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Silva; Albuquerque Filho; Oliveira; Lourenço Proposta metodológica para análise espacial...
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Soc. Nat. | Uberlândia, MG | v.30 | n.3 | p.64-84 | set./dez. 2018 | ISSN 1982-4513
Impacto da carcinicultura no
manguezal do rio das Conchas,
Porto do Mangue, Rio Grande do Norte
Impact of carciniculture in mangrove of rio das conchas,
Porto do Mangue, Rio Grande do Norte
Rogério Taygra Vasconcelos Fernandes2
Jônnata Fernandes de Oliveira2
Raimunda Thyciana Vasconcelos Fernandes3
Aruza Rayana Morais Pinto4
Louize Nascimento5
Jean Carlos Dantas de Oliveira6
José Luís Costa Novaes7
Resumo
Os manguezais por apresentarem elevada produtividade, tornam-se locais
atrativos para habitação e desenvolvimento de atividades humanas, como
a carcinicultura. No entanto, essa atividade tem gerado grandes impactos
ambientais. Assim, considerando a importância e a expressiva fragilidade
dos manguezais, objetivou-se avaliar o impacto de uma unidade de
produção de camarão marinho na floresta de mangue do rio das conchas,
Porto do Mangue, Rio Grande do Norte. A extensão da área afetada foi
determinada por meio de sensoriamento remoto. Foram utilizadas duas
cenas obtidas pelo satélite LANDSAT 7, representativas dos anos de 1999
e 2003, que compreendem, respectivamente, o período anterior e após a
instalação da fazenda de camarão. Realizou-se também uma avaliação in
loco, buscando encontrar vestígios que pudessem estar relacionados à
degradação, em especial indícios de degradação do solo. Conforme a
avaliação da área ocupada por vegetação de mangue por meio da técnica de
sensoriamento remoto, constatou-se uma perda de 25 hectares de área
ocupada por vegetação de mangue, entre os períodos de 1999 (anterior à
instalação do empreendimento) e 2007 (ano em que o auto de infração foi
lavrado). Essa redução é reflexo da implantação da atividade de
carcinicultura, associado ao descarte de efluentes da mesma, bem como,
mau planejamento para o desenvolvimento da atividade no local.
2 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil. rogerio.taygra@ufersa.edu.br
2 Instituto Federal do Maranhão, Carolina, MA, Brasil. jonnata.oliveira@ifma.edu.br
3 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil. fernandesrtv@hotmail.com
4 Equilíbrio Gerenciamento Ambiental, Mossoró, RN, Brasil. aruza_rayana@hotmail.com
5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil. louizenscmt@gmail.com
6 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil. jeancarlosdo@hotmail.com
7 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil. novaes@ufersa.edu.br
Artigo recebido em: 12/01/2017. Aceito para publicação em: 22/11/2018.
DOI: 10.14393/SN-v30n3-2018-5
DOI: 10.14393/SN-v30n3-2018-4
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Palavras-chave: Manguezais. Perturbação ambiental. Produção de
camarão.
Abstract
The aim of the present study was to compare three and faster sample
evaluation, hence adding value to the microscopy tests. Mangroves,
because they have high productivity, become attractive places for housing
and the development of human activities, such as shrimp farming.
However, this activity has generated major environmental impacts.
Considering the importance and expressive fragility of mangroves, the
objective of this study was to evaluate the impact of a marine shrimp
production unit in the mangrove forest of the Rio das Conchas, Porto do
Mangue, Rio Grande do Norte. The extent of the affected area was
determined by means of remote sensing. Two scenes obtained by the
LANDSAT 7 satellite, each composed of three spectral bands, were used.
The scenes are representative of the years 1999 and 2003, which comprise,
respectively, the previous period and after the installation of the shrimp
farm. An on-site evaluation was also carried out to find traces that could
be related to degradation, especially signs of soil degradation. According to
the evaluation of the area occupied by mangrove vegetation by means of
the remote sensing technique, a loss of 25 hectares of mangrove vegetation
was verified between the periods of 1999 (prior to the installation of the
project) and 2007 (year in which the tax assessment notice was drawn).
This reduction reflects the implantation of the shrimp farming activity,
associated to the discharge of effluents, originated from the same, as well
as poor planning for the development of the activity in the place.
Keywords: Mangroves. Environmental disturbance. Production of shrimp.
Introdução
O manguezal é um dos ecossistemas mais importantes do planeta
(BELARMINO et al., 2014), ocorrendo em zonas de transição entre o
ambiente terrestre e marinho, em regiões tropicais e subtropicais
(OLIVEIRA e TOGNELLA, 2014). Ocupa cerca de 90% da linha de costa
(±6.800 km) do litoral brasileiro, estendendo-se do extremo norte no
Oiapoque (Amapá; 4o 30’N), até seu limite sul na Praia do Sonho (Santa
Catarina; 28o 53’S) (MAIA et al., 2005). Essa estreita faixa costeira varia de
algumas dezenas de metros no litoral, onde as marés têm amplitude inferior
a 2 m. Embora sua área seja relativamente pequena, é um dos ambientes
mais dinâmicos do planeta (LACERDA et al., 2006) por possuir uma alta
produtividade biológica já que, pela natureza de seus componentes, são
encontrados todos os elos da cadeia alimentar (PEREIRA, 2006).
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A fisionomia e formação da vegetação dos manguezais são fortemente
controladas por padrões locais relacionados à maré e à drenagem da
superfície terrestre (OLIVEIRA e TOGNELLA, 2014). A predominância da
vegetação de mangue em regiões de transição entre o ambiente terrestre e o
marinho se dá por uma série de adaptações anatômicas e fisiológicas. Essas
adaptações ocorrem pela peculiaridade do ecossistema já que elas precisam
sobreviver a ambientes alagados periodicamente, salino, elevada insolação e
geralmente baixo teor de oxigênio. Os manguezais apresentam grande
abundância de populações biológicas, sendo que a diminuição da área do
mangue deve-se à forte ação antrópica, como a prática de cultivo de camarão
(FARIAS e ANDRADE, 2010).
No Brasil, pelo código florestal, os manguezais são áreas de
preservação permanente e não podem ser destruídos, apesar de que, na
prática, eles continuam sendo degradados (FERNANDES et al., 2017). Por
ser um ambiente bastante frágil, são ótimos indicadores ambientais, em
função da rápida resposta de suas espécies vegetais (ALBUQUERQUE et
al., 2013). Embora de reconhecida importância ambiental, uma série de
processos impactantes vem sendo observados, em sua maioria à intervenção
humana, como o desmatamento para implantação de viveiros de
carcinicultura (SANTOS et al., 2016). Essa atividade destaca-se por sua
ampla difusão em várias partes do mundo (RIBEIRO et al., 2014).
No Brasil, 25% das florestas de mangues foram perdidas como
decorrência de atividades antrópicas, inclusive de carcinicultura
(NASCIMENTO et al., 2007). Entre os problemas associados a esta prática,
merece destaque a localização e a construção dos tanques de cultivo. Em
várias regiões, as florestas de manguezais são frequentemente derrubadas e
ocupadas para a implantação da carcinicultura, devido à elevada
disponibilidade de água (NASCIMENTO, 2007). A pressão de ocupação
ocasiona desmatamentos, aterros e emissão de esgotos em escalas que
prejudicam e ameaçam o seu funcionamento. Além de processos de erosão
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e/ou assoreamentos que podem levar as florestas à morte. A primeira
desestabiliza e tomba as árvores de mangue, enquanto que o assoreamento
provoca afogamento e asfixia as raízes, comprometendo o indivíduo
(OLIVEIRA, 2005).
Considerando a importância do manguezal e os impactos frequentes
da carcinicultura nesse ecossistema, objetivou-se avaliar o impacto de uma
unidade de produção de camarão marinho na floresta de mangue do rio das
conchas, Porto do Mangue, Rio grande do Norte, verificando a extensão da
área destruída e as causas para a eventual destruição.
Metodologia
O estudo foi realizado no Manguezal localizado no rio das conchas, no
município de Porto do Mangue, Rio Grande do Norte (Mapa 1). Nesta área,
no ano de 2003 ocorreu a instalação completa da unidade de produção de
camarão marinho, sendo que no ano de 2009 ocorreu o fechamento da
mesma. Posteriormente, houve a mudança de proprietário e de atividade
(atualmente a propriedade destina-se a produção de sal marinho por
evaporação solar).
A pesquisa ocorreu por meio do sensoriamento remoto, visando
determinar a extensão da área de mangue afetada pela atividade de
carcinicultura, identificando em campo, posteriormente, possíveis causas
para mesma, em especial indícios de degradação do solo. O sensoriamento
remoto pode ser entendido como o meio pelo qual dado sobre determinado
objeto, área ou fenômeno são obtidos através de dispositivos (sensores)
colocados em satélites ou aeronaves. As imagens de satélites permitem uma
melhor visualização e proporcionam uma visão conjunta e multitemporal de
extensas áreas da superfície da terra (FLOREZANO, 2011).
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Mapa 1 - Área de estudo, situado no estuário do Rio das Conchas,
município de Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Foram utilizadas duas cenas obtidas pelo Satélite LANDSAT 7, que
possui 30 metros de resolução espacial, compostas cada uma pelas bandas
espectrais 2, 3 e 4 (Tabela 1), com cobertura máxima de nuvens de 10%, nos
períodos chuvosos de cada ano, adquiridas no catálogo de imagens do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2013).
Tabela 1. Relação de cenas e dados das imagens utilizadas no estudo da área da instalação
da unidade de produção de camarão marinho, no rio das conchas, Porto do Mangue, Rio
Grande do Norte, por sensoriamento remoto.
Cena Dados
1999 LANDSAT 7 - Cena 215/64 - 08/04/1999
2003 LANDSAT 7 - Cena 215/64 - 26/03/2003
Org.: dos Autores, 2018.
As cenas são representativas dos anos de 1999, que apresenta a área
anteriormente à instalação da empresa, indicando o estado original da área
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avaliada e a cena de 2003 que representa o estado da área após a completa
instalação da unidade de produção de camarão marinho (tanques, canais e
diques), indicando os impactos diretos da instalação do empreendimento
sobre a vegetação de mangue.
Para a avaliação in loco utilizou-se uma câmera fotográfica digital e
um GPS. Em campo buscou-se encontrar vestígios que pudessem estar
relacionados à degradação. Em seguida, foi realizado o georreferenciamento
das imagens por meio do software SPRING (INPE), obtendo para todos os
casos precisão submétrica (Tabela 2).
Tabela 2. Precisão do georreferenciamento para cada uma das cenas avaliadas no rio das
conchas, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Cena Precisão (metros)
1999 0,50
2003 0,98
Org.: dos Autores, 2018.
Com as imagens georreferenciadas, partiu-se para a composição falsa
cor das bandas BRG: 2 (Blue), 3 (Red) e 4 (Green). Depois de concluída a
composição colorida, deu-se início a edição da banda 4 (infravermelho
próximo), realçando seu contraste por meio da equalização do histograma da
banda 3, deixando as áreas de manguezal em tons de verde escuro,
contrastando com solo e com demais formas de vegetação. A classificação
supervisionada foi realizada por meio do algoritmo de classificação Maxver,
com um limiar de aceitação de 100% e, em seguida, foram elaborados os
mapas temáticos para cada uma das cenas avaliadas, calculando sua
respectiva área de vegetação de mangue.
Para a determinação da variação da área ocupada com vegetação de
mangue, utilizou-se a seguinte fórmula: ΔVM = VM2 – VM1. Onde: ΔVM =
Variação da área ocupada por vegetação de mangue; VM2 = Área ocupada
por vegetação de mangue em 2003; VM1 = Área ocupada por vegetação de
mangue em 1999. Quando ΔVM for negativo indica perda de área ocupada
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por vegetação de mangue entre os períodos avaliados. Quando positivo,
indica o ganho de área ocupada por vegetação entre os períodos avaliados.
Nos dias 10 e 17 de outubro de 2013 foi realizada a atividade de
campo complementar ao estudo do sensoriamento remoto, iniciada as
09h30min e encerrada as 12h00min, em cada dia. Inicialmente, era previsto
o uso de análises de amostras de vegetação com o intuito de identificar
indícios das causas que provocaram a degradação no mangue local.
Entretanto, como o campo foi realizado em outubro de 2013, quatro anos
após o fechamento da unidade de produção de camarão, algumas afirmações
não poderiam ser tomadas. Porque atualmente no local, a empresa foi
substituída pela atividade salineira. Além disso, desde março de 2013 está
em curso no trecho do rio das conchas, onde se deu a destruição da vegetação
de mangue pela atividade de carcinicultura, um Plano de Recuperação de
Área Degradada (PRAD) que inclui a dragagem do referido trecho e bota-
fora de material para translocação da margem (Figura 1). Logo, tonou-se
impossível obter-se dados de estado de estresse fisiológico das plantas e seu
grau de degradação, in loco, provocado pela atividade de carcinicultura.
Resultados e discussão
Variação da área vegetada
A área onde houve mortandade de vegetação de mangue está inserida
na zona de influência da unidade de produção de camarão marinho, o que
inclui suas margens e área ocupada pela bacia de decantação/recepção de
efluentes. O estudo não identificou nenhum vestígio que conecte a
mortandade da vegetação na área a ações da população, visto que as árvores
mortas encontram-se ainda em boa parte no mesmo local, não tendo sido
identificado ações de corte ou retirada de lenha.
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Figura 1 - Máquina realizando a dragagem do leito do rio das conchas, Porto
do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Conforme a avaliação da área ocupada por vegetação de mangue por
meio da técnica de sensoriamento remoto, constatou-se que a mesma
ocupava anteriormente à instalação da empresa de carcinicultura uma área
de 45 hectares. Em 2003, após a instalação desse empreendimento, à área
foi reduzida para 20 hectares (Mapa 2). Com base nestes resultados pode-se
calcular que a variação de área ocupada por vegetação de mangue entre os
períodos de 1999 (anterior à instalação do empreendimento) e 2003 (ano em
que o auto de infração foi lavrado) foi de: ΔVM = 20 – 45; ΔVM = - 25 ha.
Indicando que na área avaliada, para o período considerado, houve uma
perda de 25 hectares de área ocupada por vegetação de mangue (Mapa 3).
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Mapa 2 - Mapas temáticos do Manguezal presente no rio das conchas nos anos
de 1999 e 2003, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Verificou-se que a vegetação remanescente nas áreas próximas a
fazenda de camarão era composta pelas espécies No Brasil, as espécies mais
abundantes da flora do mangue são pertencentes a três gêneros, sendo eles
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Avicennia (mangue preto), Laguncularia (mangue branco) e Rhizophora
(mangue vermelho) (LACERDA, 1993).
Mapa 3 - Variação da área do Manguezal decorrente da instalação da fazenda
de camarão no rio das conchas, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Quanto à tipologia do mangue perdido no rio das conchas, Porto do
Mangue, Rio Grande do Norte, com base nas observações realizadas durante
o estudo foi possível constatar a existência de três espécies de mangue,
sendo estas: Laguncularia racemosa (L.) C. F. Gaertn (Combretaceae)
(mangue branco), Avicennia schaueriana Stapf & Leechm. ex Moldenke
(Verbenaceae) (mangue preto) e Avicennia germinans (L.) L. (Verbenaceae)
(mangue preto). Estima-se que no Rio Grande do Norte existem atualmente
12900 hectares de área ocupada por vegetação de mangue (MAIA e
LACERDA, 2005), desta forma, calcula-se que 25 hectares destruídos
representaram uma perda de 0,19% da área de mangue do estado em um
único evento.
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Dinâmica do evento
Com base na análise das imagens de satélite para os períodos anterior
e posterior a instalação da fazenda de carcinicultura, foi possível constatar
que a principal causa da perda da vegetação de mangue foi aterramento das
áreas de manguezal para construção dos tanques para cultivo. Inclusive,
verificou-se que nas porções central e sul da área de estudo, canais de maré
foram completamente soterrados (Figura 2). O que, além de reduzir a área
disponível para vegetação de mangue, pode ter implicado em alterações nos
processos hidrodinâmicos do rio das conchas.
Figura 2 - Canais de marés fechados para a instalação da fazenda de camarão
no rio das conchas, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Durante as avaliações em campo foi possível observar que ao longo de
toda a margem do empreendimento existiam sinais claros de erosão dos
taludes, com transporte de material terrígeno para a área originalmente
ocupada pela vegetação de mangue. É provável que este processo tenha
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ocorrido em maior intensidade durante a instalação do empreendimento,
quando a movimentação de terra (cortes e aterros) é mais frequente, e em
menor intensidade durante os anos seguintes, quando os taludes já estavam
compactados (Figura 3).
Figura 3 - Avanço do material terrígeno do talude sobre o solo de mangue e
vegetação de mangue morta em decorrência do aterramento do rio das conchas,
Porto do Mangue, Rio Grande do Norte, no ano de 2013.
Org.: dos Autores, 2018.
O avanço de material terrígeno sobre a área ocupada pela vegetação
de mangue provoca o aterramento do solo original (lamoso e úmido),
causando a descaracterização do ecossistema, visto que o material advindo
dos taludes de terra difere do solo natural de manguezal, em especial no que
diz respeito a sua consistência e teor de matéria orgânica. Por vezes, é
possível notar também que há pontos em que a cota do terreno foi elevada,
não havendo mais o fluxo e refluxo de marés, indispensável para a
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sobrevivência deste tipo de floresta. Nestas condições de solo pobre em
matéria orgânica e de consistência não lamosa, ocorre o rápido ressecamento
das raízes de mangue, que são adaptadas a viver em ambientes de elevada
umidade (SOUZA et al., 2018), assim como o estresse provocado pelo
soterramento dos pneumatóforos, que levam os indivíduos a morte
(OLIVEIRA, 2005) (Figura 4).
Figura 4 – Área de mangue aterrada pelo material dos taludes no rio das
conchas, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte, no ano de 2013.
Org.: dos Autores, 2018.
Estes efeitos combinados diminuem a resiliência dos indivíduos,
provocando sua mortandade. Adicionalmente, a camada superficial do solo
pouco lamosa e úmida impede a fixação e colonização destas áreas por
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propágulos, não permitindo ou dificultando o processo de regeneração
natural (Figura 5).
Figura 5 - Diferença entre uma área sadia de manguezal, como solo lamacento
em tons de cinza escuro, rico em matéria orgânica (A) e uma área alterada, com
material terrígeno de cor clara, pobre em matéria orgânica e baixa umidade (B),
no rio das conchas, Porto do Mangue, Rio Grande do Norte.
Org.: dos Autores, 2018.
Segundo a Resolução CONAMA 001/86, impacto ambiental é qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que afetem diretamente ou indiretamente a saúde, a segurança, e
o bem-estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as
condições estéticas e sanitárias ambientais ou qualidade dos recursos
ambientais. Vale salientar que um impacto ambiental pode ser tanto
positivo, quanto negativo. Quando se trata do impacto ambiental potencial
de uma atividade, leva-se em consideração os possíveis resultados da mesma
sobre a qualidade ambiental. Quanto à determinação da significância ou não
do impacto, o mesmo dependerá da escala e dos critérios adotados em cada
caso. Via de regra, são significativos qualquer impacto que resulte na
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infração da legislação vigente e, considerando que a vegetação de mangue é
resguardada pela legislação, e o impacto produzido pela instalação da
unidade de produção de camarão marinho é considerado significativo.
É importante mencionar que é pouco provável que uma vegetação
madura possa ser removida por ações de marés ou enchentes das proporções
que foram registradas em 2005. Porque a vegetação de mangue evoluiu de
forma a sobreviver a ação dos processos hidrodinâmicos e pela interação com
os ecossistemas adjacentes (MOURA-FÉ et al., 2015). A remoção de
vegetação por ação de uma enchente só seria plausível para indivíduos
jovens (plântulas), desta forma, a mortandade da vegetação de mangue não
se deu por causas ou eventos naturais.
Além do dano imediato da instalação da fazenda de camarão no rio
das conchas, impactos negativos de longo prazo também podem estar
associados à essa implantação. Durante as análises de campo, não foram
verificados indícios do processo de regeneração da vegetação, como a
presença de árvores maduras saudáveis (matrizes) ou de plântulas e árvores
jovens, possível indicativo de que a alteração das condições naturais está
impossibilitando a recolonizarão da área. O processo de regeneração da
floresta de mangue depende de vários fatores, como fluxo e refluxo de maré;
solo, topografia e condições pluviométricas adequadas, além da existência de
um banco de propágulos e remanescentes florestais maduros e conservados.
Considerando que a regeneração diz respeito ao restabelecimento das
funções ecológicas, uma área de manguezal pode levar de 12 a 40 anos para
se regenerar (sem interferência humana) (SCHAEFFER-NOVELLI et al.,
2001). É importante mencionar que com a destruição física do manguezal
diminui-se uma de suas funções básicas: a de proteção da linha de costa
contra a invasão do mar (FARIAS e ANDRADE, 2010).
Mesmos diante dos muitos benefícios dos manguezais, nas últimas
décadas, os manguezais têm sofrido grandes pressões decorrentes do rápido
crescimento da atividade da carcinicultura. Esta atividade tem levado à
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conversão de extensas áreas costeiras em zonas de produção de camarão,
gerando impactos sociais, econômicos e ambientais em várias regiões do
planeta (LACERDA et al., 2011; MIALHE et al., 2013; QUEIROZ et al.,
2013; SAHU et al., 2013). No Brasil, o clima favorável e o domínio de novas
tecnologias de produção de pescados favoreceram o estabelecimento do país
como um dos principais produtores de camarão das Américas (POERSCH et
al., 2014), particularmente nas regiões do Nordeste brasileiro e,
especialmente, nos estados do Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Paraíba e
Pernambuco (RIBEIRO et al., 2014,). No entanto, por necessitar de
condições peculiares (tais como temperatura, salinidade e alta
disponibilidade de água), grande parte dos tanques de criação está
localizada em áreas de manguezais (SALDANHA et al., 2015) resultando em
grandes impactos negativos nesses ecossistemas de expressiva fragilidade.
No Ceará identificou-se que a criação de fazendas de camarão
configura entre principais fatores responsáveis pela diminuição das áreas de
manguezais nos estuários do estado (GODOY, 2015). Como observado na
planície fluviomarinha do rio Coreaú, no Ceará, onde a carcinicultura ocupa
área externas do manguezal, mas até o ano 2000 não existia registro dessa
atividade na referida área (OLIVEIRA, 2018). Ainda de acordo Oliveira
(2018), os tanques para a criação de camarão no ano de 2008 já ocupava
596,96ha, e em 2016, passou a ocupar 1.101,02ha, tomando algumas áreas
de apicum.
O estuário do rio São Francisco compreende florestas significativas de
mangue, que são de grande importância para a população, e está inserida
em uma Área de Proteção Ambiental de uso sustentável, mas que não possui
um plano de manejo, onde apresenta como principal atividade antrópica a
criação de camarões (SANTOS et al., 2014). Já no estuário do Vaza-Barris,
Sergipe, os grandes problemas relacionados à carcinicultura, nas últimas
décadas, são os impactos provocados pelo aumento considerável da
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atividade, e pelo seu desenvolvimento de forma irregular (OLIVEIRA et al.,
2017).
Em grande parte, os impactos provocados por essa atividade,
especialmente nas áreas de mangue, estão relacionados com o lançamento
de efluentes descartados diretamente no ambiente sem tratamento prévio,
oriundos do acúmulo de restos de alimentos, fezes e fragmentos de animais
nos fundos dos tanques, podendo causar deterioração das águas dos corpos
receptores (THOMPSON et al., 2002). Como exemplo das consequências
desses impactos, ocorre a diminuição da produtividade pesqueira, a soltura
involuntária de espécies exóticas e a competição com espécies nativas
(POERSCH et al., 2014).
Outro fator relevante são as práticas inadequadas de manejo, que
podem provocar uma eutrofização artificial e a sedimentação, decorrentes da
disposição dos efluentes, alterando fisicamente e funcionalmente a
fisionomia das áreas costeiras (NASCIMENTO, 2007). Evidenciando-se uma
reação em cadeia de causas e efeitos, cuja característica principal é a quebra
da estabilidade do ecossistema local (BIAO e KAIJIM, 2007; NÓBREGA et
al., 2014). Além dos nutrientes, outro grupo importante de contaminantes
são os metais, traço que são inseridos nos tanques de cultivo através dos
alimentos e insumos usados na carcinicultura (RIBEIRO et al., 2014).
Adicionalmente, o lançamento de água e sedimentos contaminados dos
tanques de carcinicultura no ambiente pode causar efeitos adversos na
qualidade da água, na fauna e na flora presentes nas áreas adjacentes às
fazendas (SOUZA, 2013).
Ribeiro et al. (2014) destacam que os problemas de impactos
ambientais nos manguezais, relacionados à atividade de carcinicultura, não
ficam restritos apenas à fase de implantação, na qual é caracterizada pela
derrubada das florestas de manguezais para a implantação do
empreendimento. Além disso, a fase da despesca, na qual são lançados no
ambiente os efluentes das fazendas, com todos os insumos utilizados no
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cultivo, vêm sendo apontada como a fase que mais gera danos ao ambiente
(BRUMMETT, 2003; PÁEZ-OSUNA et al., 2003).
Neste contexto, vale ressaltar que a área degradada no mangue rio
das conchas está situada em zona de influência de marés. Logo, uma ação de
desmatamento implica em condições favoráveis para o soterramento de
gamboas ou morte por asfixia da vegetação. Bem como, a área onde houve
mortandade de vegetação de mangue está inserida na zona de influência, da
unidade de produção, o que inclui suas margens e área ocupada pela bacia
de decantação/recepção de efluentes. Portanto, os impactos registrados na
floresta de mangue do rio das conchas, Rio Grande do Norte, estão
associados tanto à fase de implantação da atividade de carcinicultura.
Assim, evidencia-se que a implantação e o desenvolvimento da atividade de
carcinicultura no mangue rio das cochas resultou na degradação das 25
hectares de mangue.
No entanto, mesmo diante dos impactos negativos e do crescimento da
carcinicultura nas últimas décadas, ainda são poucos os estudos que
abordam os problemas ambientais proveniente das instalações irregulares e
manejo inadequado dessa atividade (OLIVEIRA et al., 2017). Dentro
contexto, e diante da fragilidade dos manguezais, bem como, das áreas
costeiras nas quais são desenvolvidas as atividades de criação de camarão
marinho, é imprescindível a criação de normas voltadas para a conservação
dessas áreas (CAVALCANTI, 2012), especialmente na região do Nordeste do
Brasil, que por suas condições locais, proporcionou o desenvolvimento e a
expansão da carcinicultura no país (CARVALHO e MARTINS, 2017).
Conclusão
Houve uma redução de 25 hectares de área vegetada por mangue na
margem do trecho do rio das conchas, Porto do Mangue, RN, onde fora
instalada a unidade de produção de camarão marinho. A causa para a
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mortandade desta vegetação foi o soterramento da camada superior do solo
de manguezal, resultante da movimentação de terra para construção dos
taludes e posteriormente por sua erosão, associado ao descarte de efluentes,
originados da mesma, reflexos do desenvolvimento da atividade no local.
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