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Análise de Redes Sociais, suas Limitações e Recursos Teóricos para uma Abordagem Relacional nos Estudos Organizacionais

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Abstract

O presente ensaio teórico busca situar, no campo dos Estudos Organizacionais (EO), uma das abordagens de maior crescimento recente na literatura da área. Trata-se da Social Network Analysis (SNA), tomada, aqui, face ao desafio de considerar as relacionalidades nos EO, para além das questões de natureza estrutural no âmbito do debate estrutura agência. Nessa direção, esboça-se um panorama do percurso histórico de desenvolvimento dos EO. Em seguida, procura-se evidenciar o contexto de emergência da abordagem de redes, suas singularidades e limitações e o lugar nela ocupado pelos aspectos relacionais. Na continuidade, são indicadas algumas fragilidades da SNA em constituir uma abordagem relacional que supere os determinismos nos EO. Por essa razão, a teorização da Actor-Network Theory (ANT) é brevemente discutida e sugerida como recurso para a abordagem das relacionalidades no estudo das organizações, de modo a oportunizar possíveis combinações entre as perspectivas.
ESTUDOS DE ADMINISTRAÇÃO E SOCIEDADE V.2, N.2 (2017 ) 67–82
Revista
Estudos de Administração e Sociedade
Disponível em: http://www.revistaeas.uff.br/
ISSN 2525-9261
Análise de redes sociais, suas limitações e recursos
teóricos para uma abordagem relacional nos
estudos organizacionais
José Raimundo Cordeiro Neto*1
Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf
José de Arimatéia Dias Valadão2,
Universidade Federal de Lavras
Jackeline Amantino de Andrade‡3
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
RESUMO
O presente ensaio teórico busca situar, no campo dos Estudos Organizacionais (EO), uma das abordagens de maior
crescimento recente na literatura da área. Trata-
se da Social Network Analysis (SNA), tomada, aqui, face ao desafio de
considerar as relacionalidades nos EO, para além das questões de natureza estrutural no âmbito do debate estrutura-
agência. Nessa direção, esboça-
se um panorama do percurso histórico de desenvolvimento dos EO. Em seguida,
procura-se evidenciar o contexto de emergência da abordagem de redes, suas singularidades e limitações e o lugar nela
ocupado pelos aspectos relacionais. Na continuidade, são indicadas algumas fragilidades da SNA em constituir uma
abordagem relacional que supere os determinismos nos EO. Por essa razão, a teorização da Actor-Network Theory
(ANT) é brevemente discutida e sugerida como recurso para a abordagem das relacionalidades no estudo das
organizações, de modo a oportunizar possíveis combinações entre as perspectivas.
Palavras-chave: Estudos Organizacionais, Social Network Analysis, abordagem relacional, Teoria do Ator-Rede
ABSTRACT
This theoretical essay seeks to situate, in the field of Organizational Studies (EO), one of the approaches of greatest
recent growth in the literature of the area. This is the Social Network Analysis (SNA), taken here, in view of the
challenge of considering EO relationalities, in addition to structural issues within the structure-agency debate. In this
direction, we outline an overview of the historical development path of the EO. Then, it aims to present the context of
the emergence of the network approach, its singularities and limitations, and the place occupied by relational aspects.
In continuity, some weaknesses of SNA in constituting a relational approach that surpass the EO determinism. The
theorization of Actor-Network Theory (ANT) is briefly disc
ussed and suggested as a resource for approaching
relationalities in the study of organizations, in order to offer possible combinations of perspectives.
Keywords: Organizational Studies, Social Network Analysis, Relational Approach, Actor-Network Theory
1 * Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor da Universidade Federal do Vale do
São Francisco - Univasf. Líder do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Tecnologias em Gestão Social (NIGS).
2 Doutor em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor e coordenador do Programa de Pós-
Graduação em Administração Pública e professor do Bacharelado em Administração Pública da Universidade Federal de Lavras.
3 Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do Departamento de Ciências
Administrativas (DCA), do Programa de Pós-Graduação em Administração (PROPAD) e do Mestrado Profissional em Administração
(MPA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Líder do Grupo de Estudos sobre Inovação Organizacional.
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RESUMEN
El presente ensayo teórico busca situar, en el campo de los Estudios Organizacionales (EO), uno de los enfoques de
mayor crecimiento reciente en la literatura del área. Se trata de la Social Network Analysis (SNA), tomada aquí, ante
el desafío de considerar las relacio-
nes en los EO, además de las cuestiones de naturaleza estructural en el marco del
debate estructura-
agencia. En esa dirección, se esboza un panorama del recorrido histórico de desarrollo de los EO. A
continuación, se busca evidenciar el cont
exto de emergencia del abordaje de redes, sus singularidades y limitaciones, y
al lugar en ella ocupado por los aspectos relacionales. En la continuidad, se indican algunas fragilidades de la SNA en
constituir un abordaje relacional que supere los determinismos en los EO. La teorización de la Actor-Network Theory
(ANT) es brevemente discutida y sugerida como recurso para el abordaje de las relaciones en el estudio de las
organizaciones, a fin de oportunizar posibles combinaciones entre las perspectivas.
Palabras clave: Estudios Organizacionales, Social Network Analysis, abordaje relacional, Teoría del Actor-Red
1. Introdução
As duas últimas décadas tem evidenciado significativa produção teórica e empírica envolvendo a
temática das redes sociais. Isso é observado na literatura das mais diversas áreas acadêmicas e no campo
dos Estudos Organizacionais (EO), em especial. Nesse último, há vastos registros da aplicação da chamada
“Social Network Analysis” (SNA) sobre tópicos variados de pesquisa, desde as questões relativas ao
desempenho competitivo (Borgatti; Foster, 2003; Balestrin; Verschoore; Reyes Junior, 2010) até o âmbito
da gestão pública e das políticas públicas (Borzel, 2008; Peters; Pierre, 1998; Calmon; Costa, 2013), dentre
outros.
No campo dos EO, essa atratividade está relacionada aos esforços teóricos em prol de uma
abordagem que considere, adequadamente, os aspectos relacionais nos fenômenos estudados, e que
configure uma saída às presilhas teóricas do determinismo e do voluntarismo, nos debates sobre as
dicotomias agência-estrutura, bem como entre níveis de análise micro-macro (Granovetter, 1973; 1983;
1990; 2009; Mizruchi, 2009; Scott, 2004; Hassard; Cox, 2013). O presente trabalho, neste sentido, tem o
intuito de situar o emprego da análise de redes no contexto dos estudos organizacionais. Ainda, pretende-se
apresentar alguns recursos teóricos que auxiliem na superação de limitações apresentadas pela SNA em
termos de sua proposta de abordagem relacional.
Por ‘situar’, entende-se aqui o esforço de identificar o contexto de surgimento e expansão da SNA
na área em questão, buscando explicitar as questões às quais esta abordagem está relacionada no campo
dos EO, em termos, por exemplo, dos desafios ou particularidades na trajetória desta área de pesquisa. Por
sua vez, o termo desenvolvimento tem aqui o sentido de caminho histórico dos estudos sobre organizações,
em especial a partir da segunda metade do século passado, conforme destaca Scott (2004).
Desenvolvimento não é aqui empregado como significado de progresso, de aperfeiçoamento ou de processo
de melhoria, dadas as inúmeras possibilidades e trajetórias não-lineares, às quais o fazer científico está
associado.
Ao discutir a relação desta abordagem (SNA) com proeminentes questões da área, este ensaio
pretende auxiliar no discernimento de aspectos referentes à utilização de tal análise, seja na decisão sobre
utilizá-la em determinados contextos de pesquisa, seja quanto à forma de empregá-la, uma vez tomada a
decisão de adotá-la. Na seção seguinte, procura-se evidenciar, com algumas discussões, uma linha
demonstrativa do percurso histórico dos EO até o período recente, enfatizando elementos que tornaram o
campo propenso à incorporação intensa da SNA. Posteriormente, a seção três aborda especificamente a
análise de redes em algumas de suas principais singularidades, num esforço de explicitar e discutir como
ela se relaciona com aspectos relevantes do campo de EO, em termos teórico-metodológicos. A quarta seção
sintetiza o que se poderia chamar de breves proposições, derivadas das discussões tratadas nas duas seções
anteriores. Por fim, as considerações finais discutem o emprego de recursos teóricos advindos de uma outra
abordagem teórica específica, qual seja a Teoria do Ator-Rede, como forma de contribuição para a
superação de limitações presentes na SNA.
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2. O campo dos estudos organizacionais: entre individualismos metodológicos, micro-
análises e abordagem relacional
A ideia de percurso histórico dos EO é, aqui, delineada como uma das opções possíveis de descrever
a trajetória da área de pesquisa sobre organizações, opção esta oriunda da utilização de abordagens que
refletem diretamente sobre o que se poderia chamar de evolução dos EO, como é o caso de trabalhos como o
de Scott (2004); Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006); e Reed (2006), ou daqueles que, ao menos de forma
tangencial, referem-se a essa evolução, a exemplo de McKinley e Mone (2003); Clegg e Hardy (2006);
Bertero (2004); e Vieira e Boeira (2006).
É reconhecido que não se dispõe de uma metanarrativa organizacional por excelência, que explicite
um sentido único e uma forma monolítica da teorização organizacional e de seu principal constructo - a
organização - e que possa ser tomada como um discurso amplamente aceito, com suficiente força moral e
reconhecida coerência analítica frente à diversidade de atores e perspectivas relacionadas à área (REED,
2006). Em decorrência, múltiplas vozes têm visibilidade no âmbito dos EO, evidenciando a natureza
fragmentada dos estudos e das práticas organizacionais, no que Clegg e Hardy (2006, p.38) chamam de
“torneio metafórico” em torno da organização como objeto empírico, como discurso teórico e como processo
social. Marsden e Towley (2001, p.32) expressam algo semelhante quando dizem que “a organização é um
cristal visto por um caleidoscópio de teorias”. Ranson, Hinings e Greenwood (1980), em direção parecida,
preferem falar da existência de “vocabulários e perspectivas concorrentes” no interior do que se conhece
como estudos organizacionais. Esse “torneio metafórico” é muito bem ilustrado pelas diferentes imagens
com as quais se pode conceber a organização (Morgan, 1996) e não se limita à tematização da mesma
enquanto objeto empírico, mas ressalta também controvérsias ideológicas (Reed, 2006).
Desta diversidade se compreende a armadilha que pode se tornar qualquer tentativa de defender
um sentido único de evolução de um agregado como o campo de EO, no qual homogeneidade é uma
característica ausente. De todo modo, assumindo os riscos de reducionismo frente à necessidade de
tratamento didático e analítico que desenhar o percurso dos EO enseja, parece razoável assumir as décadas
iniciais do século XX como marco histórico do nascimento dos EO, como afirmam autores como Walsh,
Meyer e Schoonhoven (2006); Scott (2004); Bertero (2004); Mckelvey (2003); e Vieira e Boeira (2006).
Naquele contexto inicial dos EO, a perspectiva de produção de tecnologias administrativas e
organizacionais caracterizava-se como a tônica do momento. Conforme Bertero (2004), configurava-se uma
vertente gerencialista, cujos precursores (Taylor e Fayol) eram adeptos da ideia de que as mesmas
diretrizes que regiam os métodos nas ciências exatas poderiam ser transplantadas ao campo
administrativo, sobretudo no que dizia respeito à engenharia. O campo de estudos, portanto, nasceu sob o
signo da migração do método das ciências naturais para as ciências sociais.
Nesse contexto de surgimento, a primeira geração de teorias organizacionais estava preocupada em
apreender aspectos comuns à dinâmica de todas as organizações, acreditando que estes existiriam e que o
seu conhecimento poderia propiciar a “tecnologia intelectual” (Reed, 2006, P. 68) necessária à gestão. No
entendimento de Marsden e Towley (2001), esse processo desejava uma “teoria da gestão e para a gestão”,
assumindo implicitamente um conceito de prática segundo o qual “administrar é [...] o empreendimento
que torna os recursos produtivos e, assim, age como uma função da melhoria humana” (Druckek apud
Masrden; Towley, 2001, P. 42).
Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006) associam o nascimento dos EO com as transformações
socioprodutivas da Segunda Revolução Industrial, bem como tratam de todos os desdobramentos
posteriores da área relacionando-os intimamente com os processos de mudança mais amplos no cenário
econômico mundial.
Vieira e Boeira (2006) relacionam, nessa fase inicial, a escola clássica da administração e a escola
das relações humanas com o Grande Paradigma do Ocidente (GPO), na perspectiva que o estudioso Edgar
Morin atribui a esse último. De acordo com os autores, seja pressupondo o indivíduo a partir do modelo de
homo economicus, seja pela vertente das relações humanas, baseada na noção de homo socialis, o
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José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
nascimento dos EOs insere este campo disciplinar no GPO e suas dualidades (alma-corpo; espírito-matéria;
qualidade-quantidade; finalidade-causalidade; sentimento-razão; liberdade-determinismo; existência-
essência).
Scott (2004), por sua vez, compreende a área de EO como um campo intelectual vigoroso, em
termos de produção teórica e de estudos empíricos, destacando a marcante produtividade no período da
segunda metade do século XX, no qual um verdadeiro frenesi de desenvolvimento teórico teria acontecido.
Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006) associam muitas das direções teóricas desse período (1950-80) com a
configuração socioprodutiva forjada no bojo da Terceira Revolução Industrial e uma marcante
predominância das influências norte-americanas no desenvolvimento dos EO.
Embora com significativas distinções entre modelos teóricos propostos, Walsh, Meyer e
Schoonhoven (2006) abordam as décadas iniciais da segunda metade do século XX como um período de
primazia das abordagens analíticas que assumem a organização enquanto variável dependente de outros
elementos contextuais, esses últimos incorporados como variáveis independentes, ao quais os atributos
organizacionais responderiam. Em outras palavras, mas referindo-se a mesma concepção, Scott (2004)
afirma que as teorias do período (Contingência; Dependência de Recursos; Custos de Transação; Ecologia
Organizacional; e Teoria Institucional) contemplam grande diversidade de tópicos estudados, mas se
assemelham pela ênfase sobre a relação ambiente organização, de modo a buscarem os determinantes
externos das estruturas organizacionais.
Para autores como Reed (2006), o pensamento organicista passa a ser preponderante nesse campo,
do final dos anos de 1940 aos anos 1970, assistindo simultaneamente o desenvolvimento da teoria dos
sistemas, que teria contribuído para levar o foco dos estudos ao âmbito das questões sobre a relação entre
organizações e entorno. Na concepção de Clegg (1998), se até a década de 1930 predominaram os modelos
mecanicistas, fechados e racionalistas como os de Fayol e Taylor, o período 1930-1950 observa o destaque
da idéia de organismo natural em desenvolvimento. A partir de então, ao final dos anos de 1960, os estudos
de Aston ganham centralidade, propondo a coleta e análise de dados empíricos sobre a influência relativa
de cada uma das dimensões da burocracia weberiana na estrutura das organizações, com atenção especial
para cinco dessas dimensões: padronização, formalização, concentração, configuração e especialização
(Clegg, 1998).
Tem-se, dessa forma, que o período em tela representou, sob a influência da teoria dos sistemas
abertos, o alargamento da concepção de ambiente com o qual a organização interage, bem como uma
mudança no nível de análise predominante nos EO, passando de análises microrreferenciadas para
trabalhos de orientação macro (Scott, 2004). McKinley e Mone (2003) entendem como perspectivas micro o
conjunto teórico que busca capturar a relação das estruturas organizacionais singulares com as
contingências ambientais, como ocorre na Teoria da Contingência, na Teoria da Dependência de Recursos e
na Teoria dos Custos de Transação. Ao mesmo tempo, associam o caráter macro às vertentes que tratam da
evolução de agregados organizacionais e das características apresentadas por estas coletividades, como
acontece na Ecologia Populacional e na Teoria Institucional.
Independentemente do nível de análise assumido, esses modelos pressupõem, conforme Reed
(2006), o determinismo das forças universais do mercado sobre o funcionamento e desenvolvimento
organizacionais. Seria essa pressuposição básica que levaria a teoria dos custos de transação e a ecologia
populacional, por exemplo, a enfatizarem, respectivamente, os ajustes adaptativos das organizações às
pressões e particularidades de mercado e o papel seletivo dessas pressões, perseguindo uma lógica
evolucionária na qual a ação individual e coletiva sofre imperativos da ordem maior, de natureza
estrutural.
Marsden e Towley (2001) põem em relevo o surgimento, nos anos de 1970, de críticas sistemáticas
às teorias organizacionais que reificavam as metas da gerência em objetivos da organização, que negavam
a distinção entre organização formal e informal e, com isso, a presença de contra-objetivos e de
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subordinação. A ênfase recai, dessa forma, na natureza socialmente construída das organizações,
destacando-se metanarrativas como poder, conhecimento e justiça (Marsden; Towley, 2001; Reed, 2006).
A partir da última década do século XX, tornam-se mais prementes, segundo Scott (2004), alguns
desafios para a evolução do campo de EO. Para o autor, esses desafios estão vinculados às repercussões de
grandes implicações sociais ou econômicas da contemporaneidade sobre o processo de teorização, dentre
elas a necessidade de ultrapassar concepções substancialistas das estruturas sociais, em direção a
concepções relacionais, cujas abordagens sejam construídas sobre noções de significado e identidades dos
atores singulares ou coletivos, de modo inseparável do papel relacional que eles desempenham no contexto
transacional. Isso significaria uma menor ênfase na definição de estruturas como coisas ou entidades
(noção substancialista) e, nos EO, uma passagem do foco sobre a organização para o processo de organizar
(organizing).
No decorrer desse percurso histórico, como observado, identifica-se a emergência do debate micro-
macro e, especialmente, sobre estrutura-agência, com significativo relevo no campo. Note-se, neste sentido,
que a ênfase nesse ponto justifica, inclusive, que o trabalho de Gibson Burrel e Gareth Morgan (1979) tome
esse elemento como um dos referenciais para a distinção entre paradigmas de abordagens nos EO. A
oposição voluntarismo versus determinismo, naquela elaboração, é reunida a outros aspectos sobre as
ciências sociais, para distinguir uma tradição objetivista (identificada com o determinismo) de uma
tradição subjetivista (identificada com o voluntarismo). Na referida publicação, os autores, com efeito,
estabelecem o modo como tais abordagens concebem a natureza humana e tratam a relação entre ser
humano e sociedade como componente da dimensão objetivismo/subjetivismo. Essa dimensão é combinada
com uma segunda, a maneira pela qual os estudos organizacionais concebem a natureza da sociedade ou a
questão da ordem, isto é, pela ênfase no equilíbrio e harmonia ou pelo foco na mudança e no conflito.
A discussão paradigmática de Burrel e Morgan é sabidamente questionada sob diferentes
argumentos, como se pode observar em trabalhos recentes como o de Hassard e Cox (2013), o qual
retomaremos mais adiante. Todavia, o reconhecimento do debate estrutura-agência como um elemento de
destaque, no campo dos estudos organizacionais, é indicativo do relevo atribuído, nesse campo, ao
tratamento da natureza humana e sua relação com a sociedade. A ideia de redes sociais, talvez de modo
relacionado às tendências anteriormente enumeradas por Scott (2004), passa a ter uma utilização
crescente nos EO, a partir dos anos de 1990 e da primeira década deste século XXI. Alguns autores
caracterizaram esse crescimento no emprego da SNA, alguns chegando a ressaltar seu comportamento
exponencial (Borgatti; Foster, 2003; Mische, 2011; Borgatti; Halgin, 2011; Balestrin; Verschoore; Reyes
Junior, 2010; Lopes; Baldi, 2009; Mizruchi, 2009).
De forma sintética, a noção de rede compreende um conjunto de atores conectados por um conjunto
de laços em determinada configuração, podendo os atores constituir pessoas, organizações ou mesmo
cidades, dentre outros, e os laços variarem entre diferentes tipos (vizinhança, amizade, relação comercial,
etc), como expõem Borgatti e Foster (2003). A popularidade da Social Network Analysis (SNA),
especialmente nos EO, está relacionada com a grande amplitude de possibilidades analíticas que encerra,
na medida em que um grande conjunto de ferramentas conceituais é por ela disponibilizado, possibilitando
trazer as relações entre os atores para o primeiro plano da abordagem, bem como a composição de novos
níveis de análise, como demonstram os trabalhos de Lopes e Baldi (2009); Mizruchi (2009); e Souza e
Quandt (2008).
Em outras palavras, a SNA está diretamente vinculada às proposições sobre a abordagem
relacional dos fenômenos econômicos, fortalecidas a partir das reivindicações do trabalho de Granovetter
(2009), originalmente publicado no ano de 1973. A utilização da concepção de redes sociais como elemento
central nos fenômenos da vida econômica tem forte associação com a defesa da natureza socialmente
imersa (embeddedness) desses fenômenos, de modo que a rede é situada como um domínio entre o mercado
e a hierarquia organizacional, permitindo superar visões assentadas nos pressupostos da atomização do
indivíduo e empregar uma noção cujos alicerces encontram-se no campo da relacionalidade entre
indivíduos e grupos (Smith-Doerr; Powell, 2005; Mizruchi, 2009).
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José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
Dessa forma, embora a origem da discussão sobre o embeddedness tenha ocorrido no campo da
sociologia econômica, a seção seguinte tratará de discutir o que costumeiramente se compreende como
abordagem relacional no âmbito dos EO, a fim de que a relação da SNA com tal abordagem se torne mais
explícita e, consequentemente, seja possível precisar melhor o contexto de sua disseminação na pesquisa
organizacional.
3. Abordagem relacional e análise de redes sociais nos estudos organizacionais
Como os últimos parágrafos da seção anterior apresentam, a SNA e a abordagem relacional estão
conectadas entre si e a compreensão dessa conexão é importante para um adequado entendimento do lugar
da SNA nos EO. De fato, no estudo das networks, o foco analítico é menos o ator individual e seus atributos
e mais os aspectos relacionais que compõem a estrutura da rede (Borgatti; Halgin, 2011; Smith-Doerr;
Powell, 2005; Mizruchi, 2009). A SNA adota o pressuposto de que tais relações são mais relevantes na
explicação dos fenômenos pesquisados do que as variáveis que caracterizam indivíduos ou organizações.
Esse pressuposto é parte fundamental da ligação entre a SNA e a abordagem relacional, visto ser
esta última originária do argumento da imersão, defendido por Granovetter (2009). Esse argumento,
originalmente publicado em artigo de 1973, ataca o aparente consenso, nas ciências sociais, de que os
fenômenos econômicos têm uma natureza distinta dos demais objetos de interesse daquelas ciências. Essa
distinção consistiria no caráter independente do comportamento econômico em relação aos laços sociais
tradicionalmente analisados pela Sociologia, motivo pelo qual as metodologias sociológicas não seriam
adequadas à sua análise e deveriam se especializar no estudo das questões extraeconômicas da sociedade.
À Ciência Econômica, de acordo com a distinção criticada por Granovetter, caberia o estudo dos fenômenos
econômicos, utilizando-se de instrumentos teórico-conceituais e metodológicos adequados à pesquisa do
comportamento do homo economicus, cujo caráter atomizado isolaria no nível individual o processo de
formação de preferências e o processo de tomada de decisão, dada sua natureza intrinsecamente orientada
para a maximização do ganho individual, em funções de utilidade específicas, nas quais os efeitos das
relações sociais são periféricos (Granovetter, 2009). É contra essa hipótese da atomização que Granovetter
aponta.
A ofensiva da perspectiva da imersão, contudo, não dispara apenas contra a teoria econômica da
escolha racional, compreendida como sub-socializada, por isolar o indivíduo de seu entorno relacional. Ela
também dispara contra as perspectivas super-socializadas encontradas na sociologia tradicional e sua
suposição de que as preferências humanas são forjadas em processos de socialização sempre prévios ao
momento de decisão. Essas perspectivas são o que Mizruchi (2009), por sua vez, caracteriza como domínio
da sociologia normativa, na qual as preferências humanas são, tal qual na escolha racional, exógenas ao
ambiente transacional. A análise de redes sociais, dessa forma, seria um empreendimento destinado a
permitir a investigação da ação econômica considerando sua ligação íntima com as estruturas relacionais
nas quais os atores estão imersos. Pressupõe-se, nesse empreendimento analítico, que as estruturas
relacionais são provedoras de restrições e oportunidades para a ação humana e, por essa via, afetam os
comportamentos em maior intensidade do que a interiorização de normas culturais e condições subjetivas
individuais (Mizruchi, 2009).
A problematização da questão da ordem social é um dos principais pontos pelos quais a hipótese da
imersão destaca a incompletude das teorizações atomísticas. Granovetter observa, inicialmente, que essa
questão é central tanto para a economia clássica e neoclássica como, talvez principalmente, para a
economia moderna. O autor explicita que, para as duas primeiras, a solução era alcançada pela via da
liberdade individual de mercado e pelo agregado das decisões dos indivíduos (laissez-faire), na medida em
que os mecanismos de mercado da concorrência perfeita permitiriam a superação de conflitos
potencialmente decorrentes do comportamento oportunista e da má-fé, típica de indivíduos cujo auto-
interesse é o único guia econômico. Para a economia moderna, sobretudo no âmbito neoinstitucional da
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Teoria dos Custos de Transação, os problemas decorrentes da má-fé e do oportunismo, bem como derivados
da racionalidade limitada dos agentes econômicos, podem carregar a necessidade de se recorrer a soluções
contratuais e organizacionais, a depender das particularidades de cada mercado. Em qualquer dessas duas
teorizações, é ignorada a possibilidade de as transações econômicas acontecerem em espaços relacionais
intermediários entre o mercado e a autoridade organizacional, mediadas por vínculos sociais e
entendimentos culturais compartilhados, de modo que as preferências e interesses possam ser conduzidas
de modo a eliminar o problema do comportamento oportunista e da má-fé. As estruturas relacionais têm,
desse modo, seus efeitos sobre o comportamento econômico ignorados pela metodologia econômica
convencional, na qual tais estruturas não influenciam as funções de utilidade e os interesses individuais do
homo economicus. Por outro lado, Granovetter (2009) apresenta diversas análises empíricas, destacando a
imersão em relações sociais como mecanismo de sustentação de atividades, em variados fenômenos
econômicos, nos quais o problema do conflito tem solução independente do laissez faire e da saída
contratual/organizacional.
Dessa forma, as redes de relacionamento, que representam o contexto de imersão das atividades
humanas, são definidas como mecanismos de coordenação situados entre a vinculação extremamente
efêmera das relações mercantis puras e os processos de submissão organizacional e hierárquica (Mische,
2011; Borgatti; Halgin, 2011; Smith-Doerr; Powell, 2005). É por essa razão que, explorando os
desdobramentos recentes da sociologia econômica, Sweedberg (2004) destaca a abordagem de redes como
um dos enfoques teóricos úteis no estudo dos fenômenos econômicos, citando variados exemplos dessa
abordagem, que compreendem variadas nuanças teóricas, mas que, em geral, assumem a relação entre
atores como a unidade de análise fundamental (Mische, 2011; Borgatti; Foster, 2003).
Aqui, cabe mencionar, também, a necessidade de evitar tratar como sinônimos a análise de redes e
a referida abordagem relacional. Nessa perspectiva, o trabalho de Mische (2011) é demonstrativo de como a
diferenciação entre essas concepções pode ser elucidada. A autora observa que a análise relacional é
identificada pela agenda de pesquisa fundada sobre o tratamento da dualidade agência-estrutura através
do foco sobre as dinâmicas de interação social. Os pesquisadores associados ao paradigma relacional, desse
modo, não necessariamente fazem uso da metodologia de análise de redes ou podem fazê-lo de forma
marginal.
Além disso, Mische (2011) descreve a formação de um gap entre a SNA e a perspectiva relacional
no processo de formação paralela dessas orientações. A lacuna consistiria em uma concentração da SNA na
construção de um cluster de técnicas, geralmente matematizadas, com pouca abertura e adequação para
contemplar as investigações preocupadas com mecanismos interpretativos e de construção de significados,
a exemplo do campo da sociologia cultural. O foco da SNA sobre a mensuração de atributos posicionais e
relacionais é, de fato, destacado em boa parte da literatura, a exemplo de Burt (1997); Borgatti e Foster
(2003); Lopes e Baldi (2009); Souza e Quandt (2008) e Mizruchi (2009). Todos esses trabalhos apresentam
exemplos de ferramentas conceituais diversas que privilegiam a caracterização estrutural das redes em
detrimento da compreensão dos conteúdos da interação entre os agentes. Isso permite o manejo de
importantes conceitos operacionalizáveis, como graus de centralidade, densidade estrutural, esferas de
influência, buracos e equivalência estrutural, níveis de separação, dentre outros, como apresentado na
Figura 01:
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Análise de Redes Sociais, suas Limitações e Recursos Teóricos para uma Abordagem Relacional nos Estudos Organizacionais
José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
Autores relevantes
Representação Visual
grupos versus redes
Simmel, 1955 [1922]
sociométricas
Moreno, 1934
White, Boorman, and
Breiger, 1976; Burt,
1982
versus forte
Granovetter, 1973
gaudens
Burt, 1992
do caminho
Milgram,1967
de influência
Mizruchi, 1996
proximidade
Freeman, 1979
ESTUDOS DE ADMINISTRAÇÃO E SOCIEDADE V. 2, N.1 (2017 ) 75– 82
ISSN 2525-9261
versus poder (A é central,
de B)
Bonacich, 1987;
Cook, 1977
Barnes, 1979;
Marsden, 1993
escala, ponto de inflexão
Watts e Strogatz, 1998:
441
Figura 01: kit de ferramentas conceituais da SNA.
Fonte: Smith-Doerr e Powell (2005) -Adaptado
No que pese o conceptual toolkit proporcionado pela SNA, contudo, a ênfase na estrutura e o déficit
no tratamento dos conteúdos transacionados através dos laços da rede evidenciam significativa fragilidade
de parte importante da SNA, segundo destacam Smith-Doerr e Powell (2005).
Borgatti e Foster (2003) reconhecem que na network reserarch, há uma divisão entre perspectivas
mais estruturalistas (ênfase nos padrões das interações, na topologia da rede e nas relações de
equivalência) e orientações que eles denominam de coneccionistas (maior atenção aos fluxos operados nas
redes, ao conteúdo das transações e aos aspectos de coesão). É essa divisão que permite a autores como
Lopes e Baldi (2009) e Calmon e Costa (2013), por exemplo, afirmarem didaticamente a divisão entre o
posicional e o relacional na SNA. Smith-Doerr e Powell (2005) destacam, ainda, uma certa carência de
tratamento dos aspectos dinâmicos da rede nesses estudos, que, predominantemente, assumiriam redes
enquanto entidades estáticas e apresentariam reduzida preocupação com aspectos políticos e institucionais
mais amplos.
Essas particularidades da SNA, no que pese a sua grande potencialidade enquanto alternativa
teórico-analítica frente aos paradigmas da sociologia normativa ou da escolha racional, impedem tomá-la
enquanto automática tradução da perspectiva relacional defendida pela tradição que nasce com a imersão
de Granovetter. Na verdade, o próprio Mark Granovetter, que utilizou o expediente da SNA em trabalhos
importantes como o estudo “The strength of weak tiesou simplesmente SWT (Granovetter, 1973; 1983),
afirmou em artigo posterior: “I am not a networker” (Granovetter, 1990, P. 30), no sentido de publicizar seu
entendimento da SNA enquanto método para a análise das bases sociais da vida econômica, mas não como
sinônimo da abordagem relacional em si.
Borgatti e Foster (2003) e Borgatti e Halgin (2011) compreendem a necessidade de discernir entre
as diversas facetas da teorização sobre redes e apresentam tipologias interessantes, pela capacidade de
sistematizar as variadas perspectivas abrigadas sob essa terminologia, no âmbito dos EO. Esses estudos,
no entanto, defendem que o campo pode ser compreendido como um campo teórico que abriga a teoria de
redes e a teoria das redes, a primeira correspondendo à relação entre processos e estruturas específicas e
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Análise de Redes Sociais, suas Limitações e Recursos Teóricos para uma Abordagem Relacional nos Estudos Organizacionais
José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
suas consequências para indivíduos e grupos, enquanto a segunda estaria voltada para a produção de
explicações sobre o porquê das redes apresentarem a estrutura que elas têm em dadas configurações. Os
autores justificam que, para as duas vertentes, este campo já dispõe de significativo desenvolvimento e
permite uma coerente argumentação em torno de constructos teóricos bem conectados, apresentando uma
tipologia da pesquisa sobre redes, em Borgatti e Foster (2003).
Na tipologia mencionada, os autores apresentam quatro vertentes de um network paradigm, a
partir da noção de estruturalistas x conceccionistas, anteriormente apresentada, adicionada à divisão entre
a análise de diferenciais de performance ou de difusão de aspectos homogeneizantes, um ou outro
enxergados como resultados ou consequências dos fatores relacionais. Da combinação entre esses pares de
dimensões (estruturalismo x conceccionismo e variações de desempenho x homogeneidade), Borgatti e
Foster (2003) derivam a tabela 2 x 2 (Tabela 1, abaixo) na qual identificam quatro tipos de estudos: a)
aqueles que observam distinções de performance como decorrência da exploração intencional, pelos atores,
das oportunidades oriundas de aspectos posicionais na estrutura das redes; b) estudos que tratam daqueles
diferenciais como efeitos dos fluxos de determinados recursos, cujo acesso seja relevante aos atores; c)
pesquisas sobre como posições estruturais semelhantes providenciam meios para a produção de
similaridades ou compartilhamento de elementos comuns entre os participantes da rede; e d) investigações
que consideram como homogeneidades são produzidas pela transmissão (e não pela posição) de fluxos
específicos.
Tabela 1 - Tipologia de pesquisa sobre redes
Diferenciais de performance
Homogeneidade social
Estruturalismo
Capital estrutural
(c) Compartilhamento ambiental
Coneccionismo
Acesso a recursos
(d) Contágio
Fonte: Adaptado de Borgatti e Foster (2003)
Apesar da mencionada defesa da SNA enquanto paradigma teórico, em Borgatti e Halgin (2011) há
uma discussão sobre o tratamento da agência nos estudos de redes que evidencia maior necessidade de
aprofundamento, a fim de que a SNA possa contribuir mais significativamente para a perspectiva
relacional nos EO. Borgatti e Halgin (2011) afirmam que a relação de causa e efeito ainda é alvo de
discussão nos estudos de redes, na medida em que há debate sobre a tomada conceitual da estrutura da
rede como causa dos resultados analisados ou como construção, ela própria, da intencionalidade dos atores.
Isto é, a estrutura é uma variável endógena ou exógena em relação aos processos e resultados estudados?
Também Mizruchi (2009), apesar de entusiasta da SNA, afirma haver carência de um modelo abrangente
de agência nessa perspectiva analítica, ao lado da carência de uma melhor explicação sobre os mecanismos
de formação de preferências e interesses no contexto relacional.
Por conseguinte, tendo apresentado e discutido o que se poderia chamar de percurso histórico dos
EO, na seção dois, e discutido a emergência da perspectiva relacional, na seção três, este trabalho será
direcionado, na seção que segue, para uma breve derivação de proposições-sínteses dessa discussão.
4. Limitações da SNA: algumas considerações sobre recursos teóricos para supe-los
Esta seção apresenta algumas proposições que buscam sintetizar pontos compreendidos como de
maior relevo, no debate anterior. Acredita-se que as considerações tecidas abaixo poderão ser úteis ao
pesquisador que busca compreender melhor esse tópico teórico-analítico, a fim de embasar decisões de
cunho teórico e/ou metodológico em projetos de pesquisa de seu interesse. Desse modo, propõe-se que:
1. A utilização da SNA no âmbito dos EO tem boa parte de sua justificação fundamentada na
necessidade de superação de níveis micro de análise e do foco analítico centrado no ator singular,
seja o indivíduo ou a organização;
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2. Uma particularidade da SNA também está na sua capacidade de superar a análise micro, não
apenas em direção a análises macro-organizacionais, mas em direção ao tratamento de aspectos
relacionais, pressupondo a importância do contexto interativo sobre o comportamento individual;
3. Apesar de sua ênfase nos aspectos relacionais, a adoção da SNA não resolve automaticamente a
necessidade de fugir dos pressupostos deterministas, visto que pode representar a substituição do
efeito determinante da sociologia normativa pelo efeito determinante do posicionamento estrutural,
este representado pela localização do ator na rede de relações;
4. A proposição anterior ganha relevo especial quando se considera que o problema da agência
(determinismo x voluntarismo) não encontra uma saída teórica substantiva na SNA, de modo que
não há clareza sobre os limites da ação humana no processo de manejo intencional da estrutura da
rede, ou sobre a dimensão da influência das características dessa rede sobre os processos estudados;
5. Dadas as proposições (3) e (4), o emprego da SNA, no âmbito de uma agenda de pesquisa, não
atribui, necessariamente, uma perspectiva relacional ao estudo, caso esta última seja compreendida
nos termos advogados por Granovetter (2009) e Mizruchi (2009), haja vista que tal perspectiva
demanda um adequado tratamento do problema da agência;
6. A adoção da SNA como alternativa teórico-analítica requer, por conseguinte, a sua combinação
com outras tradições teóricas, adeptas da abordagem relacional, se o pesquisador pretende situar
adequadamente seu estudo em campo distinto dos reducionismos e determinismos típicos de muitas
vertentes dos EO; e
7. Ainda que se possa concordar com a ideia de que a SNA constitui mais que um conjunto de
métodos e técnicas de análise, parece necessário considerar que as explicações teóricas que ela
venha a oferecer não atendem, com razoabilidade, algumas questões de elevada complexidade,
especialmente aquelas referentes ao dilema estrutura-agência, motivo pelo qual a teoria de redes
pode carecer de combinação com outras vertentes teóricas.
O dilema estrutura-agência nos EO, como observou-se na discussão, requer mecanismos de
explicação que comportem o equacionamento da necessidade de situar adequadamente a ação humana e os
elementos estruturais, conforme discutido por Reed (2005). Para este último autor, esse equacionamento
comporta quatro vertentes analíticas: a) o reducionismo: referente à hipótese da primazia da ação humana
sobre o contexto estrutural; b) o determinismo: correspondente à identificação das estruturas enquanto
fatores explicativos do comportamento; c) o conflacionismo: associado ao abandono da relação de
causalidade uniderecional e à adoção da ideia de co-determinação entre práticas e processos estruturais; e
d) o relacionismo: em que é defendida a concepção de dupla constituição da agência e da estrutura,
especialmente suportada pelo contexto relacional-temporal.
Especialmente em decorrência da ênfase do presente artigo na questão relacional e no debate
estrutura-agência nos estudos organizacionais, mostra-se oportuno ressaltar o esforço de Hassard e Cox
(2013) em desenvolver o modelo de paradigmas de Burrel e Morgan para considerar os desenvolvimentos
teóricos das décadas recentes. Tal ênfase se justifica em virtude daquilo que os autores denominam de
erosão do antônimo objetivo-subjetivo, face à emergência recente de ordens de análise filosoficamente
diferentes, a saber o pós-estruturalismo e o pós-modernismo. Nesses domínios, como frisam os autores, há
uma “desconstrução da natureza humana”, enquanto a agência é tomada como caracteristicamente
distribuída e heterogênea, concebida como uma série de relações transitórias entre fenômenos ligados em
rede (enredados) e, em decorrência, rejeitando o voluntarismo e o determinismo. Além desse novo modo de
compreensão da natureza humana, os domínios teóricos em questão também estariam associados a novos
posicionamentos ontológicos e epistemológicos, na medida em que os dualismos seriam rejeitados em favor
da ideia de inseparabilidade estrutura-agência e, em vez de centrar-se sobre propriedades metafísicas de
entidades, considerar-se-ia a existência apenas das relações entre tais entidades. Hassard e Cox (2013, p.
1710) denominam por ontologia relativista e epistemologia relacionista tais movimentos.
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José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
Embora não estejam tratando diretamente de questões paradigmáticas nos termos pretendidos por
Hassard e Cox (2013), nem seja de interesse nesse artigo aprofundar as suas contribuições específicas,
essas mudanças em planos ontológicos e epistemológicos também podem ser percebidas em autores
diversos. Dentre outros, podem-se citar: David Stern (2003) e sua defesa da superação das dicotomias a
partir da “practical turn”; Scatzki (2005) e sua ideia de “sites ontologies” como saída para o debate
individualismo-societismo; a reconceitualização de níveis de análise para além da presilha micro-macro, em
Miettinen; Samra-Fredericks e Yanow (2009); a dissolução, em vez de resolução dos dualismos, em Nicolini
(2012); e a ênfase no princípio da relacionalidade de constituição mútua, adotado por Feldman e Orlikowski
(2011).
Contribuindo diretamente com esse movimento, a Actor-Network Theory (ANT) é uma das mais
completas abordagens de redes que tem sido incorporada nos EO, permitindo ultrapassar o enfoque
estrutural que predomina no campo, como advoga Andrade (2004a). Na ANT, principalmente, o relacional
consiste na unidade de análise fundamental pois as redes, ou associações sociotécnicas entre elementos
heterogêneos, diferente de serem embeddedness materiais e humanos (Thompson, 2003), são concretudes
que perfazem múltiplas realidades (Mol, 2002) e que definem as materialidades cotidianas. Determinismo-
voluntarismo, estrutura-agência, dentre outras polaridades desafiadoras para a SNA, perdem relevância e
são diluídos na medida em que, para a ANT, não passam de sociomaterialidades transladadas por redes de
atores em movimentos múltiplos e heterogêneos.
5. Considerações finais: ANT como possibilidade para tratar a relacionalidade nos EO
A ANT é uma discussão teórico-metodológica dentro e fora dos debates de redes que vem sendo
desenvolvida desde a década de 1980. Callon (1986), Law (1986) e Latour (1988), pioneiros no debate da
ANT por meio de vários trabalhos empíricos, reconceituaram, ontológica e epistemologicamente, o caráter
sociológico da prática científica. Por meio da ideia de atores-redes, a ANT tornou-se “[...] uma resposta à
tendência da sociologia que coloca entre parênteses o não humano, seja ele tecnológico ou natural” (LEE e
BROWN, 1998, p. 222) e coloca-o no mesmo plano constituído pelos humanos. As organizações, por
exemplo, passam a ser vistas na ANT como redes ordenadas, provisoriamente oriundas das relações e
interações de atores-redes, em contínuos processos associativos e dissociativos. Tanto as organizações,
como outros ordenamentos, são estabilizações provisórias negociadas em extensas redes heterogêneas de
pessoas, materiais e outros elementos, apresentando-se ora de maneira única, simples e estruturada, ora
caótica, desordenada e complexa, em virtude dos diversos deslocamentos dos atores na rede e das
controvérsias que nela se apresentam.
A necessidade de superação de níveis microrreferenciados de análise (Consideração 01, acima),
conforme tem sido incorporada à SNA, tem resposta clara por meio da ANT. Para essa abordagem, não é
possível distinguir diferentes dimensões entre micro e macro-atores. Callon e Latour (1981) afirmam que
“existem, é claro, macro e micro atores, mas a diferença entre eles é provocada pelas relações de poder e
pelas construções de redes e escapa à análise presumir a priori que os macroatores são maiores ou
superiores que os microatores” (Callon; Latour, 1981, P. 280). Em outras palavras, aqui, a análise está
pouco preocupada com atores ou outras entidades, tomados individualmente, mas dedicada à explicação
das suas conexões e seus movimentos de reassociação e de reagregação. Defende-se não haver qualquer
‘substância social’ fora desses movimentos e que os atores devem ser entendidos como a própria rede, com
capacidades de formar associações e dissociações. Para a ANT, “não há nada de específico na ordem social;
[...] não existe nenhuma dimensão social, nenhum ‘contexto social’, nenhuma esfera distinta da realidade a
que possa atribuir o rótulo ‘social’ ou ‘sociedade’” (Latour, 2012, P. 21). Trabalhos clássicos como a
“navegação portuguesa”, desenvolvido por Law (1986), e a “pasteurização da França”, desenvolvido por
Latour (1988), mostraram muito bem isso.
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Na ANT, os aspectos relacionais presentes na conceituação das redes (Consideração 02) são a
própria unidade de análise nos estudos sobre organizing (CZARNIAWSKA, 2008). Elas tornam-se as
unidades de análises, pois as redes são as diversas conexões formadas pelos trabalhos mediativos dos
atores, que formam as materialidades do mundo a partir da estabilização das controvérsias presentes nos
conjuntos heterogenêos das associações. Não se trata de uma rede comum, que “liga de maneira mais ou
menos previsível de elementos estáveis que estão perfeitamente definidos” (CALLON, 1998, p. 156), visto
que cada ator deixa incerta sua atuação na continuidade de suas conexões e “pode a qualquer momento
redefinir suas identidades e relações mútuas e atrair novos elementos para a rede” (CALLON, 1998, p.
156). Para Latour (2012), rede é uma expressão para avaliar quanta energia, movimento e especificidade
cada ator consegue incluir em suas relações. Trabalhos recentes como a narrativa da “erradicação do
trabalho infantil no Brasil”, de Andrade (2004b) e a “translação da Pedagogia da Alternância”, descrita por
Valadão (2014), evidenciam a relevância de olhar para o relacional na descrição de uma rede de atores.
Já o problema do determinismo, não completamente resolvido na SNA (Consideração 03), passa a
ter, por outro lado, um novo tratamento com a ANT. Nessa última perspectiva, a agência não é
exclusividade do humano, mas da rede de sociomaterialidades. O ator não passa de mediação de um
composto de práticas, ações e eventos situados no âmbito das relações e interações. Isso possibilita
compreender os descolamentos e mudanças nas associações, tanto nas suas próprias configurações e
conexões, bem como nos espaços e tempos implicados em suas performances. Ator-rede “consiste em
entrelaçar elementos heterogêneos e uma rede que é capaz de redefinir e transformar aquilo que já está
realizado” (Callon, 1998, P. 156). A descrição de casos como o da “hipoglicemia” (Law e Mol, 2004), da
“febre aftosa” (Law e Singleton, 2014) e do “desastre nuclear de Fukushima” (Law, 2011) são emblemáticos
dessa discussão.
De modo geral, todo ator, para a ANT, é intrinsecamente qualificado pelas conexões que ele forma e
é por elas formado. Nesse sentido, o problema da agência (Consideração 04) deixa de ser relevante, pois o
ator é, simultaneamente, ator e rede (Shapiro, 2005). Para Callon (1986), os atores-redes são formados por
elementos heterogêneos, sejam eles humanos ou não humanos, quase-sujeitos ou quase-objetos, que são
ligados mutuamente no curso de suas interações. Os atores-redes agem simultaneamente entrelaçando
elementos heterogêneos e desconectando-os na medida em que outras transformações e redefinições
acontecem. O caso da “evolução da Escola de Samba”, relatado pelo estudo de Tureta (2011), ilustra esse
aspecto de modo contudente.
Em decorrência, a ANT não advoga, no estudo de redes, proposições como o embeddedness
(Consideração 5). As realidades materiais não são concebidas como “imersas” em contextos relacionais,
traduzidas por meio de redes para aplicar suas naturezas. Em vez disso, as materialidades perceptíveis
“[...] não passam de redes desde o início; elas são emaranhados existentes em teias de relações e conexões
sempre parcialmente formados, que possibilitam tanto os incentivos como as potencialidades para as
estratégias e cálculos dos agentes” (Thompson, 2003, p. 74). Estudos como a “formação do campo da
biotecnologia” de Andrade (2011) e o “complexo público de pesquisa”, de Tonelli (2011), discutem essa
dimensão em suas análises.
Quanto à consideração 06, cabe ressaltar que a ANT, como perspectiva teórico-analítica, contribui
para superação dos dilemas apresentados nos EO, na medida em que possibilita perceber que não existe
um sistema macrossocial, por um lado, nem um conjunto de partes microssociais, por outro (Law, 1992, p.
2), o que existe, de fato, são redes heterogêneas formadas por padrões diversos que envolvem
simultaneamente o que se concebe geralmente por sociedade, organizações, agentes e máquinas. Para essa
abordagem, as organizações e tudo o que compõe o universo técnico, físico e social, nada mais são do que
“redes de certos padrões de materiais heterogêneos” (Law, 1992, p. 2). Law (1992) descreve a organização
como um dos exemplos mais clássicos disso. E essa heterogeneidade torna-se a unidade relacional
fundamental de análise nos EO, já que toda rede é “esparsa, vazia, frágil e heterogênea” (Latour, 1988, p.
206).
Por fim, e de modo mais relacionado à Consideração 07, parece razoável compreender que a
superação de dualidades tão desafiadoras para os estudos organizacionais não pode ser exitosa apenas com
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José Raimundo Cordeiro Neto, José de Arimatéia Dias Valadão e Jackeline Amantino de Andrade
base em elaborações e esforços centrados no método ou em técnicas analíticas. Por outro lado, na ANT,
questões de natureza ontológica e epistemológica são profundamente incorporadas na teorização, ao
conceber o ‘social’ de modo substancialmente distinto das formas convencionais e abordar a
heterogeneidade relacional como matéria-prima básica de análise. Isso possibilita ir bem mais além dos
esforços analíticos presentes na SNA, cujas elaborações podem ganhar novo fôlego no tratamento das
relacionalidades, caso sejam exploradas oportunidades de combinação de seus métodos com princípios
advindos da ANT. Tal empreendimento, o qual é aqui julgado bastante oportuno, carece, evidentemente, de
adequada vigilância, que garanta a coerência entre os elementos analíticos que venham a ser combinados,
frente à reunião de perspectivas com fundamentação tão variada.
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... Nesse cenário, o presente artigo compartilha do entusiasmo re- lacionado a essa expansão da TAR como inspiração para estudos na área de Administração, especialmente por proporcionar renovadas formas de lidar com questões como a relacionalidade, com o debate sobre as perspectivas micro e macro e com a discussão a respeito da estrutura-agência ANDRADE, 2016). Aqui, a discussão está direcionada para um aprofundamento de dois dos principais pressupostos presentes na TAR, quais sejam: o princípio da irredutibilidade e o princípio da simetria, os quais se mostram fundamentais para o posicionamento das estratégias de investigação ator-rede, em termos ontológicos e epistemológicos. ...
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A Actor Network-Theory (ANT) é uma perspectiva teórico-metodológica que vem sendo elaborada desde a década de 1980. Traduzida para o Brasil como Teoria do Ator-Rede (TAR), ela inverte teórica e empiricamente a lógica comumente empregada pelos estudos sociológicos. Assim, em vez de assumir elementos como poder, tamanho, estrutura, agência e outros (meta)construtos, como causas das transformações sociais e técnicas, a TAR os coloca como efeitos, isto é, como consequências temporárias de redes relacionais heterogêneas, que indistinguem puros elementos sociais ou técnicos. Face à crescente adoção da TAR nos estudos em administração/organizações brasileiros, o presente trabalho discute pressupostos ontológicos e epistemológicos, notadamente a irredutibilidade e a simetria, que devem ser considerados nas práticas científicas que lançam mão da TAR como lente teórico-metodológica. Além disso, aborda-se a questão da operacionalização de pesquisas que empregam essa abordagem na exploração empírica de suas temáticas, discutindo-se um breve conjunto de artigos brasileiros que apresentam esforços dessa natureza. Ao final, busca-se explicitar as oportunidades de inovação nos estudos do campo de administração/organizações, a partir de investigações nas quais os pressupostos em discussão sejam adequadamente assimilados nas práticas de pesquisa.
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El presente texto constituye un referente de obligada consulta para lectores, académicos e investigadores que se desempeñen en el ámbito editorial o se relacionan con publicaciones seriadas y científicas. El lector podrá encontrar contenidos como la bibliometría y el método bibliométrico, la obsolescencia bibliográfica, la endogamia editorial, estudios de vigilancia de la ciencia y otros aspectos que determinan la calidad de revistas científicas. En el texto se exponen estudios sobre dos revistas científicas universitarias cubanas: Centro Azúcar y Centro Agrícola como forma de validar los aspectos relativos en torno a variables e indicadores que determinan la calidad de las revistas científicas. El lector especializado podrá encontrar las claves para poder posicionar, visibilizar y obtener potencialmente impacto en proyectos sobre mejora de publicaciones seriadas y científicas. El texto constituye de obligada consulta para editores y equipos editoriales que deseen posicionar sus publicaciones en bases de datos de alto impacto a nivel internacional.
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É possível contar a história de uma tecnologia social como a Pedagogia da Alternância (PA) e analisar seus processos atuais de expansão por meio da Teoria do Ator-Rede e das discussões de Adequação Sociotécnica? Esta obra se propõe a esse desafio. Para isso, parte das discussões atuais sobre a Teoria do Ator-Rede e das abordagens de Adequação Sociotécnica, e os inter-relaciona com rotinas organizacionais e tecnologias sociais. A Pedagogia da Alternância é o caso empírico analisado e que proporcionou evidenciar novas conceituações e definições desses construtos, principalmente como as tecnologias sociais podem ser atualmente compreendidas. Diferentemente de pensar que tecnologias sociais, como é o caso da Pedagogia da Alternância, são “produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis” que “causam transformações sociais”, conforme tem se consolidado conceitualmente no Brasil, este livro vai mostrar que, pelo contrário, a Pedagogia da Alternância faz parte das mudanças realizadas pelas próprias associações de atores envolvidas com essa tecnologia social, sendo vista como um conjunto de inscrições, definidas e implementadas por cada associação resultante de suas próprias translações. As dificuldades atuais de se adequar as tecnologias sociais às demandas e necessidades das comunidades atendidas se dão porque as bases sociotécnicas em que se baseiam as implementações e reaplicações das tecnologias sociais, visando a mudanças e transformações sociais, não são unicamente causas, mas também os próprios efeitos das translações dos atores-rede envolvidos com essas tecnologias. O livro, desse modo, é um convite para o leitor seguir os rastros (ou o transladar, como se diz na linguagem da Teoria do Ator-Rede) de uma das tecnologias sociais de maior sucesso no contexto mundial atualmente. A Pedagogia da Alternância possui mais de 1300 centros, espalhados desde países historicamente de Primeiro Mundo, como Itália e Portugal, na Europa, passando pelos emergentes, como Brasil e Argentina, na América Latina, a países notadamente pobres, como Ruanda e Senegal, na África. Além disso, o leitor encontrará uma análise detalhada dos processos atuais de expansão da PA, os diversos ordenamentos de suas rotinas organizacionais e uma argumentação clara dos motivos que levam essa tecnologia social a ser considerada um instrumento de transformação social nas localidades em que tem sido aplicada.
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O objetivo deste estudo e apresentar alguns conceitos fundamentais sobre a chamada abordagem de redes, que caracteriza um amplo conjunto de teorias e de modelos analiticos elaborados ao longo das ultimas decadas que, por sua vez, objetiva entender a dinâmica social, politica e administrativa com base na proposicao de que individuos agem em uma rede de relacoes sociais complexa. A intencao e possibilitar uma introducao a abordagem de redes e de alguns conceitos basicos que possam auxiliar na gestao de redes de politicas publicas. Com esse proposito, apresentamos uma revisao de parte da literatura que examina as principais caracteristicas de duas abordagens de rede: a que trata das questoes relacionadas as redes para elaboracao de uma estrategia analitica e de um conjunto de heuristicas voltadas para a analise de questoes sociais complexas e a que utiliza o mesmo conceito para caracterizar uma estrutura de governanca especifica que vem sendo adotada cada vez mais tanto no setor publico, quanto no setor privado. Este estudo focaliza aspectos especificos relacionados as redes de politicas publicas. Como resultado, proporcionamos um ponto de partida para uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema e para a conducao de trabalhos de natureza empirica que possam ocasionar, entre outras coisas, uma melhor compreensao das diferentes praticas de gestao de redes no Brasil assim como gerar recomendacoes voltadas para a gestao de redes de politicas publicas especificas.
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In this article, we explore the potential of actor network theory and feminist material semiotics as a set of tools for critical policy analysis. We describe their focus on material heterogeneity, ontological multiplicity and performativity, and consider how this both generates political and policy possibilities and impossibilities and also creates the potential for change. We explore this by considering the British policy response to the 2001 foot and mouth disease epidemic, which we treat as a case of ontological multiplicity, and ask what might have happened if policy makers had recognized and responded to this multiplicity.
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This article categorizes existing schools of thought by level of analysis. It distinguishes specifically between micro and macro levels of analysis. The organization theory schools of thought at the micro level capture the way that single organizations modify their structures to take account of contingencies originating in their individual task environments. Schools of thought at the macro level focus on the evolution of aggregates of organizations and the characteristics of organizational collectivities such as fields. The former group of schools contains such perspectives as Donaldson's neo-contingency theory, as well as resource dependence theory and transaction costs theory. The latter group-the macro group-includes population ecology theory and neo-institutional theory. The classification of these five schools into micro and macro levels of analysis may be viewed as a tentative heuristic that helps make sense of organization theory's current complexity.
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The Burrell and Morgan model for classifying organization theory is revisited through meta-theoretical analysis of the major intellectual movement to emerge in recent decades, post-structuralism and more broadly postmodernism. Proposing a retrospective paradigm for this movement, we suggest that its research can be characterized as ontologically relativist, epistemologically relationist and methodologically reflexive; this also represents research that can be termed deconstructionist in its view of human nature. When this paradigm is explored further, in terms of Burrell and Morgan's assumptions for the 'nature of society', two analytical domains emerge - normative post-structural and critical post-structural. Assessing the types of research developed within them, and focusing on actor-network theory in particular, we describe how post-structural and postmodern thinking can be classified within, rather than outside, or after, the Burrell and Morgan model. Consequently we demonstrate not only that organizational knowledge stands on meta-theoretical grounds, but also how recent intellectual developments rest on a qualitatively different set of meta-theoretical assumptions than established traditions of agency and structure.
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In this chapter I review empirical studies directly testing the hypotheses of my 1973 paper "The Strength of Weak Ties" (hereafter "SWT") and work that elaborates those hypotheses theoretically or uses them to suggest new empirical research not discussed in my original formulation. Along the way, I will reconsider various aspects of the theoretical argument, attempt to plug some holes, and broaden its base.