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1
www.ee.usp.br/reeusp Rev Esc Enferm USP · 2018;52:e03403
1 Universidade Federal da Paraíba,
Hospital Universitário Lauro
Wanderley, João Pessoa, PB, Brasil.
2 Universidade Federal da Paraíba,
João Pessoa, PB, Brasil.
Arboviroses reemergentes: perfil clínico-epidemiológico de
idosos hospitalizados
Reemerging arboviruses: clinical-epidemiological profile of hospitalized elderly patients
Arbovirosis reemergentes: perfil clínico epidemiológico de personas mayores hospitalizadas
Lia Raquel de Carvalho Viana1, Cláudia Jeane Lopes Pimenta2, Edna Marília Nóbrega Fonseca de Araújo1, Tiago José
Silveira Teófilo1, Tatiana Ferreira da Costa2, Kátia Neyla de Freitas Macedo Costa2
Como citar este artigo:
Viana LRC, Pimenta CJL, Araújo EMNF, Teófilo TJS, Costa TF, Costa KNFM. Reemerging arboviruses: clinical-epidemiological profile of hospitalized elderly
patients. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03403. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017052103403
Recebido: 16/01/2018
Aprovado: 25/06/2018
Autor correspondente:
Lia Raquel de Carvalho Viana
Rua dos Milagres, 1516, Cristo Redentor,
CEP 58070-530 – João Pessoa, PB, Brasil
lia_viana19@hotmail.com
ARTIGO ORIGINAL DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017052103403
ABSTRACT
Objective: Describe the clinical-epidemiological prole of hospitalized elderly patients
with arbovirus. Method: A documentary retrospective population-based descriptive
study that used a quantitative approach with hospitalized elderly patients diagnosed with
arbovirus was conducted in a teaching hospital. Data were collected from medical records
and investigation forms. Results: irty-three elderly patients participated in this study.
A prevalence of dengue was observed, with fever, myalgia, and arthralgia. Arterial
hypertension and diabetes were the comorbidities. Statistically signicant correlations
were obtained between arbovirus and schooling, employment situation, marital status,
test results, and use of analgesics; and between the site of arthralgia and Chikungunya.
Conclusion: e results support nursing care to hospitalized elderly patients with
arbovirus, allowing the development of a proper and humanized care plan.
DESCRIPTORS
Aged; Dengue; Chikungunya Fever; Geriatric Nursing; Health of the Elderly.
2www.ee.usp.br/reeusp
Arboviroses reemergentes: perfil clínico-epidemiológico de idosos hospitalizados
Rev Esc Enferm USP · 2018;52:e03403
INTRODUÇÃO
A população mundial está em constante envelhecimento.
De acordo com o relatório de 2015 da United Nations
Population Division(1), o número de indivíduos com mais
de 60 anos deverá atingir o total de 2,1 bilhões até 2050.
Essa mudança no cenário social traz consigo necessidades
especícas dessa população. Nesse contexto, a área da saúde
deve estar preparada não apenas para o impacto das doenças
crônicas, bastante comuns em idosos, mas também para as
infecções reemergentes, que vêm ganhando destaque na
última década(2).
Recentemente se tem observado a reemergência
de doenças transmitidas por mosquitos, denominadas
arboviroses, com destaque para a Febre de Chikungunya
e Febre de Zika em vários países das Américas. A entrada
desses vírus no Brasil, país já endêmico para a Dengue,
representa um grande desao para a saúde pública, pois todos
estão suscetíveis às infecções e ainda não existem antivirais
especícos, tampouco vacinas para prevenção(3).
Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério
da Saúde, no ano de 2017, até o mês de setembro, foram
conrmados no Brasil 88 óbitos por Dengue e 99 por Febre de
Chikungunya – esta última tem maior incidência no Nordeste.
Em relação à Febre de Zika, houve conrmação de 6.679
casos em 2017(4). Tais doenças possuem características clínicas
semelhantes, variando-se a intensidade dos sinais e sintomas,
a saber: artralgia, febre alta, náusea, diarreia, vômito, dor retro-
orbital, mialgia, plaquetopenia, exantema, entre outros(5-6).
A Febre de Chikungunya é preocupante, pois a severa
artralgia, presente em aproximadamente 100% dos casos,
constitui a característica mais debilitante para o indivíduo,
podendo tornar-se crônica(5). Na população idosa, a
doença causa perda de função, descondicionamento físico,
diminuição de mobilidade, depressão, artrite, e consequente
redução na qualidade de vida(7). Por outro lado, a infecção
pelo vírus da Zika pode levar ao desenvolvimento da
Síndrome de Guillain-Barré, doença que cursa com astenia
generalizada e paralisia(8). A importância de enfatizar os
idosos explica-se devido às formas mais graves das doenças
acometerem principalmente esses indivíduos(9).
Na assistência aos pacientes com arboviroses, o
enfermeiro, como educador, atua na prevenção de agravos
e promoção à saúde, visando ao incentivo da adoção de
melhores hábitos pela a população, nos diversos níveis
de complexidade. No tocante ao paciente infectado, esse
prossional atuará com base em um plano de cuidados
humanizado, com diagnósticos de enfermagem, metas
e intervenções, buscando o restabelecimento da saúde
do indivíduo(10).
Apesar da grande disseminação, ainda é escasso e
limitado o conhecimento dos prossionais de saúde acerca
das particularidades e complicações dessas arboviroses.
Torna-se fundamental a organização dos serviços de saúde
para fornecer maior resolutividade frente ao acelerado
aumento do número de novos casos
(5)
. Diante ao exposto,
o objetivo desta pesquisa foi descrever o perl clínico-
epidemiológico dos idosos hospitalizados com arboviroses.
MÉTODO
Tipo de esTudo
Trata-se de um estudo documental retrospectivo, de base
populacional e descritivo, com abordagem quantitativa.
Cenário
A pesquisa foi realizada no Serviço de Arquivo Médico
e Estatística (SAME) de um Hospital Universitário
localizado no município de João Pessoa, Paraíba, Brasil.
A população investigada constituiu-se de idosos que
estiveram hospitalizados na Clínica de Doenças Infecto-
Parasitárias (DIP) com diagnóstico de arbovirose (Febre
de Chikungunya, Dengue e/ou Febre de Zika) durante o
período de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, perfazendo
um total de 41 pacientes.
Foram incluídos no estudo prontuários disponíveis no
SAME de indivíduos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos,
que estiveram hospitalizados na DIP, no referido período,
nos quais constaram o diagnóstico nal de Dengue, Febre
de Chikungunya e/ou Febre de Zika. Os prontuários foram
localizados por meio da cha de investigação e noticação do
Sistema de Informação de Agravos de Noticação (SINAN),
sob a competência do Setor de Vigilância Epidemiológica.
Foram excluídos os pacientes cujos prontuários e chas de
investigação não foram encontrados ou caracterizavam-se
como nada consta. Dessa forma, não foi possível resgatar
informações de oito idosos, e a amostra nal foi composta
por 33 pacientes.
ColeTa de dados
A coleta de dados foi realizada entre os meses de junho
a agosto de 2017, mediante informações encontradas nos
prontuários e chas de investigação dos pacientes.
análise e TraTamenTo dos dados
As informações foram sistematizadas em instrumento
semiestruturado, com dados referentes ao perfil
sociodemográco, clínico e epidemiológico. Foi realizada a
análise descritiva e exploratória dos dados para vericar a
frequência das variáveis pesquisadas. Os testes Qui-quadrado
de Pearson, Exato de Fisher e Mann-Whitney foram
utilizados com a nalidade de associar os resultados obtidos
por meio do perl dos pacientes e diagnóstico da arbovirose.
aspeCTos éTiCos
Foram observados os aspectos éticos que normatizam a
pesquisa envolvendo seres humanos, direta ou indiretamente,
dispostos na Resolução n.º 466/12, do Conselho Nacional
de Saúde, e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB,
sob o parecer n.º 2.118.718 de 2017.
RESULTADOS
Em relação aos dados sociodemográficos, dos
33 pacientes, 57,6% eram do sexo masculino, 57,6%
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encontravam-se na faixa etária entre 60-69 anos, 42,4% eram
da raça parda, 39,4% eram aposentados, 54,5% eram casados
e 93,9% residiam na zona urbana. Sobre a escolaridade, em
30,3% dos pacientes não constava essa informação e 21,2%
possuíam ensino fundamental incompleto. Em relação à
procedência, em 42,4% dos pacientes era desconhecida e
33,3% vieram ao Hospital Universitário encaminhados por
um serviço de urgência e emergência.
No tocante aos dados clínicos, 54,5% obtiveram diagnóstico
nal de Dengue, 45,5%, Febre de Chikungunya, 30,3% tiveram
Dengue clássica e 15,2%, Dengue com sinais de alarme. Como
doenças de base, 69,7% apresentaram Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS) e 48,5%, Diabetes (Tabela 1).
Tabela 1 – Doenças de base em idosos hospitalizados com
arbovirose – João Pessoa, PB, Brasil, 2017.
Doenças de base n %
HAS 23 69,7
Diabetes 16 48,5
Cardiopatia 10 30,3
Hepatopatia 3 9,1
Doença renal crônica 3 9,1
Doenças respiratórias 3 9,1
Doenças oftalmológicas 3 9,1
Doenças neurológicas 2 6,1
Doença autoimune 1 3,0
Doenças hematológicas 1 3,0
Nenhuma 2 6,1
Não consta 2 6,1
Os principais sinais e sintomas dos pacientes foram febre
(97%), mialgia (78,8%) e artralgia intensa (75,8%), como
mostra a Tabela 2.
Tabela 2 – Sinais e sintomas em idosos hospitalizados com
arboviroses – João Pessoa, PB, Brasil, 2017.
Variáveis n %
Sinais e sintomas
Febre 32 97,0
Mialgia 26 78,8
Artrose intensa 25 75,8
Cefaleia 21 63,6
Náuseas 14 42,4
Vômitos 14 42,4
Exantema 13 39,4
Astenia 9 27,3
Perda de peso 9 27,3
Diarreia 8 24,2
Dor nas costas 6 18,2
Prurido 5 15,2
Dor retro-orbital 3 9,1
Conjuntivite 2 6,1
Edema 2 6,1
Calafrios 1 3,0
Em 15,2% dos idosos, a poliartralgia caracterizou-se como
assimétrica,15,2% em punhos e joelhos e 12,1% em mãos. O
diagnóstico da arbovirose foi realizado de forma clínica. Dos
que tiveram Febre de Chikungunya, apenas 18,2% realizaram
Sorologia IgM para Chikungunya, e dos diagnosticados com
Dengue, 15,2% realizaram Sorologia IgM para Dengue. As
principais alterações que constaram no Hemograma dos
pacientes foram: plaquetopenia (66,7%), PCR – Proteína
C-Reativa alta (48,5%) e leucopenia (39,4%). Quanto ao
tempo de internação, houve prevalência de até 7 dias (60,6%),
e foi registrada a ocorrência de um óbito na amostra.
Ao correlacionar os dados sociodemográcos com o
diagnóstico da arbovirose, houve signicância estatística
(p≤0,05) nas variáveis escolaridade, situação prossional e
estado civil, como consta na Tabela 3.
Tabela 3 – Dados sociodemográficos e diagnóstico de arbovirose
em idosos hospitalizados – João Pessoa, PB, Brasil, 2017.
Variáveis
Diagnóstico / arbovirose
Valor pDengue Chikungunya
n % n %
Sexo
0,247*
Masculino 12 66,7 7 46,7
Feminino 6 33,3 8 53,3
Faixa etária
0,240**
60 – 69 anos 12 66,7 7 46,7
70 – 79 anos 3 16,7 3 20,0
80 – 89 anos 2 11,1 4 26,7
≥ 90 anos 1 5,6 1 6,7
Raça
0,432*
Branca 6 33,3 6 40,0
Parda/mulata/cabocla 7 38,9 7 46,7
Preta/negra 3 16,7 - -
Não consta 2 11,1 2 13,3
Escolaridade
0,002**
Analfabeto 5 27,8 - -
Ensino fundamental incompleto 5 27,8 2 13,3
Ensino fundamental completo 1 5,6 1 6,7
Ensino médio completo 3 16,7 2 13,3
Ensino superior incompleto 1 5,6 - -
Ensino superior completo 1 5,6 2 13,3
Não consta 2 11,1 8 53,3
Situação prossional
0,008*
Aposentado 11 61,1 2 13,3
Pensionista - - 1 6,7
Empregado/ocupação 5 27,8 2 13,3
Do lar 1 5,6 3 20,0
Não consta 1 5,6 7 46,7
Estado civil
0,022*
Solteiro - - - -
Casado 13 72,2 5 33,3
Viúvo - - 2 13,3
Divorciado 2 11,1 - -
Não consta 3 16,7 8 53,3
Zona de residência
0,412*
Urbana 16 88,9 15 100,0
Rural 1 5,6 - -
Não consta 1 5,6 - -
Procedência
0,370*
Serviço de urgência e emergência 7 38,9 4 26,7
Atenção hospitalar 5 27,8 2 13,3
Residência - - 1 6,7
Não consta 6 33,3 8 53,3
Total 18 100,0 15 100,0
*Qui-quadrado de Pearson; **Teste de Mann-Whitney.
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Quando as características da poliartralgia foram
correlacionadas com o diagnóstico da arbovirose, houve
signicância estatística apenas entre o local do sintoma
(joelhos) e a Febre de Chikungunya. Também houve
signicância na correlação entre resultados do Hemograma
(PCR alta e plaquetopenia), uso de medicamentos (analgésicos)
e diagnóstico da arbovirose, como mostra a Tabela 4.
Tabela 4 – Resultado do hemograma, do uso de medicamentos
e diagnóstico de arbovirose em idosos hospitalizados – João
Pessoa, PB, Brasil, 2017.
Variáveis
Diagnóstico / arbovirose
Valor pDengue Chikungunya
n % n %
Hemograma
Leucopenia 9 50,0 4 26,7 0,172*
Trombocitopenia 2 11,1 1 6,7 0,658*
Proteína C-Reativa alta 12 66,7 4 26,7 0,037**
Plaquetopenia 15 83,3 7 46,7 0,026*
Diminuição de hemácias - - 2 13,3 0,199**
Diminuição de hemoglobina 1 5,6 4 26,7 0,152**
Não consta 1 5,6 6 40,0 0,300**
Medicamentos / tratamento
Analgésicos 17 94,4 9 60,0 0,030**
Antitérmicos 15 83,3 9 60,0 0,239*
Corticosteroides - - 1 6,7 0,455**
Anti-inflamatórios não
esteroidais - - 1 6,7 0,455**
Hidratação oral/endovenosa 13 72,2 7 46,7 0,135*
Anti-hipertensivo 9 50,0 6 40,0 0,566*
Hipoglicemiante/insulina 7 38,9 3 20,0 0,283**
Não consta 1 5,6 6 40,0 0,300**
* Qui-quadrado de Pearson; **Teste Exato de Fisher.
DISCUSSÃO
A maioria dos idosos internados na clínica DIP
apresentou prontuário e/ou cha de noticação compulsória.
No hospital, os agravos são noticados por meio de chas
elaboradas pelo SINAN e encaminhadas para o Núcleo
Hospitalar de Vigilância Epidemiológica, e os dados são
repassados à Secretaria Municipal de Saúde. Todavia,
além da quantidade, a qualidade desses dados deve ser
enfatizada, visto que, quanto mais completa a cha, mais
efetivas e incisivas serão as ações para a resolução dos
problemas encontrados(11).
No tocante aos dados sociodemográcos, a amostra
apresentou discreta predominância do sexo masculino,
concordando com estudo(11). A maioria dos idosos era
pertencente à faixa etária de 60-69 anos, coincidindo com
o perl brasileiro dessa população
(12)
. Em relação à zona
de residência, a quase totalidade da amostra residia em
área urbana, concordando com pesquisa
(13)
. A urbanização
acentuada, a falta de saneamento básico e a precária
infraestrutura expõem a população a um maior risco de
infecção, pois possibilitam a ampliação do habitat dos vetores
em locais densamente povoados(14). Sobre a escolaridade,
verificou-se predominância do ensino fundamental
incompleto. A importância do nível de escolaridade
relaciona-se com a prevenção, efetivada mediante estratégias
de caráter higienista de combate ao vetor, as quais exigem da
população medidas de extinção dos criadouros domésticos
de mosquitos(15).
Grande parte dos idosos foi encaminhada ao hospital por
um serviço de urgência e emergência. Em estudo realizado
em uma Unidade de Pronto Atendimento em João Pessoa, a
Dengue representou 92,5% das noticações
(16)
. A dor aguda
é o principal motivo de busca por esse serviço, destacando-se
a lombalgia, mialgia, cefaleia e dor no joelho(17), todas
pertencentes ao quadro clínico da Dengue e Febre de
Chikungunya. Assim, os pacientes tendem a procurar
atendimento no referido serviço, visto que se trata de uma
porta de entrada de fácil acesso(16).
No que concerne ao aspecto clínico, quanto ao diagnóstico
nal, observou-se discreta prevalência da Dengue do tipo
clássica, concordando com estudos brasileiros(13,18). A
Dengue é a doença viral transmitida por artrópodes mais
predominantes no mundo e constitui um grave problema
de saúde pública, principalmente no Brasil. Em pesquisa
realizada no mesmo hospital deste estudo, essa infecção
ocupou o segundo lugar das noticações analisadas(11).
Trata-se de uma doença que está afetando cada vez mais os
idosos, os quais apresentam maior risco de complicações e
mortalidade. Segundo o Ministério da Saúde, a ocorrência de
óbitos relaciona-se ao desconhecimento e desvalorização dos
sinais de alarme, busca por mais de um serviço sem conduta
adequada e reposição volêmica insuciente(6). No entanto,
apesar da maior mortalidade entre os pacientes com Dengue,
no presente estudo houve apenas um óbito, o de um idoso
com diagnóstico de Febre de Chikungunya.
A Febre de Chikungunya foi diagnosticada em 45,5%
da amostra. A literatura arma que, embora seja semelhante
à Dengue em termos de sintomatologia, trata-se de uma
doença com maior potencial de desencadear epidemias
mais devastadoras, devido ao maior número de casos
sintomáticos, maior período de viremia e menor tempo de
incubação do agente etiológico
(19)
. Um estudo prospectivo
realizado em Porto Rico, ao identicar a etiologia de doenças
febris em 8.996 pacientes, vericou prevalência do vírus
da Chikungunya(20).
Observou-se neste estudo que HAS e Diabetes foram as
principais doenças de base dos idosos hospitalizados, assim
como em outras pesquisas(18,21). Tais doenças crônicas são as
mais frequentes na população idosa e, portanto, devem ser
consideradas na abordagem terapêutica, visando à ecácia do
tratamento da arbovirose
(22)
. Vale ressaltar que a presença de
comorbidades em pacientes com arboviroses foi mencionada
como fator que determina a gravidade da doença(21-22), pois
pode favorecer o surgimento de complicações, especialmente
em indivíduos com mais de 75 anos
(20)
. Em idosos diabéticos,
por exemplo, a descompensação glicêmica está associada
à desidratação, agravando a situação clínica do paciente
diante da infecção aguda pela arbovirose. Sabe-se que a
hidratação oral deve ser iniciada ainda na sala de espera pelo
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atendimento(6). Nos casos de Dengue, pode haver hemorragias
oriundas de plaquetopenia, coagulopatia e alterações
vasculares(6), as quais podem ser causadas pela HAS. Assim,
recomenda-se que a abordagem ao tratamento de arboviroses
em idosos seja realizada mediante rigorosa supervisão clínica
em relação à comorbidades e polifarmácia(22).
Febre, mialgia e artralgia foram as manifestações
clínicas mais registradas durante a hospitalização. Resultado
semelhante foi encontrado em pesquisa sobre Dengue
na Índia(21) e em estudo sobre a Chikungunya(23), ambos
realizados com idosos. A febre está presente nas arboviroses
supracitadas. Na Dengue, o sintoma consiste na primeira
manifestação, seguido de cefaleia, astenia, mialgia e dor
retro-orbitária
(6)
. A Febre de Chikungunya caracteriza-se,
além desses sintomas, sobretudo, pela artralgia severa e
debilitante
(20)
. Acerca da poliartralgia, esta se caracterizou
como assimétrica, prevalecendo em punhos, joelhos e mãos.
De acordo com o Ministério da Saúde
(5)
, a poliartralgia tem
sido identicada em cerca de 90% dos casos de Chikungunya
na fase aguda. De modo geral, apresenta-se como bilateral
e simétrica, porém pode ser assimétrica, afetando grandes e
pequenas articulações, com frequência as mais distais.
Todos os pacientes da amostra receberam diagnóstico
clínico, e, para a conrmação do caso, apenas 18,2%
realizaram sorologia IgM para Chikungunya e 15,2%
sorologia IgM para Dengue. Esse quantitativo reduzido de
sorologias também foi observado em outros estudos
(18,24)
. No
tocante à Chikungunya, recomenda-se que, nos casos típicos,
o diagnóstico se dê por critérios clínicos epidemiológicos,
e a sorologia apenas diante da necessidade de diagnóstico
diferencial
(22)
. Ressalta-se que casos atípicos são aqueles nos
quais há constância ou aumento da intensidade dos sintomas,
para os quais o diagnóstico sorológico é obrigatório(5). O
mesmo se aplica à Dengue, que só deve ser conrmada
laboratorialmente em casos graves(6).
Vericou-se que as alterações laboratoriais mais frequentes
foram plaquetopenia, PCR alta e leucopenia, concordando
com estudo(24). Na Febre de Chikungunya, é frequente que o
hemograma dos pacientes apresente leucopenia com linfopenia
(<1.000 cels/mm3), além de velocidade de hemossedimentação
e PCR elevadas(5). Na Dengue, a plaquetopenia é a principal
característica laboratorial, podendo haver também o aumento do
hematócrito
(6)
. A redução do número de plaquetas é responsável
por hemorragias e óbito em casos mais graves da doença(25).
Ao associar os dados sociodemográficos com o
diagnóstico da arbovirose, houve signicância estatística
(p≤0,05) nas variáveis escolaridade, situação prossional e
estado civil. Em outra pesquisa, vericou-se a associação
entre grau de instrução menor que 3 anos e incidência da
Dengue(26). A literatura aponta que níveis mais baixos de
escolaridade podem gerar diculdades na compreensão e
entendimento por parte da população sobre as medidas
preventivas contra essas arboviroses, favorecendo o aumento
do número de casos(27). Em relação à situação prossional e o
estado civil, estudo revelou que indivíduos casados obtiveram
níveis mais altos de conhecimento, evitando a ocorrência
da Dengue com ações preventivas(28). Esse resultado difere
do encontrado nesta pesquisa, uma vez que a maioria dos
indivíduos acometidos era casado. Os mesmos autores
também mostraram associação entre indivíduos empregados
e maiores níveis de conhecimento.
Houve signicância estatística entre o local da artralgia
(joelhos) e a Febre de Chikungunya. A literatura aponta a
artralgia como a causa da alta taxa de morbidade em pacientes
com Chikungunya, uma vez que reduz a produtividade e a
qualidade de vida do indivíduo(5), pois a dor articular, além
de limitar os movimentos, pode originar deformidades(25).
Também houve signicância estatística (p≤0,05) na
associação entre resultados do Hemograma (PCR alta
e plaquetopenia), uso de analgésicos e diagnóstico da
arbovirose. A signicância entre resultados do Hemograma
e diagnóstico pode ser justicada devido à prevalência
da elevada taxa de PCR e plaquetopenia na amostra
estudada. Evidencia-se que a presença signicativa de
plaquetopenia no perl laboratorial desses idosos aumenta a
probabilidade de um evento catastróco: o Acidente Vascular
Encefálico Hemorrágico(21).
No tocante à associação entre analgésicos e arbovirose,
pacientes com Dengue frequentemente fazem uso de
analgésicos por causa da sintomatologia. Na Chikungunya,
a artrite e a dor intensa também exigem o uso dessa classe
de medicamento, no entanto, esse é um aspecto que requer
atenção, sobretudo na população idosa, a qual se torna
mais suscetível à polifarmácia e a complicações devido
às interações medicamentosas(22). Na Dengue, existe a
possibilidade de ocorrência de hemorragias, que podem
ser provocadas pela ingestão de medicamentos, como ácido
acetilsalicílico, anticoagulantes e anti-inamatórios não
esteroidais, entre outros fatores precipitantes(6).
No cenário atual dessas epidemias, o enfermeiro presta
cuidados em todos os níveis de atenção à saúde. Na atenção
básica, destaca-se pelo seu papel de educador, enfatizando a
prevenção e a promoção à saúde. Na atenção especializada,
no serviço de urgência, por exemplo, atua na classicação de
risco, identicando o grau de comprometimento. Na atenção
hospitalar, a assistência baseia-se na elaboração e execução
do plano de cuidados humanizado(10).
Diante da reemergência dessas arboviroses, vericam-se
casos mais graves em grupos vulneráveis, como os idosos.
Prioritariamente, é necessário que os gestores e a população
se sensibilizem e se mobilizem em prol de uma organização
do sistema de saúde, buscando oferecer maior resolutividade.
Nesse contexto, o papel da vigilância epidemiológica é
reconhecer as tendências dessas doenças, no intuito de
direcionar ações de controle imediatas e especícas(29-30).
CONCLUSÃO
A Dengue e a Febre de Chikungunya foram as arboviroses
prevalentes na amostra estudada. Os pacientes apresentaram
como comorbidades, HAS e Diabetes. Os sintomas mais
registrados foram febre, mialgia e artralgia. Plaquetopenia,
PCR alta e leucopenia foram as alterações mais frequentes
nos exames. Houve associações estatisticamente signicativas
entre escolaridade, situação prossional, estado civil,
resultados de exames, uso de analgésicos e diagnóstico da
arbovirose; e entre o local da artralgia e a Chikungunya.
6www.ee.usp.br/reeusp
Arboviroses reemergentes: perfil clínico-epidemiológico de idosos hospitalizados
Rev Esc Enferm USP · 2018;52:e03403
RESUMO
Objetivo: Descrever o perl clínico-epidemiológico de idosos hospitalizados com arboviroses. Método: Estudo documental,
retrospectivo, de base populacional e descritivo, com abordagem quantitativa, realizado com idosos hospitalizados com diagnóstico
de arbovirose em um hospital universitário. Os dados foram coletados por meio de consulta aos prontuários e chas de noticação.
Resultados: Participaram 33 idosos. Houve prevalência da Dengue, destacando-se a febre, a mialgia e a artralgia. Vericaram-se a
Hipertensão Arterial e a Diabetes como comorbidades. Foram evidenciadas associações estatisticamente signicativas da arbovirose
com a escolaridade, a situação prossional, o estado civil, os resultados de exames e o uso de analgésicos; e entre o local da artralgia e a
Chikungunya. Conclusão: Os resultados fornecem subsídios para a assistência do enfermeiro aos idosos hospitalizados com arboviroses,
permitindo a elaboração de um plano de cuidados adequado e humanizado.
DESCRITORES
Idoso; Dengue; Febre de Chikungunya; Enfermagem Geriátrica; Saúde do Idoso.
RESUMEN
Objetivo: Describir el perl clínico epidemiológico de personas mayores hospitalizadas con arbovirosis. Método: Estudio documental,
retrospectivo, de base poblacional y descriptivo, con abordaje cuantitativo, realizado con personas mayores hospitalizadas con diagnóstico
de arbovirosis en un hospital universitario. Los datos fueron recogidos mediante consulta a las chas médicas y de noticación.
Resultados: Participaron 33 personas mayores. Hubo prevalencia del Dengue, destacándose la ebre, la mialgia y la artralgia. Se
vericaron la Hipertensión Arterial y la Diabetes como comorbilidades. Fueron evidenciadas asociaciones estadísticamente signicativas
de la arbovirosis con la escolaridad, la situación profesional, el estado civil, los resultados de exámenes y el empleo de analgésicos; y entre
el sitio de la artralgia y la Chikungunya. Conclusión: Los resultados brindan subsidios para la asistencia del enfermero a las personas
mayores hospitalizadas con arbovirosis, permitiendo la elaboración de un plan de cuidados adecuado y humanizado.
DESCRIPTORES
Anciano; Dengue; Fiebre Chikungunya; Enfermería Geriátrica; Salud del Anciano.
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O curso futuro dessas epidemias na população idosa
e seu impacto ainda são um enigma a ser decifrado pelos
estudiosos no decorrer do tempo. No entanto, sabe-se que é
preciso preparar o campo da saúde, no intuito de fornecer uma
assistência adequada a esses pacientes. Os resultados desta
pesquisa contribuem para fornecer subsídios, sobretudo para a
assistência do enfermeiro a idosos acometidos por arboviroses,
uma vez que o conhecimento do perl clínico dessa população
permite a elaboração de um plano de cuidados direcionado às
suas necessidades. Espera-se que este estudo incentive novas
produções a respeito da temática em questão envolvendo a
população idosa brasileira, dada a sua importância.
A subnoticação de doenças infecciosas refere-se a
uma realidade recorrente no Brasil. Destarte, a exiguidade
de informações em prontuários e chas de investigação
constituiu a principal limitação do estudo.
7
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