunto com os agricultores. Esta mudança
visou refletir todos os aspetos pertinentes às suas atividades produtivas, num sistema de policultura e
de pequena agricultura familiar. Assim, exceto a dimensão Fiabilidade, que manteve 5 perguntas, e
na dimensão Empatia, que registou uma diminuição de perguntas, nas outras três dimensões houve
um aumento de questões, refletindo as discussões e sugestões dos agricultores envolvidos no estudo.
Portanto, este modelo SERVPERF Adaptado foi estruturado num total de 43 perguntas, dos
quais 10 avaliam a Tangibilidade, 5 a Fiabilidade, 8 a Capacidade de Resposta, 14 a Confiança e
Segurança, 2 a Empatia e 4 avaliam a satisfação geral.
Na avaliação da satisfação do agricultor usou-se uma escala do tipo Likert com 5 níveis: 1
“Nada Satisfeito” (NS); 2 – “Pouco Satisfeito” (PS); 3 – “Satisfeito” (S); 4 – Muito Satisfeito” (MS)
e 5 “Totalmente Satisfeito” (TS), tal como é apresentado no estudo de Huang (2011).
Assim, a pontuação média da avaliação de Satisfação, ao longo de cada dimensão, será obtida
por meio das duas etapas a seguir:
1. Para cada respondente, adicionou-se as pontuações do SERVPERF nas respostas pertencentes
à dimensão e depois a soma foi dividida pelo número de perguntas, que compõem as
dimensões;
2. A pontuação obtida na etapa 1 foi adicionado a todos os 144 (N) respondentes e o total
dividido por 144 (N). Os itens 90 a 93 são destinados à avaliação global da satisfação.
De seguida enumerar-seos resultados obtidos para cada uma das variáveis da satisfação,
seguindo o modelo SERVPERF, e apresentar-se-á o valor maior e o valor menor, quer para a
satisfação quer para a insatisfação.
4.2.1. Dimensão Tangibilidade
Quanto a dimensão Tangibilidade que visa avaliar as instalações, os equipamentos e a
apresentação física, efetuaram-se dez perguntas que correspondem às questões Q51 a Q60, conforme
o questionário aplicado e apresentado no Apêndice I (Tabela 20).
107
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Tabela 20 - Resultados da avaliação da Tangibilidade
TANGIBILIDADE
PONTUAÇÃO/CLASSIFICAÇÃO
Q51 - As condições de acolhimento na Delegação do MDR
PS
Q52 - A acessibilidade das instalações da Delegação do MDR
PS
Q53 - Os técnicos que nos auxiliam tem materiais e equipamentos
PS
Q54 - A regularidade das visitas dos técnicos do MDR
PS
Q55 - Serviços de assistência técnica alternativos ao MDR
PS
Q56 - A regularidade das visitas do Delegado do MDR
PS
Q57 - O serviço de gestão da água pela UGBP
S
Q58 - Disponibilidade no mercado das variedades das sementes
que cultivo
S
Q59 - O nível de aumento da minha produção nos últimos 5 anos
S
Q60 - A diversificação das culturas que produzo
S
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Na avaliação da dimensão Tangibilidade verifica-se que:
Relativamente as condições de acolhimento na Delegação do Ministério do Desenvolvimento
Rural: 40,1% dos agricultores respondentes informa estar “Nada Satisfeito” e 1,5%
“Totalmente Satisfeito” (Q51);
Em relação a acessibilidade da Delegação do MDR: 35,3% dos respondentes refere estar
“Nada Satisfeito” e 46,8% declara estar “Satisfeito” (Q52);
No que se refere ao equipamento dos técnicos, que lhes auxiliam no campo, com materiais e
condições de trabalho: 41,9% dos respondentes está “Nada Satisfeito” e 24% está “Satisfeito”
(Q53);
Quanto a regularidade das visitas dos técnicos do MDR: 47,5% está “Nada Satisfeito” e 36%
“Pouco Satisfeito” (Q54);
Quanto a existência de serviços de assistência técnica alternativos ao MDR: 46,3% está “Nada
Satisfeito” e 38,1% “Satisfeito” (Q55).
Sobre a regularidade das visitas do Delegado do MDR: 53,7% está “Nada Satisfeito” e 34,2%
“Satisfeito” (Q56);
Quanto ao serviço de gestão da água prestado pela Unidade de Gestão da Barragem do Poilão:
71,8% está “Satisfeito” e somente 2,1% “Nada Satisfeito” (Q57);
Relativamente a disponibilidade no mercado das variedades das sementes, que cultiva: 66%
está “Satisfeito” e 19,1% está “Pouco Satisfeito” (Q58);
108
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
No que respeita ao aumento da produção nos últimos 5 anos: 55,6% está “Satisfeito” e 19,4%
está “Muito Satisfeito” (Q59);
Quanto a diversificação das culturas que produzem: 66,4% está “Satisfeito” e 21,7% está
“Pouco Satisfeito” (Q60).
Esta dimensão da avaliação da satisfação dos agricultores obteve uma pontuação de 2 para a
avaliação da Tangibilidade e uma classificação de POUCO SATISFEITO, espelhando dessa forma
as baixas pontuações de satisfação em vários aspetos desta dimensão (e.g. acolhimento e
acessibilidade da Delegação do Ministério e a regularidade das visitas do delegado e dos técnicos e a
assistência técnica).
4.2.2. Dimensão Fiabilidade
Relativamente a dimensão Fiabilidade, que visa avaliar a satisfação de expectativas e a
confiança do agricultor, efetuaram-se cinco perguntas, que correspondem às perguntas Q61 a Q65
(Tabela 21).
Tabela 21 - Resultados da avaliação da Fiabilidade
FIABILIDADE
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q61 - Conhecimento dos objetivos de desenvolvimento do perímetro da
Barragem de Poilão
PS
Q62 - A colaboração da delegação para resolver os meus problemas
PS
Q63 - Os serviços e o apoio que a delegação dispõem
PS
Q64 - O prazo para resolução dos problemas
PS
Q65 - O preço da água
PS
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Na avaliação da dimensão Fiabilidade verifica-se que:
Dos respondentes, 43,5% está “Pouco Satisfeito”, 16,7% esta “Nada Satisfeito” e somente
4,3% está “Totalmente Satisfeito”, com o conhecimento que tem em relação aos objetivos de
desenvolvimento do perímetro da Barragem do Poilão (Q61);
Em relação à colaboração da delegação para resolver os seus problemas: 45% diz estar “Nada
Satisfeito”, 37,9% está “Pouco Satisfeito” e somente 4,3% “Muito Satisfeito” (Q62);
Relativamente aos serviços e o apoio que a delegação dispõe: 49,3% está “Nada Satisfeito” e
30,4% “Pouco Satisfeito” (Q63);
No que se refere aos prazos para resolução dos seus problemas: 37,7% está “Nada Satisfeito”
e 46,4% “Pouco Satisfeito” (Q64);
Questionados sobre a sua satisfação com o preço da água: 38,2% está “Satisfeito” e 43,1%
“Pouco Satisfeito” (Q65).
109
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Na avaliação da dimensão Fiabilidade obteve-se uma pontuação de 2 e uma classificação de
POUCO SATISFEITO, que reflete nas baixas pontuações de alguns itens desta dimensão (e.g. aspetos
de colaboração, comunicação e serviços de apoio da delegação).
4.2.3. Dimensão Capacidade de Resposta
Relativamente a dimensão Capacidade de Resposta, que visa avaliar a disponibilidade e a boa
vontade do atendimento, efetuaram-se oito perguntas, que correspondem às perguntas Q66 a Q73
(Tabela 22).
Tabela 22 - Resultados da avaliação da Capacidade de Resposta
CAPACIDADE DE RESPOSTA
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q66 - A assistência técnica disponibilizada pela delegação
PS
Q67 - A assistência técnica para a instalação e funcionamento dos meus sistemas
de rega
PS
Q68 - A assistência técnica para pragas e doenças
PS
Q69 - A assistência técnica para pecuárias
PS
Q70 - As informações para programar a minha produção
PS
Q71 - As formações organizadas pelo MDR são importantes para a minha
atividade
PS
Q72 - A forma como sou atendido na delegação
PS
Q73 - A gestão e distribuição da água para rega
S
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Na avaliação da dimensão Capacidade de Resposta verifica-se que:
Sobre a assistência técnica disponibilizada pela delegação: 45% está “Nada Satisfeito” e 40%
“Pouco Satisfeito” (Q66);
No que diz respeito a assistência técnica para a instalação e funcionamento dos sistemas de
rega: 43,4% refere estar “Nada Satisfeito” e 29,4% declara estar “Pouco Satisfeito” (Q67);
Relativamente a assistência técnica para o controlo de pragas e doenças: 50,4% está “Nada
Satisfeito” e 27,7% “Pouco Satisfeito” (Q68);
A assistência técnica para a pecuária: 48,7% está “Nada Satisfeito” e 24,4% “Pouco
Satisfeito” (Q69);
Quando às informações disponibilizadas que permitam ao agricultor programar a sua
produção: 32,8% está “Nada Satisfeito” e 44,8% “Pouco Satisfeito” (Q70).
Sobre se as formações organizadas pelo MDR são importantes para a sua atividade: 37,3%
está “Nada Satisfeito” e 41% “Pouco Satisfeito” (Q71);
Quanto a forma como são atendidos na Delegação: 42,9% está “Satisfeito”, 24,1% está “Nada
Satisfeito” e 28,6% “Pouco satisfeito” (Q72);
110
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
No que se refere a gestão e distribuição de água para rega: 74,3% está “Satisfeito” e somente
12,5% está “Pouco Satisfeito” (Q73);
Na avaliação da dimensão Capacidade de Resposta obteve-se uma pontuação de 2 e uma
classificação de POUCO SATISFEITO, espelhando dessa forma as baixas pontuações de satisfação
em vários aspetos desta dimensão (e.g. atendimento, a assistência técnica para rega, proteção vegetal,
pecuária e informações de mercado para programação das culturas).
4.2.4. Dimensão Garantia
Relativamente à dimensão Garantia, que visa avaliar a segurança no atendimento,
conhecimento e habilidades técnicas, foram efetuadas catorze perguntas, que correspondem às
questões Q74 a Q87 (Tabela 23).
Tabela 23 - Resultado da avaliação da Garantia
GARANTIA
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q74 - Minha participação nos projetos e programas desenvolvidos pelo
MDR
PS
Q75 - Sinto-me respeitado pelos técnicos
S
Q76 - Os técnicos são simpáticos e educados
S
Q77 - Confiança nos técnicos que trabalham na Delegação
PS
Q78 - Confiança nas informações técnicas que me dão
PS
Q79 - Conheço os meus direitos e deveres
S
Q80 - A segurança e a rentabilidade da minha atividade agropecuária
PS
Q81 - Colocação da minha produção no mercado
S
Q82 - O preço ao qual vendo meu produto
PS
Q83 - Informação dada sobre alterações dos horários de rega
S
Q84 - Informação que recebo sobre às possibilidades de colaboração
PS
Q85 - Informação sobre alteração nos projetos e programas de apoio a produção
PS
Q86 - Respeito pela minha opinião e sugestões
S
Q87 - Respostas as minhas reclamações
PS
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Na avaliação da dimensão Garantia verifica-se que:
Questionado quanto à satisfação com a sua participação nos projetos e programas
desenvolvidos pelo MDR: 48,4% informa estar “Nada Satisfeito” e 36,5% “Pouco Satisfeito”
(Q74);
Interrogado se se sentem respeitados pelos técnicos: 66,7% está “Satisfeito” e 14,8% “Nada
Satisfeito” (Q75);
Quanto ao atendimento: 68,4% refere estar “Satisfeito” com a simpatia e educação dos
técnicos e 13,2% está “Nada Satisfeito” (Q76);
111
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Quanto a confiança nos técnicos que trabalham na Delegação do MDR: 50,8% está
“Satisfeito” e 28,8% “Nada Satisfeito” (Q77);
No que se refere a confiança nas informações que o técnico lhes dá: 56,8% está “Satisfeito” e
25,8% “Nada Satisfeito” (Q78).
Dos respondentes, 63,6% está “Satisfeito” com o conhecimento que tem em relação aos seus
direitos e deveres e 25% “Pouco satisfeito” (Q79);
Quanto a segurança e a rentabilidade da sua atividade agropecuária: 48,9% está “Satisfeito” e
26,2% “Pouco Satisfeito” (Q80);
No que se refere a colocação da produção no mercado: 53,5% está “Satisfeito” e somente
36,1% “Pouco Satisfeito” (Q81);
Sobre o preço ao qual vende o seu produto: 28,5% está “Satisfeito” e 60,4% “Pouco Satisfeito”
(Q82);
Sobre a informação que recebe quando alteração do horário de rega: 47,9% está “Satisfeito”
e 40,3% “Pouco Satisfeito” (Q83).
Sobre as informações que recebe sobre as possibilidades de colaboração: 27,1% está
“Satisfeito” e 56,4% está “Pouco Satisfeito” (Q84).
Sobre as informações que recebe quando alteração nos projetos e programas de apoio a
produção: 47,3% está “Pouco Satisfeito” e 31,3% está “Nada Satisfeito” (Q85).
Questionados se há respeito pela sua opinião e sugestões: 59% diz estar “Satisfeito” e 23,7%
“Pouco Satisfeito” (Q86).
No que diz respeito a obtenção de respostas às suas reclamações: 41,2% está “Satisfeito” e
38,2% “Pouco Satisfeito” (Q87).
Seguindo a mesma tendência das dimensões anteriores, a dimensão Garantia obteve uma
pontuação de 2 e uma classificação de POUCO SATISFEITO, o que reflete dessa forma as baixas
pontuações de satisfação em vários aspetos desta dimensão (e.g. a confiança nas informações e nos
técnicos, participação nos projetos, preço de venda dos produtos e sua colocação no mercado e
respostas às suas reclamações).
4.2.5. Dimensão Empatia
Relativamente a dimensão Empatia, que visa avaliar o atendimento personalizado, interesse
na solução dos problemas, efetuaram-se duas perguntas que correspondem às perguntas Q88 a Q89
(Tabela 24).
112
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Tabela 24 - Resultado da avaliação da Empatia
EMPATIA
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q88 - Visitas técnicas em situações imprevistas
PS
Q89 - Os técnicos falam comigo sobre aquilo que eu faço bem e aquilo
que eu preciso de melhorar
PS
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Na avaliação da dimensão Empatia verifica-se que:
Sobre as visitas técnicas, que são feitas em situações imprevistas (secas, cheias, pragas):
35,7% está “Pouco Satisfeito” e 47,6% “Nada Satisfeito” (Q88);
No que se refere à comunicação entre o agricultor e os técnicos sobre o que faz bem, ou o que
deveria melhorar: 39% está “Satisfeito” e 36,8% “Pouco Satisfeito” (Q89).
Na avaliação da dimensão Empatia, a pontuação de 2 não diverge das anteriores, com uma
classificação de POUCO SATISFEITO, espelhando as baixas pontuações de satisfação em relação à
pouca empatia que julgam receber da delegação do MDR.
4.2.6. Dimensão Satisfação Geral
Para a avaliação geral da satisfação e aferir a disponibilidade de colaboração do agricultor
para a melhoria dos aspetos da assistência técnica, foram efetuadas quatro perguntas, que
correspondem às questões Q90 a Q93 (Tabela 25).
Tabela 25 - Resultados da Satisfação Geral
SATISFAÇÃO GERAL
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Q90 - De uma forma geral, qual é o seu grau de satisfação
S
Q91 - Pagaria para uma assistência técnica de qualidade?
SIM (68,1%)
Q91.1 - Quanto pagaria por mês
500 - 3000 ECV
Q92 - Recomendaria a atividade agropecuária ao seu amigo ou a seu
filho?
SIM (79,2%)
Q93 - Se pudesse, mudaria de atividade profissional?
SIM (50%) NÃO (50%)
Na avaliação da Satisfação de forma geral verifica-se que:
De uma forma geral, verifica-se a satisfação de 63,3% dos agricultores (56,3% “Satisfeito”,
3,5% “Muito Satisfeito” e 3,5% “Totalmente Satisfeito”) e a insatisfação de 36,8% (22,2%
“Pouco Satisfeito” e 14,6% “Nada Satisfeito”) (Q90);
Questionados se pagariam para uma assistência técnica de qualidade: 68,1% responde que
“Sim” e 31,9% responde que “Não” (Q91). Os que responderam que “Sim”, 57,7% estaria
disposto a pagar entre 500-3000 escudos cabo-verdianos, por mês, 16,5% pagariam
pontualmente pela assistência prestada e 18,6% não fazem ideia do valor desse serviço.
113
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
Confrontados se recomendaria a atividade agropecuária ao seu amigo ou a seu filho: 79,2%
responde que “Sim” e 20,8% responde que “Não” (Q92).
Quanto a mudar de atividade profissional: 50% mudaria e outros 50% referiram que não
mudariam (Q93).
4.2.7. Contributos Práticos do SERVPERF na Avaliação da Satisfação
dos Agricultores
De forma geral, numa escala de 0-5, as pontuações obtidas para cada uma das 5 dimensões da
satisfação avaliadas, junto dos 144 agricultores respondentes, na Barragem do Poilão, foram baixas.
Contudo, dentro da mesma dimensão, pode-se observar diferenças que indicam aspetos concretos e
transversais, que exigem melhorias urgentes (e.g. aspetos de comunicação e de assistência técnica).
Em resumo, os resultados obtidos evidenciam que as cincos dimensões (Tangibilidade,
Fiabilidade, Capacidade de Resposta, Garantia e Empatia), todos foram avaliadas com a mesma
pontuação (2 - Pouco Satisfeito). A Tabela 26 resume e apresenta uma visão geral da avaliação das 5
dimensões.
Tabela 26 - Resumo da avaliação das Dimensões da Satisfação
DIMENSÕES DA SATISFAÇÃO
PONTUAÇÃO/
CLASSIFICAÇÃO
Tangibilidade
PS
Fiabilidade
PS
Capacidade de resposta
PS
Garantia
PS
Empatia
PS
Média
2
Classificação
POUCO SATISFEITO
Através dos resultados obtidos pode-se constatar a necessidade de melhorias, designadamente:
- Na dimensão Tangibilidade:
1. as condições de acolhimento e de acessibilidade dos agricultores na delegação do ministério;
2. o apetrechamento dos técnicos com equipamentos básicos para o trabalho de campo;
3. a assistência técnica no campo e regularidade de visitas dos técnicos.
- Na dimensão Fiabilidade:
1. as questões de comunicação entre os beneficiários e o poder público precisam de melhorias,
no que diz respeito ao melhor e maior envolvimento dos agricultores, nos processos de
desenvolvimento do perímetro de rega na barragem;
2. o prazo na resolução das questões e o preço da água são outros dos aspetos identificados.
114
QUALIDADE DO SERVIÇO AGRÍCOLA E SATISFAÇÃO DO AGRICULTOR
- Quando a dimensão Capacidade de Resposta, fica claro a pouca capacidade de resposta
da delegação no que se refere:
1. o atendimento ao agricultor;
2. a assistência técnica para os sistemas de rega, pragas, pecuária, planificação para produção e
formação.
- Na dimensão Garantia:
1. constata-se uma falta de segurança nos técnicos que trabalham na delegação do MDR;
2. ressentem a sua pouca envolvência em projetos e programas desenvolvidos pelo ministério;
3. tem pouca segurança na própria atividade que praticam, das dificuldades de colocação dos
seus produtos no mercado, no preço dos produtos e no fluxo de informação que tem
expectativa de obter do ministério e da morosidade nas respostas as suas reclamações.
- Na dimensão Empatia percebe-se que o agricultor espera maior e melhor atenção nas
situações de crise e em ajudá-lo a melhorar a sua atividade produtiva.
Apesar dos resultados indicarem tendencialmente uma insatisfação generalizada com os
serviços prestados pelo Ministério da Agricultura e do Ambiente, percebe-se que existem diferenças
de avaliações de item para item dentro de cada uma das 5 dimensões. Isso permite identificar onde as
insatisfações são maiores e, assim, uma planificação dos serviços públicos e direcioná-los para aquilo
que o agricultor precisa, bem como melhorar os mecanismos de prestação deste serviço público, de
forma a dar maior satisfação aos agricultores.
Apesar da pouca satisfação, percebe-se que o agricultor está satisfeito com a sua atividade,
pois, a maioria responde estar satisfeito e recomendaria essa ocupação ao seu filho ou amigo. Algum
cansaço e desânimo, provocado pelas dificuldades próprias da agricultura em Cabo Verde e
dificuldades na implementação de serviços públicos satisfatórios às expectativas do agricultor, podem
explicar a sua resposta positiva, quando questionado se mudaria de profissão se pudesse.
115
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
CAPÍTULO V
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA
QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFÃO
“Designing quality into service requires melding the precision of the engineer, the holistic
view of the architect, and the customer-mindedness of the marketer” (Zeithaml, Parasuraman
& Berry, 1990, p. 158)
Com esta pesquisa pretende-se avaliar a eficiência dos recursos disponibilizados no sistema
agrícola de Cabo Verde, com foco na produção agrícola e na gestão da qualidade. Para atingir esse
propósito, foi desenvolvida uma ferramenta denominada SQual4Agri (S que significa
satisfação||SERVPERF||Serviço; Qual=Qualidade; 4=for=para; Agri=Agricultura), que é baseada em
trabalhos anteriores relacionados à temática da qualidade em Cabo Verde.
A pesquisa está estruturada em três partes distintas:
1. Dimensão da Qualidade: Essa dimensão engloba a abordagem dos 5S para avaliar a qualidade.
Os 5S representam os Sensos de utilização, organização, limpeza e zelo, saúde, autodisciplina,
educação e compromisso. Através desses sensos, busca-se avaliar a qualidade dos processos
de trabalho, organização, higiene, entre outros aspetos relacionados à produção agrícola.
2. Dimensão da Produção: Nesta parte, são apresentadas as variáveis para caracterizar as
unidades de produção agrícola e estimar a produção. O que inclui dados como o tamanho das
propriedades agrícolas, tipos de culturas cultivadas, entre outros fatores relevantes para a
produção agrícola.
3. Dimensão da Satisfação: Nesta parte, é utilizado um modelo adaptado chamado SERVPERF
para avaliar a satisfação dos produtores. O modelo considera seis dimensões de satisfação:
tangibilidade, fiabilidade, capacidade de resposta, garantia, empatia e satisfação geral. Com
base nessas dimensões, é possível analisar o nível de satisfação dos produtores em relação aos
recursos disponibilizados no sistema agrícola.
O estudo concentra-se no perímetro de rega da Barragem do Poilão, localizado na ilha de
Santiago, Cabo Verde, onde se procura relacionar os fatores presentes nos modelos teóricos estudados
com a realidade empírica do local.
O resultado esperado desse estudo é obter um melhor entendimento dos aspetos que os
produtores/agricultores identificam como necessidade de melhorias e que podem resultar em ganhos
na produção agrícola. Além disso, a utilização mais eficiente e eficaz dos recursos atualmente
disponibilizados é um dos objectivos-chave para promover o desenvolvimento sustentável do setor
agrícola em Cabo Verde. A metodologia e a ferramenta de diagnóstico desenvolvidas nesse estudo
116
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
podem ser úteis para orientar políticas e práticas que visem aprimorar a qualidade e a produtividade
da agricultura no país.
5.1. Construção do Instrumento SQual4Agri
O estudo visa avaliar, como se referiu anteriormente, a eficiência dos recursos
disponibilizados no sistema agrícola de Cabo Verde, bem como pretende-se efetuar essa avaliação
com base em estimativas de produção e sob a perspetiva de gestão da qualidade.
Na primeira parte do instrumento de investigação, apresenta-se a dimensão da Qualidade,
através das variáveis dos 5S, designadamente: os Sensos da utilização, da organização, da limpeza e
zelo, de saúde e da autodisciplina, educação e compromisso.
Na segunda parte, apresenta-se a dimensão da Produção, com as variáveis para a
caracterização da unidade de produção e a estimativa da produção agrícola.
Na terceira parte, a Satisfação do agricultor, através do modelo SERVPERF adaptado, onde
se considerou 6 dimensões da Satisfação designadamente: a Tangibilidade, a Fiabilidade, a
Capacidade de Resposta, a Garantia, a Empatia e a Satisfação Geral.
A construção da ferramenta SQual4Agri, que seguidamente se apresenta, foi baseado
fundamentalmente em trabalhos anteriores, no âmbito da temática da qualidade, realizados em Cabo
Verde, utilizando os 5S, SERVPERF adaptado para a satisfação e o estudo realizado por Fonseca et
al. (2014), sobre a Estimativa da Produção Hortícola Potencial no Concelho de Montemor-o-Novo
(2014) e sobre o Estudo Socioeconómico dos produtores/regantes do perímetro da Barragem do
Poilão (2015) realizado pelo Ministérios da Agricultura de Cabo Verde.
À vista disso, neste capítulo apresenta-se a metodologia de investigação aplicada na
construção do questionário, que engloba as variáveis Qualidade, Produção e Satisfação, apresentando
as variáveis, os processos desenvolvidos na construção do questionário, a recolha dos dados e as
técnicas de tratamento de dados, os participantes e o modelo proposto.
5.1.1. Focus Group com os Agricultores
Com vista à construção do instrumento de recolha dos dados, a aplicar no estudo empírico,
partiu-se de uma abordagem participativa, usando um Focus Group de 15 agricultores, todos
produtores agrícolas do perímetro de rega da Barragem do Poilão e que participaram em duas sessões
de trabalho, uma na preparação do primeiro questionário e outra após a realização do teste piloto
(Berg, 2001; Morgan, 1996).
Numa investigação, segundo Krueger e Casey (2009), o número de participantes recomendado
é de 4 a 12, contudo, depende da natureza e dos objetivos dessa investigação e, neste caso específico,
dada a homogeneidade de interesses dos participantes, o Focus Group de 15 participantes, com o qual
se trabalhou, revelou-se adequado. Assim, para Krueger e Casey (2009), a finalidade de realização
117
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
do Focus Group é melhorar a compreensão de como as pessoas sentem ou pensam sobre uma ideia,
questão, produto ou serviço.
Durante estas sessões discutiu-se os tópicos e a sua relevância para os agricultores e cada item
do questionário foi submetido para validação do produtor, visando saber se o item era relevante para
a sua atividade e se o produtor compreende a sua formulação.
Segundo Silva, Veloso e Keating (2014), fez-se a sensibilização prévia dos produtores do
Focus Group, no sentido de os informar sobre o estudo e como este pode trazer informações
relevantes para ajudar a resolver os problemas por eles enfrentados.
Os participantes foram escolhidos em função do seu carácter participativo, através das
informações recolhidas junto dos técnicos da Unidade de Gestão da Água da Barragem do Poilão.
No Focus Group trabalhou-se com um moderador e um moderador assistente, nomeadamente
a investigadora deste estudo e um colega. A composição do Focus Group foi feita mediante uma
consulta prévia a uma das agricultoras no perímetro, que se disponibilizou a colaborar na
sensibilização de outros agricultores.
Com o Focus Group pretendia-se a colaboração na construção do questionário, ajudando na
identificação dos aspetos temáticos apresentados e que refletissem aspetos pertinentes e relevantes
em relação às atividades dos agricultores. Posteriormente, e com base na literatura e experiências
anteriores, foi preparado uma proposta de questionário, que foi submetido aos elementos participantes
do Focus Group. As sessões foram realizadas aos sábados, por ser o melhor dia para estes
agricultores, e foram mantidas num período de 90 minutos, ao ar livre, frente à casa de um dos
agricultores, por ser uma localização mais acessível aos outros agricultores. Todas as sessões eram
iniciadas com uma explicação do projeto, objetivo da sessão, a metodologia a seguir, os encontros a
realizar, respostas a eventuais dúvidas, seguindo-se a explanação dos objetivos da sessão, conforme
o roteiro na Tabela 27.
Tabela 27 - Roteiro das sessões do Focus Group
DESCRIÇÃO
DURAÇÃO (Min)
Apresentação do projeto
15
Objetivo do grupo
10
Metodologia de trabalho
5
Informação sobre a frequência dos encontros
5
Apresentação do questionário de estimativa da produção
10
Recolha de subsídios
45
90 MIN
A Figura 8 apresenta a reportagem das sessões de Focus Group com os agricultores.
Figura 8 Reportagem das Sessões de Focus Group Agricultores
118
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Assim, neste estudo, o Focus Group foi utilizado para a construção do questionário,
fornecendo evidências de como os agricultores se posicionam relativamente ao tema base desta
investigação (Oliveira & Freitas, 1998).
5.1.2. Conceção do Questionário
Com base nas discussões do Focus Group foram retiradas anotações e as sessões foram
gravadas em áudio. Com as informações recolhidas, foi elaborado um questionário, dividido em três
partes: 1) Estimativa da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos; 2) Qualidade da gestão da
exploração agrícola; e 3) Satisfação do agricultor/produtos, em relação aos serviços públicos que lhe
são destinadas.
Tal como Pedroso et al., (2014) referem, a opção por esta abordagem visou selecionar, para a
versão final deste instrumento, as melhores perguntas para cada uma das partes do questionário.
119
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Tendo em atenção a problemática e os objetivos para esta pesquisa e a abordagem
participativa, usando o Focus Group, foi criado e testado uma metodologia que juntou três
parâmetros: Produção, Qualidade e Satisfação, num questionário de perceção, designado SQual4Agri,
resultante do alargamento de um instrumento inicial, construído a partir de um estudo de diagnóstico,
referente à aplicação da abordagem da qualidade 5S, em unidades de produção agrícola, nas ilhas de
S. Nicolau e de Santiago, em Cabo Verde (Simões & Saraiva, 2014; Simões, 2018).
Ao questionário elaborado nesses dois estudos de diagnóstico dos 5 Sensos, foram
adicionados mais duas componentes: a Estimativa da Produção e a Satisfação dos agricultores, em
relação aos serviços públicos.
O instrumento SQual4Agri (S que significa satisfação||SERVPERF||Serviço; Qual=Qualidade;
4=for=para; Agri=Agricultura) é constituído por 93 perguntas, organizadas em três parâmetros: 1)
Produção 2) Diagnóstico dos 5 Sensos e 3) Avaliação da satisfação dos agricultores. O parâmetro da
Produção comporta os aspetos da caracterização das unidades de exploração e informações sobre a
produção, as culturas, os sistemas de produção e de mercado.
A construção e aplicação do questionário obedeceu à seguinte sequência:
Preparação de uma proposta de questionário, que foi feita depois da revisão da literatura.
Esta proposta foi discutida e melhorada aquando da realização do Focus Group;
Aplicação junto de um grupo piloto de 20 agricultores, entre os quais participaram os 15
elementos que estiveram no Focus Group, em que os participantes colaboraram ativamente na
construção do questionário;
Aplicação junto de um grupo de 50 agricultores, aos quais foi aplicado o inquérito adaptado
com os ajustes introduzidos (e.g. especificou-se melhor os tipos de materiais em excesso na
propriedade com exemplos reais: tubos de rega, bidons, máquinas não utilizadas, incluiu-se energias
renováveis como fonte de energia, materiais usadas na proteção das motobombas, incluiu-se outros
mercados);
Aplicação junto de mais 74 agricultores;
Tratamento dos dados: os dados foram tabulados e tratados em três sequências:
a) Teste piloto de 20 respostas, tabulação e tratamento;
b) Tabulação de 50 respostas, tratamento da base de dados composta por 70
respondentes;
c) Tabulação de 74, tratamento da base de dados que inclui 144 respostas obtidas.
Salienta-se que foram introduzidas melhorias no questionário após a aplicação do teste piloto
(20) e após a aplicação junto dos 50 agricultores.
120
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
5.1.3. Variáveis do Questionário
As variáveis definidas para este estudo são: a Qualidade onde se avalia o nível de
implementação da abordagem da qualidade 5S; a Produção, na qual se levantam as informações para
caracterizar as unidades de produção, as culturas praticadas, as áreas, quantidades e mercados; e a
Satisfação, através do SERVPERF adaptado, para avaliar o nível de satisfação dos agricultores
relativamente aos serviços públicos de que são beneficiários.
A primeira variável é o grau de implementação da abordagem de qualidade 5S. Seguindo o
estudo de Simões e Saraiva (2014), este ponto no questionário está estruturado em 36 perguntas, dos
quais, 5 para o 1º Senso; 15 para o 2º Senso; 8 para o 3º Senso; 5 para o 4ª Senso; e 3 perguntas para
o 5º Senso.
A segunda variável referente à Estimativa da Produção Agrícola em policultura é composta
por, essencialmente, 14 perguntas fechadas de escolha única e de escolhas múltiplas, composta por:
Caracterização da Unidade de Produção (6 questões), Estimativa da Produção Agrícola em policultura
(4 questões), variáveis que caracterizam a produção (2 questões) e os mercados (2 questões).
A terceira variável em estudo é referente ao nível de satisfação dos agricultores em relação
aos serviços públicos, através da adaptação do SERVPERF, estruturado num total de 43 perguntas,
dos quais 10 avaliam a Tangibilidade, 5 a Fiabilidade, 8 a Capacidade de Resposta, 14 a Confiança e
Segurança, 2 a Empatia e 4 avaliam a satisfação geral. A Tabela 28 apresenta as dimensões da
satisfação avaliadas pelo SERVPERF e compara-as com o questionário proposto SQual4Agri.
Tabela 28 - Dimensão e significado dos itens do SERVPERF e do SQual4Agri
DIMENSÃO
SIGNIFICA
SERVPERF
SQual4Agri
Tangibilidade
Instalação, equipamento, apresentação física
4
10
Confiabilidade/
Fiabilidade
Satisfação de expectativas, confiança do consumidor
5
5
Celeridade/ Capacidade de
Resposta
Disponibilidade e boa vontade do atendimento
4
8
Garantia/ Confiança-
Segurança
Segurança no atendimento, conhecimento, habilidade
técnica
4
14
Empatia
Atendimento personalizado, interesse na solução dos
problemas
5
2
Satisfação geral
Compromisso com a atividade agrícola e vontade de
contribuir para melhorias
-
3
Total
22
43
As escalas usadas nessas variáveis no SQual4Agri variam nos três temas em estudo:
1. QUALIDADE No diagnóstico da implementação dos 5S usou-se a seguinte escala:
Conforme (C), Parcialmente Conforme (PC), Não Conforme (NC) e Não Aplicável (NA), tal
como é apresentado no estudo de Simões e Saraiva (2014). Para classificar e quantificar cada
Senso, seguiu-se o estudo dessas mesmas autoras. O critério de pontuação dependia da
resposta: Conforme2 pontos; Parcialmente Conforme1 ponto; Não Conforme0 pontos.
121
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Após a aplicação do questionário, os pontos obtidos foram somados e multiplicados pelo fator
cinco, posteriormente a pontuação foi dividida pelo número de perguntas de cada senso, e então
obtido o valor final da avaliação do respetivo senso. A pontuação máxima de cada Senso é fixada em
dez (10) e a mínima é fixada em zero (0). Após a recolha e tratamento dos dados, foi possível obter a
pontuação de cada Senso, através da fórmula:
Pontuação = (Soma Pontos x 5) / (N.º Questões do Senso)
Para facilitar a análise individual de cada variável/Senso, foi elaborada uma escala, de modo
a ser possível classificá-las qualitativamente (Tabela 29).
Tabela 29 - Escala de classificação a atribuir aos Sensos
PONTUAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO
0-2
MAU
2-4
INSUFICIENTE
4-6
SUFICIENTE
6-8
BOM
8-10
MUITO BOM
1. PRODUÇÃO Na estimativa da produção, devido a dados específicos, que se procuram, as
perguntas são fechadas;
2. SATISFAÇÃO Na avaliação da satisfação do agricultor usou-se uma escala do tipo Likert
com 5 níveis: 1- Nada Satisfeito (NS); 2- Pouco Satisfeito (PS); 3 Satisfeito (S); 4 Muito
Satisfeito (MS) e o 5 - Totalmente Satisfeito (TS), tal como é apresentado no estudo de Huang
(2011).
O cálculo da Satisfação do agricultor seguiu as recomendações de Zeithaml et al. (1990).
Assim, a pontuação média da avaliação de Satisfação, ao longo de cada dimensão, será obtida por
meio das duas etapas a seguir:
1) Para cada respondente, adicionou-se as pontuações do SERVPERF nas respostas
pertencentes à dimensão e depois a soma foi dividida pelo número de perguntas, que compõem as
dimensões;
2) A pontuação obtida na etapa 1 foi adicionado a todos os 144 (N) respondentes e o total
dividido por 144 (N). Os itens 90 a 93 são destinados à avaliação global da satisfação.
A Tabela 30 resume a organização, as dimensões, as variáveis, tipo e escalas das questões
apresentadas no questionário SQual4Agri e como cada uma das questões, que constituem o
questionário, se relacionam para permitir diagnosticar a qualidade na gestão da unidade de produção,
caracterizar as unidades de produção e avaliar a produção, e averiguar a satisfação dos agricultores.
122
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Tabela 30 - Organização do Questionário
Dimensão
Variável
perguntas
Escala
PARTE I -
Produção
Caracterização
Dados pessoais
6
Perguntas fechadas de escolha única
e perguntas fechadas de escolhas
múltiplas
Unidade de produção
4
Estimativa da
Produção agrícola
em Policultura
Produção
2
Mercado
2
PARTE II - Qualidade
Diagnóstico da
Qualidade da
Gestão da Unidade
de
Produção
Senso de utilização
(seiri)
5
3 níveis e perguntas fechadas,
Conforme (C), Parcialmente
conforme (PC), Não conforme (NC)
Senso de ordenação
(seiton)
15
Senso de limpeza
(seiso)
8
Senso de saúde
(seiketsu)
5
Senso de
autodisciplina,
educação e
compromisso (shitsuke)
3
PARTE III -
Satisfação
Diagnóstico do
nível da Satisfação
dos Agricultores
Tangibilidade
10
5 níveis e perguntas fechadas, Nada
satisfeito (NS), Pouco satisfeito
(PC), Satisfeito (S), Muito satisfeito
(MS), Totalmente satisfeito (TS)
Fiabilidade
5
Capacidade de resposta
8
Garantia
14
Empatia
2
Satisfação geral
4
5.1.4. Processo Recolha de Dados
A investigação foi organizada em duas principais etapas: 1) a definição da problemática a ser
estudada, o objeto de estudo, os objetivos da investigação e as proposições a validar; 2) a fase
exploratória, que teve início com a revisão bibliográfica e que permitiu fazer o enquadramento do
tema, o “estado da arte” e aprofundar cada um dos temas relacionados com o objeto de estudo e os
trabalhos de estudos empíricos. Posteriormente, foi testado o instrumento de recolha de dados, num
teste piloto, aplicado a 20 agricultores e numa segunda fase, a mais 50 agricultores e, por fim, numa
terceira fase aplicada a mais 74 agricultores, perfazendo assim um total de 144 respondentes.
A Figura 9 apresenta as fases da construção, aplicação e do tratamento de dados do
questionário SQual4Agri.
123
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Figura 9 - Etapas da construção do questionário
A recolha de dados em três fases permitiu adequar a ferramenta às especificidades do
perímetro de rega da Barragem do Poilão e as sucessivas fases permitiram construir a base de dados.
Com base no arrolamento das parcelas e dos regantes do perímetro de rega da Barragem do
Poilão, elaborado pela Direcção Geral da Agricultura, em 2015, constatou-se existir 265 parcelas, que
pertencem a 218 agricultores, numa área total de 90 ha.
Para efeitos dos sistemas de rega e organização da distribuição da água para rega, estas
parcelas encontram-se organizadas em 10 talhões ou blocos (DSERAN-MDR, 2015). Em função da
tendência, devido à falta de água e, consequentemente, à existência de menos parcelas e menos
agricultores a trabalhar, conseguiu-se somente 144 respostas.
Inicialmente, como população para o inquérito, definiu-se um total de 200 agricultores o que
permitiria uma margem de erro de 2%. No entanto, face à tendência mencionada obteve-se 72% do
inicialmente proposto, que permitirá uma margem de erro de 5%. Assim, o processo de recolha das
informações ficou aquém do previsto, devido à extrema seca que o país sofreu e à escassez de água
na Barragem, o que levou a que muitos agricultores tivessem abandonado as suas explorações.
Como inquiridores constituiu-se um grupo de 3 estudantes, do curso de Agronomia, da Escola
de Ciências Agrárias e Ambientais, da Universidade de Cabo Verde e 2 técnicos que trabalham na
Unidade de Gestão da Água da Barragem do Poilão. Esta equipa, que também participou com
sugestões de melhoria, recebeu formação, nas várias fases da investigação, de modo a permitir a
aquisição de melhores informações para fazer a aplicação do questionário, como instrumento de
recolha de dados.
124
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
A Figura 10 apresenta a reportagem das sessões de Focus Group com os inquiridores.
Figura 10 Reportagem das Sessões de Focus Group Inquiridores
Para o teste piloto, realizado em fevereiro de 2017, foram inquiridos 20 agricultores, dos quais
15 pertenciam ao Focus Group. Para a segunda fase, realizada entre abril e maio de 2017, foram
selecionados 5 agricultores em cada um dos dez talhões do perímetro, destes um com a maior área da
125
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
parcela e o outro com a menor área da parcela e 3 com parcelas dentro do tamanho médio. Para a
terceira fase, realizada entre setembro e novembro de 2017, e tendo em conta que se pretendia inquirir
o maior número possível de agricultores, foram inquiridos todos os agricultores que foram
encontrados nas suas parcelas, durante esse período e que não haviam sido inquiridos nas duas fases
anteriores.
5.1.5. Modelo Integrado SQual4Agri
O modelo conceptual, construído no âmbito desta investigação, visa avaliar os parâmetros da
Qualidade, da Produção e da Satisfação.
Para o primeiro parâmetro, pretende-se analisar a Qualidade na gestão da exploração agrícola.
Pelo que, foi usado a abordagem dos 5 Sensos, e seguidos os trabalhos anteriores de Saraiva & Simões
(2014) e Simões (2018), em que são apresentadas os 5 Sensos: Utilização (Seiri), Ordenação (Seiton),
Limpeza e Zelo (Seiso), Saúde (Seiketsu) e Autodisciplina, Educação e Compromisso (Shitsuke).
Cada um dos Sensos tem perguntas que buscam responder às questões para esta investigação.
O segundo parâmetro da Produção foi construído uma Estimativa da Produção Agrícola
(EstProAgri), que tem duas dimensões, nomeadamente a Caracterização da Unidade de Produção e a
Estimativa da Produção Agrícola em policultura. Na primeira dimensão, as variáveis apresentam as
informações de identificação pessoal e social e da unidade de produção e a identificação dos sistemas
de produção. Na segunda, as variáveis caracterizam a produção e os mercados, de modo a obter
respostas às questões levantadas para este estudo.
Para o terceiro e último parâmetro, relativo a Satisfação dos agricultores com a prestação dos
serviços públicos, de que são beneficiários, usou-se o SERVPERF, que foi adaptado tendo mantido
as suas cinco dimensões (Tangibilidade, Fiabilidade, Capacidade de Resposta, Garantia e Empatia) e
acrescentado uma sexta dimensão, a da Satisfação Geral, onde se procura conhecer a satisfação geral
do agricultor, o seu comprometimento com a atividade e disponibilidade para partilhar
responsabilidade na assistência técnica. Cada dimensão referida tem as suas variáveis que igualmente
buscam responder as questões deste estudo.
Conforme exposto, os três parâmetros: Qualidade, Produção e Satisfação, são detalhadas nas
dimensões do EstProAgri, os 5S e o SERVPERF adaptado, cuja estruturação resulta no questionário
SQual4Agri, que constitui a principal ferramenta de pesquisa utilizada nesta investigação.
A junção destas três ferramentas permitirá uma aplicação mais aprofundada sobre a qualidade
na gestão das explorações agrícolas, as informações sobre a produção e os sistemas de produção,
incluindo os mercados, e perceber o nível de satisfação dos agricultores em relação a sua atividade
profissional e aos serviços públicos de que são beneficiários.
126
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Este modelo conceptual de investigação que, aqui, se propõe, aplicar-se-á aos agricultores do
perímetro de rega da Barragem do Poilão, visando recolher informações empíricas, que suportem os
benefícios acima expostos (Figura 11).
Figura 11 - Modelo Conceptual de Investigação SQual4Agri
Esta metodologia visa avaliar as expectativas dos agricultores e produtores em relação a sua
atividade profissional e dos serviços públicos de que são beneficiários, tendo em conta a prossecução
dos objetivos estabelecidos para a contribuição deste sector, com múltiplos efeitos no
desenvolvimento do país, nomeadamente no aumento da produção, na redução da pobreza e na
melhoria da qualidade de vida.
A realização deste desiderato num contexto de escassez de recursos traz consigo outros
aspetos não menos importantes, tais como a otimização da produção, a satisfação do consumidor, o
aumento das receitas dos produtores, diminuição de impactos ambientais negativos, otimização dos
investimentos públicos e uma partilha equitativa do bem-estar social.
Assim, nesta investigação propõe-se um modelo conceptual, que liga duas abordagens de
qualidade (os 5S e o SERVPERF adaptado) e o modelo para a estimativa da produção (EstProAgri),
cujo objetivo é de que a sua implementação possa ser realizada num contexto da pequena agricultura
familiar, de modo a permitir avaliar a qualidade na gestão destas unidades e a satisfação destes
agricultores e, desta forma, através da monitorização, introduzir melhorias na gestão das explorações
agrícolas.
É de realçar que uma das finalidades deste modelo passa por avaliar a qualidade existente na
gestão das explorações agrícolas cabo-verdianas, assim como identificar os pontos fortes e fracos,
que as unidades de produção deverão corrigir, para alcançar vantagens competitivas, das quais se
destacam: a satisfação das necessidades e expetativas dos agricultores/clientes, o aumento da
produção e da produtividade, o uso mais eficiente de recursos (naturais, humanos e financeiros) e a
construção de uma cultura de qualidade, que comece na produção e não no produto. A satisfação dos
127
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
agricultores/clientes é uma parte integrante da qualidade do serviço, pelo que, a sua avaliação permite
conhecer e eficiência no uso de recursos. O Estado, enquanto principal ator do desenvolvimento, tem
um importante papel a desempenhar e, cada vez mais, na prestação de contas aos cidadãos. Neste
sentido, e na perspetiva de Saraiva (2004, p. 342):
“(…) está-se perante uma situação em que o Estado e Sociedade exigem das instituições uma
demonstração da sua qualidade e da boa utilização dos recursos de que dispõem, fatores que
não sendo garantido à priori, terão de ser avaliados à posteriori (…) estas formas passam ou
devem passar, por sistemas de gestão e avaliação adequados, que permitam a cada instituição
saber como está e é, como quer ser, e como deve proceder para lá chegar”.
As organizações e as instituições apresentam, por vezes, necessidades específicas que não são
respondidas por metodologias de qualidade, criadas em determinado contexto, ou pela própria
evolução do negócio, ou pelo facto da organização solicitar informações, que as metodologias
existentes e testadas não conseguem produzir. Por um lado, a própria dinâmica da qualidade pressiona
que estes instrumentos sejam continuamente testados e adequados às necessidades das organizações,
do ambiente cultural e do negócio, surgindo assim propostas de sistemas de qualidade híbridos
(Awasthi et al., 2011; Mota & Nacimento, 2011; Udo et al., 2011; Yaya et al., 2012), cuja
replicabilidade ajuda a determinar sua confiabilidade e validade, de modo a então poderem permitir
dar resposta às mudanças de contexto e às necessidades das organizações.
Assim, constata-se que esta abordagem permitiu conhecer e incluir no questionário as
questões que mais preocupavam os produtores, adequá-la à sua linguagem e contexto, tendo resultado
numa maior rapidez na sua aplicação e na obtenção de informações, sobre aspetos específicos, que
podem ser alvo de melhorias (e.g. água, assistência técnica e comunicação).
5.2. Modelo integrado para Melhorar a Qualidade, Produção e
Satisfação dos Agricultores em Pequenas Unidades de
Produção Agrícola
Ao longo do tempo, tem-se assistido a nível mundial a uma constante inovação e
modernização da agricultura, baseada na melhoria dos equipamentos e máquinas, numa produção
mais sustentável, com produtos mais amigos do ambiente, produtos biológicos e pela existência de
programas e linhas de financiamento, por parte dos Governos e das organizações internacionais,
preocupadas com este sector.
No contexto cabo-verdiano existe uma preocupação governativa permanente com este sector,
facto que se espelha em vários dos seus documentos estratégicos, incluindo no mais recente (PEDS,
2017-2021), onde se reafirma este compromisso com as opções estratégicas do governo, para este
sector, e no qual se promete torná-lo:
128
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
1. Um sector gerador de rendimentos, que traga prosperidade e reconhecimento social, que
respeite e proteja o ambiente, que gere rendimentos justos para os agricultores, que gere
excedentes e rentabilidade;
2. Um sector, que passe da ótica da subsistência para a empresarialização, que se torne numa
agricultura e agroindústria competitiva, no mercado local e em nichos de mercados
internacionais, que contribua para a segurança alimentar e nutricional da população e para a
capacidade exportadora do país.
Este documento de estratégia vai ainda mais longe afirmando que “os maiores desafios da
agricultura são, antes de mais, a garantia da qualidade dos produtos para responder à procura efetiva
e potencial, a circulação dos produtos e a competitividade” (PEDS 2017-2021, p. 88).
No contexto mundial, também se têm verificado alguns aspetos menos positivos, que poderão
levar as empresas agrícolas e os agricultores a ficarem desmotivados, uma vez que sentem que o
esforço realizado e investido foi infrutífero. Nestas situações englobam-se a falta de apoio ou de
crédito, que os agricultores não são capazes de suportar tal peso, assim como, a ocorrência de
períodos de seca ou de chuva intensa; um mau pagamento pelos seus produtos/serviços prestados; a
criação de novas empresas agrícolas mais modernizadas, com as quais as empresas mais obsoletas ou
tradicionais não conseguem competir, entre outros.
Isto leva a que as empresas agrícolas ou os agricultores se sintam insatisfeitos com a sua
produção, o que se irá refletir na qualidade dos produtos/serviços prestados, na reputação e boa
imagem, na subsequente insatisfação dos clientes e na ineficiência de toda a cadeia de produção. Por
sua vez, também se poderá observar uma diminuição da produção e dos rendimentos resultantes da
mesma, pelo que, os responsáveis pelas empresas ou os agricultores se sentirão mais predispostos a
procurarem uma atividade complementar, que lhes assegure um rendimento extra, de modo a cobrir
as despesas e a garantir a sua sobrevivência.
Relativamente ao contexto agrícola de Cabo Verde, este caracteriza-se pela prática de
agricultura familiar, onde é valorizada a produção aliada à competitividade, à sustentabilidade, à
tradição e à pequena produção. Não obstante, este tipo de agricultura também é influenciado por
aspetos externos, tais como: a escassez de recursos hídricos e solos aráveis; períodos de seca; a
limitação de recursos naturais; o elevado custo de dessalinização; o acesso a mercados de alto valor;
a falta de escala, forte concorrência com produtos importados, entre outros. Pelo que, o foco do
Governo, no âmbito das medidas de política agrária, privilegiará o desenvolvimento de sistemas
produtivos, tais como: unidades familiares, cooperativas de produção ou empresas, tecnologicamente
modernas, rentáveis e ambientalmente sustentáveis (PEDS 2017-2021).
129
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Neste quadro encontra-se também a agricultura sustentável, como parte integrante das
políticas públicas em vários países, e parte fundamental das ações promovidas pela FAO. Esta
agricultura assenta-se de forma resumida nos seguintes princípios fundamentais:
1. Mais eficiência na utilização de recursos;
2. Ações diretas para conservar, proteger e valorizar os recursos naturais;
3. Melhorar os modos de vida rurais e o bem-estar social;
4. Melhorar a resiliência das populações, ecossistemas, sobretudo, em relação às mudanças
climáticas e volatilidade dos preços;
5. Uma boa governação é essencial para garantir a sustentabilidade dos sistemas naturais e
humanos.
De modo a melhorar o sistema produtivo, é essencial que as empresas agrícolas ou os
agricultores cabo-verdianos analisem adequadamente a relação entre as ferramentas de qualidade, que
contribuirão para que estes saibam avaliar a qualidade existente nos seus produtos/serviços e qual a
melhor forma para otimizar os benefícios, resultantes da implementação dessas ferramentas, pois não
basta fazerem parte dos instrumentos de trabalho diário das pessoas, se estas não as souberem aplicar.
Por esse motivo, é urgente o desenvolvimento de uma economia de qualidade baseada na
qualidade total, que segundo Pires (2012) corresponde à cultura da empresa, que permite fornecer
produtos e serviços, que satisfaçam as necessidades e expetativas dos clientes, ou seja, uma cultura
de qualidade. Esta cultura de qualidade deverá ser realizada, de forma transversal, por todos os
membros das empresas agrícolas ou pelos agricultores, independentemente da dimensão da
propriedade agrícola ou do tipo de produção.
5.2.1. Parâmetro Qualidade
Para o parâmetro Qualidade do modelo integrado foi usado a Abordagem dos 5S, sendo o 1.º
Senso Seiri (Utilização), 2.º Senso Seiton (Ordenação), 3.º Senso Seiso (Limpeza ou Zelo), 4.º Senso
Seiketsu (Saúde e Padronização) e 5.º Senso Shitsuke (Autodisciplina e Compromisso) (Figura 12).
No Seiri (1.º Senso), os autores Arena, Buglia, Pereira e Tamae (2011) evidenciam que é
essencial proceder à separação, classificação e libertação de objetos, consoante a sua utilidade, dentro
do ambiente em que se inserem. Shaik et al., (2015) acrescentam que o Seiri contribui para a melhoria
do processamento, a diminuição do custo, a resolução do escoamento de stock e a melhoria da área
de trabalho.
O Seiton (2.º Senso) ocorre através da ordenação do ambiente de trabalho, quando os
responsáveis pela melhoria contínua nas empresas seguem os princípios ergonómicos que lhes
facilitem a utilização do ambiente de trabalho, de modo a aumentar a eficiência e eficácia da
produção, limitar o tempo na procura dos elementos necessários para a tarefa/processo e melhorar a
segurança no ambiente de trabalho (Shaikh et al., 2015).
130
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Figura 12 - Abordagem dos 5S
O Seiso (3.º Senso) é o processo de limpeza do ambiente de trabalho, nomeadamente das
máquinas, ferramentas e restante equipamento, com o intuito de garantir que tudo permaneça num
bom estado de conservação, o que irá aumentar a eficiência das máquinas, a procura de falhas no
ambiente de trabalho e a eliminação de acidentes (Shaikh et al., 2015). De acordo com Bitencourt,
Marins, Souza e Ramos (2012), a limpeza deve ser realizada de forma frequente, de modo a evitar a
acumulação de sujidade, barulho ou maus odores.
Já com o Seiketsu (4.º Senso), os responsáveis pela melhoria contínua verificam que as três
fases anteriores foram cumpridas, através da definição de um padrão de trabalho, que confere
segurança ao ambiente de trabalho, diminui a poluição e define uma rotina de limpeza do ambiente
de trabalho (Shaikh et al., 2015). Com isto, os colaboradores sentirão uma melhoria na sua saúde, na
higiene e segurança do trabalho (Júnior, Barbosa & Prates, 2012).
Por último, o Shitsuke (5.º Senso) ocorre com a integração dos restantes 4 Sensos na cultura
de negócio das empresas, o que se refletirá no sentido de responsabilidade por parte de todos os
colaboradores na empresa, numa maior consciencialização, na diminuição de falhas e numa melhoria
nas relações interpessoais (Shaikh et al., 2015). Os autores Gupta e Jain (2015) acrescentam que o
Shitsuke procura definir grupos e respetivas tarefas, com o objetivo de criar e aplicar modelos, que
facilitem a manutenção dos 5S, assim como, na sua internalização.
Quanto ao objetivo dos 5S, este passa por estimular os colaboradores a adotarem um
comportamento baseado na melhoria contínua do ambiente de trabalho, onde todos tentem diminuir
os desperdícios e os custos, assim como, aumentar a produtividade, quer a nível individual, quer a
nível global (Barbosa da Silva & Trigueiro, 2016).
A adoção de comportamentos e atitudes baseadas na qualidade e na melhoria contínua por
parte dos colaboradores é essencial, uma vez que são estes o âmago ou o motor que faz as empresas
131
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
sobreviverem e manterem a competitividade, diferenciação e personalização dos produtos/serviços
(Barbosa da Silva & Trigueiro, 2016).
Se os comportamentos e atitudes dos colaboradores forem mudados numa perspetiva de
melhoria contínua, então a abordagem dos 5S irá contribuir para que estes se sintam em congruência
com o ambiente de trabalho, tenham um sentimento de pertença e compromisso para com a empresa,
que os incentive a reunir esforços e a sugerir alterações, áreas de melhoria e opiniões para uma cultura
de qualidade empresarial (Prates, Tulio & Rapete, 2011).
Desse modo, os benefícios que as empresas e os seus colaboradores poderão usufruir com a
implementação dos 5S passa pela libertação de espaço físico, reaproveitamento de recursos,
diminuição de custos, gestão de tempo, diminuição do cansaço físico e mental, facilidade no controlo
de objetos, melhoria da aparência do ambiente de trabalho, manutenção e conservação dos
equipamentos, prevenção de defeitos e acidentes, criação de um ambiente de trabalho mais saudável
e agradável (Marek, 2015). Com isto, o ambiente de trabalho permanece devidamente organizado,
limpo, com eficácia de utilização e de qualidade, com menos falhas a nível de equipamentos, com
mais segurança e higiene no trabalho (Wazed & Shamsuddin, 2009).
Bravo (2007) enumera algumas causas de deficiência mercadológica dos 5S, que levam à
partilha de responsabilidades, definição de cooperações e apoio de mecanismos, que contribuem para
a melhoria contínua, tais como: diminuição da necessidade e gastos com espaço, stock,
armazenamento, transporte e seguros; facilidade no transporte interno e controlo de produção;
facilidade no controlo do arquivo de documentos, pastas e uma execução mais fácil do trabalho;
diminuição do tempo de busca do que é necessário realizar; aumento de produtividade das máquinas
e dos colaboradores; maior sentido de humanização, harmonia e cooperação; diminuição do cansaço
físico e mental; maior racionalização do trabalho; diminuição de riscos e acidentes na utilização de
materiais indevidos; prevenção de danos à saúde de todos os envolventes na empresa; aumento da
satisfação e motivação dos colaboradores.
Contudo, também existem algumas limitações nesta metodologia, onde se destacam a
necessidade de mudança de cultura por parte dos colaboradores das empresas e a subsequente
resistência à mudança, ou seja, os colaboradores devem começar a implementar pequenos hábitos e
rotinas diárias de melhoria contínua, até serem cumpridas as melhorias efetivamente desejadas pelas
empresas (Naves, 2013).
Para que tal mudança ocorra, é essencial o compromisso de todos os colaboradores, uma vez
que estes devem ser pacientes, persistentes e tolerantes, pois estas mudanças não são exequíveis no
seu imediato. Para além disso, os responsáveis pela melhoria contínua devem realizar uma reunião
com todos os envolventes na empresa, de modo a esclarecer as responsabilidades e funções de cada
colaborador, quer individuais, quer coletivas (Suárez-Barraza & Ramis-Pujol, 2012).
132
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Na reunião, também devem ser definidos os métodos de avaliação da implementação dos 5S,
nomeadamente do seu desempenho e identificação das ferramentas utilizadas, através de
autoavaliações semanais, quinzenais ou mensais, as quais devem ser realizadas por colaboradores
nomeados pelos gestores de cada departamento. No caso de as avaliações serem realizadas por
entidades externas, estas devem ter uma periodicidade mínima de três meses e estarem de acordo com
as metas e objetivos da gestão da empresa (Bayo-Moriones, Bello-Pintado & Cerio, 2010).
No caso deste estudo, a produção agrícola de regadio os agricultores em muitos casos,
posicionam-se muito numa abordagem assistencialista, tendo do Estado/governo altas expectativas
no sentido de o apoiar na resolução dos problemas que o desafiam, por um lado, e, por outro, este
último não tem condições (e.g. financeiras e recursos humanos) para responder.
Esta situação faz que no processo se gere situações de desconfiança, conflito e
desresponsabilização de ambos os lados, comprometendo dessa forma os resultados dos serviços
públicos e da adequada participação deste sector no desenvolvimento económico do país.
Recapitulando, a implementação da abordagem dos 5S só será bem-sucedida, se existir uma
mudança cultural por parte de todos os membros envolventes na empresa, que devem aceitar e
participar no processo de qualidade, pois são o elemento-chave na implementação desta metodologia
e na obtenção dos resultados previamente definidos (Marek, 2015).
5.2.2. Parâmetro Estimativa da Produção Agrícola
O parâmetro da estimativa da produção agrícola (EstProAgri) é construído tendo por base
duas dimensões: a caracterização, que inclui dados pessoais do produtor (e.g. nome, idade,
habilitações literárias) e informações sobre a unidade de produção (e.g. agregado familiar, número
trabalhadores, área, sistema de rega, água). Com esta dimensão visa-se caracterizar a unidade de
produção agrícola, conhecer quem são, onde estão, que recursos naturais usam, como usam. A
segunda dimensão é a estimativa da produção agrícola em Policultura, esta dimensão inclui a
produção (e.g. hortícolas, frutícolas, outros) e os mercados (e.g. quem compra, onde compra). Com
este parâmetro consegue-se conhecer: Quem? Onde? Como? O quê? Quanto? Em que área se produz?
Com que recursos de água? E para onde se produz? Com estas informações pode-se calcular a
produção, a produtividade, o custo da água e o débito de água por área irrigado (Figura 13).
Com os dados recolhidos neste estudo por este modelo, com a EstProAgri, pode-se conhecer
a estrutura social destas unidades de produção agrícola (e.g. agregado familiar, género, idade,
habilitações literárias) e a situação fundiária e o vínculo legal (e.g. dono (66%), rendeiro (21,5%),
parceria (10,4%), número de parcelas por agricultor (1,3).
133
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Figura 13 - As componentes do EstProAgri
Conhece-se igualmente o que se produz (e.g. maioritariamente produtos frescos para o
mercado), a área em que se produz e a quantidade de água (e.g. média de 1803 , 0,199 de água
/ de área cultivada), onde e a quem vende os seus produtos, sendo que a maioria (86,1%) vende os
seus produtos na propriedade e maioritariamente (93,8%) aos rabidantes.
Resumindo, a implementação da metodologia EstProAgri, aplicado de forma contínua,
durante algum tempo, e por ciclos de produção, permite obter estimativas da produção e da
produtividade agrícola das várias culturas neste sistema de produção. A sistematização das
informações e a sua digitalização por períodos de ciclos produtivos podem permitir fazer estimativas,
que reflitam as secas cilícicas do país e, dessa forma, permitir antecipar os deficits e melhorar as ações
de mitigação e aumento da resiliência.
5.2.3. Parâmetro Satisfação
O parâmetro Satisfação do modelo desta pesquisa foi avaliado através do SERVPERF. Esta
abordagem foi concebida por Cronin e Taylor (1992), com o intuito de avaliar a perceção do cliente,
ou seja, o desempenho resultante da satisfação quando um cliente adquire um serviço.
Cronin e Taylor (1994) defendem, ainda, que o SERVPERF ao avaliar apenas o desempenho
do serviço está a considerar aspetos emocionais e cognitivos, a partir dos quais é possível obter um
resultado credível e mais concreto sobre a perceção do serviço prestado pelas empresas. Com isto,
estabelece-se uma diferença entre a qualidade do serviço, que é uma atitude a longo prazo, e a
satisfação do cliente, que é um julgamento baseado na prestação de um determinado serviço.
134
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Por esse motivo, a escala desta abordagem é constituída apenas por 22 itens interrelacionados
(metade dos itens do SERVQUAL), que medem cinco dimensões da qualidade do serviço baseadas
nos itens do desempenho: tangibilidade, confiabilidade, celeridade, garantia e empatia (Cronin &
Taylor, 1992).
Na tangibilidade são medidos os aspetos físicos do serviço (instalação, equipamentos e a
apresentação física); na confiabilidade evidenciam-se a capacidade de produzir o serviço da forma
prometida; na celeridade são medidas a boa vontade do atendimento e de resolução dos problemas do
cliente; na garantia verificam-se a segurança no atendimento, o conhecimento, a cortesia e a
capacidade técnica dos colaboradores; na empatia são consideradas a atenção dada ao cliente e o
atendimento personalizado (Cronin & Taylor, 1992).
Quanto às vantagens do SERVPERF, estas englobam a fácil interpretação do conceito, uma
vez que são retirados os itens das expetativas, sendo consideradas apenas as perceções dos clientes;
auxílio das perceções na previsão do comportamento das empresas fornecedoras de
produtos/serviços; menor tempo despendido com a aplicação do instrumento; as medidas de avaliação
baseiam-se mais na satisfação do que na diferença e interpretação; maior facilidade na análise dos
dados obtidos; diminuição dos itens em 50% (Fragoso & Espinoza, 2017; Ibarra & Medina, 2015).
Para além destes benefícios, o facto do SERVPERF se basear apenas no desempenho do
serviço leva a que este se torne mais apelativo e interessante para que os participantes procedam ao
seu preenchimento, pois o número de itens diminui em 50%, passando de 44 para 22 itens (Salomi et
al., 2005).
Os autores Bayraktaroglu e Atrek (2010) acrescentam que o SERVPERF também mostra um
nível de fiabilidade elevado nos diferentes contextos e setores de atividade, nomeadamente nos
serviços onde existe um menor envolvimento entre cliente/empresa prestadora de serviços.
No contexto deste estudo denota-se uma insatisfação generalizada nas 5 dimensões, estes
resultados podem refletir a falta de confiança e uma comunicação adequado a troca de informações e
conhecimentos entre os agricultores e a Delegação do MDR que possa, em tempo útil, resultar em
medidas práticas.
O desconhecimento pelo agricultor dos programas e serviços dos quais se pode beneficiar, e
o desconhecimento da Delegação do MDR sobre as prioridades dos agricultores, dificulta a celeridade
nas respostas que, por sua vez, refletem na perceção da falta de empatia que o agricultor sente por
parte deste.
135
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
5.2.4. Abordagem interrelacionada dos Parâmetros Qualidade e
Satisfação
Com o inter-relacionamento entre os paramentos Qualidade, com os 5S, e Satisfação, com o
SERVPERF Adaptado, pretende-se a obter uma perceção global sobre a melhoria contínua e a
qualidade dos serviços públicos prestados, através da delegação do ministério da agricultura, bem
como obter uma análise visando estabelecer a ligação e o efeito potenciador das abordagens de
qualidade aplicadas e como podem ser usados para produzir informações, avaliar a necessidade, ou
não, de ajustes nos serviços públicos e fazer o monitoramento.
As evidências do presente estudo mostram que o modelo conceptual proposto Squal4Agri
acrescenta inúmeras vantagens para a agricultura cabo-verdiana, nomeadamente melhoria nos canais
de comunicação entre o agricultor-extensionista-planificador-decisor político, assim como, a
implementação de abordagens de qualidade, que levarão à otimização do uso de recursos (e.g. água,
pesticidas, equipamentos, mão de obra).
Para além disso, estas vantagens também irão promover uma maior responsabilização de
ambas as partes, onde subsistirá o aumento da produção sem uso adicional de recursos, o aumento na
produtividade e nos rendimentos e a subsequente satisfação e motivação dos agricultores. Desse
modo, estarão definidas as bases da Qualidade para um desenvolvimento agrícola sustentável.
Entre as duas abordagens de qualidade (5S e SERVPERF) verifica-se uma forte ligação, como
exposto na Figura 14.
Figura 14 - Ligação entre os 5S e o SERVPERF
136
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Depois de uma análise mais detalhada, observa-se que para cada Senso corresponde mais do
que uma dimensão da qualidade do serviço medida pelo SERVPERF, pois ambas as abordagens
podem ser aplicadas para implementar ações de melhoria contínua nas empresas/instituições públicas,
quer a nível global, quer a nível departamental, bem como no sector agrícola, tal como se verificou
com os resultados obtidos, através do SQual4Agri, junto dos 144 agricultores cabo-verdianos
respondentes.
Apesar da demostrada excelência dos 5 Sensos em várias indústrias, como ponto de partida e
de preparação para outros programas de qualidade, a sua junção ao SERVPERF permite avaliar a
satisfação do cliente e introduzir as melhorias onde o cliente valoriza. Esta abordagem permite um
conhecimento transversal permitindo cruzar o uso eficiente de recursos aos aspetos que satisfazem o
cliente e o consumidor.
Deste modo, a implementação destas duas abordagens em simultâneo na agricultura permite
uma visão dos dois lados: a do agricultor e a dos serviços públicos e, nesta perspetiva, cria uma
plataforma de diálogo de aumento de responsabilidades, que pode permitir melhorar
progressivamente o serviço prestado pelos serviços públicos, aumentar a satisfação dos agricultores,
reduzir os desperdícios e aumentar o uso eficiente de recursos, de modo que gradualmente se crie um
ambiente de confiança, de partilha de responsabilidades e uma caminhada deste sector para uma
produção agrícola de excelência, com produtos de qualidade, inserido no mercado do turismo e da
exportação suportada numa abordagem de melhoria contínua e baseada numa cultura de qualidade.
No 1.º Senso Seiri, os responsáveis pela melhoria contínua identificam e eliminam objetos e
informações supérfluas, que não são úteis para a realização da tarefa/atividade (tangibilidade). Pelo
que, é essencial a participação de todos os colaboradores da empresa (garantia), de modo a prestar
um serviço confiável, consistente e personalizado aos clientes (confiabilidade e empatia), que lhes
assegure a resolução dos seus problemas de forma célere (celeridade).
Todos os agricultores ou colaboradores agrícolas devem participar na implementação de ações
de melhoria contínua, que permitam a ordenação e conservação das ferramentas, máquinas ou
equipamentos, que são utilizados mais frequentemente, em locais de fácil acesso e próximos do local
de trabalho. Já as ferramentas, máquinas ou equipamentos menos utilizados devem situar-se em locais
que não impeçam a realização das tarefas/atividades diárias. Igualmente, devem ter um local
apropriado para o armazenamento de equipamentos, ferramentas e objetos de uso pessoal, devem
evitar o acúmulo de lixo, quando descartar material sucateado, bem como evitar espaços para viveiro
de mosquitos e doenças, e o lixo deverá ser mais bem evacuado de forma a não poluir o ar, os solos
e os lençóis freáticos.
No 2.º Senso Seiton, os responsáveis pela melhoria contínua pretendem ordenar as instalações
físicas, equipamentos e máquinas no seu devido lugar (tangibilidade), com o objetivo de realizar o
137
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
serviço consoante o acordado previamente com os clientes (confiabilidade e empatia), de modo a
aumentar a eficiência e eficácia da produção (celeridade), assim como a limitar o tempo na procura
dos elementos necessários para a tarefa/processo e melhorar a segurança no ambiente de trabalho
(garantia).
Com este Senso pretende-se facilitar a identificação dos produtos e dos locais, através de
placas de identificação colocadas nas sementes, produtos químicos, medicamentos, material de
higiene e segurança no trabalho, entre outros. Identicamente, pretende-se eliminar situações em que
os tubos são passados de forma inadequada e suscetíveis de causar acidentes, garantir local adequado
para o armazenamento de insumos agrícolas e o controlo dos seus prazos de validade,
reaproveitamento de máquinas que podem ser reparadas.
No 3.º Senso Seiso, os responsáveis pela melhoria contínua pretendem proceder à limpeza
frequente do ambiente de trabalho, nomeadamente das instalações físicas, equipamentos e máquinas
(tangibilidade), com o intuito de garantir que tudo permaneça num bom estado de conservação e
segurança (garantia), o que irá aumentar a eficiência das máquinas, a procura de falhas no ambiente
de trabalho e a eliminação de acidentes (confiabilidade e celeridade) e, consequentemente, aumentar
a qualidade dos serviços e a subsequente satisfação dos clientes (empatia).
Os agricultores ou colaboradores de empresas agrícolas devem proceder à limpeza do
ambiente de trabalho, nomeadamente das ferramentas, máquinas e equipamentos, através da
higienização com materiais e produtos adequados. Também deve ser evitada a acumulação de
resíduos, sujidade e pó, de modo a eliminar a contaminação de alimentos, ferramentas de trabalho,
armazéns, entre outros. A frequência para a manutenção de maquinaria e ferramentas deverá ser
estabelecida e cumprida, a evacuação das águas residuais deverá se melhorada através da criação de
casas de banho e as fontes de fornecimento de energia elétrica devem ser instalados.
No 4.º Senso Seiketsu, os responsáveis pela melhoria contínua pretendem estabelecer um
padrão de trabalho através das mudanças obtidas com a implementação dos 3 Sensos anteriores, de
modo a manter o ambiente de trabalho mais seguro, limpo e organizado (garantia, celeridade e
confiabilidade), onde sejam privilegiadas a saúde e bem-estar dos colaboradores e dos clientes
(empatia), reduzida a poluição e definida uma rotina de limpeza do ambiente de trabalho
(tangibilidade).
Com este Senso deve existir uma preocupação com a saúde e bem-estar dos colaboradores,
assim como dos animais, considerando as vacinas, medicamentos, alimentação, água, ambiente de
trabalho, produtos químicos, utilização de equipamentos de segurança, planificação de atividades e
responsabilidades atribuídas a cada colaborador. Analogamente, deve haver melhorias no uso de
vestuário adequado à atividade (e.g. fato de macaco de manga comprida, botas), cumprimento dos
horários de repouso e para alimentação e eliminação de todas as fontes suscetíveis de causar acidentes
138
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
na propriedade (e.g. tubos de rega aéreo ou no solo mal sinalizados, tambores velhos e enferrujados,
enxadas velhas abandonadas no terreno).
Por último, no 5.º Senso Shitsuke, os responsáveis pela melhoria contínua verificam se os 4
Sensos anteriores foram devidamente implementados e se estão a surtir os resultados desejados. Pelo
que, esta fase é o fruto da autodisciplina, do compromisso e da responsabilidade por parte de todos
os colaboradores, o que se refletirá na diminuição de falhas e na melhoria das relações interpessoais.
Nesta fase, observam-se as cinco dimensões da qualidade de serviço, uma vez que é a junção dos 4S
anteriores (Seiri, Seiton, Seiso e Seiketsu), onde são evidenciados os aspetos físicos, assim como a
garantia e segurança de um trabalho bem-sucedido e a confiabilidade de cumprir com o prometido, o
que levará a um atendimento mais célere, personalizado e empático.
Com este último Senso é necessário verificar-se se os 4S anteriores foram bem-sucedidos e se
os colaboradores mostraram ter disciplina, compromisso e responsabilidade. Para isso, é essencial
que sejam realizadas auditorias, de forma periódica, de modo a otimizar as áreas de melhoria e
maximizar os pontos fortes. Apesar de os 5S não ser uma abordagem aplicada nesta área, os
agricultores inquiridos mostraram-se muito motivados para o fazer.
Com a implementação destas duas abordagens de qualidade (5S e SERVPERF), os
agricultores poderão analisar o meio envolvente, nomeadamente os pontos fortes e fracos, as ameaças
e oportunidades, de modo a agir atempadamente sobre os mesmos, evitando ou atenuando possíveis
prejuízos, maximizando lucros, obtendo maiores vantagens competitivas e satisfazendo as
necessidades e expetativas dos consumidores, através da prestação de um serviço de qualidade e
excelência.
A respeito das oportunidades, os agricultores do perímetro de rega da Barragem do Poilão
devem organizar-se de uma melhor forma para que possam aceder aos recursos que lhes tem sido
disponibilizados através de várias instituições (e.g. Ministério da agricultura, FAO, e outros
parceiros), de modo a poderem tirar vantagens da sua participação no reforço da segurança alimentar
e nutricional, na garantia do aumento dos seus rendimentos e nas abordagens integradas e inovadoras
para a gestão sustentável e participada dos recursos naturais.
Em suma, se os agricultores ponderarem adequadamente sobre estes aspetos, poderão
enveredar pelo desenvolvimento de uma cultura de qualidade na qual uma das principais prioridades
passa pela oferta de produtos/serviços que satisfaçam as necessidades e expetativas dos clientes.
Para isso, os agricultores deverão apostar na sua formação e sensibilização para a gestão da
qualidade, de modo a saber quando e de que forma implementar algumas estratégias ou ações de
melhoria contínua, tais como, entre outros: conhecer os períodos mais adequados de plantação;
identificar quais as melhores sementes; aplicar os fertilizantes e produtos químicos que permitam uma
139
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
produção mais segura e sustentável a nível alimentar e ambiental; inovar a nível tecnológico para
poder competir e aceder ao mercado hoteleiro do turismo.
Com efeito, metodologias e programas de gestão da qualidade podem fornecer elementos que
permitam a prestação de serviços públicos, que melhorem a eficiência e a eficácia no uso de recursos,
com impacto positivo no aumento da produção, da produtividade e no rendimento dos agricultores,
gerando uma contribuição para o desenvolvimento e melhor qualidade de vida dos produtores e,
consequentemente, na sua satisfação (Figura 15).
Figura 15 Abordagens da Qualidade e Satisfação na Produção Agrícola
Como exposto anteriormente, existe uma inter-relação entre os 5S e o SERVPERF, a qual irá
convergir para uma cultura de qualidade nas empresas. A junção destas duas abordagens permite uma
aplicação mais aprofundada sobre a qualidade dos serviços, que as empresas devem prestar aos seus
clientes, com o objetivo de satisfazer as suas necessidades e expetativas, assim como, desenvolver
um conceito de autoavaliação baseado na melhoria contínua.
5.2.5. Benefícios de um Modelo Integrado
A implementação do modelo SQual4Agri nos perímetros de rega da Barragem do Poilão, Cabo
Verde, pode constituir um importante fator para aumentar a competitividade destes pequenos
produtores, pois para além da poupança no uso de recursos para a produção, produzindo mais com
menos, obter-setambém uma melhoria significativa na relação entre o agricultor e os serviços
públicos, uma melhoria da qualidade de vida do produtor, aumento da produção e possibilidade de
aumento dos ciclos de produção pelo aumento da disponibilidade de água, colocação de produtos
mais seguros no mercado, aumento da responsabilização de uns e de outros e aumento da sua
140
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
capacidade organizativa e, desta forma, assumir um papel muito mais relevante na garantia da
segurança alimentar e nutricional. Pelo exposto, a aplicação deste modelo permitirá estabelecer um
processo de aprendizagem das partes (agricultor, serviço público e outros parceiros), que permite
estabelecer um exercício sistemático de autoavaliação, monitoramento e previsão da produção.
Todavia, a utilização deste modelo deve ser habilmente adequado aos serviços públicos para
este sector, às forças e fraquezas, às oportunidades e ameaças quer da cultura, quer das condições
agroclimáticas de Cabo Verde, de modo que os resultados da sua aplicação possam contribuir
efetivamente para melhorias em todo o sistema: Agricultor Serviço público- Mercado e permitam
que os esforços empenhados resultem, em última instância, na eficiência na produção e
comercialização e aumento de rendimentos e, consequente, satisfação do agricultor.
Desse modo, a Figura 16 apresenta o modelo conceptual e a sua respetiva relevância no
contexto da agricultura cabo-verdiana.
Figura 16 - Modelo SQual4Agri confirmado
Pelo que, pode referir-se que este modelo conceptual aplicado no contexto cabo-verdiano
contribui para criar as bases de uma Cultura de Qualidade, nas pequenas explorações agrícolas
familiares estudadas, permitindo ganhos de eficiência e eficácia na utilização de recursos, quer
aqueles dos agricultores, quer aqueles do investimento publico, através dos seguintes aspetos:
1. Melhoria da comunicação e da organização dos agricultores o aumento de conscientização
do agricultor e uma clara indicação de empatia dos serviços públicos podem incrementar, de
forma salutar, a comunicação entre estes dois interlocutores, com ganhos na otimização de
recursos, melhoria da comunicação com os agricultores e estes entre si, o que poderá acarretar
melhorias consideráveis na organização (e.g. criação de associações de agricultores,
cooperativas ou empresas rurais) e na confiança entre os interlocutores.
141
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
2. Aumento da responsabilidade dos agricultores o processo de implementação de programas
de qualidade incorpora um trabalho assíduo de sensibilização, capacitação e informação, o
que acarreta também a que os agricultores compreendam quais as suas responsabilidades e
quais as dos serviços públicos, de modo que neste processo se crie condições para que não
haja apenas um “culpado”, mas que sejam todos envolvidos (e.g. agricultores, produtores,
serviços públicos, técnicos, ONG, empresas).
3. Otimização no uso de recursos face a escassez de recursos quer naturais, financeiros e
humanos, uma boa organização e comunicação podem aumentar a eficiência e eficácia de uso
dos recursos disponíveis. Como por exemplo, o aumento do conhecimento científico
endógeno (e.g. combate as pragas e doenças, gestão dos solos e sua fertilidade, etc.), uma
melhor gestão da água, práticas agrícolas sustentáveis, prestação de serviços específicos às
necessidades dos agricultores, calendarização da produção e melhor acesso aos mercados,
proporcionando maior produtividade e, consequentemente, maiores rendimentos.
4. Estabelecer as bases para a Qualidade a abordagem da qualidade 5S pela sua vasta aplicação
na indústria, nos serviços e na própria vida, permite uma melhor organização para os
agricultores executarem as suas tarefas, com vista a melhorar o seu ambiente de trabalho e
pessoal, levando, aos poucos, ao facto que ele perceba os ganhos das tarefas e da rotina da
mesma na sua atividade e na sua vida pessoal. Esta base será muito importante numa
perspetiva de servir melhor o mercado consumidor nacional e o turístico.
5.3. Análise SWOT e Estratégias de Intervenção para a
Sustentabilidade Agrícola
Com base nas informações recolhidas quer na aplicação do inquérito por questionário, quer
das conversas desenvolvidas durante o Focus Group, quer ainda do conhecimento das condições sob
as quais estes agricultores trabalham, apresenta-se uma análise SWOT (Strenghts, Weaknesses,
Opportunities, Threats) e sugere-se intervenções técnicas e socioeconómicas, que podem contribuir
para que os produtores agrícolas, no perímetro de rega da Barragem do Poilão, Cabo Verde, possam
tirar melhor proveito dos recursos de que dispõem, permitindo maior eficiência e eficácia no uso
desses recursos e melhorar a perspetiva de sustentabilidade das suas atividades de produção.
5.3.1. Análise SWOT
Face aos dados recolhidos e da franca e aberta comunicação criada durante os encontros dos
grupos focais apresenta-se uma análise SWOT, para identificar os pontos fortes e fracos, as
oportunidade e ameaças, como forma de apoiar na tomada de decisões de gestão e organização de
serviços públicos, que possam contribuir para melhorar a sustentabilidade do perímetro de rega
(Tabela 31).
142
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Tabela 31 - Análise SWOT da gestão do perímetro da Barragem do Poilão
OPORTUNIDADES
AMEAÇAS
Desenvolvimento de uma produção hortofrutícola
de alto valor acrescido;
Surgimento de uma classe de produtores com uma
visão de mercado;
Servir de modelo de desenvolvimento agrícola
moderno e organizado;
Desenvolvimento de cadeias de valor virados para o
fornecimento as cadeias hoteleiras que servem o turismo;
Potenciar a inovação e a digitalização no sector
agrícola e servir de modelo;
Viabilizar iniciativas privadas de organização de
empresas de logística e distribuição;
Desenvolver mecanismos visando diminuir os
custos dos insumos agrícolas;
Desenvolver um selo de qualidade para os seus
produtos;
Servir de modelo de incentivo aos jovens para a
atividade agrícola;
Possibilidade de aceder ao mercado turístico
Implementar abordagens de qualidade visando
melhorar a eficiência e eficácia no uso dos recursos;
Contribuir para a melhoria de vidas dos agricultores
e suas famílias;
Contribuir para a segurança alimentar e nutricional
Secas cíclicas e prolongadas agravadas pelas mudanças
climáticas;
Abandono das parcelas em função de não haver água para
produção;
Falta de manutenção dos sistemas de adução e distribuição de
água causando ainda maiores perdas de água;
Falta de uma gestão adequada pode causar a insustentabilidade
do perímetro;
Perpetuação do atual sistema de comercialização, dependente
do rabidante, e que traz pouca valia para o agricultor;
Aumento da fragmentação das parcelas;
Surgimento de conflitos na gestão de água;
Diminuição dos preços dos produtos e do lucro devido a pouca
diversificação da produção;
Diminuição do volume de água armazenado devido ao
assoreamento da barragem;
Problemas com furto de água a partir da albufeira da barragem;
Problemas com a qualidade da água devido a falta de
monitorização da sua qualidade.
PONTOS FORTES
PONTOS FRACOS
Localização privilegiada com possibilidade de
acesso ao mercado da cidade da Praia;
Perímetro infraestruturado com redes de adução e
de distribuição de água até a parcela do agricultor;
Agricultores motivados para a produção em
regadio;
Fácil acesso para viaturas;
Concentração de muitos produtores numa única
localidade;
Alvo de política pública e ações de colaboração por
parte do ministério;
Mercado de consumo em crescimento, quer o
doméstico quer o de turismo;
Fácil acesso ao centro de pós-colheita;
Localização próxima de instituições de ensino e
pesquisa nomeadamente a ECAA e a INIDA.
Forte pressão de mais interessados causando fragmentação das
parcelas e aumento de área cultivada;
Deficiente gestão da água armazenada na barragem;
Agricultores ainda em processo de transição da agricultura de
sequeiro para a de regadio;
Dependência da pluviometria e da quantidade de água
armazenada;
Fraco nível de escolaridade e de conhecimento da produção de
regadio pelos agricultores;
Serviços públicos que não se ajustam às espectativas dos
agricultores;
Fraca capacidade organizativa dos agricultores;
Fraca capacidade do ministério em prestar assistência técnica e
capacitação;
Falta de infraestruturas de saneamento e de energia elétrica;
Deficit de conhecimento investigativo com potencial para
incrementar a produção;
Pouca capacidade associativa dos agricultores;
Produção não organizada sem quantificar os custos, o
rendimento e o lucro, o que impossibilita uma análise técnico-financeira
das escolhas e opções;
Falta de um plano de gestão de rega.
Apesar das ameaças que o perímetro de rega da Barragem do Poilão se encontra sujeito, sendo
a maior as mudanças climáticas que, em Cabo Verde, significam diminuição das chuvas e aumento
das temperaturas, existem oportunidades, que aliados aos pontos fortes e melhorados os pontos fracos,
podem contribuir para os objetivos do sector agrícola em Cabo Verde de ser um sector gerador de
rendimentos justos para os agricultores, sendo protetor do ambiente, trazendo reconhecimento social
e que gere excedentes.
A disponibilidade de água por um período longo, depois das chuvas, permite uma produção e
um fornecimento a longo prazo e, desta forma, melhora a capacidade organizativa e os investimentos
dos agricultores, o que lhes poderá permitir, aliado a selos de qualidade, apostando em produtos de
143
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
valor acrescentado, mais facilmente aceder ao mercado hoteleiro turístico e aumentar a sua
contribuição na segurança alimentar e nutricional do país.
5.3.2. Contribuições para Intervenções de melhoria
Nesta pesquisa constata-se essencialmente uma insatisfação generalizada e um uso ineficiente
de recursos pelos agricultores do perímetro de rega da Barragem do Poilão. Pelo que, há questões que
exigem uma intervenção de forma a permitir sugerir intervenções direcionadas, nos domínios da
Organização, Água, Institucional e Conhecimento.
Estes aspetos apontam para a necessidade de melhorias e mudanças nos serviços públicos de
extensão rural/comunicação, maior qualificação dos recursos humanos, quer dos serviços públicos,
quer dos agricultores.
O aumento da capacidade e competências da investigação agrária permite uma melhor
contribuição face às ameaças e às oportunidades criadas pelos investimentos realizados no perímetro
de rega da Barragem do Poilão e dessa forma contribuir para atingir os objetivos desse investimento,
designadamente: 1) permitir a reconversão da agricultura de sequeiro para agricultura de regadio; 2)
aumentar a produção e a produtividade; 3) garantir a segurança alimentar; e 4) reduzir da pobreza
(Figura 17).
Face ao exposto e conforme se esquematiza na Figura 17, para melhorar o uso dos recursos e
a satisfação dos agricultores propõe-se atuar nos quatro domínios identificados (Organização, Água,
Institucional e Conhecimento), atuando nas melhorias dos pontos fracos. Pelo que, em cada um dos
domínios se propõem medidas de melhoria conforme referido na Figura 18.
Figura 17 - Principais áreas de intervenção
144
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
Figura 18 - Intervenções conforme as áreas identificadas
Assim, no que diz respeito às intervenções para melhorar os aspetos fracos da Organização
dos agricultores propõem-se a implementação de programas de qualidade, pois, contribuem para a
responsabilização dos colaboradores e criam o espírito de equipa/grupo (Ablanedo-Rosas et al, 2010;
Marek, 2015; Soleti & Alves, 2013). Para além disso, um quadro regulatório de promoção das
associações de agricultores com privilégios (discriminação positiva) específicos para esse sector (e.g.
incentivos fiscais, acesso privilegiado a projetos e programas do governo).
Na gestão da água para rega, neste contexto específico, é urgente a implementação de planos
de gestão da água, preparados com a participação ativa dos agricultores, e a sua organização, no
sentido de serem os mesmos a fazerem essa gestão, apenas com um suporte técnico dos serviços
públicos. Este plano para além de prever as flutuações na disponibilidade da água, em consequência
das secas cíclicas, deverá também incluir planos de contingência e medidas de mitigação (e.g.
introdução massiva de sistemas de rega gota a gota, culturas mais resistentes à seca e à salinidade)
para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e diminuição da pluviometria.
No que diz respeito aos aspetos institucionais, afigura-se urgente uma intervenção no quadro
legal, no sentido de se estabelecer um limite mínimo da área parcelada, sob pena de que o processo
de parcelamento continue e traga consigo outras dificuldades (e.g. aumento de investimentos na rede
de distribuição da água, na planificação da produção, na logística e na economia de escala).
Com o aumento da responsabilização dos agricultores torna-se também importante avaliar o
desempenho dos serviços públicos, pelo que, os mesmos devem implementar um programa de
avaliação da qualidade e do serviço prestado, para que possam acompanhar e ajustar as suas
prestações às necessidades dos agricultores.
Face a transição de uma agricultura de sequeiro para uma agricultura de regadio e o aumento
da procura deste sistema de produção e da incapacidade dos serviços públicos satisfazerem as
145
MODELO SQUAL4AGRI NA EXPLORAÇÃO DA QUALIDADE, PRODUÇÃO E SATISFAÇÃO
necessidades destes agricultores, para além de medidas urgentes de digitalização da agricultura, a
definição do quadro legal de prestação de assistência técnica torna-se urgente. Neste caso, podem
surgir possibilidades, na perspetiva de trazer o sector privado e as ONG para prestarem estes serviços,
subvencionando-se os serviços em função da capacidade participativa dos agricultores, pois, como se
observou, os mesmos estariam dispostos a contribuir para ter esse serviço.
Por último, e não menos importantes, devem existir intervenções no reforço e aumento do
conhecimento endógeno (e.g. dos microclimas, das pragas, dos custos de produção, doenças nos
animais), através da pesquisa aplicada para responder às necessidades dos agricultores, face aos
avultados investimentos realizados no aumento da água para a agricultura e para que se possa
avaliar o seu impacto na economia do país. Pelo que, é urgente melhorar o nível de conhecimento
sobre a rentabilidade do sector, o êxodo rural que afeta essencialmente os jovens e, em Cabo Verde,
isto não é a exceção. Contudo, é nesta faixa etária, onde reside a aposta na modernização da
agricultura, que a sua preparação para intervir neste sector é crucial. A capacitação dos intervenientes
no sector deverá ser um processo contínuo e sistemático para que todos (e.g. agricultores, técnicos,
parceiros) possam contribuir para a realização da missão deste sector, que é a de gerar rendimentos,
proteger o ambiente, diminuir as desigualdades, garantir a segurança alimentar e nutricional e
produzir excedentes para mercados nichos internos e internacionais.
Por tudo que foi exposto, a implementação dos 5S nas explorações agrícolas, como um
precursor de outros programas de qualidade, pode ter um impacto muito positivo, quer do ponto de
vista dos recursos financeiros, quer do ponto de vista de criar maior espírito de colaboração entre os
agricultores.
A implementação dos 5S, poderá ajudar a diminuir os custos de produção e ajudar na
organização de um sistema de maior valor agregado dos produtos antes da sua distribuição nos
mercados finais.
É de realçar que, nos últimos anos, devido às secas, no perímetro de rega da Barragem do
Poilão tem-se assistido a um abandono progressivo das parcelas por falta de água para a produção.
Este fenómeno, apesar de natural face às circunstâncias, poderá ter um impacto negativo a curto e
médio prazo, consolidando no agricultor a ideia de que a agricultura não é rentável e, dessa forma,
procurar outras formas de ganhar a vida, não contribuindo assim para os objetivos pretendidos para
o sector.
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O espaço não é uma folha em branco no qual os homens escrevem as suas acções. Ele
condiciona, retro-age sobre a sociedade. O espaço produz os homens que tencionam produzi-
lo” (Correia e Silva, 1996, p. 130)
A motivação para qualquer investigação normalmente está relacionada com a curiosidade de
se obter alguma informação, algum elemento por menor que seja, cujo valor na resolução de um
problema seja suficientemente bom, para permitir encontrar as soluções. Não existem soluções
únicas, pois, cada contexto histórico, geográfico e humano exige propostas de solução ajustadas as
mesmas. E se pode afirmar ter encontrado soluções quando, após a sua aplicação ao contexto
específico, resultem na resolução do problema em questão e isto, na maior parte das vezes, deve
processar-se com melhorias incrementais no conhecimento que com a devida monitorização e ajustes
estabelecem as bases para uma gestão da melhoria contínua.
6.1. Conclusões da Pesquisa
O arquipélago de Cabo Verde é caracterizado pela escassez de terras aráveis e de água, facto
que ao longo da sua história se tem refletido na importância da agricultura de sequeiro (milho e feijão),
cuja dependência das chuvas colocou o país em ciclos de crises de seca, muitas das quais ainda no
século passado, que originaram perdas da população, quer por morte, quer pela imigração.
É, neste contexto histórico, que após a independência, em 1975, em Cabo Verde foram
implementadas políticas públicas, visando aumentar a disponibilidade de água e um claro
direcionamento para a agricultura de regadio (hortícolas, frutícolas, raízes, tubérculos e cana-de-
açúcar), visando garantir a segurança alimentar e nutricional e melhorar as condições de vida dos
agricultores.
Apesar dos avanços já registados, a água e os solos continuam a ser fatores limitantes neste
sector e os investimentos necessários tornam-se cada vez mais dispendiosos (conservação de solos,
construção de barragens, dessalinização da água). Pelo que, a boa utilização dos recursos
disponibilizados é a forma mais sensata e menos dispendiosa para os fazer render. Assim, estas
limitações carecem da definição de parâmetros de qualidade, que permitam garantir, quer a qualidade
dos recursos hídricos, da produção e da segurança alimentar, quer o rendimento dos agricultores e a
satisfação das necessidades e expetativas dos consumidores.
De modo a ultrapassar estas limitações, as entidades responsáveis pelo âmbito da agricultura
devem incentivar os agricultores e as empresas agrícolas a implementarem ações de melhoria
147
CONSIDERAÇÕES FINAIS
contínua, ou seja, a terem uma maior consciencialização sobre as atividades diárias, nomeadamente
a qualidade da produção, a saúde pública e animal, a gestão dos reservatórios, dos solos, da energia
e da biodiversidade e a integração da população nas temáticas ambientais, sustentáveis, sociais e
económicas.
Outra forma de ultrapassar estas limitações passa pela escolha de alternativas à produção, que
garantam a qualidade e segurança alimentar, tais como: a cultura hidropónica, a produção agrícola
bio-salina, a reutilização de águas residuais, o uso de variedades melhoradas, a agricultura familiar,
entre outras, muitas das quais já estão a ser implementadas no país.
Neste contexto, surge a necessidade dos agricultores e das empresas agrícolas recorrerem a
abordagens de qualidade, pois assim, poderão avaliar a qualidade dos serviços, assim como criar um
ambiente de trabalho limpo, com boas relações interpessoais, aumentar o desempenho, a satisfação
dos clientes e a motivação dos colaboradores.
Os 5S e o SERVPERF, enquanto abordagens da qualidade, foram usadas nesta pesquisa. Para
que os 5S sejam bem-sucedidos, torna-se essencial que os colaboradores estejam recetivos às
mudanças, pois, é da incumbência de todos a implementação de ações de melhoria contínua no
ambiente de trabalho, tais como: diminuição do tempo de ciclo na linha de montagem, aumento da
produção, diminuição do desperdício, aumento da qualidade do produto, aumento da visibilidade dos
elementos de reposição, rápido e fácil manuseamento dos materiais, máquinas e equipamentos e
aumento da disciplina empresarial.
Por sua vez, o contributo do SERVPERF passa pela avaliação da qualidade percebida dos
clientes, considerando as cinco dimensões da qualidade do serviço: tangibilidade, fiabilidade,
capacidade de resposta, garantia e empatia. Estas cinco dimensões devem ser contempladas nos
objetivos de negócio definidos pelos agricultores ou pelas empresas agrícolas, de modo que sejam
satisfeitas as necessidades e as expetativas dos clientes.
Não obstante, também devem ser cumpridos os requisitos essenciais para que os
produtos/serviços garantam qualidade, através de uma produção sustentável, responsável e
individualizada.
A garantia de qualidade de serviço é fundamental em todos os setores e atividades, mas no
setor agroalimentar é imperativo. Pelo que, os fatores ao longo da cadeia produtiva e de distribuição
devem ser todos analisados, iniciando-se desde a escolha das sementes e estendendo-se até ao período
pós-venda.
Em suma, a temática da qualidade de serviço deve ser uma das principais preocupações dos
agricultores e das empresas agrícolas, na medida em que é a partir desta que se irá basear o
reconhecimento das necessidades e expetativas dos clientes, bem como a sua perceção sobre o serviço
148
CONSIDERAÇÕES FINAIS
prestado e a subsequente divulgação, recomendação e recompra dos produtos/serviços, o que no
contexto da agricultura é o mais frequente e valorizado pelos clientes.
Após a revisão da bibliografia e de estudos de qualidade realizados nesta pesquisa, optou-se
por uma pesquisa experimental e exploratória usando variáveis qualitativas e quantitativas, visando
dessa forma aprofundar o conhecimento e resultados dos dados numéricos.
A construção do instrumento de recolha dos dados, a aplicar no estudo empírico realizado,
baseou-se numa abordagem participativa, através de um Focus Group de 15 agricultores, que
participaram em duas sessões de trabalho, durante a qual, a partir de uma proposta, foram discutidos
os tópicos e a sua relevância para os agricultores.
Com base nas discussões do Focus Group e dos relatos recolhidos, foi elaborado um
questionário constituído por três partes 1) Qualidade da gestão da exploração agrícola, 2) Estimativa
da produção hortofrutícola, de raízes e tubérculos e, 3) Satisfação do agricultor/produtos, em relação
aos serviços públicos, que lhe são prestados. Esta ferramenta denominada de SQual4Agri, consiste na
junção dos 5S para o parâmetro da Qualidade, da Estimativa da Produção Hortícola e do SERVPERF
para a Satisfação.
Para o desenho desta ferramenta foram considerados diversos estudos, nomeadamente os
estudos de Simões e Saraiva (2014) e de Simões (2018), para a utilização dos 5S, que permitiu o
diagnóstico de explorações agrícolas na ilha de S. Nicolau e na ilha de Santiago em Cabo Verde. Os
estudos de Cronin & Taylor (1992) e Huang (2011), para a utilização do SERVPERF, que permitiu
o diagnóstico da satisfação. Por último, o estudo realizado por Fonseca et al. (2014), sobre a
Estimativa da Produção Hortícola Potencial no Concelho de Montemor-o-Novo e o realizado pelo
Ministério da Agricultura (2015) sobre a situação socioeconómica dos produtores/regantes do
perímetro da Barragem do Poilão para o diagnóstico da estimativa da produção.
A primeira versão desta ferramenta foi testada junto de um grupo de 20 agricultores, dos quais
15 pertenciam ao Focus Group. Após os tratamentos estatísticos e informações recolhidas pelos
inquiridores, fez-se a revisão do questionário, que foi de novo submetido ao Focus Group para
validação. Esta segunda versão foi de novo aplicada, numa segunda fase, junto de 50 agricultores e,
por fim, numa terceira fase, junto de 74 agricultores, perfazendo assim um total de 144 entrevistas.
A metodologia utilizada nesta investigação mostrou-se então compatível com os objetivos
estabelecidos, apesar de se ter constatado a necessidade de mais tempo para a recolha de informações,
nomeadamente na parte da produção agrícola.
A inserção dos produtos agrícolas produzidos pela pequena agricultura familiar, em Cabo
Verde, no mercado de fornecimento da restauração do turismo coloca um grande desafio, no sentido
de produzir produtos de qualidade e de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos
agricultores, de forma sustentável e num ambiente de poucos recursos.
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise dos dados foram aplicadas estatísticas descritivas a todas as variáveis em estudo.
Face a especificidade desta ferramenta e da pesquisa empírica levada a cabo, os resultados não devem
ser generalizados. No entanto, é possível obter conclusões bastante claras, sobre o grau de aplicação
da abordagem da qualidade 5 Sensos e do nível de satisfação dos agricultores, no perímetro de rega
da Barragem do Poilão, Cabo Verde.
Este estudo destaca-se pela sua originalidade em termos académicos, pois apresenta uma
proposta de uma metodologia, que usando uma abordagem participativa, na construção da ferramenta
de diagnóstico, junta os aspetos da produção, da qualidade na gestão da unidade de produção e a
satisfação do agricultor em relação aos serviços públicos de que são beneficiários.
O modelo conceptual que se propõe detém um importante valor neste campo de estudo da
qualidade, da satisfação e da produção, para fornecer informações, que permitam ajustar e adequar as
políticas públicas às necessidades e condições de Cabo Verde e fazer a sua monitorização.
Parafraseando Pires (2012), “A transição para uma cultura de Qualidade Total não acontece
por acaso, antes tem de ser gerida de um estágio para outro. As mudanças levam tempo e podem gerar
grandes resistências nas pessoas” (Pires, 2012, p. 568). Isto significa que, apesar das adversidades
que os agricultores de Cabo Verde têm passado, desde secas cíclicas, escassez de recursos, até
investimentos avultados na produção, tudo isto servirá para que estes tomem consciência sobre a
urgência da implementação de abordagens de qualidade, que lhes permitam obter melhores
resultados, com um custo mais reduzido e disponibilizar um produto/serviço diferenciador e com
qualidade. Ao darem pequenos passos de cada vez, os agricultores poderão obter vantagens
competitivas, aumento dos rendimentos, satisfazer os seus clientes e tornar-se numa referência, num
contexto agrícola deveras difícil.
6.2. Objetivos e Evidências aferidas
O objetivo geral deste trabalho foi atingido, uma vez que se conseguiu compreender o
contributo de metodologias/ferramentas/abordagens da qualidade, para as unidades de exploração
agrícola do perímetro de irrigação na Barragem do Poilão. Assim, as principais evidências permitem
aferir que:
Nestas pequenas unidades de produção familiar, a produção de produtos de qualidade é
possível, contudo ela carece de metodologias/ferramentas/abordagens de qualidade, que
antecedem a colocação do produto no mercado.
Na situação de escassez de recursos (e.g. naturais, humanos e financeiros), programas de
qualidade ao dispor das instituições públicas podem suportar ajustes e alterações de políticas
públicas, de modo a responder melhor as necessidades dos agricultores.
150
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As metodologias da qualidade podem permitir fazer um acompanhamento permanente entres
os três parâmetros: Qualidade-Produção-Satisfação, de modo a garantir o uso eficiente e eficaz
de recursos e dos investimentos.
Cabo Verde, como pequeno estado insular em desenvolvimento (SIDS), encontra-se sujeito a
maiores impactos das mudanças climáticas. Pelo que, os diversos programas de qualidade
podem contribuir para uma maior resiliência, na medida em que melhoram a capacidade
organizativa dos agricultores, aumentando a sua responsabilização, envolvência, e a sua
sensibilização, para os aspetos de otimização da produção.
Para que a inserção destes produtores, no mercado de fornecimento das cadeias hoteleiras
turísticas, seja bem-sucedida, com melhorias de rendimentos diretos, é necessário um trabalho
prévio de sensibilização e a implementação de programas de qualidade.
A qualidade contribui ainda para o estabelecimento de um clima de confiança entre parceiros.
A aposta de todos os envolvidos (agricultores, serviços públicos, parceiros) criará um
ambiente de confiança mútua, que permitirá melhorar o planeamento participativo, aumentar
a cooperação e os canais de comunicação, trabalhando assim na construção de alianças, a
médio e longo prazo, numa perspetiva de melhoria contínua.
A aposta no sector agrícola de regadio, essencialmente hortofrutícola, contribuirá para
responder, em simultâneo, aos desafios das mudanças climáticas, a diminuição de recursos
para o investimento e aos desafios da segurança alimentar e nutricional. Com isto, verifica-se
que, o fornecimento do mercado hoteleiro turístico, a melhoria da qualidade de vida e a
redução da pobreza, o serviço público do sector agrícola em Cabo Verde, semelhantemente
ao caso do Japão no final da Segunda Guerra Mundial, passa pela implementação de
abordagens da qualidade, que promovam uma cultura da qualidade, onde todos possam
contribuir para o desenvolvimento com os recursos existentes.
A vantagem competitiva da pequena produção agrícola familiar, em Cabo Verde, encontra-se
essencialmente numa aposta na qualidade, no resgate e aprimoramento da cultura tradicional
da produção e na valorização do território.
A avaliação do papel da agricultura na prestação de serviço ecológico, na manutenção e na
melhoria da biodiversidade, levará à quantificação do seu valor financeiro, e a subsequente
valorização.
6.2.1. Alcançando os Objetivos Específicos
O primeiro objetivo específico (OE1) prende-se com a adequação dos 5S às condições
específicas das pequenas unidades de produção agrícola de regadio no perímetro da Barragem do
151
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Poilão, numa perspetiva de perceber se esse programa de qualidade pode ter efeitos positivos na
melhoria da eficácia e eficiência dos recursos disponíveis.
Os valores obtidos nas pontuações do Senso de Limpeza e Zelo (4) e Senso de Utilização
(5) deixam prever maiores necessidades de intervenção. Por outro lado, eventuais melhorias nestes
dois sensos, podem, de forma positiva, melhorar o desempenho dos outros dois sensos de Ordenação
e de Saúde, dado que a separação e classificação de materiais e objetos facilita o seu acesso rápido e
seu controlo para efeitos de manutenção, verificação de prazos de validade, diminuindo acidentes e
o esforço físico e mental na organização diária do trabalho, a limpeza e higiene do ambiente e do
agricultor, contribuindo para prevenir doenças (e.g. malaria, ou doenças por ingestão indevida de
agrotóxicos e de foro ergonómico).
Assim, pode-se concluir que os 5S podem contribuir positivamente para criar um ambiente
propício para a implementação de programas de qualidade no futuro, igualmente, pode visar o acesso
dos produtos agrícolas localmente produzidos às cadeias hoteleiras do turismo ou para exportação e,
ao mesmo tempo, podem contribuir para um uso mais eficiente dos recursos, o aumento dos
rendimentos, melhoria da qualidade de vida, melhor comunicação entre os agricultores e destes com
os seus parceiros (e.g. serviços públicos, empresas de fornecimento de insumos e serviços, ONG).
O segundo objetivo específico (OE2) visou desenvolver uma metodologia para a estimativa
da produção, ao longo do ano, de hortícolas, frutícolas, raízes e tubérculos. Com este objetivo pode-
se compreender que a produção agrícola é de regadio, direcionado para o mercado, as parcelas de
produção são pequenas (menos de 0,2 hectares), os produtores são maioritariamente do sexo
masculino e com mais de 45 anos, com um nível de escolaridade entre os 6-12 anos e um agregado
familiar de 5 pessoas. Por outro lado, o agricultor recorre à mão de obra assalariada para cobrir as
necessidades, em períodos de pico (e.g. plantação, tratamentos fitossanitários, colheita). As principais
dificuldades identificadas estão relacionadas com: o aumento da área em produção, que é maior do
que previsto para a água disponível, e a baixa taxa de uso de sistemas de rega por gota a gota (57%),
que aumenta ainda mais o consumo de água por utilizador (Fonseca et al., 2014; MDR, 2014; Nair,
2001; Reyes-García et al., 2012).
Relativamente às informações de produção e produtividade recolhidas pelo parâmetro
EstProAgri nas suas duas dimensões, pode-se efetuar a caracterização através dos dados pessoais e
da unidade de produção; e que a estimativa da produção agrícola em policultura é muito informativa,
pode ser aplicada e aprimorada ao longo de vários ciclos de produção, inclusive usando Sistemas de
Informação Geográfica, resultando em valores mais robustos e fiáveis, permitindo dessa forma criar
modelos de estimativa e previsão desta produção (Sapkota et al., 2016).
O terceiro objetivo específico (OE3) tem como finalidade adequar o SERVPERF para avaliar
a satisfação dos agricultores/produtores, em relação à sua atividade profissional e aos serviços
152
CONSIDERAÇÕES FINAIS
públicos de que são beneficiários. Todas as dimensões da satisfação avaliada neste estudo
demonstraram que os agricultores estão pouco satisfeitos e que existem aspetos específicos de cada
dimensão que exigem melhorias. Os resultados desta avaliação assemelham-se aos encontrados por
Abdel-Ghany e Abdel-Salam (2012), onde os autores mostram que a perceção dos agricultores
relativamente aos serviços prestados pelo centro de extensão rural não alcança a pontuação máxima
nas cinco dimensões da qualidade do serviço, o que demonstra que os agricultores não estão
satisfeitos e ambicionam melhor qualidade nos serviços oferecidos.
Assim, para a dimensão Tangibilidade, que visa avaliar os aspetos tangíveis da prestação de
serviços, nomeadamente instalações, equipamentos e apresentação física, os aspetos de acolhimento,
acessibilidade, condições de trabalhos dos extensionistas/técnicos e a regularidade de visitas, são as
questões que urgem ser adequadas às suas necessidades. A valorização desta dimensão da satisfação
foi também referida como importante em estudos em vários contextos (Akdere, Top & Teki-ngündüz,
2018; Bootudom & Kessuvan, 2015; Córdoba & Sanchez 2018; Freitas, Godoy, Wegner, Godoy &
Santa´Anna, 2014; Ibarra & Medina, 2015; Kunrath, Hadres, Santos & Dresch, 2017; Oliveira, Leal
& Fenerich, 2013).
Na dimensão Fiabilidade, a confiança que o agricultor detém nos serviços e se os mesmos
satisfazem as suas expectativas, observa-se uma insatisfação em relação às informações que recebem
destes serviços, aos objetivos do desenvolvimento do perímetro de rega, nos prazos para a resolução
dos problemas, no preço da água para rega e à falta de confiança em relação a resolução dos seus
problemas pelos referidos serviços. Semelhantes conclusões encontram-se em vários estudos (Abdel-
Ghany & Abdel-Salam, 2012; Bootudom & Kessuvan, 2015; Córdoba & Sanchez, 2018; Ferreira,
Picchiai & Albertini, 2013; Freitas et al., 2014; Huang, 2011; Kunrath, Hadres, Santos & Dresch,
2017; Lourenço, Cardoso, Matos, & Nodari, 2017; Saravanan & Kannan 2012; Spina, Giraldi &
Borges de Oliveira, 2012), em que a dimensão da fiabilidade é essencial para a satisfação dos clientes,
pois reflete a confiança que se tem de que as solicitações serão respondidas com prontidão. Este fator,
por sua vez, contribui para a motivação e o recurso noutras ocasiões aos serviços prestados.
No que se refere à dimensão Capacidade de resposta, os resultados apontam para uma lacuna
entre as expectativas dos agricultores e a prestação de serviços da delegação, no que concerne a
assistência técnica para os sistemas de rega gota a gota, controlo e pragas, assistência médica
veterinária e zootécnica, programação da produção direcionado ao mercado e ações de capacitação
dos agricultores. Estudos em vários contextos (Abdel-Ghany & Abdel-Salam, 2012; Akdere, Top &
Tekingündüz, 2018; Bootudom & Kessuvan, 2015; Córdoba & Sanchez, 2018; Ferreira, Picchiai &
Albertini, 2013; Freitas et al., 2014; Serra & Carvalho, 2013; Kunrath, Hadres, Santos & Dresch,
2017) demonstram que a capacidade de resposta/celeridade é importante em várias indústrias, e no
153
CONSIDERAÇÕES FINAIS
caso da agricultura, ela pode ter um impacto imediato no aumento da produção ou em não perder a
produção (e.g. nos casos de pragas e doenças, avarias nos sistemas de rega).
Para a dimensão Garantia, que visa avaliar Segurança no atendimento, conhecimento,
habilidade técnica, constata-se haver necessidade de melhorar consideravelmente na construção de
uma relação de confiança entre os agricultores e os técnicos/delegação, de forma que a comunicação
possa fluir adequadamente, trazendo benefícios ao negócio agrícola, contribuindo para um
fornecimento estável, em quantidade e em preço, de produtos ao mercado, garantindo o melhor preço
ao produtor e permitindo ao produtor uma programação da sua atividade e investimento dos seus
recursos. A baixa avaliação desta dimensão reflete normalmente na satisfação do cliente, assim como,
pode-se constatar em vários estudos (Abdel-Ghany & Abdel-Salam, 2012; Akdere, Top &
Tekingündüz, 2018; Córdoba & Sanchez, 2018; Freitas et al., 2014; Huang, 2011; Kunkel, Andrioli
& Visentini, 2015; Serra & Carvalho, 2013; Spina, Giraldi & Borges de Oliveira, 2012) onde se
verifica que as capacidades e conhecimento técnicos adequados dos colaboradores permite-lhes
entender as necessidades dos agricultores/clientes, de forma personalizada e melhor poder prestar um
serviço, no qual o cliente confie como solução para os seus problemas.
No que concerne a dimensão Empatia, observa-se a mesma tendência: de pouco satisfeito por
parte do agricultor. Esta dimensão visa avaliar se no atendimento personalizado se verifica um
interesse na resolução dos problemas. Neste estudo, apesar de existir consciência do agricultor de que
nem tudo depende do técnico, que o atende, ele exige mais dos serviços/estado, pois sente que não há
uma atenção cuidada às suas dificuldades sobretudo, em situações de crise (e.g. secas, inundações,
pragas), pois não existe uma forma personalizada para o ajudar a melhorar o seu negócio. Podemos
constatar nos estudos de Abdel-Ghany e Abdel-Salam (2012), Saravanan e Kannan (2012) e Freitas
et al., (2014), que existe uma relação positiva entre a vontade dos colaboradores em ajudar no
tratamento personalizado dos clientes e a satisfação dos mesmos.
Por fim, a avaliação da satisfação geral foi ligeiramente mais bem avaliada do que as
dimensões individuais. Contudo, reflete os aspetos espelhados nas 5 dimensões referidas, mas
verifica-se uma vontade de continuar a desenvolver as suas atividades, o agricultor está disponível a
dar a sua contribuição para a sua melhoria (e.g. 68,1% estaria disponível a pagar assistência técnica),
apesar de 50% afirmar mudar de profissão se pudesse, todavia 79,2% aconselharia esta atividade ao
seu filho/amigo.
Com o quarto objetivo específicos (OE4) desta investigação, pretendia-se desenvolver uma
metodologia para a construção de um modelo híbrido, que junte os três parâmetros: Qualidade-
Produção-Satisfação e com base nos resultados propor um modelo conceptual que possa ser replicável
noutros perímetros de rega.
154
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, foi construído o questionário SQual4Agri e a utilização de uma abordagem
participativa, através de Focus Group, para a construção de uma ferramenta híbrida de diagnóstico,
através da construção do EstProAgri e de ferramentas testadas, nomeadamente os 5S e o
SERVPERF adaptado, às condições e às necessidades do estudo e à melhoria da compreensão
semântica pelos agricultores. Os resultados indicam a sua pertinência e utilidade numa abordagem de
uma cultura da qualidade, que visa melhorar a competitividade, a eficácia e a flexibilidade, através
do planeamento, organização e compreensão de cada atividade, envolvendo cada indivíduo, em cada
nível.
6.2.2. Explorando Respostas para as Proposições
A primeira proposição (P1) - Reconhecimento da maturidade da gestão de qualidade por
parte dos agricultores para a definição de serviços públicos no sector agrário ponderadas na eficiência
e na eficácia - relaciona-se ao OE1 - Adequar uma abordagem de qualidade, denominada 5S, as
condições específicas das pequenas unidades de produção agrícola de regadio.
Os dados recolhidos por inquérito permitem um diagnóstico da conformidade e da não
conformidade dos itens, que compõem cada um dos 5S. Estes resultados permitem desenhar um
programa de qualidade, com base nos 5 Sensos, de modo a melhorá-los e, desta forma, trazer maior
eficiência e eficácia no dia a dia da atividade do agricultor cabo-verdiano.
A segunda proposição (P2) - visa obter o conhecimento e a avaliação de práticas locais de
pequena produção agrícola, que pode contribuir, no sentido de progressão, para uma agricultura
moderna e sustentável. Esta proposição está relacionada ao OE1 - Adequar uma abordagem de
qualidade, denominada 5S, às condições específicas das pequenas unidades de produção agrícola de
regadio e o OE2 - Desenvolver uma metodologia para a estimativa da produção, ao longo do ano, de
hortícolas, frutícolas, raízes e tubérculos.
As informações recolhidas permitem caracterizar as unidades de produção, origem e custo da
água, sua gestão, sistemas de rega, preço do produto na propriedade, áreas cultivadas e mercados.
Estas informações podem ser utilizadas para construir mecanismos de sondagem rápida, que permita
fazer a estimativa anual da produção de frescos neste perímetro.
A terceira proposição (P3) - Avaliação do nível de satisfação dos agricultores em face aos
atuais programas implementados de desenvolvimento agrícola relaciona-se com o OE3 - Adequar
o SERVPERF para avaliar a satisfação dos agricultores/produtores, em relação a sua atividade
profissional e aos serviços públicos de que são beneficiários. Todavia, uma adequação do SERVPERF
às condições específicas foi um desafio, mas os resultados obtidos contribuem de forma positiva na
identificação de aspetos concretos, sobre os quais melhorias podem ser introduzidas, com efeitos
positivos, na satisfação dos agricultores.
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A quarta proposição (P4) - Proposta de uma metodologia que integre a gestão da qualidade,
a estimativa da produção agrícola e a satisfação dos agricultores com os serviços prestados pelas
instituições públicas de que são beneficiários, com vista ao desenvolvimento de uma cultura de
qualidade- relaciona-se ao OE2 - Desenvolver uma metodologia para a estimativa da produção, ao
longo do ano, de hortícolas, frutícolas, raízes e tubérculos - e ao OE3 - Adequar o SERVPERF para
avaliar a satisfação dos agricultores/produtores em relação a sua atividade profissional e aos serviços
públicos de que são beneficiários - e ao OE4 - Desenvolver uma metodologia para a construção de
um modelo híbrido, que junte os três parâmetros: Produção-Qualidade-Satisfação e com base nos
resultados desenvolver um modelo conceptual que possa ser replicado noutras perímetros de rega.
Com base nos resultados obtidos e discutidos, o modelo desenvolvido tem o potencial de
dar informações e permitir uma análise cruzada de várias dimensões necessárias na avaliação do
desempenho dos serviços públicos, prestados no sector agrário e informações que podem permitir a
prestação de um serviço público, com maior performance em termos de eficiência e eficácia no uso
de recursos.
Considera-se que, com base no modelo proposto, é possível responder às proposições
definidas. Esta proposta, que junta três parâmetros: Qualidade-Produção-Satisfação, sendo que no
primeiro usou-se os 5S, no segundo construiu-se o parâmetro EstProAgri e no terceiro foi adaptado
o SEVPERF, com a inclusão de mais uma dimensão. Esse modelo tem o potencial de, através da sua
implementação e continuada experimentação e aprimoramento, permitir, ao longo do tempo, avaliar
se as melhorias introduzidas na gestão da qualidade das explorações agrícolas, através da 5S e na
adequada gestão dos serviços públicos do sector agrário, resulta no aumento da produção e da
produtividade e na satisfação dos agricultores.
6.3. Reflexões Finais, Limitações e Sugestões para Trabalhos
Futuros
Mesmo quando se dedica considerável tempo na planificação de uma investigação e na criação
de condições para a implementar, sobretudo nas condições especificas da localização geográfica, tem-
se sempre a sensação de que o trabalho feito ficou aquém do que seriam as expectativas. No entanto,
é preciso avaliar os recursos disponíveis, onde se inclui o tempo e os recursos humanos, para avaliar
adequadamente os resultados.
O foco foi apenas compreender a realidade no perímetro agrícola da Barragem do Poilão, com
uma lente forte nas questões da qualidade e da satisfação dos agricultores e ao mesmo tempo que se
lançou uma abordagem para recolha de informações que possam permitir estimar a produção, numa
perspetiva exploratória e de construção de uma metodologia. Se a metodologia proposta possa ser
aplicada a outras realidades, já o mesmo poderá não ser verdade para os resultados obtidos.
156
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maior limitação deste estudo foi nitidamente o tempo disponível, principalmente na
dimensão produção, que exigia o acompanhamento das informações por, pelo menos, 3 ciclos de
produção. Simultaneamente, a seca, que teve início em 2016, contribuiu não só para que o número de
entrevistas previstas (200) não fosse alcançado, como também contribuiu para a redução das culturas
inventariadas.
Concomitantemente, a construção do conhecimento endógeno sobre a implementação de
abordagens de qualidade, de uma forma geral em Cabo Verde, é muito incipiente e na agricultura em
Cabo Verde é inexistente. Este facto, resulta na falta de conhecimentos nesta matéria de pessoal
capacitado para a sua avaliação e diagnóstico e informações que permitam avaliar e comparar os
trabalhos desenvolvidos.
A estas limitações acresce-se que, apesar da pequenez do país, a diversidade dos sistemas de
produção agrícola, das culturas e tradição das diferentes regiões é grande e carece de um olhar
específico.
Reconhecidas e identificadas as limitações do estudo, algumas melhorias significativas podem
ser incorporadas nas futuras investigações, ajustando a outras realidades agrícolas e melhorando a
metodologia proposta.
Perante os cenários acima identificados, considera-se fundamental a existência de
investigações futuras, que permitam reavaliar a motivação e o interesse dos agricultores, conhecer e
comparar outras áreas do país, pela singularidade que cada uma terá e pelo processo de capacitação,
que poderá proporcionar, para a implementação de programas de qualidade, que resultem em
qualidade não dos produtos produzidos, mas também se reflitam na qualidade de vida dos
produtores e estabeleçam o principio da melhoria contínua.
Outros trabalhos sistemáticos de investigação, que recolham os dados da produção, inclusive
os recursos usados na produção, devem ser implementados, de modo a permitir ao agricultor maior
informação sobre o seu custo de produção e criar-lhe sensibilidade para o uso mais eficiente de
recursos (e.g. água, inputs agrícolas, maquinaria, etc.).
Face a isso sugere-se algumas investigações específicas:
Adequar o SQual4Agri aos SIG (Survey 123 for ArcGIS) para garantir maior rapidez de
recolha de dados, criação de um banco de dados automático e monitoramento e ajustes a
médio prazo.
Através de informação geográfica auxiliar, como a cartografia dos solos e do cadastro de
propriedades (atualmente não disponíveis em Cabo Verde), usar os valores para obter
estimativas mais alargadas por município, ilha e pais.
Testar outras versões mais simples do modelo SQual4Agri para comparar os resultados e obter
maior eficácia na sua aplicação.
157
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Testar o SERVPERF adaptado atribuindo diferentes pesos as suas dimensões em função dos
aspetos a avaliar.
Apenas um trabalho continuado de investigação poderá melhor validar a metodologia
proposta, contudo, face a inexistência de qualquer trabalho nesta área, em Cabo Verde, propõe-se a
validação desta metodologia para que sirva de base para outros trabalhos futuros, permitindo dessa
forma transformar o modelo conceptual num modelo mais funcional, confrontando-se as teorias
sugeridas às realidades agrícolas em Cabo Verde.
Em suma, o modelo desenvolvido na presente pesquisa, pode ser considerado como o início
de um longo caminho, que deverá ser percorrido por Cabo Verde, tendo como alvo a melhoria
contínua para a excelência no sector agrícola.
158
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APÊNDICE I - QUESTIONÁRIO SQUAL4AGRI
APÊNDICE I - QUESTIORIO SQUAL4AGRI
173
APÊNDICE I - QUESTIONÁRIO SQUAL4AGRI
174
APÊNDICE I - QUESTIONÁRIO SQUAL4AGRI
175
SOBRE AS AUTORAS
SOBRE AS AUTORAS
DOUTORA ELSA SIMÕES
School of Agricultural and Environmental Sciences, University of Cabo
Verde
SHORT BIOGRAPHY
Elsa Simões (simoeselsa@hotmail.com) has a degree in agriculture by the
Louisiana State University (U.S.A.), a master’s in quality management and
Agricultural Food marketing from the University of Évora (Portugal), and a PhD (2020) in agrarian
and environmental sciences by the University of Évora (Portugal). With more than 30 years of
experience in public and private sector she worked in rural development, policy formulations and
project implementation in Cabo Verde. She is currently the deputy permanent representative of Cabo
Verde to the United Nations agencies in Rome, Italy. Her main research interests are agriculture
production and development, quality, rural development, river basin management and family-based
agroindustry.
PROF.ª DOUTORA MARGARIDA SARAIVA
Management Department, School of Social Sciences, University of Évora and
BRU-UNIDE/ISCTE-IUL, Portugal
SHORT BIOGRAPHY
Margarida Saraiva (msaraiva@uevora.pt) has a degree in business
management (1994) from the University of Évora. She did her master's degree
in business sciences (1998) promoted by INDEG/ISCTE-IUL. In 2004, has
received a PhD from the ISCTE Business School Portugal, Lisbon. She is currently Associated
Professor with aggregation at the Management Department of the School of Social Sciences at the
University of Évora - Portugal and a Researcher of Business Research Unit (UNIDE-IUL) of Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisbon Portugal. She is coordinator of the Researchers
Network of Quality (RIQUAL) and she is editor of scientific journal TMQ Techniques,
Methodologies and Quality (ISSN: 2183-0940): https://publicacoes.riqual.org/ . Her research
interests are in the areas of quality and management.
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