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BRAZILIAN JOURNAL OF OTORHINOLARYNGOLOGY 75 (3) MAIO/JUNHO 2009
http://www.rborl.org.br / e-mail: revista@aborlccf.org.br
Vestibular evoked myogenic
potentials: an overview
Resumo / Summary
O teste do potencial evocado miogênico vestibular
(PEMV) é um instrumento diagnóstico relativamente novo e
ainda em processo de validação em estudos com pacientes
portadores de desordens vestibulares específicas. De forma
resumida, o PEMV é uma resposta bifásica em resposta a es-
tímulos sonoros gravados a partir de contrações do músculo
esternocleidomastóideo e é o único recurso existente para
avaliar a função do sáculo e da divisão inferior do nervo
vestibular. Objetivo: Nesta revisão iremos destacar a história,
método de realização, situação atual da pesquisa envolvendo
o PEMV, além de discutir as suas aplicações específicas no
diagnóstico da síndrome de Ménière.
Renato Cal1, Fayez Bahmad Jr.2
Potencial evocado miogênico
vestibular: uma visão geral
1 Médico Otorrinolaringologista. Pesquisador do Departamento de Otologia da Massachusetts Eye and Ear Infirmary, Harvard Medical School, Boston, MA, EUA.
2 Médico Otorrinolaringologista. Pesquisador do Departamento de Otologia da Massachusetts Eye & Ear Infirmary, Médico Assistente do Departamento de Otorrino-
laringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário da Universidade de Brasília Doutorando em Ciências Médicas, Universidade de Brasília (UnB),
Brasília, DF, Brasil.
Harvard Medical School, Boston, MA, EUA. Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário de Brasília, Brasília, DF,
Brasil.
Endereço para correspondência: Renato Cal - Rua Domingos Marreiros 49 sala 910 Belém PA Brasil 66055-210.
E-mail: renato@renatocal.com
O autor e financiado pelo CNPQ - MEC (Bolsa de Doutorado) - Fayez Bahmad Jr.
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 5 de março de 2007. cod. 3725.
Artigo aceito em 13 de maio de 2007.
The vestibular evoked myogenic potential (VEMP) test is a
relatively new diagnostic tool that is in the process of being
investigated in patients with specific vestibular disorders.
Briefly, the VEMP is a biphasic response elicited by loud
clicks or tone bursts recorded from the tonically contracted
sternocleidomastoid muscle, being the only resource available
to assess the function of the saccule and the lower portion of
the vestibular nerve. Aim: In this review, we shall highlight
the history, methods, current VEMP status, and discuss
its specific application in the diagnosis of the Ménière’s
Syndrome.
Palavras-chave: hidropsia endolinfática, potenciais evocados,
vestibular.
Keywords: endolymphatic hydrops, evoked potentials,
vestibular.
REVIEW ARTICLE
ARTIGO DE REVISÃO
Braz J Otorhinolaryngol.
2009;75(3):456-62.
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BRAZILIAN JOURNAL OF OTORHINOLARYNGOLOGY 75 (3) MAIO/JUNHO 2009
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INTRODUÇÃO
Os potenciais evocados miogênicos vestibulares
(PEMV) são potenciais elétricos inibitórios gerados após
um estímulo sonoro (cliques ou tons puros), originados
no sáculo e conduzidos pela divisão inferior do nervo
vestibular até o sistema nervoso central (SNC), gerando
respostas elétricas inibitórias captadas por eletrodos no
músculo esternocleidomastóideo (ECM)1,2. Na língua ingle-
sa esses potenciais são conhecidos pela sigla VEMP, que
significa Vestibular Evoked Myogenic Potentials. A razão
pelo aumento do interesse sobre esse tema nos últimos
anos se deu em virtude da origem fisiológica (sáculo e
divisão inferior do nervo vestibular) desses potenciais e
nas suas possíveis aplicabilidades clínicas.
Sob o ponto de vista evolutivo, a cóclea foi a última
porção desenvolvida do labirinto membranoso3-5, o que
sugere que em algumas espécies de peixes e mesmo em
alguns mamíferos, o sáculo também desempenhava função
auditiva, fazendo com que alguns autores especulem a per-
sistência de algumas células sensoriais a estímulos sonoros
nos sáculos dos seres humanos4,6,7. Ainda considerando
essa característica evolutiva, acredita-se que quando somos
submetidos a um estímulo sonoro de alta intensidade,
essas células remanescentes no sáculo sejam estimuladas,
desencadeando um reflexo inibitório para o músculo ECM
ipsilateral, causando um relaxamento desse músculo com
conseqüente contração do músculo contralateral.
É exatamente esse reflexo inibitório unilateral que
captamos com eletrodos posicionados no músculo ECM
que conhecemos como PEMV. Seriam exatamente nessas
células ciliadas remanescentes do sáculo onde os PEMV
teriam sua origem, sendo esse estímulo levado até o SNC
através da divisão inferior do nervo vestibular (NVI)2,7-10.
Isso faz com que os PEMV sejam um método novo que
otoneurologistas dispõem para o diagnóstico e avaliação
do sistema vestibular, pois até então não existia uma forma
exclusiva de avaliação da função sacular e do NVI.
OBJETIVO
O objetivo desta revisão é destacar a história, méto-
do de realização, situação atual da pesquisa envolvendo o
teste do Potencial evocado miogênico vestibular, além de
discutir as suas aplicações específicas no diagnóstico da
síndrome de Ménière, schwannoma vestibular, síndrome
da deiscência do canal semicircular superior, fístula peri-
linfática, neurite vestibular e outras lesões vestibulares, no
intuito de ajudar médicos otorrinolaringologistas e neuro-
logistas no manejo desse novo recurso diagnóstico.
MÉTODO
Os autores com base em uma ampla revisão de li-
teratura, utilizando o banco de dados da MEDLINE (www.
pubmed.com), e na experiência clínica adquirida em um
hospital terciário de referência para distúrbios otoneuroló-
gicos nos Estados Unidos, realizam uma análise atualizada
sobre o PEMV.
RESULTADOS
Histórico
As primeiras respostas vestibulares evocadas por
sons foram descritas por Von Békésy em 1935, que utilizou
estímulos sonoros de alta intensidade (cerca de 134 dB)
para gerar movimentos cefálicos em direção ao estímulo
sonoro7. A explicação para esse fenômeno era devido à
proximidade entre a platina do estribo e as células ciliadas
da mácula do sáculo, que causariam uma ativação dos
neurônios aferentes. Essa proximidade entre a platina
do estribo e a mácula sacular é amplamente descrita na
literatura internacional, através de estudos da anatomia
macro e microscópica do osso temporal11.
Em 1964 foram feitos os primeiros relatos de po-
tenciais elétricos evocados miogênicos de curta-latência
em seres humanos12,13, mas foi apenas 7 anos mais tarde
que Towsend et al. verificaram que a verdadeira origem
desses potenciais era o sáculo14. Os autores puderam fa-
zer essa comprovação quando verificaram que os PEMV
estavam presentes em pacientes surdos, porém estavam
ausentes em pacientes acometidos por um quadro de
neuronite vestibular ou em pacientes que foram subme-
tidos à neurectomia vestibular. Mais tarde, esses mesmo
autores comprovaram que as respostas do PEMV estavam
presentes em pacientes que tinham sido submetidos à
ablação dos canais semicirculares com estreptomicina e em
pacientes que apresentavam vertigem postural paroxística
benigna (VPPB), enquanto que esses mesmos potenciais
estavam ausentes em pacientes portadores de Síndrome
de Ménière14.
Para reforçar a base fisiológica dos PEMV, McCue &
Guinan identificaram algumas fibras na divisão inferior do
nervo vestibular de gatos, que respondem eletricamente a
estímulos sonoros maiores que 80 dB SPL (sound pressure
level) e que aumentam sua atividade elétrica conforme o
estímulo é intensificado15,16, confirmando a hipótese de que
esses potenciais elétricos inibitórios musculares tinham
sua origem no sáculo e conseqüentemente tinham suas
vias aferentes no NVI.
Desde então, o interesse pelo assunto vem cres-
cendo muito, com aumento do número de publicações
nos últimos anos sobre PEMV1,7,17-23. Somente em 2005
foram publicados mais de 30 artigos em língua inglesa2,
e em 2006 esse número foi de 33 (fonte www.pubmed.
com). Acredita-se que em 2007, esse número seja ainda
maior (Figura 1).
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Realização do Teste do PEMV
Esses potenciais são gerados após estímulos so-
noros de alta intensidade (cliques ou tons puros), de 0,1
mseg de duração, com cerca de 140 a 145 dB SPL (cerca
de 90 dB hearing level), gerados em um fone de ouvido
(monoaural ou bilateral). Os pacientes são colocados em
uma poltrona, sentados e instruídos para girar a cabeça em
direção contrária ao estímulo sonoro, para que haja a con-
tração do músculo ECM ipsilateral. Os PEMV são captados
por eletrodos posicionados no músculo ECM do paciente
(ipsilateral ao estímulo sonoro), sendo o eletrodo positivo
localizado no terço superior do músculo, enquanto que o
eletrodo negativo é posicionado na altura do tendão do
músculo, logo acima da clavícula (Figura 2A).
Essa colocação dos eletrodos pode ser de forma
inversa, causando apenas a inversão das ondas de resposta.
O eletrodo terra normalmente é posicionado no vértex
do paciente. Apesar de o músculo ECM ser o site mais
freqüentemente utilizado para obter respostas vestibulares,
alguns autores observaram a obtenção dessas respostas
em outros músculos como o músculo trapézio e músculos
da perna e dos braços3,24.
Vale lembrar que é necessário um ouvido médio
normal para que as respostas dos PEMV sejam gravadas,
pois pequenos gaps aéreo-ósseos de 8,75 dB são sufi-
cientes para atenuar as respostas25. As respostas elétricas
desses potenciais consistem em duas ondas bifásicas,
sendo a primeira onda positiva, com latência em torno de
13ms, conhecida assim como p13; seguida por uma outra
onda, dessa vez negativa, com latência em torno de 23ms,
conhecida como n23 (Figura 2B).
Essas respostas estão presentes na maioria dos indi-
víduos normais estudados5, diferentemente de um segundo
complexo bifásico conhecido como n34-p44 que segundo
Colebatch estaria ausente em 40% dos indivíduos normais
estudados26, enquanto Robertson descreveu que esse se-
gundo complexo estaria presente em 68% dos indivíduos
normais27. Devido à falta de replicabilidade desse segundo
complexo (n34-p44), a maioria absoluta dos estudos com
PEMV somente considera o primeiro complexo bifásico
(p13-n23)1,2,7-10,17,26,28.
Um dos pontos mais controversos a respeito dos
PEMV é a relação observada entre a amplitude das respos-
tas elétricas e o nível de contração da musculatura testada
(ECM na maioria das vezes). Essa relação já foi obervada
por Colebatch et al. em 1994 e confirmada por diversos
outros estudos1,2,5,7-9,26. Essa relação se faz bastante relevante
uma vez que necessitaríamos de contrações musculares
padronizadas entre os pacientes, pois se isso não ocorresse
dificilmente poderíamos comparar um exame de uma pa-
ciente idosa com a de um jovem atleta que provavelmente
apresenta um nível de contração muscular muito superior.
Assim, diversos métodos são utilizados atualmente para a
monitorização da contração do músculo ECM, como por
exemplo, eletromiografia e biofeedback5,7,23.
Outro ponto bastante discutido a respeito da reali-
zação dos PEMV é o estímulo sonoro ser gerado através
de cliques ou tone bursts. Diversos autores estudaram esse
assunto9,10,29. Cheng et al. em 2003 realizaram um estudo
onde compararam a influência de cliques e tone bursts
na geração de respostas vestibulares. Eles concluíram que
PEMV gerados por cliques têm maior índice de resposta
em indivíduos normais, além de maior amplitude das
ondas p13-n23 e menor latência9,29. Esses dados mostram
que é extremamente importante na hora em que o médico
vai analisar um exame de PEMV, ter em mente qual foi
o estímulo sonoro utilizado, uma vez que isso influencia
diretamente na latência e amplitude das ondas. No entanto,
Rauch et al. em 2004 mostrou que dentre todas as freqü-
Figura 1. Publicações anuais sobre potencial evocado miogênico
vestibular (PEMV) desde 1995. Note que a partir de 2000, houve um
rápido aumento do número de publicações lidando com o uso e mé-
todo do teste do PEMV. Fonte: www.pubmed.com.
Figura 2a. Realização do teste de PEMV no lado esquerdo com fones
intracanais e eletrodos posicionados no músculo ECM. Os pacientes
são colocados em uma poltrona, sentados e instruídos para girar a
cabeça em direção contrária ao estímulo sonoro, para que haja a
contração do músculo ECM ipsilateral ao estímulo sonoro.
Figura 2b. Onda típica dos PEMV em um paciente normal. Mostrando
a primeira onda positiva (P1) em torno de 13ms e a segunda onda
negativa (N1) em torno de 23ms.
Figura 2c. Curva típica dos PEMV em um paciente normal, mostrando
os limiares de resposta nas principais freqüências testadas.
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ências testadas para gerar respostas nos PEMV, 500 Hz foi
a que se mostrou mais sensível. Além disso, ele introduziu
uma nova maneira de analisar os resultados dos PEMV,
analisando não somente a amplitude e latência, mas sim,
o limiar das respostas em quatro freqüências diferentes
(250, 500, 750 e 1000Hz)30. (Figura 2C)
Até a presente data, não existem aparelhos espe-
cíficos para a realização do teste do PEMV, sendo que a
maioria dos centros utiliza o mesmo equipamento usado
para o ABR (análise audiométrica do nervo auditivo e
do tronco cerebral) para gravar essas respostas. Alguns
autores também utilizam uma outra forma de desenca-
dear esses potenciais em pacientes portadores de perda
auditiva condutiva, utilizando um estímulo ósseo com um
pequeno martelo no crânio do paciente31. Eles obtiveram
respostas em 10ms (onda positiva) e 17ms (onda negativa)
em pacientes que devido à surdez condutiva, o estímulo
sonoro era incapaz de gerar tais respostas.
Aplicabilidade Clínica
Diferentemente do sistema auditivo, o sistema ves-
tibular é bem mais complexo e muito menos conhecido
e estudado, por isso o interesse pelos PEMV cresceu nos
últimos anos, em virtude desses potenciais refletirem a
função de órgãos otolíticos (sáculo) e do NVI, algo até
então não possível de ser avaliado pelos diversos outros
testes vestibulares, como a vectoeletronistagmografia, a
prova da cadeira rotatória e a prova da plataforma2.
A prova calórica que, sem dúvida, é o teste mais
utilizado para verificar função vestibular, é limitada ao
funcionamento do canal semicircular lateral e da divisão
superior do nervo vestibular de cada lado separada-
mente, enquanto que a prova da plataforma não avalia
isoladamente um dos labirintos, nem um dos sistemas
responsáveis pelo equilíbrio corporal (visão, labirinto e
propriocepção) separadamente.
Diversas publicações tem utilizado os PEMV como
método para diagnosticar ou mesmo contribuir para o
diagnóstico das mais diversas patologias otoneuroló-
gicas, como síndrome de Ménière, deiscência de canal
semicircular superior, neuronite vestibular, schwannomas
vestibulares, controle após administração intratimpânica
de gentamicina e até mesmo fístula perilinfáticas1,2,5,7,19,28,3
0,32,33. O papel exercido pelos PEMV em cada uma dessas
situações será descrito isoladamente a seguir:
Neuronite Vestibular
É uma das causas mais freqüentes de vertigem e
normalmente é diagnosticada baseada na história clínica
do paciente, associada a uma prova calórica que mostre
déficit de função unilateral34. Conforme estudos realizados
previamente, sabemos que ambos os ramos do nervo ves-
tibular (inferior e superior) podem ser acometidos por essa
patologia, no entanto baseado nos estudos de Goebel et
al. em 2001, podemos obter algumas explicações sobre a
possível razão pela qual a porção superior e muito mais
freqüentemente acometida do que a porção inferior35.
É exatamente baseado nessa diferenciação entre
ramo superior e inferior que a aplicação dos PEMV pode
ser utilizada. Halmagyi et al., em 1995, estudou 22 pacien-
tes com diagnóstico de neuronite vestibular e observou
que todos não obtiveram respostas calóricas no lado
acometido. No entanto, de forma curiosa, ele observou
que quando submetidos à prova dos PEMV, as respostas
eram normais em 6 pacientes, reduzidas em 5 pacientes
e ausentes em 1133. Isso prova que alguns pacientes
apresentam acometimento de ambas as porções do nervo
vestibular, enquanto que outros têm lesão unicamente
em sua porção superior. Fato esse muito importante em
relação a um prognóstico para esses doentes, uma vez
que os pacientes que apresentarem PEMV ausentes ou
alterados dificilmente irão desenvolver um quadro de
VPPB de canal semicircular posterior, já que o nervo que
inerva esse canal foi lesionado (NVI). Já aqueles pacientes
que tem um quadro de neuronite vestibular com PEMV
normais mostram que somente a divisão superior do nervo
foi acometida, sendo possível um futuro quadro de VPPB
de canal posterior36.
Deiscência de canal semicircular superior
Em 2001, pesquisadores da universidade Johns
Hopkins nos Estados Unidos, chefiados pelo professor
Lloyd B. Minor, descreveram uma entidade vestibular
não-relatada previamente na literatura, chamada de deis-
cência de canal semicircular superior37. Essa síndrome é
caracterizada por vertigem e nistagmo desencadeados
por estímulos sonoros e/ou pressóricos, tendo sua fisio-
patologia baseada na teoria da “terceira janela”, ou third
window em inglês. A existência dessa terceira janela no
ouvido interno (além da janela redonda e da janela oval)
causaria uma diminuição da impedância da orelha inter-
na, permitindo uma maior movimentação dos fluidos no
labirinto membranoso e conseqüentemente permitindo
uma maior deflexão dos sensores vestibulares a estímulos
de pressão e som37-40.
Baseado nessa explicação fisiopatológica, os PEMV
se tornam bastante importantes, uma vez que a existência
dessa terceira janela vibratória causaria uma maior movi-
mentação do estribo na janela oval e conseqüentemente
uma maior estimulação da mácula sacular aos estímulos
sonoros aplicados. Isso rebaixaria os limiares dos PEMV
em praticamente todas as freqüências testadas, dado este
confirmado por diversos estudos como o desenvolvido
por Brantberg et al. em 1999 que testou os PEMV em 3
pacientes com deiscência de canal semicircular superior,
observando diminuição dos limiares no lado afetado em
todos os pacientes, principalmente nas faixas de 500 Hz
a 1000 Hz41.
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Estudo semelhante foi desenvolvido por esse mes-
mo grupo em 2001, quando 8 pacientes com síndrome da
deiscência do canal semicircular superior foram subme-
tidos a testes de PEMV e todos apresentaram diminuição
dos limiares do teste no lado afetado, inclusive 4 dos 8
pacientes testados tinham audiometria normal e 6 dos 8
pacientes tinham respostas normais na prova calórica42.
Esses estudos só reforçam a importância do PEMV no
diagnóstico dessa síndrome que muitas vezes apresenta
quadro clínico variado, achados audiométricos normais
ou que mimetiza otosclerose (perda condutiva) e que só
pode ser confirmada através de um exame de tomografia
computadorizada de alta resolução37-39,42.
Schwannoma vestibular
Esse tumor benigno que afeta as vias vestibulares
sempre é uma hipótese diagnóstica considerada diante
dos mais diversos quadros clínicos. Atualmente o método
de maior eficácia para o seu diagnóstico e de maior custo
também é a ressonância nuclear magnética (RNM). No
entanto, devido ao seu alto custo e na impossibilidade de
realização do exame para todos os pacientes com suspei-
tas, o ABR também desempenha um importante papel no
diagnóstico dos schwannomas vestibulares5.
Como as vias neurais dos PEMV envolvem a porção
inferior do nervo vestibular, esse método diagnóstico tam-
bém pode ser usado para contribuir no diagnóstico dos
schwannomas vestibulares. Alguns estudos na literatura já
mostraram essa importante contribuição dos PEMV, como
o desenvolvido por Murofushi et al. em 1998 que observou
80% de PEMV alterados em 17 pacientes com diagnóstico
confirmado de schwannoma vestibular43. Takeichi et al.,
em 2001, realizou um estudo semelhante onde observou
PEMV alteradas em 13 de 18 pacientes com diagnóstico
de schwannoma vestibular confirmado pela RNM44.
De uma forma geral, os PEMV podem contribuir
para o diagnóstico dos tumores vestibulares, mas não
devem ser usados como único método diagnóstico, pois
vale lembrar que eles só avaliam a função do nervo vesti-
bular inferior. No entanto, quando realizados em conjunto
com a RNM, o ABR, a audiometria e a prova calórica,
podem auxiliar na localização exata do tumor nas vias
vestibulares.
Síndrome de Ménière (SM)
Talvez de todas as aplicações clínicas dos PEMV,
essa seja a de maior relevância clínica. Através de estudos
prévios em ossos temporais, já está muito bem estabelecida
a relação entre hidropsia endolinfática e a SM45-50. Schukne-
cht et al. demonstraram que os sites mais freqüentemente
acometidos pela hidropsia endolinfática são cóclea, segui-
do pelo sáculo e pelo utrículo, respectivamente11,46,47,49,51.
Uma vez que o sáculo é tido como sendo o local de origem
dos PEMV, é de se esperar que os resultados dos PEMV
estejam alterados até mesmo em estágios mais iniciais da
síndrome de Ménière.
Rauch et al. em 2004 publicou um estudo onde
mostrou que os PEMV estavam presentes em cerca de 94%
dos pacientes com SM no lado afetado e os limiares nas
freqüências entre 250 Hz e 2000 Hz estavam aumentados30.
No entanto, um dos dados mais interessantes desse estudo
foi o fato de que cerca de 27% dos ouvidos assintomá-
ticos desses pacientes com SM unilateral apresentaram
alterações no teste. Quando comparamos esse resultado
a dados de estudo em ossos temporais que verificaram
cerca de 38% de presença de hidropsia endolinfática em
ouvidos assintomáticos de pacientes com SM1 e estudos
epidemiológicos que relatam comprometimento bilateral
na SM em 30% a 35% dos pacientes, podemos concluir
que o teste do PEMV talvez seja um método diagnóstico
de hidropsia endolinfática em estágios iniciais, podendo
servir como um fator prognóstico para acometimento
bilateral na SM.
Diversos outros estudos também foram publicados
na literatura internacional recentemente sobre PEMV em
pacientes com SM. Murofushi et al. em 2001 relatou que
51% dos pacientes com SM mostraram ausência de res-
postas no teste do PEMV52, enquanto que de Waele et al.,
realizando o mesmo estudo, observou um índice de 54%
de ausência de respostas no teste do PEMV em pacientes
com SM53. Outros autores realizaram estudos comparando
a relação entre teste do glicerol e PEMV, concluindo que
os resultados dos PEMV após a administração de glicerol
se mostram alterados, e que o teste do PEMV é um método
útil para o diagnóstico da hidropsia endolinfática54,55.
Fístula Perilinfática
Em 2006, Modugno et al. na universidade de Bolo-
nha, Itália, publicaram um estudo onde o teste do PEMV
foi usado para o diagnóstico de casos de fístula endolin-
fática56. Eles reportaram quatro casos onde os limiares das
respostas dos PEMV estavam diminuídos com estimulações
na freqüência de 500Hz. A possível explicação para esse
rebaixamento dos limiares baseia-se na mesma teoria que
explica esse fenômeno nos casos de deiscência de canal
semicircular superior, uma terceira janela vibratória no
ouvido interno causaria uma diminuição da impedância,
conseqüentemente causando uma diminuição desses
limiares. Uma crítica importante a esse estudo publicado
em 2006 é o pequeno número de pacientes testados e a
ausência de um follow-up mais longo.
Monitorização após terapia com gentamicina intratim-
pânica
Nos últimos anos, o tratamento da síndrome de
Ménière em casos resistentes à terapia clínica começou
a ser realizado através da administração de gentamicina
intratimpânica, numa tentativa de diminuir os sintomas
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vertiginosos desses pacientes57. Após essa terapia, muitos
profissionais realizam uma eletronistagmografia com prova
calórica na tentativa de confirmar se realmente a dose de
gentamicina aplicada foi suficiente para causar lesão nas
células ciliadas vestibulares e é exatamente com essa in-
tenção que os PEMV também podem ser utilizados.
De Waele et al., em 2002, mostrou que 92% dos
pacientes submetidos a injeções intratimpânicas de gen-
tamicina apresentavam ausência de respostas nos PEMV
em um mês e mantinham essa ausência por um período
de até mesmo um ano após terapia58.
COMENTÁRIOS FINAIS
O teste do PEMV é um novo exame complementar,
que pode contribuir, juntamente com outras provas oto-
neurológicas, para o diagnóstico das mais diversas pato-
logias vestibulares, destacando-se entre elas, a síndrome
de Ménière e casos de deiscência de canal semicircular
superior.
O teste é atualmente já utilizado em centros ter-
ciários de referência para distúrbios otoneurológicos.
No entanto, os autores enfatizam que por se tratar de
um novo método diagnóstico, o uso do teste do PEMV
ainda não está totalmente adaptado ao uso clínico, uma
vez que a maioria dos serviços ainda não dispõe de um
equipamento próprio (utilizando o mesmo equipamento
do ABR), profissionais treinados para sua realização e in-
terpretação adequada, além da falta de uma padronização
internacional para análise dos seus resultados.
Outro ponto extremamente importante a ser res-
saltado é a necessidade de uma padronização em relação
à monitorização do nível de contração do músculo ECM,
antes de os PEMV serem aplicados para o uso clínico, uma
vez que as respostas dos PEMV são amplamente depen-
dentes do nível de atividade do músculo.
De qualquer forma, o teste do PEMV mostra-se
como um promissor exame complementar, principalmente
por nos fornecer informações sobre a função do sáculo e
da divisão inferior do nervo vestibular.
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