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"O POVO SAÍA QUANDO O RECURSO ERA POUCO": MIGRAÇÕES RURAIS DO MÉDIO JEQUITINHONHA PARA O VALE DO PAMPÃ NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

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Abstract

RESUMO: Esta comunicação analisa o movimento migratório de fazendeiros e camponeses originários do Médio Jequitinhonha em direção às terras do Vale do Pampã, ocorrido na primeira metade do século XX. As causas e as rotas de migração são descritas, bem como as características das longas viagens e as estratégias empregadas pelos grupos migrantes durante o deslocamento. No que se refere ao Vale do Pampã, ponto de chegada dessas migrações, a pesquisa enfatiza as formas de ocupação da terra, a estrutura fundiária, as atividades econômicas implantadas e o surgimento de comércio burriqueiro que manteve, por décadas, contato estreito entre os moradores das duas regiões do nordeste mineiro. Tenta-se mostrar que, na área de "fronteira aberta" do Pampã, as migrações reproduziram quase perfeitamente os padrões socioeconômicos existentes no Médio Jequitinhonha, baseados na dialética fazenda versus posse camponesa, a tal ponto que populações da porção norte da bacia hidrográfica do Mucuri consideram pertencer, identitária e culturalmente, ao Vale do Jequitinhonha. As fontes empregadas são diversas, incluindo documentos cartoriais guardados nos arquivos de Águas Formosas, antigo distrito de São José de Pampam (município de Teófilo Otoni), que abrangia praticamente todo o território banhado pelo rio Pampã e seus afluentes, depoimentos orais e narrativas de viajantes e memorialistas. A comunicação é produto gerado no âmbito do "Projeto Mucuri", executado pelo IGA com financiamento da FAPEMIG. O vasto Leste mineiro foi, durante o século XIX e boa parte do século XX, uma área de "fronteira aberta", cujo povoamento e aproveitamento econômico avançaram lentamente, até os anos 1960. As terras do Leste, ainda hoje marginais no cenário mineiro, se ressentem, por isso mesmo, da falta de estudos mais numerosos e consistentes sobre os processos que presidiram sua formação socioespacial. Este é o caso principalmente do Médio Vale do Jequitinhonha e do Vale do Mucuri.
“O POVO SAÍA QUANDO O RECURSO ERA POUCO”: MIGRAÇÕES
RURAIS DO MÉDIO JEQUITINHONHA PARA O VALE DO PAMPÃ NA
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
Marcos Antônio Nunes
Instituto de Geociências Aplicadas (IGA-MG)
geoman@terra.com.br
Marcos Lobato Martins
Faculdades Pedro Leopoldo (FPL-MG)
lobatohistoria@hotmail.com
PALAVRAS-CHAVE: Migrações rurais, povoamento, Vale do Jequitinhonha, Vale do
Pampã
RESUMO: Esta comunicação analisa o movimento migratório de fazendeiros e
camponeses originários do Médio Jequitinhonha em direção às terras do Vale do
Pampã, ocorrido na primeira metade do século XX. As causas e as rotas de migração
são descritas, bem como as características das longas viagens e as estratégias
empregadas pelos grupos migrantes durante o deslocamento. No que se refere ao Vale
do Pampã, ponto de chegada dessas migrações, a pesquisa enfatiza as formas de
ocupação da terra, a estrutura fundiária, as atividades econômicas implantadas e o
surgimento de comércio burriqueiro que manteve, por décadas, contato estreito entre os
moradores das duas regiões do nordeste mineiro. Tenta-se mostrar que, na área de
“fronteira aberta” do Pampã, as migrações reproduziram quase perfeitamente os padrões
socioeconômicos existentes no Médio Jequitinhonha, baseados na dialética fazenda
versus posse camponesa, a tal ponto que populações da porção norte da bacia
hidrográfica do Mucuri consideram pertencer, identitária e culturalmente, ao Vale do
Jequitinhonha. As fontes empregadas são diversas, incluindo documentos cartoriais
guardados nos arquivos de Águas Formosas, antigo distrito de São José de Pampam
(município de Teófilo Otoni), que abrangia praticamente todo o território banhado pelo
rio Pampã e seus afluentes, depoimentos orais e narrativas de viajantes e memorialistas.
A comunicação é produto gerado no âmbito do “Projeto Mucuri”, executado pelo IGA
com financiamento da FAPEMIG.
O vasto Leste mineiro foi, durante o século XIX e boa parte do século XX, uma
área de “fronteira aberta”, cujo povoamento e aproveitamento econômico avançaram
lentamente, até os anos 1960. As terras do Leste, ainda hoje marginais no cenário
mineiro, se ressentem, por isso mesmo, da falta de estudos mais numerosos e
consistentes sobre os processos que presidiram sua formação socioespacial. Este é o
caso principalmente do Médio Vale do Jequitinhonha e do Vale do Mucuri.
Este trabalho objetiva, modestamente, reduzir esta carência, ao enfocar as
migrações de fins do século XIX e início do XX que levaram à ocupação da parte norte
do Vale do Mucuri as terras drenadas pelo rio Pampã (ver Anexo 1) por gente
originária das bandas do Jequitinhonha, discutindo as causas desse processo migratório
(cuja intensidade foi notável até os anos 1950), os padrões das atividades econômicas
implantadas na nova terra e os persistentes intercâmbios (econômicos e culturais) que
uniam até recentemente os pontos de partida e de chegada das referidas migrações.
1. Fazendas, sítios camponeses e “roças de toco” no Médio Jequitinhonha
Na primeira metade do século XIX, viajantes estrangeiros percorreram o Vale do
Jequitinhonha (POHL, 1976; SAINT-HILAIRE, 2000) e a Colônia do Mucuri
(TSCHUDI, 2006). Todos eles observaram que a ocupação agrícola destas partes do
Leste baseava-se na dispersão de sítios e fazendas dedicados à produção de
mantimentos, algodão e criação de algum gado. Para tanto, os colonos empregaram o
chamado “sistema de rodízio” popularmente conhecido como “roça de toco” e
aprendido com os indígenas –, o qual consistia na derrubada da mata virgem, por meio
de queimadas, para a abertura de roças e pastos. Após o destocamento dos terrenos
queimados, e diretamente sobre as cinzas remanescentes, plantavam-se feijão,
mandioca, milho, abóboras, etc. O gado pastava livre nas chapadas, entre a caatinga ou
nas matas. Dessa forma, avançou o povoamento ao longo do eixo dos rios Araçuaí e
Jequitinhonha. No início da década de 1810, os colonos, seguindo os quartéis das
Divisões Militares encarregadas de combater e controlar os “botocudos”, haviam
alcançado as localidades de São Miguel (atual Jequitinhonha) e Vigia (Almenara).
Estes viajantes também perceberam os primeiros “transbordamentos” de
populações originárias de Minas Novas em direção às nascentes do rio Mucuri, através
da região denominada Alto dos Bois. Assim, fazendeiros e posseiros povoaram,
lentamente, as áreas ao redor de Capelinha, Setubinha, Malacacheta, Poté e Ladainha.
Os garimpeiros, por sua vez, buscavam as nascentes dos rios Setúbal e Gravataí, onde,
isolados longos meses dentro das matas, escavavam pedras preciosas. Também os
“raizeiros”, com o concurso de índios aldeados, embrenhavam nas matas do sudoeste do
Vale do Mucuri à procura da poaia, erva medicinal vendida para ervanários de Campos,
no norte fluminense. O que significa que a porção sudoeste do Vale do Mucuri, antes
mesmo da criação da Companhia do Mucuri por Teófilo Otoni, em 1847, estava
sendo ocupada. Curiosamente, como mais tarde se queixou o próprio Teófilo Otoni, os
habitantes da região de Minas Novas não se engajaram no projeto de colonização do
eixo Filadélfia – Santa Clara (DUARTE, 2002).
Somente na virada do século XIX para o XX, homens de Minas Novas e Araçuaí
começaram a atuar como trabalhadores temporários na colheita do café, nas plantações
situadas a oeste de Teófilo Otoni. E, nessa mesma época, populações do Médio
Jequitinhonha empreenderam migrações definitivas em direção ao Vale do Pampã,
colonizando as terras ao norte de Teófilo Otoni. O que teria mudado no Vale do
Jequitinhonha para despertar a atenção de seus habitantes pelo vizinho Vale do Mucuri?
2. O povo em movimento: a busca do Pampã
Que fatores causaram esses deslocamentos, especialmente para o vale do rio
Pampã?
A “roça de toco”, sistema agrícola tradicional utilizado nas áreas do Médio
Jequitinhonha, não possui sustentabilidade (RIBEIRO, 1996). A fartura inicial gerada
pelas lavouras nas terras recém-desmatadas logo cedia lugar à redução progressiva dos
rendimentos das colheitas. Daí a necessidade da incorporação contínua de novas terras,
cobertas por matas virgens, nas quais o ciclo da “agricultura destrutiva” era reiniciado.
Uma grande fazenda típica do Jequitinhonha no último quartel do século XIX, composta
de centenas de alqueires divididos entre roças, pastos, matas e posses de agregados,
espaço em torno do qual gravitavam, frequentemente, 50 ou 60 famílias sob o domínio
patriarcal do “coronel”, ficava envelhecida no período de cinqüenta anos, pouco mais ou
menos. As terras enfraqueciam, a produção declinava, o sustento das famílias tornava-se
difícil. Era preciso, então, mudar de lugar, abrir outra fazenda ou resignar-se com uma
existência medíocre no porvir. Por isso, não surpreende a observação de J. Duarte
referente ao início do século XX: as margens do Jequitinhonha, no trecho entre Araçuaí
e Almenara, estavam bastante desmatadas (J. DUARTE, 1972, p. 254). Com as
pequenas propriedades camponesas, que existiam nos interstícios das grandes fazendas,
esse processo era ainda mais rápido. A fartura deixava de existir em, no máximo, três
décadas. Com a agravante de que, em função do crescimento vegetativo elevado, a
família camponesa, para preservar a propriedade da terra, via-se obrigada a espalhar
seus filhos pelas fazendas vizinhas e/ou colocá-los em marcha, engrossando correntes
de migrações definitivas (rumo a fronteiras agrícolas) ou migrações temporárias (em
direção às regiões cafeeiras). Por conseguinte, um dos resultados da vigência secular da
“roça de tocos” no Médio Jequitinhonha aparece impresso nos jornais da região desde
fins do século XIX e inícios do XX, como exemplifica a notícia seguinte:
É alarmante a saída de trabalhadores do distrito de Mercês de Arassuahy, promovida pelos
chamados turmeiros, rumo a fazendas do estado do Rio de Janeiro, atraídos pelos salários de
quinhentos réis diários que lhes são oferecidos, além do sustento de cada indivíduo a cargo dos
proprietários das fazendas. Somente nos primeiros anos do século, cerca de mil pessoas deixaram
a região da freguesia em direção ao Rio (A Idea Nova, n. 137, p. 1. Biblioteca Antônio Torres.
IPHAN Diamantina).
As migrações eram a contraface da degradação ambiental. Leopoldo Pereira,
Agente Executivo de Araçuaí na década de 1890, escreveu com tristeza, numa
corografia publicada em 1906, sobre o processo de diminuição dos bichos e da perda de
muitos tipos de plantas que ocorria na região desde os anos 1870. Segundo Pereira, a
caça aumentara significativamente, alcançando níveis além do necessário para a
sobrevivência dos camponeses. Assim, lontras, capivaras, antas, onças, macacos,
diversas espécies de pássaros e cobras já rareavam nas margens dos rios Jequitinhonha e
Araçuaí (PEREIRA, 1969). A razão do problema residia na expansão das fazendas: as
caçadas viraram parte do trabalhado dos lavradores, pois, para proteger as plantações,
era preciso realizar as “batidas aos catitus”. Da mesma forma, os fazendeiros tiveram
que sair decididos à caça das onças que atacavam o gado, pressionadas pela redução da
área de mata (J. DUARTE, 1972, p. 181). Nos rios, também ocorreu perda notável de
peixes e da piscosidade, conforme observou o mesmo cronista, na década de 1920:
Na pesca, o crime [de destruição da natureza] ainda foi maior, a imprevidência mais revoltante:
matando surubins na desova, deixando mais da metade da pescaria desumana aos urubus por
falta de sal, como se desculpavam os pescadores do Jequitinhonha conseguiram, em quarenta
anos, extinguir a espécie (J. DUARTE, 1976, p. 48)
Enfim, a expansão do desmatamento, feita à base de fogo e machado e
necessária à reprodução regional da “roça de toco”, impactou negativa e rapidamente a
fauna e a flora regionais, diminuindo ainda mais os recursos disponíveis aos moradores
do Médio Jequitinhonha. A migração, portanto, afigurava-se cada vez mais como a
única saída para a “fraqueza da terra” e a “falta de recursos” que dificultavam a
sobrevivência das pessoas.
Não bastassem a “fraqueza da terra” e a “falta de recursos”, o final do século
XIX assistiu o início da hegemonia da pecuária no Médio Jequitinhonha. Também
caracterizada por possuir imensa fome de terras virgens, pois era extensiva, a criação de
gado dominou primeiro a margem esquerda do Jequitinhonha, nos domínios da
caatinga, abrangendo localidades como as atuais Salinas, Comercinho e Medina, onde
os criadores aproveitaram os barreiros salitrados e os pastos dilatados. Os rebanhos
cresceram rapidamente, e deles se aproveitaram a carne e o couro (PEREIRA, 1969; J.
DUARTE, 1972). Logo depois, os rebanhos avançaram na direção das atuais cidades de
Jequitinhonha, Joaíma e Almenara. Criavam-se, então, na virada do século XIX para o
XX, em pastos de capim-gordura, bois crioulos ou pés-duros, oriundos de velhas raças
portuguesas (Barrosa, Mirandeza, Arouqueza e Turina), resistentes e rústicos, mas sem
qualidades de peso, rendimento e precosidade. Esse gado era vendido para a zona
cacaueira baiana, em transações sem dinheiro à vista, de pouca monta e prazos longos.
Mas a Primeira Guerra Mundial provocou mudanças estruturais nos mercados nacional
e internacional de alimentos.
O mercado de carne adquiriu dinamismo, os preços aumentaram bastante, os
fazendeiros da região expandiram as áreas de pasto e melhoraram seus rebanhos. A
partir de 1920, criadores de Jequitinhonha, Almenara, Pedra Azul e Salto da Divisa
introduziram o colonião nos novos pastos e raças indianas (Gir, Nelore e Indubrasil) nas
fazendas (J. DUARTE, 1976, p. 47-72). Nesse momento, a porção leste do Vale do
Jequitinhonha encheu-se de jagunços e tiroteios, de tropas de burros que transitavam
para a Bahia, de gente usando alpercatas e chapéus de couro, de dias de morte e
correrias, de tocaiais e traições (J. DUARTE, 1972, p. 173-200). Ao longo do curso do
rio, os donos de boiadas faziam compras fiadas de Araçuaí até Belmonte, enquanto
surgiam arraiais, como Jacinto, em 1920, em função das “lutas baianas”, da chegada de
“valentões escorraçados pela polícia do Estado Vizinho” (op. cit., p. 174). Para os
habitantes da região, contudo, as oportunidades de ocupação nas fazendas diminuíram
drasticamente. Um vaqueiro e poucos ajudantes cuidavam sozinhos de rebanhos
enormes. E a “fome de terra” das grandes fazendas de gado engolia propriedades
menores e sítios camponeses, quando preciso o que não era raro lançando mão da
violência dos jagunços. Por isso, as “correrias” ficaram tristemente famosas na região.
Tem-se, portanto, mais um fator de pressão em favor da migração da gente do Médio
Jequitinhonha.
Ainda há mais. As secas prolongadas se abateram sobre o Médio Jequitinhonha
com força incomum no período 1890-1930. Leopoldo Pereira assinalou, preocupado, o
que chamou de escassez de água na região, nos seguintes termos:
“(...) de 40 anos, e mais acentuadamente, de 20 anos a esta parte [1905], as águas do Norte de
Minas têm diminuído de mais da metade. É convicção dos velhos residentes neste município que
os próprios rios grandes e navegáveis, Jequitinhonha e Araçuaí, não são volumosos como
antigamente (PEREIRA, 1969, p. 42).
Leopoldo Pereira arrolou número impressionante de córregos e mananciais que
secaram na região e apontou mudanças nos regimes das chuvas. O certo é que
registros de secas terríveis nos anos de 1890-1893, 1898-1900, 1915-1916, 1919-1920,
1931-1933 e 1941-1942 (VILLA, 2000). Conforme Ciro Arno, no início do ano de
1890, a estiagem provocou extraordinária carestia de víveres no Norte de Minas,
exigindo intervenção estatal: O Governo Provisório, diante da escassez de alimentos,
providenciou remessa de víveres para as zonas flageladas e mandou estabelecer
cozinhas públicas nas cidades, que forneciam comida aos necessitados(ARNO, 1949,
p. 20). Helena Morley, por sua vez, escreveu no seu diário, no dia 21 de junho de 1893:
Nunca nada me impressionou tanto como a fome daquele ano. Lembro-me até hoje das velas que
mamãe acendia no oratório, pedindo a Deus que mandasse chuva. Não Havia nada na cidade
[Diamantina] para se comprar. Os negociantes punham gente nas estradas para cercar os
tropeiros para comprar o pouco que eles traziam e vender pelo dobro ou triplo. Quem tinha
pouco dinheiro passava fome. (...) Chegavam todo dia notícias de gente morta na redondeza
(MORLEY, 1988, p. 43).
As secas, na medida em que agravaram as condições de vida da população do
Médio Jequitinhonha, estimularam as migrações. Especialmente entre os proprietários
menos abastados e os segmentos mais desvalidos da população.
E as migrações definitivas ocorreram durante todo o período 1890-1930, e até
além. Levas numerosas de pessoas, a cada ano, deixaram o Médio Jequitinhonha rumo
às áreas de economia mais dinâmica do Centro-Sul brasileiro e às cidades do Rio de
Janeiro e São Paulo. Outra porção expressiva de habitantes da região, que vivia no
interior do polígono cujos vértices eram Araçuaí, Rio Pardo, Salinas, Almenara e
Joaíma, deslocou-se para as terras de mata virgem do Vale do Pampã e do São Mateus
(Espírito Santo), a partir dos primeiros anos do século XX (ver Anexo 2).
Como se realizaram os deslocamentos para o Pampã? Alguns casos ilustram as
possibilidades historicamente ocorridas. O sr. João José Costa, 88 anos de idade, hoje
morador em Novo Oriente, nasceu na Fazenda Mutum, próxima a Itinga. No tempo de
seu avô, orgulhoso sócio da Fábrica de Tecidos de Itinga, a fazenda fora muito próspera.
Além da criação de gado, nela eram fabricados requeijão e cobertores de algodão em
oficinas com teares de madeira. Porém, sob o comando do pai de João Costa, as
atividades estavam reduzidas à pecuária. Quando João Costa completou 18 anos e se
casou, toda a sua família seu pai, sua mãe, os seus onze irmãos, vaqueiros e
agregados, um batalhão de aproximadamente 120 pessoas migrou em direção ao
Pampã. Marcharam com o gado e os pertences, carregados por três lotes de burros. Ao
longo do percurso, a família alugava mangas, estacionando maior tempo nos lugares
onde o pasto era forte e havia boas oportunidades de negócios com os povoados e as
fazendas vizinhas. Nesses pontos, a família plantava roças e caçava. A viagem durou
um ano, passando por Joaíma, Fronteira dos Vales e Águas Formosas, terminando nas
proximidades da atual cidade de Pavão. Aí, a família implantou a fazenda da Planície,
em 1939-1940. Nessa propriedade, a gente de João Costa plantava roça e criava gado.
40% da área da fazenda eram de pastos e praticamente os restantes 60%, matas. A fogo
e a machado abriam-se as novas pastagens, enquanto a madeira derrubada era deixada
apodrecer no próprio terreno (cf. entrevista concedida aos autores em 29 de outubro de
2008).
Por sua vez, o sr. José Mendes Guimarães, 81 anos de idade, saiu de Joaíma, em
1949, junto com os três irmãos, com destino a atual cidade de Crisólita. Ele era membro
de família de trabalhadores rurais que enveredou pelo pequeno comércio. José Mendes e
seus irmãos migraram para trabalhar na Fazenda Pão Dourado, situada no córrego Folha
Larga, perto de Crisólita, onde havia plantações de arroz, mandioca, feijão e cana, além
da pecuária. Quando chegaram, os irmãos encontraram, tanto no núcleo urbano
quanto nas propriedades rurais circunvizinhas, diversos moradores oriundos de Joaíma,
como o influente negociante de tecidos José Quaresma Costa, com loja instalada desde
1919 em Crisólita. José Mendes trabalhou no campo por treze anos e, depois, abriu um
bar na cidade (cf. entrevista concedida aos autores em 30 de outubro de 2008).
o sr. Joaquim Teixeira, 98 anos de idade, nasceu em Itinga numa família de
camponeses, o pai originário de Salinas e a mãe de Rio Pardo. Aos 20 anos, ele
começou a marcha que o levaria até a atual Umburatiba, alcançada em 1946. No
deslocamento, parou alguns anos em Ponto Marambaia, trabalhando em terras de
terceiros e também em lavras de pedras coradas. Ao retomar a migração para o leste,
atravessou a região banhada pelo ribeirão Americana. Em Umburatiba, tornou-se
fazendeiro criador de gado e plantador de lavouras de feijão, milho, mandioca e cana
(cf. entrevista concedida aos autores em 31 de outubro de 2008).
A documentação cartorial existente na Comarca de Águas Formosas, antigo
Distrito de São José do Pampam, que abrangia praticamente todas as terras drenadas
pelo rio Pampã e seus afluentes, contém numerosos registros que convergem com os
relatos anteriormente mencionados. Para ilustrar, citamos quatro registros do 1o Ofício
de Notas. Em 7 de novembro de 1916, João Henrique da Silveira e Rosa Maria Mendes
constituíram José Cordeiro seu procurador na cidade de Rio Pardo para negociar uma
parte de terras que eles possuíam na Fazenda do Carrapato, na mesma cidade, a qual
lhes coubera por herança do pai e sogro Vicente Lucas Mendes, vendendo-a a José
Lucas Sobrinho (Cartório do 1o Ofício , Livro 1, p. 3v-4).
No mesmo ano, em 12 de novembro, a menor púbere Gregória Gonçalves da
Cruz, residente em Rio Negro (atual Crisólita), filha do falecido José Gonçalves da
Cruz, nomeou seu procurador, na cidade de Araçuaí, o advogado Pedro Celestino
Rodrigues Chaves, para representá-la em todos os termos do inventário e partilhas dos
bens deixados pelo finado Agostinho Gonçalves da Cruz, seu avô (Cartório do 1 o Ofício
de Notas, Livro 1, p. 4-4v). Em 14 de junho de 1919, Dona Mariana Dias dos Santos
nomeou procurador, no distrito de Águas Vermelhas, município de Salinas, Justiniano
Gonçalves de Figueredo, fazendeiro, casado, para vender parte de fazenda de cultura e
criar com outros herdeiros, situada em Vazante (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 71-
71v). No ano de 1921, em 21 de março, Paulo Amador, residente em Águas Formosas,
pagou a Maximiano José Ferreira, solteiro, lavrador, residente em Araçuaí, a quantia de
40$000 réis por um direito de posses com pastagem de capim bengo-colonião e extrema
em terrenos do Estado, com casa rancho de casca na margem direita do Pampã, em
comum com seus irmãos Joaquim Manoel e Maria Ferreira. Esta posse era herança de
seu finado pai Jesuíno José Ferreira (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 99-99v).
Esses registros mostram a fixação de pessoas no Vale do Pampã que mantiveram
parentes, interesses e propriedades no Vale do Jequitinhonha, sua região originária
(casos de Dona Mariana, Gregória e o casal João Henrique e Rosa Maria), bem como o
retorno de migrantes que, após alguns anos, deixaram o Pampã para voltar a localidades
no Jequitinhonha (caso de Maximiano).
3. O Vale do Pampã é o “novo Jequitinhonha”
No ano de 1920, o Recenseamento Geral apontou que o Distrito de São José do
Pampam, pertencente ao município de Teófilo Otoni, possuía 17.338 habitantes,
dispersos numa área enorme (Atlas Chorographico Municipal, 1926). Os registros
cartorias de Águas Formosas sugerem que a economia no Vale do Pampã era, nessa
época, bastante incipiente. É o que se infere da leitura dos registros a seguir:
Em 30 de janeiro de 1917, Abílio Gomes de Azevedo e sua esposa Maria Altino de Azevedo
venderam para Durval Mathias de Almeida, por 500 mil réis, uma fazenda de cultura e criar, em
terras do Estado, no lugar denominado Pontilhão, à margem do rio Negro, com casinha de telhas
(...), pastagens e cercas de madeira de lei (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 5-5v).
Em 28 de maio de 1919, Manoel Antônio Teles dos Santos e Maria Ana de Jesus venderam uma
posse em terrenos do Estado, na margem direita do Pampã, contendo uma casinha coberta de
telhas e cavacos, benfeitorias de cafeeiros, laranjeiras, bananeiras, cana-de-açúcar, pastagens e
rego d’água, tudo pela quantia de 400 mil réis (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 70-70v).
Antônio Rodrigues dos Santos Lima e sua mulher Gregória dos Santos, em 10 de setembro de
1919, venderam para Hermelino da Costa Barros um direito de posse com benfeitorias de
cafeeiros, pastagens e uma casinha em terras devolutas, à margem direita do rio Pampã, pelo
preço de 150 mil réis (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 77-77v).
Evidencia-se uma estrutura agrária que combina fazendas e sítios camponeses,
que suporta economia rural de nível muito próximo à subsistência. Mas se pode
observar a tendência do gado bovino – criado em pastos de capim colonião – se destacar
na pauta produtiva regional, ao longo do eixo da estrada de São Miguel a Urucu
(Jequitinhonha – Carlos Chagas), como se vê nos documentos seguintes:
Em 16 de fevereiro de 1917, Luiz Altino Xavier da Silva vendeu, para Zeferino Martins de
Oliveira, uma fazenda de cultura e criar, no lugar denominado margem do rio Alcobaça, em
terrenos do Estado, contendo casa coberta com 5 portas e 3 janelas, cercas e pastagens de capim
colonião e mais uma casinha, pelo preço de 1 conto e 500 mil réis (Cartório do 1o Ofício, Livro
1, p. 6v-8).
José Martins de Oliveira comprou, em 30 de abril de 1919, de João Gomes dos Santos e seus
irmãos um direito de posse em terras do Estado, à margem direita do ribeirão Alcobaça,
contendo casa coberta de telhas, curral, pastagem de capim colonião, cercas de madeira de lei, 3
cancelas e uma casinha, tudo por 800 mil réis (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 67v-69).
Em 18 de outubro de 1919, Dona Emília de Jesus Rocha nomeou procurador seu filho Manoel
Gonçalves da Rocha para vender o sítio dela e do marido José Gonçalves da Rocha, com casa de
morada, fábrica de fazer farinha, manga empastada de capim colonião na Fazenda Bela Vista,
situada no km 72 da Estrada de São Miguel a Urucu (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 79-79v).
Não surpreende, por isso mesmo, que começassem a surgir no Vale do Pampã
algumas pequenas fortunas em torno dos negócios com o gado, de que são exemplos
Zeferino e José Martins de Oliveira, João de Souza Medina e Armínio Bossaide, os dois
últimos referidos nos documentos abaixo:
Eufrosina Maria de Jesus, viúva de João de Souza Medina, fazendeiro e negociante de gado, em
8 de março de 1917, nomeou seus procuradores os Drs. Auto de e Alfredo de para
liquidação de seguro de 30 contos de réis feito por seu falecido marido na Cia. Aliança Mineira,
sede em Ponte Nova (Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 11-12).
Em 16 de agosto de 1919, Armínio Bossaide e José Monteiro de Oliveira firmaram sociedade
para negócios de compra e venda de gado. Bossaide entrava com o dinheiro e Oliveira com o
trabalho de comprar o gado e engordar em suas pastagens. A divisão de lucros era de 50% para
cada sócio e o ferro da sociedade exibia a marca 53. Cada sócio teria caderneta para anotar as
cabeças de gado compradas e vendidas e as que morreram e o ferro com que foram assinaladas
(Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 76-76v).
A documentação mostra inequivocamente, por outro lado, que as terras
devolutas da região foram ocupadas sem qualquer controle das autoridades e, em
seguida, negociadas como se fossem detentoras de títulos legais. Para isso, os
proprietários contaram com a ativa colaboração dos tabeliães e a silenciosa conivência
do Judiciário. Situação que favorecia a “desordem fundiária”, a concentração de terras e
os conflitos nas áreas rurais, na mesma direção do que ocorria no Vale do Rio Doce
(BORGES, 1991). Para determinadas pessoas, mais abastadas e com ligações políticas
apropriadas, havia uma maneira alternativa de legalizar, efetivamente, suas posses,
como mostra a procuração seguinte:
Em 27 de março de 1920, Theodomiro Peixoto da Silva, proprietário residente em São José do
Pampã, nomeou seu procurador o Dr. Lincoln Prates, advogado, casado, residente em Belo
Horizonte, com poderes de promover e requerer a expedição do título definitivo dos terrenos
que, pelo Governo do Estado, foram concedidos a ele, no lugar situado entre a antiga estrada de
rodagem de Santa Clara e o rio Mucuri, lugar denominado Lagoa do Mucuri, já medidos e pagos
(Cartório do 1o Ofício, Livro 1, p. 87v-88).
As novas terras do Pampã viram aumentar, especialmente a partir dos anos 1930,
as fazendas e as propriedades camponesas que produziam mantimentos, algum café e
cada vez mais bovinos. Do modo tradicional trazido do Médio Jequitinhonha, na base
do sistema de rodízio e do pasto aberto a fogo e machado. Por isso, quando atravessou
as áreas dos ribeirões Marambaia e Americana, vindo de Itinga, o sr. Joaquim Teixeira
encontrou, nos anos 1940, muita mata de samambaia nas chapadas, sinal que Saint-
Hilaire, mais de um século antes, apontara como demonstração de que os colonos
praticaram expressiva derrubada da mata atlântica à medida que abriam suas posses.
Na década de 1950, a região do rio Pampã, praticamente abrangida pelo recém-
criado município de Águas Formosas (que possuía os distritos de Bertópolis, Crisólita,
Norte atual Fronteira dos Vales Pampã e Umburatiba), havia duplicado sua
população, alcançando 33.049 habitantes, dos quais 83,79% viviam na zona rural. As
principais lavouras eram arroz (550 ha), mandioca (510 ha), cana (200 ha), feijão (155
ha) e milho (105 ha). Todavia, era a pecuária bovina, que atingiu o número de 72 mil
cabeças, que dominava a economia regional. Havia 82 estabelecimentos de
beneficiamento de produtos primários, empregando 191 trabalhadores, o que indica que
se está diante da produção doméstica de farinhas, bebidas e conservas (IBGE, 1958, p.
36-39). Destacava-se somente o laticínio de Agostinho Bossaide, instalado na cidade de
Águas Formosas. O que contava mesmo era o gado de corte, agora direcionado para o
mercado do Rio de Janeiro. Grandes boiadas, com regularidade quase perfeita, a cada
seis meses, eram conduzidas pelos vaqueiros na direção de Campos, no norte
fluminense, cruzando os vales do Doce e do Paraíba do Sul. Em Campos, após alguma
invernada, o gado era abatido.
O outro setor econômico que ganhou impulso entre os anos 1930 e 1950 foi a
indústria madeireira: parte da madeira derrubada nas florestas do Pampã era levada para
serrarias em Crisólita (uma empresa) e Águas Formosas (2 empresas). Capitais
valadarenses dominavam as serrarias da região, cuja produção era escoada em direção
às estações da estrada de ferro Bahia-Minas em Teófilo Otoni e Carlos Chagas.
Conforme José Mendes Guimarães, tanto a produção leiteira como as serrarias refluíram
rapidamente a partir da década de 1960.
Como faltavam estradas na região, o abastecimento das populações do Pampã
dependia do tráfego das tropas de burros. O sr. João José Costa foi dono de pequena
tropa, que servia os núcleos urbanos de Águas Formosas, Crisólita, Pavão e, muitas
vezes, também Machacalis. O principal entreposto de mercadorias frequentado por sua
tropa era a estação de Presidente Pena, da E. F. Bahia-Minas. As cargas vinham de
Alcobaça, principalmente sal, açúcar, querosene, bebidas e manufaturados. Outros
tropeiros do Pampã levavam cargas de café para Joaíma, Jequitinhonha e Araçuaí,
retornando com as bruacas cheias de fumo e artigos de couro (RIBEIRO, 1996).
O Pampã tornou-se, portanto, espaço compartilhado por grandes fazendeiros,
vaqueiros, agregados, camponeses, garimpeiros de pedras preciosas, negociantes de
gado, lojistas, vendeiros e tropeiros, uns poucos médicos, funcionários públicos e
sacerdotes.
O redator das informações sobre Águas Formosas na Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros de 1958 anotou, numa seção intitulada “Diversos Aspectos do
Município”, que ali se observava:
a sobrevivência dos trovadores e cantadores ao som da viola. No sábado, a feira movimenta o
centro da cidade, podendo-se encontrar objetos de couro, cerâmica e artesanatos.(...) Quando
longa estiagem, é costume a realização de procissões de penitência, nas quais os acompanhantes
carregam pedras na cabeça, depositando-as, no fim, ao pé do cruzeiro existente em frente à Igreja
(IBGE, 1958, p. 39).
Isso é a cultura do Vale do Jequitinhonha! A região do Pampã, no extremo
nordeste de Minas Gerais, formou-se historicamente como espelho que refletia a
imagem do Médio Jequitinhonha. As mesmas relações sociais, práticas econômicas e
culturais. Um novo Jequitinhonha migrado para terras de matas virgens, construído em
meio às lembranças duras, mas saudosas, dos sítios e fazendas dispersos na caatinga.
Agradecimento
A Laura Bertolino, estudante de Geografia da UFMG e bolsista de iniciação
científica do Projeto Mucuri (IGA), pela elaboração dos mapas.
Referências bibliográficas
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BORGES, Maria Eliza Linhares. A recriação de uma fronteira: a luta pela terra no Leste
de Minas Gerais. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, UFMG, n.
73, jul. 1991, p. 173-201.
DUARTE, J. Vultos sem história. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972.
_________. O fogo e o boi. Belo Horizonte: Comunicação, 1976.
DUARTE, Regina Horta. Conquista e civilização na Minas oitocentista. In: OTONI,
Teófilo. Notícias sobre os selvagens do Mucuri. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
p. 13-37.
IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro, 1958. Vol. XXIV.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Atlas
Chorographico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1926. 2 vol.
MORLEY, Helena. Minha vida de menina. 16 ed. Rio de Janeiro: José Oympio, 1988.
PEREIRA, Leopoldo. O município de Araçuaí. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1969.
POHL, Johann Emanuel. Viagem no interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Edusp, 1976.
RIBEIRO, Eduardo Magalhães. Lembranças da terra: histórias do Mucuri e
Jequitinhonha. Contagem, MG: Cedefes, 1996.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagens através da América do Sul. Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro, 2006. 2 vol.
VILLA, Marco Antônio. Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos
séculos XIX e XX. São Paulo: Ática, 2000.
ANEXO 1
ANEXO 2
... A mudança nos padrões de produção local proporcionou , no início do século XIX, a ocupação do Médio e Baixo Jequitinhonha: Jequitinhonha, Almenara, Salto da Divisa e Joaíma (Moreno, 2001). No início da década de 1810, os colonos, seguindo os quartéis das Divisões Militares, encarregadas de combater e controlar os índios botocudos, haviam alcançado as localidades de São Miguel (atual Jequitinhonha) e Vigia (atual Almenara) (Nunes; Martins, 2009). O povoamento do Baixo Jequitinhonha levou à quase extinção indígena (Moreno, 2001). ...
... A mudança nos padrões de produção local proporcionou , no início do século XIX, a ocupação do Médio e Baixo Jequitinhonha: Jequitinhonha, Almenara, Salto da Divisa e Joaíma (Moreno, 2001). No início da década de 1810, os colonos, seguindo os quartéis das Divisões Militares, encarregadas de combater e controlar os índios botocudos, haviam alcançado as localidades de São Miguel (atual Jequitinhonha) e Vigia (atual Almenara) (Nunes; Martins, 2009). O povoamento do Baixo Jequitinhonha levou à quase extinção indígena (Moreno, 2001). ...
... Essa realidade, no entanto, começa a mudar com o povoamento de Capelinha (pertencente ao Médio Jequitinhonha), Setubinha, Malacacheta, Poté e Ladainha (situados no Vale do Mucuri) por fazendeiros e posseiros (Nunes; Martins, 2009). Dessa forma, a colonização do Vale do Mucuri se deu por motivos parecidos à do Baixo Jequitinhonha. ...
Article
Full-text available
Leprosy is prevalent in underdeveloped countries, as the precarious living conditions of the population favor its emergence. It is of great importance to public health due to its magnitude and high disabling power, affecting mainly the economically active age group. In the Northeast of the State of Minas Gerais, this disease has a pattern of high endemicity; due to this, the region has long been the target of public control policies. However, such measures have not had the desired impact to reduce its expression in the region, which makes it imperative to better understand the phenomenon in its various dimensions, including the historical one. This article aims to analyze space occupation and the disease’s progression in the Northeast of Minas Gerais in the 19th century. We decided to conduct a historical documental study, which allowed us to interpret social phenomena connected with leprosy. The historical analysis showed that the emergence and progression of the disease in the Northeast of Minas Gerais were linked to the economic and social movements of discovery and development of the region, which caused the disease transmission cycle.
Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1949. BORGES, Maria Eliza Linhares. A recriação de uma fronteira: a luta pela terra no Leste de Minas Gerais
  • Ciro Arno
ARNO, Ciro. Memórias de um estudante. 2. ed. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1949. BORGES, Maria Eliza Linhares. A recriação de uma fronteira: a luta pela terra no Leste de Minas Gerais. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, UFMG, n. 73, jul. 1991, p. 173-201.
Vultos sem história. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972. _________. O fogo e o boi
  • J Duarte
DUARTE, J. Vultos sem história. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972. _________. O fogo e o boi. Belo Horizonte: Comunicação, 1976.
Conquista e civilização na Minas oitocentista
  • Regina Duarte
  • Horta
DUARTE, Regina Horta. Conquista e civilização na Minas oitocentista. In: OTONI, Teófilo. Notícias sobre os selvagens do Mucuri. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. p. 13-37.
Atlas Chorographico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial
  • Minas Gerais
  • Secretaria Da Agricultura
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Atlas Chorographico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1926. 2 vol.
Lembranças da terra: histórias do Mucuri e Jequitinhonha. Contagem, MG: Cedefes
  • Eduardo Ribeiro
  • Magalhães
RIBEIRO, Eduardo Magalhães. Lembranças da terra: histórias do Mucuri e Jequitinhonha. Contagem, MG: Cedefes, 1996. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
Viagens através da América do Sul
  • Johann Jakob Tschudi
  • Von
TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagens através da América do Sul. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2006. 2 vol.
Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX
  • Marco Villa
  • Antônio
VILLA, Marco Antônio. Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX. São Paulo: Ática, 2000.