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Acta Scientiarum 21(2):277-282, 1999.
ISSN 1415-6814.
Influência de diferentes aglutinantes na digestibilidade aparente
Influência de diferentes aglutinantes na digestibilidade aparente Influência de diferentes aglutinantes na digestibilidade aparente
Influência de diferentes aglutinantes na digestibilidade aparente
da matéria seca e da proteína, no pacu (
da matéria seca e da proteína, no pacu (da matéria seca e da proteína, no pacu (
da matéria seca e da proteína, no pacu (Piaractus mesopotamicus
Piaractus mesopotamicusPiaractus mesopotamicus
Piaractus mesopotamicus)
) )
)
arraçoado com rações elaboradas com ou sem vapor
arraçoado com rações elaboradas com ou sem vaporarraçoado com rações elaboradas com ou sem vapor
arraçoado com rações elaboradas com ou sem vapor
Osmar Angelo Cantelmo
1
, Luiz Edivaldo Pezzato
2
*, Margarida Maria Barros
2
e Maria
Angélica Rosa Ribeiro
1
1
Centro Nacional de Pesquisa de Peixes Tropicais - CEPTA/Ibama.
2
FMVZ - Unesp/Câmpus de Botucatu, CP. 560, 18618-
000, Botucatu-São Paulo, Brazil. *Author for correspondence.
RESUMO.
O trabalho foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa de Peixes Tropicais -
Cepta, com o objetivo de determinar a influência de vários aglutinantes:
carboximetilcelulose, polimetilcarbamida, amido de mandioca, alginato de sódio,
polivinilpirrolidona e goma guar, bem como a técnica de processamento, com ou sem
vapor, na digestibilidade aparente das frações matéria seca e proteína bruta. Os resultados
obtidos demonstraram que a técnica de processamento a que se submete a mistura, durante
a confecção de ração para peixes, influencia o coeficiente de digestibilidade aparente das
frações matéria seca e proteína bruta, em pacus. Quando da confecção de rações para peixes,
houver a necessidade de utilizar-se de aglutinantes, a fim de obter pelletes mais estáveis,
recomenda-se, para os equipamentos dotados de câmara de acondicionamento com adição
de vapor, a polivinilpirrolidona, e para os sem a adição de vapor, a goma guar.
Palavras-chave: aglutinantes, digestibilidade, pacu, processamento de ração.
ABSTRACT.
Influence of different binders in the apparent digestibility of dry
matter and protein in pacu (Piaractus mesopotamicus) fed with ration processed with
or without steam. This work was carried out at National Research of Tropical Fishes -
Cepta, with the objective to determine the influence of different dietary binders with their
respective concentrations: sodium alginate, guar gum, polymethylolcarbamide,
polyvinylpyrrolidone, carboxymethylcellulose, cassava starch, and the manufacturing
process with or without steam, in the apparent digestibility of protein and dry matter. The
results obtained showed that the manufacturing technique during the fish ration process,
influences the apparent digestibility coefficient of dry matter and protein in pacu. When
binders are required to obtain more stable diet pellets, polyvinylpyrrolidone for equipments
with steam addition chambers and guar gum for equipment without steam are
recommended.
Key words: binders, digestibility, pacu, ration process.
Os aglutinantes são usados em dietas para peixes
com o intuito de conferir estabilidade e reduzir as
perdas de nutrientes, quando em contato com a
água. A maioria destes, afirmam Storebakken e
Austreng (1987), são polímeros não digeridos ou
desintegrados pelos animais monogástricos e podem,
ainda, atuar na manutenção parcial da forma física do
pellete, após a ingestão. Desta forma, torna-se
importante avaliar como os aglutinantes atuam nessa
manutenção e a ação dessa prática no valor nutritivo
dos alimentos. Enquanto os nutricionistas têm se
preocupado com os aspectos fisiológicos do uso de
aglutinantes em dietas para peixes de clima
temperado, nos mais variados segmentos
(Storebakken, 1985; Storebakken e Austreng, 1987;
Shiau et al., 1988; Spyridakis et al., 1989; Rosa
Ribeiro et al., 1993; Takeuchi et al.,1994; Hernãndez
et al., 1994), a avaliação de aglutinantes em dietas
para peixes tropicais esbarra na escassez de
informações.
Storebakken (1985) comenta que os aglutinantes
são conhecidos por reduzir a digestibilidade em
truta, sendo que, em outras espécies, tem-se
observado que esses aglutinantes influenciam o
278 Cantelmo et al.
conteúdo de umidade das fezes, a velocidade de
passagem pelo trato digestivo, a ingestão de alimento,
o balanço de minerais e o crescimento. Por outro
lado, Balazs (1973) afirma que se tem obtido sucesso
com aglutinantes, quando incorporados à ração,
ficando limitado seu uso em função do preço, da
disponibilidade e de equipamentos. Do mesmo
modo que Hastings (1968) e Hepher (1968) fazem a
afirmação de que o emprego de aglutinantes, para a
obtenção de um grânulo de boa qualidade, está na
dependência das características físico-químicas do
material envolvido e da eficiência do equipamento
empregado. Entretanto, para espécies de clima
tropical, pouco se tem em resultados,
principalmente, considerando-se as espécies nativas,
com grande potencial de criação em cativeiro em
sistema intensivo.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi verificar a
influência de diferentes aglutinantes comumente
utilizados em dietas na aquicultura e diferentes
técnicas de processamento, na digestibilidade
aparente das frações proteína bruta e matéria seca.
Material e métodos
Material e métodosMaterial e métodos
Material e métodos
Este trabalho foi realizado no Centro Nacional de
Pesquisa de Peixes Tropicais - Cepta -
Pirassununga-SP, onde se avaliou a eficiência de
diferentes produtos aglutinantes, empregados nos
níveis recomendados pela literatura, constituindo os
tratamentos carboximetilcelulose (CMC),
polimetilcarbamida (PMC), amido de mandioca
(AM), alginato de sódio (ALG), polivinilpirrolidona
(PVP) e goma guar (GG), além de uma ração
controle, a qual não foi acrescida de aglutinante
comercial (C). Esses produtos foram comparados
através da determinação do volume de água presente
no estômago e da digestibilidade aparente das frações
proteína bruta e matéria seca, após ingestão pelo
pacu (Piaractus mesopotamicus). Os valores foram
avaliados através de um delineamento inteiramente
casualizado, arranjados em um esquema fatorial,
com sete rações e duas técnicas de processamento,
com e sem vapor.
As sete rações experimentais, que compuseram
os tratamentos propostos, foram formuladas de
modo a apresentarem-se isoprotéicas (26,0% PB) e
isoenergéticas (2.700kcal ED/kg de ração), conforme
Cantelmo (1993). As rações foram confeccionadas
com ingredientes convencionalmente utilizados,
como farinha de peixe, farelo de soja, farelo de trigo,
fubá de milho, suplemento vitamínico e mineral,
violeta genciana, óxido de crômio III como marcador
e os aglutinantes acima apresentados.
Esses ingredientes tiveram seus diâmetros
padronizados, mediante a utilização de peneira, no
moinho à martelo, e com abertura de 2,0mm. A
composição percentual dos ingredientes e as
características nutritivas das rações experimentais
encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Composição percentual e características nutritivas das
rações experimentais
Tratamentos
Ingredientes CMC
PMC
AM
C ALG
PVP
GG
farinha de peixe 14,7
14,9
14,2
15,0
14,6
14,7
14,6
farelo de soja 21,2
21,5
20,5
21,6
21,1
21,2
21,1
farelo de trigo 29,4
29,9
28,5
30,0
29,2
29,4
29,2
fubá de milho 32,2
32,9
31,3
33,0
32,2
32,2
32,2
vitaminas 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
minerais 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
violeta genciana (g) 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8
carboximetilcelulose 2,0 - - - - - -
polimetilcarbamida - 0,5 - - - - -
amido de mandioca - - 5,0 - - - -
controle - - - - - - -
alginato de sódio - - - - 2,5 - -
polivinilpirrolidona - - - - - 2,0 -
goma guar - - - - - - 2,5
Total 100
100 100 100
100 100 100
Proteína bruta (%) 26,0
26,0
26,0
26,0
26,0
26,0
26,0
Energia digestível (kcal/kg ração)
2700
2700
2700
2700
2700
2700
2700
Níveis de garantia por kg de premix:: ácido fólico 250 mg; ácido pantotênico 5,0g; vit. B
1
250mg; vit. B
2
1,75g; vit B
6
87 5mg; vit. B
12
2,5m g; niacina 3,75g; vit. C 12,5g, vit. A
1.000.000UI; vit. E 12.500UI; vit. K 31 5mg; vit D
3
600.000UI; cobalto 25g; cobre 2g;
ferro 11,25g; iodo 106,2mg; manganês 3,75g; selênio 75,5mg; zinco 17,5g; antioxidante
0,25g. CMC = carboximetilcelulose; P MC = polimetilcelulose; AM = amido; C =
controle; ALG = alginato; PVP = polivinilpirrolidona ; GG = goma guar
A partir da formulação, os ingredientes foram
homogeneizados em misturador vertical, com
capacidade para 100,0kg de ração, em lotes de
50,0kg, onde cada tratamento foi submetido ao
processamento (peletização) em peletizador (modelo
Júnior da Koopers), com câmara de
acondicionamento e presença de vapor, de modo
que os grânulos apresentaram-se com diâmetro e
comprimento de 5,0mm e 10,0mm. E o outro foi
peletizado em um peletizador para laboratório
(California Pellet Mill), com a adição de água, sem
vapor, e com as mesmas características do anterior.
Para avaliar os prováveis efeitos dos tratamentos
sobre o valor nutritivo da dieta, as rações
processadas, com e sem vapor, foram empregadas na
determinação da digestibilidade aparente das frações
proteína bruta e matéria seca.
Para esse estudo, foram utilizados aquários de
fibra de vidro, de formato circular e capacidade de
300l, conforme o sistema de coleta proposto por
Cho et al. (1985) e adaptado para a realização desse
experimento. Esses aquários foram dotados de
sistema de coleta de fezes por gravidade, o que
possibilitou a obtenção do material para análise, sem
provocar estresse aos peixes. Foram estocados 100
peixes por aquário, com peso médio de 50g, nos
Digestibilidade aparente de matéria seca e proteína em pacu 279
quais foi avaliada a influência dos diferentes
aglutinantes e da técnica de processamento na
digestibilidade aparente da proteína bruta e matéria
seca com o pacu (Piaractus mesopotamicus). O fluxo de
água dos tanques foi regulado e mantido constante,
permitindo adequado suprimento de oxigênio aos
peixes de, no mínimo, 4ppm e conseqüente
carreamento e deposição das fezes, nos respectivos
coletores. A iluminação ambiente foi obtida através
de lâmpadas fluorescentes, com fotoperíodo das 6h
às 18h. A temperatura da água foi medida duas vezes
ao dia, às 08h e às 17h30min.
Os peixes foram mantidos nos aquários de
digestibilidade, onde receberam quatro refeições
diárias, às 08h30min, 11h30min, 14h30min e às
17h30min, sendo a coleta de fezes realizada no
período da manhã, antes da primeira alimentação.
No período da tarde, foi efetuado processo de
limpeza de todo o sistema 15 minutos após a última
refeição, preparando, desta forma, os tanques para
nova coleta, no dia seguinte.
Os peixes receberam a dieta controle, com
coloração diferente das dietas experimentais, por um
período de 5 dias, para assegurar a limpeza do
sistema digestório, quando só então receberam a
dieta para avaliação do coeficiente de digestibilidade
aparente, durante 4 dias. As fezes foram liofilizadas e
estocadas a -15°C para posterior análise química do
óxido de crômio, conforme metodologia proposta
por Granner (1972 e 1992). Esse procedimento
constituiu em submeter a amostra a uma digestão
com soluções concentradas de ácido sulfúrico, ácido
nítrico e ácido perclórico, até completa
oxidação/solubilização do crômio III. Em seguida, a
solução foi misturada com uma alíquota de s-
difenilcarbazida, e a leitura feita em
espectrofotômetro a 550nm.
A digestibilidade aparente das frações proteína
bruta e matéria seca das rações foi estimada através
da equação proposta por Cho et al. (1985):
D
A
n
.
.
(
)
=
100
100 (%Cr
O
)
x (%nutrie
nte
)
(%Cr O ) x (% nutriente )
2 3 (dieta) (fezes)
2 3 (fezes) (dieta)
−
Para a avaliação do efeito dos aglutinantes sobre
os coeficientes de digestibilidade aparente da fração
proteína e matéria seca da dieta, foi efetuada análise
de variância para experimentos inteiramente
casualizados. No caso de significância para o teste
nas análises de variância, os graus de liberdade dos
tratamentos foram desdobrados em seus efeitos
principais e nas interações entre os mesmos. Estudos
de comparações múltiplas de médias foram
realizados pelo teste de Tukey no nível de 5% de
probabilidade (Steel e Torrie, 1984).
Resultados e discussão
Resultados e discussãoResultados e discussão
Resultados e discussão
No ambiente em que foi conduzido o presente
trabalho, os valores de temperatura da água
apresentaram pequenas variações durante todo o
período experimental. Esses valores foram em média
27°C pela manhã e 28°C à tarde, e estão de acordo
com a temperatura apresentada por Carneiro (1990),
como sendo a que proporcionou os melhores
resultados no desenvolvimento e utilização do
alimento pelo pacu.
Digestibilidade aparente da matéria seca.
Quando
da avaliação dos aglutinantes dentro das técnicas de
processamento, pode-se constatar que, enquanto
processados com vapor, o aglutinante
polivinilpirrolidona (PVP) proporcionou (p<0,05)
melhor digestibilidade da matéria seca do que o
aglutinante goma guar (GG). Entretanto, essa
superioridade não foi constatada entre o aglutinante
PVP e os demais, o mesmo ocorrendo entre o GG e
esses mesmos tratamentos (Tabela 2).
Tabela 2. Valores médios (%) de digestibilidade aparente das
frações proteína bruta e matéria seca, desvio padrão e resultado
do teste estatístico para comparação de médias
Técnica de processamento
Tratamentos Com vapor Sem vapor
PB MS PB MS
CMC 88,59±0,72 ac A 74,22±1,06 ab A 85,47±1,78 c A 72,28±2,60 cb A
PMC 85,67±0,58 ac A 73,86±0,83 ab A 83,82±0,85 c A 70,86±1,10 c A
AM 84,91±1,09 ac A 72,62±1,95 ab A 86,97±0,34 bc A 76,52±0,17 ab B
C 87,43±1,07 a A 75,25±2,21 ab A 90,51±1,05 ab B 81,21±2,34 a B
ALG 83,23±1,56 bc A 72,42±4,11 ab A 88,43±1,74 b B 77,88±3,12 ab B
PVP 86,60±0,97 ac A 76,41±0,80 a A 87,82±0,67 b A 76,08±1,32 b A
GG 87,20±3,57 a A 70,63±2,13 b A 92,65±0,60 a B 86,39±0,54 d B
Valores seguidos mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05), onde
as letras minúsculas representam as diferença s entre agluti nantes dentro da técnica e as
letras maiúsculas as de tempo dentro de aglutinante. CMC = carboximetilcelulose;
PMC = polimetilcelulose; AM = amido; C = controle; ALG = alginato; PVP =
polivinilpirrolidona; GG = goma guar. CV/MS (%) = 3,07; CV/PB (%) = 1,87 ;
DMS/MS (5%) = 5,09 (para aglutinante dentro d e técnica de processamento);
DMS/MS (5%) = 3,31 (para técnica de processamento dentro de aglutinante); DMS/PB
(5%) = 2,52 (para a glutinante dentro de técnica d e processamento); DMS/PB (5%) =
2,32 (para técnica de processamento dentro de aglutinante)
No sentido de quantificar essas diferenças,
atribuiu-se índice 100% ao tratamento controle (C).
Assim, pode-se verificar que, embora a diferença
entre o coeficiente de digestibilidade aparente da
matéria seca, quando da técnica de processamento
com vapor entre os tratamentos PVP e C tenha sido
de apenas 1,51%, a mesma foi inferior em 6,13% no
tratamento GG.
Neste sentido, Shiau et al. (1988) afirmam que a
presença de aglutinantes fibrosos em dietas para
peixes tem ação sobre o movimento de nutrientes ao
longo do trato gastrintestinal, podendo influenciar a
absorção da dieta. Segundo esses autores, existem
duas categorias de fibra dietética: as chamadas
polissacarídeos viscosos ou solúveis em água, e não
280 Cantelmo et al.
viscosos ou insolúveis. Observam ainda que as fibras
dietéticas solúveis em água, como a goma guar e o
carboximetilcelulose, aumentam a viscosidade do
conteúdo estomacal dos peixes, retardando o seu
esvaziamento, influenciando, portanto, a taxa de
absorção da fração carboidrato da dieta.
Quando da técnica de processamento sem vapor
(Tabela 2), o aglutinante GG proporcionou o melhor
(p<0,05) coeficiente de digestibilidade aparente da
matéria seca da dieta. Essa superioridade, em média
de 10,58%, constatada de forma significativa para o
aglutinante GG, destaca-o entre os demais.
Por outro lado, embora não diferenciando do
aglutinante carboximetilcelulose (CMC), o
polimetilcarbamida (PMC) foi aquele que
apresentou o menor coeficiente de digestibilidade
aparente da matéria seca (70,86%). Cabe, ainda,
ressaltar que os aglutinantes alginato de sódio (ALG),
PVP e amido de mandioca (AM), juntamente com o
tratamento C, proporcionaram resultados que os
qualificam como de qualidade intermediária, dentro
dessa técnica de processamento. A qualidade do
CMC, como aglutinante de dietas para peixes, foi
também destacada por Shiau et al. (1988), quando o
avaliaram em dietas para tilápia do Nilo.
Concluíram, esses autores, que o CMC não
influenciou a digestibilidade da matéria seca das
dietas, mas que a mesma declinou, quando níveis
maiores foram incorporados à mistura.
Ainda dentro da técnica de processamento sem
vapor, atribuindo-se índice 100% ao tratamento C,
verifica-se que o aglutinante GG foi superior em
6,37%, enquanto a digestibilidade aparente da
matéria seca, do aglutinante PMC, também em
relação ao C, foi inferior em 12,74%.
A influência dos aglutinantes no coeficiente de
digestibilidade aparente da matéria seca das dietas
confirmam os resultados obtidos por Storenbakken e
Austreng (1987), quando empregaram 5,0% de seis
diferentes alginatos, com propriedades de
gelatinização, em dietas para truta arco-íris (Salmo
gairdneri). Os autores concluíram que o alginato
reduz a digestibilidade aparente das frações proteína
bruta e extrato etéreo, além dos minerais,
destacadamente o cálcio da dieta.
Quando da avaliação de cada um dos aglutinantes
dentro das técnicas de processamento, constatou-se
que os aglutinantes CMC, PMC e PVP
proporcionaram semelhantes coeficientes de
digestibilidade aparente da fração matéria seca, tanto
quando processados com vapor como para sem
vapor. Por outro lado, verificou-se diferença
(P<0,05) da técnica de processamento para os
tratamentos AM, C, ALG e GG, sendo que o
processamento sem vapor resultou em melhor
digestibilidade de matéria seca.
No sentido de destacar a diferença da técnica de
processamento dentro de cada um dos aglutinantes,
atribuiu-se índice 100% a cada um destes, quando
submetidos ao processamento sem vapor. Como
conseqüência, pode-se constatar que, quando da
técnica de processamento sem vapor, os coeficientes
de digestibilidade aparente foram superiores em
5,35, 7,92, 7,53 e 22,31%, respectivamente para os
tratamentos AM, C, ALG e GG.
Resultados inferiores (p<0,05) dos tratamentos
AM e C, obtidos enquanto do processamento com
vapor, contrariam as expectativas lógicas previstas,
quando da presença do vapor d’água na mistura. Essa
constatação contraria as afirmações feitas por
Hernandez et al. (1984) e Takeuchi et al. (1994), os
quais avaliaram vários carboidratos em dietas com a
carpa comum (Cyprinus carpio) e concluíram que a
gelatinização do amido das diferentes fontes resultou
no aumento da digestibilidade do amido e energia.
Segundo Storebakken (1985), aglutinantes, como o
alginato e a goma guar, podem reduzir, em trutas, a
digestibilidade das dietas, enquanto em outras
espécies, modificam o conteúdo de umidade nas
fezes e sua taxa de passagem pelo trato digestivo.
Digestibilidade aparente da proteína bruta.
Dentro
da técnica de processamento com vapor, observa-se
que o menor (p<0,05) coeficiente de digestibilidade
aparente da proteína bruta foi obtido pelos peixes
arraçoados com a dieta com o ALG, o qual diferiu
dos tratamentos C e GG. Estes, entretanto,
apresentaram resultados semelhantes aos dos
aglutinantes PVP, PMC, CMC e AM, que não
diferiram do aglutinante ALG.
Os resultados de coeficiente de digestibilidade
aparente da fração proteína bruta não apresentam-se
correlacionados com os obtidos com a fração matéria
seca, dentro do mesmo processo de confecção das
dietas. No sentido de melhor quantificar esses
resultados, atribuiu-se índice 100% ao tratamento C,
obtendo-se, desta maneira, um valor de digestibilidade
4,80% inferior para o aglutinante ALG.
Pode-se verificar que, dentro da técnica de
processamento sem vapor, didaticamente, é possível
dividir os aglutinantes em três grupos, em função
dos resultados de digestibilidade da proteína bruta.
Assim, constata-se que os melhores resultados foram
obtidos com os peixes que receberam as dietas com
os aglutinantes GG e C, ao passo que o GG diferiu
de todos os demais agregantes.
Esses resultados concordam com os obtidos com
a mesma espécie, por Rosa Ribeiro et al. (1993),
Digestibilidade aparente de matéria seca e proteína em pacu 281
quando trabalharam com a técnica sem vapor e
dietas contendo 2,0% de carboximetilcelulose ou
goma guar. Os autores concluíram que a goma guar
resultou em melhor coeficiente de digestibilidade
aparente para a fração proteína bruta.
Ainda, dentro da técnica de processamento sem
vapor, resultados intermediários foram
proporcionados pelos aglutinantes ALG, PVP e AM.
Pode-se observar, que esses dois primeiros diferiram
significativamente dos resultados de CMC e PMC,
os quais demonstraram menores porcentagens de
digestibilidade aparente.
Destaca-se que os resultados de digestibilidade
aparente da proteína bruta, dentro da técnica de
processamento sem vapor, mostrou semelhante
comportamento para a matéria seca, quando
confeccionada sem vapor. Quando atribuiu-se índice
100% ao resultado do processamento sem vapor do
tratamento C, pode-se constatar que o aglutinante
GG apresentou coeficiente de digestibilidade
aparente 2,3% superior. Por outro lado, os
tratamentos CMC e PMC mostraram-se inferiores
em 5,89 e 7,98%, respectivamente.
A ação dos alginatos como aglutinantes na
digestibilidade da dieta com peixes foi estudada por
Spyridakis et al. (1989). Esses autores empregaram
dietas contendo níveis crescentes desse aglutinante
com o European sea bass e concluíram que não
afetaram significativamente a digestibilidade da
proteína bruta e extrato etéreo. Entretanto,
Storebakken (1985) constatou, em experimento com
a truta arco-íris, que o alginato de sódio e a goma
guar reduziram a digestibilidade aparente dessas
mesmas frações nutritivas, além de aumentarem o
conteúdo de umidade nas fezes.
Os resultados dos coeficientes de digestibilidade
aparente da proteína bruta, Tabela 2, das técnicas de
processamento dentro dos aglutinantes, revelaram
diferenças significativas (P<0,05) para alguns
aglutinantes, em função do processamento a que se
submeteu essas dietas.
Neste sentido, pode-se verificar que os
tratamentos C, ALG e GG foram significativamente
influenciados pela técnica de processamento. Notou-
se que essas dietas apresentaram superiores
coeficientes de digestibilidade aparente, quando
confeccionadas sem vapor.
Com base nesses resultados, pode-se considerar
que os aglutinantes ALG e GG não seriam os mais
recomendados, quando do emprego de equipamento
dotado de câmara de acondicionamento com injeção
de vapor d’água. Esses resultados de digestibilidade
da proteína bruta apresentam-se semelhantes aos de
digestibilidade obtidos para a matéria seca, dentro da
mesma técnica de processamento.
Entretanto, não constatou-se interferência da
técnica de processamento para os aglutinantes CMC,
PMC, AM e PVP. A não detecção de ação da técnica
de processamento, na digestibilidade aparente da
proteína bruta, para o aglutinante AM, contraria as
expectativas preliminares dessa investigação.
No sentido de melhor quantificar a ação da
técnica de processamento, atribuiu-se índice 100% a
cada um dos aglutinantes. Constatou-se, desta
forma, que o processamento sem vapor implicou na
melhora da digestibilidade da proteína bruta,
respectivamente em 3,40, 5,88 e 5,88% para os
tratamentos C, ALG e GG. Resultados semelhantes
foram verificados por Hilton et al. (1981), em
experimento com trutas arco-íris. Os autores
destacaram que o processamento pode influenciar de
forma significativa o consumo, o ganho de peso e a
eficiência alimentar dos peixes, concluindo que a
extrusão pode promover reações do tipo Mayllard,
com conseqüente destruição de aminoácidos,
reduzindo a utilização da fração protéica da dieta.
A constatação de diferenças entre os coeficientes
de digestibilidade aparente das dietas contrariam a
afirmação feita pelo NRC (1983), que, segundo as
indústrias que confeccionam rações para peixes, os
aglutinantes têm pouco ou nenhum efeito negativo
sobre a digestibilidade, quando empregados em
baixas concentrações.
Os resultados obtidos nesta pesquisa
demonstraram que a técnica de processamento a que
se submete a mistura, durante a confecção de ração
para peixes, influencia o coeficiente de
digestibilidade aparente das frações matéria seca e
proteína bruta em pacus e, quando da confecção de
rações para peixes, houver a necessidade de utilizar-
se de aglutinantes, a fim de obter-se pelletes mais
estáveis, recomenda-se, para equipamentos dotados
de câmara de acondicionamento com adição de
vapor, a polivinilpirrolidona e, os sem a adição de
vapor, a goma guar.
Referências bibliográficas
Referências bibliográficasReferências bibliográficas
Referências bibliográficas
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feeding of crustacean. Aquaculture, 2:369-377, 1973.
Cantelmo, O.A. Níveis de proteína e energia em dietas para o
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